Agricultura Familiar mudou a vida de quatro famílias

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BoletimInformativodoProgramaUmaTerraeDuasÁguas Ano8•nº1573 Junho/2014 BomJesus Agricultura Familiar mudou a vida de quatro famílias Antônio Franco e Cícera Alexandrina de Oliveira criaram todos os filhos trabalhando numa fazenda do Sítio Alegria, plantando mandioca e cuidando do rebanho do patrão. Os filhos também seguiam o mesmo caminho. Porém, em 2005, uma das filhas, Maria Cícera Franco de Oliveira, conheceu experiências de Agricultura Familiar, através de um Congresso Nacional da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF), no Distrito Federal, e decidiu mudar o rumo dessa história. “Eu sempre achei que Sindicato era só para aposentar os idosos. Lá no Congresso da FETRAF eu me toquei e entendi a grandeza das discussões sobre o campo e me envolvi de vez no processo sindical, lutando pela agricultura familiar”, narra Maria Cícera. Ela conta que na primeira tentativa de convencer os irmãos e cunhados a saírem da fazenda e iniciar o trabalho na agricultura familiar, nos quatro hectares de propriedade dos pais, não conseguiu. “Aí, eu mudei de estratégia. Fui trabalhar com as mulheres – minhas irmãs e cunhadas, e elas iniciaram o trabalho. Como elas trabalhavam nas hortas até o anoitecer, os maridos iam lá, para acompanhar as esposas de volta pra casa e eles foram vendo que elas estavam conseguindo dar um retorno. Eles foram interagindo com elas”, relatou Cícera. Ela conta que, aos poucos, os homens foram “tomando gosto” pela produção de hortaliças. Quando a gente se deu conta, já havia seis irmãos e irmãs na produção”, diz. Isso aconteceu em 2010, quando foram feitos pequenos investimentos e os homens deixaram a fazenda e foram trabalhar na produção de hortaliças, sem agrotóxicos. A produção As quatro famílias (irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas) participam do processo coletivo de produção e comercialização dos produtos, nas feiras livres de Bom Jesus-RN e Serra Caiada-RN e fornecem para um supermercado. A produção, por semana, é de 1.500 molhos de coentro, 350 pés de alface, além de quantidades menores de Antônio Franco e Cícera Alexadrina (sentados), com as filhas Maria Cícera e Maria Renilda Cícero (de calção azul) e todos, homens e mulheres, se envolvem no processo

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Seu Antônio Franco e dona Cícera Alexandrina criaram os filhos trabalhando numa fazenda do sítio Alegria, município de Bom Jesus-RN. Mas uma filha do casal, Maria Cícera Franco de Oliveira, decidiu mudar o rumo das famílias dos irmãos e irmãs, depois de conhecer o potencial da agricultura familiar. O início dessa história bonita foi difícil, mas hoje as famílias vivem bem, produzindo hortaliças coletivamente.

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Boletim�Informativo�do�Programa�Uma�Terra�e�Duas�Águas

Ano�8�•�nº�1573�Junho/2014�

Bom�Jesus

Agricultura Familiar mudou a vida de quatro famílias

Antônio Franco e Cícera Alexandrina de Oliveira criaram todos os filhos trabalhando numa fazenda do Sítio Alegria, plantando mandioca e cuidando do rebanho do patrão. Os filhos também seguiam o mesmo caminho. Porém, em 2005, uma das filhas, Maria Cícera Franco de Oliveira, conheceu experiências de Agricultura Familiar, através de um Congresso Nac iona l da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (FETRAF), no Distrito Federal, e decidiu mudar o rumo dessa história. “Eu sempre achei que Sindicato era só para aposentar os idosos. Lá no Congresso da FETRAF eu me toquei e entendi a grandeza das discussões sobre o campo e me envolvi de vez no processo sindical, lutando pela agricultura familiar”, narra Maria Cícera. Ela conta que na primeira tentativa de convencer os irmãos e cunhados a saírem da fazenda e iniciar o trabalho na agricultura familiar, nos quatro hectares de propriedade dos pais, não conseguiu. “Aí, eu mudei de estratégia. Fui trabalhar com as mulheres – minhas irmãs e cunhadas, e elas iniciaram o trabalho. Como elas trabalhavam nas hortas até o anoitecer, os maridos iam lá, para acompanhar as esposas de volta pra casa e eles foram vendo que elas estavam conseguindo dar um retorno. Eles foram interagindo com elas”, relatou Cícera. Ela conta que, aos poucos, os homens foram “tomando gosto” pela produção de hortaliças. “Quando a gente se deu conta, já havia seis irmãos e irmãs na produção”, diz. Isso aconteceu em 2010, quando foram feitos pequenos investimentos e os homens deixaram a fazenda e foram

