A via Rio Claro e a produção da cidade de Limeira
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3413 1[2011 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de ps-graduao do instituto de arquitetura e urbanismo iau-usp
Alessandra Natali QueirozArquiteta e urbanista, doutoranda na rea de Paisagem e Ambiente, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de So Paulo, Av. Eduardo Peixoto, 985 Jd. Nova Europa, CEP 13482-000, (19) 9303-3541, [email protected]
artigos e ensaios
O
Resumo
O artigo enfatiza a compreenso da dinmica de estruturao do espao
urbano de Limeira - cidade de mdio porte da Regio Administrativa de
Campinas. Discute-se a proliferao de assentamentos de vrios tipos e
iniciativas e de como tais assentamentos participam da organizao urbana,
colaborando, ou no, na promoo de uma melhor qualidade de vida para
a populao residente.
Palavras-chave: Limeira, histria da cidade, urbanismo.
A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira
artigo enfatiza a compreenso da dinmica de
estruturao do espao urbano de Limeira cidade
de mdio porte, inserida na Regio Administrativa
de Campinas , a partir da implantao de seus
assentamentos residenciais. Busca-se discutir a
proliferao desses assentamentos de vrios tipos e
iniciativas, pois, mediante anlise crtica de como se
d a implantao desses assentamentos no contexto
geral da cidade, pode-se passar problematizao
da relevncia da habitao no desenho da urbe, e de
como tais assentamentos participam da organizao
urbana, colaborando ou no na promoo de
uma melhor qualidade de vida para a populao
residente.
Limeira considerada como plo de desenvolvi-
mento, atraindo a populao migratria em busca
das potencialidades econmicas e disponibilidades
de comrcio e servios.
Assim, a anlise do espao urbano de Limeira ganha
relevncia ao se constituir como um dos exemplos
de um processo de urbanizao crescente que
vem atingindo e transformando diversas cidades
do interior.
Desenvolvimento urbano
O desenvolvimento de ncleos urbanos fundamenta-
se no estabelecimento de relaes sociais, culturais
e econmicas, cuja complexidade se intensifica
com seu crescimento. Esse crescimento fsico
decorrente do aumento da populao que busca
abrigo na cidade. Assim, sua expanso se apia em
grande medida na implantao de assentamentos
residenciais.
Embora a importncia desses assentamentos para
o crescimento da malha urbana seja ntida, pouca
ateno dada a sua insero, predominando
uma viso de que o tecido urbano produzido
aleatoriamente e resultando numa suposta catica
colcha de retalhos onde no h conexes lgicas.
Essa viso demanda grandes gastos do poder pblico
e amplia o grau de segregao da populao menos
favorecida, que busca nesses assentamentos uma
possibilidade de melhores condies de moradia.
Urge compreender a habitao em um sentido mais
amplo, a fim de possibilitar uma anlise mais precisa
que permita verificar seu papel no desenvolvimento
dessas cidades.
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A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira
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A compreenso dessas questes faz com que se
visualize o processo de crescimento e desenvolvimento
de nossas cidades e o processo de segregao das
classes, permitindo detectar e levantar a complexidade
de seus problemas. Assim o estudo histrico da cidade
se torna relevante para essa compreenso.
Para facilitar a compreenso da estruturao da
cidade utilizamos a metodologia de Langenbuch1,
considerando, na formao do tecido da cidade, as
vias estruturadoras, os sistemas de transporte, os
limites naturais e a declividade do terreno. As vias
estruturadoras so antigos caminhos formados pelas
ferrovias, rodovias, as vias internas trama urbana,
os ribeires, crregos e seus afluentes. O nome dos
eixos foi dado em funo das principais conexes
da cidade com a regio, partindo sempre do Centro
Histrico. Dessa forma, a anlise fica historicamente
concreta desde o nome da via estruturadora. (ver
figuras 1 e 2)
1 LANGENBUCH, Juergen Richard. Estruturao Da Grande So Paulo: Estudo De Geografia Urbana. Rio de Janeiro: Ibge, 1971.
Figura 1: Mapa de estrutura urbana de Limeira no ano de 2005 e localizao das vias estruturadoras urbanas.Fonte: Queiroz, 2007.
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A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira
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O estudo tambm foi organizado em sete perodos,
dentre eles h trs marcantes, no tocante ao
crescimento urbano e a consequente formao das
diferentes tipologias de tecido. Foram estabelecidos
em funo de antigos mapas da cidade2, permitindo
a verificao do crescimento e a conformao do
tecido urbano com maior visibilidade. O primeiro
perodo, de 1815 a 1876; segundo perodo, de
1877 a 1937; terceiro perodo, de 1938 a 1950;
quarto perodo, de 1951 a 1970; quinto perodo,
de 1971 a 1980; sexto perodo, de 1981 a 1990 e
o ltimo, de 1991 a 2000.
