A Terra Desolada a Experiência Do Mal Em T. S. Eliot

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    Filosofia.

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    Revista Portuguesa de ilosofia

    A Terra Desolada: A Experincia do Mal em T. S. EliotAuthor(s): Carlos Joo CorreiaSource: Revista Portuguesa de Filosofia, T. 57, Fasc. 3, Desafios do Mal: Do Mistrio Sabedoria (

    Jul. - Sep., 2001), pp. 575-591Published by: Revista Portuguesa de Filosofia

    Stable URL: http://www.jstor.org/stable/40337642Accessed: 21-12-2015 19:16 UTC

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    2/18

    R.P.F.

    57-2001

    A

    TerraDesolada:

    A

    Experiencia

    o

    Mal em

    T.S.

    Eliot

    Carlos Joo Correia*

    RESUMO:O presentertigo ern omoobjectivoundamentalroporurnanterpretaco

    do

    poema

    de T.S.

    Eliot,

    The Waste and

    (1922),

    no

    qual

    a

    experiencia

    o mal consti-

    tu

    onto

    de

    referencia

    entral.

    sta

    experiencia,

    raduzida

    metaforicamente

    or

    ter-

    ra

    desolada,

    pode

    ser

    perspectivada

    anto m termos

    essoais

    como ivilizacionais.

    O

    poema,

    depois

    de realizar

    diagnstico

    e

    urna ituaco

    de crise

    rofunda,

    ealiza

    o

    que

    poderamos

    esignar

    omo umritual atrtico

    ue permite puriflcacao

    as

    dimensoes

    egativas,

    edimentadasm

    nos,

    onstrangedoras

    a nossa iberdade.

    Palavras-Chave:

    Conscincia;Dor;

    Eliot,

    T.

    S.; Emoces; Frazer,

    James

    G;

    Graal;

    Literatura;Mal;

    Mito;

    Mitologia;

    Poesia; Pound, Ezra;

    Sofrimento;

    arkovski,

    Andrei

    ABSTRACT.his aper proposes n interpretationfT. S. Elliot's oemThe Waste and

    (1922)

    whose ore s

    the

    xperience

    f

    evil.Such

    experience,xpressed

    y

    themeta-

    phor

    of

    the "waste

    and",

    can be viewed

    ither n

    personal

    or in civilizationalerms.

    After

    iagnosing profound

    risis,

    he

    oemgoes

    on to

    what

    ould be called

    a cat-

    hartic

    itual,

    which

    nables he

    urification

    fnegative

    lements

    f ife

    hat onstrain

    our

    reedom.

    Key

    Words:

    Consciousness;Emotions;Evil;

    Frazer,

    James

    G.; Graal; Literature;

    Myth;Mythology;

    ain;

    Poetry;

    ound,Ezra;

    Suffering;

    arkovski,

    ndrei.

    o

    escritor

    mericano

    zra

    Pound,

    o

    poema

    The WasteLand1 de

    Segundo

    T.S. Eliot, ublicadom1922, onstitua justifica^ao"a experiencia o-

    dernista

    esdeo

    principio

    o sculo2.

    As

    palavras

    e Pound o bem

    apro-

    *

    Departamento

    e

    Filosofia,

    niversidade

    e Lisboa

    Lisboa, ortugal).

    1

    "The Waste

    and"

    1922)

    in Selected

    oems, ondres,

    aber

    &

    Faber,

    954,

    p.49-74.

    Existem

    uas

    traduces

    portuguesas

    o

    poema

    de

    Eliot,

    mbas onsultadas

    as

    traduces

    os

    versos

    itados:

    Terra em

    Vida,

    rad.Maria

    Amelia

    Neto,

    isboa,tica, 9842;

    A Terra

    Devastada,

    rad. ualter

    unha,

    isboa,

    Relgio 'gua,

    999.O

    ttulo

    rimitivo

    este

    oema

    do

    poeta

    e filsofo

    mericano,

    aturalizado

    ngls,

    homas teams

    liot

    1888-1965)

    ra,

    segundo

    eter

    Ackroyd

    T.S.Eliot.

    Life,

    Nova

    Iorque,

    imon nd

    Schuster,

    984,

    p.

    110),

    muito

    iferente:

    He Do

    The

    Police

    n

    Different

    oices".A

    edigo

    riginal

    oi

    publicada

    or

    VirginiaLeonardWoolf aHogarthress,m1922.

    "EzraPound

    ame o

    call

    t the

    ustification

    f the movement

    f ourmodem

    xperi-

    ment

    ince1900'

    "

    (Malcolm

    radbury,

    heModernWorld.

    en Great

    Writers,

    armonds-

    worth

    t

    l,

    Penguin,

    988/89,

    .

    200).

    Revista

    Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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    3/18

    576

    Carlos

    Joao

    Correia

    priadas ois estepoema, anto a formasttica,omo no contedo ilosfico,

    expressa que

    h de mais

    essencialneste

    movimentoultural

    ue

    marcou

    s

    primeiras

    cadas do

    sculo

    XX.

    Modernista

    a

    forma,

    ela

    constante

    novaco

    artstica

    pela

    desintegraco

    o valor sttico

    radicionalmente

    onferido

    obra

    de arte omo um

    todo;

    modernistao

    contedo,

    o

    manifestar,

    e

    um

    modo

    gri-

    tante,

    ste

    duplo

    entimento

    ue

    atravessa

    quela geraco:por

    um

    ado,

    vivencia

    da

    desolando

    do vazio

    e,

    por

    outro,

    spiraco

    urna

    edengo

    da

    experiencia

    do

    mal,

    seja

    eia

    surpreendida

    a

    prpria

    riaco

    rtstica,

    omo acontece

    lara-

    mente a obra

    de

    Proust3,

    eja

    no

    amor,

    omo

    o caso tanto o Ulissesde

    Joyce,

    comoda Montanha

    Mgica

    de ThomasMann4.Na TerraDesolada de

    Eliot,

    nao

    s a vivenciade ummundo evastado em crise, emsi, evidente,omo se

    surpreende

    o

    poema

    viso de urna edenco

    ue adquire

    rna

    imensao

    lara-

    mente

    spiritual,

    o sentido

    orte

    ue

    a

    palavra espirito

    ssumena

    linguagem

    filosfica

    religiosa, nquanto opro

    e

    pulsar

    de

    vida

    que

    une de urnaforma

    indissocivel

    mente o

    corpo.

    I.

    A

    Terra

    Desolada de Eliot

    ,

    a

    meu

    ver,

    um

    poema

    sobre

    sofrimento,eja

    esse sofrimentontendidom

    termos stritamente

    essoais, eja

    em termos ivi-

    lizacionais,

    uando

    urna

    poca

    e urna

    ultura ubitamente

    e sente

    stril sem

    vida.Apsa morte opoeta, sua mulheronfessouue Eliot senta uetinha

    pago

    um

    prego

    muito

    levado

    por

    ter ido

    poeta,

    de

    que

    ele tinha

    ofrido

    ema-

    siado"5

    esse sofrimento

    ransparece

    a

    grande

    maioriados versosdo

    poema

    que

    estamos

    analisar.

    The

    Waste and a narraco

    essa

    experiencia

    o

    mal

    realizada

    travs

    e urna

    xpresso otica ragmentada,

    lusiva,

    or

    vezes deli-

    rante,

    lena

    de ironia

    repleta

    e

    referencias

    ruditas

    ue

    fizeram encanto e

    todos s

    acadmicos

    intrpretes

    e

    poesia.

    Com

    efeito,

    ara

    do

    poema

    m

    si,

    composto or

    433

    versos,

    poeta

    acrescentouxtensas otas ruditas Notes

    on The WasteLand

    -

    que

    pretensamente

    isam sclarecer clarificar

    sentido

    da

    miriade e

    mences

    ue

    nele

    podemos urpreender6.

    a esteira o

    principio

    3

    A

    descoberta

    a

    arte

    omo endo

    reencontr

    om

    tempo

    erdido

    -nos

    presentado

    num

    osmomentose maior

    ntensidaderamticao

    romance:Mais

    'est

    uelquefois

    u

    moment

    tout

    ous emble

    erduue

    ravertissement

    rrive

    ui

    peut

    ous

    auver,

    n

    frappe

    toutes

    ortesui

    ne

    donnentur

    ien,

    t a

    seule

    ar

    on

    peut

    ntrert

    u'on

    urait

    herche

    envain

    endant

    ent

    ns,

    n

    y

    heurteans e

    savoir,

    t lle

    'ouvre."

    Proust,

    a rechercheu

    tempserdu.

    e

    temps

    etrouv,aris,

    allimard,989/90,

    .

    73).

    A

    grandeuestoue

    travessaromance

    e

    Joyce

    "What

    s

    that

    ord nowno

    ll

    men?"

    James

    oyce,

    lysses

    1922),

    armondswortht

    l,

    Penguin,

    968,

    .

    54)

    -

    encontra

    no

    mor

    sua

    esposta

    inal;

    Wird

    uch usdiesem

    eltfestes

    Todes,

    uch usder chlim-

    men

    ieberbrunst,

    ie

    rings

    en

    egnerischen

    bendhimmel,

    inmal

    ieLiebe

    teigen?"

    Tho-

    mas

    Mann,

    er

    Zauberberg,

    erlim,

    ischer

    erlag,

    9262,

    .938).

    "Hediedn1965,nd fterer usband'seathis econd ife alerieeclaredhatHefeltehad aid oohighpriceobe poet,hatehad ufferedoomuch.1heWasteand s

    a

    poem

    f hat

    uffering"Bradbury,

    odern

    orld,

    .201).

    Mais

    tarde

    rincou

    om

    o

    fcto

    izendo

    ue

    escreveu

    ssasnotas

    ara

    er numeroufici-

    ente e

    pginas

    ara

    ublicar

    rn

    ivro;

    u

    entao,

    ue quis

    ancar

    s

    acadmicos

    uma caca os

    Revista Portuguesa de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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    4/18

    A Experiencia do Mal em

    T.S.

