ELIOT T S - A Terra Desolada [Trad Ivan Junqueira]

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  • 1922

    A T 'I R/\ IJI" LA A.

    Nam Sibyllam quidem Cumis ego ipseoculis meis vidi in ampulla pendere,et cum illi pueri dicerent: 'L{3v>..>..aT{ 8f>..m;respondebat illa: 7ro(JaVELV 8f>"w.53

    A Ezra Poundil miglior [abbro.

    I. "Ir nio (Caius Petronius Arbiter), Satyricon, capo 48: "Pois com meus pr-111'/ s olhos vi em Cuma a Sibila, suspensa dentro de uma ampola, e quando as(1'I1In os lhe diziam: ' ibila, o que queres?'; ela respondia: 'Quero morrer'."N. d .)

  • J. 'M RT S

    I I

    Abril o mais cruel dos meses, germinaLilases da terra morta, misturaM mria e desejo, avivaAgnicas razes com a chuva da primavera.O inverno nos agasalhava, envolvendoA terra em neve deslembrada, nutrindoCom secos tubrculos o que ainda restava de vida.O vero nos surpreendeu, caindo do Starnbergerseeom um aguaceiro. Paramos junto aos prticosE ao sol caminhamos pelas alias do Hofgarten,Tomamos caf, e por uma hora conversamos.Bin gar keine Russin, stamm' aus Litauen, echt deutsch.Quando ramos crianas, na casa do arquiduque,Meu primo, ele convidou-me a passear de tren.E eu tive medo. Disse-me ele, Maria,Maria, agarra-te firme. E encosta abaixo deslizamos.Nas montanhas, l, onde livre te sentes.Leio muito noite, e viajo para o sul durante o inverno.

    ( ~\MfLv~

    (v-

  • ~30

    90

    (Chega-te sombra desta rocha scarlatc),E VOu---mqstrar-tealgo distintoDe tua sombra a caminhar atrs de ti quando amanheceOu de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando.Vou revelar-te o ue o medo num unhado de . '

    Frisch weht der WindDer Heimat zuMein lrisch Kind,Wo weilest du?

    40

    "Um ano faz agora que os primeiros jacintos me deste;Chamavam-me a menina dos jacintos."- Mas ao voltarmos, tarde, do Jardim dos Jacintos,Teus braos cheios de jacintos e teus cabelos midos, no pudeFalar, e meus olhos se enevoaram, eu no sabiaSe vivo ou morto estava, e tudo ignoravaPerplexo ante o corao da luz, o silncio.Oed' und leer das Meer.

    50

    Madame Sosostris, clebre vidente,Contraiu incurvel resfriado; ainda assim, conhecida como a mulher mais sbia da Europa,Com seu trfego baralho. Esta aqui, disse ela, tua carta, a do Marinheiro Fencio Afogado.(Estas so as prolas que foram seus olhos. Olha!)Eis aqui Beladona, a Madona dos Rochedos ,A Senhora das Situaces.Aqui est o homem dos trs bastes, e aqui a Roda da Fortuna.E aqui se v o mercador zarolho, e esta carta. ,Que em branco vs, algo que ele s costas leva,Mas que a mim proibiram-me- de ver. No achoO Enforcado. Receia morte por gua.Vejo multides que em crculos perambulam.Obrigada. Se encontrares, querido, a Senhora Equitone,Diz-lhe que eu mesma lhe entrego o horscopo:Todo o cuidado pouco nestes dias.

    ,,0 idad irreal,'1 Julva n blina d uma aurora de inverno,

    Flu a multido pela Ponte de Londres, eram tantos,1amais ensei ue a morte a tantos destrura.Breves e entrecortados, os suspiros exalavam,E cada homem fincava o olhar adiante de seus ps.algava a colina e percorria a King William Street,

    At onde Saint Mary Woolnoth marcava as horasom um dobre surdo ao fim da nona badalada.

    Vi algum que conhecia,e o fiz parar, aos gritos: "Stetson,Tu gue estiveste comigo nas galeras de Myla~! .O cadver que plantaste ano passado em teu JardImI comeou a brotar? Dar flores este ano? .Ou foi a im revista eada ue o erturbou em seu leIto?Conserva o Co distncia, esse amigo do homem,"ou ele vir com SUgS unhas outra vez desenterr-lo!

    b fr I"Tu! Hypocrite lecteur! - mon sembla le -, mon rere.