A histria, a evoluo tipolgica, a lgica imobiliria e o papel do poder pblico no eixo Rio Claro e em seus loteamentos lindeiros
A via Rio Claro
Destacamos nesse artigo a via estruturadora de
significao histrica e simblica para a cidade. A via
estruturadora Rio Claro abrigou trecho da antiga
Estrada Geral, primeira ligao da cidade, enquanto
freguesia, com a Provncia de So Paulo, servindo de
eixo de escoamento de produo, inicialmente de
acar e, posteriormente, de caf. Em fins do sculo
XIX deu lugar Rua do Comrcio, onde os imigrantes
iniciaram suas atividades industriais, ainda incipientes,
indo em direo antiga estrada que ia para Rio
Claro (e a Cordeirpolis, ainda pertencente a Limeira),
passando pela Fazenda Ibicaba, bero da colonizao
europia e propriedade do Importante Senador
Vergueiro que muito contribuiu para melhorias da
cidade, principalmente no tocante ao desenho de sua
malha original. tambm uma rea que possibilita
visualizar as transformaes da via onde ocorreram
os acontecimentos mais marcantes da cidade e de
onde surgiram os demais eixos estruturadores de
crescimento urbano.
A via Rio Claro tem trs denominaes ao longo do
percurso. O primeiro a Rua Dr. Trajano de Barros
Camargo que corresponde a quinze quadras a partir de
seu incio. Passa pelo centro e termina no incio da Vila
Castelar. O segundo trecho denominado de Avenida
Rio Claro, iniciando-se na Vila Castelar num percurso
de trs quadras at o Jardim Santana. E o terceiro
trecho a Avenida Maria Tereza de Barros Camargo
que percorre todo o restante do eixo. O nome dessa
avenida foi alterado nos anos de 1990, quando ainda
possua a denominao de Avenida Rio Claro.
2 Mapas datados de 1876, 1938, 1945, 1951, 1965, 1969, 1979, 1981, 1991, 1996 e 2001.
Figura 2: Localizao da Via Rio Claro Fonte: Queiroz, 2007.
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Para a delimitao da rea de estudo, utilizaram-se
como metodologia os limites dos assentamentos
lindeiros via Rio Claro, considerando-se como incio
do eixo a rea central (loteamento inicial da cidade
e desenhada pelo Senador Vergueiro). Seguem ao
longo da via um total de 15 (quinze) assentamentos
advindos de loteamentos especficos que deram
origem a seus nomes, conforme demonstra a figura
3: rea Central (como primeiro loteamento da
cidade), Vila Primavera, Vila Castelar, Vila Anita,
Vila Conceio, Vila Narcisa, Jardim Santana, Jardim
Aqurius, Vila Ferreira, Jardim Brasil, Parque So
Bento, Jardim Santo Andr, Jardim Monsenhor
Rossi, Jardim So Rafael, Jardim Vanessa e Parque
Residencial Roland.
Consideramos igualmente importante a organizao
das informaes e das anlises dessa via estruturadora
na forma do esquema na figura 4 apresentada a
seguir. Tal composio auxilia a compreenso da
dinmica de implantao das leis e dos loteamentos
no decorrer dos perodos histricos.
Figura 3: A via Rio Claro: localizao do centro e dos assentamentos lindeiros. Fon-te: Queiroz, 2007.
Figura 4: Leis urbansticas e nascimentos dos loteamentos por perodos histricos. Fon-te: Queiroz, 2007.
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Caractersticas gerais e nveis de centralidade
Para o mapeamento desses tipos, levamos em
considerao a hierarquizao de suas centralidades,
tendo em vista atividades econmicas, equipamentos
e servios urbanos, conforme metodologia
desenvolvida por Campos Filho (2003). Os parmetros
estabelecidos possibilitaram uma forma de se realizar
a anlise que deve ser feita, principalmente em planos
de bairros, no intuito de trazer melhores respostas
em aspectos de requalificaes urbansticas. Porm,
devemos relativizar um assunto que ainda depende
de pesquisas pormenorizadas quanto frequncia
de uso e consumo nas diferentes classes sociais3.
Na via Rio Claro percebemos uma srie de
caractersticas determinantes quanto aos nveis
de centralidade, diferenciadas nos trs trechos.
Atualmente a via Rio Claro se estrutura em trs
segmentos dos nveis de centralidade.
No primeiro trecho, Dr. Trajano de Barros Camargo
(rea central), a caracterstica mais marcante a
de concentrao comercial, onde se percebe uma
centralidade em sua maior parte comercial de nvel
diversificado.
No segundo trecho, Av. Rio Claro, predominam os
servios de nvel muito diversificado pela presena
do Hospital Medical, laboratrios e consultrios
especializados, com maior concentrao de
servios em detrimento do comrcio, produzindo
ou exigindo da via de circulao reas para
estacionamento. Isso se tornou um problema,
pois no h suporte para essa funo. Assim,
a via que, nessa instncia, de mo nica, tem
seus dois lados tomados para estacionamento,
restando apenas uma passagem para veculos:
nibus, automvel ou caminho.