    Eliot

    577

    estticomodernistaa fragmentagoriativa a obradearte, poema ,de certo

    modo,

    m

    "pastiche"

    e

    citasoes

    alusesas

    quais

    podemos

    scutar cos

    fami-

    liares,

    por

    vezes

    distorcidos,

    utras

    ezes ironicamente

    ugeridos,

    os

    grandes

    smbolos

    textos e urna

    ivilizado

    que

    Eliotve

    amargamente

    esabar.

    A

    difculdade

    ue

    sentimos

    a

    leitura e

    A

    TerraDesolada nao deixa

    de

    ter

    alguma

    imilitudeom

    a

    interpretalo

    o

    Ulisses

    de

    Joyce.

    o

    so as referencias

    e

    aluses

    das duas

    obras ao infinitas

    crpticas,

    omo o

    principio

    sttico o

    fluxo

    da conscincia

    ercorremetodologicamente

    escrita os dois textos.

    Este

    principio

    sttico stream f consciousness

    provm

    irectamentea

    obra

    de

    WilliamJames obre actividade

    a

    conscincia7,

    endo sua

    aplicado

    artsticantendidaor Joyce omoa transcrisaoo cursoda actividademental

    dos

    personagens,

    emurna

    equncia

    necessariamente

    gica, ermitindo,

    ssim,

    nao s

    apreender

    ela

    escrita stados

    r-conscientesue

    antecedem

    formasao

    das nossas

    deias,

    omo

    traduzir fluxo antas ezes catico

    da

    actividade

    men-

    tal humana m toda

    a

    sua

    liberdade. iz-nosT.S. Eliot: "as

    experiencias

    e

    um

    homem

    ulgar

    ao

    caticas,

    rregulares,

    ragmentadas.

    le

    pode-se

    paixonar

    ler

    Espinosa

    estas

    duas

    experiencias

    ao

    tmnada

    a ver

    urna om

    a

    outra,

    o

    mesmomodo

    que

    nao tem

    ela^o

    nenhuma

    om o ruido

    e urna

    mquina

    e

    es-

    crever

    u com

    o cheiro e um

    cozinhado;

    a

    mente

    e

    um

    poeta

    stas

    experien-

    cias esto

    constantemente

    formar ovasunidades."8 o caso de

    A

    TerraDeso-

    lada, Eliot oscilavertiginosamententremomentos laramenteevedores esteideal

    esttico,

    rximos

    a

    descriso

    enomenolgica

    e

    recordares

    sentimen-

    tos,

    e

    outros

    os

    quais adopta

    um estilo

    radicional,

    m

    parte

    evedor o ritmo

    literarioos

    versculos blicos

    ue

    tanto

    ma:

    "E

    euestavassustado.

    isse,Marie,

    Marie,

    egura-te

    em.

    fomos

    or

    li

    abaixo.

    as

    montanhas,

    i sim entimo-nosivres.

    Leio,

    uase

    oda

    noite,

    vou

    ara

    sulno nverno.

    Que

    razes e

    prendem,

    ue

    ramosrescem

    Neste

    ntulho

    edregoso?

    ilho o

    homem,

    Noconseguesizer,emdivinhar,ois onhecespenasUmmontoe

    magensuebradas"9.

    gambozinos".

    Seria,

    o

    entanto,

    stulto

    esprez-las,

    ois

    sua

    grande

    aioriaao itacoese

    obras

    eferidas

    utilizadas

    o

    oema.

    Notes

    n

    TheWasteand"

    n

    electedoems,

    p.

    8-74.

    7

    William

    ames,

    he

    rinciples

    f sychology

    1890),

    ,

    Nova

    orque,

    over

    ublications,

    1950,

    .

    239.

    "The

    rdinary

    an's

    xperience

    s

    chaotic,

    rregular,ragmentary.

    he

    atter

    alls

    n

    ove,

    or

    reads

    pinoza,

    nd hesewo

    xperiences

    ave

    othing

    o

    do with ach

    ther,

    rwith he

    noise

    f he

    ypewriter

    r

    he mell f

    ooking;

    n

    themind

    f he

    oet

    hese

    xperiences

    re

    alwaysormingewwholes."T.S.Eliot,TheMetaphysicaloets"1921) n electedrose,

    Harmondsworth,

    enguin,

    953,

    .

    17).

    "And was

    frightened.

    e

    said,

    Marie/ arie,

    old n

    ight.

    nd own ewent./n he

    mountains,

    here

    ou

    eel

    ree./

    read,

    uchf he

    ight,

    nd

    o

    outh

    n he

    inter.

    Revista Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

    11

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    5/18

    578

    Carlos JoAo

    Correia

    O facto eEliotter scrito mpoemafragmentado,oba forma e umgran-

    de

    puzzle

    de

    referencias

    eterclitas

    enigmticas,

    ornandomuitodifcil

    sua

    interpretaco,

    o nos

    deve,

    de modo

    lgum,

    azer

    erder

    simples razer

    a

    leitura

    ue

    saiba escutar

    pura

    musicalidade

    os seus versos.Se existe raco

    esttico

    ue

    marca

    poesia

    de Eliot a sua

    sonoridade,

    beleza

    no tanto o

    som

    das

    palavras,

    or

    si

    prprias,

    mas

    da

    sua articulaco.

    mbora

    Eliot,

    num

    ensaio obre

    A

    Msica

    da

    Poesia",

    sustente ideia de

    que

    no

    podemos

    isso-

    ciar

    musicalidade

    otica

    do seu contedo

    ilosfico,

    um

    facto

    ue

    este utor

    temum

    cuidado xtremo a

    construco onoradas frases

    oticas

    na

    sua

    ca-

    dencia tmica10.

    sta

    dimenso evela-se

    ogo

    na

    sua

    primeira

    rande

    bra

    poti-

    ca, TheLoveSong ofJ.Alfredrufrock1915) ondeabordao problema e al-

    gum que

    apenas

    v

    sua

    volta sinais de

    vulgaridade,

    e

    homens

    vazios

    (hollow

    men11),

    as

    que,

    ao mesmo

    empo,

    e sente

    envelhecer,

    em

    e

    atrever,

    numahesitaco

    ermanente,

    colocar

    questo

    ltima,

    questo

    obre sentido

    da sua vida.

    Ser

    que

    ousarei

    perturbar

    odo

    o universo?12.

    as estesbreves

    fulgores

    e lucidez

    dissolvem-se

    apidamente

    a

    embriaguez

    o

    instante: nao

    perguntes,

    o

    que

    ?

    vamos

    fazer

    nossa visita13.

    medida

    ue

    a

    persona-

    gem

    do

    poema

    vai

    envelhecendo,

    -se

    progressivamente

    ontado ridculo os

    actos

    que compem

    sua vida

    vazia:

    como

    que

    me

    vou

    pentear?

    u

    se me

    atrevo comer m

    pessego?14.

    omo diz o

    poema,

    numa

    palavra,

    u estava

    commedo15.

    Ora,

    ogo

    nos

    primeiros

    ersosda

    Canqo

    de

    Amor,

    odemos

    escortinarm

    estilo ovode

    escrita

    otica:

    "Vamos u

    eu,

    Quando

    noite

    e estende

    elo

    cu,

    Comoum

    doente

    dormecido ter obre

    mesa"16.

    What

    re theroots hat

    lutch,

    hat

    ranches

    row/

    ut

    of

    this

    tony

    ubbish?on

    of

    man/You

    annot

    ay,

    r

    guess,

    or

    you

    know

    nly/ heap

    of broken

    mages"The

    Waste

    Land,w.l 5-22).

    Cf. The

    Music f

    Poetry"

    1942)

    in

    On

    Poetry

    nd

    Poets,

    ondres/Boston,

    aber

    nd

    Faber,1957,pp.26-38.

    "We are

    he ollowmen/

    We are he tuffed

    en"

    "The

    HollowMen"

    1925)

    in

    T.S.

    Eliot,

    elected

    oems,

    .77).

    Neste

    oema

    posterior

    The Waste

    and: "o

    aparecimentoepe-

    tido

    dos vocbulos roken

    hollow

    .

    ]

    representam

    sta

    xperiencia

    e solidao

    nterior

    de

    partilha

    e

    horror."

    Jos

    ousa

    Gomes,

    .S.

    Eliot.

    ntre he

    HollowMen e

    Ash-Wednesday,

    Lisboa, osmos, 997,

    .30).

    u

    "Do I dare/

    isturb he

    universe?"

    "The

    Love

    Song

    of J.

    Alfed Prufrock"

    1917)

    in

    T.S.

    Eliot,

    elected

    oems,p.\2)

    "Oh,

    do not

    sk,

    What

    s t?7Let

    s

    go

    andmake

    ur isit."

    Ibidem,

    1).

    "Shall partmyhair ehind?o Idare o at peach?"Ibidem, ).

    "And

    n

    hort,

    was

    fraid."

    Ibidem, 4)

    "Let

    us

    go

    then,

    ou

    nd

    \J

    When he

    vening

    s

    spread

    ut

    gainst

    he

    ky/

    ike

    a

    pa-

    tienttherised

    pon

    table"

    Ibidem,

    1)

    Revista Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    6/18

    (

    Experiencia

    do Mal em T.S. Eliot

    579

    No se deveapenasreamar simplicidade a cadencia onora a articulaco

    do

    primeiro

    erso Let us

    go,you

    and

    -,

    mas, obretudo,

    conjunco

    nusi-

    tada entre rnafrase

    de urnabeleza romantica

    ublime,

    when

    he

    evening

    s

    spread

    gainst

    he

    ky"

    om

    urna

    rase

    e um realismo ru e

    chocante,

    likea

    patient

    therised

    pon

    table.Na

    TerraDesolada

    este

    processo

    sttico

    per-

    manentementeultivado

    omo,

    porexemplo,

    a

    articulaco o verso

    romntico,

    "Doce

    Tamisa,

    desliza

    mansamente,

    t ao firn o meu canto"

    rticuladoom a

    crueza

    da descrico o

    verso

    eguinte;

    Nao

    h

    no rio

    garrafas

    azias,

    papis

    de

    sanduche"17

    sta

    conjugaco

    e

    imagens

    ler

    Espinosa

    estar

    paixonado

    ,

    acompanhada

    e urna

    rande

    ontenco

    a

    adjectivaco,

    ealizao cerne o

    que,

    na linguagema pocase designava, a esteira eEzraPound, orimagismo.

