Agrofloresta e escola uma experiência de educação e sustentabilidade ambiental na escola de...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE IGUATU FECLI LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DAMIÃO VIANA LIMA AGROFLORESTA E ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO ADAHIL BARRETO, MUNICÍPIO DE CARIÚS, CEARÁ IGUATU CE, 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE IGUATU – FECLI

LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DAMIÃO VIANA LIMA

AGROFLORESTA E ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO E

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO

ADAHIL BARRETO, MUNICÍPIO DE CARIÚS, CEARÁ

IGUATU – CE,

2014

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DAMIÃO VIANA LIMA

AGROFLORESTA E ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO E

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO

ADAHIL BARRETO, MUNICÍPIO DE CARIÚS, CEARÁ

Monografia submetida à Coordenação do Curso

de Licenciatura em Ciências Biológicas, da

Faculdade de Educação, Ciências e Letras de

Iguatu (FECLI), como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de graduação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marlete M. de Sousa

Mendes.

IGUATU – CE,

2014

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L732a Lima, Damião Viana.

Agrofloresta e Escola: uma experiência de educação e

sustentabilidade ambiental na escola de ensino médio Adahil

Barreto, município de Cariús, Ceará / Damião Viana Lima.

[Orientado por] Marlete M. de Sousa Mendes. – Iguatu, 2014.

69 p.

Monografia (Graduação) – Universidade Estadual do Ceará,

Coordenação do Curso de Licenciatura Plena em Ciências

Biológicas, Iguatu, 2014.

1. Semiárido 2. Desenvolvimento Sustentável 3. Agricultura

Alternativa 4. Contexto Socioambiental

I. Mendes, Marlete M. de Sousa (Orient.) II. Universidade Estadual

do Ceará – UECE – Graduação (Licenciatura) em Ciências

Biológicas

III. Título

CDD: 630

CDD: 363.1

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Aos meus familiares e amigos,

razão da minha alegria.

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AGRADECIMENTOS

Ao Deus da Vida, que é Caminho e Verdade por nos permitir o dom da

Ciência, da Inteligência e da Sabedoria, mediados pelo Seu Divino Espírito.

Aos meus pais (Geralda Viana e Aldenor Lima) pelo companheirismo e

bons conselhos. À minha irmã (Cosma Viana) por sempre estar perto.

Aos amigos da Graduação, pelo compromisso da unidade em todos os

momentos.

À coordenação da Cáritas Diocesana de Iguatu, na pessoa do técnico

agropecuário, Oneci Angelim, pelo acolhimento na transmissão de experiências e

conhecimentos. Ao seu Raimundo Albanir, proprietário da Agrofloresta Baixa Verde.

À minha Orientadora Prof.ª Dr.ª Marlete Mendes pela dedicação e

eficiência com que realiza o seu trabalho. À professora Mayle Bezerra pela

generosidade com que atua no seu ministério, transmitindo o saber com

simplicidade e objetividade.

A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para o bom êxito desta

pesquisa.

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Juntemos os nossos passos no mesmo ritmo.

Juntos, estendamos as nossas mãos para que recolham os mesmos

bens. Juntos pulsem os nossos corações.

O mesmo sentimento penetre o nosso íntimo.

O mesmo pensamento proceda do nosso espírito.

Os nossos ouvidos escutem o mesmo silêncio.

Os nossos olhares se encontrem e se fundam num só olhar.

Nossos lábios peçam juntos: Misericórdia, ao Pai Eterno!

(Oração, Elizabeth Kindelmann)

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VIII

RESUMO

Buscando-se soluções para os problemas ambientais atuais, as agroflorestas

despontam no contexto do semiárido como alternativa viável à agricultura tradicional,

conciliando produtividade e sustentabilidade ambiental, podendo também constituir-

se como um recurso pedagógico para abordar a Educação Ambiental em aulas de

campo. Este trabalho objetivou verificar o nível de informação em Educação

Ambiental dos alunos do 3º Ano do Ensino Médio da escola Adahil Barreto,

município de Cariús, CE, a partir do conhecimento obtido, principalmente, por meio

de excursão ao sistema agroflorestal (SAF) Agrofloresta Baixa Verde, localizado no

município de Saboeiro-CE e através da análise de questionários aplicados antes e

depois da visita ao SAF. Participaram da pesquisa 25 alunos, dos quais a maioria é

residente na zona rural (64%), com renda mensal de um ou mais salários mínimos

(93%), cujos progenitores apresentam escolaridade inferior ao 5º Ano do Ensino

Fundamental e sobrevivem da agricultura. Com relação às questões sobre meio

ambiente, a maioria dos alunos considerou que são recursos naturais “tudo que a

natureza nos oferece”, sobressaindo-se a flora e água (43%, após a visita).

Destacaram posteriormente à excursão, como principais problemas ambientais do

semiárido as queimadas e desmatamentos (93%) e o uso de agrotóxicos (29%), o

que lhes permitiu comparações com sua própria realidade socioambiental.

Percebendo-se que os entrevistados entendem mais facilmente ideias relacionadas

à Educação Ambiental quando estas são veiculadas através de situações e

instrumentos próprios da sua realidade socioambiental, faz-se necessário o maior

incentivo a práticas educativas mais contextualizadas tendo em vista a

sustentabilidade ambiental.

Palavras–chave: semiárido, desenvolvimento sustentável, agricultura

alternativa, contexto socioambiental.

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IX

ABSTRACT

Searching solutions to current environmental problems, agroforestry emerge in the

context of semi-arid as a viable alternative to traditional agriculture, reconciling

productivity and environmental sustainability, and may also constitute as an

educational resource to address the Environmental Education in field lessons. This

study aimed to determine the level of information on environmental education of

students of the 3rd year of high school from Adahil Barreto School, municipality of

Carius-CE, from the knowledge obtained mainly through tour of the agroforestry

system (AFS) Agrofloresta Baixa Verde, located in the municipality of Saboeiro-CE,

and through analysis of questionnaires before and after the visit to the AFS. 25

students participated in the survey, the majority of whom are residing in rural areas

(64%), with a monthly income of one or more minimum wages (93%), whose parents

studied until the 5th year of basic education or less and survive on agriculture. With

regard to questions about the environment, most students considered that natural

resources are "all that nature offers us", standing out the flora and water (43% after

the visit). Burning and deforestation (93%) and the use of pesticides (29%) were

highlighted after the visit to the AFS as main environmental problems of the semiarid,

which allowed them to comparisons with their own socio-environmental reality. The

respondents more easily understand ideas related to environmental education when

these are transmitted through situations and instruments of their own socio-

environmental reality, thus it is necessary the greatest incentive to more

contextualized educational practices in view of environmental sustainability.

Key words: semiarid, sustainable development, alternative agriculture, socio-

environmental context.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Vista parcial da Agrofloresta Baixa Verde, sendo visitada por pesquisado-res e educadores ambientais (período chuvoso)..............................................................

26

Figura 2 – Distribuição dos alunos da Escola de EM Adahil Barreto quanto à localização........................................................................................................................

31

Figura 3 – Ocupação dos pais dos alunos da Escola de EM Adahil Barreto................... 32

Figura 4 – Ocupação das mães dos alunos da Escola de EM Adahil Barreto................. 33

Figura 5 – Nível de escolaridade dos pais dos alunos da Escola de EM Adahil Barreto..............................................................................................................................

34

Figura 6 – Nível de escolaridade das mães dos alunos da Escola de EM Adahil Barreto..............................................................................................................................

35

Figura 7 – Renda familiar mensal das famílias dos alunos da Escola Adahil Barreto..... 36

Figura 8 – Trilha para Agrofloresta Baixa Verde, Saboeiro-CE, percorrida pelos alunos considerados na pesquisa................................................................................................

37

Figura 9 – Indicação de recursos considerados naturais pelos alunos antes e após a visita à agrofloresta...........................................................................................................

38

Figura 10 – Vista da entrada da Agrofloresta Baixa Verde, Saboeiro-CE........................ 40

Figura 11 – Indicação de recursos considerados naturais no semiárido nordestino antes e após a visita à agrofloresta.................................................................................

41

Figura 12 – Vista parcial de parede da barragem subterrânea e poço construídos na Agrofloresta Baixa Verde, Saboeiro-CE, captação, retenção e reserva hídrica...............

42

Figura 13 – Entendimento dos alunos sobre problema ambiental antes e após a visita à agrofloresta....................................................................................................................

43

Figura 14 – Entendimento dos alunos sobre problema ambiental no semiárido brasileiro antes e após a visita à agrofloresta...................................................................

44

Figura 15 – Entendimento sobre Educação Ambiental antes e após a visita à agrofloresta.......................................................................................................................

48

Figura 16 – Sugestões dos alunos sobre medidas de preservação dos recursos naturais do semiárido nordestino antes e após a visita a agrofloresta.............................

49

Figura 17 – Laranjeira com seus frutos (A) e plantação de palma, cactácea típica do semiárido, usada para complementar a alimentação animal forrageira (B)......................

50

Figura 18 – A poda de galhos secos e envelhecidos produz uma grossa cobertura orgânica que protege o solo da erosão, retém sua umidade por mais tempo, favore-cendo a ciclagem de nutriente..........................................................................................

51

Figura 19 – Irrigação por gotejamento com garrafa PET atada à planta (A) e canudinhos de pirulito inseridos em canos de PVC (B) otimizam a distribuição de água no período de estiagem....................................................................................................

52

Figura 20 – Respostas dos alunos sobre as práticas agrícolas mais conhecidas por 54

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eles antes e após a visita à agrofloresta...........................................................................

Figura 21 – Respostas dos alunos com relação a escolherem para si mesmos a profissão de agricultor antes e após a visita à agrofloresta..............................................

55

Figura 22 – Em roda de conversa, o proprietário da Agrofloresta Baixa Verde, o senhor Raimundo Albanir (chapéu), o técnico agropecuário da Cáritas-Iguatu, Oneci Angelim (boné branco), e jovens discutem sustentabilidade no semiárido......................

58

Figura 23 – Sugestões dos alunos para sustentabilidade dos recursos naturais atuais antes e após a visita à agrofloresta..................................................................................

59

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XII

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Opinião dos alunos sobre realização de queimadas na prática agrícola.............................................................................................................................

53

Tabela 2 – Opinião dos alunos sobre uso de agrotóxicos na prática agrícola................. 57

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 14 2 OBJETIVOS.......................................................................................... 15 2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................. 15 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................... 15 3 REFERENCIAL TEÓRICO 16 3.1 QUESTÃO AMBIENTAL.......................................................................... 16 3.1.1 QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL.............................................. 17

3.1.2 QUESTÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO................ 18

3.2 EDUCAÇÃO AMBIENTAL......................................................................... 19

3.2.1 ESCOLA: ESPAÇO PRIVILEGIADO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.............................................................................................

20

3.3 AGROFLORESTA 21

3.3.1 AGROFLORESTA NO SEMIÁRIDO: UMA PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL........................................................................................

21

3.3.2 A RELAÇÃO AGROFLORESTA E ESCOLA.................................... 22

3.3.3 AGROFLORESTA BAIXA VERDE: UM EXEMPLO DE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL...........................