Nesse trecho de nvel 3 de centralidade a presena
marcante de servios muito diversificados vai
diminuindo na direo da avenida Rio Claro, onde
h tambm a presena de comrcios e servios de
nvel 1 de centralidade com pequenos mercados,
bares, postos de gasolina, concomitantemente com
nveis muito diversificados.
No terceiro trecho, Av. Maria Tereza de Barros
Camargo, por apresentar longo percurso, demarca
caractersticas diferenciadas: em grande parte uma
centralidade de mbito local de nvel 1 e, no seu final,
uma centralidade de nvel 2 e 3 mediante a presena
de oficinas de veculos automotores, comrcio de
materiais de construo, fbricas de peas para
mquinas industriais, postos de gasolina. No incio do
trecho temos a rua de mo nica que se transforma
numa avenida com duas pistas rpidas com um
lado para estacionamento, contando com canteiro
central arborizado, e sua laterais delimitadas pelas
cercas de loteamento fechados predominantemente
residenciais, restando apenas alguns lotes para os
pequenos comrcios e servios de mbito local e
diversificado. Como exemplo, temos a lanchonete, a
horta, os servios automotivos, postos de gasolina,
revendedora de carros, salo de beleza, venda de
frutas e sucos, em especial a laranja; bar restaurante,
muito freqentado por jovens; e a Igreja do Bom
Jesus que, desde 1930, rene limeirenses em suas
festas religiosas.
A rea central
A rea central passa por todos os perodos histricos
sofrendo alteraes gradativas. No Primeiro Perodo
(1815 a 1876), essa rea representa o ncleo
histrico da cidade, marcando a consolidao dos
eixos religioso e comercial. Tivemos o desenho
das primeiras quadras onde convergem as vias
estruturadoras: a Estrada do Morro Azul-Campinas
(1823), o Vale do Ribeiro Tatu e a Ferrovia. A
estrada Morro Azul-Campinas4, foi construda pelos
exportadores de grande produo de acar5 que
precisavam de uma via mais direta Capital e a
Santos com intuito de economizar o transporte e
diminuir o cansao dos bois e burros de carga.
Faziam parte dessa sociedade as principais figuras do
povoado. O Capito Cunha Bastos doou uma gleba
de 2.722.500m2 (1650m de cada lado) de terras,
por devoo a Nossa Senhora das Dores. O Senador
Vergueiro (prefeito naquela poca) foi responsvel
por arruar, aforar, arrendar, vender ou alienar os
lotes do terreno, como tambm reservar reas para
uso pblico e destinar as rendas ao patrimnio de
Nossa Senhora das Dores (Matriz). Segundo Busch
(1967), o prprio Dr. Vergueiro foi responsvel
pelo planejamento da cidade com preocupaes de
larguras de ruas (60 palmos 13,2m), tamanho de
quadras (40 braas - 88mx88m), reserva de praas.
Encontra-se uma malha constituda em tecido
3 Nossa proposta trabalhar com quatro nveis diferencia-dos. O nvel 1 o uso comer-cial, de servios e institucio-nal de mbito local com alta freqncia de demanda, ou seja, dirias ou semanais. O nvel 2 o uso comercial, de servios e institucional diver-sificados de mdia freqncia de demanda, ou seja, mensal at semestral. O nvel 3 o uso comercial, de servios e institucional muito diversi-ficado, de baixa freqncia de demanda, podendo ser anual ou ainda mais raras. O nvel 4 so: o Comrcio ata-cadista, os Servios especiais, e o uso institucional especial, espaos, estabelecimentos ou instalaes sujeitas a controle especfico tais como: monu-mentos histricos, manan-ciais de gua, reas de valor estratgico para a segurana pblica e reas de valor pai-sagstico especial.
4 O Dr. Vergueiro ps-se (sic) a frente dos lavradores e conseguiu portaria do Go-vernador Oeynhausen para escolher os rumos, abrir pica-da e fazer a primeira estrada de Piracicaba ao Morro Azul e daqui a Campinas (BUSCH, 1967:13).
5 Foram identificados no pri-meiro censo de 1822, reali-zado pela Guarda Nacional, os seguintes proprietrios de grandes engenhos para a fabricao de acar: Dr. Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, Manoel de Bar-ros Ferraz, Jos Ferraz de Campos, Cap. Bento Paes de Barros, Brigadeiro Manoel Rodrigues Jordo, Jos Joa-quim de Sampaio e Estevo Cardoso de Negreiros. Como produtores em menor escala tivemos: Alferes Manoel de Toledo Silva, Jos Joaquim Silva, Jos Joaquim de Sam-paio, Luiz de Sampaio, Poli-carpo Joaquim de Oliveira, Ma noel Pires de Almeida e Joaquim de Almeida Lima. Bento Manoel de Barros e outros eram cultivadores de milho, arroz e feijo e criadores de porcos e ga-dos. Muitos dos pequenos sitiantes recenseados eram posseiros.
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ortogonal (como um tabuleiro de xadrez) com 88
quadras e 102,10 ha.
Ao longo dos perodos histricos, percebemos
grande modificao da tipologia arquitetnica.
