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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
ANALÍTICAS SOBRE A GESTÃO DO
CONHECIMENTO NO BRASIL
Aline Ramos Rosa Farias
(LATEC/UFF)
Resumo O artigo tem o objetivo central de apresentar algumas considerações
analíticas sobre a Gestão do Conhecimento no Brasil, assunto
caracterizado como de grande complexidade, buscando permitir um
entendimento de suas atuais bases conceituais. Como objetivos
específicos, o artigo apresenta os seguintes pontos sobre a Gestão do
Conhecimento: uma cronologia proposta por Snowden (2002); os
principais conceitos; e algumas importantes ideias propostas por
autores brasileiros. Como método empregado no artigo foi feito o
estudo de um referencial teórico, selecionado como um marco
analítico, escolhendo-se alguns dos principais autores sobre o tema
analisado, tanto no âmbito internacional, Snowden, Nonaka/Takeuchi e
Davenport/Prusak, bem como no âmbito nacional, em especial, Terra e
Goldman. O artigo em suas considerações finais destaca a importância
de perceber-se a Gestão do Conhecimento como uma ação estratégica
das empresas, precursora da inovação, em contraposição a percepção
bastante difundida dela como apenas uma ferramenta de efetividade
operacional.
Palavras-chaves: Gestão do conhecimento, conhecimento tácito,
criação do conhecimento no ambiente organizacional.
12 e 13 de agosto de 2011
ISSN 1984-9354
VII CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 12 e 13 de agosto de 2011
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1. INTRODUÇÃO
Em decorrência das mudanças – principalmente nos últimos vinte anos – que vêm
envolvendo, entre outros fatores: o surgimento da internet, o aumento na capacidade humana
em se comunicar e a globalização. Há um novo entendimento de tudo aquilo que é
comumente referido como Gestão do Conhecimento.
Estamos vivendo um novo período econômico, denominado por vários autores
proeminentes como sendo a “era do conhecimento” ou “sociedade do conhecimento”. Neste
período, conhecimento passa a ser reconhecido como protagonista do seu importante papel
dentro das organizações, passando a ser visto como um fator de produção tão importante
quanto os tradicionais terra, capital e. trabalho.
A grande maioria dos pesquisadores defende que as empresas que tiverem o
conhecimento como elemento básico de sua gestão são ou serão líderes em seus segmentos.
Como afirma Senge (2002, p. 37), importante autor do aprendizado Organizacional, as
organizações que realmente terão sucesso no futuro serão aquelas que descobrirem como
cultivar nas pessoas o comprometimento e a capacidade de aprender em todos os níveis da
organização.
Na linguagem de Nonaka e Takeuchi (1997), a capacidade de aprender da organização
é traduzida por capacidade de criação de Conhecimento Organizacional.
No entanto, até hoje, o Conhecimento Organizacional ainda não foi bem assimilado e
a Gestão do Conhecimento (do inglês Knowledge Management), é apontada como um assunto
que ainda gera inúmeros questionamentos quanto às dificuldades de sua implantação, sendo
considerada uma idéia difícil de ser compreendida e aplicada nas organizações.
O contexto que envolve a Gestão do Conhecimento é realmente de grande
complexidade, visto que não existe um modelo pronto, devendo ser adaptada de acordo com a
realidade de cada organização, levando em consideração suas idiossincrasias e necessidades.
Além disso, vários autores, de diferentes campos teóricos, apresentam linhas de
pensamento que não convergem necessariamente e, até mesmo, apresentam grandes
divergências na aplicação de seus conceitos.
Assim, o presente artigo tem o objetivo central de apresentar algumas considerações
analíticas sobre a Gestão do Conhecimento no Brasil, assunto caracterizado como de grande
complexidade, buscando permitir um entendimento de suas bases conceituais.
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Como objetivos específicos o artigo apresenta os seguintes pontos sobre a Gestão do
Conhecimento: uma cronologia proposta por Snowden (2002); os principais conceitos; e
algumas ideias propostas por autores brasileiros.
Como método do artigo foi feito o estudo de um referencial teórico, selecionado como
um marco analítico, escolhendo-se alguns dos principais autores sobre o tema analisado, tanto
no âmbito internacional, Snowden, Nonaka/Takeuchi e Davenport/Prusak, bem como no
âmbito nacional, em especial, Terra e Goldman.
