Agentes fitoquímicos da persea americana mill. e seu potencial contributo na dermocosmética

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    Joana Catarina Henriques Moreira

    AGENTES FITOQUMICOS DA PERSEA AMERICANA MILL. E SEU POTENCIAL

    CONTRIBUTO NA DERMOCOSMTICA

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2012

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    Joana Catarina Henriques Moreira

    AGENTES FITOQUMICOS DA PERSEA AMERICANA MILL. E SEU POTENCIALCONTRIBUTO NA DERMOCOSMTICA

    Universidade Fernando Pessoa

    Faculdade de Cincias da Sade

    Porto, 2012

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    Trabalhos desenvolvidos durante a execuo prtica desta dissertao:

    Moreira, J., Costa, A., Vinha, A.F. 2012. Estudo da composio fitoqumica eatividade farmacolgica das fraes polares e apolares dos compostos bioativos

    presentes na Persea americana Mill. no contributo alimentar e potencial aplicao em

    cosmticos.Revista Egitania Sciencia (submetido para publicao).

    Vinha, A.F., Moreira, J., Abrunhosa, F., Soares, M.O., Oliveira, M.B.P.P. 2012. Health

    promotion: dependence of chemical composition, phenolic content and antioxidant

    activity of Portuguese avocado (Persea americana). Book of Abstracts of IPLeiriasHealth International Congress, 1: 61. ISBN: 978-972-8793-46-3

    Joana Catarina Henriques Moreira

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    AGENTES FITOQUMICOS DA PERSEA AMERICANA MILL. E SEU POTENCIAL

    CONTRIBUTO NA DERMOCOSMTICA

    Trabalho apresentado Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos paraobteno do grau de Mestre em Cincias Farmacuticas.

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    Resumo

    A sustentabilidade um conceito complexo que se pode resumir na noo de

    desenvolvimento econmico e social, sem provocar grandes danos ao ambiente e aos

    recursos naturais. H, atualmente, inmeros casos de aproveitamento e valorizao de

    materiais que no passado eram rejeitados pelas indstrias agroalimentares e que devem

    servir de exemplo para todos os processos de produo alimentar, potenciando outras

    indstrias, como a indstria farmacutica, nomeadamente na rea da tecnologia de

    desenvolvimento de produtos dermocosmticos. Portugal apresenta condies edafo-

    climatricas favorveis para o cultivo da Persea americana Mill., concretamente nazona sul de Portugal continental e no arquiplago da Madeira. Este fruto, embora no

    seja reconhecido como um alimento inserido na dieta mediterrnica, apresenta

    propriedades benficas para a sade. A polpa do fruto abacate uma fonte rica em

    energia, fornecendo elevado teor de cido gordos insaturados, protenas, vitaminas e

    minerais. No entanto, tal como noutros frutos, a pele e a semente no so comestveis,

    podendo ser reutilizadas noutras indstrias devido sua riqueza em compostos

    fitoqumicos.O presente trabalho teve como objetivo o estudo e caracterizao qumica dos

    compostos extratveis das diferentes partes do fruto abacate, nomeadamente, polpa, pele

    e semente, variedade Hass.

    Foi realizada a caracterizao fsico-qumica do fruto nos seus principais tecidos: polpa,

    pele e semente, atravs dos teores de humidade, acidez titulvel, slidos solveis totais,

    protenas totais, cinzas e gordura. Para a quantificao dos fitoqumicos com

    propriedades bioativas, foram estudados a vitamina C, vitamina E, carotenoides totais,

    fenlicos totais, flavonides e compostos antocinicos. A eficcia da atividade

    antioxidante dos compostos bioativos depende das suas estruturas qumicas e

    concentraes distribudas amplamente pelo fruto. A partir dos extratos aquosos

    estudou-se a atividade antioxidante, por espectrofotometria usando o radical DPPH, de

    forma a atestar as propriedades apontadas a este fruto.

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    A caracterizao fsico-qumica e antioxidante apresentaram um perfil qualitativo

    idntico nos diferentes constituintes do fruto analisados, mas foram encontrados teores

    mdios significativamente diferentes (p 0.05).

    Os resultados obtidos indicam, por meio de uma abordagem fitoqumica in vitro, a

    presena de diferentes metabolitos secundrios com propriedades bioativas nos

    diferentes constituintes do fruto (polpa, pele e semente), visando o seu interesse na sua

    produo no s na vertente alimentar como potenciais recursos indstria cosmtica

    na elaborao de produtos naturais com atividade farmacolgica e teraputica.

    Palavras-Chave: Persea americana Mill., Compostos bioativos, Atividade

    antioxidante, Sub-produtos alimentares, Dermocosmtica.

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    Abstract

    Sustainability is a complex concept that can be explained as the economic and social

    development without causing damages to the environment and the natural resources.Currently there are many cases of use and valorization of materials that were before

    rejected by the food industries and this should be an example for all food producing

    processes, enhancing other industries such as pharmaceuticals, particularly in the area of

    technology for development new cosmetic products. Portugal presents edaphoclimateric

    conditions favorable to the culture ofPersea americana Mill., particularly in the south

    of Portugal and archipelago of Madeira. This fruit, although not recognized as a food

    included in the traditional Mediterranean diet, presents beneficial properties for healthpromotion. The fruit pulp is recognized as a rich source of energy, providing a high

    content of unsaturated fatty acids, proteins and minerals. However, like other fruit, skin

    and seeds of avocado fruits are not edible and can be reused due to its wealth of

    phytochemical compounds.

    The aim of the present work was the study and chemical characterization of extractable

    substances presented of the different parts of avocado fruit, in particular, pulp, skin and

    seeds of Hass variety.We performed the physicochemical characterization of the avocado fruit in its main

    tissues: pulp, skin and seed, through the moisture content, acidity, total soluble solids,

    protein content, ash and fat content. For quantification of some phytochemicals with

    bioactive properties it were studied the contents of vitamin C, vitamin E, carotenoids

    total phenolics, flavonoids and anthocyanin compounds. The effectiveness of

    antioxidant activity of bioactive components depends on their chemical structure and

    concentration widely distributed in fruit tissues. From aqueous extracts it was studied

    the antioxidant activity by spectrophotometry, using the DPPH radical, in order to

    testify the properties described for this fruit.

    The physico-chemical characterization and antioxidant profile showed a qualitatively

    identical in all different constituents analyzed in the fruit, but average levels were found

    significantly different (p 0.05).

    The results indicate, by means of a phytochemical in vitro approach, the presence of

    different secondary metabolites with bioactive properties in the various constituents of

    avocado fruit (pulp, skin and seed), to their interest in its production not only in the food

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    industry, also, as a potential resources to the cosmetics industry in the development of

    natural products with pharmacological and therapeutic activities.

    Keywords:Persea americana Mill., Bioactive compounds, Antioxidant activity, Food

    byproducts, Dermocosmetic.

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    Agradecimentos

    Acabada mais uma etapa da minha vida, tenho que agradecer a todos os que me

    ajudaram ao longo deste meu percurso acadmico, sem eles estes cinco anos teriam sido

    muito mais difceis e com orgulho que aqui fica um pequeno testemunho da

    importncia que tiveram.

    Um trabalho de investigao no traduz o esforo isolado de uma pessoa, antes constitui

    o resultado de vrias contribuies que, no seu conjunto, do corpo s ideias expressas e

    que permitem a sua apresentao final.

    minha orientadora Prof. Doutora Ana Cristina Vinha por todo apoio, esforo,

    dedicao e dinamismo demonstrados ao longo deste trabalho. Sem as suas

    competncias e rigor, este trabalho ter-se-ia tornado um desafio bem mais complicado.

    Agradeo-lhe tambm o voto de confiana que em mim depositou ao inserir-me num

    trabalho de investigao, com o qual s tenho a ganhar neste meu futuro profissional

    prestes a comear.

    minha me Teresa, ao meu pai Carlos e ao meu irmo Tiago por me terem apoiado

    nos momentos menos bons e pelo orgulho que demonstraram em tudo o que fui

    realizando. Ficar-vos-ei sempre grata pelo amor, vida e amparo.

    Ao Joo, pela fora que me deu, pelo apoio inesgotvel, por acreditar sempre em mim e

    por todo o carinho e afeto.

    Irene pela amizade, pelo carinho e por ter-se mostrado sempre disponvel para me

    acolher, poupando-me algumas horas que despenderia noutras tarefas, aproveitando-as

    como tempo de estudo e, tambm, para a realizao deste projeto.

    Aos meus amigos que estiveram sempre presentes.

    Sem vocs teria sido impossvel, a todos o meu muito obrigada!