    Mas, talvez,

    mais

    mportante

    o

    que

    encontrar

    rna

    tiqueta

    sttica,

    s

    poemas

    de Eliot

    representam

    assunco

    da formamoderna

    e

    escrever

    oesia.

    Do

    mes-

    mo

    modo

    ue

    o

    poeta

    onstantemente

    os

    surpreende

    om

    a

    combinaco e ima-

    gens

    contrastantes,

    ifcilmente

    odemos

    dentificar

    m

    estilo

    definido

    m The

    Waste

    and. No estamos

    m face

    de um

    poema

    irico,

    e urna

    popeia,

    e urna

    elegia,

    de urna

    arrativa

    otica,

    ,

    no

    entanto,

    ncontramos,

    qui

    e

    ali,

    exemplos

    notveis

    e cada um

    destes

    neros

    oticos.

    A

    mesma

    desorientaco

    corre

    uando

    tendemos

    os

    mltiplos

    ontedos

    temticos

    ue percorrem

    TerraDesolada:

    os

    ritos

    e

    fertilidade,

    pensamento

    oriental,spubs londrinos,primeira uerraMundial, sexualidade umana,

    mitologia

    rega, presenca

    de

    Deus,

    as

    recordaces e

    infancia,

    ntre antos

    outros.

    or ua

    vez,

    mporta

    ublinhar

    ue

    no

    estamos

    m facede um

    poema

    m

    que

    a

    emoso

    explode,

    maneira

    e Walt

    Whitman,

    a

    base do

    principio

    omn-

    ticode

    que

    a

    poesia

    ,

    antes

    de

    mais,

    urna celebraco e

    mim

    prprio18.

    ern

    pelo

    contrrio.

    ara

    Eliot,

    poesia

    no

    tanto

    manifestalo

    de

    emoces,

    mas

    antes

    forma

    metdica e

    se

    libertar

    las,

    omo

    se cada um de ns acedesse

    sua identidade

    essoal

    mais recnditatravs a

    catarse

    purificaco

    as emo-

    ces

    que

    so

    a

    poesia

    pode

    proporcionar.

    em dvida

    ue

    as

    emoges

    habitam

    Terra

    Desolada,

    mas

    elas sao observadas

    analisadas

    um

    ponto

    al

    que

    rapida-

    mente osapercebemoserobjectivo

    o

    poema

    revelar

    que

    elas

    podem

    erde

    trgico,

    e

    pattico,

    ,

    nalguns

    asos,

    de ridculo.A

    poesia

    vista, ssim,

    por

    Eliot,

    omo

    experiencia

    e urna atarse

    ue,

    em

    The Waste

    and,

    se deve

    per-

    spectivar

    omo

    urna

    urificaco

    o sofrimentodo

    mal,

    de tal modo

    ue

    se

    pode

    apresentar

    poema

    como sendo

    um ritual e libertaco

    as

    experienciasue

    se

    sedimentaram

    m

    ns

    e

    que

    no nos

    deixam er ivres.

    sta

    tese

    que

    v

    o

    poema

    como

    um

    ritual

    atrtico em

    a

    sua

    comprovaco

    ecisiva nos versos finis

    (v.433)

    desta

    bra,

    uando

    Eliot

    reitera,

    or

    res ezes

    consecutivas,

    palavra

    e

    17

    "Sweet

    hames,

    un

    oftly,

    ill end

    my ong./

    he

    river

    ears o

    empty

    ottles,

    and-

    wich apers"TheWasteand,w. 176-17).

    "I

    celebrate

    yself,

    nd

    ing

    myself,

    And

    what

    assume

    ou

    shall

    ssume,

    For

    very

    atom

    elonging

    o me as

    good

    belongs

    o

    you."

    Walt

    Whitman,

    Song

    of

    Myself,

    eaves

    f

    Grass

    1855),

    Oxford/

    ova

    orque,

    xford

    niversity

    ress, 990,

    .29).

    Revista Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    7/18

    580 Carlos JoA

    Corre

    origemnscrita ShantihPaz) - que,natradigo ind,e utilizava o final

    da leitura os

    Upanishads que

    o

    autor,

    uma

    notade

    rodap

    o

    poema,

    sclare-

    ce como endo

    a

    paz que ultrapassa

    entendimento19.

    poema

    ,

    com

    efeito,

    bem

    explcito

    na

    sua

    apresentago

    omo ritual

    purifcador,

    ostrando

    ue

    a

    intencionalidade

    ltima

    e

    prende

    om a

    superalo

    da

    vivencia o mal.

    Assim,

    no verso

    30,

    pouco

    antesde

    encontrar

    paz

    e a serenidade

    bsoluta,

    poema

    diz-nos:

    Com estes

    ragmentos

    scorei s minhas

    uinas"20.

    II.

    Iniciemos, nto, exegesede A TerraDesolada, poema cujo impacto a

    poesia contempornea

    comparvel

    recep^o

    musical a

    Sagrago

    da Pri-

    mavera e

    Stravinsky,

    o eco do Ulisses

    de

    Joyce

    o romance s As

    Meninas

    de

    Avignon

    e Picasso

    as

    artes

    lsticas.

    A

    interpretaso

    e

    um

    poema,

    omoo

    de

    Eliot,

    carreta

    iscos

    hermenuticosbvios

    ue podem

    scilar ntre rna eitu-

    ra

    apressada

    ue

    no

    respeite

    densidade riativa urnamera

    presentagao

    e

    elementosruditos

    ispersos

    em

    qualquer

    iso

    ntegrativa.

    ara evitar

    stedu-

    plo

    risco,

    eguiremos

    m

    focondutor e

    anlise

    ue

    consiste m reflectirobre

    a forma

    omo

    o

    poeta

    nos

    apresenta questo

    do

    mal e

    o modo

    como realiza

    sua

    catarse.

    A TerraDesolada tem

    omo

    pano

    de

    fundo

    descrigao

    a vida ondrina

    os

    anosvinte, a qual podemosvisionar rna idade ndustrialinzenta,marcada

    pela

    primeirauerra

    mundial,

    epleta

    e

    homens azios

    que

    percorrem

    omofan-

    tasmas

    quelas

    ras

    ombras.

    "Cidade

    rreal,

    Sobo

    nevoeiro

    ardo

    astanho

    e

    um manhecere

    nverno,

    Urnamultidolua

    obre Ponte e

    Londres,antos,

    Eu no

    pensavaue

    morte

    ivesse

    niquilado

    antos.

    Suspiros,

    urtos

    raros,

    ram

    xalados,

    E

    cadahomemxava

    s

    olhos diante

    os

    ps."21

    Se

    a

    viso

    de urna

    Londres ndustrial

    ferida

    mortalmente

    ela guerra

    os

    acode ao espirito, eco deversos e Dantequeressoam estapassagem mplia

    o horizonte

    a

    nossa

    atengo.

    ao

    passagens

    do

    poeta expressamente

    eferidas

    por

    Eliot

    as suas

    notas,

    saber:

    "Eraurna ila

    e

    pessoas

    o

    grandeue

    eu nunca

    ensei ue

    a

    morteivesse

    aniquilado

    antos."

    "Aqui

    aohavia

    utro

    horolm e

    uspirosue

    aziam

    remerar

    terno."22

    19

    "ThePeacewhich

    asseth

    nderstanding"

    s our

    quivalent

    o this

    word."

    Notes,

    v.433,p.74)

    "Theseragmentshavehoredgainst y uins"TheWasteand, .430).

    "Unreal

    ity/

    nderhe

    rown

    og

    f

    winter

    awn,

    A

    crowd

    lowedver ondon

    Bridge,

    o

    many

    I

    hadnot

    hought

    eath ad

    undoneo

    many

    /Sighs,

    hortnd

    nfrequent,

    were

    xhaled/And

    achmanked

    his

    yes

    eforeis eet."

    The

    Waste

    and,

    .

    60-65).

    RevistaPortuguesa de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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    8/18

    A Experienciado Mal

    em

    T.S.

    Eliot

    581

    Se somarmos estedado,o facto o poemade Eliot,depoisde descrever

    ambiente

    ondrino,

    crescentar

    seguinte

    ilogo

    nigmtico:

    "Aivi

    algum

    ue

    onheciafi-Io

    arar,ritando:

    Stetson

    Tu,

    ue

    stiveste

    omigo

    a

    frotam

    Mylae

    Aquele

    adver

    ueplantaste

    ano

    passado

    o

    eu

    ardim

    J omecou

    despontar?

    er

    ue

    d flor ste

    no?"23

    ento,

    simples

    ircunscrigao

    nterpretativa

    e A Terra

    Desolada

    s.

    urnamera

    imagem otica

    o vazio da

    civilizac,o

    ndustrial

    nglesa

    ica,

    nosso

    ver,

    muito

    limitada,

    ois ogam-se

    na

    obra

    questes

    mais

    ampias que

    se

    referem

    anto

    civilizado

    ocidental,

    ensada

    omo

    um

    todo,

    omo

    prpria

    orma

    omo cada

    umde nos vivetanto morte omoa esperanza. ecordemo-nosue,nao s as

    almasdescritas

    elo poeta

    florentino,

    os versos m

    causa,

    perderam

    oda

    espe-

    ranza,

    omo

    a aluso

    batalhahistrica e

    Mylae

    nao

    ,

    na

    circunstancia,

    no-

    cente.

    sta batalha

    martimaonstituiu

    m

    dos

    pontos

    e

    viragem

    istricos,

    o

    consagrar,

    o sculo

    II a.

    C,

    o dominio o

    Imperio

    omano obre

    cartagins

    a

    primeira

    as

    guerras nicas

    ravadas

    elo

    dominio

    omercial o Mediterrneo.

    Como

    se

    Eliot nos estivesse

    lembrar fo de continuidade

    xistente ntre

    acto

    fundador

    a

    civilizado

    ocidental

    a

    constituido

    o

    Imperio

    omano

    e a

    situaso

    de

    declnio

    dessa mesma

    iviliza^o,

    mbos

    marcadas

    ela guerra

    e-

    vastadora.