Este artigo está dividido em seis seções, incluida esta introdução. Na segunda seção é
apresentada uma cronologia da Gestão do Conhecimento proposta por Snowden. Na terceira
seção é feita uma breve diferenciação conceitual entre dados, informação e conhecimento. A
quarta seção descreve importantes aspectos da criação do Conhecimento Organizacional. As
dificuldades relacionadas à implantação da Gestão do Conhecimento nas organizações
brasileiras são apresentadas na quinta seção. As considerações finais ocupam a sexta e última
seção.
2. UMA CRONOLOGIA DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
PROPOSTA POR SNOWDEN
Numa cronologia proposta por Snowden, a primeira geração da Gestão do
Conhecimento se caracterizaria como o período antes de 1995. Até então, a palavra
“conhecimento” era usada, sem muito rigor ou preocupação com um significado mais nobre,
sendo entendido como o fluxo de informações para dar suporte às tomadas de decisões. Não
sendo assim, de forma alguma, considerada uma palavra armadilha. Os sistemas de
informação, a armazenagem de dados e os processos de reengenharia dominaram este
período. (GOLDMAN, 2007).
Ainda segundo Snowden, a segunda geração da Gestão do Conhecimento começa em
1995, quando Nonaka e Takeuchi publicam o livro “A Criação do Conhecimento
Organizacional" e, na linguagem do mundo dos negócios, começam a se generalizar as
palavras “tácito” e “explícito”. É bem verdade que Polanyi já tinha explorado a dimensão
tácita, o conhecimento pessoal, em maior profundidade a partir dos anos 1950 até sua morte
em 1976 e o assunto vinha sendo alvo de interesse entre os economistas evolucionistas.
O livro de Nonaka e Takeuchi trouxe importantes modelos, sendo o mais conhecido o
SECI, detalhado mais adiante neste texto.
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Os modelos e as idéias de Nonaka e Takeuchi se tornaram uma espécie de bíblia para
consultores e vendedores de software, interessados em melhorar seus desempenhos com o
crescimento rápido de tecnologias colaborativas. (SNOWDEN, 2002)
Para snowden (2002) chega a ser irônico que Nonaka e Takeuchi, com idéias tão
avançadas para aquele momento, tenham inspirado uma série de trabalhos tão focados em
explicitar o conhecimento.
Na opinião de Snowden (2002), o trabalho pioneiro dos praticantes tais como
Buckman, Edvinsson, Lank, Saint-Onge e Ward, entre outros, ligitimou o nascimento da
segunda geração da GC, com sua duvidosa ênfase na conversação de tácito para explícito.
Para pesquisadores e praticantes da segunda geração, principalmente na Europa
Central, onde se destacam Probst e seus colaboradores, a função da Gestão do Conhecimento
seria converter recursos escondidos em recursos públicos, através da extração desse
conhecimento na forma codificada. (GOLDMAN, 2007).
Snowden, no entanto, alerta que esta abordagem focaliza desnecessariamente no
possuidor do conhecimento ao invés do conhecimento em si. A visão de Snowden vem sendo
confirmada pelo reconhecimento crescente por praticantes, que há muito conhecimento tácito
que não pode, ou não deve, ser explicitado. (GOLDMAN, 2007).
Com a chegada do terceiro milênio, uma nova abordagem da Gestão do Conhecimento
emergiu, na qual o conhecimento é visto não mais como uma “coisa” que possa ser
identificada e catalogada e o foco passa a ser na gestão de um ambiente propício aos
processos do conhecimento. Nas palavras de Snowden, uma Ecologia do Conhecimento.
Snowden faz uma interessante analogia da mudança da ênfase "da organização como
uma máquina, com o gerente ocupando o papel de engenheiro", para a "organização como
uma ecologia complexa, em que o gerente é um jardineiro, capaz de dirigir e influenciar, mas
não de controlar inteiramente, a evolução de seu ambiente". (GOLDMAN, 2007)
3. DADOS, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
O conhecimento deve ser entendido como um ativo específico e intangível da
empresa, caracterizado como um recurso capaz de criar vantagem competitiva, mas que não
pode ser diretamente gerenciado, pois gerenciar conhecimento é diferente de gerir
informações e dados.