Inicialmente, a via Rio Claro era o centro vital da
cidade. Ali se encontravam tanto as instalaes de
comrcios, servios e institucional como tambm as
industriais. Esse momento marcou o Segundo Perodo
(1877 a 1937) quando as atividades econmicas
se concentravam na rea do xadrez. Aos poucos
foi recebendo concorrncia com outros eixos de
centralidade, reforando sua diversificao.
A Rua Dr. Trajano de Barros Camargo (antiga
Rua do Comrcio) abrigou, desde seu incio, os
comrcios, os servios e permanece assim at
os dias atuais, comportando grande fluxo de
veculos e pedestres. Apresenta nvel de centralidade
diversificado pela presena de agncias bancrias,
lojas de departamento, lojas de sapatos, roupas
e eletrodomsticos. uma via arterial por onde
circulam a maior parte das linhas de transporte
pblico, nibus, pequenos caminhes para
abastecimento comercial dos grandes mercados
e lojas, e tambm serve de eixo de ligao entre
bairros. Seu leito carrovel no passa de 10
(dez) metros no comportando o intenso fluxo de
circulao. O mesmo acontece com as caladas
de 2,00 (dois) metros, marcando a disputa pelo
espao de circulao dos pedestres que, em certos
momentos, preferem andar pela rea de passagem
dos veculos. Temos basicamente durante os dias
teis da semana um maior trfego de veculos em
horrios de pico: s 7 horas da manh, entre 11h
e 13 horas e das 16h s 18 horas. Aos sbados
de manh percebe-se o maior fluxo de veculos da
semana, indicando que as pessoas preferem deixar
suas compras para esse dia. As manhs de domingo
apresentam uma concentrao na praa Toledo
de Barros, bem tpica da cidade. um ponto de
encontro, com rea de brinquedos para crianas,
idosos e aposentados com seus jogos de cartas,
leitura de jornais, adquiridos nas trs bancas que
a se encontram, apresentaes musicais no coreto
com a banda Henrique Marques, a mais antiga
da cidade, fundada em 06/11/1860, ou a banda
Arthur Giambelli, fundada em 06/06/1932. A Praa
Toledo de Barros refora essa centralidade por seu
carter simblico. marcante seu papel cultural
com a presena do Teatro Vitria que outrora foi
teatro e cinema; as festividades ao redor da gruta,
os desfiles de datas cvicas e tradicionais da cidade,
inclusive o corso carnavalesco, transformando-se
em espao de lazer e de encontros. (ver figuras
5 e 6)
Figura 5 : Antigo Teatro da Paz, Dcada de 1920. Fonte: Foto do Acervo pessoal Paulo Mazutti Levy.
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Figura 6: Teatro Vitria, Dcada de 1950. Fonte: Foto do Acervo pessoal Paulo Mazutti Levy.
Figura 7: Rua Dr. Trajano Camargo, Edifcio So Jorge e Banco do Brasil. Dcada de 1950. Fonte: Acervo Pessoal Emiliano Bernardes.
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Da tipologia arquitetnica, temos a presena de
casas trreas em sua maioria e poucos e grandes
sobrados dos antigos fazendeiros do caf. O terceiro,
quarto e quinto perodos tero maior expresso
nos itens seguintes (ver item Os Assentamentos
Lindeiros), quando inicia o crescimento da cidade
para alm dos limites da rea central. Enquanto
a cidade cresce em outras direes e regies, a
arquitetura central foco das transformaes..
Antigos casares do lugar aos novos edifcios e a
novos usos. (ver figura 7)
A partir de 1950 as construes dos Bancos do Brasil e
Caixa Econmica do Estado de So Paulo diversificam
a via com suas construes ora modernistas, ora
eclticas, em meio a construes particulares de
Art Deco com dois andares, ou pequenos prdios
modernistas de trs a cinco pavimentos que serviam
de pontos comerciais e de escritrios. significante
notar nas fotos histricas e nos mais variados
perodos do eixo que todas as construes seguiram
o alinhamento do lote, sem recuos laterais em sua
maioria, o que dificulta uma futura melhoria viria
ou um melhor conforto ambiental de ventilao e
insolao ou sanitrio. uma tipologia dominante,
de quadras muradas com reas verdes em seu
interior.
A deteriorao da via e inclusive da rea central, no
tocante s vias de circulao, foi observada mais
precisamente nos anos finais da dcada de 1970,
com o surgimento dos primeiros edifcios em altura ao
redor da Praa Toledo Barros demarcando o processo
verticalizao central, do sexto perodo (1981 a 1990)
(ver figura 08). Nesse perodo os problemas gerados
pela recesso econmica no pas e a diminuio
das atividades empresariais na construo civil, que
dificultaram a implantao de loteamentos, e os altos
tributos em lotes vazios (IPTU), fizeram com que os
investidores e imobilirias se interessassem pelos
prdios de apartamentos, verificando-se a retomada
da construo civil e aumento de pedidos de aprovao
de plantas, em sua maioria de prdios residenciais.