    91

  • 11. UMA PARTIDA O; AI)lU Z

    80

    Sua cadeira, como um trono luzidio,Fulgia sobre o mrmore, onde o espelhoSuspenso em pedestais de uvas lavradas,Entre as guais um dourado Cupido espreitava(Um outro os olhos escondia sob as asas),Duplicava as chamas que nos sete braosDo candelabro ardiam, faiscandoSobre a mesa um claro a cujo encontroSubia o resplendor de suas jiasEm rica profuso do escrnio derramadas;Em frascos de marfim e vidros coloridosMoviam-se em surdina seus perfumes raros,Sintticos ungentos, lquidos e em p,Que perturbavam, confundiam e afogavamOs sentidos em fragrncias; instigadosPelas brisas refrescantes da janela,Os aromas ascendiam, excitandoAs esguias chamas dos crios, espargiamSeus eflvios pelo teto ornamentado,Agitando os arabescos que o bordavam.Emoldurada em pedras mt.ilticores,Uma enorme carcaa submarina,De cobre revestida, latejavaRevrberos de verde e alaranjado,Em cuja triste luz um delfim nadava.Acima da lareira era exibida,Como se uma janela desse a ver

    90

    100

    92

    110

    ccnri silve 'tI"1 I 11' 111 I'l W'U tic -

  • 140To inteligente"Que f~-8gora? Que farei?Sairei s pressas, assim como estou, e andarei pelas ruasCom meu cabelo em desalinho. Que faremos amanh?Que faremos jamais?

    O banho quente s dez.E caso chova, um carro s quatro. Fechado.E jogaremos uma partida de xadrez, apertando olhos sem

    plpebras espera de uma batida na porta.

    150

    Quando o marido de Lil deu baixa, eu disse- No sabia ento medir minhas palavras, eu mesmo disse

    a elaDEPRESSA POR FAVOR TARDEAgora que Alberto est para voltar, v se te cuida um pouco,Ele vai querer saber o que fez voc com o dinheiro que ele deuPara ajeitar esses seus dentes. Foi isso o que ele fez, eu

    estava l.Arranca logo todos eles, Lil, e pe na boca uma dentadura

    decente.Foi isso o que ele disse, juro, j no agento ver voc assim.Muito menos eu, disse, e pensa no pobre AlbertoEle serviu o exrcito por quatro anos, quer agora se divertirE se voc no o fizer, outras o faro, disse.Ah, assim. Ou qualquer coisa de parecido, respondi.Ento saberei a quem agradecer, disse ela, fitando-me nos

    olhos.DEPRESSA POR FAVOR TARDESe no lhe agrada, faa o que lhe der na telha.Outras podem escolher e passar logo a mo, se voc no pode,Mas se Alberto sumir, no foi por falta de aviso.Voc devia se envergonhar, disse, de parecer to passada.(E ela s tem trinta e um anos.)No sei o que fazer, disse ela, com um ar desapontado,Foram essas plulas que tomei para abortar, disse.(Ela j teve cinco filhos, e ao parir o mais novo, Jorge, quase

    morreu.)

    160

    94

    \lU

    lHO

    I . )1'1' .ria bem, ma nunca maisurmuc .utic li se 1\1 (Ulllfui a m ma. .

    Y c 6 uma perf ita idi ta, dis eu. ,. "paz a que esta.B 111, se Alberto no deixar voce e~ .' ?P r que voc se casou, se no quena filhos.EPRESSA POR FAVOR E TARDE I

    ~ m, naquele domingo em que Alberto voltou para casa, e esserviram um pernil assado b. fi de que eu o sa oreasseme convidaram para Jantar, a imainda quente. ,

    DEPRESSA POR FAVOR E TARDEDEPRESSA POR FAVOR TARDE .Boanoite Bill. Boanoite Lou. Boanoite May. BoanOlte.Tchau 'Noite. 'Noite. b 'teBoa-n~ite, senhoras, boa-noite, gentis senhoras, oa-noi .

    boa-noite.

    9S

  • f~;r7IN'V'-~{

    rJ..y~~

    (Ce;.~

    q 200

    rrr. O SERMO DO F

    190

    O dossel do rio se rompeu: os derradeiros dedos das folhasAgarram-se s midas entranhas dos barrancos. 1m ressentido,O vento cruza a terra estiolada. As ninfas j partiram.Doce Tmisa corre suave, at que meu canto eu termme.O rio no su orta garrafas vazias, restos de comida,Lencos de seda, caixas-de _. apelo, pontas de cicrarrE outros testemunhos das noites de vero. As ninfas j

    partiram.E seus amigos, os ociosos herdeiros de magnatas municipais,Partiram sem deixar vestgios.s margens do Lman sentei-me e l chorei ...Doce Tmisa corre suave, at ue meu canto eu termine,Doce Tmisa, corre suaye, pois falarei baixinho e uase nada

    te direi.Atrs de mim, orm, numa rajada fria escutoO chocalhar dos ossos, e um riso resse uido tan encia o rio.Um rato rasteia macio entre as ervas .9aninhas,Arrastando seu viscoso ventre sobre a mar emEn uanto eu esco no canal sombrioDurante um cre uscu o e inverno, rodeando or detrs o

    gasmetro,A meditar sobre o naufrgio do rei meu irmoE sobre a morte do rei meu ai ue antes deleereceu.Brancos corpos nus sobre midos solos pegajososE ossos dispersos numa seca e estreita gua-furtada,Que apenas vez por outra os ps dos ratos embaralham.Atrs de mim, porm, de quando em quando escuto

    lU

    d buzl " m t rcs que traro na primavera( rU11l l: ti' 1I:t111 l '" ,'w'cn Y de v lta a s bra.os da S nhora Porter.

