A topologia do sujeito e sua errância

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A topologia do sujeito e sua errância Aurelio Souza Quero agradecer de início a Marc Darmon pelo convite para participar dessa a Jornada sobre a topologia impertinente de Lacan e à Marie Christine pela ajuda que pode dar na tradução. Na psicanálise, não se pode olhar direto para a lingüística, a filosofia, nem mesmo para as matemáticas ou a topologia. Só se pode fazê-lo através de filtros. Isto é, utilizando-se de uma lógica elástica ou fazendo um tipo de leitura em diagonal , algo que já é conhecido dos próprios matemáticos. Lacan, tendo se aproximado do estruturalismo, procurou ler com o simbólico o imaginário dos textos de Freud, identificando aí, uma prática sustentada no efeito do significante. Nesta oportunidade, valorizando o campo da linguagem e a função da fala passou a interrogar a noção de estrutura e a estabelecer uma aproximação formal entre certos mecanismos lingüísticos e as leis que passariam a reger o funcionamento do inconsciente. Além disso, procurou formalizar o discurso analítico com esquemas, grafos, matemas e mesmo com a topologia dos objetos de superfície e, mais tarde, com a topologia da cadeia borromeana. Através de uma leitura de Saussure, concebeu a noção de estrutura como um sistema de elementos covariante e definiu o “inconsciente estruturado como uma linguagem”. Mesmo utilizando-se de instrumentos relacionados à lingüística, ele não deixou de seguir um caminho que o distanciasse dela. Assim, em oposição à teoria do signo, desenvolveu uma prioridade ao significante. Quando se referiu à pura diferença que existia no sistema linguageiro, não a manteve implicada a uma oposição primária de um elemento a outro; ele supôs, de início, a presença de um conjunto finito de elementos em seu sistema, os significantes, e que, para que este sistema tivesse consistência, um de seus elementos deveria ser excluído do conjunto.

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A topologia do sujeito e sua errância

Aurelio Souza

Quero agradecer de início a Marc Darmon pelo convite para participar dessa a Jornada sobre a topologia impertinente de Lacan e à Marie Christine pela ajuda que pode dar na tradução.

Na psicanálise, não se pode olhar direto para a lingüística, a filosofia, nem mesmo para as matemáticas ou a topologia. Só se pode fazê-lo através de filtros. Isto é, utilizando-se de uma lógica elástica ou fazendo um tipo de leitura em diagonal, algo que já é conhecido dos próprios matemáticos.

Lacan, tendo se aproximado do estruturalismo, procurou ler com o simbólico o imaginário dos textos de Freud, identificando aí, uma prática sustentada no efeito do significante. Nesta oportunidade, valorizando o campo da linguagem e a função da fala passou a interrogar a noção de estrutura e a estabelecer uma aproximação formal entre certos mecanismos lingüísticos e as leis que passariam a reger o funcionamento do inconsciente. Além disso, procurou formalizar o discurso analítico com esquemas, grafos, matemas e mesmo com a topologia dos objetos de superfície e, mais tarde, com a topologia da cadeia borromeana.

Através de uma leitura de Saussure, concebeu a noção de estrutura como um sistema de elementos covariante e definiu o “inconsciente estruturado como uma linguagem”. Mesmo utilizando-se de instrumentos relacionados à lingüística, ele não deixou de seguir um caminho que o distanciasse dela. Assim, em oposição à teoria do signo, desenvolveu uma prioridade ao significante. Quando se referiu à pura diferença que existia no sistema linguageiro, não a manteve implicada a uma oposição primária de um elemento a outro; ele supôs, de início, a presença de um conjunto finito de elementos em seu sistema, os significantes, e que, para que este sistema tivesse consistência, um de seus elementos deveria ser excluído do conjunto.

Essa exclusão de um elemento do sistema passaria a determinar a presença de “ao menos um” elemento fora da estrutura, que viria a ser matemizado por S(Abarrado). Isso queria dizer que faltaria um significante no campo do grande Outro. Em contrapartida, a expulsão desse elemento do conjunto inicial, daria lugar à presença desse significante como mais UM, um significante-mestre (S1) que representaria o sujeito para um outro significante (S2).

Para escrever os grafos e os matemas, a topologia dos objetos de superfície e, mais tarde, aquela da cadeia borromeana, Lacan necessitou das matemáticas, pois suas escrituras e operações literais passavam a se constituir em condições privilegiadas de efetuação do real. Todavia, desde quando o real passava a concernir à psicanálise, e que o discurso do analista se constituía numa torsão do discurso do mestre, estas escrituras deveriam sempre levar em conta a função do sujeito e ainda guardar uma implicação com as diferentes consistências do corpo.

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Desta maneira, essa dimansão 1 do real, a partir de certo momento, nunca mais deixou de não interrogar á Lacan. Por isso mesmo, o que ele havia dito no início sobre o real e mesmo de outros fundamentos da psicanálise, nem sempre se manteve da mesma maneira. Suas idéias se transformavam e ele chegou mesmo a afirmar que seu ensino só poderia ser esclarecido “numa volta sobre si mesmo”, evocando um enunciado que dizia respeito traçado do oito interior da fita de Moebius. Um objeto que revelava uma estrutura muito mais apropriada do que a antiga esfera para responder pelo que se propõe ao sujeito como dentro e fora. 2

A esfera quando passa por uma transformação topológica contínua e pode ficar reduzida a um ponto, ela deixa de contemplar as diferentes funções da falta - a privação, a frustração e a castração – e, sobretudo, a noção de buraco que passou a fundamentar a própria constituição do sujeito do inconsciente. Desta maneira, Lacan se afastava da idéia tradicional de representar o sujeito e seu in-mundo por uma esfera, esta figura ideal do espaço euclidiano.

Logo cedo, em seu ensino, para dar conta desta noção de buraco que a intuição e mesmo a doxa não podem resolver, Lacan enuncia durante o seminário da Identificação (Sem. IX) “uma era dos pressentimentos”, para introduzir o campo da topologia na psicanálise. De início, através dos objetos de superfície - o toro, a fita de Moebius, o cross-cap e a garrafa de Klein – e, posteriormente, com a cadeia borromeana.

A topologia, que chegou a ser definida por Lacan como “um dizer matemático”, vinha sustentar o lugar do real, que se presentificava na interface entre o discurso analítico e o discurso das ciências. Todavia, para não confundir o real da psicanálise com aquele das ciências, ele não parou de não afirmar que o lugar de onde falava era a partir de sua prática clínica que se fundamentava nos efeitos causados pelo real.

O ESPAÇO E A GEOMETRIA

Desde a origem dos tempos que o humano tratou de produzir conhecimentos sobre o que lhe acontecia, relacionando-os aos objetos que faziam parte de sua existência. Estes objetos à medida que iam sendo apreendidos por seus tamanhos, suas formas ou mesmo pelas diferentes posições que ocupavam no espaço, produzia-se um conhecimento em torno deles, fornecendo variadas significações ao mundo das percepções. A partir daí, inventaram-se instrumentos que passavam a auxiliar certas necessidades do humano, como medir as distâncias, delimitar os espaços e mesmo levantar áreas de proteção.