23

4 METODOLOGIA 24 4.1 TIPO DE PESQUISA................................................................................... 25 4.2 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA PESQUISA......................................... 25 4.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA......................................................................... 25 4.4 LOCAL DE ESTUDO................................................................................... 26 4.5 COLETA DE DADOS................................................................................... 26 4.6 ANÁLISE DE DADOS.................................................................................. 26 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 27 5.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONOMICA DOS ENTREVISTADOS........ 27

5.2 RESPOSTAS AOS QUESTIONAMENTOS SOBRE MEIO AMBIENTE APLICADOS ANTES E DEPOIS DA VISITA À AGROFLORESTA...................

32

6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 58 APÊNDICES............................................................................................................. 64 APÊNDICE A............................................................................................................... 65 APÊNDICE B............................................................................................................... 66 APÊNDICE C............................................................................................................... 68

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1 INTRODUÇÃO

Durante muito tempo prevaleceram, no senso comum, ideias referentes

ao processo de ensino-aprendizagem baseadas numa relação unidirecional

professor-aluno, sob o enfoque tradicionalista. Tal concepção, que mantém

resquícios nos dias atuais, tende a retardar o desenvolvimento da autonomia do

educando na apreensão do conhecimento.

Inversamente a tal abordagem, estão os esquemas de aprendizagem

construtivista, nos quais professor e alunos estão ativos e integrados na procura do

sentido desta aprendizagem, a partir de sua compreensão holística e mais

contextualizada. Nestes pressupostos, incluem-se a utilização de métodos de ensino

alternativos, pelos quais o professor e o aluno organizam suas ações para atingir

determinados objetivos.

Dentre estes métodos, estão as aulas de campo, que longe de

constituírem-se apenas em passeios, complementam as outras metodologias,

objetivando a assimilação dos conteúdos e ampliando os espaços de aprendizagem

além da sala de aula (LIBÂNEO, 1994).

Tratando-se de Educação Ambiental no contexto do semiárido, as aulas

de campo permitem que a escola amplie os seus espaços educacionais às

diferentes realidades socioambientais, gerando co-responsabilização dos indivíduos

e tornando-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de

desenvolvimento: o desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003).

Diante do problema da prática da agricultura de subsistência itinerante,

convencionalmente realizada no semiárido a adoção de práticas alternativas no

manejo agrícola, a exemplo dos Sistemas Agroflorestais (SAFs), constituiria uma

saída viável para atingir a sustentabilidade.

Com essa base que alia teoria e prática, oportuniza-se a ampliação das

percepções socioambientais dos alunos sobre a problemática ambiental de

atividades insustentáveis no semiárido, em vista do conhecimento de algumas de

suas potencialidades naturais consorciadas ao manejo agroecológico. A

possibilidade de acesso a essas informações e conhecimentos pode ajudar no

desenvolvimento dos alunos que estão diretamente inseridos nesse contexto.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Verificar o nível de informação dos alunos do 3º ano da Escola de

Ensino de Médio Adahil Barreto do município de Carius, Ceará, sobre

os conceitos essenciais de Educação Ambiental, a partir de uma

vivência de agrofloresta no semiárido nordestino.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Apresentar os elementos e mecanismos constituintes de uma

agrofloresta e a sua importância no contexto do semiárido.

Caracterizar socioeconomicamente os alunos da escola de ensino

médio Adahil Barreto.

Verificar se houve melhoria no nível de conhecimento a respeito de

técnicas de convivência com o semiárido.

Estimular a percepção sobre as potencialidades do semiárido,

consorciado às intervenções antrópicas.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 QUESTÃO AMBIENTAL

A abordagem sob o enfoque ambiental é apresentada como uma forma

interventiva de ver o meio ambiente, compreendendo as inter-relações e a

interdependência dos diversos elementos que o constituem na geração e

manutenção da vida e consequentemente, agindo a favor da permanência contínua

e saudável de seus recursos (BRASIL, 1998a). A crescente industrialização com sua

forma de produção de bens e o consumo em larga escala, bem como a

mecanização da agricultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a concentração

populacional nas cidades nos últimos séculos, têm causado uma crescente

demanda dos recursos naturais e comprometido drasticamente a sua qualidade e

disponibilidade para as futuras populações (LIMA, 1999).

A rapidez nos avanços tecnológicos e científicos proporciona formas de

produção e consumo com consequências indesejáveis que tem se acentuado sobre

o meio ambiente com igual rapidez. Os desmatamentos e as queimadas

descontroladas e sem fiscalização ocasionam profundos desequilíbrios ecológicos,

ameaçando a sobrevivência de espécies animais e vegetais, prejudicando a

fertilidade dos solos, além de poluírem os recursos hídricos e atmosfera

(CAVALCANTI, 1994).

A produção industrial baseada na extração desmedida e inconsequente

dos recursos naturais gera um modelo econômico que propicia a concentração de

renda na mão de poucos e um grande numero de pessoas ainda em condições

miseráveis. Alguns dos principais efeitos são os desequilíbrios ecológicos da vida

vegetal e animal, a contaminação da água, o aumento das desigualdades sociais e a

crescente violência nos centros urbanos (MEDEIROS, 2011).

Com isso, o meio ambiente tem sido gravemente impactado, resultando

em alterações climáticas, potencialização do efeito estufa e o aumento do

aquecimento global, cujas consequências são desastrosas, especialmente nos

países industrializados (HAMMES, 2004). Lucci (1999) destaca que à medida que se

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agravaram os efeitos negativos advindos do sistema econômico estabelecido

baseado na lucratividade a todo custo, surgiram preocupações e reflexão sobre os

prejuízos causados pelo homem ao meio ambiente natural e sobre o relacionamento

sociedade-natureza.

Existe, desde 1995, conferências nas quais representantes dos países de

Primeiro Mundo se reúnem anualmente para tomar decisões no contexto da

Organização das Nações Unidas (ONU), sobre os problemas ambientais mais

urgentes e a redução da emissão de gases potencializadores do efeito estufa e, por

conseguinte do aquecimento global. Como decorrência destas conferências, por

exemplo, obteve-se a elaboração e aprovação do Protocolo de Kyoto em 1997,

documento considerado uma das mais importantes iniciativas para reverter os danos

ambientais provocados pelo aquecimento global, que entrou em vigor em 2005 com

a adesão da Rússia.

3.1.1 QUESTÃO AMBIENTAL NO BRASIL

Os processos de formação histórico-econômica dos países emergentes

inclusive o Brasil, estão caracterizados, em sua maioria, pela produção e consumo

em larga escala a partir da exploração desenfreada dos recursos naturais numa

lógica capitalista impregnada na maior parte dos segmentos sociais (BRASIL, 2008).

Para Reis et al. (2005) o desenvolvimento praticado pelo homem é sustentado por

valores que visam apenas o crescimento econômico.

A biodiversidade brasileira, de acordo com o IBAMA é dividida em sete

ecossistemas denominados Biomas. Dos quais os mais importantes pela área que

ocupam e pela biodiversidade são: a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, o

Cerrado e a Caatinga. Os aspectos problemáticos da relação homem-natureza têm

gerado impactos ambientais danosos a estes biomas (AMABIS, 2004). A excessiva

liberação de poluentes (lixo, fumaça e resíduos industriais, gases de escapamento

de veículos, etc.), o avanço dos desmatamentos e das queimadas devido à

expansão da agropecuária, ao crescimento das cidades e ao intenso extrativismo

vegetal configuram um quadro caótico da situação ambiental brasileira, pois ampliam

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as desigualdades sociais e comprometem a sadia manutenção da vida e de sua

sustentabilidade (FAVALLI, 2009).

3.1.2 QUESTÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

O semiárido brasileiro, que corresponde a aproximadamente 69,2% da

região Nordeste e ocupa um total de 982.563,3 km², abrangendo, de forma parcial,

oito estados da região e o Norte de Minas Gerais, apresenta situações-problema, do

ponto de vista ambiental, muito semelhantes aos problemas ambientais do

panorama nacional (NOGUEIRA, 1999). Tem como bioma predominante a Caatinga,

que abriga grande variedade de paisagens e espécies da flora e da fauna que não

existem em nenhum outro lugar do mundo e uma população humana de cerca de 17

milhões de habitantes em uma área de 736.000 km2 (BONILLA, 2010).

No semiárido nordestino acentuam-se os problemas ambientais,

principalmente na estação seca do ano, uma vez que a taxa de evapotranspiração é

muito alta e não há precipitações pluviométricas nesse período, acarretando a

escassez parcial ou absoluta de água nos reservatórios naturais. Aliado a isso está a

realização de práticas inadequadas na agricultura convencional, baseadas na

realização de extensas queimadas para o cultivo de monoculturas (que provocam

desequilíbrios ecológicos), práticas inadequadas de irrigação (que salinizam o solo)

e uso de agrotóxicos e produtos químicos fertilizantes (que poluem o solo, água e o

ar e envenenam os seres vivos), comprometendo seriamente a segurança alimentar

de quem consome os produtos dessa procedência (SILVA, 2011).

Apesar das riquezas naturais, o semiárido é marcado por grandes

desigualdades sociais. Historicamente, o governo investiu na construção de grandes

obras hídricas como forma de prolongar a disponibilidade de água ao longo do ano.

Estima-se que o Nordeste abriga mais de 70 mil açudes que acumulam 37 bilhões

de metros cúbicos de água. Logo, há água suficiente, mas esse bem está

concentrado em propriedades particulares e não é compartilhado com a população

difusa do semiárido (NOGUEIRA, 1999).

Dessa forma, as famílias precisam se preparar para a chegada das

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chuvas, que, por sua vez, estão distribuídas muito irregularmente. Ter reservatórios

para captar e armazenar a água é fundamental para garantir segurança hídrica no

período de estiagem. Para isso são praticadas algumas tecnologias sociais simples,

como por exemplo, as cisternas domésticas, cisternas calçadão, barragens

subterrâneas e tanques de pedra.

1.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O tema da Educação Ambiental, amplamente debatido nos vários campos

sociais e divulgado nos principais meios de comunicação, tem sido apresentado

como uma das soluções mais promissoras para os principais problemas ambientais

da atualidade, que emperram o desenvolvimento sustentável do meio ambiente e a

sadia qualidade de vida nos seus mais variados segmentos.

A Educação Ambiental surge no cenário mundial de 1970, como uma

reação à crise ambiental deflagrada pelo modelo de uso insustentável dos recursos

naturais (CRIVELLARO et al. 2008). No Brasil, em 1998, foi proposta a inclusão de

temas transversais nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os quais

norteiam a educação para uma abordagem mais crítica das problemáticas sociais,

buscando suas possíveis soluções.

Abordada diretamente sob o enfoque do tema Meio Ambiente, a

Educação Ambiental é caracterizada como processo educativo, que contempla tanto

o saber científico como os aspectos subjetivos da vida, incluindo as representações

sociais, assim como, o imaginário acerca da relação sociedade-natureza. (BRASIL,

1998b)

A lei 9.795, sancionada em 27 de Abril de 1999, instituiu a Política

Nacional de Educação Ambiental (PNEA), que define Educação Ambiental como:

“os processos por meio dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências

voltadas para a conservação do meio ambiente, bem

de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade

de vida e a sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999).