Em entrevista com o Engenheiro Antonio Manoel
Queiroz6, pudemos verificar nas leis de zoneamento da
cidade que, nessa referida dcada, ocorreu o aumento
de edifcios na rea central devido grande oferta de
taxa de ocupao e coeficiente de aproveitamento
com valores respectivos de 0,8 e 157.
6 Engenheiro Civil exerceu o Cargo de Chefe de Servio de Obras Particulares entre os anos de 1977 a 1984 e o cargo de Diretor do Departa-mento de Urbanismo entre 1989 a 1992 na Prefeitura Municipal de Limeira. Pro-fessor do Colgio Tcnico de Limeira UNICAMP de 1973 at os dias atuais e Diretor Geral dessa instituio de 1998 a 2002.
7 Esses so coeficientes ur-bansticos, que determinam o potencial construtivo em um lote: rea mxima de construo em projeo ho-rizontal e rea total mxima construda.
Figura 8: Vista da Praa Tole-do Barros, Dcada de 19070. Fonte: Acervo Pessoal Maria Cristina Savoi.
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Porm, a caracterstica de fluxo intenso na Rua
Dr. Trajano B. Camargo fez com que o mercado
imobilirio deslocasse seus empreendimentos
residenciais na forma de edifcios, para quadras
um pouco mais afastadas, para satisfazer seus
compradores que, embora no distantes do centro,
preferiam um certo distanciamento dessa rea
ruidosa. O crescimento desses empreendimentos
voltados para a classe mdia-alta foi possvel, quando
o coeficiente de aproveitamento era de 15 vezes a
rea dos terrenos. (ver figura 9)
O mercado atendeu preferncia da classe mdia-
alta em morar em edifcios, no s pelo status
social que isso proporcionava, como tambm pela
segurana e por estar prxima ao comrcio, servios
e equipamentos comunitrios (instalaes pblicas
destinadas educao, cultura, sade, esporte e
lazer). Por outro lado, a desvalorizao do Real (1999)
e, mesmo antes disso, a falncia de construtoras
prejudicou o setor e muitos prdios em construo
ficaram inacabados, sendo retomado o acabamento
pelos prprios condminos. Esses prdios esto
sendo vendidos em funo da grande oferta de
condomnios horizontais fechados nas periferias e
prximos de reas verdes e de lazer.
O shopping center, construdo em 1989, localizado
em rea perifrica, (prxima Via Anhanguera),
faliu e, consequentemente, o comrcio e servios
se intensificaram na rea central, expandindo-se
consideravelmente, com um grande montante de
lojas em seus diversos tipos, gerando um intenso
fluxo pela maioria das ruas.
Os assentamentos lindeiros
O incio da disperso urbana marca o Terceiro Perodo
(1938 a 1950). Na dcada de 1930 comearam a
implantar os primeiros loteamentos residenciais e as
grandes propriedades foram divididas transformando-
se em chcaras das famlias proprietrias. A cidade
de Limeira deixa de lado seu traado geomtrico em
xadrez inicial e passa a formar pedaos desconexos
de tecido. Os assentamentos implantados entre as
dcadas de 1940 e 1960, no tm uma histria
registrada, como o caso das Vilas Primavera,
Castelar, Anita, Conceio e Narcisa. O que sabemos
Figura 9: Incio da verticaliza-o de prdios residenciais na rea central, dcada de 1980. Fonte: Foto do Acervo pesso-al Emiliano Bernardes.
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por relatos de moradores antigos da regio que
seguiram em continuidade da rea central, sendo
aos poucos parcelados, sem a infraestrutura bsica
(que chegou aps 1950); primeiramente, no eixo, a
atual rua Dr.Trajano de Barros Camargo e, alguns
anos depois, para os bairros vizinhos. O servio de
abastecimento de gua no tinha tratamento e as
guas vinham sujas direto da represa do Cascalho,
fonte de abastecimento no perodo. O esgoto era
lanado diretamente no Ribeiro Tatu e isso acontece
at os dias atuais.
As edificaes eram construdas em ruas de terra
que tambm eram abertas, conforme aconteciam
alguns desmembramentos; portanto, quando as
vias eram pavimentadas, muitas das casas ficavam
muito abaixo ou acima do nvel da rua. As larguras de
caladas eram definidas literalmente a passos, para
definio do espao pblico, no caso das caladas,
e do privado, no caso dos lotes. Isso demonstra que
a municipalidade no tinha ainda uma preocupao
com o planejamento urbano.
A primeira lei municipal se d no incio do quarto
perodo histrico (1951 a 1970), quando se inicia
a expanso da urbanizao, grande parte em
funo do crescimento industrial. institudo o
Cdigo de Obras Lei n217/51 que dispunha como
regras urbansticas a conservao dos passeios
pelo proprietrio e a construo de poos e fossas
spticas, quando na via ainda no haviam chegado
as redes de abastecimento de gua e de coleta de
esgoto. Deveriam ser feitas segundo especificaes
estabelecidas pelo poder pblico.