Estas descobertas foram ocorrendo de uma maneira bastante empírica. Muitas vezes utilizava-se de partes do corpo ou do deslocamento das sombras dos objetos na superfície da terra para funcionar como padrões de medida, determinando uma transformação essencial na teoria do conhecimento. Todavia, o que ia sendo revelado ia se tornando cada vez mais abstrato, proporcionando a construção de uma série de conceitos ideais, como a noção de ponto, de linha reta, de plano e da própria teoria de

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medida. A produção e a sistematização destes conhecimentos passaram a ser incorporados como modelos fundamentais para explicar as dimensões de nosso mundo físico, dando origem ao que se nomeou de Geometria.

Talvez se possa considerar que uma das obras que mais tenha influenciado o pensamento humano em torno destas questões tenha sido aquela escrita por Euclides de Alexandria. Ainda hoje, quando se quer fazer qualquer comentário sobre o mundo físico ou do espaço onde o humano habita e se movimenta, levando-se em conta as noções de medida (as distâncias, o comprimento, os ângulos...) se está sempre fazendo alusão a esta contribuição de Euclides.

A geometria euclidiana, portanto, desde que mantenha algumas características bem definidas, ela vem se constituir, de um ponto de vista imaginário, na melhor referência para dar conta de nosso espaço comum. Nesse espaço euclidiano, quando se quer saber se dois corpos são iguais, ou como é mais adequado falar, equivalentes, vai depender de que se possa fazer coincidir as medidas de um objeto com aquelas do outro no qual ele se transforma através de movimentos rígidos de rotação e translação, ou mesmo numa combinação dos dois. Esta referência alude aos corpos rígidos, estes que não sofrem qualquer modificação de suas propriedades métricas (tamanho, forma, ângulos...) quando se movimentam no espaço. Por isso mesmo, o estudo destas propriedades que permanecem constantes quando estes corpos rígidos se deslocam em nosso espaço cotidiano vem definir o que se nomeia de geometria plana ou euclidiana.

Deve-se considerar, no entanto, que ao se tratar de espaços muito reduzidos, como os espaços atômicos, ou de grandes espaços, como o espaço cósmico, a geometria euclidiana não dá conta. Será necessário se levar em conta uma outra geometria, onde as medidas mesmo que ainda possam guardar alguma importância dever-se-ia realizar outros tipos de projeção, que não a projeção plana. Aqui, para que uma figura possa se tornar equivalente a uma outra, não é essencial a permanência destas dimensões métricas dos objetos, mas que se leve em conta sua forma e que se possa realizar uma projeção através de uma série de linhas retas. Neste caso, pode-se mesmo estabelecer uma proporção entre estas duas figuras ou mesmo se encontrar a razão de uma proporção entre elas. Esta transformação projetiva deu origem à geometria das qualidades ou como também é chamada, geometria linear ou projetiva.

Existe ainda uma terceira possibilidade para se produzir a transformação de um objeto em outro. Trata-se de uma condição em que as propriedades métricas e projetivas ficam inteiramente suprimidas, só se levando em conta uma relação de continuidade entre o objeto inicial e o final. Assim, para que dois objetos ou duas figuras sejam considerados equivalentes, não importam seus tamanhos ou formas, mas a condição de que esta transformação seja realizada através de uma deformação contínua de um objeto ao outro. Neste caso, os pontos vizinhos que existem num determinado objeto, mantêm as mesmas relações de vizinhança após a transformação ter sido realizada. Não importa que sejam retas, ângulos, curvas, circunferências... o que é preciso considerar, é que exista uma continuidade do espaço ou que a transformação seja contínua.

Neste caso, o objeto mesmo sofrendo uma deformação radical, ele manterá certas propriedades inalteradas. Elas não se modificam ainda que o espaço se deforme ou quando o objeto se transforma. Estas propriedades passam a ser nomeadas deinvariantes topológicos.

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Aqui, vou acrescentar um outro tipo de invariante topológico que interessa à psicanálise e que foi identificado a partir do teorema de Jordan. Toda superfície conexa, como um plano, uma circunferência, um conjunto finito de pontos ou de números e para nosso uso, a própria estrutura da linguagem, quando se corta qualquer uma delas com uma linha de percurso fechado (curva de Jordan), o espaço se divide em duas regiões distintas, em dois campos heterogêneos que não mantêm qualquer ponto em comum: um equivalente a um disco que determina um espaço fechado (o interior) e um outro, um espaço aberto que se torna equivalente ao exterior.

Desta maneira, o limite que se constitui no ponto do corte ficará sempre ligado a um dos lados, delimitando um espaço fechado, equivalente a um interior. O outro lado, por sua vez, permanecerá aberto, configurando o que se pode chamar de um espaço exterior, onde passa a existir uma série infinita de elementos, de pontos ou de números; um espaço que tende a convergir em direção ao limite do corte, sem jamais conseguir alcançá-lo.

O estudo destas transformações contínuas ocorridas no espaço e que são produzidas pelas modificações do objeto vai constituir o que se nomeia de Topologia.

Neste espaço topológico sempre que se quer determinar a equivalência ou a diferença dos objetos que estão aí localizados deve-se recorrer a certos tipos de invariantes topológicos: as relações de oposição dos objetos no espaço, se dextrógiro ou levógiro, ao número de bordas, de faces, ao número de buracos que contêm, aos cruzamentos, ou mesmo à impossibilidade de se passar geometricamente de um lugar a outro, quando o objeto está localizado em nosso espaço comum.

Se de Aristóteles à Kant existem duas grandes concepções sobre a noção de espaço, aqui, vou considerar a possibilidade de uma terceira concepção que pode ser inferida a partir das idéias de Freud e da leitura de Lacan.

Para Freud, ele se referiu a um espaço psíquico, que aparece desde cedo como um lugar ideal, e que é tomado como uma analogia do aparelho psíquico. Mais tarde, vai concebê-lo diferente da estética kantiana e próximo ao espaço topológico, isto é, como “uma projeção da extensão do aparelho psíquico”. 3

Lacan, por sua vez, quando retornou a Freud, acrescentou sua parte. Mesmo que ele tenha levado em consideração que a topologia poderia definir, de uma maneira rigorosa, o estudo do espaço a partir das relações de vizinhança, dos limites e das propriedades que permanecem inalteradas nos objetos quando situados num espaço de n dimensões, ele procurou estabelecer algo que fosse próprio ao “sujeito como tal”.

Lacan procurou dar ao espaço a condição de uma “realidade operatória da topologia” e que pudesse servir para interrogar o sofrimento do sujeito como um efeito do real. Assim, o espaço não era dado como uma condição à priori, mas era construído e transformado a partir das palavras, dos traços e, sobretudo, das letras, seguindo um ato de escritura. Talvez, por isso mesmo, ele não tenha se interessado pela topologia por sua complexidade, mas por sua vertente geométrica, onde se contemplaria sua simplicidade. Ele chegou a se referir de que se a utilizasse de uma forma “besta”.

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Desta maneira, fundamentado por suas propriedades qualitativas, essa nova concepção do espaço passava a sustentar os efeitos do significante.

LACAN E A TOPOLOGIA

Para dar conta deste efeito do significante, Lacan utilizou-se de início dos objetos topológicos de superfície (o Toro, a Fita de Moebius, a Garrafa de Klein, o Cross-cap), como um tipo de representação operativa para o sujeito, com que procurava realizar leituras analógicas do discurso analítico. Buscava representar com eles as operações que se sucediam no curso de uma análise em intenção.