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As empresas têm dificuldade de distinguir entre os três conceitos relacionados,
conhecimento não é dado nem informação, entretanto nas palavras de Davenport e Prusak
(1998):
O conhecimento deriva da informação, da mesma maneira que a informação deriva
de dados, o conhecimento é gerado a partir da integração de um conjunto de
informações obtidas externamente a ele, com o conhecimento e as informações
existentes em seu cérebro. ( ALINE VERIFIQUE SE ESTA CITAÇÃO ESTÁ OK)
Em um contexto organizacional, os dados podem ser registros estruturados de
transações, porém não oferecem um significado inerente sobre sua importância, pois
descrevem apenas parte do que aconteceu sem fornecer um julgamento. Dados irrelevantes
são transformados em “ruído”, dados dotados de relevância tornam-se “informação”. Os
dados são essenciais para a criação da informação.
No contexto empresarial, a informação pode ser descrita como sendo dados dotados de
relevância e finalidade, geralmente se apresentam em forma de um documento ou
comunicação audível ou visível. A informação pode ser armazenada em planilhas, softwares
ou sistemas e permite à organização ou a pessoa a tomada de decisão ou execução de uma
ação. “A tecnologia da informação embora crítica para permitir a divulgação de informações,
não pode capturar e armazenar conhecimento”. (SENGE, 2002).
O conhecimento está associado ao ato de absorver uma idéia ou noção de alguma
coisa sendo melhor entendido como um ato, o ato de conhecer, caracterizando-se assim como
uma capacidade de ação eficaz. Está relacionado a experiências, crenças, informações, teorias,
princípios, descrições, hipóteses, conceitos, compromissos e procedimentos que são
verdadeiros para quem os possui.
Daft, (2002 apud CARVALHO; MASCARENHAS e OLIVEIRA, 2006 p.79), define
conhecimento como sendo “a combinação de informações pelos cérebros coletivos dos
funcionários que se baseia em conhecimento anterior”.
Já para Goldman (2010b) o conhecimento é uma capacitação individual. É uma
construção humana, dinâmica, pessoal e intangível, biograficamente determinada, devendo
sempre ser diferenciado da informação, por mais sofisticada que ela seja.
Santos (2009) define o conhecimento como uma informação interpretada, ou seja, o
que significa cada informação e quais impactos no ambiente organizacional cada informação
pode causar, de modo que a informação possa ser utilizada para importantes ações e tomadas
de decisões.
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O conhecimento origina-se do ato de pensar, não é possível o conhecimento ser criado
fora da mente humana. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas
organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas
também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. (DAVENPORT; PRUSAK,
1998)
Vale observar que o conhecimento organizacional é gerado a partir da soma do
conhecimento de todos que fazem parte da organização. Deveria ser um todo maior que a
soma de suas partes não correspondendo à simples soma dos conhecimentos individuais.
(NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 82)
Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), baseados na epistemologia de Polanyi, o
conhecimento tem duas dimensões, conhecimento tácito e conhecimento explícito. É
fundamental a diferenciação desses conceitos para se compreender como ocorre o processo de
transferência e criação do conhecimento no ambiente organizacional.
a) Conhecimento explícito
Está relacionado com que a empresa “sabe que sabe”. É o tipo de conhecimento que
pode ser articulado na linguagem formal, pode ser organizado, estruturado e estar disponível
em documentos. O conhecimento explícito é facilmente compartilhado entre os indivíduos.
Esse foi o modo dominante de conhecimento na tradição filosófica ocidental. Segundo de
Nonaka e Takeuchi (1997, p.7):
O conhecimento “explícito” – algo formal e sistemático. [...] pode ser expresso em
palavras e números, e facilmente comunicado e compartilhado sob a forma de dados
brutos, fórmulas científicas, procedimentos codificados ou princípios universais [...],
ou seja, o conhecimento sendo visto como um código de computador, uma fórmula
química ou um conjunto de regras gerais.
b) Conhecimento tácito
O cientista Michael Polanyi (1966 apud TERRA, 2005, p.70) conceituou o
conhecimento tácito em diversos trabalhos, entre eles seu texto The tacit dimension. Ele
introduz o tema afirmando que muito do que sabemos não pode ser verbalizado ou escrito
com palavras.