    Mas,

    a

    questo

    potica

    eguinte ermitempliar

    contexto

    a refle-

    xaopotica: aquelecadver ue plantaste anopassadonoteu ardim come-

    90U

    a

    despontar?

    evidente

    ue

    esta

    questo

    macabra

    nao visa

    apenas

    cho-

    car-nos,

    mas

    suscitar

    nossa

    interrogado

    obreo

    colapso

    de um

    conjunto

    e

    cremas

    ue

    sustentavam

    alma o sentir o Ocidente

    obre

    questo

    a morte.

    Para

    compreendermos

    sentido essas

    crengas,

    ebrucemo-nos

    obre

    ttulo

    do

    poema

    de

    Eliot,

    The Waste

    and,

    A

    TerraDesolada.

    Para

    um

    eitor esatento

    apenas

    maisurna

    metforantre

    antas utras riadas

    ela

    imaginasao otica.

    Ora,

    o

    prprio

    utor

    ue,

    numadas suas clebres

    otas,

    os mostra contexto

    religioso

    m

    que

    podemos

    ituar

    poema.

    Nao

    s

    o

    ttulo,

    mas tambm

    plano

    e

    urna

    rande

    arte

    o simbolismo

    casional

    do

    poema

    foram

    ugeridos elo

    li-

    vrode Jessie . Weston obre lendado Graal:FromRitual o Romance"24.,

    22

    "Si

    lunga

    tratta i

    gente,

    h'io

    non avrei mai creduto

    he morte antan'avesse disfatta"

    (Dante,

    Inferno,

    H

    55-57);

    "Quivi,

    secondo che

    per

    ascoltare,

    non avea

    pianto,

    ma' che di

    sospiri,

    he 'aura tema

    facevan remare."

    Ibidem,

    V

    25-27).

    There

    saw one

    I

    knew,

    nd

    stopped

    him,

    rying:

    Stetson

    You who were

    withme

    in

    the

    hips

    at

    Mylae /

    That

    corpse

    you planted

    ast

    year

    n

    yourgarden/

    Has it

    begun

    to

    sprout?

    Will

    t

    bloom

    this

    year?"

    The

    Waste

    and,

    w.

    69-72)

    24

    'Not

    only

    the

    title,

    ut

    the

    plan

    and a

    good

    deal

    of

    the ncidental

    ymbolism

    f the

    poem

    were

    uggested

    y

    Miss

    Jessie

    . Weston's

    ook on the Grail

    egend:

    From Ritualto Romance"

    (Notes,p.68).

    Discipula

    de

    Frazer,

    Jessie

    Weston sustenta

    tese de

    que

    a

    verdadeira

    aiz do

    mitodo Graal nao nemclticanemcrista,mas, sim,gnstica.Mais do que decifrar gnese

    do

    Graal

    ou

    deter-se

    na

    identidade

    nstica

    entre

    alma e o

    Uno,

    Eliot interessou-se

    ela

    conexo

    ritual stabelecida

    or

    Weston

    entre sade

    do Rei

    e

    o estado

    da Terra. To sum

    up

    the

    result f

    the

    analysis,

    hold

    thatwe have solid

    grounds

    or

    he

    belief

    hat he

    story ostu-

    Revsta Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    9/18

    582

    Carlos

    Joo Correia

    logoa seguir, liot crescenta:Emtermoserais s minhas ividas ao tambm

    para

    urna

    utra

    brade

    antropologia

    ue

    influenciou

    rofundamente

    nossa

    ge-

    ra^o;

    refiro-me

    The

    Golden

    Bough,

    o

    qual

    usei em

    especial

    os dois volumes

    Adonis

    Attis,

    siris"25 om

    efeito,

    temada TerraDesolada nao s constitu

    um

    dos smbolos

    rivilegiados

    o

    imaginario

    edieval m torno as lendasdo

    Graal,

    omo

    o

    seu sentido

    rofundo

    pode

    ser cabalmententendido

    luz

    das

    descobertas

    e Frazer

    obre s ritos e

    vegetago

    ntrnsecos

    gnese

    mediterr-

    nica da

    civilizaso

    ocidental,

    m

    particular

    a

    sua obra

    crucial,

    The Golden

    Bough

    A

    Rama

    Domada).

    Em

    termos

    stritos,

    smbolo

    Terra

    Desolada

    encontra sua raiz

    profunda

    namitologialtica. egundo tradigomtica, terra ornou-seesolada uan-

    do

    a

    sacerdotisa

    as

    fontes oi violada

    por

    homens

    rutais,

    que

    provocou

    esterilidade

    as

    terras,

    estiolamentoas

    rvores,

    defnhamento

    e

    tudo

    que

    era

    vivo26.

    as

    lendasmedievais o

    Graal,

    temada TerraDesolada nova-

    mente

    etomadomas

    num

    ontexto

    iferente.

    eferimo-nos,

    aturalmente,

    o

    ro-

    mance,

    nfelizmente

    ncompleto,

    e

    Chretien e

    Troyes,

    ercevalou le Roman

    du

    Graal27,

    nde nao s

    surge, ela

    primeira

    ez na

    literatura

    cidental,

    refe-

    rencia

    o

    graal,

    como se

    explana

    ideia de urna terra esolada.Em termos

    sumarios,

    romance elata-noss

    aventuras e um

    ovem Perceval), ngenuo,

    mas

    corajoso, ue

    anseia,

    cimade

    tudo,

    ornar-se

    avaleiro,

    al

    comoo seu

    pai,

    e queumdia,as suasdeambulares,encontra mreino stril semvida,no

    qual

    habita m reiferido

    doente,

    onhecido omo

    o

    Rei Pescador.Esteltimo

    recebe

    jovem

    e,

    no momentom

    que

    conversavam

    migavelmente

    o

    castelo,

    o

    jovem,

    stupefacto,resencia

    rna stranha

    rocisso

    e

    criados,

    ue

    se

    inicia

    com um

    dos

    criados

    evando

    rna

    anga

    culmina omurna

    ovem

    donzela

    egu-

    lates close onnectionetweenhe

    itality

    fa certain

    ing,

    ndthe

    rosperity

    f

    his

    king-

    dom;

    the

    forces

    f theruler

    eing

    weakened

    r

    destroyed,y

    wound, ickness,

    ld

    age,

    or

    death,

    he andbecomes

    Waste,

    nd

    he ask

    f thehero s that

    frestoration."

    Jessie

    . Wes-

    ton,

    rom itual oRomance

    1920),

    rinceton,

    rinceton

    niversity

    ress,

    993,

    . 23).

    'To another ork f

    anthropology

    am

    ndebted

    n

    general,

    ne which

    as nfluenced

    ourgenerationrofoundly;meanTheGolden ough; haveused speciallyhe wovolumes

    Adonis,Attis,

    siris:'

    (Notes,68).

    Cf. Sir James

    George

    Frazer,

    The Golden

    Bough.

    A

    Study

    n

    Magic

    nd

    Religion

    1890),

    Oxford/ova

    orque,

    xford

    niversity

    ress,

    994.

    Para

    Eliot,

    religio

    a cultura stavam

    imbioticamente

    elacionadas. o

    seu mais

    mportante

    nsaio

    filosfico

    Notes

    Towards

    he

    Definition

    f

    Culture,

    iz-nos: We

    maygo

    furthernd ask

    whether hatwe call the

    ulture,

    ndwhatwe

    call the

    eligion,

    f a

    people

    renot

    different

    aspects

    f

    the ame

    hing:

    he

    ulture

    eing,

    ssentially,

    he

    ncarnation

    so

    to

    speak)

    f

    the

    religion

    f a

    people."

    T.S.Eliot,

    otesTowards

    he

    Definitionf

    Culture

    1948),

    Londres/

    Boston,

    aber

    nd

    Faber, 962,

    .

    28).

    Urna

    variante

    nteressantea historia

    ertence

    mitologia

    rdica

    -nos

    elatada

    o

    filme

    e

    Bergman,

    Fonte

    da

    VirgemJungfrukallan,959/60).

    rna

    ovem

    brutalmente

    violada assassinada,rovocando desesperoo pai que questionaeus;pormilagre,rna

    fonte

    rrompe

    o exactoocaldo

    crime.

    27

    Cf.o romancemverso e

    Chretiene

    Troyes,

    e

    Conte u

    Graal

    ou

    e Roman e

    Per-

    ceval n

    Romans, aris,

    ibrarne

    enrale

    rancaise,

    994,

    p.

    937-121

    Revista Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    10/18

    A

    Experiencia do Mal

    em T.S. Eliot

    583

    rando umgraal, urnaespecie de pratocncavo. Emboraprofundamententrigado

    com

    aquele espectculo,

    o

    jovem

    nao se atreve

    a

    perguntar

    ada com medo de

    ser

    indiscreto

    ou inconveniente.

    Quando,

    no

    dia

    seguinte,

    abandona o castelo

    -lhe dito

    que,

    se

    em

    vez

    de fcar

    calado,

    tivesse

    questionado

    o sentido de tudo

    aquilo,

    nao s o

    rei se

    curara

    da sua

    doen9a,

    como

    as

    suas

    terras,

    gora

    esteris,

    se tornariam

    ovamente

    frteis cheias

    de vida. Mas ele tinha

    falhado,

    ao nao

    colocar

    a

    questo

    decisiva, tornando-se,

    ambm

    le,

    responsvelpor aquela

    terra

    estiolada,

    murcha

    ressequida28.

    No

    poema,

    Eliot assume

    claramente s dois motivos

    mitolgicos

    atrs

    apon-

    tados.

    Em

    primeiro ugar,

    o tema

    da

    violaqao,

    que

    nos

    surge,

    no

    poema,

    ilustrado

    pelo mitoda culturaclssica, Filomela. Num episodio terrvel, arradoporOvi-

    dio29,

    onta-se

    a historia

    da

    seguinte

    metamorfose:

    rei de

    Atenas,

    pai

    de duas

    flhas,

    fereceu

    urna

    dlas,

    de nome

    Procne,

    ao rei da

    Trcia, Tereu,

    Desse

    casa-

    mento

    nasceu

    um

    flho,

    tis. Mas

    Tereu,

    enlouquecido

    de

    desejo pela

    sua cunha-

    da,

    Filomela,

    violou-a, cortando-lhe,

    m

    seguida,

    a

    lingua, para que

    eia nunca

    pudesse

    revelar

    o

    crime.

