A via Rio Claro e a produção da cidade de Limeira

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34 13 1[2011 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de pós-graduação do instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp Alessandra Natali Queiroz Arquiteta e urbanista, doutoranda na área de Paisagem e Ambiente, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Av. Eduardo Peixoto, 985 Jd. Nova Europa, CEP 13482-000, (19) 9303-3541, [email protected] artigos e ensaios O Resumo O artigo enfatiza a compreensão da dinâmica de estruturação do espaço urbano de Limeira - cidade de médio porte da Região Administrativa de Campinas. Discute-se a proliferação de assentamentos de vários tipos e iniciativas e de como tais assentamentos participam da organização urbana, colaborando, ou não, na promoção de uma melhor qualidade de vida para a população residente. Palavras-chave: Limeira, história da cidade, urbanismo. A via Rio Claro e a produção da cidade de Limeira artigo enfatiza a compreensão da dinâmica de estruturação do espaço urbano de Limeira – cidade de médio porte, inserida na Região Administrativa de Campinas –, a partir da implantação de seus assentamentos residenciais. Busca-se discutir a proliferação desses assentamentos de vários tipos e iniciativas, pois, mediante análise crítica de como se dá a implantação desses assentamentos no contexto geral da cidade, pode-se passar à problematização da relevância da habitação no desenho da urbe, e de como tais assentamentos participam da organização urbana, colaborando ou não na promoção de uma melhor qualidade de vida para a população residente. Limeira é considerada como pólo de desenvolvi- mento, atraindo a população migratória em busca das potencialidades econômicas e disponibilidades de comércio e serviços. Assim, a análise do espaço urbano de Limeira ganha relevância ao se constituir como um dos exemplos de um processo de urbanização crescente que vem atingindo e transformando diversas cidades do interior. Desenvolvimento urbano O desenvolvimento de núcleos urbanos fundamenta- se no estabelecimento de relações sociais, culturais e econômicas, cuja complexidade se intensifica com seu crescimento. Esse crescimento físico é decorrente do aumento da população que busca abrigo na cidade. Assim, sua expansão se apóia em grande medida na implantação de assentamentos residenciais. Embora a importância desses assentamentos para o crescimento da malha urbana seja nítida, pouca atenção é dada a sua inserção, predominando uma visão de que o tecido urbano é produzido aleatoriamente e resultando numa suposta caótica colcha de retalhos onde não há conexões lógicas. Essa visão demanda grandes gastos do poder público e amplia o grau de segregação da população menos favorecida, que busca nesses assentamentos uma possibilidade de melhores condições de moradia. Urge compreender a habitação em um sentido mais amplo, a fim de possibilitar uma análise mais precisa que permita verificar seu papel no desenvolvimento dessas cidades.

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O artigo enfatiza a compreensão da dinâmica de estruturação do espaçourbano de Limeira - cidade de médio porte da Região Administrativa deCampinas. Discute-se a proliferação de assentamentos de vários tipos einiciativas e de como tais assentamentos participam da organização urbana,colaborando, ou não, na promoção de uma melhor qualidade de vida paraa população residente.

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  • 3413 1[2011 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de ps-graduao do instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp

    Alessandra Natali QueirozArquiteta e urbanista, doutoranda na rea de Paisagem e Ambiente, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo, Av. Eduardo Peixoto, 985 Jd. Nova Europa, CEP 13482-000, (19) 9303-3541, [email protected]

    artigos e ensaios

    O

    Resumo

    O artigo enfatiza a compreenso da dinmica de estruturao do espao

    urbano de Limeira - cidade de mdio porte da Regio Administrativa de

    Campinas. Discute-se a proliferao de assentamentos de vrios tipos e

    iniciativas e de como tais assentamentos participam da organizao urbana,

    colaborando, ou no, na promoo de uma melhor qualidade de vida para

    a populao residente.

    Palavras-chave: Limeira, histria da cidade, urbanismo.

    A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira

    artigo enfatiza a compreenso da dinmica de

    estruturao do espao urbano de Limeira cidade

    de mdio porte, inserida na Regio Administrativa

    de Campinas , a partir da implantao de seus

    assentamentos residenciais. Busca-se discutir a

    proliferao desses assentamentos de vrios tipos e

    iniciativas, pois, mediante anlise crtica de como se

    d a implantao desses assentamentos no contexto

    geral da cidade, pode-se passar problematizao

    da relevncia da habitao no desenho da urbe, e de

    como tais assentamentos participam da organizao

    urbana, colaborando ou no na promoo de

    uma melhor qualidade de vida para a populao

    residente.

    Limeira considerada como plo de desenvolvi-

    mento, atraindo a populao migratria em busca

    das potencialidades econmicas e disponibilidades

    de comrcio e servios.

    Assim, a anlise do espao urbano de Limeira ganha

    relevncia ao se constituir como um dos exemplos

    de um processo de urbanizao crescente que

    vem atingindo e transformando diversas cidades

    do interior.

    Desenvolvimento urbano

    O desenvolvimento de ncleos urbanos fundamenta-

    se no estabelecimento de relaes sociais, culturais

    e econmicas, cuja complexidade se intensifica

    com seu crescimento. Esse crescimento fsico

    decorrente do aumento da populao que busca

    abrigo na cidade. Assim, sua expanso se apia em

    grande medida na implantao de assentamentos

    residenciais.

    Embora a importncia desses assentamentos para

    o crescimento da malha urbana seja ntida, pouca

    ateno dada a sua insero, predominando

    uma viso de que o tecido urbano produzido

    aleatoriamente e resultando numa suposta catica

    colcha de retalhos onde no h conexes lgicas.

