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Sociologias, Porto Alegre, ano 16, no 35, jan/abr 2014, p. 274-305
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ARTIGO
Das identidades aos processos identitrios: repensando conexes entre cultura e poder
Marcelo alario ennes*Frank Marcon**
* Universidade Federal de Sergipe, Itabaiana, Sergipe, Brasil. ** Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, Sergipe, Brasil.
Resumo
Neste artigo, sugerimos uma reflexo crtica sobre os usos superficiais da noo de identidade nas Cincias Sociais e propomos trat-la como um fenmeno social dinmico e em processo, implicado fundamentalmente por relaes de poder. Re-alizamos uma contextualizao do tema nas ltimas dcadas e apontamos para um conjunto de ideias de autores clssicos dos quais nos aproximamos para pensar o tema. Tambm apontamos para o que entendemos ser um dos caminhos possveis para a pesquisa sobre os processos identitrios. A partir da, destacamos e definimos quatro elementos, os atores, as disputas, as normas e os contextos, que consideramos constituintes deste fenmeno social, sugerindo como proceder com sua anlise.
Palavras-chave: Processos Identitrios. Poder. Cultura. Identidade. Cincias Sociais.
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O
Identities and identity processes: rethinking connections between culture and power
Abstract
In this article, we suggest to reflect critically on the trivial usage of the con-cept of identity in the social sciences. We propose to take it as an ongoing social phenomenon primarily affected by power relations. The article presents a contex-tualization of the theme in recent decades and draws on ideas of classic authors. It also points out to one of the possible paths for research on identity processes. Then, four elements are emphasized: the actors, the disputes, the standards and the contexts which we believe are the constituents of this social phenomenon, suggesting how to proceed with their analysis.
Keywords: Identity Processes. Power. Culture. Identity. Social Sciences.
1 Introduo
objetivo deste artigo consiste na reflexo sobre os pro-
cessos identitrios como fenmeno social e suas possi-
bilidades analticas. Parte da constatao de que se por
um lado o debate sobre identidades apresenta sinais de
esgotamento, por outro, muitas das questes suscitadas
esto longe de serem resolvidas. O esgotamento se explica, ao menos em
parte, pelo seu carter escorregadio e de difcil definio e, tambm, pela
inflao de significados e usos atribudos ao termo. Porm, se estas difi-
culdades so correntes e j foram intensamente trabalhadas, no justifica
abandonarmos o conjunto de inquietaes tericas e polticas que consti-
tuem este debate, por sua atualidade, pela dinmica, pela universalidade
e pela ampla presena social e acadmica do fenmeno.
Este artigo materializa o esforo no de construirmos um conceito
ou uma teoria sobre identidades, mas de apontar caminhos para avan-
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armos em uma anlise sempre reflexiva sobre os processos identitrios,
como implicados por relaes de poder. Representa uma tentativa de
superar um debate no qual tal dimenso nem sempre foi ou conside-
rada de forma adequada, mesmo quando d visibilidade s culturas no
dominantes em seus embates com as polticas oficiais e com a indstria
cultural. Desse modo, frequente observamos abordagens sobre a iden-
tidade que, ao invs de ressaltarem a anlise sobre sua dimenso poltica,
aquela que possibilita a sua evidncia como fenmeno social e que est
na prpria origem do debate sobre cultura, acabam por naturaliz-la.
Nossa proposta de crtica aos usos essencializadores e naturaliza-
dores do termo identidade e estabelecimento de parmetros analticos
para compreendermos o que passamos a denominar neste texto de di-
nmicas de hierarquizao e transgresso social. Dinmicas, estas, muitas
vezes ofuscadas pelos usos do termo identidade associado s ideias de
diversidade e pluralidade cultural, principalmente em seus sentidos es-
tticos. Da a importncia da presente reflexo encontrar subsdios que
contribuam para abordar as novas expresses das relaes de dominao
e de poder que caracterizam a sociedade contempornea. Algumas ve-
zes, tais expresses esto ocultas sob as ideias enfticas e aparentes de
respeito s diferenas e, de tal modo, no capturam as dinmicas e as
implicaes do pertencimento e alteridade como processos relacionais.
De certo modo, temos a pretenso de retomar um ponto de bifurcao
deste debate e seguir um caminho diferente do trilhado por abordagens
que tem resultado, querendo ou no, na re-essencializao, naturalizao
e despolitizao das noes de diferena e de identidade.
Por seu carter interdisciplinar, o itinerrio sinuoso, passando por
vrias correntes tericas na rea das Cincias Sociais, com incurses por
outras reas das humanidades. Aqui, entendemos este aspecto como evi-
dncia de um fenmeno de ampla abrangncia e consideramos as dife-
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rentes vertentes, principalmente naqueles contextos em que se rompe-
ram as barreiras exploratrias entre as disciplinas, no que diz respeito
anlise social. Interessam-nos os enfoques que contriburam com posi-
cionamentos crticos e que assumem que os fenmenos relacionados s
identidades implicam na reflexo sobre o seu carter processual e dinmi-
co, enquanto universal e particular, evidenciando suas dinmicas prprias
e suas caractersticas mais gerais.
No decorrer do artigo, chegamos definio de quatro parmetros
a partir dos quais entendemos que os processos identitrios podem ser
pensados e analisados. Eles envolvem a) os atores sociais de algum modo
articulados a grupos, b) os motivos de disputas de pertencimento ou no
a tais grupos, c) os elementos morais e normativos que regulam o meio
pelos quais estes atores entram em interao pelo que disputam e d) os
contextos histricos e sociais nos quais so produzidos e, ao mesmo, con-
tribuem para sua produo.
Desse modo, acreditamos que nossa proposta de reflexo sobre os
processos identitrios esteja implicada pela abordagem, descrio e com-
preenso das relaes de poder que envolvam marcadores sociais tornados
relevantes como caracterizadores de distino. Procuramos assim, 1) evitar
a re-essencializao das identidades e compreend-las fundamentalmente
como relacionais; 2) analisar as ambiguidades e ambivalncias dos proces-
sos sociais que criam e recriam formas de subordinao e hierarquizao,
ao mesmo tempo em que expressam formas de contestao e transgresso
social; 3) compreender os processos de emergncia e (re)insero social de
atores em contextos sociais, polticos e culturais que so caracterizados pelo
descentramento, pela fragmentao e pela efemeridade.
Para tanto, dividimos o artigo em trs partes. Na primeira, Inven-
es, usos e crises das identidades, procuramos repensar a trajetria do
debate a partir dos Estudos Culturais, mais especificamente a partir dos
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dilemas entre Edward Thompson e Louis Althusser a respeito do lugar e
importncia do sujeito na histria. Isto porque vemos a discusso sobre
identidades como um dos desdobramentos do debate mais amplo sobre
a noo de sujeito. Ainda nesta parte, procuramos evidenciar a bifurca-
o ocorrida nos estudos sobre identidades, no sentido do descolamen-
to entre as dimenses culturais e polticas, de modo que as importantes
contribuies dadas, por exemplo, por Edward P. Thompson, Raymond
Williams e Stuart Hall acabaram se perdendo em abordagens culturalistas
que tm despolitizado, naturalizado e ornamentalizado as diferenas.