trabalhar na produção de hortaliças, sem agrotóxicos.

A produção

As quatro famílias (irmãos, irmãs, cunhados e cunhadas) participam do processo coletivo de produção e comercialização dos produtos, nas feiras livres de Bom Jesus-RN e Serra Caiada-RN e fornecem para um supermercado. A produção, por semana, é de 1.500 molhos de coentro, 350 pés de alface, além de quantidades menores de

Antônio Franco e Cícera Alexadrina (sentados), com as filhas Maria Cícera e Maria Renilda

Cícero (de calção azul ) e todos, homens e mulheres, se envolvem no processo

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

couve e espinafre. Na área, eles ainda produzem maracujá, tomate, couve flor, couve manteiga, berinjela, pimentão, espinafre, quiabo, entre outros produtos e frutas, usando apenas adubo orgânico (esterco de gado). “A gente faz com o conhecimento que temos. Quando nossa mãe fazia as hortas dela, a gente ia vendo, aprendendo e agora estamos colocando na prática”, informa Maria Iraneide. “Muitas pessoas perguntam por que é que os produtos da gente passam a semana toda verde, enquanto os dos outros apodrecem no dia seguinte, e a gente explica que é porque o nosso não tem veneno”, diz Carlos André. “E a gente ainda vende mais barato do que os outros. Um pé de alface custa R$ 2,00 e um molho de coentro só cinquenta centavos, enquanto eles vendem um pé de alface, produzido com veneno, por R$ 3,00”, comenta Cícero Luceline. Ele acrescenta que enquanto vendem mais de trezentos pés de alface e mais de mil molhos de coentro, os outros só vendem uns trinta. “Até às 8 da manhã, a gente vende tudo que temos”, afirma Cícero.

Vida melhor

Cícero Luceline afirma que a vida deles mudou muito, depois que deixaram a fazenda, onde eram empregados, e passaram a trabalhar com a agricultura familiar. “Antes, eu era empregado, e agora eu trabalho pra mim mesmo”, diz. “Antes, eu era só dona de casa. Hoje, a vida mudou muito”, comenta Maria Iraneide. A irmã dela, Maria Renilda, também teve uma mudança de vida muito grande. “Antes das hortas era muito diferente. A gente trabalhava para os outros, na agricultura, plantando mandioca, plantando feijão... A gente fazia de tudo. Agora, não, agora estamos trabalhando pra gente, e a vida melhorou muito. Hoje, tudo é da gente; toda família trabalha pra gente, no que é da gente, e a renda da gente aumentou bastante. Depois que a gente divide, fica mais ou menos um salário mínimo para cada um de

nós”, relata Renilda. Na produção, todos os custos e investimentos, assim como a renda, são divididos igualmente pelas quatro famílias. “A gente tira, por mês, mais ou menos quatro mil e quinhentos reais, livre de todas as despesas. E a gente divide tudo por igual”, afirma Maria Iraneide. Ela acrescenta que a qualidade de vida delas melhorou muito, porque têm os produtos na mesa. “O alface é franco, o coentro é franco, e antes, quando a gente não tinha nada, era tudo regrado e tudo pouco (limitado). A vida da gente melhorou totalmente”, conclui Iraneide. Carlos André afirma que em três anos conseguiu com as hortas mais coisas do que em 15, trabalhando de empregado num supermercado.Francisco das Chagas Carlos André

Maria Renilda

Maria Iraneide

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