O Jardim Santana foi implantado no ano de 1968,
seguindo semelhantes caractersticas dos loteamentos
dos anteriores com um diferencial. H nele uma
rotatria e uma via que aos poucos foi atraindo o
mercado, pequenas lojas de roupa, farmcia, os
pequenos servios locais e onde a concentrao de
veculos e pessoas mais intensa.
J no perodo sucessivo, o quinto (1971 a 1980),
a cidade passa por forte processo de urbanizao.
Somente na via Rio Claro (eixo estruturador de
anlise) temos a implantao de sete loteamentos.
A cidade deu-se conta de seu significativo
desenvolvimento e de sua importncia no cenrio
regional criando o Plano Local de Desenvolvimento
Integrado juntamente com a EMDEL (Empresa de
Desenvolvimento de Limeira) com finalidade de
promover desenvolvimento e ordenar o crescimento
da cidade, executando obras de infra-estrutura
bsica e incentivando a vinda de indstrias e
disciplinando suas instalaes. Isso gerou nova
migrao para a cidade e uma grande procura
por habitao. Esse dficit propiciou, por parte
dos empreendedores imobilirios, a criao de
novos loteamentos.
A Vila Ferreira, que se compe de apenas dois
quarteires, um loteamento implantado
no final da dcada de 1970, segundo o mapa
de evoluo urbana, fornecido pela Prefeitura
Municipal. Porm em pesquisa mais detalhada,
verificamos que no h registro e nem processo de
loteamento dessa rea. Muito provvel que tenha
sido fruto de desmembramentos e que esteja em
irregularidade.
O Jardim Vanessa e o Jardim So Rafael, apesar
de se apresentarem como loteamentos distintos e
implantados em perodos diferentes, respectivamente
em 1966 e em 1979, tm como caracterstica um
desenho nico, o que parece ter sido feito pelo
mesmo empreendedor, ou loteador. No caso de
loteadores diferentes houve apenas a sequncia
do desenho de quadras, lotes e vias. A rea era de
uma nica famlia que comeou a vender partes de
suas glebas para serem loteadas.
So loteamentos voltados para a classe de baixa
renda e, por estarem mais distantes da malha urbana,
podem ter recebido a infraestrutura de gua e esgoto
mais tardiamente. Quanto ao transporte pblico,
h a presena de apenas uma linha de nibus,
que isola esses bairros do restante da cidade, dos
equipamentos e servios urbanos.
Nesse perodo a lei n1212/70 regulamentava o uso e
ocupao do solo, porm no oferecia nenhuma regra
especfica para loteamentos. Apenas citava sobre a
colocao de guias e sarjetas, dimenses de quadras e
vias. O loteador, pela lei municipal, no tinha nenhuma
restrio quanto ao parcelamento urbano, pois no
havia para ele obrigaes quanto ao fornecimento
da infraestrutura ou destinao de rea para o poder
pblico como as verdes e institucionais.
Foi um perodo em que a evoluo dos parcelamentos
do solo urbano aconteceu de modo desordenado,
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A via Rio Claro e a produo da cidade de Limeira
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ocorrendo grande especulao imobiliria. As
exigncias submetidas no refletiam a preservao
de espaos comunitrios nem se preocupavam
com a distribuio espacial de reas. Isso pode ser
verificado hoje pela distribuio sem uniformidade
das quadras, vias de circulao, com entroncamentos
irregulares e at mesmo sem sadas.
A partir de 1978, em funo do Decreto Estadual n
12.342 de 27/09/1978, que dispe sobre normas de
promoo, preservao e recuperao da sade no
campo de competncia da Secretaria de Estado de
Sade (Cdigo Sanitrio), Lei Municipal 1642/1978 e,
especialmente da Lei federal n 6766 de 19/12/1979,
publicada no Dirio Oficial da Unio em 20/12/1979,
que dispe sobre o parcelamento do solo urbano, os
loteamentos sofreram grande impacto, disciplinando
o uso e ocupao do solo e, por consequncia, a
diminuio da especulao imobiliria.
Como visto, todos os loteamentos originados at 1978,
como o caso da maioria dos loteamentos da rea
de estudo, no tinham nenhuma obrigao quanto
qualidade do tecido urbano, tanto da infraestrutura,
quanto da destinao de rea verdes e institucionais
que possibilitariam a oferta de escolas, postos de
sade, entre outros equipamentos urbanos.
A qualidade no tocante rede de gua, esgoto,
pavimentao, iluminao pblica e reas verdes
ajardinadas, faz-se mais presentes nos bairros
destinados classe mdia-alta. Quanto aos
equipamentos coletivos, como transporte pblico,
escolas e postos de sade, no se encontram nesses
loteamentos, por estarem destinados a uma classe
que utiliza o automvel para locomoo no acesso
s escolas e servios especializados.