Na segunda parte, Das identidades aos processos identitrios, procu-
ramos evidenciar como autores de diferentes linhas tericas e metodol-
gicas contribuem com abordagens que consideramos apropriadas para a
anlise das dimenses polticas das identidades. Nesta parte, retomamos
o debate sobre as identidades, procurando indicar um caminho distinto
daquele descrito na parte anterior, sem perder de vista a crtica de Stuart
Hall e outros autores como Antony Giddens, Norbert Elias, Pierre Bour-
dieu e Zygmunt Bauman sobre a sociedade contempornea, pensando
as relaes de poder e a emergncia das identidades como referncia
poltica dos sujeitos e dos grupos.
Na terceira parte, propomos explicitar de modo mais claro o que
consideramos os elementos constituintes do fenmeno social que de-
nominamos de processos identitrios. Nesta ltima parte, pontuamos os
aspectos que consideramos darem conta da apreenso, do estudo e da
explicao dos processos relacionais que envolvem e constituem as assi-
metrias de poder e de que modo as identidades podem ser objetivamente
investigadas, apesar de sua caracterstica fluida e impondervel.
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2 Invenes, usos e crises das identidades
Nas ltimas dcadas, a dimenso produtiva deixou de ser a base
exclusiva da origem dos conflitos sociais e as esferas simblicas e subjeti-
vas ganharam maior espao e legitimidade na anlise social. Os embates
passaram a ocorrer tambm no entorno da poltica de reconhecimento,
da expresso, da visibilidade e da particularidade das demandas. No lugar
das chamadas identidades de classes surgem o que passou a ser chamado
de polticas de identidade, o que significa, de acordo com Hall, uma iden-
tidade para cada movimento (Hall, 2002, p. 45). Assim, os conflitos e em-
bates passaram oferecer uma nova base poltica para novas formulaes
tericas em que a cultura e a subjetividade ganharam maior relevncia.
Nesse contexto, emergem e fragmentam-se velhas e novas identidades
que trazem consigo de modo inseparvel, velhas e novas alteridades.
A partir de uma releitura do marxismo, que no se restringia s pers-
pectivas economicistas e se estendia ao campo da cultura, os fundadores
dos Center for Contemporary Cultural Studies (CCCS) passaram a estudar
e a dar visibilidade acadmica e poltica s expresses literrias e artsticas
da classe operria inglesa no perodo Ps-Guerras1. Surge da um amplo
movimento por estudos voltados compreenso das relaes sociais, dos
embates, dos conflitos e da dominao social, a partir das prticas, dos
costumes e das produes culturais.
As noes de costume e de produo cultural foram amplamen-
te discutidas entre os precursores dos CCCS, como Raymond Williams
(2000) e Edward P. Thompson (1998). Tomamos resumidamente duas
contribuies consensuais entre eles. Primeiro, pensarmos a cultura sig-
1 Atribudo ao pensamento de Raymond Williams, sobre o materialismo cultural, a cultura compreendida em suas relaes com o mundo econmico e poltico, mas ao contrrio do economicismo marxista o autor no a entende de modo unidirecional.
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nifica pensarmos os costumes e a produo simblica na sociedade, bem
como suas conexes com a moral, a economia e a poltica. Segundo, que
a cultura enquanto produo e produto das relaes sociais manipulada
cotidianamente pelas pessoas e est implicada por disputas, ambivaln-
cias e contradies que nos remetem novamente moral, economia
e poltica. Exclui-se aqui a ideia de cultura como caracterstica, como
propriedade de um dado grupo e se aplica o entendimento de cultura ao
movimento, s relaes e produo material e simblica.
Em tal perspectiva, a noo de cultura no se descola das relaes
sociais e o enfoque recai sobre as percepes e as prticas dos grupos,
considerando-se que elas esto a todo instante em movimento e em dis-
puta. Nessa linha de raciocnio, outra contribuio importante a de Eric
Hobsbawm (2008), com aquilo que ele denomina de inveno das tradi-
es, quando sugere que o processo de elaborao de sentido sobre o que
vlido e perene do ponto de vista cultural para um dado grupo uma
elaborao construda a partir de relaes de foras desiguais, negocia-
das e imprevisveis. De certo modo, podemos aproximar tal considerao
ao modo como Thompson (1998, p. 17) define cultura e sua conotao
como uma arena de elementos conflitivos, um cenrio de ambivalncias,
contradies e fraturas com aparncia de unidade ou de sistema social.
As contribuies tericas e analticas de E. P. Thompson o colocaram
em rota de coliso com uma importante e poderosa vertente do pensa-
mento marxista das dcadas de 1950 e 1960, que tinha como uma das
figuras mais expoentes o filsofo francs Louis Althusser. Esta polmica
tornou-se paradigmtica entre aqueles que no romperiam com o marxis-
mo, mas que desejavam olhar e compreender processos sociais de modo
a no reduzi-los dimenso estrutural-econmica da sociedade e a um
projeto revolucionrio imanente prpria histria. Nessa direo, a obra
The making of the English Working Class (A formao da classe operria
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inglesa) representou uma importante alternativa a respeito de temas cen-
trais na tradio marxista como classe e lutas de classes, agora, abordadas
a partir de uma perspectiva de histria concebida como experincia e no
como um devir definido a partir das estruturas sociais.
Nessa abordagem, as classes sociais, por exemplo, no eram fen-
menos sociais dados, pr-definidos, mas compreendidas a partir da an-
lise dos processos sociais em que os trabalhadores constituem-se ou no
como classe social. Assim, verifica-se uma concepo centrada no que se
chamou de prticas de resistncia das classes populares atravs da consci-
ncia de uma, da condio da outra. A prpria ideia de classe social, ain-
da central na anlise de Thompson, ganhou um novo entendimento se-
gundo o qual ela no considerada como um fenmeno pr-existente e
o proletariado no est imbudo de uma misso que lhe imanente, no
podendo ser compreendida apenas com base na dimenso econmica.
interessante notar que tanto Althusser (1985) quanto Thompson
(1981) esto na base desta reflexo, mesmo que de modos diferentes (ou
at opostos), ao que Stuart Hall (2002) denominou de descentramento
do sujeito. Hoje, esta uma questo central no debate sobre identida-
des, como veremos adiante. A diferena entre ambos est exatamente
na polmica acerca das ideias que se sustentaram sobre o sujeito. Para
Althusser, existe um sujeito coletivo, no caso, necessariamente a classe
social, cuja autonomia e liberdade esto em agir conforme a ideologia,
como dimenso estrutural do capitalismo (Althusser, 1985).