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1.1.1 ESCOLA: ESPAÇO PRIVILEGIADO DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

Nos PCNs definem-se os principais critérios para a escolha de um tema

transversal, dentre eles, destacam-se: a sua urgência social, a abrangência nacional

e o favorecimento da compreensão da realidade e a participação social. O tema

meio ambiente, assim como os demais temas transversais, tem natureza diferente

das áreas convencionais ministradas na escola. Aborda processos que estão sendo

intensamente vividos na sociedade e debatidos nos mais diferentes espaços sociais,

em busca de soluções e de alternativas, confrontando as diferentes formas de

pensar e agir, individual e coletivamente (BRASIL, 1998b).

Mais que uma prática disciplinar nas escolas, a PNEA reforça no artigo 10

que a Educação Ambiental deverá ser desenvolvida como uma prática educativa

integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do processo

ensino-aprendizagem.

Nas várias disciplinas ou matérias do currículo escolar existem, implícita

ou explicitamente, ensinamentos ou ideias a respeito do tema Meio Ambiente. Por

exemplo, estudando-se as grandes civilizações antigas em História pode-se fazer

um destaque para as formas de produção dos povos antigos, com base na sua

relação com os recursos naturais. Ou ainda, considerando o estudo do corpo

humano, sua fisiologia e anatomia básicas em Ciências Naturais, analisam-se as

principais doenças decorrentes dos problemas ambientais de uma realidade

particular.

A escola desempenha um papel fundamental na formação ética e cidadã

dos indivíduos, motivando-os a uma consciência crítica a respeito dos problemas

ambientais do seu contexto local e das possíveis formas de intervenção ambiental

para a garantia da qualidade de vida com desenvolvimento sustentável.

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1.2 AGROFLORESTA

Para Young (1990, apud ABDO et al. 2008), agroflorestas ou sistemas

agroflorestais (SAFs) são sistemas de uso da terra em que plantas lenhosas perenes

(árvores arbustos, palmeira, bambus) são cultivadas em associação com plantas

herbáceas (culturas agrícolas e/ou pastagens) e/ou animais em uma mesma unidade

de manejo de acordo com um arranjo espacial e temporal, nos quais deve haver

interações ecológicas e econômicas entre componentes lenhosos e cultivos. Os

sistemas agroflorestais visam aperfeiçoar o uso da terra, conciliando a produção

florestal com a produção de alimentos, conservando o solo, a água e a

biodiversidade, diminuindo a pressão do uso da terra para a produção agrícola.

1.2.1 AGROFLORESTA NO SEMIÁRIDO: UMA

PERSPECTIVA SUSTENTÁVEL.

A convivência com o semiárido nordestino, embora difícil, não é

impossível. No nordeste brasileiro é necessário assegurar condições para que

habitantes tenham uma vida digna e os seus direitos básicos assegurados, além de

estimulo de trabalho e participação na vida social para debater sobre os valores e

princípios que norteiam a organização e o desenvolvimento comunitário (SILVA,

2011).

A implantação dos SAFs em várias áreas do semiárido nordestino tem-se

apresentado como mecanismo inteligente das populações que o habitam, para

mobilizar a convivência com o fenômeno natural e recorrente da estiagem no sertão.

Inúmeras experiências exitosas de convivência harmoniosa com os elementos do

semiárido são relatadas por agricultores de alguns Estados nordestinos, em um

documentário produzido pela Cáritas Brasileira, uma organização católica, associada

à Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Tais práticas de agricultura

alternativas têm gerado segurança alimentar e nutricional sem o comprometimento

da qualidade e estabilidade do solo, da água, da vegetação nativa e dos seres vivos

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para as posteriores gerações (SOUSA, 2004).

Na natureza várias espécies de vegetais e animais convivem em equilíbrio

ecológico, a agrofloresta visa copiar o que normalmente acontece nos sistemas

naturais. A prática da agricultura diversificada neste sistema de produção promove,

além da variabilidade produtiva de alimentos para o homem e animais, o

enriquecimento e fortalecimento do solo para a sua maior produção (SOUSA, 2007).

Desenvolvem-se paralelamente às espécies comuns da agricultura (arroz,

feijão e milho), espécies nativas adaptadas do bioma Caatinga (aroeira, mulungu,

juazeiro e outras), além das frutíferas nativas ou que sejam adaptadas à região

(mamão, banana, graviola, manga, dentre outras).

No manejo da agrofloresta, métodos como a realização de queimadas ou

desmatamentos irregulares e a manipulação com agrotóxicos para combater as

eventuais “pragas” da agricultura são rejeitados, uma vez que empobrecem o solo,

causam erosão e contaminam a produção, os seres vivos, o solo e a água (SOUSA,

2007). Nesse sistema são usados defensivos agrícolas naturais baseados na

introdução de culturas de plantas repelentes de insetos fitófagos ou insetos pragas

e/ou utilização de controle biológico com insetos predadores.

Para garantir segurança hídrica na estação seca e continuidade na

produção agrícola são integrados ao sistema alguns instrumentos de captação e

armazenamento da água da chuva através de cisternas de placa, cisterna-calçadão,

barragens subterrâneas, tanques de pedra, dentre outras tecnologias sociais.

Delineia-se assim, uma perspectiva de convivência sustentável em vários aspectos

da vida humana com o semiárido nordestino, com o qual o homem mantém uma

relação de interdependência.

1.2.2 A RELAÇÃO AGROFLORESTA E ESCOLA

A escola tem papel relevante como instituição capaz de informar e formar

consciências para a convivência com o semiárido. O domínio de muitas áreas do

currículo pode ser fortalecido através do pleno envolvimento em atividades

ambientais fora da sala de aula. Para Nutall (1999) a agrofloresta possibilita ao

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23

Educando aprender sobre natureza através do contato direto com os elementos de

seu ambiente natural – os animais, as plantas, o solo, o fluxo da água e do vento, o

sol, as estações, etc.

São inúmeras as possibilidades educativas, ultrapassando a

interdisciplinaridade e permitindo a construção do conhecimento de forma

transdisciplinar, contextualizada, problematizadora, integral e propositiva para a

transformação socioambiental desejada (TORRES SANTOMÉ, 1998).

1.2.3 AGROFLORESTA BAIXA VERDE: UM EXEMPLO DE

EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL

Situada a cerca de 30 km da zona urbana, a agrofloresta da comunidade

de Baixa Verde, município de Saboeiro, região dos Inhamuns, no Estado do Ceará, é

uma dentre várias experiências de convivência sustentável com o semiárido que

surge da combinação de força de vontade da comunidade para o trabalho coletivo,

com conhecimentos técnicos sobre produção agrícola sustentável e tecnologias

sociais de manejo dos recursos hídricos (Fig. 1).

Figura 1: Vista parcial da Agrofloresta Baixa Verde, visita realizada por pesquisadores e educadores ambientais (período chuvoso). Fonte: Cáritas-Iguatu

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Com aproximadamente seis anos de sua implantação na comunidade,

numa área com cerca de quatro hectares, o sistema produtivo comporta espécies

vegetais agrícolas, frutíferas nativas e adaptadas – como banana, macaxeira,

mamão, imbu, feijão e milho – e preserva as espécies nativas como - mandacaru,

aroeira, palma, angico, jucá, sabiá dentre muitas outras – além das práticas de

ovinocaprinocultura, avicultura e apicultura.

Notadamente, a agrofloresta é referência comunitária e regional da

convivência sustentável com o semiárido para a formação ambiental e ecológica,

fornecendo subsídios sólidos para estudantes da própria comunidade e para

pesquisadores até mesmo de outros estados brasileiros.

Nutall (1999), abordando agrofloresta no trabalho docente com crianças,

chega a caracterizar o sistema com a expressão “sala de aula ao ar livre”, fazendo

alusão às potencialidades da agrofloresta que correspondem às muitas facetas do

processo de ensino-aprendizagem.

É relevante que a escola, como instituição que exerce intervenção social

e cultural esteja intimamente comprometida com a questão ambiental

contextualizada, em vista da sustentabilidade das presentes e futuras gerações nos

mais variados espaços do semiárido brasileiro, sendo que os projetos que se

estendem às agroflorestas são um bom começo para alcançar este objetivo.

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25

2 METODOLOGIA

2.1 TIPO DE PESQUISA

Foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório, com uma abordagem

do tipo qualitativa participativa. Peneireiro (2002) considera que ao se trabalhar

pesquisa participativa, o conhecimento é gerado pelo próprio educando, que passa a

usá-lo porque compreende, uma vez que este conhecimento não é alienígena, e

sabe, inclusive, multiplicá-lo para outros.

2.2 ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA PESQUISA

A legislação vigente do Brasil sobre as questões éticas que envolvem as

pesquisas com seres humanos está contida na Resolução 196/96 do Conselho

Nacional de Saúde. Dentre os aspectos éticos a resolução refere-se ao respeito ao

indivíduo pesquisado através do consentimento livre e esclarecido. O pesquisador

deverá garantir o desejo dos participantes referente ao sigilo das informações

fornecidas e o direito de desistir de participar do estudo. Aspectos como a

confidencialidade, a privacidade, o anonimato, a proteção de imagem devem ser

assegurados aos participantes no decorrer de todo o processo de pesquisa. O Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi utilizado com os sujeitos

pesquisados, resguardando os mesmos dos preceitos éticos de acordo com a

Resolução 196/96 (APÊNDICE C).

2.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA

O público-alvo considerado foram os alunos da Escola de Ensino Médio

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Adahil Barreto dentre os quais compuseram o perfil para amostra 25 alunos do 3º

Ano, que participaram ativamente das atividades e eventos pedagógicos propostos

na pesquisa.

2.4 LOCAL DE ESTUDO

O presente estudo exploratório foi realizado na Escola de Ensino Médio

Adahil Barreto, localizada na Rua Edwirgens Vigário, S/N, Bairro Centro no

município de Cariús, Ceará, a 420 km da capital (Fortaleza), onde foram aplicados

os questionários antes e depois da excursão e na agrofloresta da comunidade Baixa

Verde, município de Saboeiro, região dos Inhamuns, no estado do Ceará a,

aproximadamente 433 km da capital. O deslocamento do município de Cariús ao

município de Saboeiro compreendido em 61,2 km, foi previamente autorizado via

Termo de Autorização para realização da Pesquisa (APÊNDICE A).

2.5 COLETA DE DADOS

Os dados foram extraídos das respostas dos questionários aplicados,

coletados durante o período de agosto a outubro de 2013 (APÊNDICE B). Foi

apresentado um documentário e realizada uma excursão. Aplicou-se o questionário

foi aplicado em dois momentos: antes e depois dessas práticas.

2.6 ANÁLISE DE DADOS

Os dados obtidos foram analisados comparando-se as respostas dadas

dos questionários antes e depois da excursão à agrofloresta e os registros das

observações pertinentes ao processo de ensino–aprendizagem, a partir dos quais foi

esboçado um perfil dos alunos referente aos conhecimentos adquiridos sobre

Educação Ambiental e desenvolvimento sustentável com agroflorestas.

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27

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DOS ENTREVISTADOS

Os alunos do 3º ano da Escola de Ensino Médio Adahil Barreto residem

em sua maioria (64%) na zona rural (Fig. 2). Este percentual não está muito distante

do apresentado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

(IPECE), segundo o qual, dos 18.567 habitantes do município de Cariús, onde está

inserida a escola, 55,24% estão alocados na zona rural (BARRETO, 2011). Tal fato

dispende maior esforço de deslocamento dos alunos da zona rural para acessar a

escola na zona urbana, devido à ausência de escolas na zona rural ou à baixa

qualidade da educação que se desenvolve em tais instituições. Qualquer que seja o

motivo, o importante é que esses não ficam em desvantagem em seu aprendizado

com relação aos companheiros de escola que residem na zona urbana (BACHA et

al., 2006).