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    ndice

    Resumo...i

    Abstract............iiiAgradecimentos.....v

    ndice de figuras.viii

    ndice de tabeles....x

    Captulo I. Introduo........1

    Captulo II. Reviso Bibliogrfica.4

    2.1. O ABACATE (PERSEA AMERICANA MILL.)...............4

    2.1.1. Histria e origem........5

    2.1.2. O abacate em Portugal....6

    2.2. RADICAIS LIVRES.........7

    2.2.1. Compostos bioativos com propriedades antioxidantes...9

    2.3. BENFICIOS NA SADE..10

    2.3.1. Carcinognese...11

    2.3.2. Doenas cardiovasculares.........12

    2.3.3. Osteoartrite.......13

    2.4. ANTIOXIDANTES NATURAIS.......13

    2.4.1. Compostos insaponificveis.....14

    2.4.1.1. Esteris Vegetais....14

    2.4.1.2. Carotenides.......16

    2.4.1.3. Vitamina E......17

    2.4.2. Hidratos de Carbono....18

    2.4.3.Compostos Fenlicos....19

    2.4.3.1. cidos Fenlicos.....20

    2.4.3.2. Flavonides.....21

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    2.5. O ABACATE NA FITOCOSMTICA E DERMOCOSMTICA.22

    2.5.1. O leo de abacate...24

    2.5.2. Relao entre os compostos bioativos e a dermocosmtica.......25

    Captulo III. Objetivos.....29

    3.1. OBJETIVO GERAL....29

    3.2. OBJETIVOS ESPECFICOS......29

    3.2.1. Estudo e caracterizao do abacate, variedade Hass in vitro.30

    Captulo IV. Materiais e Mtodos...31

    4.1. MATERIAL31

    4.2. ANLISES FSICO-QUMICAS..32

    4.2.1. Humidade..32

    4.2.2. Acidez titulvel..32

    4.2.3. Slidos solveis totais...32

    4.2.4. Determinao do teor de cinzas.33

    4.2.5. Determinao do teor em protenas...334.2.6. Determinao do teor em gordura total.33

    4.3. ANLISE DOS COMPOSTOS ANTIOXIDANTES...34

    4.3.1. cido ascrbico.34

    4.3.2. Carotenoides totais35

    4.3.3. Fenlicos totais.35

    4.3.4. Flavonoides totais.36

    4.4. ATIVIDADE ANTIOXIDANTE...36

    4.5. ANLISE ESTATSTICA.....37

    Captulo V. Resultados e discusso.....38

    Captulo VI. Concluso...47

    Captulo VIII. Referncias bibliogrficas....49

    Captulo IX. Anexos59

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    ndice de Figuras

    Figura 1. Morfologia do fruto do abacateiro.4

    Figura 2. Produo de abacate em Portugal..7

    Figura 3. Formao de espcies reativas, por sequenciao qumica, catalisada pela

    enzima citocromo oxidase.8

    Figura 4. Estrutura qumica dos fitosteris predominantes em frutos.15

    Figura 5. Estruturas qumicas dos carotenoides, nas suas formas qumicas trans..16

    Figura 6. Estrutura qumica da vitamina E......18

    Figura 7. Estrutura dos cidos hidroxibenzicos.....20

    Figura 8. Estrutura dos cidos hidroxicinmicos.20

    Figura 9. Estrutura geral dos flavonoides21

    Figura 10. Diferentes classes dos flavonides.22

    Figura 11. Riqueza do abacate em leo...24

    Figura 12. Estrutura qumica de alguns dos antioxidantes cutneos sintetizados in

    vivo..26

    Figura 13. Imagem representativa do fruto abacate e das amostras separadas para anlise

    experimental. (1Polpa; 2Pele; 3Semente)31

    Figura 14. Representao grfica das mdias obtidas para os teores em gordura,

    protena, cinzas e humidade encontrados nos diferentes constituintes estudados (polpa,

    pele e semente) do abacate var.Hass..40

    Figura 15. Representao grfica das mdias obtidas para os teores de compostos

    antioxidantes, concretamente, fenlicos totais, flavonoides e carotenoides em mg/100g

    encontrados nos diferentes constituintes estudados (polpa, pele e semente) do abacate

    var.Hass..43

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    Figura 16. Representao grfica das mdias obtidas para os teores de vitamina C e

    vitamina E (mg/100g) obtidos nos diferentes constituintes estudados (polpa, pele e

    semente) do abacate var. Hass43

    Figura 17. Atividade antioxidante (% descolorao do radical livre DPPH) dos extratos

    aquosos da polpa, pele e semente, do abacate portugus com concentraes de 0.1 e 0.2

    mg/mL....45

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    ndice de Tabelas

    Tabela 1. Resultados obtidos nos diferentes constituintes do fruto abacate, variedade

    Hass. Os parmetros de humidade, protenas totais, cinzas e gordura total estoexpressos em percentagem. Os slidos solveis totais esto representados em Brix e a

    acidez em mg/100g (equivalentes em cido mlico)...38

    Tabela 2. Quantificao dos compostos antioxidantes (mg/100g) obtidos nas distintas

    partes que constituem o fruto: polpa, pele e semente, respetivamente42

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    Captulo I. Introduo

    Os ecossistemas humanos, incluindo as comunidades construdas, so subconjuntos de

    um ecossistema maior que o planeta Terra. A sustentabilidade um processo que tenta

    conciliar as necessidades reais e os desejos do Homem. O conhecimento do Homem

    acerca da sustentabilidade e do futuro da humanidade depende, em grande parte, da

    compreenso do passado. A sustentabilidade no foge regra e, para compreender a

    fundo este conceito, devem conhecer-se as fontes do problema e a sua evoluo, para

    que se possa trabalhar em possveis solues.

    Prev-se que at 2050, as necessidades alimentares mundiais venham a aumentar

    significativamente, devido no s ao aumento da populao (mais de nove bilies) mas

    tambm devido melhor e maior ingesto alimentar. Para alm da necessidade de tornar

    a agricultura mais produtiva, necessrio torn-la mais sustentvel. Atualmente, o

    progresso tem sido retardado pela falta de conhecimento e compreenso de como

    ultrapassar o problema da sustentabilidade e, consequentemente, verifica-se a

    estagnao da implementao de polticas e leis que vo de encontro s necessidadesfuturas(Spiertz, 2010).

    Nas ltimas dcadas, a procura por produtos naturais tem envolvido no s os

    naturalistas, mas tambm investigadores e todos aqueles que procuram estudar e

    divulgar os benefcios desses produtos. Esses, a cada dia, apresentam um maior

    emprego, sendo utilizados na alimentao, na indstria farmacutica e alimentar,

    cosmtica, entre outros.

    As espcies do gnero Persea, como o caso do abacate, so utilizadas,

    tradicionalmente, para diversos fins, desde medicinais a culinrios, aplicaes na

    dermocosmtica, entre outros (Nayak et al., 2008; Anaka et al., 2009; Kosiska et al.,

    2012). Na medicina tradicional, os abacates so usados como hipotensores,

    hipoglicmicos, e antivricos e so aplicados para o tratamento de lceras, doenas

    cardacas e dermatolgicas (Anita et al., 2005; Raharjo et al., 2008). A estes frutos, tambm atribudo um efeito analgsico e anti-inflamatrio (Adeyemi et al., 2002).

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    Todos estes fins, utilidades e benefcios devem-se aos vrios agentes fitoqumicos

    presentes no fruto, quer nas partes edveis como nas no edveis. Muitos dos trabalhos

    efetuados at data, sobre as espcies dePersea,visaram o estudo dos leos essenciais,

    como o efetuado por Chia e Dykes (2010), onde os autores verificaram atividade

    antimicrobiana na pele e semente de 3 variedades diferentes de abacate (Hass,Fuerte e

    Shepard). Estudos sobre extratos hidroetanlicos da pele e da semente do fruto abacate

    foram tambm realizados, nas caracterizaes da componente fenlica e atividade

    antioxidante. Estes estudos revelaram uma predominncia de compostos bioativos

    pertencentes ao grupo dos flavonis, proantocianidinas, e cidos hidrocinmicos

    (Kosiska et al., 2012). Rodrgez-Carpena e colaboradores (2011) demonstraram uma

    elevada atividade antioxidante em diversos ensaios in vitro, atividade atribuda aos

    compostos fenlicos.

    Relativamente rea da dermocosmtica, tambm nesta a procura por produtos naturais

    tem aumentado e, sendo os frutos de P. americana descritos como sendo utilizados na

    preparao de emulses para tratamentos de pele seca, agentes contra a radiao

    ultravioleta, compostos antioxidantes e anti envelhecimento, cicatrizantes, entre outros,

    sendo compreensvel a mais-valia que o abacate pode trazer neste sentido.

    Por todos os motivos supracitados, o abacate tem ganho um reconhecimento mundial e,

    consequentemente, um volume econmico significativo a nvel internacional (Whiley et

    al., 2002). As qualidades sensoriais, o seu valor nutritivo, bem como, riqueza em

    compostos antioxidantes justificam o aumento do seu consumo (Tango et al., 2004).

    Atualmente, na Europa, j possvel encontrar pomares de abacateiros distribudos por

    Espanha, Itlia, Grcia e Portugal. No nosso pas, estes frutos so cultivados no sul de

    Portugal continental (Algarve) e no arquiplago da Madeira, onde as condies edafo-

    climatricas so mais favorveis (Lea, 2009).

    Deste modo, o principal objetivo deste estudo foi avaliar a composio qumica e

    antioxidante do abacate nacional, variedade Hass, produzido no Algarve e comparar o

    seu teor em fitoqumicos com a mesma variedade de frutos produzida noutros pases,

    considerando que as condies edafo-climatricas exercem um papel fundamental no

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    metabolismo vegetal. Por outro lado, este estudo pioneiro permite divulgar a

    importncia nutricional que o abacate possui, sendo uma mais-valia a sua introduo na

    dieta mediterrnica. A pele e a semente do fruto foram tambm estudadas de forma a

    valorizar a sua rentabilidade no impacto econmico do pas, pelas suas propriedades

    biolgicas e farmacolgicas como potenciais substncias para a indstria farmacutica e

    dermocosmtica, para alm do leo da polpa do fruto que j hoje bastante utilizado.

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    Captulo II. Reviso bibliogrfica

    2.1.O ABACATE (Persea ameri canaMill)

    O abacateiro pertence famlia Lauraceae, gnero Persea. uma planta originria da

    Amrica Central, cultivada em quase todas as regies tropicais e subtropicais e, devido

    s suas variedades botnicas, classifica-se como uma planta frutfera das mais

    produtivas por unidade de rea cultivada (Teske e Trentini, 1997). O fruto formado

    por pericarpo (casca), mesocarpo (polpa), e endocarpo (semente) e a sua forma

    assemelha-se a uma pera (Figura 1) (Cowan and Wolstenholme, 2003). O fruto do

    abacateiro um alimento bastante energtico, calrico e de elevado valor nutricional,quando comparado com outros frutos tropicais. Rico em protenas e vitaminas A e B,

    medianamente rico em vitaminas D, E e pobre em vitamina C, este fruto merece uma

    maior ateno uma vez que na sua matriz podem-se identificar algumas vitaminas

    lipossolveis, normalmente ausentes na maioria dos frutos (Knight, 2002).