    Essa viso demanda grandes gastos do poder pblico

    e amplia o grau de segregao da populao menos

    favorecida, que busca nesses assentamentos uma

    possibilidade de melhores condies de moradia.

    Urge compreender a habitao em um sentido mais

    amplo, a fim de possibilitar uma anlise mais precisa

    que permita verificar seu papel no desenvolvimento

    dessas cidades.

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    A compreenso dessas questes faz com que se

    visualize o processo de crescimento e desenvolvimento

    de nossas cidades e o processo de segregao das

    classes, permitindo detectar e levantar a complexidade

    de seus problemas. Assim o estudo histrico da cidade

    se torna relevante para essa compreenso.

    Para facilitar a compreenso da estruturao da

    cidade utilizamos a metodologia de Langenbuch1,

    considerando, na formao do tecido da cidade, as

    vias estruturadoras, os sistemas de transporte, os

    limites naturais e a declividade do terreno. As vias

    estruturadoras so antigos caminhos formados pelas

    ferrovias, rodovias, as vias internas trama urbana,

    os ribeires, crregos e seus afluentes. O nome dos

    eixos foi dado em funo das principais conexes

    da cidade com a regio, partindo sempre do Centro

    Histrico. Dessa forma, a anlise fica historicamente

    concreta desde o nome da via estruturadora. (ver

    figuras 1 e 2)

    1 LANGENBUCH, Juergen Richard. Estruturao Da Grande So Paulo: Estudo De Geografia Urbana. Rio de Janeiro: Ibge, 1971.

    Figura 1: Mapa de estrutura urbana de Limeira no ano de 2005 e localizao das vias estruturadoras urbanas.Fonte: Queiroz, 2007.

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    O estudo tambm foi organizado em sete perodos,

    dentre eles h trs marcantes, no tocante ao

    crescimento urbano e a consequente formao das

    diferentes tipologias de tecido. Foram estabelecidos

    em funo de antigos mapas da cidade2, permitindo

    a verificao do crescimento e a conformao do

    tecido urbano com maior visibilidade. O primeiro

    perodo, de 1815 a 1876; segundo perodo, de

    1877 a 1937; terceiro perodo, de 1938 a 1950;

    quarto perodo, de 1951 a 1970; quinto perodo,

    de 1971 a 1980; sexto perodo, de 1981 a 1990 e

    o ltimo, de 1991 a 2000.

    A histria, a evoluo tipolgica, a lgica imobiliria e o papel do poder pblico no eixo Rio Claro e em seus loteamentos lindeiros

    A via Rio Claro

    Destacamos nesse artigo a via estruturadora de

    significao histrica e simblica para a cidade. A via

    estruturadora Rio Claro abrigou trecho da antiga

    Estrada Geral, primeira ligao da cidade, enquanto

    freguesia, com a Provncia de So Paulo, servindo de

    eixo de escoamento de produo, inicialmente de

    acar e, posteriormente, de caf. Em fins do sculo

    XIX deu lugar Rua do Comrcio, onde os imigrantes

    iniciaram suas atividades industriais, ainda incipientes,

    indo em direo antiga estrada que ia para Rio

    Claro (e a Cordeirpolis, ainda pertencente a Limeira),

    passando pela Fazenda Ibicaba, bero da colonizao

    europia e propriedade do Importante Senador

    Vergueiro que muito contribuiu para melhorias da

    cidade, principalmente no tocante ao desenho de sua

    malha original. tambm uma rea que possibilita

    visualizar as transformaes da via onde ocorreram

    os acontecimentos mais marcantes da cidade e de

    onde surgiram os demais eixos estruturadores de

    crescimento urbano.

    A via Rio Claro tem trs denominaes ao longo do

    percurso. O primeiro a Rua Dr. Trajano de Barros

    Camargo que corresponde a quinze quadras a partir de

    seu incio. Passa pelo centro e termina no incio da Vila

    Castelar. O segundo trecho denominado de Avenida

    Rio Claro, iniciando-se na Vila Castelar num percurso

    de trs quadras at o Jardim Santana. E o terceiro

    trecho a Avenida Maria Tereza de Barros Camargo

    que percorre todo o restante do eixo. O nome dessa

    avenida foi alterado nos anos de 1990, quando ainda

    possua a denominao de Avenida Rio Claro.

    2 Mapas datados de 1876, 1938, 1945, 1951, 1965, 1969, 1979, 1981, 1991, 1996 e 2001.

    Figura 2: Localizao da Via Rio Claro Fonte: Queiroz, 2007.

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    Para a delimitao da rea de estudo, utilizaram-se

    como metodologia os limites dos assentamentos

    lindeiros via Rio Claro, considerando-se como incio

    do eixo a rea central (loteamento inicial da cidade

    e desenhada pelo Senador Vergueiro). Seguem ao

    longo da via um total de 15 (quinze) assentamentos

    advindos de loteamentos especficos que deram

    origem a seus nomes, conforme demonstra a figura

    3: rea Central (como primeiro loteamento da

    cidade), Vila Primavera, Vila Castelar, Vila Anita,

    Vila Conceio, Vila Narcisa, Jardim Santana, Jardim

    Aqurius, Vila Ferreira, Jardim Brasil, Parque So

    Bento, Jardim Santo Andr, Jardim Monsenhor

    Rossi, Jardim So Rafael, Jardim Vanessa e Parque

    Residencial Roland.

    Consideramos igualmente importante a organizao

    das informaes e das anlises dessa via estruturadora

    na forma do esquema na figura 4 apresentada a

    seguir. Tal composio auxilia a compreenso da

    dinmica de implantao das leis e dos loteamentos

    no decorrer dos perodos histricos.