Desde o Discurso de Roma, quando levantou sua tese sobre o automatismo de repetição e implicando o nascimento do sujeito às figuras da morte, ele afirmava: “Dizer que esse sentido mortal revela na palavra um centro exterior à linguagem é mais do que uma metáfora e manifesta uma estrutura. Esta estrutura é diferente da espacialização da circunferência ou da esfera em que alguém se compraz em esquematizar os limites do ser vivo e de seu meio: ela responde talvez a este grupo relacional que a lógica simbólica designa topologicamente como um anel. [...] Para lhe querer dar uma representação intuitiva, parece que mais que a superficialidade de uma zona, é a forma tridimensional de um toro que precisaria recorrer, porquanto que sua exterioridade periférica e sua exterioridade central não constituem senão uma só região”. 4

Enquanto as revoluções do anel gerador do Toro metaforizavam os cortes do significante e as repetições que vêm representar uma demanda, ao mesmo tempo elas circunscrevem e instituem um lugar, um buraco onde se localiza o objeto (a). Estafunção do buraco que organiza a superfície do Toro e faz vir ao mundo o efeito do significante, 5 aparece também no círculo central do Toro, guardando uma mesma natureza do vazio que rodeia sua exterioridade periférica.

Esta condição tem servido à Lacan para fundar a estrutura, para dar lugar ao nascimento do sujeito e ainda dialetizar as relações entre a demanda e o desejo. Assim, o sujeito quando dá uma volta completa pela superfície do Toro integra neste único percurso as propriedades das duas outras voltas que o constitui: a do círculo pleno e a do círculo vazio. Nesta volta a mais, que em sua forma simplificada corresponde ao traçado do oito interior de uma fita de Moebius, passa a ter uma propriedade equivalente à própria estrutura do sujeito que passa a se constituir numa condição impossível a ser subjetivada.

Esta volta a mais e a própria ex-sistência do sujeito só podem ser contabilizadas pela intermediação do Outro. Este fato de estrutura cria a exigência lógica de um Toro complementar que se encadeia ao primeiro, numa posição determinada em que o buraco central de um dos toros fica ocupado pela espessura do outro e vice versa. Desta maneira, o círculo do desejo do sujeito vem se constituir no círculo da demanda do Outro. Esta união mostra a relação do sujeito com o Outro real da linguagem, como também metaforiza a posição subjetiva do sujeito neurótico.

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Mais tarde, com a topologia da cadeia borromeana, Lacan procurou realizar efeitos de mostração do real, tratando de escrever aquilo que do real ex-siste, na experiência analítica. A Topologia vinha conceber um novo espaço para a psicanálise, subvertendo também a noção dos limites e das quantidades.

Aqui, talvez não seja excessivo se colocar uma questão. A partir da topologia dos objetos e, mais tarde, com a cadeia borromeana, o que Lacan encontrou na superfície para que lhe tenha atribuído o estatuto de estrutura?

Não importa que uma superfície seja diferente de uma linha ou mesmo de um corpo, que seja colorida ou enrugada, ou mesmo que intuitivamente divida o espaço. O que importa é que nela se possa traçar ou inscrever algo, 6 produzindo-se essa noção de corte, que é essencial à psicanálise. À medida que a superfície se apresenta como suporte para uma escritura, ela adquire o estatuto de estrutura. Vou insistir sobre este ponto para afirmar que o Toro quando se constitui como suporte da inscrição do significante em sua superfície, o que é equivalente a uma operação de corte, ele vem sustentar a noção de estrutura e da própria função do sujeito. Essa propriedade topológica permitiu à Lacan conceber o sujeito como um “sujeito de superfície” que tem sua estrutura definida pelo Toro.

Assim, esse suposto sujeito do inconsciente passava a se metaforizar num ser “infinitamente plano” (expressão de Poincaré) que se funda a partir de uma superfície sobre a qual opera um efeito do significante. 7

A partir de sua prática clínica e com a manipulação dos diferentes objetos de superfície, Lacan foi atribuindo ao real uma condição privilegiada para o discurso analítico. Este fato exigia um novo giro para redefinir a noção de estrutura.

Se Lacan, na leitura inicial que fez com o simbólico do imaginário dos textos de Freud, concebeu o campo da linguagem como um sistema de elementos covariantes e que matemizou pela relação [S1 - S2], a partir da lógica matemática e da teoria dos conjuntos, ele foi buscar o axioma do par ordenado para redefinir a noção de estrutura. 8

Através deste axioma, a estrutura da linguagem passava a ser concebida a partir de um conjunto de dois elementos (S1, S2), que para ser escrito deveria obedecer a uma ordem. Enquanto que o primeiro subconjunto correspondia ao significante primeiro (S1), esse UM que não pára de não insistir em representar o sujeito, o segundo subconjunto deixa de ser simplesmente (S2), para vir se constituir na conexão (S1  S2); uma condição que guarda uma implicação lógica em que passa a existir uma inclusão do primeiro elemento no segundo. Assim, para esta relação inicial, pode-se passar a escrever uma conexão {S1, S2}   {{S1}, {S1  S2}}.

Ou ainda, se poderá substituir o significante (S2), pela conexão que lhe corresponde. Portanto, a partir do par ordenado pode-se inscrever {S1, S2}   {S1},  {S1  {S1 {S1 ... S2}}}. 9

Anteriormente, na definição canônica do sujeito de ser “representado por um significante para outro significante” o que foi considerado era a relação dos dois significantes. Agora, a partir do axioma do par ordenado, o que é contemplado é o

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Outro significante, que não só se duplica como alteridade radical em relação ao significante primeiro, como passa a se constituir na própria conexão (S1 … S2).

Nesta escritura do par ordenado, esse deslocamento de (S2) guarda uma posição lógica de que jamais poderá ser alcançado, passando a se constituir, na topologia, como uma condição equivalente à noção de um buraco. Assim, desde quando esse Outro significante jamais poderá ser alcançado pelo primeiro, por mais longe que se vá, o grande Outro passa a conter um buraco em sua estrutura.

Esta incompletude que passa a existir no Outro, Lacan também vai tratá-la através de um axioma. Se anteriormente essa condição da incompletude do Saber inconsciente pôde ser definida a partir da falta de um significante, agora esse buraco que existe no Outro tem uma consistência do real e passa a ser chamado de pequeno (a). Dito de outra maneira, esse buraco que existe no lugar do “outro significante” toma a forma de pequeno (a), é em-forma de pequeno (a). Esta condição, portanto, sugere que o Saber inconsciente, que se matemiza nesta conexão S1  S2, passa a conter também esta mesma incompletude em sua estrutura. Existe, assim, uma impossibilidade lógica deste Saber ser “todo” apreendido, já que o Outro não é completo, nem identificável a um UM. 10

Como me referi acima, esse buraco que tem uma consistência do real, cada vez que de um ponto de vista imaginário se pretende preenchê-lo, o objeto que é pensado para isso não pode satisfazê-lo, pois se trata de outra coisa, “não é isso” (ce n’est pas ça) de que se trata.

Desta maneira, se a conexão (S1… S2) torna-se equivalente ao grande Outro em-forma de pequeno (a), então ela pode também ser escrita de uma outra maneira: {S1, S2}   {S1},  {S1  {S1 {S1 ... a}}}.

A topologia do Outro em-forma de pequeno (a) vem determinar a posição do sujeito num lugar exterior ao Outro, numa exterioridade que tem relação com a própria topologia. Na psicanálise em intenção, enquanto o objeto (a) passa a se constituir na própria estrutura topológica do Outro, a linguagem deixa de ser concebida só como uma superfície e passa a ser olhada também como forma, de uma só vez superfície e forma.