    Figura 1. Morfologia do fruto do abacateiro. (Retirado de Storey, 1974)

    O fruto, independentemente da variedade, caracteriza-se pela sua riqueza lipdica e a sua

    quantidade varivel de leo presente na polpa, utilizada pela indstria farmacutica e

    de cosmticos, bem como na obteno de leos comerciais substitutos alimentares do

    leo de oliva, uma vez que, o leo extrado diretamente da polpa dos frutos, bem

    como, pela similaridade de propriedades fsico-qumicas, principalmente pela

    composio em cidos gordos, predominando em ambos o cido oleico (Tango et al.,

    2004).

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    Alm das propriedades supracitadas, o leo de abacate apresenta outras propriedades

    importantes para a indstria farmacutica, tais como, facilidade de absoro cutnea;

    veculo de substncias medicinais; poder de absoro de perfumes; e fcil capacidade de

    formao de emulses, tornando-o ideal para o fabrico de sabes finos. Essas

    caractersticas sugerem bons prognsticos comerciais para a produo do abacate, no

    apenas a nvel mundial, como a nvel nacional.

    2.1.1. Histria e Origem

    O abacate (Persea americana Mill.), referido como uma das frutas mais nutritivas de

    sempre (Purseglove, 1968) tem ganho um reconhecimento mundial e,consequentemente, um volume significativo no comrcio internacional (Whiley et al.,

    2002).

    Relatos histricos relataram que os navegadores conheceram o abacate nos primrdios

    do descobrimento da Amrica. Sabe-se que em 1519 e 1529, este fruto era consumido

    pelos povos nativos da Colmbia e, posteriormente expandiu-se para o Mxico (entre

    1532 e 1550). Em relao ao seu nome abacate, em espanhol aguacate/ahuacate, emingls avocado ou em francs avocat, provm de adaptaes da sua palavra originria

    ahuacatl de origem asteca que significa testculo, atribuda esta definio dado

    forma do fruto (Osche et al., 1961).

    Com espcie nativa da Amrica, o abacate difundiu-se por todo o continente americano,

    inicialmente no sculo XVII, citado como avocado na Jamaica. Na europa, o abacate foi

    citado pela primeira vez em 1601, como planta introduzida no jardim botnico deValncia (Donadio, 1995).

    Apesar de nativo da Amrica Central, mais especificamente do sul do Mxico,

    atualmente, a produo de abacate est localizada desde pases da Amrica do Sul e

    Central (Carabas), Estados Unidos, mais especificamente na Califrnia, Austrlia,

    frica do Sul e Israel (Feitosa et al., 2007).

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    Na Europa, os principais pomares de abacateiros encontram-se distribudos em Espanha,

    Itlia, Grcia e Portugal, sendo que no nosso pas, esto localizados essencialmente na

    Madeira e Algarve, onde as condies edafo-climatricas so favorveis (Lea, 2009).

    2.1.2. O abacate em Portugal

    Como j referido, os principais pomares abacateiros em Portugal localizam-se no

    Algarve e no arquiplago da Madeira, j que o clima, mais quente e hmido, assim o

    permite. Como referiu o Engenheiro Agrnomo Leandro Aguiar Cmara no seu

    relatrio de final de curso, Fruticultura Subtropical da Ilha da Madeira, 1955, citando

    o Tenente Alberto Sarmento, notvel investigador madeirense, a introduo doabacateiro na Madeira deu-se nos meados do sculo XIX, a partir de um morgado

    regressado do Brasil que trouxe uma semente da espcie. Nesta altura, a rvore era

    conhecida pela sombra que proporcionava, em detrimento da sua produo de frutos.

    Atualmente, os concelhos da ilha que detm a maior produo de abacate so: Santana,

    Funchal e Calheta (Lea, 2009). Em relao s cultivares mais produzidas a nvel

    mundial, incluindo Portugal, a Hass e a Fuerte dominam o mercado internacional

    (Rodrguez-Carpena et al., 2011).

    Dado ao hbito no enraizado do consumo do fruto na dieta mediterrnica, mais

    especificamente, na dieta Atlntica, a balana comercial deficitria, sendo que o

    escoamento do abacate feito com alguma dificuldade (Disponvel em

    http://www.observatorioagricola.pt/item.asp?id_item=123).

    A partir das Estatsticas da Organizao das Naes Unidas para Agricultura eAlimentao (FAO), recolheram-se os dados estatsticos referentes produo de

    abacate em Portugal (Figura 2). No incio da dcada de 90, a produo do fruto atinge o

    mximo de 21300 toneladas, observando-se uma quebra acentuada, com um mnimo de

    produo registado no ano de 1998 (9903 toneladas). Em 2006, a produo de abacate

    nacional, sobe at as 15000 toneladas, sendo que, em 2010 atinge as 18000 toneladas.

    Respetivamente cultura de abacateiros no Algarve, a produo do fruto tem vindo aaumentar, constituindo uma das principais alternativas do sector frutcola desta regio j

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    que, para alm de ter uma boa relao custo/benefcio, apresenta, agora, um escoamento

    fcil de produes e um mercado nacional e externo em crescimento (Vasconcelos, et

    al., 2010)

    Figura 2. Produo de abacate em Portugal (Segundo os dados recolhidos pela base de

    dados estatsticos da FAO, 2010).

    Em relao s cultivares de abacate produzidas em Portugal, a Pinkerton, Hass, Fuerte,

    Reed e Bacon, so as variedades que melhor se adaptam s condies de cultivo

    nacional. H ainda, uma grande diversidade de cultivares propagadas por semente nodecorrer do tempo, consoante o interesse produtivo e comercial. A poca de colheita

    oscila entre Outubro e Julho, de acordo com a cultivar, a altitude, localizao e

    condies climatricas do local de cultivo (Lea, 2009;Vasconcelos et al., 2010).

    2.2 RADICAIS LIVRES

    A respirao um fenmeno intimamente relacionado com a vida aerbia, no entanto,durante o seu processo ocorre a formao de espcies reativas de oxignio (EROs) e de

    radicais livres (Aiyegoro e Okoh, 2010). O termo radical livre frequentemente

    utilizado para designar qualquer tomo ou molcula com nmero mpar de eletres,

    altamente instveis, que tendem a reagir com uma molcula prxima de carga positiva,

    assumindo funes de agente oxidante ou redutor. Estas reaes ocorrem no citoplasma

    das mitocndrias e/ou membranas celulares promovendo danos irreversveis e que

    promovem o desenvolvimento de doenas no transmissveis. As mitocndriasconsomem mais do que 90% do oxignio disponvel no organismo, sendo o principal

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    local de formao de EROs e de radicais livres. Durante todo o processo metablico de

    produo de energia, a enzima citocromo oxidase promove a ligao de quatro eletres

    molcula de oxignio, reduzindo-o a gua, atravs de quatro reaes qumicas

    sequenciais, nas quais so libertadas sucessivas espcies reativas: anio superxido

    (O2-), perxido de hidrognio (H2O2) e radical hidroxilo (OH

    ) (Figura 3) (Valko et al.,

    2006).

    Figura 3. Formao de espcies reativas, por sequenciao qumica, catalisada pelaenzima citocromo oxidase.

    Uma outra fonte, do tipo endgeno, para a libertao de radicais livres a fagocitose

    que, durante o processo destrutivo de clulas infetadas por bactrias ou vrus,

    promovem a libertao de compostos oxidantes (Valko et al., 2006).

    O oxignio um componente essencial para os seres vivos. A gerao de EROs podem

    causar a oxidao de lpidos e de protenas, bem como a cadeia de DNA, na

    modificao nas bases e na modulao de expresso gentica (Lee et al., 2004).

    Nos ltimos anos, tm havido vrios estudos cientficos devidamente publicados e

    fundamentados sobre esta matria no mbito do reconhecimento e devida compreenso

    sobre o papel das EROs em inmeras doenas, entre as quais citam-se: arteriosclerose,

    cancro, asma, artrite, doenas cardiovasculares, hepatite, dermatites, entre outras.

    A condio de stress oxidativo pode ser definida como a acumulao intracelular de

    nveis txicos de espcies reativas de oxignio por meio de saturao do sistema de

    defesa antioxidante. Os mecanismos de defesa antioxidante do organismo humano,

    como as enzimas antioxidantes e os compostos antioxidantes presentes nos frutos esto

    ligados entre si e causam um equilbrio nas EROs (Lee et al., 2004).

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    So muitas as causas exgenas que originam a formao de radicais livres. Nos pases

    designados por industrializados, destacam-se as radiaes, os agentes poluentes,

    pesticidas, fumo. Na verdade, os xidos de nitrognio produzidos durante a combusto

    do cigarro, oxidam as macromolculas biolgicas e diminuem o nvel de antioxidantes

    no organismo o que origina, a longo prazo, o desenvolvimento de certas patologias do

    foro cardiovascular e cancros (Elsayed, 2001).

    Segundo Ortiz et al. (2003), a preveno da oxidao das biomolculas pela ao dos

    radicais livres derivados do oxignio diminui o desenvolvimento de processos

    degenerativos, tais como o envelhecimento, as doenas cardiovasculares e o cancro. A

    relao inversa entre a ingesto de micronutrientes e a incidncia de doenas

    cardiovasculares deve-se ao efeito inibitrio da oxidao dos cidos gordos das

    lipoprotenas de baixa densidade (LDLs).

    Tambm segundo vrios autores, o dano oxidativo nos lpidos existentes nos vasos

    sanguneos contribui, significativamente, para o desenvolvimento da aterosclerose; o

    dano no DNA contribui para o desenvolvimento de cancros e o dano em protenas est

    associado a doenas como a artrite reumatoide, formao de cataratas nos olhos e

    doena de Parkinson, entre outras (Kim et al., 2008).

    2.2.1 Compostos bioativos com propriedades antioxidantes

    O contedo dos compostos bioativos presentes nos frutos pode ser afetado pela

    variedade, pelas condies edafo-climatricas (temperatura, luminosidade, irrigao e

    nutrientes do solo), estado de maturao, colheita e ps-colheita, processamento earmazenamento (Vinha et al., 2012; Cardoso et al., 2009).