O Jardim Aqurius foi um loteamento implantado
no ano de 1973, do Proprietrio Evaldo Buzolin
(Proprietrio da Indstria de Calados Buzolin -
atualmente vendida e desativada). Da grande gleba,
uma parte foi loteada e a outra serviu de espao
para a construo da nova sede da Indstria. Foi
adquirida em 1972 uma rea de 21.152,00m2
do antigo proprietrio Everaldo de Barros Ferreira
e Eglantina de Barros Ferreira (descendente das
tradicionais famlias Barros e Camargo).
Segundo consta, no processo do loteamento a
configurao produtiva imobiliria se organizou da
seguinte forma: o proprietrio da gleba contratou
a Contempornea Arquitetura Engenharia e
Construo Civil LTDA, empresa de projetos e
loteamentos, atravs do arquiteto e urbanista Jos
Manuel Levy, para elaborar e executar o projeto.
No empreendimento destinado para classe mdia
e principalmente de alta renda, configuraram-se
grandes lotes e construes trreas e sobrados, com
grande presena de reas ajardinadas voltadas para
o prprio bairro.
Compe um desenho de quadras em ala que
permite uma maior privacidade para os moradores
e propiciam via com dimenso menor que 10,00
metros, um trfego de velocidades reduzidas,
privilegiando o pedestre. O desenho por sua fora
restringe a circulao de pedestres e veculos no
pertencentes ao local. A localizao do sistema
de recreio destinado por esse loteamento aparece
isolada da configurao do bairro sem nenhuma
benfeitoria.
O loteamento Parque So Bento foi um
empreendimento da EMDEL8 (Empresa de
Desenvolvimento de Limeira S/A) implantado nos
anos 70, porm foi transformado em condomnio
fechado nos anos 90, como veremos no perodo
seguinte. A origem do loteamento vem de
desmembramento da antiga Fazenda So Bento.
Da configurao produtiva imobiliria, temos a
figura do poder pblico, enquanto promotora e
proprietria da gleba, e a contratao do arquiteto
Zenon Lotufo para o projeto do loteamento (figura
10). Os lotes tm frente superior a 10,00m e rea
superior a 250,00 m, confirmando o destino do
empreendimento para o alto padro de renda. O
desenho das quadras e vias em cul-de-sac de trfego
local sem intensidade e caladas verdes e ajardinadas,
valorizam a tranqilidade e o espao dos pedestres
para caminhadas e lazer. No caso desse loteamento,
a associao de bairro criou um bosque (arboreto)
nas reas verdes, para uso esportivo, festas de
bairro e contemplativo, que permitem um espao
de convivncia social.
O Jardim Santo Andr nasceu da iniciativa dos
herdeiros de Andr de Felice. Segundo documentos
do processo do loteamento, consta que os herdeiros
contrataram o Engenheiro Civil Carlos Eduardo
Pompeu da empresa Contempornea para a
elaborao do projeto urbanstico. A proposta
8 A EMDEL foi constituda atravs da Lei municipal n 1405 de 21/12/1973, socie-dade de economia mista por aes, com a participao majoritria da Prefeitura Mu-nicipal de Limeira. A empresa foi criada com a finalidade de executar programas de de-senvolvimento de reas urba-nas no municpio de Limeira, execuo de programas de recuperao de reas urbanas em deteriorao ou carente de recursos, de equipamentos bsicos, e execuo de pro-gramas de desenvolvimento industrial do municpio. Em 13/04/2005, entendendo a municipalidade que, embora a EMDEL tivesse prestado excelentes servios, j no cumpria mais seu objetivo estatutrio, promulgando-se a Lei Municipal n 3895, objetivando a extino da empresa.
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apresentou um tecido qualitativo quanto ao desenho
das quadras e sistema de avenidas e canteiros
arborizados, convergindo para uma quadra maior
no centro do loteamento de uso institucional. um
loteamento voltado para a classe mdia, em que o
comrcio local se encontra disperso, com a presena
maior de mercado, bar e padaria em sua avenida
de entrada, utilizada no somente por moradores,
mas tambm pelos moradores dos condomnios
fechados prximos a ele.
O Jardim Brasil foi um loteamento implantado
aps o Jd. Santo Andr, seguindo seus padres
urbansticos de quadras e vias, unificando os
loteamentos, e proporcionando maior qualidade
ao tecido urbano.
O Stimo Perodo (1991 a 2000), o ltimo da anlise,
corresponde fase dos condomnios. A grande
maioria dos loteamentos voltados mdia e alta
renda se transformou em condomnios fechados.
O Parque So Bento (figura 11), citado acima,
o primeiro exemplo de loteamento a fechar seus
limites com cercas e grades.
Um fato interessante a histria do Parque
Centreville (figura 11). Foi um loteamento de
iniciativa privada que, para implantao do projeto,
recebeu, em 1976, recursos da Caixa Econmica
Estadual. Contava com projeto urbanstico
semelhante aos moldes dos Alphavilles em So
Paulo, com reas residenciais, lotes urbanizados e
a construo de moradias, hotel, rea comercial e
shopping center, como um bairro auto-suficiente.