V-se que a ideia de sujeito presente em Althusser significativa-
mente diferente, quando no oposta, que orientar parte significativa
dos estudos voltados para a discusso sobre identidades, embora parta de
seus dilemas. Na crtica de Thompson, o sujeito em Althusser dissolvido,
torna-se imaginrio por meio da interpelao pela ideologia:
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E quanto experincia fomos levados a reexaminar todos esses sistemas densos, complexos e elaborados pelos quais a vida familiar e social estrutura e a conscincia social en-contra realizao e expresso [...]: parentesco, costumes, as regras visveis e invisveis da regulao social, hegemonia e deferncia, formas simblicas de dominao e resistncia, f religiosa e impulsos milenaristas, maneiras, leis, instituies e ideologias tudo o que, em sua totalidade, compreen-de a gentica de todo processo histrico, sistemas que se renem todos, num certo ponto, na experincia humana comum, que exerce ela prpria (como experincias de clas-se peculiares) sua presso sobre o conjunto. (Thompson, 1981, p. 188-189).
Ao privilegiar a noo de experincia, expresso do fazer e no do
devir histrico, Thompson volta-se ao terreno da vida cotidiana dos gru-
pos populares na Inglaterra, no qual encontrou espao para a criao
de homens e mulheres no apenas em sua vida produtiva, mas em sua
expressividade cultural. Esta uma importante aproximao para a legi-
timao da subjetividade como dimenso poltica da vida social, como
ser trabalhada por Stuart Hall (2002), em que o sujeito est implicado,
ao mesmo tempo, pela estrutura e pela experincia social.
Hall (2002) se envolve em tal discusso de um modo mais espec-
fico, quando aponta para o que considera terem sido as trs formas pre-
dominantes de se idealizar o sujeito na sociedade moderna. A primeira
seria o sujeito do iluminismo, cuja principal caracterstica o conjunto das ideias marcadas pela filosofia e pela constituio de reformas do Es-
tado a partir do sculo XVIII, que fizeram predominar o humanismo, o
antropocentrismo e o contrato social como referncias, snteses da auto-
nomia, da vontade, dos direitos e dos deveres das pessoas (Hall, 2002).
Nesse contexto, o sujeito representado como soberano, acima e alm
das determinaes sociais. Isto , o sujeito um ente autnomo e inde-
pendente. A sociedade, por sua vez, compreendida e vivenciada como
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um aglomerado de indivduos livres e capazes de dar direo e significado
s suas vidas.
A segunda forma seria a do sujeito sociolgico, que surgira no con-texto da formao da sociedade de massas e a partir do pensamento so-
ciolgico que se comeou a elaborar sobre esta. Tal concepo de sujeito
emergiu no campo poltico pela forte influncia do pensamento marxista
e com maior expresso no campo terico a partir de abordagens como a
do interacionismo simblico. Neste caso, por algum tempo, predominou
certo antagonismo terico entre sujeito e estrutura no pensamento socio-
lgico, que procuramos exemplificar acima na crtica sobre o pensamento
de Althusser e Thompson.
Uma terceira concepo de sujeito, segundo Stuart Hall, seria a do
sujeito ps-moderno, que ganhou evidncia a partir de transformaes histricas, polticas, ideolgicas e tericas ocorridas nas trs dcadas aps
fim da Segunda Guerra Mundial. Demandas como as relacionadas ao femi-
nismo, ao ecologismo e a vrias outras subjetividades, antes colocadas em
segundo plano, passaram a compor a base de processos de mobilizao
poltica, ou ainda, de politizao da identificao, no mais assentadas em
argumentos de atributos fixos e estveis de classificao e de pertencimen-
to dos sujeitos a determinados grupos pr-existentes, mas admitindo-se
reordenaes de interesses e de sentidos, bem como experincias muito
diversas e subjetivas que trouxeram consigo o que Hall (2002) denominou
de a crise do sujeito e das identidades. Tais demandas, de sujeitos que no
se sentem representados numa dada classe, nao ou etnia, por exemplo,
deram origem a novos movimentos sociais e criaram uma nova dinmica de
enfrentamentos com antigos e novos interlocutores.
De certo modo, a emergncia de novos sujeitos sociais e o desenvol-
vimento de uma renovada base conceitual, em parte pelas contribuies
dos Estudos Culturais, arejou e deu flego s Cincias Sociais para com-
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preenso da questo das identidades como fundadas numa teorizao
sobre o sujeito. Isso quer dizer que as concepes predominantes sobre o
sujeito estiveram e esto diretamente implicando e sendo implicadas pelo
debate sobre identidades. A prpria recorrncia ao tema um fenmeno
que o torna contemporneo e predominante a partir do surgimento das
Cincias Humanas modernas e dos estados nacionais.
Benedict Anderson (2008) e Anthony Smith (1997), ao estudarem
a formao das naes, desmontaram a ideia artificiosa e predominante
de que os povos, cada qual com uma dada origem, histria ou cultura
especfica, precederam os estados nacionais. Os autores perceberam as
implicaes que os processos de elaborao e idealizao sobre a nao
tiveram sobre a constituio de sentimentos de unidade e identidades
nacionais, ao mesmo tempo em que se erguiam fronteiras geopolticas
atravs da diplomacia e da fora militar.
Se a concepo predominante sobre as comunidades nacionais de
que elas pr-existem e de que os indivduos esto inevitavelmente ligados
a elas, para Anderson (2008) tais comunidades so imaginadas2, no senti-
do de construdas simbolicamente pelas pessoas que se consideram parte
delas. Mesmo reconhecendo este vnculo como socialmente e simbolica-
mente construdo, precisamos ressaltar que nele se assenta tambm certa
concepo de sujeito centrado e vinculado nao, a qual fez parte do
pensamento hegemnico sustentado neste modelo de organizao polti-
ca, dominante durante o ltimo sculo, apesar de no representar a nica
forma de se pensar e existir dentro da nao.
2 Procurando entender as dinmicas do fenmeno nacional no sculo XX, Anderson (2008) destaca que a objetividade da existncia da nao se constituiu atravs dos meios simblicos, pelos quais as lnguas denominadas como nacionais e o aparato burocrtico e tecnolgico - que possibilitou a comunicao impressa de notcias, de literatura, de conhecimento cientfico e de outras formas de discursos em larga escala - tiveram como efeito de agregar certa comu-nidade em torno de uma comunicao em que prevaleciam o idioma e os interesses coletivos, mesmo que diante dos conflituosos interesses das pessoas.
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Num contexto de mltiplas concepes sobre o sujeito, as discus-
ses sobre identidade estiveram em grande evidncia durante o sculo
XX, movidas em grande parte pelos discursos polticos de pertencimento
(de nao e de classe) e pelos discursos cientficos de classificao (grupos
sociais, religiosos, lingusticos, sexuais, raciais, tnicos, etc). No entanto,
as reivindicaes particularistas e ao mesmo tempo as contestaes sobre
os rtulos por parte das pessoas demonstraram o carter eminentemente
frgil das dimenses atributivas de identidades aos grupos. Isto contribuiu
para o surgimento das disputas e da validade sobre a auto-atribuio. De
certo modo, tal debate resultou na possibilidade de visibilidade poltica e
terica de novos sujeitos sociais, de novas demandas, de novos direitos e
desestabilizou uma forma ordenada e tangvel de vermos o mundo, pul-
verizando interesses e multiplicando singularidades.