    o a Iua que luminosa brilhar -'a S nhora Porter e sua filha, am?as

    /\ b nhar os ps em borbulhante soda. ,W O ces voix d'enjants chantant dans Ia coupole.

    96

    Tiuit tiuit tiuit'riu tiu tiu tiu tiu tiuTo rudemente violada.Tcreu

    A;-~~Qlr~a~v~io~l~fce~a~,~q~u~a~n~d~o~o:s7:0:lh~o~s~e~ats~c~o;s~ta~sc'.!. - - d ma uina humanas mesas de trabalho renunciam uan o a

    aguarda , . ,Como um trepidante taxI a espera) .dEu Tirsias embora cego, palpitando entre duas VI aS1U~ velho c~m as tetas engelhadas, posso ver,~ . I omento cre uscular ue lutaNessa hora VI0 acea, o m . h' sua casa'Rumo ao lar, e que do mar devolv~ o marm eu? 'A datilgrafa que ao lar regressa a _hora d~ cha,

    lh as sobras do caf da manha, acen e

    ()

    Cidade irreal, .ob a flva neblina de um meio-dia de inverno,O Senhor Eugnides, o mercador de Smyrna, , .A barba por fazer e o bolso ~he~o de passas conntlaSC IF Londres, documentos a vista , . diri )C~~vidou-me em seu francs vulgar (demtico. eu maA almocar no Cannon Street HotelE a pa;sar um fim de semana no Metropole.

    97

    )~e~~ga~eiro e improvisa seu jantar em latas d~. con_serva.Suspensas perigosamente na jan~la, suas com macoesSecam ao toque dos ltimos ralOS sol~res.Sobre o div ( noite, sua ~~ma) empham-seMeias, chinelos, batas e sutlas.aEu, Tirsias, um velho d~ enrugadas tetas,--'~p rcebo a c na anteve]o o resto.

  • 250(n-itk~~~~~~1

    260

    270

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    - Tambm eu aguardava o esperado convidado.Chega ento um rapaz com marcas de bexiga,Um insignificante balconista de olhar atrevido,Um desses tipos -toa em que a arrogncia assenta to bemQuanto a cartola na cabea de um milionrio de Bradford.O momento agora propcio, ele calcula,O jantar acabou, ela est exausta e entediada.Ele procura ento envolv-Ia em suas carcias,No de todo repelidas, mas tampouco desejadas.Excitado e resoluto, ele afinal investe.Mos aventureiras no encontram resistncia;Sua vaidade dispensa resposta,E faz da indiferena uma ddiva.(E eu, Tirsias, que j sofrera tudoO que nessa cama ou div fora encenado,;Eu, que ao p dos muros de Tebas me senteiE caminhei por entre os mortos mais sepultos.)Ao despedir-se, concede-lhe o rapaz um beijo protetorE desce a escada escura, tateando o seu caminho ...

    ri r 'juI' c alcatrar a a d rivam

    A abor das mars() Rubras velas,

    Ab rtas a sotavento,I rapejam nos pesados mastros.As barcaas carregamT ras que derivam rio abaixoAt o brao de GreenwichPara alm da Ilha dos Ces.Weialala leiaWallala leialala

    "Esta msica ondula junto a mim por sobre as guas"E ao longo da Strand, Queen Victoria Street acima.,O Cidade cidade, s vezes posso ouvirEm qualquer bar da Lower Thames StreetO lacre lamento de um bandolimE a algazarra que farfalha em bocas tagarelasOnde repousam ao meio-dia os pescadores, onde os murosDa Magnus Martyr empunhamO inexplicvel esplendor de um jnico branco uro.

    "Bondes e rvores cobertos de poeira,Highbury me criou. Richmond e Kew . .Levaram-me runa. Perto de Richmond ergui-me nos Joelhos

    ) Ao fundo da canoa estreita em que me reclinara."

    "Meus ps esto em Moorgate, e meu coraoDebaixo de meus ps. Depois do que fezle chorou. Pr meteu 'comear tudo outra vez'.