Figura 2 – Distribuição dos alunos da EM Adahil Barreto quanto à localização de sua moradia.

A maioria dos alunos é composta por filhos de pais cuja ocupação

principal é a agricultura (72%), a qual constitui sua principal fonte de renda. Além de

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agricultores, os pais dos alunos também se ocupam no trabalho comercial, público

ou são profissionais autônomos, representando estes dois últimos os menores

percentuais (Fig. 3).

Figura 3 – Ocupação dos pais dos alunos da Escola de Ensino Médio Adahil Barreto

Assim, nota-se que há uma maior gama de opções de atividades

econômicas para o grupo masculino quando comparado às atividades femininas, o

que pode ser entendido quando se admite o fator da diferença de gênero no que

tange à entrada no mercado de trabalho (Fig. 4).

Figura 4 – Ocupação das mães dos alunos da Escola de EM Adahil Barreto

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Em 2003, a partir da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio

(PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pode-se

constatar acentuadas desigualdades sociais, principalmente de gênero e raça,

radicadas na sociedade brasileira, em que mulheres negras apresentavam renda

média mensal de apenas R$ 279,70 contra R$ 554,60 para mulheres brancas; R$

428,30 para homens negros e R$ 931,10 para homens brancos (PINHEIRO, 2013).

Dados de estudos sobre as desigualdades de gênero e raça no Brasil do

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) demonstraram que pouco mais de

50% das mulheres encontram-se empregadas ou à procura de emprego, enquanto

que esse percentual sobe para quase 73% quando se analisa o grupo masculino,

evidenciando, assim, dentre outros fatores, uma propagação histórica da não

consideração das donas de casa entre a população economicamente ativa

(PINHEIRO, 2013).

Números mais recentes sobre o perfil básico municipal, segundo o IPECE,

mostram que em relação aos empregos formais existentes no município de Cariús,

no ano de 2011, as mulheres detinham a grande maioria dos setores de trabalho

com 85,8% das atividades formais exercidas, incluindo as áreas da indústria de

transformação, dos serviços, da administração pública e do comércio, perdendo para

o grupo masculino apenas no setor agropecuário, em que a cada dez empregos

formais neste setor apenas um era ocupado por mulher (BARRETO, 2011). Tais

atividades limitam-se quase que totalmente às áreas urbanas, o que explica o fato

de apenas 14% das mães apresentarem trabalho formal no serviço público, uma vez

que a maioria dos jovens considerados na pesquisa vem da zona rural, onde a

maioria das mulheres ocupa-se das atividades domésticas, enquanto seus

companheiros da agricultura.

Esta maior participação das mulheres no trabalho urbano e na economia

pode estar relacionada com o seu nível de escolaridade (superior aos homens)

tendendo à conclusão da educação básica e continuidade nos estudos. A relação

entre o número de meninas e meninos no Ensino Médio, em 2006, era de 119

meninas para cada 100 meninos, números que, praticamente se invertem quando se

analisa o Ensino Fundamental no mesmo ano, evidenciando que mais mulheres

prosseguem com seus estudos e concluem o Ensino Médio do que os homens. Além

disso, o percentual de mulheres e homens alfabetizados na faixa etária de 15 a 24

anos era de 103,6% em 2010. Sempre que o percentual deste indicador for superior

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a 100%, significa que existe maior número de mulheres para cada 100 homens

(PORTALODM, 2013).

A análise de escolaridade do pai mostra que 72% apresentaram grau de

estudo inferior ao 5º ano do ensino fundamental, e apenas 14% completaram o

ensino médio. Esse baixo índice de escolaridade pode estar relacionado à condição

socioeconômica do município, o qual apresenta atualmente uma renda per capita de

R$ 239,39 (Fig. 5).

Figura 5 – Nível de escolaridade dos pais dos alunos da escola de EM Adahil Barreto

Curi e Menezes-Filho (2006) ressaltam que há uma relação direta entre

baixa renda e baixa escolaridade e da baixa escolaridade com os salários da

população. É notório, por exemplo, que os baixos níveis educacionais da população

encontram-se entre os principais determinantes da insuficiência de renda das

pessoas. Além disso, a falta de acesso à educação pela população, bem como a má

qualidade da educação oferecida à população mais pobre, faz com que as

desigualdades sociais e a pobreza sejam fortemente agravadas (BARROS et al,

2007).

A respeito da escolaridade da mãe, percebe-se que 57% possuem estudo

inferior ao 5º ano do ensino fundamental e apenas 29% têm ensino médio completo

(Fig. 6). Apesar de baixos, esses percentuais mostram maior tendência da

população feminina em completar seus estudos na educação básica do que os

homens. Estudos divulgados pelo IPECE revelam que há um percentual relevante

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de analfabetos masculinos provindos de zona rural e de baixa renda, além disso, a

maior porcentagem de responsáveis analfabetos se encontra no semiárido brasileiro

e é do sexo masculino, tanto em 2000 (44,4%), quanto em 2007 (34,4%) segundo

dados do IBGE, 2000 e da Prova Brasil, 2007 (RIBEIRO e SILVA, 2010).

Figura 6 – Nível de escolaridade das mães dos alunos da escola de EM Adahil Barreto.

Pesquisas feitas pelo IPECE, 2006 mostram que 11 municípios cearenses

apresentam taxa de escolarização no ensino médio inferior à média do Estado.

Cariús apresenta o número mais crítico dentre os municípios da mesorregião Centro-

Sul com uma taxa de escolarização no ensino médio em torno de 10,66%,

(BARRETO, 2011). Esses dados nos ajudam a entender os resultados obtidos na

pesquisa, uma vez que a conclusão do ensino médio e permanência nos estudos

dependem, dentre outros fatores, da conclusão do ensino fundamental na idade

certa.

Sobre a renda dos familiares dos alunos, nota-se que a maioria (93%)

vive com um ou mais salários mínimos, enquanto que ainda uma pequena parte

(7%) tem menos do que isso para sua sobrevivência (Fig. 7). Quanto à situação

econômica das famílias do município de Cariús, de acordo com dados do CadÚnico

(Cadastro único) do Governo Federal relacionados ao ano de 2007,

aproximadamente 81,7% da população possuía renda familiar per capita inferior a ¼

de salário mínimo (PROARES, 2010); percentual que foi reduzido para 35,4% no

ano de 2010 (BARRETO, 2011). Destes dados infere-se que houve um considerável

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aumento dos proventos familiares, o que pode ser atribuído, dentre outras causas,

aos programas de transferência direta de renda com condicionalidades, que

beneficia famílias com um rendimento mensal domiciliar per capita de até R$ 70,00

numa linha de extrema pobreza ou miséria, adotada pelo Ministério do

Desenvolvimento Social (MEDEIROS; NETO, 2011).

Figura 7 – Renda familiar mensal das famílias dos alunos da escola de EM Adahil Barreto.

Com relação ao percentual observado para as famílias com menos de um

salário mínimo (7%), tem-se que a maioria reside na zona rural, sobrevivendo

diretamente da agricultura e apresentando irregularidade no tempo de estudos, com

apenas o ensino fundamental incompleto, como é possível inferir de figuras

anteriores. O fator localização da moradia é importante uma vez que pode influenciar

diretamente as relações de trabalho e renda, além da facilidade de acesso à escola

e formações profissionalizantes, que promovem a mais rápida admissão no mercado

de trabalho.

3.2 RESPOSTAS AOS QUESTIONAMENTOS SOBRE MEIO

AMBIENTE APLICADOS ANTES E DEPOIS DA VISITA À

AGROFLORESTA

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Os alunos foram levados para a agrofloresta a fim de conhecer na prática

algumas maneiras mais sustentáveis de se utilizar os recursos naturais para

produção de alimentos (Fig. 8). As respostas estão divididas em antes e depois da

visita e revelam como uma aula de campo pode mudar a visão dos alunos sobre

algum tema.

Figura 8 – Trilha para Agrofloresta Baixa Verde, Saboeiro-CE, percorrida pelos alunos considerados na pesquisa. Fonte: Damião Viana Lima.

Sobre a ideia de recursos naturais, expressa pelos alunos (Fig. 9), antes

da visita, 29% citaram a água como principal exemplo de recurso natural, seguido

pela flora (21%), fauna (14%), solo e ar (7%), ao lado de definições mais gerais do

tipo: “recurso natural é tudo que a natureza nos oferece”, ou “tudo que, sendo

próprio da natureza, consiste em um bem utilizável” (7%). Na aplicação posterior à

visita ao sistema agroflorestal (SAF) notou-se que um maior número de alunos

passou a considerar como recurso natural “tudo que a natureza nos oferece”

enquanto que pouco mais de 40% especificaram a água e a flora como sendo

constituintes de tais recursos.

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Figura 9 – Indicação de recursos considerados naturais pelos alunos antes e após a visita à agrofloresta. TNO: Tudo que a natureza nos oferece; TPNB: Tudo que sendo próprio da natureza consiste em um

bem utilizável.

Esta variação da resposta sobre recurso natural conceituado como sendo

tudo que a natureza oferece ao ser humano para a sua sobrevivência reflete a noção

comum que temos dessa íntima dependência do homem para com os recursos de

que a natureza dispõe e a própria capacidade desta de suster as necessidades

humanas e das demais espécies. Tal relação de dependência, segundo Morin

(1988), é um processo de construção que se dá inicialmente no contexto de um

ambiente natural do indivíduo, e ao mesmo tempo num contexto sociocultural.

Segundo Portugal (1992) “A palavra recurso significa algo a que se possa

recorrer para a obtenção de alguma coisa”. O homem, segundo o autor, recorre aos

recursos naturais, isto é, aqueles que estão na natureza, para satisfazer alguma

necessidade. Pensando em conceitos correlatos a este, foi que a legislação

brasileira recente adotou preferencialmente o termo recursos ambientais para

substituir recursos naturais, termo este bastante utilizado em tempos pretéritos

(PORTUGAL, 1992).

Nas entrelinhas da legislação pode-se verificar a presença de resquícios

que indicam o conceito de recursos naturais ainda presente. O exemplo mais

patente está nos termos que compõem a sigla do IBAMA que parece ser apenas

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, mas cujo nome completo inclui também o

termo “Recursos Naturais Renováveis”. Pode-se, entretanto, verificar que, no corpo

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da legislação pertinente, o termo recursos naturais praticamente desaparece sendo

substituído por outros. Um claro exemplo disso é o inciso VI do artigo 4º da Lei

Federal n. 6.938/81, o qual determina “a imposição, ao poluidor e ao predador, da

obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da

contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos” (BRASIL,

1981). Ou seja, descarta recursos naturais, trocando por recursos ambientais.

Aos termos “bens utilizáveis” ou “bens extraídos” a que se referem os

alunos nas respostas, pode-se ainda aplicar a mesma noção que eles têm sobre

relação de dependência do homem com a natureza, já mencionada. Convém

enfocar o termo “bens extraídos” que abrange os elementos bióticos e abióticos não

produzíveis pelo homem, mas dos quais depende a sua sobrevivência.