Nonaka e Takeuchi (1997) definem o conhecimento tácito como algo dificilmente
visível e exprimível, pois é altamente pessoal e difícil de formalizar, o que dificulta sua
transmissão e compartilhamento com os outros. O conhecimento tácito está relacionado a
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fatores intangíveis como crenças pessoais, perspectivas, intuições e habilidades. Está
enraizado nas ações e experiências de um indivíduo, bem como em suas emoções, valores ou
ideais.
O conhecimento tácito inclui elementos cognitivos (que consistem em modelos
mentais, crenças e percepções arraigadas) e técnicos: (que abrangem um tipo de capacidade
informal, habilidades capturadas no termo “know-how”) (NONAKA; TAKEUCHI, 1997)
O conhecimento tácito e explícito são as unidades estruturais básicas que se
complementam. A interação entre eles é denominada por Nonaka e Takeuchi (1997) de
“conversão do conhecimento”, é vista como a principal desencadeadora da criação do
conhecimento organizacional.
4. A CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL
Ao longo do processo de crescimento e desenvolvimento, as organizações vão criando
e aprimorando conhecimentos. Em uma organização que estimula padrões de pensamento
novos, a aspiração coletiva ganha liberdade fazendo com que as pessoas expandam
continuamente sua capacidade de gerar resultados. Isso é parte integrante de um processo de
aprendizagem.
Quando se busca na literatura o tema “criação do conhecimento organizacional”
podem ser identificadas duas premissas básicas:
A primeira, parte da afirmação que “o conhecimento tácito e conhecimento explícito
só podem ser conceitualmente distinguidos ao longo de um continuum” (GRANT, 2007 apud
GOLDMAN, 2010c, p.3). O que significa dizer que todo conhecimento – existente apenas nos
indivíduos – é parte tácita, parte explicitavel e quando é compartilhada com outras pessoas,
sob a forma de conhecimento explícito propicia a cada indivíduo a criação do seu próprio
conhecimento. Nonaka e Takeuchi denominaram esse processo de internalização.
Na segunda premissa, o processo de “conversão do conhecimento” no
ambiente organizacional explica teórica e empiricamente, a interação entre o
conhecimento tácito e o explícito no ambiente organizacional. É importante ressaltar a seguinte afirmação de Senge (2002):
Organizações aprendem somente através de indivíduos que aprendem.
Aprendizagem individual não garante aprendizagem organizacional. Mas sem ela,
nenhuma aprendizagem organizacional acontece. [...] Nas „Organizações que
Aprendem‟ as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar os
resultados que elas realmente desejam, onde maneiras novas e expansivas de pensar
são encorajadas, onde a aspiração coletiva é livre, e onde as pessoas estão
constantemente aprendendo a aprender coletivamente.
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Nonaka e Takeuchi (1997) definem a criação do conhecimento organizacional como a
capacidade de uma empresa em ampliar o conhecimento criado pelos indivíduos, torná-lo
disponível para a organização como um todo bem como incorporá-lo a produtos, serviços e
sistemas.
A Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional (TCCO), em desenvolvimento
há mais de vinte anos por Nonaka e seus diversos co-autores, distingue entre o conhecimento
tácito e o conhecimento explícito não considerando-os como entidades totalmente separadas,
mas sim mutuamente complementares. O conhecimento organizacional é concebido através
da interação social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito (conversão do
conhecimento).
Na teoria proposta por Nonaka é importante enfatizar que na interação
social, o conhecimento tácito não é “transformado” em conhecimento explícito,
como muitos costumam pensar. As conversões propostas no modelo SECI se
dão em um processo social, ou seja, ocorre entre indivíduos e não confinada
dentro de um indivíduo.(figura 1) O conhecimento tácito quando compartilhado,
não deixa de existir como conhecimento tácito.
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Figura 1 -Quatro modos de conversão do conhecimento
Fonte: NONAKA, I; TAKEUCHI, H. Criação de Conhecimento na empresa: como as empresas japonesas
geram a dinâmica da inovação. 16 ed. Rio de Janeiro: Eselvier, 1997, p.80.
O modo de “conversão do conhecimento” ou “SECI”, (Socialização – Externalização
– Combinação – Internalização), consiste na articulação dos conhecimentos tácito e explícito.
São eles:
Socialização: De conhecimento tácito em conhecimento tácito.
Externalização De conhecimento tácito em conhecimento explícito.
Combinação: De conhecimento explícito em conhecimento explícito.
Internalização: De conhecimento explícito para conhecimento tácito.