Para dar consistência a essa nova concepção de estrutura, Lacan mais uma vez presta homenagem a Clérambault, 11 convocando a presença de uma superfície real para sustentar o discurso analítico. A respeito desta questão, ainda é interessante observar o comentário feito por Deleuze, para tratar do significante, da emergência do objeto e do sujeito, quando cita Lewis Carroll: “… a superfície plana é o caráter de um discurso”. Assim, na psicanálise, o significante precisa de uma superfície real para se inscrever, ou melhor, numa dimensão real do corpo aonde vem deixar sua marca.

Em contrapartida, a ex-sistência do sujeito passa a ser inferida como uma resposta do real, como a hipótese de uma expressão pontual e evanescente dos efeitos da linguagem sobre o real. Mais do que isso, desde quando o sujeito é engendrado a partir de um não saber (l’insu…) que se revela no ato de uma claudicação (l’une-bévue…), ele não pode ser pensado como único sujeito, mas através de uma multiplicidade de sujeitos que se realiza sob uma forma infixável e indeterminável na

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cadeia que o causa e o sustenta. Nesta ocasião, Lacan vai afirmar que se o sujeito é tórico, é porque é ao mesmo tempo ele é hystórico.

Neste caso, mesmo que não exista outro signo do sujeito que o signo de sua abolição como sujeito, Lacan não se intimida em indicar lugares aonde ele possa se ancorar. Para isso, propôs diversas escrituras que determinaram um estatuto lógico e, mais tarde, topológico do objeto (a), passando a manter uma reciprocidade total do sujeito com o próprio objeto (a): o sujeito é o a-bjeto.

Dito de outra maneira, o objeto pequeno (a) se torna o único “Dasein” do sujeito, isto é, é sua única substância ou mesmo sua essência. 12 Ou ainda, o sujeito é isso que falta num determinado lugar no in-mundo e que se chama gozo. 13

O discurso analítico à medida que faz laço entre o sujeito a esse Outro em-forma de pequeno (a) e que tem uma consistência do real, revela que na ex-sistência do sujeito não se trata só de uma condição espacial, mas que também se deveria incluir o tempo. 14

Desde seu primeiro movimento para introduzir a noção do tempo na psicanálise, 15 que Lacan procurou mostrar que não se tratava de uma “propriedade linear”, isto é, de um tempo com uma única dimensão. Assim, procurou pluralizá-lo num instante de ver, num tempo de compreender e num momento de concluir, buscando convertê-los numa medida do espaço. 16

Aqui, no entanto, mesmo que a topologia do significante venha criar a superfície que funda o sujeito, estes diferentes tempos à medida que se modulam, cada tempo anterior é absorvido e constituído pelo tempo seguinte. Assim, só depois do momento de concluir é que se precipita o tempo de compreender e o instante de ver, fundamentando as diferentes posições do sujeito em sua ex-sistência. O sujeito vai construindo aquilo que pode ver.

Em seu programa de escrituras do objeto (a), quando Lacan se referiu a um estatuto topológico que pudesse dar conta do sujeito, num primeiro momento de seu ensino ele se utilizou da topologia dos objetos de superfície. Serviu-se dela para desenvolver modelos ou ilustrações com os quais pudesse fazer leituras analógicas que representassem as operações que se sucediam no curso de uma análise em intenção.

Mais tarde, passou a se utilizar dos “nós borromeanos”, ou melhor, da topologia da cadeia borromeana, procurando esvaziar a noção do sentido e da intuição, na psicanálise. Procurou formalizar o discurso analítico através dos efeitos do simbólico, do imaginário e do real. Estas três consistências tornavam-se homeomorfas e passavam a escrever o próprio discurso analítico. O que não podia ser falado deveria se mostrar através de uma escritura que se aproximava àquele sentido concebido por Wittgenstein, como de figurabilidade.

Mas e o que é o “nó borromeano?” Ou como venho me utilizando, o que é a “cadeia borromeana?” O que é que levou Lacan a se interessar pela topologia borromeana? Que importância ela adquiriu na psicanálise?

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No começo dos anos setenta, após uma sucessão de seminários onde tratou da topologia das superfícies, da lógica e da teoria dos conjuntos, Lacan promoveu uma modificação fundamental em seu ensino. Ele procurou colocar as dimansões do real, simbólico e imaginário numa condição que pudessem ser tratadas, no discurso analítico, de uma maneira conjunta.

Para isso, tratou de reafirmar a impossibilidade da “proporção sexual”, utilizando-se no seminário ...Ou pire (XIX, 71/72), de um determinado enunciado: “eu te peço, que tu recuses, o que eu te ofereço, porque: não é isso”. A estes três verbos – pedir, recusar e oferecer - ele lhes atribuiu o estatuto de uma função, relacionando cada um deles com os outros dois, num tipo de permutação cíclica que arrastava sempre no final essa conclusão: “não é isso”. Uma expressão que vinha guardar uma posição homeomorfo ao objeto (a). Assim, através da gramática criava a possibilidade de que o simbólico, o real e o imaginário pudessem ser tratados numa relação a três, ao mesmo tempo e num determinado espaço.

Na aula de 09/02/1972, após algumas considerações, ele afirmou: “quero lhes mostrar algo que tomei conhecimento ontem à noite [...] o brasão dos Borromeos”. Com efeito, na noite anterior, ele teve conhecimento de uma estrutura identificada como “nó borromeano”. Uma estrutura que havia sido desenvolvida num curso de iniciação elementar de topologia, promovido pelo matemático Georges Théodule Guilbaud, em Paris X. 17

Esta estrutura borromeana, antes mesmo de despertar o interesse da topologia e, sobretudo, da psicanálise, já havia sido utilizada no séc. XV, como um brasão de três famílias italianas de Milão, sendo uma delas a dos Buono Romeo. Tratava-se de uma estrutura formada por três anéis, em que cada um deles passava a corresponder a uma das famílias. Eles estavam entrelaçados de tal forma que se qualquer um deles fosse rompido, os outros dois também se soltariam. Eles representavam, portanto, um pacto de indissolubilidade entre as três famílias, onde se qualquer uma delas rompesse com o acordo, a união das três estaria automaticamente desfeita.

Lacan da mesma maneira que usou da antropologia, da lingüística, da filosofia, da matemática e da lógica, passou a usar também da topologia, procurando aplicá-la à psicanálise. Foi assim que se serviu da topologia borromeana, procurando mostrar aquilo que se desenvolvia numa psicanálise e assegurando que ela pudesse circular. As operações realizadas na análise em intenção e mesmo na transmissão da psicanálise poderiam ser mostradas através da topologia do “nó borromeano”.

Essa aproximação com a topologia impulsionou a psicanálise para um novo estatuto. Ela passou a ser fundamentada através de uma outra lógica, desde quando a topologia da cadeia borromeana não mais deixou de não interrogá-lo. Ela pode mesmo ser considerada como uma de suas últimas tentativas para formalizar seu “programa de escrituras” do objeto (a).