    Nada 1h n rur i. que me iria ressentir?"~99

    H)Elizabeth e Leicester

    Ao ritmo dos remosA popa figuravaUma concha engalanadaRubra e douradaA rpida pulsao das guasEncrespava ambas as margensO vento sudoesteCorrente abaixo carregavaO repicar dos sinosTorres brancas

    Weialala leiaWallala leialala

    Ela volta e mira-se por um instante no espelho,Quase esquecida do amante que se foi;No crebro vagueia-lhe um difuso pensamento:"Bem, j terminou; e muito me alegra sab-lo."Quando uma bela mulher se permite um pecadilhoE depois pelo seu quarto ainda passeia, sozinha,,Ela a mo deita aos cabelos em automtico gestoE pe um disco na vitrola.

    no

  • 310 "Nas areias de Mar ate.No consigo associarNada com nada.As unhas quebradas de encardidas mos.Meu povo humilde povo que no esperaNada."

    Ia Ia

    A Cartago ento eu vim

    Ardendo ardendo ardendo ardendo Senhor Tu que me arrebatas

    320 Senhor Tu que arrebatas

    ardendo

    100

    JV. M Ifl'" P I{ Ui\

    F1ebas, o Fencio, morto h quinze dias,Esqueceu o grito das gaivotas e o marulho das vagasE os lucros e os prejuzos.

    Uma corrente submarinaRoeu-lhe os ossos em surdina. Enquanto subia e desciaEle evocava as cenas de sua maturidade e juventudeAt que ao torvelinho sucumbiu.

    Gentio ou judeuO O tu que o leme giras e avistas onde o vento se origina,

    Considera a F1ebas, que foi um dia alto e belo como tu.

    )101

  • V. o QUE DISSE O TR V1\

    340

    Aps a rubra luz do archote sobre suadas facesAps o gelado silncio nos jardinsAps a agonia em pedregosas regiesO clamor e a splicaCrcere palcio reverberaoDo trovo primaveril sobre longnquas montanhasAquele que vivia agora j no viveE ns que ento vivamos agora agonizamosCom um pouco de resignao.

    )

    terusalm Atenas AlexandriaViena LondresIrreais

    A mulher distendeu com firmeza seus longos cabelos negrosuma ria sussurrante nessas cordas moduloumorcegos de r s infantis silvaram n~f violeta,

    Ruflando 'lIl1,' IH is, rastejaram

    t' n r hc a ui houv ssc rocha

    9ue gua tambm fosseCIO E ua

    Uma nascente'uma oca entre as rochasSe ao menos um sussurro de ua a ui se ouvisseNo a ci arraOu a canora relva secaMas a cano das guas sobre a rochaOnde gorjeia o tordo solitrio nos pinheirosDrip drop drip drop drop drop dropMas aqui gua no h

    70 Quem o outro que sempre anda a teu lado?Quando somo, somos dois apenas, lado a lado,Mas se ergo os olhos e diviso a branca estradaH sempre um outro que a teu lado vagaA esgueirar-se envolto sob um manto escuro, encapuzadoNo sei se de homem ou de mulher se trata- Mas quem esse que te segue do outro lado?

    350

    Aqui gua no h, mas rocha apenasRocha. Agua nenhuma. E o arenoso caminhoO coleante caminho que sobe entre as montanhasQue so montanhas de inaguosa rochaSe gua houvesse aqui, nos deteramos a beb-Ia,No se pode parar ou pensar em meio s rochas.Seco o suor nos poros e os ps na areia postosSe aqui s gua houvesse em meio s rochasMontanha morta, boca de dentes cariados que j no pode

    cuspirAqui de p no se fica e ningum se deita ou sentaNem o silncio vibra nas montanhas"Apenas o spero e seco trovo sem chuvaSequer a so 1 ao oresce nas montan asA enas rubras faces taciturnas ue escarnecem e rosnamA es reitar nas ortas de casebres calcinados

    Se "LIahouv ss aqui

    Que som esse que alto pulsa no espaoSussurro ae lamenta o maternaQue embu adas hordas so essas ue enxameiam

    HO Sobre lancies sem fim, tro~ando nas retas da terraRestrita a enas a um raso horizonte arrasadoQue cidade se levanta acima das montanhasPendas e emendas e estalos no ar violceoTorres cadentes

    90

    103102

  • 400

    410

    D. cab a para baixo na par de '11 ! I' '11 1E havia no ar torres emborcadasTangendo reminiscentes sinos, que outrora a' h ras repicavamE agudas vozes emergiam de poos exauridos e cisternas vazia ..