A partir da, surgiram novos problemas. Tanto dentro quanto fora da
academia, a palavra identidade passou a ser utilizada para nos referirmos
aos aspectos e fenmenos que at ento eram denominados ou estuda-
dos por outros termos como cultura, tradio, costume, folclore, entre ou-
tros correlacionados. Alguns usos indiscriminados da ideia de identidade
reduziram o fenmeno s caractersticas e aos atributos substantivos de
grupo social ou grupo cultural. Assim, observamos que em muitas situa-
es a identidade acabou reduzida a um carter descritivo, fixo estvel e
determinista do que se define como grupo.
Atualmente a palavra identidade empregada comumente como
forma e justificativa de valorizao de culturas locais, de legitimao de
grupos sociais e de valorizao de diferenas culturais e comportamentais.
Nesses casos, podemos verificar que h uma confuso recorrente quanto
ao uso da palavra identidade para nos referirmos a processos sociocul-
turais que seriam descritos mais acertadamente se fossem empregados
outros termos ou conceitos como, entre outros, costume, cultura ou grupo
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social. Tudo passou ento a ser positivamente chamado de identidade, o
que, na realidade, mais confunde do que informa ou explica, e pouco
contribui para a anlise e compreenso de novas formas de coero e
transgresso sociais como fenmenos culturais e polticos.
Nos dias de hoje, tanto na mdia, quanto na academia, ainda que
de modos diferentes, o emprego do termo identidade tem ressaltado a di-
versidade, a pluralidade cultural e o descentramento dos sujeitos sociais.
Nesse sentido, dissociada de sua dimenso analtica e de suas implicaes
polticas, a identidade aparece como caracterstica da contemporaneida-
de podendo levar a pensar que vivemos em um mundo no qual as dife-
renas culturais no esto implicadas e perpassadas pelas desigualdades
sociais, econmicas e polticas.
Salientamos que o uso recorrente e, de certo modo, acrtico da pala-
vra identidade, muitas vezes tem produzido um senso comum tanto fora
quanto dentro da academia. Ao contrrio dessa tendncia dominante,
quando pensamos em processos identitrios, pensamos no carter am-
bivalente, dinmico, fludo, inacabado e impondervel do fenmeno.
Cabe-nos, ento, entender a dinmica desse movimento a partir das ex-
perincias sociais. Da a proposta de se pensar os processos identitrios
a partir de uma perspectiva situacional, relacional e contrastiva na qual
as disputas sociais ocupam um lugar central na constituio da ideia de
diferenas e dos sentimentos de pertena.
3 Das identidades aos processos identitrios
Defendemos a ideia de que os processos identitrios precisam ser analisados, sobretudo, como expresso de relaes de poder geradoras de estratificao, hierarquizao e localizao, mas tambm, por vezes, de transgresso social. Tal perspectiva se ope s anlises pautadas exclu-
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sivamente na identificao de atributos e elementos que caracterizariam determinados grupos e expressariam suas identidades (como gnero, cor de pele, nacionalidade, tradies culturais, entre outros). Tais atributos seriam mais bem empregados na anlise social se os considerssemos como marcadores produzidos ou construdos atravs das relaes sociais, tal como buscaremos destacar.
Entendemos como a principal caracterstica da contribuio dos di-ferentes autores trazidos para esse debate o fato de, embora guardarem distines tericas e analticas, serem convergentes quando ressaltam a dimenso relacional e poltica das identidades.
Na linha dos Estudos Culturais, para Woodward:
Todas as prticas de significao que produzem significados envolvem relaes de poder, incluindo o poder para defi-nir quem includo e quem excludo. A cultura molda a identidade ao dar sentido experincia e ao tornar possvel optar, entre as vrias identidades possveis, por um modo especfico de subjetividade. [...] Somos constrangidos, en-tretanto, no apenas pela gama de possibilidades que a cul-tura oferece, isto , pela variedade de representaes sim-blicas, mas tambm pelas relaes sociais. (Woodward, 2000, p. 18-19).
Com base na ideia acima, possvel dizer que o pertencimento e a
alteridade so produzidos por meio de relaes de poder e que nossas es-
colhas e sensos de identificao resultam da maneira de nos pensarmos e
de nos imaginarmos no mundo, a partir do contexto e das relaes sociais
nos quais estamos envolvidos. Se, por um lado, o pertencimento reflete
certa particularizao da existncia social, por outro, coloca em dvida
tambm qualquer amplitude generalista da mesma.
Ao discutir as tenses e contradies do universal e do particular,
Laclau (2001) parte do pressuposto de que o universalismo sempre um
particularismo imposto a outros particularismos. Nesse processo, o aspec-
to diferencial entre os vrios particularismos destacado por ele:
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Agora, se a particularidade se afirma como mera particula-ridade, em uma relao meramente diferencial com outras particularidades, est sancionando o status quo na relao de poder entre grupos. Essa exatamente a noo de de-senvolvimentos separados, tal como foi formulado durante o apartheid: s o aspecto diferencial destacado, enquanto as relaes de poder nas quais o ltimo se baseia so siste-maticamente ignoradas (Laclau, 2001, p. 238).
O particular e o universal colocam em questo os limites e o respeito
entre grupos distintos quando o desenvolvimento separado questionado
por relaes multi/interculturais, como fica latente nos processos de insti-
tucionalizao poltica de estados nacionais e seus modelos de desenvol-
vimento, por exemplo. Desse modo, uma vez inviabilizado o desenvolvi-
mento separado, resta definir quais particularidades iro prevalecer sobre
outras particularidades, tornando-se, assim, universais. Questo que nos
remete novamente s relaes de poder.
Por exemplo, em suas anlises sobre o universo escolar e a inevi-
tvel questo das diferenas culturais nele contidos, Silva (2000, p. 97)
prope uma teorizao que leve em considerao a identidade e a dife-
rena como processos de produo social, como processos de relaes de
poder. Isso significa que entendermos e discorrermos sobre identidade
e diferena no suficiente para compreendermos a realidade social na
qual se produz o contexto de desigualdades nela imbricadas pela identi-
ficao e pela diferenciao; antes, necessrio nos debruarmos sobre
os processos sob os quais elas se constituem.
Assim, entendemos que a anlise dos processos identitrios no
pode prescindir de sua dimenso poltica, pois esses, ao mesmo tempo,
produzem diferena como expresso de direito, mas tambm (re)criam
desigualdades e relaes de subordinao e dominao. Portanto, as an-
lises sobre identidades nos remetem a um processo de localizao social,
fruto de coeres e facilitador da ao social, o qual deve ser compreendi-
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do com base em contextos histricos e sociais, o que, para ns, depende
da distribuio de poder entre os indivduos e grupos, bem como das
regras ou da moral e dos costumes que neles se fazem presentes.