    Mas,

    a

    rapariga

    consegue,

    atravs

    de

    um

    bordado,

    rela-

    tar

    sua

    irm

    tudo

    o

    que

    lhe tinha sucedido.

    Procne

    decide, ento,

    vingar-se,

    depois

    de

    matar

    o

    seu

    proprio

    filho,

    d-o

    a

    comer

    ao

    marido,

    em

    que

    este ltimo

    suspeitasse

    de

    nada.

    Fogem

    as

    duas

    mas sao

    perseguidas

    por

    Tereu

    que

    as

    pro-

    cura

    matar.

    Quando

    se sentem

    perdidas,

    as

    j

    ovens

    imploraram juda

    aos deuses

    que, condodos com a sua sorte, s transformamm pssaros30.No poema a re-

    ferencia

    este

    mito

    directa:

    "A

    metamorfose

    e

    Filomela,

    elo

    brbaro

    ei

    To

    brutalmente

    iolentada;

    o

    entanto,

    li

    o rouxinol

    Enchia

    odo deserto

    om

    voz inviolvel

    E eia continuava

    gritar

    e o

    mundo ontinua

    empre

    Chac

    Chac

    a ouvidos

    mundos."31

    28

    Na versao omntica

    o

    mito

    Parsifal),

    laborada

    or

    Wagner partir

    o texto

    medieval

    de

    Eschenbach

    Parzival), guardio

    o

    Graal, mfortas,

    ofre

    e urna enda

    ue

    apenas

    ode

    sarar

    e for

    ocada om

    lanca

    agrada.

    ssa

    fenda o

    corpo

    r ev-lo

    desejar

    sua

    prpria

    morte, as salvo,nextremis,elo avaleirongnuoinocenteParsifal).

    Ovidio,

    Metamorfoses,

    ivro

    I,

    426 e

    sgs.

    as

    diferentes

    erses

    este

    mito a

    Antiguidade

    lassica,

    s metamorfosesas

    rapan-

    gas

    em

    pssaros

    ao

    geralmente

    ssociadas

    urna ndorinha

    a

    um rouxinol.

    a versao e

    Ovidio,

    nfere-se

    ue

    Procne

    oi ransformada

    m

    andorinha;

    outras erses

    o

    mito,

    Filo-

    mela

    ue

    assume

    ssa

    sorte

    cf.

    Apolodoro,

    iblioteca

    II, 14,8;

    Conon,Narrationes,

    1);

    T.S.

    Eliot

    oga

    com

    esta

    mbiguidade,

    a medida

    m

    que

    est nteressado

    m

    perspectivar

    trans-

    mutaco

    a

    "noite a

    alma"

    eja

    num elo anto

    rouxinol)

    eja

    na "Primavera"

    andorinha).

    "The

    change

    f

    Philomel,

    y

    the arbarous

    ing/

    o

    rudely

    orced;

    et

    herehe

    ightin-

    gale/

    illed

    ll the esert

    ith nviolable

    oice/

    nd till

    he

    ried,

    nd

    still heworld

    ursues/

    'Jug

    ug1

    o

    dirty

    ars."

    The

    Waste

    and,

    w.99-103).

    Numa

    utra

    assagem

    a

    Terra esola-

    da,o tema novamenteetomado:Twit witwit/Jugug ug ug ug ug/So udelyorc'd./

    Tereu."

    The

    Waste

    and,

    w.203-206).

    Na terra

    esolada,

    mesmo beleza o

    canto

    escutada

    como

    e fosse

    m

    grasnar

    orrivel

    Jug).

    Harriet

    avidson onsidera

    ue

    a cenade

    Filomela

    no

    poema

    de Eliot

    deve

    ser

    ntendida

    omo

    a

    expresso

    o

    fascinio

    ela

    efemeridade

    pela

    Revista Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    11/18

    584

    Carlos

    Jo

    A Correi

    Torna-se, agora, inteligvel um dos momentos finis do poema, quando

    enigmaticamente

    poeta

    nos

    diz:

    "Quando

    fiam

    uti chelidon

    Quando

    que

    serei como

    a

    andorinha?].

    andorinha

    ndorinha"32

    Em

    todas estas

    passagens,

    desde a

    imagem

    mtica

    da

    fonteda

    virgem

    ando-

    rinha

    ue

    retorna a

    Primavera,

    ncontramos ideia de

    urna

    spiragao

    ansiosa do

    poeta

    por

    um

    novo ciclo de

    vida

    que

    faga

    transmutar

    experiencia

    da dor

    e

    do

    mal em

    vida

    recriada.

    A

    ligago

    com

    o tema da

    terra desolada do

    ciclo do

    Graal

    obvia,

    pois

    possvel surpreender

    mesma

    imagem

    de

    urna vida inter-

    rompida,

    de

    urna

    ferida

    do

    espirito ue

    espera

    avidamente

    pela

    sua

    cura e

    regene-

    ragao,que apenas urnapergunta ibertadora ode proporcionar.dentificando-se

    com o Rei

    Pescador,

    diz

    o

    poeta:

    "Sentei-me a

    margem

    A

    pescar,

    om

    planicie

    rida trs e mim

    Porei,

    o

    menos,

    s minhas errasm

    ordem?"33

    O dilema

    com

    que

    o

    poeta

    se debate

    ,

    a

    nosso

    ver,

    o

    seguinte:

    a

    civilizago

    ocidental,

    as diferentes

    rengas

    que

    a

    percorrem,

    oube

    sempreconjugar

    a noite

    e

    o

    dia,

    o Outono

    e

    a

    Primavera,

    Sexta-feira e dor e o

    Domingo

    de

    libertago,

    a

    morte

    a

    ressurreigo,

    que,

    no

    limite,

    ermitia ntegrar

    s dimensoes

    negati-

    vas

    da

    vida,

    como sao a mortee a

    dor,

    no

    mbito

    de um

    ciclo revitalizador

    da

    existencia. O mal

    radical

    surge,

    neste

    contexto,

    omo

    a

    interrupgo

    esse

    ciclo,

    como a

    feridada alma

    que

    nao

    permite ue

    o

    espirito

    prossiga,

    sendo

    a

    imagem

    mtica da terra

    desolada um dos

    seus smbolos mais

    perfeitos.

    Se

    o

    poema

    mudanca:But

    her

    Filomela]

    ranscendancef violences

    not

    ternal:

    er inviolableoice' s

    changed

    nto

    'Jug ug'

    o

    dirty

    ars,

    s the hain f

    transforming

    esire

    eaves

    othing

    nvio-

    late,

    othing

    tatic."

    H.Davidson,

    Reading

    he

    Waste and

    "

    in

    The

    Cambridgeompanion

    to

    T.S.Eliot,

    d.

    de

    A.D.Moody,

    ambridgeniversity

    ress, 994,

    .

    129).

    A

    passagem

    atina

    rovm

    e

    poema

    nnimo

    atino

    ue

    celebra

    chegada

    a Primave-

    ra

    e de

    Vnus,

    deusa

    do

    amor,

    ntoado m

    erimniasituaisa Roma

    ntiga:

    Adsonat erei

    puella ubtermbramopuli/ tputesmotusmoris redicimusico/tneges ueri ororem

    de

    marito

    arbaro./Illa

    antai,

    os

    tacemus.

    uando

    ver

    venit

    meum?/Quando

    iam ti heli-

    don,

    t acere

    esinam?/erdidi

    Musam

    acendo,

    ee

    mePhoebus

    espicitV

    ic

    Amy

    las,

    um

    tacerent,

    erdidit

    ilentium."

    Pervigiliumeneris) "A

    virgem

    e

    Tereus anta sombra o

    choupo,

    e

    tal

    modo

    ue pensaras

    ue

    trilos

    e

    amor airiama sua

    boca e no

    queixa

    urna

    irm

    ue

    tem m

    marido arbaro.

    ia

    canta,

    os

    estamos

    ilenciosos.

    uando

    que

    a minha

    Primaveraira?

    Quando

    que

    serei

    orno andorinha deixarei

    e estar

    ilencioso?

    erdi

    minhamusa m

    silencio

    Febo

    Apolo)

    no me

    olha."]

    Ressoam

    os versos

    e

    Eliot,

    utros

    temas

    oticos

    imilares

    a

    literatura

    nglesa:

    Swallow,

    my

    ister,

    sister

    wallow,

    How

    an

    thine eart

    e

    full

    f

    pring?",

    erso o

    poema

    e Swinburne

    1838-1909),tylus1866),

    nde

    o tema

    a

    metamorfosee

    Filomela directamente

    bordado

    Swinburne's

    ollected oetical

    Works,ondres, einemann,924, 54); "O Swallow,wallow, lying,lyingouth."Ten-

    nyson1809-1892],

    he

    rincess:

    Medley1847), ondres, acmillan,891).

    33

    "I

    sat

    upon

    he

    hore/

    ishing,

    ith

    he

    rid

    lain

    ehind

    me/

    hall

    at

    east et

    my

    ands

    in

    order?"

    The

    Waste

    and,

    w.

    423^25)

    Revista

    Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    12/18

    A

    Experiencia do Mal em

    T.S.

    Eliot 585

    urna atarse a experienciaomal, naturalueele traduzaonstantementesi-

    tua^ao

    de

    algum,

    u

    de urna

    ultura,

    ue

    se

    ve

    perdida

    o

    mais

    negro

    bismo

    se

    pergunta

    omo

    propiciar

    surgimento

    e um novo ciclo de vida. Em

    grande

    medida,

    questao

    de Eliot

    a

    mesma

    ue

    o realizador

    usso,

    Andrei

    arkovski

    coloca no seu

    ltimo

    ilme,

    Sacrificio34.

    estanarrativa

    inematogrfica,

    n-

    contramos

    rna

    meditalo

    em torno

    e urna

    ntiga

    enda

    que

    conta historia e

    algum ue

    encontrou

    rna rvore stiolada sem

    vida,

    mas

    que

    decidiu

    eg-la,

    todos s

    dias,

    om

    um

    pouco

    de

    agua,

    t

    que,

    subitamente,

    ia

    refloresceu.

    as,

    no

    desespero

    o

    poeta,

    le

    pergunta-se

    e

    na noite

    m

    que

    vive,

    eja

    eia

    pessoal

    ou

    civilizacional,

    al

    esperanga

    em entido.

    ai

    que

    a

    interrogasao

    hocante

    o

    poema, trs ssinalada,lcanceurna ovadimensao:Aquelecadver ueplan-

    taste

    ano

    passado

    no

    teu

    ardim

    come^ou

    despontar?

    er

    que

    d flor ste

    ano?"