    Existem evidncias de que os frutos conferem proteo ao organismo humano contra

    doenas crnicas, oculares, neurolgicas e certos tipos de cancros, propriedades

    atribudas aos seus constituintes antioxidantes. (Dalle-Donne et al., 2006)

    Desta forma, os compostos bioativos, de natureza antioxidante, naturalmente presentesnos frutos, tm despertado interesse por parte da comunidade investigadora, devido aos

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    efeitos positivos sobre a preveno de doenas e propriedades biolgicas importantes

    sade pblica.

    Segundo Yasir et al. (2010) tanto o fruto como todo o conjunto da famliaP. americana,incluindo folhas e outros materiais vegetais da planta, possuem atividades

    farmacolgicas reconhecidas, tais como atividade vaso-relaxante, anti-inflamatria e

    analgsica, hipotensiva, anti convulsivante, antiviral, anti ulcerosa, anti hepatotxica,

    antioxidante, hipoglicmica, redutora de peso, entre outras.

    Na composio do abacate esto descritos variados grupos de compostos bioativos com

    propriedades antioxidantes e benficas ao metabolismo, para alm de acrescentaremvalor nutricional ao fruto, tais como, constituintes minerais (fsforo, magnsio e

    potssio), vitaminas hidro e lipossolveis (vitamina E, B, C e -caroteno ou pr-

    vitamina A), compostos fenlicos e flavonides (USDA, 2011; Honarbakhsh e

    Schachter, 2009; Knight, 2002).

    Os metabolitos secundrios esto dispersos por todo o fruto, ou seja, no se concentram

    apenas na polpa como tambm j foram quantificados na pele e na semente do fruto(Imafidon e Okunrobo, 2009).

    2.3. BENFICIOS NA SADE

    Ao longo do tempo aumentaram as evidncias das vantagens deste fruto na sade e, por

    isso mesmo, aumentou tambm o seu consumo, estimulando, igualmente, a investigao

    do seu potencial (Lu et al., 2009). Deste modo, em alguns pases, tem-se dado destaquea informaes sobre o abacate e sua importncia para a sade. Uma organizao

    independente australiana, The Heart Foundation, certificou o fruto como alimento

    saudvel para o corao, de maneira que esta certificao, com o seu apropriado

    logotipo, j usada em publicidade. Tambm a Comisso do Abacate Californiano, tem

    impulsionado esforos para promover o fruto na rea da sade, incluindo publicaes na

    Associao Diettica Americana, Associao do Corao Americana e, mais

    recentemente, alguns comunicados de imprensa (Knight, 2002).

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    2.3.1 Carcinognese

    Acredita-se que as EROs esto relacionadas com a gnese de tumores em diferentes

    nveis, podendo promover o desenvolvimento de cancro atravs de diferentesmecanismos: alterao na proliferao celular; diminuio da afinidade da enzima

    polimerase; inativao de enzimas responsveis pela degradao de carcinogneos;

    unio de produtos finais da peroxidao lipdica molcula de DNA, criando leses

    mutagnicas; ataque direto ao DNA (Min e Eleber, 2008). Tm sido encontradas bases

    de DNA modificadas (p.ex. hidroxitimidina e hidroxiguanina) depois da exposio de

    clulas a situaes de stress oxidativo. A modificao nas bases do DNA pode ter como

    resultado final, mutaes, delees ou amplificaes do material gentico como

    primeiros passos para a carcinognese (Kim et al., 2008; Min e Eleber, 2008). Os

    antioxidantes ingeridos na dieta (como as vitaminas C e E, os carotenoides e os

    compostos fenlicos) podem impedir a carcinognese pela sua atividade sequestrante de

    radicais livres ou pela sua interferncia nos locais de unio dos carcinogneos ao DNA.

    Vrios estudos epidemiolgicos e clnicos descrevem o efeito benfico do consumo de

    frutas ricas em compostos fenlicos na reduo do risco de vrios tipos de cancro

    (Tiwari, 2004; Park et al., 2003). Estudos realizados, in vitro e in vivo, indicam que o

    abacate deve ser includo na dieta alimentar pelos seus benefcios preventivos de

    cancro. Este fruto contm um elevado nmero de compostos fitoqumicos, entre os

    quais, carotenoides, terpenides, D-manoheptulose, fenis e glutationa, descritos como

    compostos com propriedades anticancergenas (Ding et al., 2009). Os carotenoides

    primrios do abacate, as xantofilas, e outros antioxidantes lipossolveis do abacate,

    reduzem a oxidao do LDL-colesterol que, quando oxidado, contribui para a iniciao

    e progresso de danos vasculares (Howaza et al., 2007). Outro estudo mais prospetivo,

    sugere que um nvel elevado de fitoqumicos, est inversamente relacionado com o

    aumento da espessura da camada-mdia da cartida, o que pode proteger contra o

    aparecimento de aterosclerose (Dwyer et al., 2001).

    Certos tipos de cancro, tais como, da laringe, faringe e cavidade oral foram os primeiros

    a ser investigados. Os nveis de glutationa, potente tripeptideo antioxidante, presentes

    no abacate encontram-se em maiores concentraes, quando comparados com as

    matrizes de outros frutos (Flagg et al., 1994). Estudos cientficos j provaram que um

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    aumento do consumo de glutationa promove a diminuio do risco de desenvolvimento

    destes tipos de cancros (Castillo-Juarez et al., 2009). Por outro lado, sabe-se que a

    lutena plasmtica e o total de xantofilas permitem reduzir os nveis de biomarcadores

    de stress oxidativo em pacientes numa fase inicial deste cancro, aumentando, assim, o

    potencial da P. americana nas mesmas patologias (Hughes et al., 2009). Outras

    atividades anticancergenas j foram identificadas, como por exemplo, a atividade

    antibacteriana (Helicobater pylori), com um potencial efeito sobre lceras gstricas,

    associadas ao risco de cancro gstrico (Castillo-Juanez et al., 2009). O potencial

    anticancergeno tambm foi descrito pela presena de flavonoides presentes no

    abacateiro, nomeadamente nas folhas e na semente, onde as flavonas esto em maior

    concentrao. Alguns destes compostos bioativos, como a quercetina, mostrou exercer

    efeitos viroestticos pela capacidade inibitria da formao de sinccios por parte do

    HIV e do antignio viral p24 (Ding et al., 2007).

    2.3.2 Doenas cardiovasculares

    cada vez mais evidente que um dos mecanismos essenciais para o desenvolvimento da

    aterosclerose a oxidao das lipoprotenas do plasma, ricas em colesterol. A oxidao

    dos lpidos aumenta a sua aterogenicidade, facilitando a sua penetrao na parede

    arterial. A oxidao das lipoprotenas deve-se, principalmente, reao de peroxidao

    lipdica iniciada pelos radicais livres (Tiwari, 2004).

    Os principais riscos para o aparecimento da aterosclerose so: elevados nveis de

    colesterol total e de colesterol de baixa densidade, de triglicridos e de apoliprotenas B

    e C-III, alm de nveis baixos de colesterol de alta densidade e de apoliprotenas A-I. H

    muito que se sabe que as lipoprotenas de baixa densidade (LDL) intervm

    primordialmente nesse fenmeno. Recentemente, tambm tem-se verificado que a

    oxidao das lipoprotenas de alta densidade (HDL), as lipoprotenas de muito baixa

    densidade (VLDL) e os quilomicrons influenciam o desenvolvimento da doena

    (Tiwari, 2004). Segundo um estudo feito por Mendez e Hernandez (2007) uma dieta

    rica em abacate, aps 4 semanas, resultou numa reduo significativa dos triglicerdeos,

    mantendo nveis baixos de lpidos no sangue e controlo do ndice glicmico.

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    Dado que o abacate caracterizado pelo seu elevado teor em cidos gordos insaturados,

    a ingesto deste fruto traz benefcios na manuteno da sade do corao e do sistema

    circulatrio, uma vez que a substituio de gorduras saturadas por insaturadas, promove

    a reduo dos nveis de triglicerdeos, colesterol total e LDL-colesterol e podem,

    inclusive, aumentar a frao do HDL-colesterol. , pois, recomendvel a introduo do

    fruto na dieta de pessoas com alteraes cardiovasculares ou diabetes (Tango et al.,

    2004). Foi tambm referido que a presena do D-manoeptulose permite controlar os

    nveis sricos da glicose, bem como o controlo de peso (Roth et al., 2009). Como j foi

    referido antes, o abacate sendo um dos frutos comestveis com maior nvel de xantofilas

    (Lu et al., 2005), torna-se importante encorajar mais estudos para perceber estes efeitos

    dos carotenoides do abacate no sistema cardiovascular.

    2.3.3. Osteoartrite

    A osteoartrite uma doena caracterizada por uma deteriorao progressiva da

    cartilagem e funo das articulaes, associada ao envelhecimento precoce

    principalmente em pessoas com excesso de peso ou obesas (IMC 30). Esta

    deteriorao pode ser desencadeada por um stress oxidativo e inflamatrio que, por suavez, pode provocar um desequilbrio entre a biossntese e degradao da matriz

    extracelular das articulaes, conduzindo perda da funo (Dinubile, 2010).

    Um estudo reportou que os frutos ricos em lutena e zeaxantina esto associados

    diminuio do risco de defeitos a nvel da cartilagem (Wang et al., 2007).Tambm a

    presena de compostos insaponificveis, no abacate e na soja, exercem efeitos

    sinrgicos, promovendo o potencial antioxidante contra processos inflamatrios

    (Dinubile, 2010).

    2.4. ANTIOXIDANTES NATURAIS

    Os compostos antioxidantes podem ser definidos como substncias que, quando

    presentes em pequenas concentraes em relao ao substrato oxidvel, so capazes de

    retardar ou mesmo inibir substancialmente a oxidao do substrato. Os antioxidantesno so radicais livres pois doam eletres o que permite dizer que se encontram estveis

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    em ambas as formas. Existem duas categorias de antioxidantes, nomeadamente os de

    origem natural e os designados sintticos. Alm dos benefcios conhecidos, a vida em

    condies aerbias criou alguns problemas devido alta reatividade do oxignio e seus

    derivados face a vrias molculas orgnicas. De modo a ultrapassar esta situao, existe,

    nas clulas, um eficiente sistema de defesa antioxidante (Cardoso et al., 2009). Vo ser

    abordados alguns grupos de compostos antioxidantes com maior representao no fruto

    do abacateiro.