Os processos de localizao social caracterizam-se, tambm, pela
produo da diferena e do sentimento de pertencimento, de indivduos
e de grupos sociais, dando origem, em suas relaes, s identificaes.
Essas relaes so mediadas por fronteiras materiais ou simblicas que
funcionam como elementos definidores e demarcadores do eu/ns e do
ns/outros. Tais fronteiras so socialmente construdas e so ressignifica-
das em razo das mudanas dos contextos sociais e histricos que, ora
se configuram de modo centralizado e unificado, ora descentrado e frag-
mentado, como demonstrou Stuart Hall (2002). Se o sujeito centrado no
desapareceu com o advento do sujeito descentrado, significa dizer que
vivemos um movimento dialtico entre concepes de identidade est-
veis, fixas e slidas, por um lado, e de identidades dinmicas, fludas e
ambivalentes, por outro.
Compreendidas a partir dessas premissas, as relaes sociais e de
poder, produtoras de localizao e transgresso social, no obedecem a
uma lgica imanente e tampouco se reduzem aos seus fatores externos.
Isso quer dizer que os processos identitrios no se explicam apenas a
partir dos atores sociais que mantm relaes do tipo face a face ou ape-
nas por sobredeterminaes que agem sobre eles a partir do exterior, mas
esto implicados por ambos os fatores, bem como so experimentados e
significados de diferentes modos pelos sujeitos.
Com esta reflexo, pretendemos converter analiticamente o par iden-
tidade/alteridade na trade pertencimento/alteridade/desigualdade. Esta tr-
ade formada a partir da incorporao da noo de interculturalidade,
em especial a desenvolvida por Canclini (2007). De acordo com autor, a
interculturalidade, como categoria poltica e analtica, avana em relao
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multiculturalidade. Isso porque a multiculturalidade nos remete com fre-
quncia celebrao da diferena, a qual, quando ocorre por meio de sua
naturalizao e despolitizao, produz a re-essencializao das identida-
des, bem como, a guetizao de grupos tnicos e culturais. Isto , a ideia de
multiculturalidade tende a manter a diversidade e a diferena cultural de
modo estanque e no consegue avanar quanto s desigualdades que per-
meiam as relaes entre diferentes, enquanto a noo de interculturalidade
se prope dinmica e desprovida de substancializaes.
Por sua vez, a noo de interculturalidade procura dar visibilidade
e inteligibilidade s relaes culturais e de poder, marcadas simultane-
amente pela diferena e pela desigualdade. Permite, tambm, compre-
endermos como as relaes de dominao so portadoras de formas de
resistncia e autonomia. A interculturalidade tem como pressuposto o
reconhecimento de que as culturas so inacabadas, incompletas e intan-
gveis, como produtos de comunicao mtua e permanente, como no
sentido que Homi Bhabha (1998) d noo de traduo cultural. Em tal
perspectiva, a traduo, a interseo e o hibridismo cultural no descar-
tam a compreenso sobre as relaes de poder, sobre os processos de hie-
rarquizao e de subordinao social. Isto , a produo do pertencimen-
to, da alteridade e da desigualdade no so processos excludentes, nem
acabados, ao contrrio, so interdependentes, construdos mutuamente e
de modo contnuo, implicados pelas experincias individuais e coletivas.
Se os processos identitrios expressam relaes de poder, localiza-
o, classificao e hierarquizao social, eles so, tambm, produtores de
transgresso, de contestao social, de ambivalncias e de fronteiras per-
meveis. Isto j foi indicado por muitos como um trao caracterstico da
sociedade contempornea, mas quem sabe possa tambm ser considerado
em maior ou menor grau como uma caracterstica universal do comporta-
mento social e aplicado ao estudo de outros contextos histricos.
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Como caracterstica das ltimas dcadas, concordamos com Bauman
(2005) quando afirma estamos marcados pela individualizao em excesso.
Nesse caso, esta marca nos faz oscilar entre o sonho e o pesadelo, o confor-
to e o desespero, a segurana e o perigo, caracterizados pelo sentido ambi-
valente da nfase no arbtrio. Diante da profuso de identidades emergindo
a todo instante e da necessidade percebida de nos localizarmos, ao mes-
mo tempo em que proclamamos a particularidade, nos colocamos diante
de uma das conseqncias mais avassaladoras da individualizao: so as
encarnaes mais comuns, mais aguadas, mais profundamente sentidas e
perturbadoras da ambivalncia (Bauman, 2005, p. 52).
A identidade emerge da como idealizao de um processo de vin-
culao a partir de uma ideia de diferena, construda por oposies sim-
blicas. Nessa direo, parece ser acertada a opo de Cuche (2002) ao
eleger o processo de identificao como categoria de anlise no lugar do
uso da palavra identidade. Cuche (2002) recorre aos contextos de inte-
rao social no apenas para compreender os lugares sociais nos quais
se localizam os atores em interao, mas tambm, e talvez o mais im-
portante, para fundamentar o que denomina de estratgias identitrias.
As estratgias identitrias so desenvolvidas pelos sujeitos como meio de
encontrar o melhor posicionamento nas interaes sociais.
Trata-se de uma dinmica semelhante evidenciada por Goffman
(2008) ao estudar a produo do estigma e de como este absorvido
ou rechaado pelos grupos e indivduos. Tambm se assemelha ao que
Bourdieu (1989) chamou de converso do estigma em emblema, para o
mesmo fim de Goffman. Isto quer dizer que os contextos sociais so im-
portantes, tanto para produo da autoidentidade e da heteroidentidade,
quanto para se entender a correlao de foras entre ambas. Isto , a
prevalncia da autoidentidade sobre a heteroidentidade depende da dis-
tribuio de poder entre os atores sociais em interao. De certo modo,
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com base nesta perspectiva, falar em identidades negociadas parece ser
uma redundncia, uma vez que as identidades sempre esto em movi-
mento em razo das relaes de poder travadas entre indivduos e gru-
pos. As pessoas entram e saem dos grupos de pertencimento ou aderem
e afastam-se deles, embora a intensidade e a permanncia mobilizadoras
no sejam a mesma em todos os casos.
De algum modo, a anlise social sobre os processos identitrios s
se torna possvel atravs da observao das dinmicas demarcatrias da
diferena, ou seja, do olhar sobre um dado contexto das relaes sociais,
que nos permita caracterizar as diversas maneiras pelas quais os indivdu-
os e grupos sociais em interao constroem as fronteiras sociais. Fredrik
Barth (1998, p. 195), no texto Grupos tnicos e suas fronteiras, revigorou
os estudos sobre identidades desde os anos setenta, ao sugerir que o pon-
to central da pesquisa sobre a identidade tnica a fronteira tnica. To-
mando de emprstimo a noo de Barth, podemos dizer que o objeto de
anlise dos estudos sobre os processos de identificao so as fronteiras,
ou aquilo que os sujeitos constroem como fronteiras entre eles, fazendo
prevalecer certo entendimento sobre quem compe o ns e quem so os
outros, implicados a por consensos, sentimentos e interesses.