    Da mesmaforma

    ue

    a

    personagem

    entral o

    Sacrificio

    r

    ser

    conside-

    radaum

    untico,

    liot

    nterroga-se

    e

    nao

    chegmos

    um

    ponto

    m

    que

    a mera

    reiteratalo

    e

    cren^as

    undanteso Ocidente

    ao se tornaro

    xpresso,

    os nos-

    sos

    ouvidos,

    e

    pura

    nsanidade ental.

    Neste

    contexto,

    ompreende-se

    impacto

    da

    obra

    de

    Frazer,

    The Golden

    Bough,

    obre

    TerraDesolada

    de Eliot.Relembremos

    ponto

    e

    partida

    o

    an-

    troplogo

    scoces,

    tendo orno

    eferencia clebre

    uadro

    de

    Turner,

    Rama

    Domada55.

    egundo

    razer,

    a

    Antiguidade

    lssica,

    existia m rito

    ruel,

    mas

    decisivo ara e compreenderconjuntoecrengasuemarcaramconstituigao

    da

    cultura cidental.

    ratava-se a recolha

    itual e um

    ramo,

    ssumido omo

    sendo

    de

    ouro,

    na

    rvore e

    um

    bosque

    sagrado

    a

    deusa

    Diana,

    a

    deusa

    virgem

    e

    selvagem

    as

    florestas.

    ra,

    em voltadesta rvore

    special,

    dedicada

    deusa,

    rondava

    m sacerdote

    uja

    tarefa onsista m

    preservar

    om a

    sua

    prpria

    ida

    aquele

    ramo

    nigmtico.

    ste

    sacerdote,

    scolhido

    abitualmente

    ntre s

    escra-

    vos

    ou

    gladiadores,

    ao

    tinha em

    um nstantee descanso

    u

    tranquilidade,

    ois

    haveria e

    chegar

    momento

    m

    que, por

    desatengo,

    lgum

    assassinaria

    tomara

    seu

    lugar.

    Como nos

    mostra

    razer,

    ra esta

    a

    regra elvagem aquele

    34"[...] l'antiqueegende e lapatiencee l'arbreec, elle-lmme ue 'ai prise omme

    axe

    de mon

    film,

    e

    plus

    mportant

    mes

    yeux

    e

    toute

    ma carrire.

    n

    moine,

    as

    aprs as,

    seau

    prs

    eau,

    vait rros

    n arbre essch

    ur e sommet

    'une

    olline,

    ans

    amis

    douter

    de

    la ncessit

    e

    ce

    qu'il

    ccomplissait,

    i

    perdre

    n

    seul

    nstantonfiance

    n a vertumiracu-

    leuse

    e sa

    foidans

    e Crateur.

    t

    c'est

    ourquoi

    l

    avait onnu

    e miracle:

    n

    beau

    matin,

    es

    branches

    'taient

    ouvertes

    e

    feuilles,

    'arbre

    vait etrouv

    a vie."

    Andrei

    arkovski,

    e

    Temps

    cell.

    e V

    Enfance

    'lvan u

    Sacrifice',

    rad,

    ranc.,

    aris,

    ditions

    e 'toile/

    ahiers

    du

    cinema,

    989,

    .210).

    No

    enredo o

    filme o cineasta

    usso,

    ealizado

    m

    1986,

    onta-se

    historia

    e

    urnafamilia

    ue

    subitamentee

    confrontaom

    a

    noticia

    a eclosoda terceira

    guerra

    undial.

    stanoticia

    pocalptica

    vivida

    or

    cada

    personagem

    iferentemente,

    esta-

    cando-se

    lexander

    ue promete

    Deusrenunciar

    tudo,

    mesmo o

    que

    he mais

    uerido,

    e

    a guerraorvitada.

    35

    Pinturae

    Turner,

    he

    Golden

    ough

    1834),

    na

    qual

    se

    representa

    rna

    ovem

    Sibila)

    acenando

    m

    ramo e

    ouro

    para

    um

    conjunto

    e

    pessoas

    ue

    se mantem

    ndiferentes,

    rnas

    dancando,

    utras escansando.

    Revista Portuguesa

    de

    Filosofa,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    13/18

    586

    Carlos Joo Correia

    santuario: posto acerdotal tambmuriosamentettulo e Rei so se po-

    deria bter ssassinando sacerdote

    nterior.

    e esteritual os

    parece,

    num

    pri-

    meiro

    momento,

    omo

    urna

    xcep9ao

    brbara

    o

    seio

    da

    civiliza9o

    clssica,

    pode-se,

    o

    entanto,

    urpreender

    eleurna

    onvicgo

    niversal

    eligiosa

    a nossa

    civiliza^o

    que

    se

    resume a

    ideia de

    um

    sacrificio

    omo forma e

    proporcio-

    nar

    urna

    evitalizasao

    a

    existencia

    da

    vida.

    Na

    base desta

    ren9a,

    ncontra-se

    intu9ao

    entral e

    Frazer,

    egundo qual

    os nossosmitos ao

    sao

    maisdo

    que

    a

    tradu^ao

    e

    um

    paralelismo

    ncontrado

    ntre,

    or

    um

    ado,

    morte

    a

    ressurrei-

    go

    dos

    deuses, ,

    por

    outro,

    s ciclo e os ritmos

    egenerativos

    a vida

    e da

    natu-

    reza,

    m

    particular,queles

    que

    se

    descortinan

    a

    revitalizaQo

    as

    plantas

    pe-

    sar da sua semente er acada nosabismos a Terra. ao variosos mitos as

    renlas

    eligiosas

    ue

    do

    corpo

    esta deia:

    o mitos

    e

    Adonis

    na

    Siria Grcia

    antigas,

    e Osrisna

    civiliza9o

    gipcia,

    e

    Persfone de Demter

    Ceres)

    nos

    misteriose

    Eleusis,

    do

    Crepsculo

    os Deuses

    Ragnarok)

    a

    mitologia erm-

    nica,

    da

    morte

    ressurreigo

    e Cristo

    a

    religio

    rista.

    que,

    em

    momentos

    de

    desespero rofundo,

    cren9a

    na

    vitalidade

    esteciclo

    abalada,

    surgindo,

    assim,

    imagem

    e reis

    doentes,

    mpotentes,

    resos

    eja

    a

    urna erra stril

    omo

    o

    Rei Pescador u a

    urna

    idade ssolada

    ela peste

    omo Tebas

    do

    Rei

    dipo.

    A tese

    que

    sustentamosncontra rna

    omprova9o ritante

    a

    epgrafe

    ue

    Eliot

    scolheu

    ara

    The Waste and.

    Trata-se

    e um

    excerto m atim a obrade

    Petrnio,atyricon,propsitoe urna ersonagemamitologiaomana onhe-

    cida

    como

    a

    Sibila de Cumas.

    Segundo

    onta

    o

    mito,

    ibila

    solicitou

    o seu

    amante,

    polo, ue

    lhe

    concedesse

    rna ida

    muito

    onga,

    squecendo-se,

    o en-

    tanto,

    e

    reclamar

    juventude.

    ssim,

    medida

    ue

    envelhecia a

    ficando

    ada

    vez

    mais

    ressequida

    carcomida um

    ponto

    al

    que

    foi

    prisionada

    uma

    aiola.

    neste ontexto

    ue surge

    frase e

    Petrnio,

    itada

    por

    Eliot como momento

    inaugural

    e

    A

    TerraDesolada:

    "Porque

    u

    vi

    com os meus olhos

    a

    Sibila de

    Cumas

    presa

    numa

    aiola

    e

    as

    criabas

    perguntavam-lhe:

    O

    que

    que

    tu

    queres,

    Sibila?

    Eia

    responda:

    Quero

    morrer"36.

    ste

    inegavelmente

    ponto

    e

    par-

    tida

    do

    poema,

    situa9ao

    e

    algum

    ue perdeu

    oda

    esperaba

    num

    iclo

    revi-

    talizador,araquem

    nao h

    morte emvida.E o

    poema,

    omoum

    todo,

    ons-

    titu mrito atrtico redentorestamesma erida m

    que

    a alma se sente eso-

    lada,

    procurando

    efugio aconchego

    a

    raiz do

    seu

    prprio

    esespero.

    ai

    os

    belosmas

    trgicos

    ersos

    niciis

    o

    poema:

    "Abril

    o msmais

    ruel,

    erando

    Lilases a terra

    orta,

    isturando

    Memoriao

    desejo, gitando

    Razes nertesom chuva aPrimavera.

    36

    "Nam

    ibyllamuidem

    umis

    go

    pse

    culis

    meis

    idi

    n

    mpulla/endere,

    t um

    lli

    pueri

    icerent:

    iPuXa

    i

    0ei

    espondebat

    lla:/

    crcoGaveiveA)"

    "The

    Waste and" n

    Selected

    oems,

    .49).

    f.

    etronius,

    atyrcon,

    d.

    Mller,

    unique,

    9833,

    .

    48).

    Revista Portuguesa de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    14/18

    A Experiencia

    do

    Mal em

    T.S.

    Eliot

    587

    O Invernomanteve-nosuentes,obrindo

    A terra om nevedo

    esquecimento"37

    Neste xcerto ncontramos

    expresso

    e

    urna ida

    desolada,morta,

    imbo-

    lizada tanto

    ela

    neve do

    esquecimento,

    omo

    pelo

    facto

    e

    toda

    a

    revitalizaco

    ser sentida

    omo

    cruel,

    m

    que

    nao

    h

    lugarpara

    a

    distinco ntre

    passado

    ("memoria")

    o

    futuro

    "desejo").