    ) AI utnyaia: b r r P nd u,AI' rc m af ita v h c a remo .

    mar' stava calmo, teu corao teria respondido,Al r, pulsando obediente ao rogoDe mos dominadoras

    o

    Nessa cova arruinada entre as montanhasSob um tbio luar, a relva est cantandoSobre tmulos cados, ao redor da capela uma capela vazia, onde somente o vento fez seu ninho.No h janelas, e as portas rangem e gingam,Ossos secos a ningum mais intimidam.Um galo apenas na cumeeira pousadoCocoroc cocorocNo lampejo de um relmpago. E uma rajada midaVem depois trazendo a chuva

    1-10

    Sentei-me junto s margens a pescarDeixando atrs de mim a rida plancieTerei ao menos minhas terras post? em o~dem?A Ponte de Londres est caindo camdo caindoPoi s'ascose nel foco che gli affina. .Quando fiam uti chelidon - O and0.rmha andonnhaLe Prince d'Aquitaine la tour ab~lte. ,Com fragmentos tais foi que escoreI mmhas rumasPois ento vos conforto. [ernimo outra vez enlouqueceu.

    Datta. Dayadhvam. Damyata. .Shantih shantih shantih

    420

    O Ganga em agonia submergiu, e as flcidas folhasEsperam pela chuva, enquanto nuvens negrasAcima do Himavant muito alm se acumulam.A selva agachou-se, arqueada em silncio.Falou ento o trovoDA

    Datta: Que demos ns?Amigo, o sangue em meu corao se agita,A tremenda ousadia de um momento de entregaQue um sculo de prudncia jamais revogarPor isso, e por isso apenas, existimosE ningum o encontrar em nossos necrolgiosOu nas memrias teci das pela aranha caridosaOu sob os lacres rompidos do esqulido escrivoEm nossos quartos vaziosDA

    Dayadhvam: ouvi a chaveGirar na porta uma vez e apenas uma vezNa chave pensamos, cada qual em sua prisoE quando nela pensamos, prisioneiros nos sabemosSomente ao cair da noite que etreos rumoresPor instantes revivem um alquebrado CorioIano )

    104

    ~J

    (4'{?t!JC?~

    W~

    105

  • No apenas o ttulo, mas tambm o plano e o simbolismo incidental do

    ~.J 1- ",) poema, foram-me sugeridos pelo livro da Srta. Jessie L. Weston sobre a\f6; Lenda do Santo Graal: From Ritual to Romance (Cambridge). Na verda-

    de, tamanha a dvida que tenho para com o livro da Srta. Weston quea leitura do mesmo ser capaz de elucidar as dificuldades do poema muitomelhor do que o poderiam fazer as minhas notas; e recomendo-o (aforao seu grande interesse como texto literrio) ueles ue orventura' ul-uem valer a ena elucidar o oema. Devo muito tambm, em mbito

    ~

    mais geral, a uma outra obra de antro 010 ia que exerceu profunda in-yerl fluncia sobre a nossa gerao. Refiro-me aqui a The Golden Boughf"/ de que utilizei em particular os dois volumes dedicados a Adonis, Attis,

    Osiris. Qual uer essoa suficientemente familiarizada com esses trabalhosreconhecer de imediato no oema certas aluses a ritos ou cerimoniaisrelativos fertilidade.

    NOTAS SOBRE "A TERRA DEI. V. Trlstau urul 1s ldo I, Y r

    12. fel. ru, verso 24.4 . Nu estou bem a par da xata constituio do baralho de car-

    tas do Tarot, das quais me utilizei obviamente como U~~PO?tode partida e, a seguir, segundo min~a.s prprias convemencla~.O Enforcado, figura do baralho tradIclOnal, atende meu, wopo-sito sob dois aspectos: por estar associado em meu espmto ao'Deus Enforcado de Frazer. e porque o associo persor:agemencapuzada da passagem dos d~scpulos de Emas, na ?eao ':I'O Marinheiro Fencio e o Mercador aparecem depOIS; aSSImcomo as "multides de pessoas" e a Morte por gua, consumadana Seo IV. Quanto ao Homem dos Trs Bastes (um mem-bro autntico do baralho do Tarot), associo-o, de forma bastantearbitrria, ao prprio Rei-Pescador.

    60. Cf. Baudelaire:"Fourmillante cit, cit pleine de rves,Ou le s ectre en lein 'our raccroche le assant."

    63. Cf. Inferno III, 55-57:"si lunga tratta

    di gente, ch'io non avrei mai creduto'che morte tanta n'avesse disfatta."

    64. Cf. Inferno IV, 25-27:"Ouivi, secondo che per ascoltare,n~n avea pianto, ma' che di sospiri,che l'aura eterna facevan tremare."

    68. Um fenmeno que tenho observado com freqncia.74. Cf. O Canto Fnebre em The White Devil, de Webster. [Con-

    vm transcrever aqui o texto de Webster: "Oh .keep ,the Dog farhence, that's friend to men, / Or with his nails he 11 dig it upagain!"] ..

    76. V. Baudelaire, Prefcio s Flores do Mal. [O original de, B~~-delaire registra: "Hypocrite lecteur! mon semblable, mon frere. ,em Au Lecteur.]