O sentido de fronteira est mais para metfora, mas uma metfora
consistente para anlise, pois s existe quando h uma ideia de outro
(indivduo, grupo, regio, nao etc.) do qual se supe a diferena. Por-
tanto, a fronteira decorre do indicativo simblico de tal diferena. Tais
fronteiras, cabe ressaltar ainda, no so necessariamente estveis ou es-
tticas, mas fluidas e mveis. Isso significa que os indivduos as cruzam e
as ressignificam constantemente. Com isto, refora-se nosso argumento:
o que para o senso comum identidade, na verdade um conjunto de
marcadores, os quais possibilitam identificar no outro aquilo que se cons-
tri como sendo o sentido da diferena (comportamentos, indumentrias,
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lnguas, parentescos, territrios, traos fenotpicos, entre outros), e so
acionados como referncias de demarcao das fronteiras quando algo
est socialmente em jogo.
4 Processos identitrios como objeto da anlise
A ampla discusso sobre identidades surgiu associada ao debate so-
bre maior visibilidade e compreenso sobre a emergncia de novos sujei-
tos sociais e suas demandas no perodo Ps-Guerras. No entanto, se por
um lado a emergncia de novos direitos entrou nas agendas das polticas
nacionais e internacionais, principalmente por sua nfase valorizao
da diferena e das particularidades; por outro lado, certo princpio da
diferena e da particularizao tornou-se uma referncia hegemnica de
pensamento, muitas vezes dissociada da problemtica das desigualdades
e das anlises sobre hierarquias sociais. Isso acabou, em muitos casos, por
re-essencializar e naturalizar a diferena em outras escalas.
Esta situao ambgua e contraditria foi gestada em um contexto
marcado pela crise do estado nacional, do socialismo real e pelas trans-
formaes culturais favorecidas pela comunicao global atravs do de-
senvolvimento da microeletrnica e do advento da internet (Appadurai,
2004). Tais transformaes favoreceram o surgimento de foras centrfu-
gas que agem descentrando, liquefazendo, efemerizando e volatizando
as referncias identitrias (Hall, 2002), outrora aparentemente estabele-
cidas. Esse contexto de sobreposies que nos coloca diante do carter
ambguo das identidades simultaneamente por sua objetividade e por
sua subjetividade aponta para um fenmeno social da ordem do impon-
dervel, mas nem por isto impossvel de ser analisado.
Tendo em vista o carter ambivalente e movedio das identidades,
quando se trata de uma definio conceitual do fenmeno, o desafio
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como apreender e explicar os processos relacionais envolvidos no que
tem sido a nfase diferena entre grupos, e por consequncia, esto
implicados por assimetrias de poder diante do carter no palpvel da
identidade. Nossa proposta de voltar a ateno s dinmicas ou aos
processos em si mesmos e, principalmente: a) aos atores sociais e como ocorrem as demarcaes da diferena entre eles; b) ao que est em dis-puta quando se ressalta a identidade e a diferena; c) as normas e os princpios sociais que fundamentam e regulam sua existncia; e d) os
contextos histricos e sociais, j que entendemos os processos identitrios
como relacionais e situacionais. Tal enfoque nos aproxima dos sujeitos e
de como eles se veem e so vistos socialmente, das questes que tornam
relevantes os sentidos de identificao e diferenciao, bem como das
instituies e dos argumentos explcitos ou implcitos que sustentam as
fronteiras sociais fsicas e imaginrias entre os grupos.
4.1 Os atores
Os marcadores sociais so elementos simblicos e esto associados
ao processo de produo da ideia de pertencimento ou de alteridade
com relao a um outro. Isto, se considerarmos os marcadores como os
significantes das fronteiras. Tais marcadores so os sinais corporais, as for-
mas de agir, de falar, de vestir, entre outras, evidenciadas pelos prprios
sujeitos como substncias particulares dos grupos sociais no momento em
que so ressaltados os seus significados.
Normalmente, estes marcadores so confundidos com a identidade.
Como se, ao portar determinada caracterstica ou ao se agir de determi-
nada forma, criasse uma correlao direta de associao dos indivduos
a um pertencimento social e cultural. Acrescentamos que os significados
sobre os marcadores sociais so produzidos pelos sujeitos e resultam de
relaes de foras entre eles, implicados por costumes, normas sociais e
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contextos que expressam significados morais. Tal caracterstica nos leva
novamente dimenso eminentemente relacional, na qual os limites do
ns e do eles so produzidos. Por exemplo, para Woodward (2000), ban-
deiras, uniformes e marcas de cigarro, assim como a religio, os estilos de
msicas e os traos fenotpicos podem ser marcadores simblicos igual-
mente significativos.
A marcao social/simblica a forma elementar de expresso das
relaes sociais de poder e de disputa. Esta ideia nos remete a um segun-
do componente a ser considerado na anlise dos processos identitrios,
o qual envolve o algo que pode estar em disputa. Tal dimenso j foi
observada por vrios autores de diversas orientaes tericas que estuda-
ram as identidades. Entre os interacionistas simblicos, como para Strauss
(1999), as interaes sociais produtoras de identidades so, ao mesmo
tempo, classificatrias e indeterminveis, j que sua produo depende
do contexto social, este, por sua vez, em permanente transformao.
Strauss destaca alguns aspectos desta relao a serem analisados:
a) o poder de nomear como um ato de colocao ou de classificao do eu e dos outros; b) [...] a perptua in-terdeterminao das identidades na contnua mudana dos contextos sociais [...]; c) o [...] carter simblico e do tipo de desenvolvimento dos contextos sociais; d) [...] as mudanas no comportamento e na identidade dos adultos [...] e; e) [...] o carter simblico da afiliao a grupos [...] (Strauss, 1999, p. 31 e 32).
De uma outra perspectiva, ainda ressaltando a dimenso poltica do
que aqui estamos chamando de processos identitrios, Norbert Elias (2005)
nos oferece a noo de configurao como aporte conceitual para apreen-
dermos sobre os atores sociais em suas relaes de interdependncia, ao
criticar concepes de que as estruturas sociais so exteriores aos indivduos
Para Elias, as configuraes e a interdependncia so constitudas
por tramas de poder, cujo equilbrio sempre instvel e varia de acordo
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com o nmero e nvel de fora dos participantes e os diferentes nveis
de intensidade com que eles se envolvem (Elias, 2000, p. 24). Para ns,
em tais contextos que o fenmeno das identidades pode emergir, sem
ignorarmos o carter simblico e relacional da afiliao a grupos, como
diz Strauss (1999).