Mas, e o que é um nó? Apesar das diferentes concepções que se possa ter, como em seu uso comum (nó de marinheiro, nó de costureira...), ou em seu uso inapropriado quando se fala de “nó olímpico”, aqui, essa noção de “nó” deve ser considerada em sua aplicação matemática, como “uma linha fechada ou mesmo aberta que é submersa no espaço com mais de três dimensões”. 18

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Todavia, seu uso deve ser tomado para a psicanálise com alguma prudência, pois como Lacan chegou a afirmar, essa estrutura borromeana rompe com nossas categorias habituais do pensamento. Assim, “os nós são a coisa para que o espírito é o mais rebelde [...] meter-se na prática dos nós é romper com a inibição”. 19

Uma outra questão a se considerar, é que esta estrutura denominada de “nó borromeano”, de uma maneira rigorosa ela não corresponde à definição de um nó, desde quando um nó é o que se constrói com um fio ou um aro quando se os mergulha num determinado tipo de espaço. A partir de dois fios ou dois aros entrelaçados, como no caso dos borromeanos, o que se tem é uma cadeia. Essa estrutura borromeana, portanto, não corresponde a um nó, mas a uma cadeia, 20 como vou passar a chamá-la daqui em diante: uma topologia da cadeia borromeana.

A cadeia borromeana, portanto, em sua apresentação mais simples é construída a partir de três linhas fechadas, por três anéis submersos num espaço real. Nessa sua apresentação mais simples, eles não só correspondem às três dimensões do espaço, como também podem representar o real, o simbólico e o imaginário, combinados de tal forma que ao se cortar qualquer um deles, a união dos três se desfaz. Isto quer dizer que os anéis não se ligam entre si, mas de uma maneira em que um deles vem ligar os outros dois.

Assim, a partir dos anos setenta, Lacan veio criar para a psicanálise um espaço abstrato, uma cadeia mental que operasse com as dimansões do real, simbólico e imaginário, conjuntamente, e que pudesse dar conta do discurso analítico e das vicissitudes do sujeito. Tratava-se de uma estrutura que embora se inscrevesse num espaço de n dimensões, ela poderia ser mostrada através de uma geometria que, localmente, se assemelhava ao próprio plano euclidiano.

Para realizar esta passagem, de sua condição abstrata para uma apresentação como superfície, a cadeia borromeana deveria sofrer dois tipos de operação. Uma primeira, em que lhe fosse retirada a espessura; 21 em seguida, uma segunda operação em que se estabelece uma convenção que vai delimitar os arcos e os cruzamentos que a constitui, observando-se uma ordem em cada arco. Estas duas operações, a perda de espessura e a convenção que determina o trajeto dos arcos e seus cruzamentos, retiram a cadeia borromeana da categoria de uma ilustração, de um modelo ou mesmo de uma teoria, como Lacan chegou a afirmar, convertendo-a numa escritura que passava a se sustentar numa consistência do real.

Existe ainda algo de sutil a se considerar nesta escritura da cadeia borromeana. Quando se quer instituir uma ordem nos anéis que a constitui, pode-se de início até mesmo se escolher uma seqüência. Por exemplo, em primeiro lugar, o anel que representa o Simbólico (vermelho) e, em segundo lugar, sobre ele, o anel que representa o Real (verde) e que o toca em dois pontos. Para se completar o enodamento borromeano deve-se usar um terceiro anel (vermelho) que representa o Imaginário e que vem ligar os outros dois. Ele o faz à medida que vai passando por cima do que está por cima e por baixo do que está por baixo.

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Após se ter realizado esse enodamento borromeano, quando se quer estabelecer uma ordem para os anéis, trata-se de uma condição que a intuição não pode mais resolver. Não se sabe qual é o primeiro ou o terceiro dos anéis, pois eles são intercambiáveis. Esta condição de qualquer um deles ocupar o lugar de um outro, mostra uma outra propriedade da cadeia borromeana que é de se converter numa estrutura homogênea.

Além destas considerações feitas sobre a cadeia borromeana, quando ela é planificada e adquire o estatuto de uma escritura, através de sua ortografia mínima com os três anéis, pode-se identificar uma outra propriedade topológica e invariante de sua estrutura que vai corresponder ao seu número de buracos.

Um primeiro, no Imaginário. Um buraco que mantém uma relação com o corpo e ainda com a função de menos phi (-), que é equivalente à castração imaginária. Existe um segundo buraco, agora no Real, que vem dar uma sustentação lógica e topológica ao enunciado: “não há proporção sexual” e que Lacan ainda denota como o lugar de avida (“lavie”) e da morte. O terceiro buraco é no Simbólico. Deve ser considerado como o verdadeiro buraco; Lacan o denota como lugar do Gozo e ainda lhe atribui o estatuto do recalque primário, o Ürverdrangt, essa condição que não vai permitir aos significantes permanecerem unidos num conjunto universal, formando um “todo”. Como um fato de estrutura, portanto, não há um conjunto completo, desde quando haverá sempre “ao menos um significante” que irá cumprir sua função fora do conjunto. Um elemento que se manterá expulso do conjunto inicial e que, em contrapartida, lhe dará consistência.

Existe ainda um quarto buraco no centro do “nó borromeano” ou da cadeia borromeana, que é construído a partir da superposição destes três buracos anteriores. Este buraco central torna-se causa do próprio enodamento do real, simbólico e imaginário. Neste lugar formado por esse triplo buraco, Lacan deposita o objeto pequeno (a), que faz corresponder ao centro da subjetividade. Essa condição que já havia sido estabelecida desde o Seminário XX, vem equivaler a cadeia borromeana à estrutura do sujeito e revelar sua homotopia com o com o próprio objeto (a): “o sujeito é o objeto”.

Além destes quatro buracos que foram identificados nessa escritura mínima da cadeia borromeana com três anéis, pode-se ainda encontrar mais três buracos nas interseções das consistências do RSI. Um deles que aparece na interseção entre o simbólico e o real, que Lacan fez corresponder ao gozo do

phalus  . Aqui, o significante do phalus não alude a qualquer órgão e muito menos ao órgão genital. Quanto ao gozo do phalus vai corresponder a um tipo de satisfação que se manifesta através das formações do inconsciente e que afeta o sujeito de uma maneira sempre anômala, como um tipo de gozo “fora corpo”, um gozo que vem suprir o sujeito na falta de sua proporção sexual. Não é excessivo se dizer que se trata de algo que vem se realizar também no phantasma (phantasme), como na “phunção de phonação” (“phonction de phonation”), fundamentando que a psicanálise não está na lingüística e na polissemia do significante, mas naquilo que tende para o real, isto é, na polifonia.

Existe um outro buraco na interseção entre o imaginário e o real, onde se

manifesta um tipo de gozo que é nomeado de gozo do Outro  , um Outro barrado

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que presentifica esta condição de que o grande Outro não existe. Trata-se de um tipo de gozo “fora linguagem”, um gozo suposto de avida (“lavie”) e da morte, ou ainda daquilo que uma mulher pode supor do gozo do homem e vice versa.

Por fim, entre o simbólico e o imaginário, Lacan atribuiu de início essa noção de sentido que se realiza como uma expressão da lingüística. Mais tarde, no seminário Le Sinthome, vai reafirmar que se não existe gozo do Outro, desde quando o grande Outro não existe, é preciso fazer algo, suturar o simbólico e o imaginário como um “sentido” que vá determinar uma outra costura entre o simbólico e o real. Uma condição que vem ensinar ao analisante fazer a emenda entre o real, parasita de gozo, e seu próprio sinthoma. Utilizando-se de uma homofonia entre jouissance (gozo) j’ouïs-sens (eu escuto-sentido) e ainda jouis-sens (gozo-sentido), Lacan vai atribuir ao sentido uma condição de também de gozo, de fazê-lo participar de um campo de gozo. 22

Se desde cedo, em seu ensino, Lacan veio enfatizando essa noção de buraco, aqui, também através da topologia da cadeia borromeana, ele passou a afirmar que se trata de uma noção que também faz buraco, que faz “trou-matisme” no sujeito e que, sem sua existência, não se pode fazer um nó, uma cadeia ou “qualquer outra coisa”. Para fazer frente a isso, procurou inventar um truque que viesse preencher esse lugar aonde “não há relação sexual”, 23 considerando que juntamente com essa noção do buraco se deveria levar em conta a presença de duas outras noções: a consistência e a ex-sistência.