    2.4.1. Compostos Insaponificveis

    O leo do abacate apresenta um teor elevado de insaponificveis (1 a 4%), quandocomparado com outros leos vegetais. Os compostos insaponificveis podem ser

    definidos como substncias presentes nos leos, vegetais ou animais, insolveis em

    gua e no suscetveis para modificaes quando sujeitos a reaes de saponificao. O

    valor comercial do teor insaponificvel do leo de abacate muito elevado, devido

    suas propriedades farmacolgicas e cosmticas (Feitosa et al., 2007).

    Entre os principais compostos presentes na frao insaponificvel dos leos e gordurasvegetais encontram-se os esteris, lcoois alifticos e terpenos, hidrocarbonetos

    terpnicos, tocoferis, carotenos entre outros minoritrios (Tango e Turatti, 1992). O

    componente maioritrio presente no abacate o -sitosterol, com 80%. Outros esteris

    presentes citam-se o campesterol, stigmasterol e colesterol (Rocha, 2008).

    2.4.1.1. Esteris vegetais

    Os fitoesteris, tambm conhecidos como esteris vegetais, so substncias presentes

    em todo o reino vegetal, encontrando-se em maiores concentraes nos alimentos ricos

    em gordura. A maioria dos fitoesteris apresenta na sua estrutura qumica 28 ou 29

    carbonos, com uma ou duas ligaes duplas tpicas do ncleo esterol. Os fitostanis

    (estanis vegetais), subgrupo saturado dos fitoesteris, diferenciam-se pelo seu elevado

    grau de saturao. Estudos recentes indicam que a presena de fitoesteris e de estanis

    potenciam a diminuio do colesterol sanguneo (Moreau et al., 2002).

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    Os fitosteris so componentes chave das membranas celulares vegetais. Esto descritos

    mais de 40 tipos de fitosteris, mas poucos so encontrados em frutos. Os mais

    abundantes so o -sitosterol, o campesterol e o estigmasterol, que apresentam uma

    estrutura qumica semelhante molcula de colesterol, diferindo apenas nas cadeiaslaterais (Moreau et al., 2002). Esta similaridade na estrutura explica a capacidade que os

    fitosteris apresentam em baixar os nveis sricos do colesterol (Figura 4).

    Estes componentes triterpnicos podem ser classificados em trs classes: 4-

    desmetilesteris, 4-metilesteris e 4,4-dimetilesteris (lcoois triterpnicos). Muitos

    estudos demonstram que o primeiro grupo referido, ao qual pertencem os fitoesteris

    predominantes do abacate, tem benefcios protetores para a sade, entre os quais, baixaro LDL-colesterol ou apresentarem propriedades anticancergenas, antioxidantes, hpato-

    protetores, entre outras (Berasategi et al., 2011).

    Figura 4. Estrutura qumica dos fitosteris predominantes em frutos

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    2.4.1.2. Carotenides

    Os carotenides so um dos mais importantes grupos de pigmentos naturais, devido

    sua vasta distribuio, diversidade estrutural e numerosas funcionalidades. Apesar dasplantas serem a sua principal fonte, tambm so encontrados em animais e

    microrganismos. Os carotenoides so responsveis pela colorao vermelha, laranja e

    amarelo das folhas, frutos e flores, assim como das cores de alguns pssaros, insetos,

    peixes e crustceos. Estruturalmente, os carotenoides so compostos poliisoprenides

    que so sintetizados pela vinculao de duas molculas de cadeia C20 (Figura 5). Todos

    os carotenoides so sintetizados atravs de uma variao na estrutura C40. (Tabart et al.,

    2009).

    Figura 5. Estruturas qumicas dos carotenoides, nas suas formas qumicas trans.

    Nos ltimos anos, tem sido dada especial nfase obteno de dados mais precisos

    sobre os tipos e as concentraes de carotenoides em alimentos para diversas atividades

    de nutrio e de sade. A anlise de carotenoides complexa, devido sua diversidade

    e presena de formas isomricas cis-trans deste grupo de compostos. Alm disso, uma

    grande variedade de alimentos de origem vegetal e animal contm carotenides. O

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    sistema conjugado de dupla ligao nos carotenides produz particular instabilidade,

    especialmente em condies de luminosidade, calor, oxignio e cidos, constituindo os

    principais problemas na manipulao de carotenides (Tabart et al., 2009). Os

    carotenides so transformados em vitamina A depois de absorvidos pelo organismo. A

    vitamina A um componente dos pigmentos visuais responsveis pela receo de luz na

    retina dos olhos. importante para uma pele saudvel, no crescimento,

    desenvolvimento sseo e para a reproduo. Atualmente, o grande interesse pelos

    carotenides de origem vegetal no s se prende com a sua atividade na pro-vitamina A,

    como tambm devido sua ao antioxidante sobre os radicais de oxignio e reduo

    do stress oxidativo no organismo (Lam et al., 2007).

    H j muitos estudos que mostram uma forte correlao entre a ingesto de carotenides

    e uma diminuio dos riscos de algumas doenas, como cancro, aterognese,

    calcificao ssea, degenerao ocular e danos neuronais (Lam et al., 2007). Por

    exemplo, o -caroteno, conhecido precursor da vitamina A, bem conhecido por ter

    capacidade de evitar graves doenas oftalmolgicas, tais como a cegueira noturna

    (Ashton et al., 2006). O licopeno um precursor do -caroteno e um forte antioxidante

    eficaz para pele, fgado, e outros tipos de cancros. A lutena descrita como sendo um

    agente preventivo de diversas doenas oftlmicas (Tabar et al., 2009; Lam et al.,2007).

    Os nveis de carotenides naP.americana aumentam significativamente medida que a

    poca de colheita avana desde Janeiro a Setembro, atingindo nveis compreendidos

    entre 350-500g por 30g de polpa e 800-1100g na sua poca tima de colheita (Lu et

    al., 2009).

    2.4.1.3. Vitamina E

    A vitamina E (Figura 6) um composto lipossolvel e encontra-se presente na natureza

    como tocoferis e tocotrienis, em quatro formas diferentes (, , , ), sendo que o -

    tocoferol a forma antioxidante mais ativa e amplamente distribuda nos tecidos

    vegetais. A vitamina E pode exercer um elevado efeito antioxidante, agindo diretamente

    na neutralizao dos radicais livres ou participando indiretamente nos sistemas

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    enzimticos. De acordo com algumas publicaes, a vitamina E exerce ao modeladora

    na funo imunolgica e inflamatria(Nazrun et al., 2012).

    O fruto abacate caracterizado pelo seu elevado teor em vitamina E. O tocoferol podeatingir concentraes de 1,97 mg por 100g de fruto, agindo como composto

    antioxidante (Dreher e Davenport, 2012). No entanto, as suas concentraes mximas

    so encontradas na pele e na semente do fruto (Bertling et al, 2007).

    Figura 6. Estrutura qumica da vitamina E.

    2.4.2. Hidratos de carbono

    Os hidratos de carbono presentes no abacate so outro tipo de componentes que

    potenciam efeitos benficos. Cerca de 80% do total de acares presentes no abacate

    incluem fibras (70% insolvel) (Marlett e Cheung, 1997), contribuindo apenas em 101

    kcal de energia (Dreher e Davenport, 2012). Quando comparado com outros frutos, o

    abacate apresenta baixos nveis de hidratos de carbono (USDA, 2011). O acar

    primrio encontrado no abacate o D-manoeptulose, sendo que este, juntamente com a

    sua forma reduzida, o perseitol, so compostos fitoqumicos do abacate. (Meyer e Terry,

    2008). A importncia destes acares (C7) no abacate ainda est a ser estudada, uma

    vez que alguns estudos apontam para uma possvel relao entre o tecido mesocrpico

    da polpa do fruto como compostos antioxidantes, pois outros agentes fitoqumicos

    encontram-se em maior percentagem nos tecidos no edveis (Bertling et al., 2007). Liu

    et al. (2002) concluiu que estes hidratos de carbono podem desempenhar um papel

    importante como inibidores do amadurecimento precoce do fruto e Cowan (2004)

    sugeriu que os aucares C7 apresentam vrias funes importantes, entre as quais, a

    proteo de determinadas enzimas essenciais para crescimento e desenvolvimento dos

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    frutos, protegendo-os contra danos causados pelas espcies reativas de oxignio

    (EROs). Portanto, os acares C7 podem fazer parte de um conjunto de sistemas

    antioxidantes que no s protegem o fruto contra danos mas tambm pode levar a

    benefcios na sade para o consumidor do fruto e, portanto, podem-se tornar numa

    importante questo de marketing (Bertling et al., 2007).

    2.4.3. Compostos fenlicos

    A determinao dos nveis de compostos fenlicos totais em tecidos vegetais a etapa

    inicial de qualquer investigao de funcionalidade fisiolgica, para posterior estmulo

    ao consumo, visando a preveno de doenas crnico-degenerativas. Nos vegetais sonumerosas as substncias de carcter fenlico e, por razes de simplificao do seu

    estudo, so distribudas por diferentes classes, conforme o nmero de tomos de

    carbono e a sua estrutura. De acordo com Rebelo (2006), os compostos fenlicos esto

    divididos em dois grandes grupos: os cidos fenlicos (cido cinmico e derivados) e os

    flavonides e seus derivados.

    De entre os fenis, as lenhinas so, provavelmente, o grupo mais representativo mas,atendendo sua grande distribuio, no apresentam interesse taxonmico. Dada a sua

    natureza polimrica no so absorvidas a nvel intestinal e a sua importncia para a

    sade humana reside no facto de fazerem parte da fibra alimentar. Para alm das

    lenhinas, os fenis mais abundantes so os cidos fenlicos, os taninos e os flavonides,

    sendo as cumarinas, as proantocianidinas, as quinonas e as xantonas os grupos com

    menor representao (Rebelo, 2006).