A distribuio de poder entre sujeitos e as tramas de interdepen-
dncias dela decorrentes destacada por Elias (2005, p. 88) pelo carter
processual das relaes entre pessoas interdependentes. A dinmica des-
tas relaes caracterizada pelo fato de que elas se modificam quando
muda a distribuio de poder (Elias, 2005, p. 88). Em tais contextos, as
identidades se tornam expressivas e, nesse sentido, nos interessa destacar
o lugar central da abordagem relacional da sociedade a partir da noo
de configuraes e de interdependncia, fundamentalmente pelo lugar
central que a noo de poder deve ocupar nestas anlises.
4.2 As disputas
Assim como nas configuraes, nos processos identitrios os atores
estabelecem relaes de disputa por um bem ou objeto material ou sim-
blico. No caso das identidades, tambm est em disputa o poder de no-
mear, autonomear-se e aceitar ou resistir nomeao imposta pelo outro.
Nessa mesma linha de argumento, Cuche (2002) defende que a relao
de fora entre os envolvidos na disputa por algo implica, para alm de
bens materiais, todo e qualquer bem simblico, inclusive os processos de
nomeao, por implicarem em classificao, hierarquizao e significao
moral e poltica no mbito das relaes sociais.
O que pode estar em disputa nos contextos de identificao faz
parte do entendimento coletivo sobre desigualdades no acesso a recursos
ecolgicos e econmicos, a honra, os meios de produo, as memrias
sociais, os objetos de valor moral ou religioso, os prestgios, os territrios,
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os ttulos sociais, entre outros. Tais disputas no so necessariamente ca-
racterizadas pelas relaes produtivas, mas envolvem questes de valores
e crenas construdas coletivamente. Para Stuart Hall (2003), citando Ro-
land Barthes, para alm dos bens, os grupos que se fortalecem em torno
das identidades esto em disputa pelo manuseio e pelo controle sobre os
signos, mais especificamente sobre o que e como os bens e outros signifi-
cantes podem significar socialmente.
Embora saibamos que os processos identitrios no so apenas for-
mas de nomeao, isto , de classificao e de hierarquizao social,
mas tambm estratgias e expresses de transgresso e contestao que
indivduos e grupos sociais considerados subordinados possuem frente
aos considerados hegemnicos, o enfoque sobre as denominaes e sua
contextualizao sempre revelador, principalmente quando percebe-
mos como se estabelece sua relao com o que est em disputa. Em sua
inerente ambiguidade, as identidades expem as dinmicas sociais das
foras de classificao e de hierarquizao social como sendo constitudas
tambm por aqueles que as resistem e as transgridem, so as situaes de
evidncia das fronteiras que tornam ao mesmo tempo visveis os elemen-
tos, as dinmicas e os sentidos da disputa.
4.3 As normas
As normas que norteiam as relaes sociais podem ser expressas na
forma de costumes, tradies, leis ou discursos. Nesse caso, a questo do
poder reaparece numa condio em que as prticas e as normas se repro-
duzem e esto mutuamente implicadas. Aqui, no estamos considerando
que os atores sociais simplesmente se adquam a regras. Ao contrrio, par-
timos do pressuposto de que as normas e os discursos bem como as institui-
es que as sustentam, so produzidas nas e a partir das relaes de poder.
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A chave para entendermos tal concepo est na ideia de que o
carter estrutural das aes sociais produto do modo como a coero
social filtrada pela cognoscibilidade dos agentes (Giddens, 2003). A
ao dos sujeitos ocorre considerando determinadas condies, mas ao
atuarem socialmente eles as (re)criam continuamente. No h um ponto
de partida com base no qual se poderia dizer que as regras so anteriores
aos atores ou vice-versa. Para ns, as relaes entre as normas e os atores
sociais nos processos identitrios so capturadas pelo monitoramento re-
flexivo, pois, de acordo com Giddens (2003), por meio da continuidade
entre ambos que se processa a produo da vida social.
Para estudarmos os processos identitrios, pertinente entendermos
que os elementos estruturais so, ao mesmo tempo, coercitivos e facilitadores
da ao social. Nesse sentido, para Giddens, h trs sentidos de coero:
a) Coero social: Coero resultante do carter do mundo material e das qualidades fsicas do corpo; b) Sano (nega-tiva): Coero resultante de respostas punitivas por parte de alguns agentes em relao a outros e c) Coero resultante da contextualidade da ao, isto , do carter dado de pro-priedades estruturais vis--vis com atores situados (Giddens, 2003, p. 208).
Alm do mais, as formas de coero so variveis de acordo com os
contextos, nos quais pesam tanto aspectos materiais e institucionais, quanto
formas de cognoscibilidade dos agentes (2003, p. 211). Desses contextos
negociados entre estrutura e agncia, surgem as possibilidades e os funda-
mentos balizadores da disputa e dos sentidos da identificao. Portanto, o
senso coletivo de afinidade, como amlgama das identidades, constitudo
de vontade, de interesse, de possibilidade e de representao.
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4.4 Os Contextos
Como j dito, entendemos os processos identitrios como relacio-
nais e situacionais e, por isto, como produtos e produtores de contextos
histrico-sociais. Isto , os contextos so produzidos pela dinmica de
distribuio de poder entre os indivduos e grupos sociais e pelas normas
que a norteiam. A construo da identidade se faz no interior de contextos
sociais que determinam a posio dos agentes e por isso mesmo orientam
suas representaes e suas escolhas (Cuche, 2002, p. 192).
Os contextos e situaes sociais so, tambm, elementos que par-
ticipam da construo e redefinio das fronteiras e marcadores sociais/
simblicos. Estas fronteiras so socialmente construdas e so permanen-
temente ressignificadas. Muda-se o contexto, mudam-se as identidades, e
vice-versa, mudam-se as identidades, muda-se o contexto.
A diferena e o sentimento de pertencimento seriam, pois, produ-
zidos em situaes ou contextos em que indivduos orientam suas aes
a partir de outros indivduos com os quais mantm relaes de disputas
mediadas por normas. So estas relaes produzidas na e por meio das
situaes ou contextos que nos ajudam a pensar os processos identitrios
como relaes de poder, porque nos permitem perceber as circunstncias
em que ocorrem s interaes, tanto no que diz respeito liberdade e
autonomia dos participantes quanto s formas de coero social.
No mundo da ambivalncia, fluidez e descentramento, os contextos
esto intimamente relacionados produo de mltiplos e, muitas vezes,
simultneos vnculos sociais. Da que o fato de existirem vrios pertenci-
mentos socialmente legitimados uma marca do mundo contempor-
neo. Esta dinmica bastante clara nos fluxos migratrios. Nesses casos,
o pertencimento altera-se de acordo com o contexto. Para ser eleito, um
filho de imigrante necessitar de mais votos do que possivelmente pode-
ria receber dentro de sua prpria colnia. Assim, dever acionar outros
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vnculos sociais: ser comerciante, professor, atleta, mulher, homossexual,
ambientalista etc. Por sua vez, para se afirmar dentro do prprio grupo
dever acionar principalmente marcadores tnicos que o diferenciam da
sociedade receptora. (Lesser, 2001, Seyferth, 1999, Ennes, 2001).