Quanto à primeira, a consistência, ele não a utiliza a partir de seu ponto de vista lógico-matemático. Isto é, como uma noção que venha corresponder à presença lógica e necessária de uma não contradição num sistema. Para se afirmar que um determinado sistema é consistente, deve-se considerar que todas as proposições que lhe dizem respeito apareçam como válidas, isto é, que não se consiga provar, ao mesmo tempo, a existência de A e não A.

Para a psicanálise, portanto, essa noção de consistência é outra coisa que aquilo que se qualifica na linguagem da não-contradição. Lacan vai tomá-la a partir de sua etimologia. Isto é, como um significante que deriva do verbo consistere (latim) e que corresponde a essa condição da estrutura em que seus elementos “se sustentam juntos”.

Em primeiro lugar, a cadeia borromeana desde quando dá suporte à escritura e se fundamenta em “cordas” que podem ser manipuladas e trançadas para a construção da própria estrutura, ela tem uma consistência do real .

Aqui, por extensão, a cadeia borromeana vai também realizar através dessa noção de consistência uma garantia de que os objetos do mundo estarão sempre sustentados juntos, mantidos numa condição tal que podem, inclusive, fazer imagem. Diferentes imagens, que embora não sejam muito evidentes, servem para que o sujeito possa se situar nelas. 24 Assim, desde quando a presença destas imagens remete também à noção de superfície, isso lhe permitiu inferir que a cadeia borromeana além de uma consistência do real, tem também uma consistência do imaginário.

Ainda a partir dessa homogeneização entre o real, o simbólico e o imaginário e de se considerar que a cadeia borromeana é formada e suportada por elementos discretos, os arcos e os cruzamentos, que se tornam capazes de determinar um tipo de

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escritura, não é excessivo se afirmar que ela tem também uma consistência do simbólico. 25

Quanto à ex-sistência, é uma noção que se desenvolveu, de início, em torno da própria noção de existência, isto é, como algo que gira em torno de algum sentido da vida.

Com efeito, a ex-sistência tem uma história “filosófico-religiosa”, desde quando a essa noção de existência está relacionada às palavras. Aqui, no entanto, se aquilo que se pode dizer do geral, se pode aplicar para cada um, quando se trata daexistência, o que é de um, não serve para o universal. Por isso mesmo, a existência é o que é “ex-” (“ek-“), “o que gira em volta do consistente, mas que faz intervalo, e que, nesse intervalo tem trinta e seis maneiras de se enodar, justamente à medida que não temos com os nós, a menor familiaridade nem manual nem mental. O que, aliás, é a mesma coisa”. 26

Trata-se, portanto, de uma noção que se sustenta de ser fora do sentido e, como tal, torna-se equivalente ao real. Assim, a ex-sistência e o real são colocados numa categoria comum, numa equivalência com o ab-sens, com o sexo e o gozo. 27

Dito de outra maneira, a ex-sistência é, “no final das contas esse fora que não é um não-dentro [...] é esse em volta do que se evapora uma substância” 28 e que está além do sentido, como um limite infranqueável que vem impedir, na psicanálise, a noção de uma totalidade e de um mundo esférico para o sujeito. Uma condição que possibilitou à Lacan abrir os anéis da cadeia borromeana, passando a escrevê-la também com retas infinitas.

A partir do desenvolvimento destas três dimansões e ainda desta propriedade de homogeneidade, Lacan vai inferir que a cadeia borromeana é ao mesmo tempo um buraco (do simbólico) uma consistência (do imaginário) e uma ex-sistência (do real) e que ao atuarem de uma maneira conjunta adquirem o estatuto da própria estrutura para o sujeito. Mais do que isso, tanto o real, como o simbólico e o imaginário, cada uma destas dimansões tem um buraco, uma consistência e uma ex-sistência.

Após ter desenvolvido estas questões, quando se olha a cadeia borromeana mais de perto, pode-se visualizar em sua posição central um traçado que se nomeia de “nó em trevo” (“noeud en trefle”).

Uma estrutura que vem corresponder a uma continuidade das dimansões do real, simbólico e imaginário, construída a partir de cortes e ligaduras realizados nos pontos centrais de seus cruzamentos. Esta transformação das três dimansões em uma só consistência determina uma espécie de “gel imaginário” que tem sido identificado por Lacan como a escritura da psicose paranóica. 29

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De um ponto de vista clínico, esta dimansão unificada das três consistências tende, através do Imaginário, não só duplicar o real, como também abolir uma propriedade essencialmente simbólica da estrutura, desde quando anula a presença e uma alteridade com o Outro.

Uma questão fundamental a se considerar é que essa continuidade que se realiza entre as dimansões do real, simbólico e imaginário, não define simplesmente a Paranóia, como uma patologia. Ela vem presentificar uma condição estrutural do sujeito, isto é, seu núcleo paranóico. Isso quer dizer que o nó em trevo vem se constituir numa estrutura básica do sujeito, já que esse núcleo paranóico passa a se constituir no geral, no que Lacan chamou de uma “medida comum” que está implicada com o que muitas vezes se chama de personalidade, desde quando “psicose paranóica e personalidade [...] são a mesma coisa”. 30

Mesmo que essa qualidade paranóica se presentifique como um tipo de identificação que disponibiliza o sujeito como um objeto para o conhecimento e gozo do Outro, ainda que esse grande Outro não exista, 31 o privilégio de ser louco não é para qualquer um. Lacan não parou de não insistir nesta afirmação, de que não é louco quem quer. Por isso mesmo, para que se possa conceber a estrutura da Paranóia, será necessário que além desta “medida comum”, exista também a presença de uma outra condição que venha corresponder a uma regressão tópica ao Estádio do Espelho.

Ainda nesta estrutura da cadeia borromeana, quando se olha mais de perto em sua parte central, encontra-se uma forma mais elementar que é identificada como nó em trevo e que funciona como ponto de partida para escrevê-la. É uma estrutura mais simples, formada por traços, por traços unários e que foi nomeada de trisquel.

Numa das aulas do Seminário RSI, Lacan vai afirma que a consistência de base para fazer o nó borromeano é essa estrutura do trisquel, que “não é um nó

[mas que] em todo nó borromeano [ele] é o coração, o centro do nó... onde marquei se situar o desejo [...] e o objeto pequeno (a)”. 32

Ainda para reafirmar a importância que essa noção de buraco adquiriu na psicanálise, Lacan tratou o trisquel a partir de uma paráfrase: “Fiat trou”.