    Figura 3: A via Rio Claro: localizao do centro e dos assentamentos lindeiros. Fon-te: Queiroz, 2007.

    Figura 4: Leis urbansticas e nascimentos dos loteamentos por perodos histricos. Fon-te: Queiroz, 2007.

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    Caractersticas gerais e nveis de centralidade

    Para o mapeamento desses tipos, levamos em

    considerao a hierarquizao de suas centralidades,

    tendo em vista atividades econmicas, equipamentos

    e servios urbanos, conforme metodologia

    desenvolvida por Campos Filho (2003). Os parmetros

    estabelecidos possibilitaram uma forma de se realizar

    a anlise que deve ser feita, principalmente em planos

    de bairros, no intuito de trazer melhores respostas

    em aspectos de requalificaes urbansticas. Porm,

    devemos relativizar um assunto que ainda depende

    de pesquisas pormenorizadas quanto frequncia

    de uso e consumo nas diferentes classes sociais3.

    Na via Rio Claro percebemos uma srie de

    caractersticas determinantes quanto aos nveis

    de centralidade, diferenciadas nos trs trechos.

    Atualmente a via Rio Claro se estrutura em trs

    segmentos dos nveis de centralidade.

    No primeiro trecho, Dr. Trajano de Barros Camargo

    (rea central), a caracterstica mais marcante a

    de concentrao comercial, onde se percebe uma

    centralidade em sua maior parte comercial de nvel

    diversificado.

    No segundo trecho, Av. Rio Claro, predominam os

    servios de nvel muito diversificado pela presena

    do Hospital Medical, laboratrios e consultrios

    especializados, com maior concentrao de

    servios em detrimento do comrcio, produzindo

    ou exigindo da via de circulao reas para

    estacionamento. Isso se tornou um problema,

    pois no h suporte para essa funo. Assim,

    a via que, nessa instncia, de mo nica, tem

    seus dois lados tomados para estacionamento,

    restando apenas uma passagem para veculos:

    nibus, automvel ou caminho.

    Nesse trecho de nvel 3 de centralidade a presena

    marcante de servios muito diversificados vai

    diminuindo na direo da avenida Rio Claro, onde

    h tambm a presena de comrcios e servios de

    nvel 1 de centralidade com pequenos mercados,

    bares, postos de gasolina, concomitantemente com

    nveis muito diversificados.

    No terceiro trecho, Av. Maria Tereza de Barros

    Camargo, por apresentar longo percurso, demarca

    caractersticas diferenciadas: em grande parte uma

    centralidade de mbito local de nvel 1 e, no seu final,

    uma centralidade de nvel 2 e 3 mediante a presena

    de oficinas de veculos automotores, comrcio de

    materiais de construo, fbricas de peas para

    mquinas industriais, postos de gasolina. No incio do

    trecho temos a rua de mo nica que se transforma

    numa avenida com duas pistas rpidas com um

    lado para estacionamento, contando com canteiro

    central arborizado, e sua laterais delimitadas pelas

    cercas de loteamento fechados predominantemente

    residenciais, restando apenas alguns lotes para os

    pequenos comrcios e servios de mbito local e

    diversificado. Como exemplo, temos a lanchonete, a

    horta, os servios automotivos, postos de gasolina,

    revendedora de carros, salo de beleza, venda de

    frutas e sucos, em especial a laranja; bar restaurante,

    muito freqentado por jovens; e a Igreja do Bom

    Jesus que, desde 1930, rene limeirenses em suas

    festas religiosas.

    A rea central

    A rea central passa por todos os perodos histricos

    sofrendo alteraes gradativas. No Primeiro Perodo

    (1815 a 1876), essa rea representa o ncleo

    histrico da cidade, marcando a consolidao dos

    eixos religioso e comercial. Tivemos o desenho

    das primeiras quadras onde convergem as vias

    estruturadoras: a Estrada do Morro Azul-Campinas

    (1823), o Vale do Ribeiro Tatu e a Ferrovia. A

    estrada Morro Azul-Campinas4, foi construda pelos

    exportadores de grande produo de acar5 que

    precisavam de uma via mais direta Capital e a

    Santos com intuito de economizar o transporte e

    diminuir o cansao dos bois e burros de carga.

    Faziam parte dessa sociedade as principais figuras do

    povoado. O Capito Cunha Bastos doou uma gleba

    de 2.722.500m2 (1650m de cada lado) de terras,

    por devoo a Nossa Senhora das Dores. O Senador

    Vergueiro (prefeito naquela poca) foi responsvel

    por arruar, aforar, arrendar, vender ou alienar os

    lotes do terreno, como tambm reservar reas para

    uso pblico e destinar as rendas ao patrimnio de

    Nossa Senhora das Dores (Matriz). Segundo Busch

    (1967), o prprio Dr. Vergueiro foi responsvel

    pelo planejamento da cidade com preocupaes de

    larguras de ruas (60 palmos 13,2m), tamanho de

    quadras (40 braas - 88mx88m), reserva de praas.

    Encontra-se uma malha constituda em tecido

    3 Nossa proposta trabalhar com quatro nveis diferencia-dos. O nvel 1 o uso comer-cial, de servios e institucio-nal de mbito local com alta freqncia de demanda, ou seja, dirias ou semanais. O nvel 2 o uso comercial, de servios e institucional diver-sificados de mdia freqncia de demanda, ou seja, mensal at semestral. O nvel 3 o uso comercial, de servios e institucional muito diversi-ficado, de baixa freqncia de demanda, podendo ser anual ou ainda mais raras. O nvel 4 so: o Comrcio ata-cadista, os Servios especiais, e o uso institucional especial, espaos, estabelecimentos ou instalaes sujeitas a controle especfico tais como: monu-mentos histricos, manan-ciais de gua, reas de valor estratgico para a segurana pblica e reas de valor pai-sagstico especial.