Randall (1987) e Rees (1990) apud Antonius (1999) estabelecem duas

condições para classificar determinado material como sendo um recurso: primeiro,

que esse material seja útil aos seres humanos, devendo existir, portanto,

conhecimento técnico e ferramentas que permitam sua extração e utilização; e,

segundo, haver demanda para esse material como para os produtos produzidos a

partir dele, ou seja, que tenha valor ou adquira valor no processo produtivo.

De acordo com esta classificação, nem “tudo que é próprio da natureza”,

pode ser considerado um recurso, pois uma vez que de determinado elemento

natural não são conhecidas suas propriedades e utilidades, logo, não se pode lhe

atribuir valor, visto que não se tem nenhuma necessidade deste elemento. Flora,

fauna, água, ar e solo são os exemplos mais específicos de recursos naturais

apontados nas respostas, principalmente, na segunda aplicação do questionário.

Sobre este fato não é de estranhar ver que o trabalho nos SAFs possa proporcionar

maior valoração destes recursos, uma vez que lá estão todos inter-relacionados, ora

subsidiando a prática agropecuária, ora fornecendo matéria orgânica e favorecendo

a ciclagem de nutrientes.

A fauna nos sistemas silvipastoris e agrossilvipastoris inclui as espécies

animais domesticadas, empregadas com a finalidade de produção de alimentos de

origem animal. Eventualmente, são atraídas ao sistema espécies silvestres, que já

existiam na área antes da implantação do SAF, ou vindas de outros hábitats.

Diversas aves, alguns répteis, pequenos roedores, inúmeras espécies de insetos, e

até mamíferos de pequeno porte típicos do bioma Caatinga compõem a

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biodiversidade faunística na Agrofloresta Baixa Verde, o que fica evidente na fala do

proprietário, Raimundo Albanir (Fig. 10).

Moraes-Ornellas (2009), ao pesquisar a fauna associada a sistemas

agroflorestas na zona de entorno do Parque Nacional da Serra da Bocaina (RJ),

constatou um considerável número de espécies de aves e de mamíferos presentes

no SAF em comum com as áreas naturais circundantes, o que aponta a importância

desses agroecossistemas na manutenção da biodiversidade local e como corredor

ecológico facilitando o fluxo dos mesmos entre fragmentos de biomas.

Figura 10 - Vista da entrada da Agrofloresta Baixa Verde, Saboeiro-CE. Fonte: Damião Viana Lima.

Considerando as respostas que representam para os alunos exemplos de

recursos naturais do semiárido nordestino antes e depois da visita à agrofloresta

Baixa Verde (Fig. 11), observa-se que na primeira aplicação, a maioria dos alunos

considerou a flora como principal exemplo de recurso natural presente no semiárido,

aproximadamente 30% deles mencionaram os recursos hídricos (rios, lagos,

barragens, açudes, etc.), pouco mais de 20%, os produtos da agricultura, e menos

de 15% citaram a fauna. Já na segunda aplicação houve uma mudança de opinião

para muitos entrevistados, os quais destacam a flora e a água como importantes

recursos naturais do semiárido e aumento para 21% dos alunos que destacam a

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fauna como parte desses recursos. A quantidade de respostas que afirmam serem

recursos naturais do semiárido nordestino os produtos advindos da agricultura não

foi alterada entre o primeiro e o segundo questionário.

Figura 11 – Indicação de recursos considerados naturais no semiárido nordestino antes e após a visita à agrofloresta.

Observa-se que os recursos naturais citados nas respostas abertas são,

no contexto do bioma Caatinga, de modo geral, os mais alterados, devido a sua

exploração inadequada, o que, por conseguinte, gera desequilíbrios ambientais

desastrosos e irreparáveis (LUCENA, SILVA e MATOS, 2009). No âmbito

agroflorestal, no entanto, tais recursos estão preservados pelo e para o homem, o

que favorece a sustentabilidade do seu meio ambiente e do ambiente de outras

espécies vegetais e animais. Por exemplo, quando da segunda aplicação do

questionário, quase 80% destacaram os recursos florísticos do semiárido,

representados pelas matas nos estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo. Isso se deve

ao fato de que eles puderam perceber – de modo mais concreto através da

diversidade vegetal do SAF – o grau de importância ambiental de tais recursos.

Segundo Sousa (2005), as espécies animais e vegetais domesticadas ou

mesmo vindas de outros biomas e introduzidas no bioma Caatinga necessitam de

condições especiais, geradas pelo homem, para a sua sobrevivência. Os SAFs que,

de um modo geral, representam ecossistemas minimamente agredidos pelo homem,

figuram tais condições (Fig. 12), possibilitando uma harmoniosa convivência com a

fauna e a flora nativas do bioma, que por sua vez, apresentam adaptações

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específicas às suas características físicas e climáticas.

Figura 12 – Vista parcial de parede da barragem subterrânea e poço construídos na Agrofloresta Baixa Verde, Saboeiro-CE, instrumentos de captação, retenção e reserva hídrica Fonte: Damião Viana Lima.

O fato de pouco mais de 40% citarem a água na segunda aplicação do

questionário deve ser atribuído primeiramente à noção comum e predominante que

se tem de que o semiárido é drasticamente afetado pela escassez deste recurso, o

que se agrava em longos períodos sem chuva, como é o caso atual – 2012-2013 –

na maior parte do Nordeste, inclusive na região dos Inhamuns, onde está situado o

SAF Baixa Verde. Tal fato pode ainda ser considerado, principalmente, uma

consequência da observância do correto manejo dos recursos hídricos no SAF

integrados com algumas tecnologias sociais de reserva de água, corroborando seu

grande valor no bioma, uma vez que apenas 3% da quantidade total de água no

Brasil, encontra-se na região Nordeste (FREITAS, 1999).

Com relação ao questionamento referente ao conceito pessoal de

problema ambiental, a maioria dos alunos que respondeu ao questionário em sua

primeira aplicação considerou como sendo uma consequência da ação irresponsável

do homem sobre o seu espaço. Mais de 20% citaram as queimadas e os

desmatamentos, e um percentual de 7% destacaram as secas, o lixo e a poluição

(da água e do ar) como exemplos de problemas ambientais (Fig. 13).

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Figura 13 – Entendimento dos alunos sobre Problema Ambiental antes e após a visita à agrofloresta. CH: Consequência da ação humana; Q: Queimadas; D: Desmatamento; S: Seca; L: Lixo e P: Poluição.

Os resultados da segunda aplicação mostraram um padrão majoritário

nas respostas indicando que problema ambiental é decorrência da ação antrópica, o

que foi exemplificado pelas queimadas e os desmatamentos como sendo os

problemas mais manifestos. A poluição ambiental é citada por 14% dos alunos nesta

nova análise, enquanto que o nível de respostas que consideraram a seca no

semiárido e o lixo em locais inadequados manteve-se constante (7%). Para Barbieri

(1997), os problemas ambientais provocados pelos humanos decorrem do uso do

meio ambiente para obter os recursos necessários para produzir os bens e serviços

que estes necessitam e dos despejos de materiais e energia não aproveitados no

meio ambiente.

Nota-se nas respostas, que o entendimento leigo e predominante sobre

problema ambiental é decorrente das próprias observações sobre as ações

antrópicas que agridem a ordem ecológica do ambiente ao entorno local dos sujeitos

considerados. A maioria dos alunos sendo residente na zona rural e vindo de

famílias agricultoras (Fig. 2 e Fig. 3) está mais frequentemente em contato com

práticas de queimadas e desmatamentos, empreendidos com a finalidade de “limpar”

o terreno para o cultivo agrícola ou extração de lenha. Por este motivo, o

questionamento que aborda o conceito de problema ambiental na visão dos alunos

(Fig. 13) será discutido de modo unificado e comparativo à questão sobre o

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entendimento dos alunos com relação aos problemas ambientais do semiárido

brasileiro (Fig. 14), considerando que são respostas abertas muito semelhantes

entre si.

Figura 14 – Entendimento dos alunos sobre problema ambiental no semiárido brasileiro antes e após a visita à agrofloresta. Q/D: Queimadas/Desmatamentos; P: Poluição; S: Seca; L: Lixo; UA: Uso de Agrotóxicos e CP: Caça

Predatória.

Ao serem questionados sobre quais problemas ambientais afetariam mais

fortemente o semiárido (Fig. 14) a grande maioria mencionou em suas respostas,

antes (64%) e depois da visita à Agrofloresta Baixa Verde (93%), as queimadas e os

desmatamentos de certa forma reforçando e reafirmando as respostas evidenciadas

na percepção global sobre problema ambiental (Fig. 13).

O principal motivo para as queimadas, notadamente ainda é a agricultura

de broca-e-queima empreendida pelo homem devido ao baixo custo para a sua

realização e ao efeito rápido no processo de limpeza do terreno. Ainda em 2012, o

município de Cariús ocupou a segunda posição dentre os municípios cearenses com

maior número de queimadas realizadas: em torno de 141 incêndios, sendo a lista

liderada pelo município vizinho, Jucás, com cerca de 210 casos (FUNCEME, 2012).

Percebe-se nas respostas dos alunos sobre o problema das queimadas que eles

não estão alheios à sua realidade ambiental, sendo eles próprios vítimas das

consequências das frequentes queimadas. Mesmo os alunos residentes na zona

urbana destacam com frequência o fato de se realizarem queimadas, principalmente

para fazer agricultura, mas também para outros fins.

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A mesma relação homem-meio ambiente, verificada como fator explicativo

das respostas anteriores pode também ter influenciado as respostas “poluição” e

“lixo”, nos questionamentos sobre o conceito de problema ambiental (Fig. 13) e a

problemática ambiental do semiárido brasileiro (Fig. 14) uma vez que muitos são

filhos de agricultores, que por sua vez são obrigados a fazer a tríplice lavagem das

embalagens dos produtos químicos e não mais jogá-los nos rios, como era muito

comum até bem pouco tempo atrás. Além disso, pode ter motivado estas respostas o

fato de que no município de Cariús não ocorre coleta seletiva do lixo, pois ainda que

53,33 % dos domicílios particulares permanentes urbanos disponham de coleta de

lixo de acordo com o IPECE no ano de 2010, isso não acontece na zona rural

(BARRETO, 2011). Na maioria dos casos, o lixo é despejado em locais impróprios,

acumulado e queimado nos lixões, liberando, assim, grande quantidade de

poluentes atmosféricos e contaminantes dos solos. Outro motivo possível, é que os

alunos podem ter sido influenciados pelo constante apelo ambiental da mídia, uma

vez que tais problemas são muito comentados nos meios de comunicação e até

mesmo em sala de aula.

Os dados referentes às perguntas sobre poluição ambiental no semiárido

brasileiro (Fig. 14) destacam esse tema como o segundo maior problema ambiental,

sendo citado por aproximadamente 60% dos alunos na primeira aplicação e mais de

70% na segunda, confirmando, assim uma informação importante do IBGE de 2008

sobre o perfil municipal de Cariús, segundo o qual o município apresentara a

poluição dos recursos hídricos e a contaminação do solo, além das queimadas e

desmatamentos nos anos de 2006 a 2007, como principais ocorrências impactantes

(PORTALODM, 2013).