    -8.

    I. O Enterro dos Mortos"

    20. Cf. Ezequiel 11, i.23. Cf. Eclesiastes XII, v.

    54. Estas Notas so do prprio autor e acompanham o texto do poema desde suaprimeira publicao em livro, razo pela qual preferimos inseri-Ias aqui, e nona seo geral de Notas, onde, entretanto, existem diversas outras anotaessobre A Terra Desolada. (V. Notas.)

    55. The Golden Bough (1890-1915), obra de sir James George Frazer (1854-1941),que a investiga as origens das crenas religiosas atravs do folclore universala partir da religio popular romana. A prpria autora de From Ritual 10 Ro-mance deve muitssimo s pesquisas e erudio de Frazer. (N. do T.)

    56. Com relao a estas notas, convm advertir que, por uma questo de fidedig-nidade ao original, decidimos aqui transcrev-Ias consoante os critrios adota-dos pelo autor, que nem sempre reproduz os textos das fonte Indicadns para

    11. Uma Partida de Xadrez

    77. Cf. Antony and Cleopatra, 11, ii, 1. 190. [No orig~nhalddehshak~,s]-peare l-se: "The Chair she sat in, like a burms e t rone ..

    confronto, como sist maticamente o fazemos. Sempre ~o julgar"20s neces-ri , p r6111, ncre .entur m , aqui [entre colchetes] a s plementaao textualxi ido por' '111111IIrl111 11 U~ Notas. (N. do T.)

    106107

  • 95. Laquearia. V. Eneida, I, 726:"dependent lychni laquearibus aureis nccn i,et noctem fIammis funalia vincunt."

    104. Cena silvestre. V. Milton, Paradise Lost, IV, 140. [No originalde Milton l-se: "A Silvan Scene, and as the ranks ascend".]

    105. V. Ovdio, Metamorfoses, VI, Filomela.106. CL Parte III, 1. 204.124. CL Parte lU, 1. 195.127. CL Webster: "Is the wind in that door still?"135. CL Parte I, 1. 37,48.146. Cf. a partida de xadrez em Women Beware Women, de Middleton.

    IH. O Sermo do Fogo

    185. V. Spenser, Prothalamion. [No original de Spenser l-se: "SweetThames, run softly, till I end my song."]

    201. CL The Tempest, I, ii. [No original de Shakespeare l-se: "Andon the king my father's death before him."]

    205. CL Marvell, To his Coy Mistress. [No original de Marvell est:"But at my back from time to time I hear."]

    206. CL Day, Parliament oi Bess:"When of the sudden, listening, you shall hear,A noise of horns and hunting, which shall bringActaeon to Diana in the spring,Where all shall see her naked skin ... ".

    208-210. Desconheo a origem da balada de que foram extrados estesversos; foram-me reportados de Sydney, Austrlia. [Convmtranscrever o original do autor: "O the moon shone bright onMrs. Porter / And on her daughter / They wash their feet insoda water".]

    211. V. Verlaine, Parsifal.219. As passas eram cotadas ao preo que inclua "transporte e seguro

    at Londres"; e o conhecimento de embarque, alm de outrasexigncias alfandegrias, devia ser entregue ao comprador contrapagamento da carga vista.

    227. Tirsias, embora um simples espectador e no propriamente uma"personagem", , no obstante, a principal figura do poema,unificando todo o resto. Assim como o mercador zarolho, ven-dedor de assas confunde-se com o Marinheiro Fencio e esteltimo no inteiramente distinto de Ferdinando, o Prncipe deN oles assim tambm todas as mulheres nada mais so do queuma nica mulher e os dois sexos se fundem em Tirsi . O

    108

    li Tlr Ia v , li 1'1 1', o IP t 11'lu cl perna. Toda a passa-gem em Ov di 6 d grund intcrcsec antropol glCO:

    rr Cum Iunone iocos et maior vestra projecto estQuam, quae contingit maribus", .di~isse, '~voluptas."Illa negat; placuit quae sit sententza doctiQuaerere Tiresiae: venus huic erat utraque nota.Nam duo magnorum viridi coeuntia silvaCorpora serpentum baculi violaverat ictuDeque viro [actus, mirabile, femina septemEgerat autumnos; octavo rursus eosd~m "Vidit et "est vestrae si tanta potentia plagae IDixit "ut auetoris sortem in contraria mutet,Nunc quoque vos feriam!" pereus~is. anguibus isdemForma prior rediit genetivaque ~enz~ tmago.Arbiter hic igitur sumptus de lite iocosaDieta Iovis [irmat; gravius Saturnia iustoNee pro materia fertur d?luisse. suiqueIudicis aeterna damnavzt lumina nocte,At pater omnipotens (neque en,im licet inrita cuiquamFacta dei [ecisse deo) pro lumine a~emptoScire futura dedit poenamque levavit honore.