    4 O Dr. Vergueiro ps-se (sic) a frente dos lavradores e conseguiu portaria do Go-vernador Oeynhausen para escolher os rumos, abrir pica-da e fazer a primeira estrada de Piracicaba ao Morro Azul e daqui a Campinas (BUSCH, 1967:13).

    5 Foram identificados no pri-meiro censo de 1822, reali-zado pela Guarda Nacional, os seguintes proprietrios de grandes engenhos para a fabricao de acar: Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Manoel de Bar-ros Ferraz, Jos Ferraz de Campos, Cap. Bento Paes de Barros, Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordo, Jos Joa-quim de Sampaio e Estevo Cardoso de Negreiros. Como produtores em menor escala tivemos: Alferes Manoel de Toledo Silva, Jos Joaquim Silva, Jos Joaquim de Sam-paio, Luiz de Sampaio, Poli-carpo Joaquim de Oliveira, Ma noel Pires de Almeida e Joaquim de Almeida Lima. Bento Manoel de Barros e outros eram cultivadores de milho, arroz e feijo e criadores de porcos e ga-dos. Muitos dos pequenos sitiantes recenseados eram posseiros.

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    ortogonal (como um tabuleiro de xadrez) com 88

    quadras e 102,10 ha.

    Ao longo dos perodos histricos, percebemos

    grande modificao da tipologia arquitetnica.

    Inicialmente, a via Rio Claro era o centro vital da

    cidade. Ali se encontravam tanto as instalaes de

    comrcios, servios e institucional como tambm as

    industriais. Esse momento marcou o Segundo Perodo

    (1877 a 1937) quando as atividades econmicas

    se concentravam na rea do xadrez. Aos poucos

    foi recebendo concorrncia com outros eixos de

    centralidade, reforando sua diversificao.

    A Rua Dr. Trajano de Barros Camargo (antiga

    Rua do Comrcio) abrigou, desde seu incio, os

    comrcios, os servios e permanece assim at

    os dias atuais, comportando grande fluxo de

    veculos e pedestres. Apresenta nvel de centralidade

    diversificado pela presena de agncias bancrias,

    lojas de departamento, lojas de sapatos, roupas

    e eletrodomsticos. uma via arterial por onde

    circulam a maior parte das linhas de transporte

    pblico, nibus, pequenos caminhes para

    abastecimento comercial dos grandes mercados

    e lojas, e tambm serve de eixo de ligao entre

    bairros. Seu leito carrovel no passa de 10

    (dez) metros no comportando o intenso fluxo de

    circulao. O mesmo acontece com as caladas

    de 2,00 (dois) metros, marcando a disputa pelo

    espao de circulao dos pedestres que, em certos

    momentos, preferem andar pela rea de passagem

    dos veculos. Temos basicamente durante os dias

    teis da semana um maior trfego de veculos em

    horrios de pico: s 7 horas da manh, entre 11h

    e 13 horas e das 16h s 18 horas. Aos sbados

    de manh percebe-se o maior fluxo de veculos da

    semana, indicando que as pessoas preferem deixar

    suas compras para esse dia. As manhs de domingo

    apresentam uma concentrao na praa Toledo

    de Barros, bem tpica da cidade. um ponto de

    encontro, com rea de brinquedos para crianas,

    idosos e aposentados com seus jogos de cartas,

    leitura de jornais, adquiridos nas trs bancas que

    a se encontram, apresentaes musicais no coreto

    com a banda Henrique Marques, a mais antiga

    da cidade, fundada em 06/11/1860, ou a banda

    Arthur Giambelli, fundada em 06/06/1932. A Praa

    Toledo de Barros refora essa centralidade por seu

    carter simblico. marcante seu papel cultural

    com a presena do Teatro Vitria que outrora foi

    teatro e cinema; as festividades ao redor da gruta,

    os desfiles de datas cvicas e tradicionais da cidade,

    inclusive o corso carnavalesco, transformando-se

    em espao de lazer e de encontros. (ver figuras

    5 e 6)

    Figura 5 : Antigo Teatro da Paz, Dcada de 1920. Fonte: Foto do Acervo pessoal Paulo Mazutti Levy.

  • A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira

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    Figura 6: Teatro Vitria, Dcada de 1950. Fonte: Foto do Acervo pessoal Paulo Mazutti Levy.

    Figura 7: Rua Dr. Trajano Camargo, Edifcio So Jorge e Banco do Brasil. Dcada de 1950. Fonte: Acervo Pessoal Emiliano Bernardes.

  • A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira

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    Da tipologia arquitetnica, temos a presena de

    casas trreas em sua maioria e poucos e grandes

    sobrados dos antigos fazendeiros do caf. O terceiro,

    quarto e quinto perodos tero maior expresso

    nos itens seguintes (ver item Os Assentamentos

    Lindeiros), quando inicia o crescimento da cidade

    para alm dos limites da rea central. Enquanto

    a cidade cresce em outras direes e regies, a

    arquitetura central foco das transformaes..