Sobre a seca no semiárido nordestino nota-se que aproximadamente 36%

dos alunos mantiveram invariável sua resposta também na segunda aplicação do

questionário (Fig. 14). Vê-se, assim, uma constante preocupação, principalmente por

parte dos alunos que vivem em comunidades rurais e dependem das chuvas para o

sucesso da prática agrícola. Ainda, porque de 2012 para 2013 houve uma drástica

redução na precipitação pluviométrica, com uma diminuição de 741 mm para 475

mm nos meses de janeiro a abril dos respectivos anos, sendo que a média anual de

pluviosidade no município de Cariús é de 865,6 mm (FUNCEME, 2013),

caracterizando, assim, um intenso período de estiagem, que tem debilitado a

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situação financeira das famílias agricultoras, gerando diminuição em suas rendas

mensais e elevação dos preços dos produtos agrícolas no mercado.

Estudo comparativo entre as percepções ambientais de docentes e

discentes de uma escola pública do semiárido paraibano, relacionando a percepção

predominante com as características do bioma Caatinga e sua abordagem no

ambiente escolar (SANTOS et al., 2011) constatou que docentes e discentes

percebem prioritariamente problemas relacionados à escassez de água na região do

semiárido, confirmando o proposto por Melazo (2005) de que o ser humano

compreende o ambiente de acordo com as relações desenvolvidas nele.

Foram citados ainda o uso de agrotóxicos – 7% na primeira aplicação e

aproximadamente 30% na segunda – e a caça predatória, 7% apenas na segunda

aplicação, como problemas ambientais do semiárido (Fig. 14). Assim é relevante

considerar o abuso de agroquímicos como potencial agravante ambiental da

contaminação dos solos.

Referente a isso se destacam dados importantes sobre a comercialização

de agrotóxicos na região Nordeste, responsável por aproximadamente 6% do

consumo destes produtos, concentrado principalmente nas áreas de agricultura

intensiva (SPADOTTO; GOMES, 2013). O Ceará, por sua vez, segundo estudo

sobre os prejuízos à saúde humana a partir do uso de agroquímicos numa

comunidade de Maracanaú, apoiado pela Universidade Federal do Ceará (UFC), no

ano de 2011, destacou-se como maior consumidor de agrotóxicos na região

nordeste, dobrando, em cinco anos, a venda de veneno e ampliando em 963,3% a

venda de ingredientes ativos para os venenos (COLARES, 2011). Isso significa um

gradativo aumento nas compras destes produtos não só pelos grandes proprietários

agrícolas, mas também pelos pequenos agricultores, que por vezes abusam de tais

produtos sem orientação técnica adequada, comprometendo a qualidade alimentar

dos seus consumidores e dos recursos ambientais. O uso de produtos químicos na

agricultura citado por cerca de 30% dos alunos na segunda aplicação do

questionário (Fig. 14) evidenciam, além do entendimento concernente a esta

problemática ambiental e o seu abuso na prática agrícola – que se pode comprovar

pelas referências estatísticas supracitadas – também o permanente contato com tais

produtos a que estes jovens estão submetidos diariamente.

Estas evidências estatísticas supracitadas comparadas às respostas dos

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alunos permitem inferir que há uma percepção e uma análise dos adolescentes,

mesmo que mínima, da realidade socioambiental à sua volta, e que essa percepção

se amplia a partir da interação com os SAFs nos quais o jovem pode relacionar seu

contexto ambiental, reeducação ambiental e possíveis soluções sustentáveis aos

problemas ambientais que são percebidos ao seu redor (RIBASKI, 1982). Nota-se

ainda uma grande admiração dos jovens durante a visita ao SAF e durante a

exposição do técnico agropecuário sobre o funcionamento do sistema e de como

eventualmente espécies silvestres típicas da Caatinga são atraídas ao local, sem

que haja a mínima interferência predatória humana, fato que pode explicar que

tenham mencionado a caça apenas na segunda aplicação do questionário. Da

mesma forma, indagam sobre o fato de não serem usados defensivos agrícolas no

SAF para combater as pragas da vegetação, o que certamente evidenciou a

desnecessidade do seu uso na agricultura.

A respeito das concepções pessoais dos alunos sobre Educação

Ambiental (EA) nota-se que a maioria deles em ambas as aplicações a considera um

processo atitudinal de preservação da natureza. Vinte e nove por cento dos alunos

na primeira aplicação afirmam que EA consiste no estudo dos recursos naturais e

7% dizem não entender nada sobre o assunto. Na segunda aplicação do

questionário, no entanto, apenas 7% alegam que EA é o estudo dos recursos

naturais, e 14% que é um ato de educação para preservação da natureza (Fig. 15).

Figura 15 – Entendimento dos alunos sobre Educação Ambiental antes e após a visita à agrofloresta. APN: Ato de preservação da natureza; ERN: Estudo dos recursos naturais; AEP: Ato de educação para preservação da natureza e NS: Não sei.

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Os alunos inseridos em uma área ecologicamente preservada, ao

participarem de uma experiência de manejo sustentável dos recursos naturais no

semiárido, parecem, de fato, entender que estão envolvidos em uma atividade de

Educação Ambiental, porque podem se surpreender (e eles expressam isso por meio

de gestos, fisionomia) com os conhecimentos transmitidos pelo técnico e pelo

proprietário da agrofloresta através de sua própria experiência. Assim, eles

entendem que a consciência e a sensibilidade que motivam as ações protecionistas

e conservativas do meio ambiente dependem inicialmente de um ato educativo, de

uma ação cidadã de ensino e de aprendizagem. É isto que consecutivamente

promove um “ato de preservação da natureza”.

Em um questionamento aberto sobre o que se deve fazer para preservar

os recursos naturais do semiárido, a grande maioria dos alunos sugeriu em ambas

as aplicações, que o melhor seria não desmatar nem queimar a vegetação. Como

segunda resposta mais indicada pelos alunos está a “preservação dos recursos

naturais” em ambas as aplicações, enquanto que na segunda aplicação 36%

optaram por evitar o uso de agrotóxicos, como medida de preservação ambiental e

apenas um pequeno percentual de alunos aponta a reciclagem do lixo como

principal ação de preservação ambiental, tanto antes quanto depois da visita ao SAF

(Fig. 16).

Figura 16 – Sugestões dos alunos sobre medidas de preservação dos recursos naturais do semiárido nordestino antes e após a visita a agrofloresta. ND: Não desmatar/queimar; FA: Fazer agrofloresta; EAG: Evitar agrotóxicos; CRA: construir reservatórios de água; PRN: Preservar os recursos naturais; RL: Reciclar o lixo e DCP: Denunciar a caça predatória.

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Desmatamento, queimada e utilização de agrotóxicos no cultivo agrícola

são problemas muito atuais e frequentemente apontados nas respostas dos alunos,

uma vez que, além de serem práticas altamente nocivas ao equilíbrio ecológico de

qualquer bioma – e ainda mais, quando se trata do semiárido brasileiro, que

apresenta grande complexidade física e biológica – são práticas desprezíveis dentro

do método agroflorestal.

Pela observância do SAF, através de contato direto, os estudantes

puderam deduzir que “fazer uma agrofloresta”, possibilitaria amenizar problemas

clássicos da complexa região semiárida, que mesmo apresentando extensas áreas

de solos razoavelmente férteis, oriundos de rochas cristalinas e rico em minerais,

ainda apresentam uma baixíssima produtividade agrícola, devido à prática da

agricultura de subsistência itinerante, caracterizada, principalmente pelo uso

frequente de queimadas, sobrepastejo, desmatamento e extração de lenha sem

reposição (ARAÚJO-FILHO, 2010).

Um estudo avaliativo dos impactos de quatro SAFs e um sistema

convencional agrícola sobre a qualidade do solo, comparativamente à condição

natural (caatinga nativa) após cinco anos de uso na região semiárida cearense, foi

realizado no município de Sobral, no ano de 2006, possibilitando analisar a

composição química e aspectos físicos dos solos em diferentes sistemas agrícolas

(ARAÚJO-FILHO et al., 2006). O trabalho permitiu concluir que os tratamentos

agrossilvipastoril e silvipastoril mostraram que, de modo mais eficiente, ocorreu

maior ciclagem de nutrientes, baixa ou nenhuma diminuição nos teores de carbono

orgânico total (COT) e maior estado de estabilidade dos agregados do solo, o que

torna segura a recomendação de tais manejos para a manutenção da qualidade do

solo e a produção de alimentos na região do semiárido cearense.

Ainda que não sejam elementos que identificam os SAFs, as tecnologias

sociais de captação e armazenamento de água ou retenção da umidade já fazem

parte das estratégias de convivência do sertanejo com o semiárido (SOUSA, 2007).

Acessórios como cisternas de placa, cisterna calçadão e barragem subterrânea,

como os presentes na agrofloresta Baixa Verde, aumentam o aproveitamento da

água das chuvas que caem na região. Mesmo enfrentando o longo período de seca

e tendo perdido o aspecto verdejante, característico do período chuvoso, na maior

parte de sua extensão, o SAF Baixa Verde apresenta sinais de vitalidade, expressos

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na vegetação frutífera, nas hortaliças e tubérculos – irrigados através da técnica do

gotejamento, que permite uma distribuição mais eficiente da água – e plantas nativas

e forrageiras (Fig. 17).

Figura 17 – Laranjeira com seus frutos (A) e plantação da palma, cactácea típica do semiárido, usada para complementar a alimentação animal forrageira (B). Fonte: Damião Viana Lima

Em relação aos 7% que sugeriram a reciclagem do lixo como medida de

preservação dos recursos naturais do semiárido (Fig. 16) verifica-se uma

preocupação (referida também na discussão das Fig. 13 e 14) sobre o modo como

são tratados os materiais não aproveitados pelo homem, gerados pelos processos

de produção de bens e serviços, a partir dos recursos ambientais. Embora com a

mesma quantidade de respostas nas duas aplicações, é imprescindível destacar o

processo de reciclagem natural que ocorre na Baixa Verde (como em outros SAFs),

a partir do acúmulo superficial de matéria orgânica proveniente de plantas secas,

capina seletiva, restos de alimento e esterco (ARAÚJO-FILHO et al., 2006) (Fig. 18).

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Figura 18 – A poda de galhos secos e envelhecidos produz uma grossa cobertura orgânica que protege o solo da erosão, retém sua umidade por mais tempo, aumentando a ciclagem de nutrientes. Fonte: Damião Viana Lima

É relevante ressaltar também uma forma peculiar de irrigação presente no

SAF Baixa Verde feita a partir da reutilização de canudinhos de pirulito, que,

segundo o proprietário é uma forma de distribuir racionalmente a água (Fig. 19).

Figura 19 – Irrigação por gotejamento com garrafa PET atada à planta (A) e canudinhos de pirulito em canos de PVC (B) otimizam a distribuição de água no período de estiagem. Fonte: Damião Viana Lima.

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Na resposta do tipo: “devemos denunciar a caça e matança de animais”,

os alunos ressaltam a necessidade de uma fiscalização mais efetiva sobre a fauna

do semiárido. Provavelmente o que os motivou a tal resposta foi o fato de

observarem em suas comunidades a prática indiscriminada da caça de animais

silvestres para o consumo como alimento, tráfico ou para mantê-los em cativeiros, o

que, devido à falta de fiscalização dos órgãos competentes tornou-se um evento

corriqueiro.