A socialização é o processo pelo qual as experiências são compartilhadas através da
observação, imitação, prática e sessões de brainstorming concebendo a partir daí o
conhecimento tácito (modelos mentais, habilidades técnicas).
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A externalização é considerada o processo mais importante. Provocado normalmente
através de diálogos ou reflexão coletiva com a combinação de dedução e indução. Permite a
criação de conceitos explícitos através da articulação de metáforas, analogias, conceitos,
hipóteses ou modelos.
A combinação é o processo mais comum utilizado por empresas brasileiras. Origina-
se através da troca de informações através de reuniões, conversas, treinamentos, e do uso de
tecnologia.
A internalização é o método que está relacionado ao processo de “aprender fazendo”,
desenvolve o conhecimento tácito através da criação de modelos mentais ou know-how. Para
viabilizar a criação do conhecimento organizacional, é preciso que conhecimento tácito
acumulado seja socializado com as outras pessoas da organização.
Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), a externalização é a peça chave para a
construção do conhecimento organizacional por permitir a criação de novos conceitos
explícitos a partir do conhecimento tácito.
Goldman (2010b) complementa com a seguinte afirmação: “O que não se pode deixar
de perceber é que o conhecimento que realmente se traduz em vantagem competitiva nasce ou
é absorvido a partir do conhecimento tácito, pois se assim não fosse, seria facilmente copiado
pelos concorrentes”.
Mas para que aconteça a criação do conhecimento organizacional é necessário que a
organização promova um ambiente e uma cultura organizacional que permita, promova e
recompense a livre circulação de ideias, pois o conhecimento somente se difunde quando
existem processos de aprendizagem pelos quais os seres humanos desenvolvem novas
capacidades de ação eficaz.
Exige que se tenham colaboradores proativos, dispostos a aprender, debater, aprimorar
e a compartilhar para gerar inovação na organização, alavancando vantagens competitivas e
aumentando a produtividade.
Além desses fatores, para Nonaka e Takeuchi, as condições que tornam as
organizações capazes de criar conhecimento são as seguintes Goldman (2010b):
Intenção, aspiração de uma organização, suas metas.
Autonomia, todos os membros da organização agindo individualmente de maneira
autônoma, sem uma estrutura hierárquica castradora;
A flutuação e o caos criativo perturbam a comodidade das rotinas organizacionais;
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Redundância, a superposição intencional de informações importantes ao
funcionamento da empresa.
Variedade de Requisitos, a diversidade interna potencializa o enfrentar desafios.
A Gestão do Conhecimento propõe às organizações uma quebra de paradigmas, uma
nova visão de uso e aproveitamento dos seus recursos intangíveis na busca de uma efetividade
estratégica voltada para a Gestão de Pessoas ou Gestão do Capital Intelectual.
Nonaka e Takeuchi (1997) atribuem às dificuldades enfrentadas pelos ocidentais,
incluídas aqui as empresas brasileiras, na implantação da Gestão do Conhecimento
organizacional devido à ênfase dada ao conhecimento explícito.
Os autores afirmam que a grande maioria dos pesquisadores ocidentais reconhece a
importância do recurso conhecimento, porém poucos compreendem como este é criado em
uma organização (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.7):
[...] eles partem da visão da organização como sendo uma máquina para
processamento de informações [...] essa visão está enraizada nas tradições
administrativas ocidentais, [...] trata do conhecimento como sendo necessariamente
„explícito‟. As empresas japonesas, no entanto, têm uma forma muito diferente de
entender o conhecimento. Admitem que o conhecimento explícito é apenas a ponta
do iceberg Vêem o conhecimento como sendo basicamente „tácito‟ – algo
dificilmente visível e exprimível.
Como se pode observar, a distinção entre conhecimento tácito e conhecimento
explícito foi a chave para compreender as diferenças entre as abordagens ocidental e japonesa
ao conhecimento e entender de que forma aconteceram os importantes sucessos das empresas
japonesas com relação à implantação de inovações na década de 1980.
5. DIFICULDADES RELACIONADAS À IMPLANTAÇÃO DA GESTÃO
DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS
A Gestão do Conhecimento é um assunto em destaque no meio empresarial brasileiro,
porém, há várias indagações que a acompanham, em especial, quanto às dificuldades de sua
implantação. Nas palavras de alguns autores como Terra (2005) a Gestão do Conhecimento é
apontada como uma coisa nebulosa e pouco entendida nos escalões superiores das empresas.