    Antigos casares do lugar aos novos edifcios e a

    novos usos. (ver figura 7)

    A partir de 1950 as construes dos Bancos do Brasil e

    Caixa Econmica do Estado de So Paulo diversificam

    a via com suas construes ora modernistas, ora

    eclticas, em meio a construes particulares de

    Art Deco com dois andares, ou pequenos prdios

    modernistas de trs a cinco pavimentos que serviam

    de pontos comerciais e de escritrios. significante

    notar nas fotos histricas e nos mais variados

    perodos do eixo que todas as construes seguiram

    o alinhamento do lote, sem recuos laterais em sua

    maioria, o que dificulta uma futura melhoria viria

    ou um melhor conforto ambiental de ventilao e

    insolao ou sanitrio. uma tipologia dominante,

    de quadras muradas com reas verdes em seu

    interior.

    A deteriorao da via e inclusive da rea central, no

    tocante s vias de circulao, foi observada mais

    precisamente nos anos finais da dcada de 1970,

    com o surgimento dos primeiros edifcios em altura ao

    redor da Praa Toledo Barros demarcando o processo

    verticalizao central, do sexto perodo (1981 a 1990)

    (ver figura 08). Nesse perodo os problemas gerados

    pela recesso econmica no pas e a diminuio

    das atividades empresariais na construo civil, que

    dificultaram a implantao de loteamentos, e os altos

    tributos em lotes vazios (IPTU), fizeram com que os

    investidores e imobilirias se interessassem pelos

    prdios de apartamentos, verificando-se a retomada

    da construo civil e aumento de pedidos de aprovao

    de plantas, em sua maioria de prdios residenciais.

    Em entrevista com o Engenheiro Antonio Manoel

    Queiroz6, pudemos verificar nas leis de zoneamento da

    cidade que, nessa referida dcada, ocorreu o aumento

    de edifcios na rea central devido grande oferta de

    taxa de ocupao e coeficiente de aproveitamento

    com valores respectivos de 0,8 e 157.

    6 Engenheiro Civil exerceu o Cargo de Chefe de Servio de Obras Particulares entre os anos de 1977 a 1984 e o cargo de Diretor do Departa-mento de Urbanismo entre 1989 a 1992 na Prefeitura Municipal de Limeira. Pro-fessor do Colgio Tcnico de Limeira UNICAMP de 1973 at os dias atuais e Diretor Geral dessa instituio de 1998 a 2002.

    7 Esses so coeficientes ur-bansticos, que determinam o potencial construtivo em um lote: rea mxima de construo em projeo ho-rizontal e rea total mxima construda.

    Figura 8: Vista da Praa Tole-do Barros, Dcada de 19070. Fonte: Acervo Pessoal Maria Cristina Savoi.

  • A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira

    4213 1[2011 artigos e ensaios

    Porm, a caracterstica de fluxo intenso na Rua

    Dr. Trajano B. Camargo fez com que o mercado

    imobilirio deslocasse seus empreendimentos

    residenciais na forma de edifcios, para quadras

    um pouco mais afastadas, para satisfazer seus

    compradores que, embora no distantes do centro,

    preferiam um certo distanciamento dessa rea

    ruidosa. O crescimento desses empreendimentos

    voltados para a classe mdia-alta foi possvel, quando

    o coeficiente de aproveitamento era de 15 vezes a

    rea dos terrenos. (ver figura 9)

    O mercado atendeu preferncia da classe mdia-

    alta em morar em edifcios, no s pelo status

    social que isso proporcionava, como tambm pela

    segurana e por estar prxima ao comrcio, servios

    e equipamentos comunitrios (instalaes pblicas

    destinadas educao, cultura, sade, esporte e

    lazer). Por outro lado, a desvalorizao do Real (1999)

    e, mesmo antes disso, a falncia de construtoras

    prejudicou o setor e muitos prdios em construo

    ficaram inacabados, sendo retomado o acabamento

    pelos prprios condminos. Esses prdios esto

    sendo vendidos em funo da grande oferta de

    condomnios horizontais fechados nas periferias e

    prximos de reas verdes e de lazer.

    O shopping center, construdo em 1989, localizado

    em rea perifrica, (prxima Via Anhanguera),

    faliu e, consequentemente, o comrcio e servios

    se intensificaram na rea central, expandindo-se

    consideravelmente, com um grande montante de

    lojas em seus diversos tipos, gerando um intenso

    fluxo pela maioria das ruas.

    Os assentamentos lindeiros

    O incio da disperso urbana marca o Terceiro Perodo

    (1938 a 1950). Na dcada de 1930 comearam a

    implantar os primeiros loteamentos residenciais e as

    grandes propriedades foram divididas transformando-

    se em chcaras das famlias proprietrias. A cidade

    de Limeira deixa de lado seu traado geomtrico em

    xadrez inicial e passa a formar pedaos desconexos

    de tecido. Os assentamentos implantados entre as

    dcadas de 1940 e 1960, no tm uma histria

    registrada, como o caso das Vilas Primavera,

    Castelar, Anita, Conceio e Narcisa. O que sabemos

    Figura 9: Incio da verticaliza-o de prdios residenciais na rea central, dcada de 1980. Fonte: Foto do Acervo pesso-al Emiliano Bernardes.

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    por relatos de moradores antigos da regio que

    seguiram em continuidade da rea central, sendo

    aos poucos parcelados, sem a infraestrutura bsica

    (que chegou aps 1950); primeiramente, no eixo, a

    atual rua Dr.Trajano de Barros Camargo e, alguns

    anos depois, para os bairros vizinhos. O servio de

    abastecimento de gua no tinha tratamento e as

    guas vinham sujas direto da represa do Cascalho,

    fonte de abastecimento no perodo. O esgoto era

    lanado diretamente no Ribeiro Tatu e isso acontece

    at os dias atuais.