    )

    [. .. Ao tempo, que no mundo estes sucessosVo por lei do destino, e em paz seguraDo binascido Baco a infncia medra;Contam, que [ove um dia, brio de nctar,Desapressado dos reais cuidados,Coa sua [une ociosa gracejava, , .E assim dissera: "A f, que amor delcia,Em transportes de amor, a haveis vs out~as,Que no ns!" Nega a Deusa; ambos atemam:Querem ambos por rbitro a Tirsias,Num e noutro prazer exprimentado: .Fora o caso; que um dia, em verde moitaDuas serpes topando, entrelaadosEm mtuo gozo os corpos disconformes,Rijo bordo lhes assentara; e logo AQue espanto! de varo tomado em femea,Por espao o ficou de outonos .set~: 'Volve a v-Ias no oitavo; e diz: Se e tantoO efeito de ferir-vos, que transmuda ~O sexo, a quem vos fere, a ao renovo." \

    I

    ~irt5i)S-JV

    ~~~

    109

  • Eis as fere, eis reverte ao ser antigo.Juiz Tirsias na questo jocosa,Sentenciou por [ove. Alm do justo,E mais, do que a matria o requeria,Se diz, tomara Juno o caso a peito,Dando em pena ao juiz cegueira eterna.Mas o Supremo Padre (obras de um Nume,Nenhum outra as desmancha) em vez dos olhos,Deu-lhe a cincia, que o porvir descerra;Indulto honroso, que o seu mal console."

    230. Pode no parecer to exato quanto os versos de Safo, mas eutinha em mente o pescador "litorneo" ou aquele que sai ao marem sua pequena "dri", regressando ao anoitecer.

    263. V. Goldsmith, a cano em The Vicar of Wakefield. [No ori-ginal de Goldsmith l-se: "When lovely wornan stops to folly".]

    267. V. The Tempest, como acima. [No original de Shakespeare l-se:"This music crept by me upon the waters".]

    274. O interior da St. Magnus Martyr , a meu ver, um dos mais belosque concebeu Wren. V. The Proposed Demolition oi NineteenCity Churches (P. S. King and Son, Ltd.).

    276. Inicia-se aqui a Cano das (trs) Filhas do Tmisa. Elas falam,alternadamente, do verso 302 ao verso 316, inclusive. V. Gdtter-.diimmerung, III, i: as Filhas do Reno. [A aluso se refere pera homnima de Richard Wagner, escrita em 1874 e maisconhecida entre ns pelo ttulo traduzido: O Crepsculo dosDeuses.]

    289. V. Fraude, Elizabeth, vol. 1, capo IV, carta de De Quadra aFilipe de Espanha: "Estvamos em um barco ao cair o crepsculo,

    57. Este texto pertence traduo de Antnio Feliciano de Castilho, publicada emLisboa, sob o ttulo de As Metamorfoses, de Pblio Ovdio Naso, em 184l.Por duas razes, segundo cremos da maior pertinncia, decidimos preferi-Ia aqualquer tentativa nossa de verter Ovdio para o portugus: primeiro, porque-- .tradu!o de Castilho , do ponto de vista literrio, extraordinria, ainda quese considerem os vezos e cacoetes estilsticos da poca; segundo, porque estela mais rxima, tanto em escala cronolgica quanto e~contexto cultural,da oca em ue Ovdio concebeu o seu oema, condio esta, alis, que atorna ainda mais vizinha da fonte eliotiana. O texto de Castilho sofreu ape-nas diversas e inevitveis atualizaes ortogrficas, mas todo o restante foiconservado intacto, inclusive a pontuao do autor, s vezes arrevezada e es-tranha ao leitor moderno. Os versos por ns aqui utilizados so o do Livro 111,316338 (includos os quatro primeiros da estrofe a que pertencem e que li tno transcreve). (N. do T.)

    110

    b rvan 10 j 11 utlc A rainha) estava s6 com LordR bcrt c comig na 1 !H, C mcaram ambos a dizer coisassem nexo, e to I ngc foram nessa brincadeira que afinal LordRobert disse que, como ali eu estivesse, no haveria razo paraque eles no se pudessem casar, se a rainha assim o desejasse."

    303. Cf. Purgatorio, V. 133-134:"Ricrditi di me, che son Ia Pia;Siena mi fe', disfecemi Maremma."

    317. V. as Cnfisses de Santo Agostinho: "a Cartago ento eu vim,pnde todos os amores mpios, como num caldeiro, cantavam emmeus ouvidos."