O conjunto das questes descritas acima nos permite indicar que
as identidades so passveis de serem estudadas quando percebemos um
dado processo social, a partir da evidncia dos quatro componentes inter-
relacionados: os atores sociais, as disputas, as normas e os contextos.
Consideraes Finais
As questes sobre identidade ganharam visibilidade e expresso
com as mudanas polticas e culturais observadas nas ltimas cinco dca-
das. Essas mudanas foram produzidas pelas transformaes do chamado
mundo moderno, que inclui a crise das metareferncias, a emergncia
de novos sujeitos que passaram a formular e lutar por uma nova agenda
poltica e o desenvolvimento de teorias sociais explicativas sobre a cons-
tituio dos grupos sociais e das diferenas entre eles. O resultado desse
processo foi a ampliao da noo de direitos, a qual conferiu visibilidade
a segmentos sociais e regies do planeta, antes menosprezados.
O conjunto das mudanas aqui expostas, tanto no campo histrico
quanto no terico, est relacionado a uma tradio do pensamento social
envolvendo a contribuio de autores como E. P. Thompson e Raymond
Williams e, mais tarde, Stuart Hall e Eric Hobsbawn, os quais estabeleceram
parmetros robustos para pensarmos as interfaces entre cultura e poder de
modo a reconhecer as relaes sociais, em particular, as relaes de poder
e suas implicaes em distintas circunstncias. Como vimos, pensar a cultu-
ra por meio dos processos identitrios implica considerar as conexes entre
a moral, a economia e a poltica, nas quais os atores sociais experimentam
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a coero e a transgresso social em propores diferentes e de acordo
com cada contexto social. Apesar dos autores citados no serem os nicos
a contriburem com tal discusso, eles formaram a base de nosso ponto de
partida, pelo modo que concebem as disputas sociais e as mltiplas possi-
bilidades de sentido que os sujeitos podem dar s mesmas.
A anlise sob a nfase dos processos identitrios pode, assim, avan-
ar criticamente em relao a algumas concepes do multiculturalismo,
o qual, no obstante o seu triunfo idealizado como celebrao normativa
do direito diferena, criou algumas armadilhas que mascaram relaes
desiguais de poder. Como essas conquistas no ocorreram no vazio so-
cial e poltico, sendo por isso reapropriadas e ressignificadas no contexto
da sociedade contempornea, cabe-nos compreender as nuanas cons-
titutivas desses processos, por meio dos embates cotidianos entre as re-
ferncias normativas e legitimadoras das concepes de diferena, que
argumentam pela reduo das desigualdades sociais em contraste com
as formas de ao social e os modos de expresso reativos produzidos
por aqueles que vivenciam a experincia, mesmo que fluda e provisria,
de se construrem como sujeitos de identificao coletiva. Desse modo,
nos esforamos por apontar alternativas s incongruncias postas pelo
debate sobre identidades que tm seguido a direo da naturalizao e
da despolitizao do fenmeno, supervalorizando solues denominadas
multiculturais e consideradas definitivas, como se a tudo se resolvesse e
apaziguasse quando o tema a convivncia com as diferenas e as de-
sigualdades. Pelo contrrio, a idealizao do multiculturalismo tambm
marca o cenrio intenso das relaes de poder quando a identidade est
em questo, quase sempre como um elemento argumentativo de legi-
timao das diferenas e das hierarquias entre elas. As polticas multi-
culturais de governo procuram ordenar e controlar um processo que
dinmico e instvel: a identificao.
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Procuramos evidenciar que o interesse nos processos identitrios
no se restringe s caractersticas e identificao dos marcadores, como
fazem crer, muitas vezes, os estudos substancialistas. Antes, sua complexi-
dade compreende a anlise das mudanas sociais, polticas e culturais que
alteram significativamente a realidade social, tanto no que diz respeito s
novas demandas e conquistas de novos direitos, quanto emergncia de
novos atores sociais, os quais se inventam e inventam os outros constan-
temente. Esta continua sendo uma questo de fundamental importncia
no cenrio contemporneo, a qual no pode ou no deve ser observada
com as lentes distorcidas da celebrao ou da negao das diferenas.
Nesse sentido, propomos que os estudos sobre processos identit-
rios levem em considerao nas suas anlises: os atores sociais, o que
est em disputa, quais as normas, os discursos que mediam as relaes
de poder, e os contextos sociais nos quais se inserem. Estes elementos
devem dar conta das relaes por meio das quais se produz o pertenci-
mento e a alteridade, a hierarquizao e a transgresso social, alm dos
processos tensos, dinmicos, ambguos e ambivalentes de classificao.
Ou seja, sugerimos que as questes colocadas pela anlise social levem
em considerao os sujeitos, as formas e os embates atravs dos quais
eles elaboram seus entendimentos sobre si prprios e sobre os outros em
condies especficas.
Esperamos que esta proposta de compreender os processos iden-
titrios como fenmeno social seja til para a anlise, a abordagem e a
explicao sobre as relaes sociais e de poder como argumentamos at
aqui, de modo: 1) a evitarmos a (re)essencializao das identidades e
compreend-las como relao (outro, diferente), em especial uma relao
de poder (desigual); 2) compreendermos os processos de emergncia e
de (re)insero social de atores em contextos caracterizados pelo descen-
tramento, pela fragmentao e pela efemeridade; 3) estarmos atentos
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anlise das ambiguidades e ambivalncias de processos sociais que criam
e recriam formas de subordinao e hierarquizao, ao mesmo tempo
que expressam formas de contestao e transgresso social.
Por fim, diante da insistente emergncia de agendas efmeras ou
perenes pelo reconhecimento da alteridade e da particularidade como
contraponto ao homogneo, bem como das respostas das polticas insti-
tucionais que as acolhem em projetos englobantes e consequentemente
intencionalmente reguladores, insistimos na necessidade de referncias
conceituais que nos permitam captar e instrumentalizar reflexivamente a
anlise sobre o curso de tais processos e suas ambivalncias e contradies.
Marcelo Alario Ennes. Docente do Departamento de Educao/UFS/Campus de Itabaiana, do Programa de Ps- graduao em Sociologia - PPGS/UFS e lder do Grupo de Estudos e Pesquisas Processos Identitrios e Poder GEPPIP. [email protected]
Frank Marcon. Docente do Departamento de Cincias Sociais e dos Programas de Ps-Graduao em Sociologia e em Antropologia, (PPGS/UFS e PPGA/UFS). Lder do Grupo de Estudos Culturais, Identidades e Relaes Intertnicas. [email protected]
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Recebido em: 02/05/2013
Aceite final: 16/09/2013