    O

    mes de

    Abril,

    momento

    or

    excelencia os

    ritos

    de

    fertilidade,

    e

    consagraco

    a

    luz,

    nao d

    lugar

    vida,

    pois,

    com

    efeito,

    ergunta-se

    poema,

    uma

    assagem parcialmente

    itada:

    "Que

    razes e

    prendem,ue

    ramos rescem

    Neste

    ntulho

    edregoso?

    ilho

    do

    homem,

    Nao consegues izer, em divinhar,oisconhecespenas

    Um

    montao e

    imagens uebradas,

    nde

    bate

    Sol,

    E

    a

    rvoremorta

    ao d

    qualquer brigo,

    em

    grilo rgua,

    E a

    pedra

    eca nenhumom

    de

    agua.Apenas

    H

    sombra

    ebaixo esta

    ocha ermelha

    (Anda,

    em

    para

    sombra esta ocha

    ermelha),

    E vou mostrar-te

    rna oisa ao mesmo

    empo

    iferente

    Da tua ombra

    uando

    o

    amanhecere

    egue

    E da tua ombra

    uando

    o entardecere

    enfrenta;

    Vou-temostrar

    medonum

    unhado

    e

    poeira."38

    Seria,

    no

    entanto,

    edutor

    ensar que

    o

    poema

    de

    Eliot se

    esgota

    num mero

    diagnsticode urnacrise,seja esta ltima entendida m termospessoais ou civi-

    lizacionais.

    Sem

    dvida

    que

    o autor

    brilhante,

    a sua ironia

    mordaz,

    em criar

    personagens

    e situaces

    que

    traduzem o vazio

    e

    o

    cinismo de urna

    cultura

    que

    deixou

    de

    acreditar

    em si mesma.

    E, assim,

    encontramos divertida

    Madame

    Sosostris,

    cartomante

    e

    Tarot,

    que

    bem se esforca

    por

    encontrar carta

    perdida

    do

    "Enforcado"

    -

    smbolo do

    rei

    que

    se

    sacrifica em nome da revitalizaco

    do

    mundo

    ,

    mas

    que

    nao

    mais do

    que

    a

    tpica

    adivinha

    de

    pacotilha

    que

    transfor-

    ma

    a forca

    a

    riqueza

    dos smbolos

    de

    urnaculturanuma

    arte

    superficial

    e con-

    jecturas:

    "Madame

    osostris,

    idente

    amosa,

    Estavamuitoonstipada,oentanto

    Passa

    por

    er

    mais abia

    mulher

    a

    Europa,

    Com

    ummaldito

    aralho

    e

    cartas.

    ...]

    37

    "April

    s

    the rudest

    month,

    reeding/

    ilacs ut

    f he ead

    and,

    mixing/ emory

    nd

    desire,

    tirring/

    ull roots

    with

    pring

    ain./

    inter

    ept

    s

    warm,

    overing/

    arth

    n

    forgetful

    snow"(77zi?

    aste

    and,

    w.1-6)

    "What re

    he oots

    hat

    lutch,

    hat ranches

    row/

    utof this

    tony

    ubbish?on of

    man/

    ou

    cannot

    ay,

    r

    guess,

    or

    ou

    know

    nly/ heap

    ofbroken

    mages,

    here he un

    beats/

    nd

    the ead

    ree

    ives

    no

    shelter,

    he ricketo

    relief/

    ndthe

    ry

    tone

    o sound f

    water./nly/here s shadow nder his edrock/(Comen under he hadow f this ed

    rock)/And

    will how

    you

    omething

    ifferentrom

    ither/our hadow

    t

    morningtriding

    behind

    ou/

    r

    you

    hadow

    t

    evening

    ising

    omeet

    ou/

    will how

    you

    fearn

    a

    handfulf

    dust"

    The

    Waste

    and,

    w.

    19-30)

    RevistaPortuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    15/18

    588

    Carlos Joo Correia

    No encontr

    O Enforcado.

    enha

    medoda morte

    ela

    agua.

    Vejo

    multidoes

    e

    gente,

    caminharm

    crculo.

    Obligada.

    e

    vir

    querida

    r3

    quitone,

    Diga-lhe ue

    eu

    prpria

    evoo

    horscopo"39

    Sao

    igualmente

    famosas as

    passagens

    do

    poema

    em

    que

    o autor denuncia

    as

    cenas

    da

    vida

    conjugal,

    assim como as formas steris

    de

    relacionamento

    ntre

    os homens e as

    mulheres,

    mbas marcadas

    pela

    manipulaco,

    pelo

    poder,

    mas,

    acima de

    tudo,

    pelo

    vazio. Como

    estamos

    longe, pergunta-se

    liot,

    da

    paixo

    in-

    finitade

    Tristo

    e

    Isolda,

    mito centralda civilizaco

    ocidental

    que

    o

    poeta

    cita

    directamentem alemo do libretode Wagner40.Mas, "desolado e vazio est o

    mar"41

    ,

    em vez

    do amor

    pujante

    entre

    dois seres

    que

    entrelacamna morte

    seu

    destino,

    que

    temos?

    Os meuservos stomalesta

    noite.

    im,

    mal.

    Fica

    comigo.

    Fala

    comigo.

    or

    que

    que

    nunca

    alas? ala.

    Em

    que

    ests

    pensar?

    pensar

    que?

    O

    qu?

    Nunca ei no

    que

    ests

    pensar.

    ensa.42

    Ou

    ento,

    mera

    relacao

    superficial,

    azia,

    malquerida:

    "A

    dactilgrafa

    mcasa hora

    e

    cha,

    evanta

    pequeno-almoco,

    cende

    O

    fogo,

    pe

    na mesa

    omida e conserva.

    ...]

    EuTirsias, elhode tetasmitradas,

    Entendi cenae adivinhei

    resto

    Tambm

    u

    aguardava

    visitante

    revisto.

    Ele

    chega,

    ovem

    arbunculoso

    ...]

    Afogueado

    decidido,

    assa

    acco;

    As

    mos

    ntrometidaso encontram

    efesa;

    A

    vaidade elenao

    exige

    etribuico

    E das as

    boas-vindas indiferenca

    (E

    eu

    Tirsias

    penei

    udo sto

    Representado

    este iva

    ou

    cama;

    ...]

    Eia

    volta-se v-se o

    espelho or

    um

    momento,

    Mal se dando onta equeo amante artiu;

    39

    Madame

    osostris,

    amous

    lairvoyante/

    ad a

    bad

    cold,

    nevertheless/s

    known

    o

    be

    thewisest

    oman

    n

    Europe,

    With

    wicked

    ack

    f

    ards.

    .

    ]/I

    o

    not

    ind/The

    anged

    Man.

    Feardeath

    y

    water./I

    ee

    crowds

    f

    people,

    walking

    ound

    n

    a

    ring/Thankou.

    f

    you

    see

    dear

    Mrs.

    quitone/Tell

    er

    bring

    he

    oroscope yself

    The

    Waste

    and,

    w.43-58).

    "Frischweht

    er Wind/

    er

    Heimat

    u/Mein risch ind/

    Woweilest u?"

    ["O

    vento

    sopra

    rescom

    direcco

    casa;

    minha nanca

    rlandesa

    o

    que

    que

    ests

    espera?"]

    The

    Waste

    and,w.31-34).

    Cf.

    Wagner,

    ristan

    nd solde

    Acto.

    a e

    2acena.

    41

    'Ved' und eerdas Meerr

    The

    Waste

    and,

    y

    AT).

    Cf.

    Wagner,

    ristan

    nd solde

    II

    Acto,acena.42

    'My

    nervesrebad

    to-night.

    es,

    bad.

    Stay

    with

    me./

    Speak

    o

    me.

    Why

    o

    you

    never

    speak.

    peak./

    What re

    you

    thinking

    f?What

    hinking?

    hat?/I

    never now

    what

    ou

    re

    thinking.

    hink.'

    The

    Waste

    and,

    w. 111-1

    4).

    Revista

    Portuguesa de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    16/18

    A

    Experiencia do Mal

    em

    T.S. Eliot

    589

    Deixaumpensamentonacabado ir-lhe mente:

    Bern,

    gora

    stfeito: aindabem

    ue

    acabou.43

    A

    figura

    mitolgica

    de Tirsias

    desempenha

    um

    papel

    crucial no

    poema, pois

    eie

    ,

    para

    Eliot,

    a

    expresso

    da

    humanidade

    na

    sua

    dupla

    faceta masculina e fe-

    minina. Com

    efeito,

    no

    mito

    clssico,

    Tirsias

    que

    experienciou

    sucessivamente

    a condico

    de homem e

    mulher,

    condenado

    cegueira pelos

    deuses,

    embora

    Zeus,

    num acto

    de

    compaixo,

    tenha,

    no

    limite,

    transmutado

    privaco

    numa

    viso

    superior44.

    ai

    que

    ele

    se tenha

    tornado,

    para

    a

    cultura

    lssica,

    o

    smbolo

    do vidente

    por

    excelencia,

    aquele

    que

    alerta

    dipo para

    as raizes da

    peste

    devas-

    tadora.

    Mas

    agora

    temos

    um

    Tirsias

    de tetas

    enrugadas,

    urna humanidade

    envelhecida que esconde em gestos mecnicos a indiferenca dos seus actos.

    Estamos,

    assim,

    em face de

    urna

    humanidade

    cativa na terra

    desolada,

    na

    pura

    experiencia

    do

    mal,

    que,

    tal

    como na

    cena

    bblica,

    apenas

    se

    pode

    lamentar:

    "Juntos

    aguas

    do

    Leman

    entei-me

    chorei..."45

    E,

    no

    entanto,

    na

    ltima

    sec^o

    do

    poema,

    Eliot

    transmuta

    desespero

    em

    esperanca.

    Num

    primeiro

    momento,

    escutamos

    novamente

    a

    voz do

    desespero

    numdos

    momentos

    mais

    intensosde The

    WasteLand:

    "Aqui

    nao existe

    gua

    mas

    penas

    ocha

    Rocha

    nao

    agua

    e

    a

    estrada renosa

    Serpenteandooaltopor ntresmontanhas

    Que

    sao montanhas

    e rocha em

    gua

    Se

    houvesse

    gua parvamos

    bebamos

    No

    meiodas rochas

    ao se

    podeparar

    u

    pensar"46

    43

    "The

    ypist

    ome

    t

    teatime,

    lears

    er

    reakfast,

    ights/

    er

    tove,

    nd

    ays

    ut

    food

    n

    tins.