    Na maior parte dos casos, os fenis esto presentes nas plantas na forma conjugada,

    principalmente com uma ou mais molculas de acar ligada(s) atravs de grupos

    fenlicos (O-hetersidos) ou, mais raramente, ao prprio esqueleto carbonado do fenol

    (C-hetersidos); os acares mais frequentemente envolvidos so a glucose, a galactose

    e a ramnose. As substncias fenlicas podem aparecer livres ou na forma de glicosdios.

    Poliglucosdios so muito solveis em gua e pouco solveis em solventes orgnicos

    apolares. A posio do acar na estrutura fenlica influi na solubilidade e em outras

    propriedades fsico-qumicas. As agliconas apresentam uma grande variedade de

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    solubilidade e estabilidade. Estas diferenas podem ser usadas para separ-los,

    quantific-los e desenvolver estudos acerca das suas atividades fisiolgicas (Vinha,

    2005).

    2.4.3.1 cidos fenlicos

    A denominao geral de cidos fenlicos engloba os cidos benzicos com sete tomos

    de carbono (C6C1) e os cidos cinmicos com nove tomos de carbono (C6C3).

    Estes compostos esto normalmente hidroxilados, da se designarem por cidos

    hidroxibenzicos (AHB) (Figura 7) e cidos hidroxicinmicos (AHC) (Figura 8), e

    podem ocorrer na forma livre ou combinada com outras molculas

    (Vinha, 2005).

    R = R = H; cidop-hidroxibenzico;R = OH, R = H; cido protocatquico;R = OCH3, R = H; cido vanlico;R = R = OH; cido glhico;R = R = OCH3; cido sirngico

    Figura 7. Estrutura dos cidos hidroxibenzicos.

    R = R = H; cidop-cumrico;R = OH, R = H; cido cafeico;R = OCH3 ,R = H; cido ferlico;R = R = OCH3; cido sinpico.

    Figura 8. Estrutura dos cidos hidroxicinmicos.

    Os frutos apresentam, habitualmente, baixos teores de AHB, exceto certos frutos da

    famlia Rosaceae. Fatores que podem induzir alteraes nos teores de AHB so o estado

    de maturao do fruto e o tipo de agricultura praticada (Vinha et al., 2012),

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    Estes compostos bioativos so os principais responsveis pelas caractersticas

    organolticas do fruto e pela sua estabilidade oxidativa, exercendo um papel

    fundamental na atividade antioxidante de proteo do fruto e so, tambm, componentes

    das essncias, pigmentos, sabores, entre outros. Os efeitos benficos dos fenis esto

    relacionados com a sua atividade antimicrobiana, proteo dos radicais livres de

    oxignio e outras espcies reativas (Hurtado-Fernndez et al., 2011).

    2.4.3.2. Flavonoides

    Os flavonoides constituem uma grande famlia de metabolitos secundrios que tm em

    comum possurem dois anis aromticos unidos por uma cadeia de 3 tomos decarbono, com a estrutura geral C6-C3-C6 que pode, ou no, ser ciclizado formando um

    terceiro anel (Vinha, 2005). Do ponto de vista biossinttico, os flavonoides so

    formados pela unio de duas subunidades, uma proveniente do cido xiqumico e outra

    da via do acetato (Figura 9).

    Figura 9. Estrutura geral dos flavonides.

    De acordo com o grau de oxidao do heterociclo oxigenado, os flavonoides so

    agrupados em classes distintas (Figura 10) (Vinha, 2005).

    Assim, relativamente aos flavonoides e, mais concretamente, s antocianinas,

    conjuntamente com outros compostos, como as clorofilas ou os carotenoides, compem

    os pigmentos do fruto (Ashton et al., 2006). Os flavonoides predominantes do abacate

    so as procianidinas, responsveis por maior parte da atividade antioxidante destes

    componentes (Rodrguez-Carpena et al., 2011). Para alm de suas propriedades

    biolgicas, os flavonides tambm so de grande interesse na alimentao, cosmticos,

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    e na indstria farmacutica, devido ao facto de poderem ser usados como substitutos de

    antioxidantes sintticos (Degspari e Waszczynskyj, 2004).

    Figura 10. Diferentes classes dos flavonides.

    2.5. O ABACATE NA FITOCOSMTICA E DERMOCOSMTICA

    A cosmetologia, rea da indstria farmacutica, tem como principais funes corrigir,

    conservar e decorar a pele (Kole et al., 2005). Segundo o Infarmed, Autoridade

    Nacional do Medicamento e Produtos de Sade, entende-se por produto cosmtico:

    Qualquer substncia ou mistura destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais docorpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lbios e rgos genitais

    Flavonas Flavonis Flavanis

    Flavanonas(Dihidroflavonas)

    Flavanonis(Dihidroflavonis)

    Auronas

    Chalconas Antocianinas

    O

    O

    OH

    1

    2

    3

    45

    6

    7

    8

    9

    10

    1'

    2' 3'

    4'

    5'6'

    O

    OH

    1

    2

    3

    45

    6

    7

    8

    9

    10

    1'

    2' 3'

    4'

    5'6'

    O

    O

    1

    2

    3

    45

    6

    7

    8

    9

    10

    1'

    2' 3'

    4'

    5'6'

    O

    O

    1

    2

    3

    45

    6

    7

    8

    9

    10

    1'

    2' 3'

    4'

    5'6'

    O

    O

    OH

    1

    2

    3

    45

    6

    7

    8

    9

    10

    1'

    2' 3'

    4'

    5'6'

    O

    CH

    O

    1

    2

    3

    4

    5

    67

    8

    9

    1'

    2' 3'

    4'

    5'6'

    O

    6'

    5'

    4'

    3'

    2'

    1'

    1

    3

    4

    56

    O+

    1

    2

    3

    45

    6

    7

    82 3

    4

    56

    1'

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    externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou principalmente, os

    limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores

    corporais.

    A cosmtica praticada desde os tempos mais primordiais e desde esses tempos que so

    usados extratos vegetais, sendo ou fazendo parte do produto cosmtico final. A pesquisa

    no mercado mostra uma tendncia ascendente para a utilizao destes extratos na

    indstria cosmtica, entre as vrias razes apontadas como fomento desde fenmeno,

    tem-se o declnio da credibilidade de produtos sintticos e a preferncia por produtos

    mais naturais, acreditando que estes so mais inertes (Kole et al., 2005). Portanto, a

    formulao para obteno de fitocosmticos significa dar preferncia aos derivados

    vegetais, evitando substncias sintticas. No entanto, nem sempre linear a crena o

    que natural melhor e, portanto, bastante importante fazer um balano lgico e

    acertado entre as matrias-primas de origem natural ou sintticas com o objetivo de

    otimizar a ao farmacolgica e, ao mesmo tempo, alcanar melhores efeitos e menos

    danos (Pietro et al., 2006).

    A diversidade e a complexidade dos extratos vegetais, o seu valor nutricional, que

    tambm oferece benefcios ao nvel do tecido epitelial, e a composio em agentes

    fitoqumicos com vrias atividades funcionais, nomeadamente, as capacidades

    antioxidante e antimicrobiana, so razes credveis para o crescimento do interesse na

    fitocosmtica (Carabela et al., 2010).

    Muitas vezes a dermatologia est associada cosmtica, uma vez que a utilizao de

    agentes bioativos na cosmtica frequente. So vrias as funes que estes podem

    assumir, entre elas, atividade anti-inflamatria, anti envelhecimento, cicatrizante, entreoutras. Recentemente, surgiu um novo termo, cosmeceutical, que identifica esta

    categoria hbrida de produtos no intervalo entre os medicamentos e os cosmticos. ,

    pois, utilizado quando um produto cosmtico tem um benefcio teraputico

    farmacolgico, mas no necessariamente um benefcio teraputico biolgico num

    tecido vivo. Entre as vrias categorias de cosmeceuticals encontram-se os compostos

    antioxidantes, fatores de crescimento, pptidos, anti-inflamatrios, polissacardeos,

    agentes despigmentantes, entre outros (Choi e Berson, 2006).

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    2.5.1. leo de abacate

    Os lpidos so amplamente utilizados na indstria dermocosmtica, assumindo

    diferentes papeis, nomeadamente, agentes bioativos, veculos para preparao de vriasformulaes, suplementos nutricionais e cosmticos, entre outras funes. Os leos

    vegetais do uma grande mais valia a esta indstria. Entre os mais usados, esto o oleo

    de amendoas doces, leo de ssamo, leo de soja, leo de jojoba, azeite, todos com as

    mais variadas funes e qualidades (Athar e Nasir, 2005).

    Figura 11. Riqueza do abacate em leo.

    Devido h riqueza de leo na matriz do abacate, o mesmo d-lhe grande aplicabilidade

    na indstria farmacutica, pelo seu poder emoliente e de fcil penetrao na pele, sendo

    mais rapidamente absorvido que outros leos como o de soja, milho ou amndoa (Athar

    e Nasir, 2005). Para alm disto, os cidos gordos aumentam a permeabilidade de

    substncias ativas na pele e induzem as propriedades de difuso de preparaes

    lipossolveis. Assim, o extrato lipoflico do fruto em questo pode ser um veculo de

    substncias ativas na formulao de cremes, pomadas e outros produtos para usodermatolgico, sendo muitas vezes recomendado como base para preparao de vrias

    formulaes que tratam distrbios e enfermidades da pele, como a dermatite ou psorase

    (Stcker et al., 2001). Outra propriedade realmente interessante a sua capacidade de

    absoro de perfumes, grande mais-valia para uso cosmtico. Portanto, todas estas

    propriedades fazem com que seja muito apreciado na cosmtica, sendo j utilizado na

    preparao de cremes hidratantes, batons, protetores solares, esfoliantes e, dado fcil

    formao de emulso, torna-o ideal para produo de sabes finos (Tango et al., 2004).

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    A sua obteno pode ser realizada por vrias tcnicas analticas. No entanto, a primeira

    etapa do processo separar a polpa e desidrat-la. De seguida, procede-se extrao do

    leo, recorrendo-se a diferentes tcnicas, tais como, extrao mecnica, por presso a

    frio ou por solvente: extrao Soxhlet (Lozano et al., 1993; Salgado et al, 2008;

    Berasategi et al., 2011). Por fim, a ltima etapa resume-se refinao do leo caso este

    seja para fins alimentcios (Tango et al., 2004).