Nesse buraco do trisquel, ele colocou uma outra noção que já havia identificado desde o seminário sobre a Identificação 33 e que nomeou de “turbilhão”. 34 Naquela ocasião, tratava-se de uma noção que se sustentava num ponto central que era colocado além do nó imaginário do fantasma fundamental por onde deveria sair o objeto (a). Aqui, agora, a “noção de turbilhão” vem se constituir num lugar que além de reter o objeto (a) passa a adquirir o estatuto do recalque primário, onde o inconsciente “tem a propriedade de ser aspirado”. 35

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Outra propriedade a se acrescentar à cadeia borromeana quando introduzida na psicanálise, é de se poder ligar a noção de superfície à pluralidade do tempo. Uma condição que institui uma lógica do ato que vem fundar o sujeito, 36 determinando suas diferentes formas de subjetivação. Se, anteriormente, o objeto (a) foi concebido como suporte dos objetos de superfície e mesmo da cadeia borromeana, agora ele vai também ser inserido nestas diferentes dimensões do tempo.

No seminário Encore, 37 e no ano seguinte, com Les non-dupes errent, Lacan retorna a seu escrito sobre o Tempo Lógico…, voltando sua atenção para as relações entre o objeto (a) e o tempo. Ele vai afirmar que a função da pressa [hâte] é a função desse pequeno (a), pequeno a-pressado [h(â)te] e ainda considerar que a cadeia borromeana é um avanço do tempo lógico, à medida que pode realizar de uma só vez superfície e tempo. 38 Lacan vai afirmar ainda que esse escrito não é “uma pequena adivinhação (…), pois quando olhado mais de perto, vê-se que cada um dos sujeitos não intervém por ser Um-entre-outros, senão por ser, com respeito aos outros dois, aquilo que é a causa de seus pensamentos… precisamente… o minúsculo que ele é sob o olhar dos outros, o objeto (a), eles são dois mais (a) [e] vocês sabem que usei estas funções para tentar representar o inadequado da relação do Um ao Outro. [...] À medida que… os outros dois são tomados como Um mais a...”. 39

Na linguagem, portanto, em lalíngua todo evento do real repercute como superfície e tempo nos diferentes corpos do real, simbólico e imaginário, nos campos de gozo e no triplo buraco de (a), que é equivalente ao sujeito.

Desta maneira, a escritura borromeana ao enodar de uma só vez as consistências do real, simbólico e imaginário, como uma forma tripla do objeto (a), passa a fazer eco a um desenvolvimento de uma “relatividade restrita”, em que o tempo no qual ocorre um determinado evento não é independente da superfície onde ele acontece. Desta maneira, desde quando se nasce, e não se o faz sob a condição de vivente, pois antes mesmo de ter nascido o sujeito já recebe sinais que o funda como um sujeito de linguagem e de sexo, obedecendo a um tempo lógico, em que o momento de concluir irá determinar os tempos anteriores: o tempo de compreender e o instante de ver. A partir daí, portanto, será o próprio sujeito que irá construindo a percepção que vai tendo em suas diferentes realidades.

Lacan não só insiste na escritura do nó borromeano com este enunciado de realizar de uma só vez superfície e tempo, mas vai apresentá-lo com um estatuto diferenciado de outras escrituras. Primeiro por sua autonomia em relação ao significante e, em segundo lugar, pela implicação que a cadeia borromeana tem com o corpo. Não se trata da imagem do corpo como é contemplado no Estádio do Espelho, mas de sua consistência que é dada pelo RSI. Isto coloca o corpo como mais um dos elementos fundamentais da psicanálise, pois sem ele, o discurso analítico não caminha, fica letra morta ou se transforma em filosofia, religião, magia ou até mesmo em ciência.

Diante do real da cadeia borromeana, o sujeito se mantém marcado por este estigma de que o real não se liga a nada, 40 mas o lança numa errância singular das variáveis do seu destino, em repetições que o funda em ato. Com efeito, a repetição não é a reprodução no presente de um acontecimento passado, nem mesmo reprodução do idêntico, mas a celebração de um fracasso do encontro com o real que faz uma ruptura na hystória do sujeito, uma condição que o torna responsável pelo que vai lhe

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acontecendo. Aqui, não importa mais a versão oficial de sua história, mas a posição que irá manter em relação a um Saber que o discurso histérico constrói. Ou melhor, que o próprio sujeito inventa no curso de uma análise.

Para fazer frente ao SABER que existe no real, o sujeito se utiliza das dimansões do simbólico e do imaginário, relançando-as num discurso a partir do qual poderá realizar distintas fixções do real. O sujeito quando se realiza, o faz de uma maneira sempre singular, representado pelo significante S1 (l’essaim), o enxame, que lhe assegura uma unidade de copula com o Saber inconsciente. Um tipo de Saber que embora seja inventado pelo sujeito, não lhe dá qualquer garantia de identidade de seu ser de sujeito. 41.

Esta sua singularidade se manifesta na equivalência entre a própria cadeia borromeana e o UM. Uma condição que Lacan não parou de não afirmar: Há do UM (“Il y a d’l’Un”). Esta importância atribuída ao UM, traz suas conseqüências.

Se a estrutura da linguagem, ou melhor, de lalíngua é um efeito de que “HÁ DO UM”, o Saber poderia ser atribuído à condição de que poderia existir um Outro, o que faria, em aparência, dois. Todavia, não existe relação entre eles. A relação só se faz entre o UM e o buraco, sendo necessário que existam três para uni-los. A cadeia borromeana, portanto, é uma estrutura que emerge da linguagem e que vem determinar efeitos localizados e pontuais onde se capta um efeito de sujeito, desde quando é ele mesmo que inventa o Saber inconsciente. 42

Este fato de estrutura dá à cadeia borromeana a condição de “melhor metáfora... de que procedemos do UM”. 43 Cada anel deve ser considerado como um UM. Um um-entre-outros ou, talvez, um um-à-mais do sujeito, em oposição ao um-à-menosque poderia ser o grande Outro, que não existe. 44 Esta série de UNS não faz conjunto, mas transforma a cadeia borromeana numa estrutura que nomeei em outra oportunidade de uniana. 45 Neste caso, as diferentes funções do UM fazem suporte para a própria ex-sistência do sujeito, que passa a sofrer efeitos localizados e pontuais de lalíngua durante toda sua ex-sistência.

Aqui, o sujeito vai estar submetido aos efeitos do real, do simbólico e do imaginário enodados nesta estrutura borromeana que se funda a partir da noção do buraco, da consistência e da ex-sistência, conjuntamente. Como o grande Outro não existe e, portanto, não lhe pode dar qualquer garantia, o próprio sujeito é que é convocado a fazer bordas desse buraco que o causa. Ele é intimado a inventar o próprio Saber inconsciente, a escrever suas respostas sobre a vida e a morte, sobre o sexo, sobre o gozo e, sobretudo em relação àquilo que vem se constituir como esse “enigma do UM”, que é a própria noção de estrutura.

Assim, a cadeia borromeana evoca algo que não para de se não escrever, já que essa relação do sujeito com o real se constitui numa condição que não lhe dá tréguas e vem causar a origem de seus sofrimentos. Quer como uma dor da existência, como causalidade de seus sintomas, de seus impedimentos, de suas inibições e embaraços, de suas manifestações somáticas ou mesmo como aquilo que escreve seu “destino”. Um destino tragicômico para sua ex-sistência e que ele deverá aprender o que fazer para se desembaraçar o quanto pode dos efeitos do real.