A Gestão do Conhecimento é um recurso estratégico que atua com a análise, seleção e
disponibilização de informações de modo que se possibilite a estruturação das políticas,
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processos e ferramentas gerenciais e tecnológicas buscando compreender todos os processos
relacionados a geração, identificação, validação, disseminação, compartilhamento, proteção e
uso dos conhecimentos estratégicos em vista de gerar resultados econômicos para a empresa e
benefícios para as partes interessadas. (TERRA, 2005).
Goldman (2010b) defende uma teoria onde a Gestão do Conhecimento Organizacional
é vista como:
Um metaprocesso que, explicita e sistematicamente, define ações e práticas de apoio
para melhorar as políticas, programas e processos do arranjo organizacional, que
influenciam a qualidade da dinâmica do seu conhecimento organizacional.
A Gestão do Conhecimento é considerada para muitas organizações um poderoso
recurso estratégico por isso é encarada como um ativo que ganha cada vez mais importância e
espaço na agenda dos gestores e líderes de empresas brasileiras dos mais diversos segmentos
de mercado e tamanhos. Pois o recurso conhecimento é uma chave para se estabelecer
vantagens competitivas duradouras.
Já Terra (2005) expõe algumas hipóteses relacionadas às empresas brasileiras e atribui
que os fatores abaixo são responsáveis por tornar difícil o entendimento e a implantação de
processos relacionados à Gestão do Conhecimento:
A falta de investimento em P&D e em atividades cujo retorno é incerto.
A Gestão do Conhecimento atingiu um pico de notoriedade no Brasil em um período
de vacas magras, inibindo os investimentos (por volta de 2002/2003), enquanto no
exterior a Gestão do Conhecimento já era considerada importante e conhecida em
1999.
O nível de capacitação digital no Brasil é menor do que em outros países avançados,
gerando uma dificuldade para implantar processos e iniciativas de Gestão do
Conhecimento que se apóiam em tecnologias avançadas de informação.
A baixa compreensão geral do que gera valor na era da informação, do conhecimento
e dos intangíveis.
A Gestão do Conhecimento ainda está distante das empresas nacionais porque envolve
a implementação de metaprocessos que são considerados transciciplinares. É necessário
pensar em estratégia, pessoas, cultura, ambiente, processos e tecnologia ao mesmo tempo.
Também é necessário um feeling para perceber processos visíveis e invisíveis de
criação e uso do conhecimento. Além do que, aprender a criar novos conhecimentos demanda
tempo, tentativa e erro e paciência. A Gestão do Conhecimento se manifesta através de ações
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que se enraízam no modo de trabalhar das pessoas. O compartilhamento é fundamental na
criação de novos conhecimentos, mas como afirma Terra (2005), não pode ser dependente de
atitudes altruístas. É fundamental para o sucesso a Gestão do Conhecimento, que as pessoas
participem de forma entusiástica e sistemática.
Santos (2010) apresenta um estudo específico sobre o que vários autores relevantes no
assunto ditam sobre as dificuldades de implantação da Gestão do Conhecimento e com
algumas hipóteses relacionadas ao fracasso de vários modelos de Gestão do Conhecimento:
Fonte: Adaptado de Souza, E. P. de. Dificuldades na implantação de Gestão do Conhecimento em
organizações de médio a grande porte. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
Nesta nova era o conhecimento passa a ser visto como um importante ativo para as
organizações modernas. É observada a crescente importância do conhecimento como um
recurso em detrimento dos demais recursos econômicos tradicionais como capital financeiro,
mão-de-obra barata e localização geográfica (TERRA, 2005). No entanto, o conhecimento
precisa estar aliado a sua gestão para fazer toda a diferença.
Segundo Terra (2005) as organizações que pretendem implantar um modelo de Gestão
do Conhecimento precisam se reinventar, testar idéias, desenvolver e mapear suas
competências, aumentar os investimentos em Planejamento e Desenvolvimento (P&D),
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qualificação profissional, implementar práticas gerenciais modernas e que proporcionem um
ambiente organizacional favorável à disseminação do conhecimento e à inovação.