    2.5.2. Relao entre os compostos bioativos e a dermocosmtica

    O abacate e os seus extratos tornam-se uma mais-valia devido a todas as propriedades

    supracitadas, mas tambm muito devido aos seus vrios componentes bioativos, entre osquais, os cidos gordos monoinsaturados, os insaponificveis que compreendem,

    fitoesteris, tocoferis, esqualeno e lpidos furanos; sendo que esto, ainda, presentes

    outros agentes bioativos, entre os quais as vitaminas A, C e E, os carotenoides e os

    agentes fenlicos. Assim, todo este conjunto potencia a utilizao deste fruto na

    dermocosmtica como cosmeticaceuticals (Nayak et al., 2008).

    O autor Goetz (2005) afirmou que o fruto abacate pode exercer uma atividade positivano combate ao envelhecimento precoce da pele. O autor supracitado, no seu relato sobre

    a fitoterapia e o envelhecimento cutneo, refere que os princpios de tratamento externo

    deste problema mdico e cosmtico, baseiam-se na reduo da desidratao, atravs de

    uma reidratao de forma a prevenir o desgaste no tecido conjuntivo. Admite-se,

    portanto, que o abacate pode ser benfico em duas vertentes dermocosmticas: o seu

    leo como hidratante e emoliente; e pela quantidade considervel de compostos

    insaponificveis, no combate aos agentes de senescncia, favorecendo a troficidade da

    pele.

    Os fitoesteris so agentes bioativos importantes para a dermocosmtica, por serem

    componentes concentrados e pelos seus benefcios a nvel cutneo. Tango et al. (2004)

    afirmou que os fitoesteris tm, por exemplo, propriedades regenerativas sobre a

    epiderme. Tambm juntamente com os lcoois gordos polihidroxilados, outros agentes

    fitoqumicos presentes na semente e polpa do fruto, tm propriedades foto-protetoras ao

    protegerem as clulas dos danos causados pela radiao ulta-violeta (UV),

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    nomeadamente, radiao UVB, j que inibem a resposta pro-inflamatria causada por

    esta (Joseph e Koukouras, 2002; Rosenblat et al., 2011).

    At data, j foram reconhecidos os efeitos adversos da radiao UV, incluindo oeritema, hiperplasias, imunossupresso, envelhecimento prematuro ou, em casos mais

    graves, cancro da pele. Como a radiao UVB por ser mais curta (290-320nm) a mais

    absorvida pela epiderme, esta torna-se bastante perigosa, sendo responsvel pelas

    queimaduras solares e pelo cancro da pele. A exposio prolongada mesma,

    desencadeia vrios fenmenos como o stress oxidativo ou as cascatas inflamatrias

    (Krutmann e Gilchrest, 2006). Vrios estudos provaram que os antioxidantes

    endgenos, representados na figura 12, esto em menores teores aquando a exposio

    solar (Guaratini et al., 2007) Assim, Gruel et al. (2002) conclui que a adio de

    antioxidantes, como o -caroteno, -tocoferol, o cido ascrbico e as procianidinas,

    inseridos na formulao qumica de protetores solares podem ajudar na diminuio do

    risco de queimaduras, eritema, leses cancergenas e fotoenvelhecimento.

    Figura 12. Estrutura qumica de alguns dos antioxidantes cutneos sintetizados

    in vivo (Retirado de Guaratini et al., 2007)

    Por outro lado, tem-se verificado que os protetores solares no conseguem por si s

    proteger a pele destes danos, portanto, seria uma mais valia usar determinados agentes

    bioativos que coadjuvassem neste combate contra os danos causados pela exposio

    solar (Rosenblat et al., 2011).

    Num estudo realizado a uma loo rica em fitoesteris de abacate, verificou-se umainibio na produo de algumas prostaglandinas e de interleucina-8 (IL-8), um potente

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    mediador qumico que ativa a migrao das clulas ao local da inflamao produzido

    por vrios tipos de clulas incluindo as clulas epiteliais evidenciando-se, uma vez

    mais, as vantagens do leo de abacate em determinadas condies dermatolgicas

    crnicas de origem inflamatria, como por exemplo, na dermatite atpica ou psorase

    (Joseph e Koukouras, 2002). Relativamente aos lcoois gordos poli-hidroxilados (PFA)

    presentes naP.americana, Rosenblat et al. (2011) investigou a sua ao em culturas de

    queratincitos e explantes celulares humanos. Esta investigao provou que os PFA

    tm, igualmente, propriedades de proteo contra a citotoxicidade da radiao UVB

    atravs de vrios fenmenos: aumentam viabilidade das clulas; diminuem o nmero De

    clulas queimadas pelo sol nos explantes; induzem a reparao de DNA; e diminuem a

    secreo de mediadores inflamatrios como o caso da interleucina-6 e da

    prostaglandina E2, o que, por sua vez, permite que estes agentes fitoqumicos atuem

    contra possveis reaes inflamatrias causadas por outros agentes inflamatrios

    (Rosenblat et al., 2011).

    Outra propriedade identificada no extrato de abacate a sua capacidade de cicatrizao

    (Dreher e Davenport, 2012). Segundo Nayak et al. (2008) os efeitos do extrato do fruto,

    quer por tratamento tpico ou oral, nesta atividade cicatrizante em ratos, mostraram que

    o extrato de abacate aumenta significativamente o ritmo de cicatrizao e epitelizao

    das feridas, pelas suas atividades antioxidantes, antimicrobianas. Do ponto de vista do

    autor, os agentes bioativos podem contribuir para esse efeito, sendo que os cidos

    gordos monoinsaturados presentes no extrato aumentam a absoro destes componentes

    na corrente sangunea. Por exemplo, os fosfolpidos so cofatores essenciais na cascata

    de coagulao e na ativao de plaquetas. Estes podem facilitar a fase inicial da

    reparao cutnea ao iniciar o processo de homeostasia e no desenvolvimento de uma

    matriz provisria para a migrao das clulas no local lesado. Tambm os lcoois

    gordos auxiliam neste processo, uma vez que estimulam a reparao e o crescimento de

    granulaes, um tipo de tecido das fases de cicatrizao. Os carotenides e os cidos

    gordos monoinsaturados so apontados como principais responsveis pelo aumento da

    velocidade de epitelizao no local da ferida.

    Os pptidos presentes no abacate tambm apresentam alguma importncia na rea da

    dermatologia ou dermocosmtica, patenteados pelas suas propriedades antipruriginosas.

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    O prurido conhecido como uma sensao desagradvel que provoca a vontade de

    coar. A origem deste fenmeno est nos mastcitos drmicos, sendo que mediadores

    destas clulas, como a histamina ou a triptase, estimulam os terminais dos neurnios C

    induzindo, assim, a sensao de prurido. Para alm disto, apesar desta associao ainda

    no estar completamente esclarecida, sabe-se que o prurido est relacionado com a pele

    seca. Assim, os pptidos do abacate so capazes de atenuarem essa sensao por vrios

    processos: devido sua capacidade de inibirem a libertao de histamina e triptase,

    pelos mastcitos, em cerca de 53% e 30% respetivamente; diminuem a expresso

    gentica a nvel da epiderme do recetor envolvido na libertao destes mediadores do

    prurido; afetam positivamente as ceramidas na epiderme e a sntese de cidos gordos,

    importantes para o equilbrio epidrmico; e, por fim, aumentam significativamente a

    produo de cido hialurnico e de glicosaminoglicanos pelos querancitos, essenciais

    para a formao das vrias camadas da pele e para formao do filme hidrolipdico

    (Bredif et al., 2010).

    Por fim, mas igualmente importante, salientam-se as propriedades indutoras das defesas

    cutneas dos aucares presentes no abacate. Os acares predominantes no fruto abacate

    so o D-mano-heptulose e o perseitol. Estes compostos influenciam diferentes funes

    protetoras da pele, incluindo a barreira antimicrobiana, a organizao estrutural da

    epiderme e a resposta inflamatria. Os efeitos dos acares C-7 permitem o aumento da

    proliferao e diferenciao dos queratincitos, induzem a produo de colagnio VII e

    desmoglenas (protenas responsveis pela adeso intercelular), diminuem alguns

    mediadores inflamatrios e permitem o aumento de protenas responsveis pela

    proteo antimicrobiana, como a -Defensina-2 (Bredif et al., 2007; Boto et al., 2010).

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    Captulo III. Objetivos

    O abacate constitui uma fonte natural rica em compostos bioativos com propriedades

    farmacolgicas. A presena elevada de compostos antioxidantes na sua matriz, refora oaumento das investigaes, proporcionando uma via alternativa para a sua aplicao,

    no s na indstria alimentar, mas na vertente das cincias farmacuticas. A insistente

    procura de antioxidantes naturais em detrimento dos vulgares antioxidantes sintticos

    assume, na atualidade, um papel fundamental para a promoo da sade pblica.

    3.1. OBJETIVO GERAL

    Deste modo, o principal objetivo do presente trabalho foi estudar uma cultivar de

    abacate Hass, produzida em Portugal, atravs da sua caracterizao fsico-qumica,

    quantificao dos compostos bioativos distribudos nos diferentes constituintes do fruto

    (polpa, pele e semente) e avaliao do seu potencial antioxidante.

    3.2. OBJETIVOS ESPECFICOS

    Caracterizar, nutricionalmente, o contedo de fitoqumicos do fruto abacate (Persea

    americana Mill.), no seu estado in natura, produzido sob as mesmas condies

    agrcolas e edafo-climatricas, adotadas por um produtor agrcola nacional.

    Avaliar e quantificar os teores dos compostos bioativos presentes na polpa, pele e

    semente do fruto e estudar a sua atividade antioxidante e seus possveis efeitos

    benficos para a incrementao do seu uso alimentar como numa vertente de

    reaproveitamento dos subprodutos do fruto na indstria farmacutica, concretamente, na

    rea da dermocosmtica.