    As edificaes eram construdas em ruas de terra

    que tambm eram abertas, conforme aconteciam

    alguns desmembramentos; portanto, quando as

    vias eram pavimentadas, muitas das casas ficavam

    muito abaixo ou acima do nvel da rua. As larguras de

    caladas eram definidas literalmente a passos, para

    definio do espao pblico, no caso das caladas,

    e do privado, no caso dos lotes. Isso demonstra que

    a municipalidade no tinha ainda uma preocupao

    com o planejamento urbano.

    A primeira lei municipal se d no incio do quarto

    perodo histrico (1951 a 1970), quando se inicia

    a expanso da urbanizao, grande parte em

    funo do crescimento industrial. institudo o

    Cdigo de Obras Lei n217/51 que dispunha como

    regras urbansticas a conservao dos passeios

    pelo proprietrio e a construo de poos e fossas

    spticas, quando na via ainda no haviam chegado

    as redes de abastecimento de gua e de coleta de

    esgoto. Deveriam ser feitas segundo especificaes

    estabelecidas pelo poder pblico.

    O Jardim Santana foi implantado no ano de 1968,

    seguindo semelhantes caractersticas dos loteamentos

    dos anteriores com um diferencial. H nele uma

    rotatria e uma via que aos poucos foi atraindo o

    mercado, pequenas lojas de roupa, farmcia, os

    pequenos servios locais e onde a concentrao de

    veculos e pessoas mais intensa.

    J no perodo sucessivo, o quinto (1971 a 1980),

    a cidade passa por forte processo de urbanizao.

    Somente na via Rio Claro (eixo estruturador de

    anlise) temos a implantao de sete loteamentos.

    A cidade deu-se conta de seu significativo

    desenvolvimento e de sua importncia no cenrio

    regional criando o Plano Local de Desenvolvimento

    Integrado juntamente com a EMDEL (Empresa de

    Desenvolvimento de Limeira) com finalidade de

    promover desenvolvimento e ordenar o crescimento

    da cidade, executando obras de infra-estrutura

    bsica e incentivando a vinda de indstrias e

    disciplinando suas instalaes. Isso gerou nova

    migrao para a cidade e uma grande procura

    por habitao. Esse dficit propiciou, por parte

    dos empreendedores imobilirios, a criao de

    novos loteamentos.

    A Vila Ferreira, que se compe de apenas dois

    quarteires, um loteamento implantado

    no final da dcada de 1970, segundo o mapa

    de evoluo urbana, fornecido pela Prefeitura

    Municipal. Porm em pesquisa mais detalhada,

    verificamos que no h registro e nem processo de

    loteamento dessa rea. Muito provvel que tenha

    sido fruto de desmembramentos e que esteja em

    irregularidade.

    O Jardim Vanessa e o Jardim So Rafael, apesar

    de se apresentarem como loteamentos distintos e

    implantados em perodos diferentes, respectivamente

    em 1966 e em 1979, tm como caracterstica um

    desenho nico, o que parece ter sido feito pelo

    mesmo empreendedor, ou loteador. No caso de

    loteadores diferentes houve apenas a sequncia

    do desenho de quadras, lotes e vias. A rea era de

    uma nica famlia que comeou a vender partes de

    suas glebas para serem loteadas.

    So loteamentos voltados para a classe de baixa

    renda e, por estarem mais distantes da malha urbana,

    podem ter recebido a infraestrutura de gua e esgoto

    mais tardiamente. Quanto ao transporte pblico,

    h a presena de apenas uma linha de nibus,

    que isola esses bairros do restante da cidade, dos

    equipamentos e servios urbanos.

    Nesse perodo a lei n1212/70 regulamentava o uso e

    ocupao do solo, porm no oferecia nenhuma regra

    especfica para loteamentos. Apenas citava sobre a

    colocao de guias e sarjetas, dimenses de quadras e

    vias. O loteador, pela lei municipal, no tinha nenhuma

    restrio quanto ao parcelamento urbano, pois no

    havia para ele obrigaes quanto ao fornecimento

    da infraestrutura ou destinao de rea para o poder

    pblico como as verdes e institucionais.

    Foi um perodo em que a evoluo dos parcelamentos

    do solo urbano aconteceu de modo desordenado,

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    ocorrendo grande especulao imobiliria. As

    exigncias submetidas no refletiam a preservao

    de espaos comunitrios nem se preocupavam

    com a distribuio espacial de reas. Isso pode ser

    verificado hoje pela distribuio sem uniformidade

    das quadras, vias de circulao, com entroncamentos

    irregulares e at mesmo sem sadas.

    A partir de 1978, em funo do Decreto Estadual n

    12.342 de 27/09/1978, que dispe sobre normas de

    promoo, preservao e recuperao da sade no

    campo de competncia da Secretaria de Estado de

    Sade (Cdigo Sanitrio), Lei Municipal 1642/1978 e,

    especialmente da Lei federal n 6766 de 19/12/1979,

    publicada no Dirio Oficial da Unio em 20/12/1979,

    que dispe sobre o parcelamento do solo urbano, os

    loteamentos sofreram grande impacto, disciplinando

    o uso e ocupao do solo e, por consequncia, a

    diminuio da especulao imobiliria.

    Como visto, todos os loteamentos originados at 1978,

    como o caso da maioria dos loteamentos da rea

    de estudo, no tinham nenhuma obrigao quanto

    qualidade do tecido urbano, tanto da infraestrutura,

    quanto da destinao de rea verdes e institucionais

    que possibilitariam a oferta de escolas, postos de

    sade, entre outros equipamentos urbanos.