Várias pesquisas recentes afirmam que a grande maioria das riquezas gerada pelas
empresas é resultante do investimento em conhecimento, inovação e em outros ativos
intangíveis como pessoas, processos e tecnologias. O conhecimento “é um recurso invisível,
intangível e difícil de imitar, entretanto é altamente reutilizável, ou seja, quanto mais utilizado
e difundido maior o seu valor” (TERRA, 2005, p.33).
Porém o valor econômico do conhecimento não é de fácil análise ou mensuração,
diferentemente de recursos como os materiais, os financeiros ou a mão-de-obra.
O conhecimento organizacional, assim como outros recursos também sofre
depreciação, porém a depreciação ou obsolescência do recurso conhecimento funciona de
forma oposta a outros ativos de uma organização: “a depreciação se acelera se o
conhecimento não é aplicado.
De fato, pode se dizer que se não se está adquirindo conhecimento é bem provável que
se esteja perdendo conhecimento. (TERRA, 2005 p.33).
O quadro abaixo mostra o ciclo resultante da obsolescência do conhecimento:
Fonte: Adaptado de Goldman (2010b, p.24).
Entretanto, nem todo conhecimento é capaz de criar vantagem competitiva sustentável.
Segundo Goldman (2010b), o Conhecimento Organizacional para se caracterizar como um
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recurso capaz de criar vantagem competitiva sustentável deve atender as questões propostas
no modelo de análise estratégica de Barney (2007 apud GOLDMAN, 2010b). Este modelo,
oriundo da Visão Baseada em Recursos, é conhecido pela sigla VRIO (Valor, Raridade,
Imitabilidade e Organização).
1. A questão do valor: o recurso permite que a empresa explore uma
oportunidade e/ou neutralize uma ameaça do seu ambiente de negócios?
2. A questão da raridade: o recurso é controlado atualmente por apenas pequeno
número de empresas competidoras?
3. A questão da imitabilidade: as empresas sem esse recurso enfrentam uma
desvantagem de custo para obtê-lo ou para desenvolvê-lo?
4. A questão da organização: as políticas e processos da empresa estão realmente
organizados para apoiar à exploração de seus recursos valiosos, raros e custosos de imitar?
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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto à dimensão epistemológica, este artigo foi baseado na distinção estabelecida
por Michael Polanyi, que consolida duas dimensões do conhecimento: o conhecimento tácito
e o conhecimento explícito.
Com base nessa epistemologia adotou-se como principal referencial teórico a Teoria
da Criação do Conhecimento Organizacional. Fundamentando-se nessa teoria desdobram-se
modelos e métodos de implantação da Gestão do Conhecimento entre as quais se destacam no
Brasil os de Terra (2005) e Fernando Goldman (2010a).
Segundo aqueles dois autores, uma das dificuldades particulares das empresas
brasileiras na implantação da Gestão do Conhecimento é a ênfase exagerada em ferramentas
de efetividade operacional, enquanto, a Gestão do Conhecimento deveria caracterizar-se como
uma ação estratégica. A ênfase no conhecimento explícito também é um problema das
empresas brasileiras.
A Gestão do conhecimento é um processo contínuo, com um inicio, mas não tem
prazo para terminar.
De acordo com Goldman (2010b) a Gestão do Conhecimento, vista como um
metaprocesso, não tendo o objetivo de criar conhecimento, mas sim de gerenciar processos
que conscientemente criam um ambiente favorável a emergência do conhecimento.
O processo de Gestão do Conhecimento, que deve permear toda organização, tem
como característica central o fato de que são pessoas, através da criatividade, do diálogo, de
discussões, do compartilhamento de experiências ou da observação, enfim da interação, que
criam e desenvolvem novas capacidades de ação produtiva mais eficaz, as inovações.
Goldman (2008) entende que um modelo que permita o entendimento da forma como
o processo de Gestão do Conhecimento acontece em uma organização, evitará erros de
conceituação quanto à relação entre esse processo e outros processos organizacionais, tais
como, Educação Corporativa, Gestão de Pessoas, Gestão por Competência, Comunicação
Eficaz, Sistemas de Informação, Análise de Resultados, Pesquisa & Desenvolvimento e
outros.
Assim para aqueles dois autores, Terra e Goldman, as abordagens mais atuais de
Gestão do Conhecimento caracterizam-na como importante precursora de inovações
tecnológicas, tão necessárias às empresas brasileiras, neste momento de busca de
competitividade internacional.
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REFERÊNCIAS
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