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    3.2.1. Estudo e caracterizao do abacate, variedade Hass, in vitro

    Avaliao centesimal do fruto, pela determinao dos teores de humidade, slidos

    solveis totais, acidez titulvel, protena total, cinzas e gordura, nos diferentesconstituintes do fruto: polpa, pele e semente.

    Avaliao dos teores de fitoqumicos reconhecidos pelas suas propriedades bioativas,

    nomeadamente, fenlicos totais, carotenoides totais, flavonoides totais, compostos

    antocinicos, cido ascrbico e vitamina E.

    Avaliao da atividade antioxidante dos extratos aquosos da polpa, pele e semente doabacate, pelo mtodo analtico do radical livre DPPH.

    Comparao dos resultados experimentais obtidos com outros estudos previamente

    realizados, de forma, a avaliar a influncia das condies edafo-climatricas de Portugal

    continental, na composio dos agentes fitoqumicos da Persea americana Mill. e seu

    potencial contributo para a dermocosmtica.

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    Captulo IV. Materiais e mtodos

    4.1. MATERIAL

    Durante a seleo da amostra do fruto em estudo, teve-se o cuidado de manter

    controlados diversos fatores, tais como, cultivar em estudo, regio de produo, poca

    de plantio, e grau de maturao caracterstico da cultivar, exposio humidade, calor e

    luminosidade. Foram analisados frutos de abacate (Persea americana) cultivar Hass,

    colhidos antes do seu ndice de maturao mximo e produzidas por sistema agrcola

    convencional, destinados ao consumo de mesa, isto , in natura. Os frutos foram

    adquiridos numa grande superfcie, escolhidos aleatoriamente e provenientes de umagricultor do Algarve, cidade de Faro.

    As amostras foram preparadas vinte e quatro horas aps a sua aquisio, no laboratrio

    de Bromatologia. Todos os frutos foram lavados com gua corrente e gua destilada,

    posteriormente, secos com toalhas de papel. Em seguida, foram separados 3 lotes

    distintos de amostras: amostra 1- polpa de abacate; amostra 2pele do fruto e amostra

    3sementes (Figura 13).

    Figura 13. Imagem representativa do fruto abacate e das amostras separadas para

    anlise experimental. (1Polpa; 2Pele; 3Semente)

    1

    3

    2

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    4.2. ANLISES FISCO-QUMICAS

    Os parmetros de qualidade do abacate foram avaliados a partir das anlises fsico-

    qumicas realizadas experimentalmente.

    4.2.1. Humidade

    A determinao da humidade uma das determinaes mais importantes e utilizadas em

    alimentos, nomeadamente em frutos. A humidade de um alimento est diretamente

    relacionada com a sua estabilidade, qualidade e composio qumica, podendo interferir

    negativamente nas caractersticas do fruto.A determinao da humidade foi feita por gravimetria, atravs de secagem em estufa

    (WTC binder TUTTLINGEN, Germany) a 105C1C, at peso constante, para os trs

    tipos de amostra estudados, polpa, pele e semente. As determinaes foram realizadas

    em triplicado para cada constituinte do fruto abacate.

    4.2.2. Acidez titulvel

    A acidez titulvel foi obtida pelo mtodo de titulao direta com base titulante forte

    (NaOH = 0.1 M), conforme metodologia descrita pela Association of Official Analytical

    ChemistsAOAC (1998). Assim, 10g de cada amostra, trituradas e dissolvidas em 90

    mL de gua destilada, foram agitadas durante 30 minutos e tituladas com hidrxido de

    sdio (NaOH, 1 M) padronizado, at atingir uma colorao rosa, tendo como indicador

    a fenolftalena 1%. Os resultados foram expressos em gramas de cido mlico/100g de

    amostra.

    4.2.3. Slidos solveis totais

    Aps filtrar cada amostra com papel de filtro, o teor de slidos solveis foi obtido por

    leitura direta num refratmetro digital tipo ABBE com escala de variao compreendida

    entre 0 e 65 Brix, de acordo com metodologia descrita pela AOAC (1998). Foram

    registadas seis leituras e o resultado expresso em valor mdio em Brix.

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    4.2.4. Determinao do teor de cinzas

    Na determinao do teor de cinzas seguiu-se o mtodo oficial da AOAC (1998), de

    incinerao por via seca. Pesaram-se, de forma rigorosa, cerca de 5 g de amostra parauma cpsula previamente tarada. Colocou-se a cpsula numa mufla (Thermolyne, 48000

    Furnace) com aumento gradual da temperatura at os 550C. As cpsulas foram pesadas

    posteriormente. Todos os ensaios foram realizados em triplicado para cada amostra.

    4.2.5. Determinao do teor em protenas

    A determinao do teor em azoto proteico total foi efetuada segundo o mtodo oficial daAOAC 928.08 (1998), mtodo de Kjeldahl. Pesaram-se, rigorosamente, cerca de 1,5 g

    de amostra em papel vegetal (material isento de azoto). A amostra, embrulhada no papel

    vegetal, foi introduzida num tubo de Kjeldahl, procedendo-se digesto por hidrlise da

    mesma com 20 mL de cido sulfrico concentrado (96%), com 2 pastilhas de

    catalisador (Kjeldahl tablets: Na2S2O8/CuSO4) e por aquecimento numa manta

    eltrica prpria, convertendo-se, deste modo, o azoto orgnico em sulfato de amnio. J

    com o tubo de Kjeldahl colocado num destilador automtico procedeu-se alcalinizaodo meio por adio de hidrxido de sdio a 32% (100mL), ocorrendo assim a libertao

    de amonaco. De seguida, iniciou-se a destilao e recolheu-se o destilado num matraz

    com cido sulfrico (0,2N) e indicador (vermelho de metilo). Por ltimo, titulou-se a

    soluo contendo o destilado com hidrxido de sdio (0,2N), sendo o valor do volume

    gasto usado para o clculo da massa de azoto proteico total na amostra. de referir que

    para os clculos efetuados foi utilizado o fator 6,25 para converso do azoto total em

    azoto proteico.

    4.2.6. Determinao do teor em gordura total

    A determinao do teor em gordura total foi efetuada num aparelho de Soxhlet, mais

    uma vez, segundo o mtodo oficial da AOAC (1998). Pesaram-se, rigorosamente, cerca

    de 5 g de amostra, adicionou-se sulfato de sdio anidro, misturando-se at a amostra

    ficar com um aspeto seco. De seguida, transferiu-se a amostra para um cartucho eprocedeu-se sua extrao em Soxhlet com ter de petrleo durante cerca de 12h, para

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    um balo previamente pesado. Finalizada a extrao, eliminou-se, por destilao, o

    solvente contido no balo onde foi recolhida a gordura extrada. Por fim, procedeu-se

    secagem em estufa a 100C, evaporando-se os vestgios de solvente que ainda

    existissem, at peso constante.

    4.3. ANLISE DOS COMPOSTOS ANTIOXIDANTES

    4.3.1. cido ascrbico

    Foram diludos 5g de amostra, triturada e homogeneizada, em 90 mL de cido oxlico

    (0,4%). Aps homogeneizao, tomou-se uma alquota de 2 mL, qual se adicionou 50mL de gua destilada que na sequncia foi titulada com reagente de Tillmans (AOAC,

    1998). O mtodo baseia-se na reduo do 2,6-diclorofenol (DIP) pelo cido ascrbico,

    expresso em mg cido ascrbico/100g amostra. A quantidade de cido ascrbico nas

    amostras foi obtida com base na curva padro do cido ascrbico (y=1.121x2.652x10-

    2, r2=0.99385).

    4.3.2. Vitamina E

    A determinao do teor de vitamina E, nos diferentes constituintes do fruto abacate,

    seguiu o procedimento descrito por Amin (2001) atravs de uma determinao

    colorimtrica de acetato de tocoferila. O mtodo baseado na reduo de azul de

    tetrazlio em meio alcalino, aps extrao com ter de petrleo a partir de EDTA

    aquoso e transesterificao. A reao de oxidao-reduo ocorre aps 10 minutos em

    banho a 90 2C formando-se o derivado do formazan. As medidas de absorbnciaforam realizadas a 526nm em triplicado.

    4.3.3.Carotenides totais

    Foram pesadas 5g de amostra, adicionando-se 40mL de acetona pura. Aps agitao

    constante durante 15 minutos ao abrigo da luz, filtrou-se sob vcuo, adicionando-se,

    posteriormente ao resduo, 30mL de ter de petrleo, homogeneizando-se por trs vezes.

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    Os pigmentos foram transferidos para uma ampola de decantao, realizando-se uma

    lavagem exaustiva com gua destilada. A quantificao dos carotenides, previamente

    separada e medida volumetricamente, foi realizada por espectrofotometria UV/Vis, a

    um comprimento de onda de 450nm, usando o ter de petrleo como branco, de acordo

    com a frmula abaixo representada, onde o coeficiente de extino para a quantificao

    dos carotenides de 2,592 (Almeida e Penteado, 1988).

    g de carotenides/g amostra =Abs x Volume x 106

    100 x E1%1 cm x Peso da amostra

    4.3.4. Fenlicos totais

    A extrao dos compostos fenlicos seguiu o procedimento descrito por Genovese et

    al., (2003) para a determinao do contedo fenlico total nos frutos, usando o reagente

    Folin-Ciocalteau. Cada amostra (5g) foi homogeneizada com 100mL de metanol/gua

    (80/20), por 1 hora. O sobrenadante obtido foi filtrado, em sistema de vcuo e o volume

    final corrigido para 100mL com metanol. A determinao dos fenis totais foi realizada

    de acordo com Zieliski e Kozowska (2000) com algumas alteraes. Do filtrado final de

    cada amostra, tomaram-se 0,5mL, adicionaram-se 8mL de gua destilada e 0,5mL de

    reagente Folin-Ciocalteau. A soluo foi homogeneizada e, aps 3 minutos,

    acrescentou-se 1 mL de soluo saturada de NaCO3. As solues ficaram em repouso

    durante 1 hora, ao abrigo da luz, para o desenvolvimento da cor, atravs da reduo dos

    cidos fosfomolbdico e