    A qualidade no tocante rede de gua, esgoto,

    pavimentao, iluminao pblica e reas verdes

    ajardinadas, faz-se mais presentes nos bairros

    destinados classe mdia-alta. Quanto aos

    equipamentos coletivos, como transporte pblico,

    escolas e postos de sade, no se encontram nesses

    loteamentos, por estarem destinados a uma classe

    que utiliza o automvel para locomoo no acesso

    s escolas e servios especializados.

    O Jardim Aqurius foi um loteamento implantado

    no ano de 1973, do Proprietrio Evaldo Buzolin

    (Proprietrio da Indstria de Calados Buzolin -

    atualmente vendida e desativada). Da grande gleba,

    uma parte foi loteada e a outra serviu de espao

    para a construo da nova sede da Indstria. Foi

    adquirida em 1972 uma rea de 21.152,00m2

    do antigo proprietrio Everaldo de Barros Ferreira

    e Eglantina de Barros Ferreira (descendente das

    tradicionais famlias Barros e Camargo).

    Segundo consta, no processo do loteamento a

    configurao produtiva imobiliria se organizou da

    seguinte forma: o proprietrio da gleba contratou

    a Contempornea Arquitetura Engenharia e

    Construo Civil LTDA, empresa de projetos e

    loteamentos, atravs do arquiteto e urbanista Jos

    Manuel Levy, para elaborar e executar o projeto.

    No empreendimento destinado para classe mdia

    e principalmente de alta renda, configuraram-se

    grandes lotes e construes trreas e sobrados, com

    grande presena de reas ajardinadas voltadas para

    o prprio bairro.

    Compe um desenho de quadras em ala que

    permite uma maior privacidade para os moradores

    e propiciam via com dimenso menor que 10,00

    metros, um trfego de velocidades reduzidas,

    privilegiando o pedestre. O desenho por sua fora

    restringe a circulao de pedestres e veculos no

    pertencentes ao local. A localizao do sistema

    de recreio destinado por esse loteamento aparece

    isolada da configurao do bairro sem nenhuma

    benfeitoria.

    O loteamento Parque So Bento foi um

    empreendimento da EMDEL8 (Empresa de

    Desenvolvimento de Limeira S/A) implantado nos

    anos 70, porm foi transformado em condomnio

    fechado nos anos 90, como veremos no perodo

    seguinte. A origem do loteamento vem de

    desmembramento da antiga Fazenda So Bento.

    Da configurao produtiva imobiliria, temos a

    figura do poder pblico, enquanto promotora e

    proprietria da gleba, e a contratao do arquiteto

    Zenon Lotufo para o projeto do loteamento (figura

    10). Os lotes tm frente superior a 10,00m e rea

    superior a 250,00 m, confirmando o destino do

    empreendimento para o alto padro de renda. O

    desenho das quadras e vias em cul-de-sac de trfego

    local sem intensidade e caladas verdes e ajardinadas,

    valorizam a tranqilidade e o espao dos pedestres

    para caminhadas e lazer. No caso desse loteamento,

    a associao de bairro criou um bosque (arboreto)

    nas reas verdes, para uso esportivo, festas de

    bairro e contemplativo, que permitem um espao

    de convivncia social.

    O Jardim Santo Andr nasceu da iniciativa dos

    herdeiros de Andr de Felice. Segundo documentos

    do processo do loteamento, consta que os herdeiros

    contrataram o Engenheiro Civil Carlos Eduardo

    Pompeu da empresa Contempornea para a

    elaborao do projeto urbanstico. A proposta

    8 A EMDEL foi constituda atravs da Lei municipal n 1405 de 21/12/1973, socie-dade de economia mista por aes, com a participao majoritria da Prefeitura Mu-nicipal de Limeira. A empresa foi criada com a finalidade de executar programas de de-senvolvimento de reas urba-nas no municpio de Limeira, execuo de programas de recuperao de reas urbanas em deteriorao ou carente de recursos, de equipamentos bsicos, e execuo de pro-gramas de desenvolvimento industrial do municpio. Em 13/04/2005, entendendo a municipalidade que, embora a EMDEL tivesse prestado excelentes servios, j no cumpria mais seu objetivo estatutrio, promulgando-se a Lei Municipal n 3895, objetivando a extino da empresa.

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    apresentou um tecido qualitativo quanto ao desenho

    das quadras e sistema de avenidas e canteiros

    arborizados, convergindo para uma quadra maior

    no centro do loteamento de uso institucional. um

    loteamento voltado para a classe mdia, em que o

    comrcio local se encontra disperso, com a presena

    maior de mercado, bar e padaria em sua avenida

    de entrada, utilizada no somente por moradores,

    mas tambm pelos moradores dos condomnios

    fechados prximos a ele.

    O Jardim Brasil foi um loteamento implantado

    aps o Jd. Santo Andr, seguindo seus padres

    urbansticos de quadras e vias, unificando os

    loteamentos, e proporcionando maior qualidade

    ao tecido urbano.

    O Stimo Perodo (1991 a 2000), o ltimo da anlise,

    corresponde fase dos condomnios. A grande

    maioria dos loteamentos voltados mdia e alta

    renda se transformou em condomnios fechados.

    O Parque So Bento (figura 11), citado acima,

    o primeiro exemplo de loteamento a fechar seus

    limites com cercas e grades.