Analisando as respostas sobre o questionamento relacionado à prática da

agricultura de broca-e-queima obteve-se que a grande maioria dos alunos considera

inadequada a prática de queimadas para o plantio por diversas razões que se

complementam entre si (Tabela 1). Cerca de 90% dos alunos na primeira aplicação

consideraram imprópria a realização de queimadas para o cultivo agrícola, citando

diferentes argumentos como o empobrecimento do solo, promoção da erosão e

desertificação, a destruição da fauna e da flora nativas e a poluição do ar e dos

recursos hídricos. Enquanto que apenas 14% alegaram que é uma prática aceitável,

mas só quando a finalidade for a “limpa do mato” para fazer o plantio, quando, na

realidade sabe-se que é justamente a própria agricultura que fica comprometida

devido às queimadas. Na segunda aplicação, 93% dos alunos foram contra a prática

das queimadas apresentando as justificativas já mencionadas anteriormente, e 7%

foram a favor, quando estas forem feitas com o objetivo de plantar na área

desmatada.

Tabela 1 – Opinião dos alunos sobre realização de queimadas na prática

agrícola

RESPOSTAS ANTES DA VISITA (%) APÓS A VISITA (%) INCORRETA, POIS EMPOBRECE O SOLO.

30 50

INCORRETA, POIS DESTRÓI A FAUNA.

21 22

INCORRETA, POIS POLUI O AR E OS RIOS.

14 7

INCORRETA, POIS CAUSA DESERTIFICAÇÃO.

21 14

CORRETA, QUANDO É FEITO PARA PLANTAR.

14 7

Fonte: Dados da pesquisa.

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O fato dos 14% dos alunos na primeira aplicação concordarem com a

prática de queimada para “limpar o terreno” para o cultivo agrícola se explica, por ser

uma prática de baixo custo que despende pouco esforço humano. Esta resposta, no

entanto teve uma redução para 7% na aplicação posterior ao conhecimento do SAF,

onde se pode verificar a apreensão positiva de saberes agroecológicos, orientando

uma postura ambientalmente sustentável.

Ao serem indagados sobre quais métodos e práticas agrícolas eram mais

conhecidos por eles, observou-se que a maioria dos alunos tanto na primeira quanto

na segunda aplicação do questionário (Fig. 20), respondeu que conheciam práticas

agrícolas baseadas na queimada da área a ser cultivada, com irrigação e uso de

agrotóxicos como controle de pragas. Enquanto que a capinagem do terreno, sem a

prática das queimadas, irrigação ou uso de agrotóxicos era conhecida por uma

minoria dos alunos, na primeira aplicação, mas que se tornou mais conhecida após

a visita, de forma que quase 44% dos alunos referiram-se a tais práticas após a

visita ao SAF.

Figura 20 – Respostas dos alunos sobre as práticas agrícolas mais conhecidas por eles antes e após a visita à agrofloresta. QPI: Queimadas para o plantio, com irrigação e uso de agrotóxicos e CSQ: Capinagem, sem queimadas, sem irrigação nem uso de agrotóxico.

É notório, que a partir do conhecimento do SAF, surjam mais respostas

considerando práticas agrícolas mais sustentáveis, principalmente com relação ao

solo e à vegetação, uma vez que sua valoração é muito comum neste

agroecossistema. É compreensível também que a maioria dos alunos conheça mais

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práticas agrícolas pautadas na realização de queimadas para a “limpa do mato” na

área a ser cultivada, irrigação intensiva e abuso de agrotóxicos, sendo métodos tão

antigos e arraigados na cultura agrária do semiárido, desde a colonização, sendo

repassadas até as gerações atuais.

“O Nordeste brasileiro é uma região composta de

terras (...), que produzem tudo que se plantar. Por

outro lado existem terras semiáridas, isto é, terras

que precisam de água, de irrigação e de muitos

instrumentos de trabalho para que se consiga a sua

produção, isto significa dizer, tenha boa viabilidade.

Para tanto, é preciso que haja um interesse

governamental quanto à eliminação das dificuldades

que os habitantes do semiárido passam na sua

sobrevivência, quanto aos tipos de cultura a trabalhar

e a manutenção no seu processo de crescimento até

a sua ida ao consumo final.” (SOUSA, 2006).

Segundo o autor supracitado, perduram ainda práticas arcaicas de

manejo agrário pouco rentáveis ao pequeno agricultor, que se vê inserido em uma

lógica capitalista exclusivista. Esta, por sua vez, enriquece o latifúndio industrial,

gerando grandes desigualdades sociais. Para o mesmo autor falta uma política séria

e comprometida em promover condições viáveis de sobrevivência no campo, o que

a tornaria uma região produtiva e promissora para seus habitantes.

Dentre as respostas ao questionamento sobre se escolheriam

futuramente trabalhar na agricultura obteve-se que a grande maioria respondeu que

não almejava seguir a profissão de agricultor, argumentando sobre as dificuldades

próprias da profissão, potencializadas pelo clima quente e seco. 21% afirmaram que

escolheriam a profissão pelo fato de já pertencerem a famílias de agricultores ou,

simplesmente, por gostar de trabalhar em atividades agrícolas. Ambas as respostas

mantiveram-se com os mesmos percentuais entre a primeira e a segunda aplicação

do questionário (Fig. 21).

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Figura 21 – Respostas dos alunos com relação a escolherem para si mesmos a profissão de agricultor antes e após a visita à agrofloresta.

“Sim, apesar de ser um trabalho pesado, gosto de trabalhar na terra”. F,

sexo masculino, 17 anos, zona urbana (primeira aplicação).

“Não, apesar de ser obrigado a destruir a natureza é um trabalho muito

cansativo” (primeira aplicação). E “ainda não, pois a gente sofre muito com o sol e o

calor” (segunda aplicação). T, sexo masculino, 19 anos, zona rural.

“Não, admiro muito a profissão, mas quero investir em outro ramo. Entrar na

universidade” (primeira aplicação) e “não, não tenho conhecimento total para realizar a

profissão de agricultor” (segunda aplicação). L, sexo feminino, 20 anos, zona rural.

“Provavelmente sim, porque o estudo depende muito das suas condições

para estudar” (primeira aplicação) e “sim, porque minha família é todos tem a ver com a

agricultura” (segunda aplicação). E, sexo masculino, 18 anos, zona rural.

“Sim” (primeira aplicação) e “acho que sim, pela preservação da natureza”

(segunda aplicação). FE, sexo masculino, 17 anos, zona rural.

“Não, pois não me adaptaria a esta atividade” (primeira aplicação) e “não,

porque essas pessoas sofrem muito” (segunda aplicação). A. sexo feminino, 18 anos,

zona urbana.

Como se nota, há um alto teor de negatividade na maioria das respostas

com relação à profissão, o que pode ser resultado de toda uma história de

degradação ambiental causada por procedimentos agrícolas insustentáveis e pouco

produtivos. Por outro lado, os esforços físicos dos agricultores, em meio a

complexos fatores sociais, políticos, econômicos e ambientais que potencializam os

efeitos da seca, parecem não ser recompensados pela produtividade, desgastando o

trabalhador.

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Outro fator para o descrédito da profissão é a busca por melhores

condições educativas e por uma maior abrangência no mercado de trabalho, o que

acaba gerando um fluxo migratório para as áreas urbanas e, consequentemente a

diminuição da mão-de-obra agrícola.

Nos últimos anos, o IBGE, através dos censos realizados, constatou

diminuição do total de habitantes no meio rural. Em 2000, o Brasil contava com

6.134.639 de jovens no campo, o que representava 18% do total do número de

pessoas residentes no meio rural. Porém, o último censo, o de (2010) registrou

5.493.845 pessoas nas mesmas localidades e na mesma faixa etária, entre 15 e 24

anos, o equivalente a 16% da população total de jovens do país, sendo que,

segundo as estatísticas, a maioria dos emigrantes vai das regiões semiáridas do

Nordeste brasileiro em direção aos grandes centros urbanos e metrópoles

(TOLEDO, 2011).

Bourdieu (2000) apud Battestin (2009) ressalta que o difícil acesso às

políticas públicas básicas como educação, lazer e cultura, também tem peso

significativo na saída desses jovens. O desejo de continuidade dos estudos, de

cursos profissionalizantes, que possibilitem oportunidades fora de seu espaço de

origem, é valorizado tanto pelos jovens como pelos próprios pais, pois estes

carregam em si a imagem de inferioridade do campo em relação à cidade.

Evangelista et al. (2001) aponta sérias implicações sociais advindas do

êxodo rural que compreendem, dentre outros problemas: a redução da produção

agrícola com o consequente aumento dos custos dos alimentos; a adoção de

tecnologias para substituir a mão-de-obra migrante, acarretando sérios impactos

ambientais; o crescimento das favelas, aumento da marginalidade, precarização das

condições de saúde e habitação nas cidades, e aumento do desemprego, uma vez

que a competição comercial entre as empresas, as tem obrigado a se modernizarem

e adotarem elevado nível de automação, com investimentos intensivos em capital e

poupadores de mão-de-obra.

Diante desta realidade, se não forem empreendidas políticas sociais de

incentivo à permanência do jovem no campo, como linhas de crédito para aquisição

de terras e equipamentos e alternativas de prosseguimento de seus estudos

correlacionados às práticas agrícolas nas chamadas 'escolas de alternância', é

possível que num futuro próximo haja escassez de profissionais para a agricultura.

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Considerando as respostas da questão que indaga sobre o uso de

agrotóxicos no combate às pragas da agricultura, mais da metade dos alunos, na

aplicação inicial concordou que o uso é incorreto, pois prejudica os alimentos e,

consequentemente a saúde humana e os animais, e também porque poluem o solo

e os reservatórios naturais de água. Porém, 43% ainda defendiam seu uso no

controle das pragas da plantação. Na última aplicação o percentual de entrevistados

que é contra o uso de agrotóxicos subiu para 86%, e apenas 14% mantiveram-se

favoráveis à aplicação (Tabela 2).

Tabela 2 – Opinião dos alunos sobre uso de agrotóxicos na prática agrícola

RESPOSTAS ANTES DA VISITA (%) APÓS A VISITA (%)

INCORRETO, POIS POLUI O SOLO E OS RIOS.

29 22

INCORRETO, POIS PREJUDICA OS ALIMENTOS E A SAÚDE HUMANA.

28 57

INCORRETO, POIS AFETA OS INSETOS POLINIZADORES.

0 7

CORRETO, POIS EVITA PRAGAS NA AGRICULTURA.

43 14

Fonte: Dados da pesquisa.

Deduz-se que a maioria passou a entender sobre os malefícios que os

agrotóxicos promovem ao ser humano e ao meio ambiente, poluindo os solos e os

rios e prejudicando a própria fauna nativa, uma vez que, apenas na segunda

aplicação, 7% afirmaram que o abuso destas substâncias pode afetar os insetos

polinizadores, que por sua vez desempenham um importante papel nos espaços

agrícolas. Isto se pode atribuir ao fato de que no SAF visitado desenvolvem-se

atividades de apicultura para fins de consumo da própria comunidade, e como forma

de complemento da renda das famílias, obtido com a venda do excedente.

Estudos feitos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

Naturais Renováveis (MACHADO, 2012) comprovaram o efeito nocivo de alguns

componentes de agrotóxicos sobre populações de abelhas, levando-as à morte ou a

alterações comportamentais. As avaliações da pesquisa culminaram na proibição da

aplicação aérea de produtos químicos que contenham tais compostos, consistindo

em crime ambiental o descumprimento de tal medida.