    318. O texto completo do Sermo do Fogo do Buda (que .e uivale emimPortncia ao Sermo da Montanha), do qual foram tiradasestas palavras, pode ser consultado em ingls ria ltima ediodo Buddhism in Translation (Harvard Oriental Series), de HenryClarke Warren. O Sr. Warren foi um dos grandes pioneiros dosestudos bdicos no Ocidente.

    319. Ainda das Confisses de Santo Agostinho. A insero destes doisrepresentantes do ascetismo oriental e ocidental, no ponto cul-minante desta parte do poema, no fortuita.

    V. O que Disse o Trovo

    Na primeira parte da Seo V so utilizados trs temas: a via-gem a Emas, o acesso Capela Perigosa (ver o livra da Srta.Weston) e o presente declnio da Europa oriental.

    367. Trata-se do Turdus aonalaschkae pallasii, o tordo-eremita, cujocanto ouvi na Provncia de Qubec. Chapman diz (Handbook ofBirds of North America): "Ele nidifica sobretudo nas florestasreclusas e matagais isolados. .. Seu canto no se distingue nempela variedade nem pelo volume, mas pela pureza e a doura deseu tom, bem como por sua estranha modulao, no tem simila-res. A sua 'cano da gua gotejante' por isso justamente cele-brada." .,

    370. Os vgsos que se seguem foram inspirados pelo relato de umadas expedies Antrtica (no me recordo ual, mas su onhoue uma das ue realizou Shackleton); nel&.-se conta que os

    ex loradores, ' ao fim de suas foras, eram constantementeassaltados pela iluso de ue havia um membro a mais ue elesno odiarn na verdade contar.

    77- 7. f. J I l'111f111 11 c, Blick ins Chaos: -'~hon ist halb Europa,ch 11 1st ~.\l1ll111 lest der halbe Osten Eu\opas auf dem Wege

    ,~~~

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    ~1h)

    111

  • 112

    zum ha s, Ihrt bctrunkcn im 11, I 11\ Wul111 1111\ Ab rundentlang und singt dazu, singt bctrunl '11 Ulld hymul ich wlc mltrlKaramasoff sang. Ueber diese Lieder lacht U 'I' Brgcr bel idl t,der Heilige und Seher hrt sie mit Trnen." [' J meia Euro apelo menos metade da Europa Oriental esto a caminho do ca Sibrias de iluses fanticas, caminham beira do abismo e cantam,.cantam um hino bbedo, como cantava Dimitri Karamazov. O bur-gus ultrajado ri-se desses cnticos, mas o santo e o profeta osescutam entre lgrimas."]

    412. "Datta, dayadhvam, damyata" (dar, compreender, controlar).A fbula sobre o significado do Trovo encontra-se no Brihada-ranyaka-Upanishad, 5, 1. H traduo desta obra por Deussen noSechzig Upanishads des Veda, p. 489.

    418. CL Webster, The White Devil, V, vi:" ... they'll remarry

    Ere the worm pierce your winding-sheet, ere the spiderMake a thin curtain for your epitaphs."

    422. Cf. Inferno, XXXIII, 46:"ed io sentii chiavar l'uscio di sottoall'orribile torre."CL tambm F. H. Bradle ,A earance and Realit, p. 346:"Minhas sensaes externas no me so menos privativas doque minhas idias ou meus sentimentos. Em cada caso, minhaexperincia se desenvolve dentro de meu prprio crculo, umcrculo que se fecha no exterior; e, ainda gue todos os seus ele-mentos se'am smiles, cada esfera ermanece o aca em reI a os que a rodeiam. .. Em suma, considerado como uma existn-cia que se manifesta em uma alma, o mundo inteiro , para cadaum de ns, peculiar e privativo dessa alma."

    435. V. Weston, From Ritual to Romance, capo sobre o Rei-Pescador.438. V. Purgatorio, XXVI, 148:

    " IAra vos prec per aquella valorque vos guida aI som de l'escalina,sovegna vos a temps de ma dolor.'Poi s'ascose nel foco che gli affina."[Os versos aspeados internamente so do poeta provenal

    Arnaut Daniel, que os declama, no poema de Dante Alighieri,pouco antes de tombar para sempre no fogo purificador: "Agoravos rogo, por aquele valor/que ao vrtice da escada vos conduz';lernbrai-vos a tempo de minha dor!"] .

    439. V. Pervigilium Veneris. CL Filomela, partes 11 e 111.440. V. Grard de Nerval, soneto El Desdichado.

    w , V. yd,. 'f1l1/11sl1 'J'flfl11tl , INo ur H uul I ','h l11]lI yd I c:"Why lh 11 JI fll you, 'Iy /' 1\ 111 mud ugalnc."} ~

    4014. luuulh, J cp tio c mo r I uqul, oquival conclusao formald um Upanishad. A Xpl'CSS "a paz que transcende a c?m-prccns " seria o correspondente desta alavra em ortugues.

    113