    Um fato interessante a histria do Parque

    Centreville (figura 11). Foi um loteamento de

    iniciativa privada que, para implantao do projeto,

    recebeu, em 1976, recursos da Caixa Econmica

    Estadual. Contava com projeto urbanstico

    semelhante aos moldes dos Alphavilles em So

    Paulo, com reas residenciais, lotes urbanizados e

    a construo de moradias, hotel, rea comercial e

    shopping center, como um bairro auto-suficiente.

    Da configurao produtiva imobiliria temos

    como empreendedora inicial a EMDEL que passou

    por escritura pblica a propriedade de terras, os

    direitos e obrigaes decorrentes da incorporao

    do empreendimento denominado Centreville

    Limeira para a Centreville Limeira Ltda, sociedade

    civil, com sede em Limeira e em fase de organizao

    naquela poca.

    Aproximadamente um ano aps o seu incio, as

    obras foram paralisadas por problemas financeiros

    e, at o incio do ano de 1990, grande parte do

    empreendimento ficou ocioso, com a construo

    apenas do Novo Hotel (hoje Carlton Hotel) na

    rea acima do loteamento. A Caixa Econmica

    judicialmente assumiu a parte do empreendimento

    que se destinava no projeto rea residencial,

    concluindo e comercializando os lotes, passando para

    os compradores a responsabilidade da regularizao

    das construes existentes, com a Prefeitura

    Municipal, o I.N.S.S. e o Cartrio de Registro de

    Imveis. O loteamento foi aprovado e recebeu o

    nome de Jardim Monsenhor Rossi.

    Atualmente o loteamento regularizado configura-

    se como um condomnio fechado, constando

    em seu interior rea institucional ociosa e reas

    verdes com a construo de parque infantil e de

    Figura 10: Anncio de venda de lotes do Parque So Bento. Fonte: Queiroz, 2007

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    Figura 11: Parque So Ben-to e Jd. Monsenhor Rossi (Centreville o nome mais conhecido do bairro). Ambos condomnios fechados. Fon-te: Acervo da autora.

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    lazer. As ruas tm caractersticas de fluxo local e

    dimenso inferior a 10,00 metros. Os moradores

    de mdia-alta renda, assim como os do loteamento

    Pq. So Bento utilizam o automvel para fazer

    suas compras ou utilizao de servios em outros

    bairros, ou no centro.

    O Parque Residencial Roland um loteamento

    fechado, de iniciativa privada aprovado no ano de

    2003. Da configurao produtiva imobiliria, sabe-se

    que foi realizado o parcelamento dos lotes, infra-

    estrutura bsica e destinao de reas obedecendo

    legislao vigente Lei n 212/99. Seu desenho

    de quadras e vias est voltado para uma rea

    central.

    Quanto ao grau de autonomia dos bairros em

    relao qualidade dos servios e equipamentos

    pblicos, obviamente a rea central est mais

    equipada que os demais loteamentos da rea

    de estudo. Assim, percebemos o quanto so

    importantes nessas anlises as questes ligadas

    intensidade e o tipo de trfego de veculos;

    a interao social e a segurana esto sendo

    esquecidas no ambiente da cidade, fazendo as

    pessoas se fecharem cada vez mais em suas casas

    ou em condomnios fechados. A qualidade de

    vida se atm no s ao espao pblico, mas com

    mais intensidade no interior do ambiente privado

    (considerando no somente os lotes, mas tambm

    os condomnios como um sistema privado onde o

    acesso controlado.

    Consideraes finais

    Limeira uma cidade pobre e, ao mesmo tempo,

    rica em termos da qualidade do seu tecido urbano.

    Pobre porque ainda est caminhando num

    planejamento a passos lentos, e rica no sentido

    de que ainda no se chegou a uma situao

    crtica, pois h condies de se mobilizar para

    melhoramentos nos bairros, e qualidade scio-

    ambiental no seu sentido pleno, na diversidade

    e qualidade do morar na cidade.

    Espera-se que os rgos governamentais se

    conscientizem em utilizar mais instrumentos tcnicos

    e menos polticos, sob pena de verem crescer as

    desigualdades sociais, enquanto o capital imobilirio

    e interesses particulares se apropriam dos destinos

    da cidade.

    A pesquisa nos permitiu entender o processo inicial

    de formao da cidade, atravs das trocas e relaes

    sociais e econmicas. Com essa lgica, fica mais

    fcil pensar nas transformaes das cidades no

    decorrer dos perodos histricos e a estruturao dos

    territrios, desde o perodo colonial brasileiro. Interesses

    econmicos sempre movem uma ao no espao;

    por isso, temos diferentes vertentes de estudo que

    tentam vislumbrar um maior nmero de descobertas

    sobre essas relaes e como elas se refletem no

    espao. Esses estudos que foram desenvolvidos no

    Brasil, ou mesmo no exterior, ajudam-nos a melhorar

    as metodologias e formas de encarar novas relaes

    sociais, econmicas, polticas, culturais, que vo se

    alterando mais lentamente at o final do sculo XIX

    e velozmente a partir do sculo XX.

    O resgate da histria da cidade se d graas a

    Sociedade Pr-Memria de Limeira, que rene

    em seus livros memrias mais antigas do perodo

    inicial da cidade. Houve perodos em que somente

    por meio de jornais, cartrios e relatos foi possvel

    resgat-los. Nos perodos da intensa industrializao,

    obtivemos maiores dados, porm, dos anos de 1990

    atualidade, ficamos novamente com poucos

    registros fotogrficos e documentais. Foi preciso

    reunir e documentar as fontes, organizando e

    reelaborando uma pequena base para novos

    estudos que podero se realizar. Muitas foram

    as fontes de pesquisa, porm grande parte da

    histria foi eliminada por incndio, ou simplesmente

    desapareceu.

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