    ...]/

    1

    Tiresias,

    ld

    man

    withwrinkled

    ugs/

    erceivedhe cene

    nd

    foretold

    he est/

    too

    awaited

    he

    xpected uest./

    e,

    the

    young

    man

    carbuncular,rrives,

    ...]/

    Flushed

    nd

    decided,

    e

    assaults

    t

    once;

    Exploring

    ands ncounter

    o

    defence;

    is

    vanity

    equires

    o

    response,ndmakes welcomef ndifference./(AndTiresias aveforesufferedll/ nacted

    on this ame

    divan r

    bed;/

    he

    turnsnd ooks

    moment

    n the

    glass/Hardly

    ware

    f her

    departed

    over;/

    erbrain

    llows

    nehalf-formed

    hought

    o

    pass:/

    Wellnow

    that's

    one: nd

    I'm

    glad

    t's ver.'"

    The

    Waste

    and,

    w.222-252).

    Ovidio,

    Metamorfoses,

    ivro

    II w.316 e

    sgs.;

    Tiresias,

    lthough

    mere

    pectator

    nd

    not ndeed

    'character1,

    s

    yet

    hemost

    mportant

    ersonage

    n

    the

    poem, niting

    ll

    the

    est.

    [. ]

    What iresias

    ees,

    n

    fact,

    s the ubstancef

    he

    oem."

    Notes,

    .218,

    .70).

    45

    "By

    the

    watersfLeman

    satdown

    nd

    wept..."

    The

    Waste

    and,

    v.182).

    Leman o

    nome

    rancso

    lago

    na Suca

    que

    ficava

    erto

    a

    instituico

    siquitrica

    m

    que

    Eliot

    steve,

    no

    anode

    1921,

    nternado

    or

    depressa

    ervosa.

    passagem

    blica

    ue

    ecoa

    naturalmente

    o Salmo

    7:

    Nas

    margens

    os

    ros a

    Babilnia,

    entmo-nos

    choramos"

    Salmos

    7:

    ).

    "Here snowater ut nly ock/ ock ndno waternd he andyoad/ heroadwind-

    ing

    above

    mong

    hemountains/

    hich re mountains

    f rock

    without ater/f there ere

    water

    e

    should

    top

    nddrink/

    mongst

    he ock

    necannot

    top

    r hink"

    The

    Waste

    and,

    w.33

    1-335)

    Revista

    Portuguesa

    de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    17/18

    590

    Carlos Jo

    A

    Cor

    re

    A taldesespero,Eliot contrapeumnovo smbolopoticoque d, alias, ttulo

    a

    esta

    sec^ao

    do

    poema:

    O

    que

    disse

    o

    Trovo. Este trovo

    claramente

    voz

    divina,

    como se deixa adivinharna

    conhecida

    raiz

    indo-europeia

    da

    palavra

    deus

    que significa

    iteralmente cu

    brilhante,

    nquanto expresso

    da

    luz

    intensa e

    do tro

    ejar que

    acompanha

    a

    ecloso dos

    relmpagos.

    A

    presenta

    de

    Deus,

    mesmo

    que pressentida

    na

    Sua

    ausencia,

    constitu o

    poema

    a

    voz

    que

    nos

    redime:

    "Quem

    o

    terceiro

    ue

    caminha

    empre

    teu

    ado?

    Quando

    onto,

    estamos u

    eu

    Mas

    quando

    lho diante a estrada ranca

    H sempreutro aminhando teu ado,

    Deslizando nvolvido ummanto

    astanho,

    mbucado

    No sei se homem

    u mulher

    -

    Mas

    quem

    esse do outro ado de ti?"47

    O

    que

    disse o

    Trovo

    , assim,

    a voz

    da

    sabedoria divina

    que

    Eliot

    vai sur-

    preender

    m

    textos

    sagrados,

    no tantoda culturaocidental mas

    do

    Oriente,

    m

    particular

    nos

    Upanishads4*.

    egundo

    reza

    a

    lenda

    indiana,

    em face do mesmo

    som

    DA,

    os

    humanos,

    os

    demonios

    e

    os

    deuses escutam sons

    diferentes,mas,

    todos

    eles,

    decisivos

    na

    libertago

    da

    experiencia

    do mal.

    E

    utilizando

    palavras

    do

    snscrito,

    lingua sagrada

    da cultura

    vdica,

    o

    poema

    de Eliot

    diz-nos,

    em

    tresmomentos ruciais:

    1

    "Ento alou trovo

    DA

    Datta: o

    que

    demosnos?

    Meu

    amigo,

    sangue ue

    faz

    mover meu oraco

    A

    tremendausadiade um

    nstantee ousadia

    Que

    urna rade

    prudencia

    ao

    pode

    revogar

    Por

    sto,

    s

    por

    sto,

    emos xistido"

    47"Who sthe hird howalks lways eside ou?/When count,herere nlyyou nd

    together/

    ut

    when

    look head

    p

    thewhite oad/ here

    s

    always

    nother

    ne

    walking

    eside

    you/ liding

    rapt

    n a brown

    mantle,

    ooded/do notknow

    whether

    man

    r womanABut

    who s that

    n the ther

    ide

    of

    you?"

    The

    Waste

    and,

    w.359-365).

    T.S.Eliot,

    a

    nota o

    verso

    60,

    relata

    facto

    ue

    inspirou

    sta

    assagem:

    The

    following

    ineswere timulated

    y

    the ccount f

    oneof he

    Antarctic

    xpeditions

    I

    forget

    hich,

    ut think

    neof

    Shackleton's):

    it

    was related hat he

    party

    f

    explorers,

    t the

    xtremity

    f their

    trength,

    ad the onstant

    delusionhat

    here asone

    morememberhan

    ould

    ctually

    e

    counted."

    Notes,

    .360,

    .73).

    Mas evidente

    influenciaa

    passagem

    blica m

    que

    Jesus,

    essuscitado,

    parece,

    o

    cami-

    nho

    e

    Emas,

    dois

    discpulos

    So

    Lucas,

    4:1 e

    sgs).

    'The

    fable f

    the

    meaning

    ftheThunders

    foundn

    the

    Brihadaranyaka

    panishad,

    5,1."Notes,.401, .73).Eliot aseia-se apassagemoBrihadaranyakapanishad ,cap-

    tulo

    (As

    tres

    randes

    isciplinas)

    m

    que Parajapati

    "senhor

    as

    criaturas")

    nsina s deu-

    ses,

    os

    homens os demonios

    controlarem-se,

    serem

    enerosos

    compassivos.

    egundo

    este

    Upanishad

    esmo

    oje,

    o som

    o trovo

    DA),

    se

    pode

    scutar

    sse nsinamento.

    Revista

    Portuguesa de

    Filosofa,

    57

    (2001),

    575-591

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  • 7/24/2019 A Terra Desolada a Experincia Do Mal Em T. S. Eliot

    18/18

    A

    Experiencia do

    Mal em

    T.S. Eliot 591

    2. "DA

    Dayadhvam:

    uvi

    chave

    Voltar-se

    rna

    ez na

    porta

    so urna ez

    Nos

    pensamos

    a

    chave,

    ada urna a

    sua

    priso

    Pensando

    a

    chave,

    ada umconfirmasua

    priso"

    3.

    "DA

    Damyata:

    O

    barco

    espondeu

    Alegremente

    mo

    experimentada

    a vela e

    no remo

    O mar stava

    almo,

    teu oraco

    eria

    espondido

    Alegremente

    o

    convite,

    atendo bediente

    s mos

    que dirigem."49

    No mundoda terradesolada, tressimples palavras ecoam, aquelas que, se-

    gundo

    Eliot,

    nos

    permitem

    entir

    experiencia

    da liberdade o

    sopro

    do

    espirito.

    Datta,

    literalmente

    d ,

    isto

    ,

    perde-te

    no

    dom e na

    generosidade,

    mesmo

    que

    os olhos

    da

    prudencia

    no saibam

    decifrar i

    a

    raiz do teu

    ser;

    Dayadhvam,

    lite-

    ralmente

    tem

    compaixo ,

    numa

    palavra,

    nao

    te enclausures

    em ti

    prprio

    e,

    finalmente,

    amyata,

    controla-te ,

    nao

    disperses

    a

    mente mas

    concentrao

    es-

    pirito

    em

    cada

    um

    dos

    teus

    gestos.

    A

    generosidade, compaixo

    e

    a concentra-

    co

    sao,

    assim,

    os

    tres

    pilares

    divinos

    da sabedoria libertadora

    a Terra Desola-

    da,

    sem os

    quais

    nunca

    ser

    possvel

    encontrar

    paz

    que ultrapassa

    o entendi-

    mento

    (Shantih).

    E

    com

    as

    seguintespalavras

    finis termina

    The Waste

    Land,

    rematando rito atrtico ue constitu odo o poema:

    "Datta.

    Dayadhvam.

    amyata.

    Shantihhantih

    hantih"50

    49

    'Then

    spoke

    he

    hunder/

    A/Datta:

    what

    avewe

    given?/ y

    friend,

    lood

    haking

    my

    heart/

    he awful

    aring

    f

    a moment's

    urrender/

    hich n

    age

    of

    prudence

    an never

    retract/

    y

    this,

    nd his

    nly,

    e have xisted

    . ]

    DA/

    Dayadhvam:

    have

    heard he

    ey/

    urn

    nthe oor nce

    nd urnnce

    nly/

    e think

    of

    he

    ey,

    ach

    nhis

    person/

    hinking

    f

    he

    ey,

    ach onfirms

    prison

    . ]

    DA/Damyata: he boatresponded/aily, othehand xpert ith ail andoar/ he sea

    was

    calm,

    our

    eart

    ould

    have

    responded/

    aily,

    when

    nvited,

    eating

    bedient/

    o con-

    trolling

    ands"

    The

    Waste

    and,

    w.400-422).

    50

    The

    Waste

    and,

    w.432-433.

    Revista

    Portuguesa de

    Filosofia,

    57

    (2001),

    575-591