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O Brasil é o campeão mundial de consumo de agrotóxicos desde 2008.

Naquele ano, foram 673 mil toneladas consumidas, mas em 2010 ultrapassou a casa

de 1,0 milhão de toneladas. O Ceará apareceu no Censo Agropecuário do IBGE de

2006 como o quarto estado brasileiro em número de estabelecimentos que utilizam

agrotóxicos (COLARES, 2011).

Demonstrações feitas no SAF visitado permitiram aos jovens

compreenderem como é feito o combate aos insetos prejudiciais à agricultura (Fig.

22). Soluções preparadas com fumo, urina de vaca ou ainda extratos preparados de

certas plantas constituem-se como possíveis repelentes naturais.

Figura 22 – E m roda de conversa, o proprietário da agrofloresta Baixa Verde, o senhor Raimundo Albanir (chapéu), o técnico agropecuário da Cáritas, Iguatu-CE, Oneci Angelim (boné branco), e jovens discutem sustentabilidade no semiárido. Fonte: Damião Viana Lima

Com relação ao percentual de 43% dos alunos na primeira aplicação do

questionário e 14% na segunda aplicação que foram a favor ao uso de agrotóxicos,

explicando a sua necessidade no combate às pragas da lavoura, fica evidente como

a falta de informação pode subsidiar escolhas erradas. Esta falta de informação

pode ser vista como resultado da pouca ou nenhuma assistência técnica prestada

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pelos órgãos ambientais e de extensão rural aos pequenos agricultores e, é uma

observação que deve motivar reflexões pedagógicas mais contextualizadas à

vivência do educando, despertando sua sensibilidade crítica sobre o abuso de

produtos químicos na agricultura.

Quando foram questionados sobre como promover a sustentabilidade dos

recursos naturais para as futuras gerações, a maioria respondeu simplesmente que

os mesmos devem ser preservados, tanto na primeira quanto na segunda aplicação

do questionário. Cuidar, prioritariamente da vegetação e promover o incentivo à

educação ambiental foram algumas das respostas apresentadas, mas em número

reduzido. Sete por cento responderam, mas somente na primeira aplicação, que,

simplesmente deveríamos continuar usando os recursos naturais, pois como sempre

existiram, continuarão existindo na Terra e adicionalmente, 7% também citaram na

primeira aplicação que nada deve ser feito para a conservação dos recursos

naturais, posicionamento que não se repetiu na segunda aplicação do questionário

(Fig. 23).

Figura 23 – Sugestões dos alunos para sustentabilidade dos recursos naturais atuais antes e após a visita à agrofloresta. PRN: Preservar os recursos naturais; CV: Cuidar da vegetação; IEA: Incentivo à educação ambiental; CURN: Continuar usando os recursos naturais e N: Nada deve ser feito.

Analisando a quantidade e o tipo de respostas observa-se que houve uma

mudança no modo pelo qual os alunos passaram a perceber o valor dos recursos

naturais e a sua continuidade para as futuras gerações. Ao passo que se evidencia

este valor intrínseco do solo, da água, do ar, da fauna e da flora se impõe uma

necessidade urgente de preservá-los. Respostas do tipo “continuar usando os

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recursos” ou “nada deve ser feito para preservá-los” não reaparecem na segunda

aplicação após a visita ao SAF. Por outro lado, a resposta: “incentivo à educação

ambiental” confirma fortemente o papel da educação e da escola na geração do

conhecimento dos recursos naturais do semiárido e sua sustentabilidade.

Há uma grande disposição da maioria dos alunos no que tange à proteção

dos recursos naturais em vista da sua sustentabilidade, uma motivação

conservacionista que se deve conferir às experiências vivenciadas e observadas no

agroecossistema visitado. Para Gliessman (2009) há uma urgente necessidade de

mais conhecimento sobre como aplicar os princípios da sustentabilidade aos

sistemas que se dizem sustentáveis e em função da própria conversão da

agricultura ao modelo sustentável.

Segundo o autor, pensando sobre a insustentabilidade da agricultura industrial, as

razões para esta falta de conhecimento são bem definidas:

“... uma razão importante para esta carência de conhecimento, é que os recursos e esforços em investigação agrícola, durante muito tempo, se têm concentrado em outras preocupações. A investigação se tem enfocado a maximizar a produção, estudar os componentes do sistema, avaliar os resultados obtidos, no retorno econômico em curto prazo, contestar as perguntas que envolvem o retorno imediato da produção, e a servir às necessidades e demandas imediatas da agricultura como uma indústria independente. O resultado tem sido o desenvolvimento de uma agricultura industrial de altos rendimentos, que está experimentando grande dificuldade para responder às inquietudes sobre qualidade ambiental, a conservação dos recursos, os alimentos confiáveis, a qualidade da vida rural, e a sustentabilidade da agricultura em si.” (GLIESSMAN, 2009).

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4 CONCLUSÃO

Os entrevistados entendem mais facilmente ideias relacionadas à

Educação Ambiental quando estas são veiculadas através de situações e

instrumentos próprios da sua realidade socioambiental e que convergem para a

melhoria ambiental desta.

Os elementos naturais mais citados como exemplos de recursos

ambientais na pesquisa, antes e depois da visita ao SAF Baixa Verde, englobaram

os recursos hídricos e florísticos, os quais, não coincidentemente, são os mais

alterados pelas queimadas, desmatamentos, poluição, seca e o abuso de

agrotóxicos na prática agrícola de subsistência itinerante gerada pela falta de

conhecimentos adequados por parte dos pequenos agricultores e pela ambição

capitalista do latifundiário no semiárido brasileiro.

Os entrevistados não estão alheios ao meio onde vivem, mas são

capazes de percebê-lo em suas vulnerabilidades e potencialidades ambientais,

sendo capazes de intervir sustentavelmente.

Verificou-se, que as agroflorestas, muito mais que sistemas de uso

agroecológico dos recursos naturais, têm potencial educativo no que se relaciona à

questão ambiental, favorecendo a apreensão de conhecimentos essenciais

vinculados ao tema transversal da Educação Ambiental. Além de permitir o maior

conhecimento a respeito dos recursos naturais do semiárido brasileiro e de meios

antrópicos sustentáveis para sua maior valoração.

A visita à agrofloresta Baixa Verde como instrumento pedagógico da

Educação Ambiental no contexto do semiárido possibilitou aos alunos perceberem

as possibilidades de se obter os produtos da agricultura a partir do manejo adequado

e sustentável dos recursos ambientais, mesmo na época de estiagem.

Dessa forma, por meio da prática pedagógica contextualizada à realidade

do alunado, é possível a transmissão de conhecimentos científico-sociais pertinentes

a uma sala de aula, ao passo que são inseridos valores ambientais essenciais à

formação do cidadão da presente e futura gerações.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE IGUATU - FECLI

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Eu, Damião Viana Lima, objetivando realizar um estudo sobre o nível de informação

a respeito do tema Educação Ambiental e convivência sustentável com o semiárido

nordestino, a partir do conhecimento de uma agrofloresta nessa conceituada

instituição de ensino, juntamente com minha orientadora Prof.ª Dr.ª Marlete Moreira de

Sousa Mendes, solicitamos a autorização da direção geral para a realização da

pesquisa intitulada “AGROFLORESTA E ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE

EDUCAÇÃO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO

ADAHIL BARRETO, MUNICÍPIO DE CARIÚS, CEARÁ”.

Eu, ____________________________________, diretora da instituição

supracitada, portadora de RG nº __________________________, estou ciente das

informações recebidas e de acordo com a coleta de dados da pesquisa e certa de

que não haverá nenhum risco causado pela liberação do estudo. Ainda, estou

consciente de que os resultados serão usados apenas para fins científicos, não

havendo nenhuma despesa ou gratificação para participação da referida pesquisa, e

de que terei acesso aos resultados publicados em períodos científicos.

_________________________________________________

Diretor (a) da Escola

_________________________________________________ Damião Viana Lima

Pesquisador

_________________________________________________ Prof.ª Dr.ª. Marlete Moreira de Sousa Mendes

Orientadora

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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE IGUATU – FECLI

CURSO: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

DAMIÃO VIANA LIMA

NOME:________________________________________________IDADE:_______

LOCALIZAÇÃO: ( ) ZONA RURAL ( ) ZONA URBANA

OCUPAÇÃO DO PAI: ________________ OCUPAÇÃO DA MÃE:_______________

NÍVEL DE ESCOLARIDADE DO PAI:______________________________________

NÍVEL DE ESCOLARIDADE DA MÃE: ____________________________________

RENDA MENSAL DA FAMÍLIA:

( ) MENOS DE UM SALÁRIO MÍNIMO

( ) UM SALÁRIO MÍNIMO

( ) MAIS DE UM SALÁRIO MÍNIMO

( ) MAIS DE DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS

1. Para você o que são recursos naturais? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

2. Em sua opinião, quais são os recursos naturais existentes no semiárido nordestino?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

3. O que você entende por problema ambiental?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

4. Para você, quais são os problemas ambientais que mais prejudicam o semiárido?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

5. O que você entende por Educação Ambiental? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

6. O que você acha que deve ser feito para preservar os recursos naturais do semiárido nordestino?

______________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Em sua opinião, é correto fazer queimadas para depois realizar a prática da

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agricultura na mesma área? Por quê? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

8. Quais as práticas usadas na agricultura/plantio que você conhece? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

9. No atual momento, você escolheria para si a profissão de agricultor (a)? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

10. Você acha correto o uso de venenos (agrotóxicos) para combater as pragas na agricultura?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. Você acha que as futuras gerações terão acesso aos mesmos recursos

naturais que se tem hoje no semiárido? Por quê?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________.

12. O que deve ser feito para garantir que as futuras gerações tenham acesso

aos recursos naturais que temos hoje?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E LETRAS DE IGUATU - FECLI.

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Eu, Damião Viana Lima, concludente do curso de Licenciatura em

Ciências Biológicas pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu da

Universidade Estadual do Ceará – FECLI/UECE, estou desenvolvendo o estudo que

objetiva analisar a respeito do tema Educação Ambiental e convivência sustentável

com o semiárido nordestino, a partir do conhecimento de uma agrofloresta, por meio

da aplicação de um questionário aos alunos da Escola de Ensino Médio Adahil

Barreto no município de Cariús - CE e realização de excursão com os mesmos, em

transporte devidamente adequado, à agrofloresta.

Assim, solicito sua autorização para que possa participar da pesquisa

intitulada “AGROFLORESTA E ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO E

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO ADAHIL

BARRETO, MUNICÍPIO DE CARIÚS, CEARÁ.”.

Desde já, informo-lhe que os dados serão apresentados ao Curso de Ciências

Biológicas na FECLI/UECE, podendo ser utilizados também em eventos científicos.

Porém, dou-lhe a garantia de que suas informações serão resguardadas de forma

anônima.

Caso precise entrar em contato comigo, informo-lhe que meu telefone é

(88) 9632-2524.

_____________________________

Damião Viana Lima

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CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIMENTO

Tendo sido satisfatoriamente informado sobre a pesquisa acima citado,

concordo em participar da mesma, estou ciente de que o nome não será divulgado e

que o pesquisador estará disponível para responder a quaisquer dúvidas.

Cariús, ______ de _________________ de 2013.

_________________________________________

Assinatura do Aluno

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