Da configurao produtiva imobiliria temos
como empreendedora inicial a EMDEL que passou
por escritura pblica a propriedade de terras, os
direitos e obrigaes decorrentes da incorporao
do empreendimento denominado Centreville
Limeira para a Centreville Limeira Ltda, sociedade
civil, com sede em Limeira e em fase de organizao
naquela poca.
Aproximadamente um ano aps o seu incio, as
obras foram paralisadas por problemas financeiros
e, at o incio do ano de 1990, grande parte do
empreendimento ficou ocioso, com a construo
apenas do Novo Hotel (hoje Carlton Hotel) na
rea acima do loteamento. A Caixa Econmica
judicialmente assumiu a parte do empreendimento
que se destinava no projeto rea residencial,
concluindo e comercializando os lotes, passando para
os compradores a responsabilidade da regularizao
das construes existentes, com a Prefeitura
Municipal, o I.N.S.S. e o Cartrio de Registro de
Imveis. O loteamento foi aprovado e recebeu o
nome de Jardim Monsenhor Rossi.
Atualmente o loteamento regularizado configura-
se como um condomnio fechado, constando
em seu interior rea institucional ociosa e reas
verdes com a construo de parque infantil e de
Figura 10: Anncio de venda de lotes do Parque So Bento. Fonte: Queiroz, 2007
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Figura 11: Parque So Ben-to e Jd. Monsenhor Rossi (Centreville o nome mais conhecido do bairro). Ambos condomnios fechados. Fon-te: Acervo da autora.
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lazer. As ruas tm caractersticas de fluxo local e
dimenso inferior a 10,00 metros. Os moradores
de mdia-alta renda, assim como os do loteamento
Pq. So Bento utilizam o automvel para fazer
suas compras ou utilizao de servios em outros
bairros, ou no centro.
O Parque Residencial Roland um loteamento
fechado, de iniciativa privada aprovado no ano de
2003. Da configurao produtiva imobiliria, sabe-se
que foi realizado o parcelamento dos lotes, infra-
estrutura bsica e destinao de reas obedecendo
legislao vigente Lei n 212/99. Seu desenho
de quadras e vias est voltado para uma rea
central.
Quanto ao grau de autonomia dos bairros em
relao qualidade dos servios e equipamentos
pblicos, obviamente a rea central est mais
equipada que os demais loteamentos da rea
de estudo. Assim, percebemos o quanto so
importantes nessas anlises as questes ligadas
intensidade e o tipo de trfego de veculos;
a interao social e a segurana esto sendo
esquecidas no ambiente da cidade, fazendo as
pessoas se fecharem cada vez mais em suas casas
ou em condomnios fechados. A qualidade de
vida se atm no s ao espao pblico, mas com
mais intensidade no interior do ambiente privado
(considerando no somente os lotes, mas tambm
os condomnios como um sistema privado onde o
acesso controlado.
Consideraes finais
Limeira uma cidade pobre e, ao mesmo tempo,
rica em termos da qualidade do seu tecido urbano.
Pobre porque ainda est caminhando num
planejamento a passos lentos, e rica no sentido
de que ainda no se chegou a uma situao
crtica, pois h condies de se mobilizar para
melhoramentos nos bairros, e qualidade scio-
ambiental no seu sentido pleno, na diversidade
e qualidade do morar na cidade.
Espera-se que os rgos governamentais se
conscientizem em utilizar mais instrumentos tcnicos
e menos polticos, sob pena de verem crescer as
desigualdades sociais, enquanto o capital imobilirio
e interesses particulares se apropriam dos destinos
da cidade.
A pesquisa nos permitiu entender o processo inicial
de formao da cidade, atravs das trocas e relaes
sociais e econmicas. Com essa lgica, fica mais
fcil pensar nas transformaes das cidades no
decorrer dos perodos histricos e a estruturao dos
territrios, desde o perodo colonial brasileiro. Interesses
econmicos sempre movem uma ao no espao;
por isso, temos diferentes vertentes de estudo que
tentam vislumbrar um maior nmero de descobertas
sobre essas relaes e como elas se refletem no
espao. Esses estudos que foram desenvolvidos no
Brasil, ou mesmo no exterior, ajudam-nos a melhorar
as metodologias e formas de encarar novas relaes
sociais, econmicas, polticas, culturais, que vo se
alterando mais lentamente at o final do sculo XIX
e velozmente a partir do sculo XX.
O resgate da histria da cidade se d graas a
Sociedade Pr-Memria de Limeira, que rene
em seus livros memrias mais antigas do perodo
inicial da cidade. Houve perodos em que somente
por meio de jornais, cartrios e relatos foi possvel
resgat-los. Nos perodos da intensa industrializao,
obtivemos maiores dados, porm, dos anos de 1990
atualidade, ficamos novamente com poucos
registros fotogrficos e documentais. Foi preciso
reunir e documentar as fontes, organizando e
reelaborando uma pequena base para novos
estudos que podero se realizar. Muitas foram
as fontes de pesquisa, porm grande parte da
histria foi eliminada por incndio, ou simplesmente
desapareceu.
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