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Aqui, estou aludindo a uma simultaneidade de atos que se sucedem numa sucessão de UNS, que leva em conta uma modulação do tempo de compreender, metaforizando a diacronia em que uma análise pode ser levada até certo ponto; uma condição que será mantida por uma sincronia destas três dimansões, onde o valor instantâneo da evidência equivale ao zero que se situa entre o antes e o depois. Uma condição que possibilita que o momento de concluir deixe cada sujeito no mesmo ponto de partida… que lhe supõe um passado infinito e… provavelmente um futuro que não o é menos. 46

Concluindo, mas sem finalizar, no curso de uma análise, esse objeto pequeno (a) que o analisante deve vir a ser e que o analista deve fazê-lo advir, o sujeito cada vez que se inaugura, o faz em ato, sem saber o que era antes e nem mesmo o que vai vir a ser, em seguida. Vou insistir neste enunciado, para reafirmar que só no momento de concluir, pode-se determinar os tempos anteriores e ainda incluí-los, possibilitando ao sujeito construir as percepções que vai podendo ter.

Nos sucessivos encontros faltosos com o Saber do real, o sujeito é impelido a usar de sua arte, de um artifício para que possa fazer algo que estabeleça limites a um suposto gozo do Outro, desse Outro que nem mesmo existe. Cada vez em ato, à medida que vai fazendo seu artesanato... inventa o Saber inconsciente que fibra o real, possibilitando-lhe construir estas diferentes fixções que passam a fazer parte de sua ex-sistência. O sujeito vai inventando à medida que vai dizendo ou fazendo, que pode vir dar no mesmo, desde quando dizer é fazer. Lacan chegou a afirmar ainda que o que você faz, sabe o que você é.

O ato analítico, portanto, a partir da topologia da cadeia borromeana revela que numa análise em intenção não se trata de buscar a verdade que se sustenta de uma ética apofântica, mas de que se deve procurar uma “vari(e)dade” (varité) da verdade, que seja singular a cada um. E que se possa suportar com alguma alegria este encontro.

É o que digo. Muito obrigado.

1 Notas de página

 Dimansão é uma forma de transliterar “dit-mension” (Sem. XVI, 12/05/1971), um significante que Lacan utiliza em vários momentos de seu ensino, jogando com diversas homofonias como dit-mention (mansão do dito), dire-mention (mansão do dizer), mensionge (mentira).

2 Lacan, J., em D’un dessein, Écrits, 366/7 – Seuil, 1966.

3 Sigmund, Freud., Vol. XXIII, Obras completas, p., 336.

4 Lacan, J., FCPL, Écrits, Seuil, 1966, p. 201/2.

5 Lacan, J., sem. IX, L'Identification, aulas de 23/05/62 e 07/03/62.

6 Ruiz, Carlos, La superficie como estructura, em Topologia y Psicanalisis.

7 Lacan, J., Sem. IX, L’Identification, aula de 07/03/62. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

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8 Estes desenvolvimentos da estrutura a partir do par ordenado foram estabelecidos por Lacan durante o seminário D’un Autre à l’autre. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

9 Lacan, J., sem. XVI, D’un Autre à l’autre, aula de 04/12/68.

10 Lacan, J., sem. XVI, D’un Autre à l’autre, aula de 14/05/69. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

11 Lacan, J., Petit discours aux psychiatres, em Petits Écrits et Conférences, p. 490. Lacan em vários momentos de seu ensino prestou homenagem à Clérambault, pela importância que deu à linguagem na significação da loucura. Se pode fazer também uma alusão à Bichat, que mudou o sentido da anatomia e até mesmo da significação das doenças, ao dirigir seu olhar para aos tecidos, em lugar dos órgãos.

12 Lacan, J., La logique du fantasme, aula de 12/04/67. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

13 Lacan, J., Subversion du sujet…, em Écrits, Seuil, 1966, p. 819.

14 Lacan, J., sem. XII, Problèmes cruciaux pour la psychanalyse, aula de 13/01/65.

15 Lacan, J., Le temps logique et l’assertion de certitude antecipeé, em Écrits, Seuil.

16 Porge, E., Psicanálise e Tempo, Ed. Campo Matêmico, 1994.

17 Embora existam outras referências anteriores a esse período sobre o “nó borromeano”, vou apresentar somente duas delas. A primeira que corresponde ao arquipélago das ilhas Borroméias, no lago Maggiore (na Itália setentrional), que é formado pelas ilhas Isola Madre, Isola Superior eIsola Belle. A segunda que apareceu num manuscrito religioso, datado de 1355, aludindo à Santíssima Trindade. No interior de cada um dos anéis apareciam as sílabas “tri - ni - tas”, enquanto que no centro do nó, estava escrito o significante “Unitas”, que passava a simbolizar o sentido teológico da Trindade.

18 Sossinsky, Alexei, Noeuds. Gênese d’une théorie mathématique, Seuil, 1999.

19 Lacan, J., Scilicet, 6/7, p. 90. Seuil, 1976.

20 Lacan, J., Sem. XXIII, Le Sinthome, aula de 13/01/1976. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

21 Para designar esta operação, Lacan se utiliza muitas vezes do significante "mise à plat". Aqui, não corresponde simplesmente à noção de se colocar no plano, mas de que se retire sua espessura, tornando a cadeia borromeana uma superfície.

22 Lacan, J., Sem. XXIV, Le Sinthome, aula de 20/01/1976. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

23 Lacan, J., Sem. XXI, Les non-dupes errent,, aula de 19/02/74. Versão não oficial.

24 Lacan, J., Sem. XXII, RSI, aula de 14/01/75. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

25 Lacan, J., id., ib.

26 Lacan, J., id., ib.

27 Lacan, J., L’Étourdit, Scilicet, n. 4, p.8, Seuil, 1973.

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28 Lacan, J., Sem. XXII, RSI, aula de 14/01/75. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

29 Lacan, J., Sem. XXIV, Sem. Le Sinthome, aula de 16/12/75. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

30 Id. , ib.

31 Lacan, J., L’Agressivité en Psychanalyse, Écrits, p. 111, Seuil, 1966.

32 Lacan, J., Sem. XXII, RSI, aula de 15/04/1975. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

33 Lacan, J., Sem. IX, A Identificação, aula de 23/05/62. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

34 Lacan, J., em Lettres de L’École Freudienne, n.18.

35 Id., ib.

36 Erik Porge chama atenção em seu livro para este fato que alude a um esquema do tempo estóico, quando não se trata de um antes-depois, mas o imediatamente.

37 Lacan, J., Sem. XX, Encore, Seuil, aula de 16/01/73. A referência que faço ao Tempo Lógico… , que aparece nas páginas 47/48, foram traduzidas pelo prof. Carlos Ruiz.

38 Lacan, J., Sem. XXI, Les non-dupes errent, aula de 09/04/74.

39 Lacan, J., Sem. XXIII, Le Sinthome, aula de 16/03/76. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

40 Lacan, J., Sem. XXIII, Le Sinthome, aula de 16/03/76. Publicação interna da Association Lacanienne Internationale.

41 Lacan, J., Sem. XX, Encore, p. 130, Seuil. Seuil.

42 Lacan, J., L’Étourdit, em Scilicet, 4, Seuil.

43 Lacan, J., Sem. XX, Encore, aula de 15/05/73. Seuil

44 Lacan, J., Sem. XX, Encore, aulas de 22/10/73 e 26/06/73. Seuil.

45 Souza, A., La topologie des états limites dans la psychanalyse, em Le Bulletin Freudien n.29, Revue de l’Association Freudienne de Belgique, p. 97/29.

46 Lacan, J., Sem. XV, O ato psicanalítico, aula de 29/11/1967. Documento interno da Association freudienne internationale.