A queda do diploma o efeito nos cozinheiros conquistenses e na sociedade

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A queda do diploma: O efeito nos cozinheiros conquistenses e na sociedade Cauê Marque Enrique Escudero Ígor Luz Wilson Júnior Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia Resumo A proposta desse trabalho é analisar o efeito que a queda do diploma de jornalismo surtiu nos profissionais de Vitória da Conquista e na sociedade. Apesar de parecer uma coisa demasiadamente importante no cenário do jornalismo brasileiro, parece que o efeito da decisão do Supremo Tribunal Federal teve um efeito praticamente nulo. Através de pesquisa de campo, enquetes e entrevistas, constatamos que o jornalismo cresceu, a área cresceu, a demanda cresceu. O que não cresceu, aparentemente, foi a perceptividade da sociedade para discernir um bom jornalismo. Palavras-chave: jornalismo; diploma; sociedade; Vitória da Conquista. Abstract The proposal of this piece of work is to analyze the effect that the desregulamentation of this professional journalism degree to exercise the profession has developed in the counscientiousness of Vitória da Conquista’s professionals and society. Although it seems a very important subject in Brazilian journalism nowadays, in fact of the decision of the Supremo Tribunal Federal (Brazilian

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A proposta desse trabalho é analisar o efeito que a queda do diploma de jornalismo surtiu nos profissionais de Vitória da Conquista e na sociedade. Apesar de parecer uma coisa demasiadamente importante no cenário do jornalismo brasileiro, parece que o efeito da decisão do Supremo Tribunal Federal teve um efeito praticamente nulo. Através de pesquisa de campo, enquetes e entrevistas, constatamos que o jornalismo cresceu, a área cresceu, a demanda cresceu. O que não cresceu, aparentemente, foi a perceptividade da sociedade para discernir um bom jornalismo.

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A queda do diploma: O efeito nos cozinheiros conquistenses e na sociedade

Cauê MarqueEnrique Escudero

Ígor LuzWilson Júnior

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

Resumo

A proposta desse trabalho é analisar o efeito que a queda do diploma de jornalismo surtiu nos profissionais de Vitória da Conquista e na sociedade. Apesar de parecer uma coisa demasiadamente importante no cenário do jornalismo brasileiro, parece que o efeito da decisão do Supremo Tribunal Federal teve um efeito praticamente nulo. Através de pesquisa de campo, enquetes e entrevistas, constatamos que o jornalismo cresceu, a área cresceu, a demanda cresceu. O que não cresceu, aparentemente, foi a perceptividade da sociedade para discernir um bom jornalismo.

Palavras-chave: jornalismo; diploma; sociedade; Vitória da Conquista.

Abstract

The proposal of this piece of work is to analyze the effect that the desregulamentation of this professional journalism degree to exercise the profession has developed in the counscientiousness of Vitória da Conquista’s professionals and society. Although it seems a very important subject in Brazilian journalism nowadays, in fact of the decision of the Supremo Tribunal Federal (Brazilian Supreme Court) had an almost null effect. Through field research, poll and interviews we could find out that the journalism, the area and the demand had developed. What apparently hasn’t developed is the society observation to identify a quality journalism.

Key Words: journalism, degree, society, Vitória da Conquista.

Introdução

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            O fato aconteceu em junho do ano passado. O Supremo Tribunal Federal

derrubou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista.

Foram 8 votos contra 1. Gilmar Mendes, presidente do STF e relator do caso, avaliou

que o decreto-lei 972/69, que estabelece que o diploma é necessário para o exercício da

profissão de jornalista, não atende aos critérios da Constituição de 1988 para a

regulamentação de profissões.

A exigência do diploma vinha de um decreto baixado pela Junta Militar que

governava o Brasil em 1969, no auge da ditadura. Na época, tratava-se de uma tentativa

de dificultar a vida de jornalistas sem o diploma que se manifestavam contra o regime.

A perspectiva - felizmente, frustrada - de controlar as escolas de jornalismo também

fazia parte do plano. Com isso, criou-se a enganosa ideia de que a exigência do diploma

seria um atentado a liberdade de expressão.

De encontro a isso, países com uma democracia mais avançada que o Brasil não

têm a exigência do diploma universitário de jornalista para o exercício da profissão.

Entretanto, possuem um nível superior em jornalismo de excelência. Nesse ponto há de

se considerar alguns fatores: não só o ensino superior de países desenvolvidos é de

excelência; o ensino fundamental e médio também é. No Brasil existe uma deficiência

grave na educação básica que atrapalha a construção de bons profissionais. É bom

ressaltar que o STF ainda considera o diploma, mas com a não exigência do mesmo, as

faculdades de jornalismo correm o risco de enfraquecimento.

Como reagiu o mercado de trabalho diante de tudo isso? Indignou-se? Revoltou-

se? Não. A maioria dos meios comunicacionais acredita que nada muda no mercado. Os

diplomados continuarão sendo contratados para exercer funções jornalísticas pelas

empresas que acreditam que uma faculdade fornece melhores técnicas para o exercício

da profissão nos diferentes tipos de mídia e dão a seus estudantes a formação humanista

essencial para esse papel de interlocução com a sociedade. Por outro lado, as empresas

que sempre desprezaram a boa técnica aprendida na academia, valendo-se de uma

liminar que desobrigava as empresas jornalísticas de contratarem exclusivamente os

formados em escolas de jornalismo, mesmo antes da decisão do STF, continuarão a agir

dessa forma. Como vaticinou o apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional da Rede

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Globo, William Bonner, “o fato de não precisar mais de diploma não muda nada no

mercado profissional”.

Em Vitória da Conquista, terceira maior cidade do estado da Bahia, também não

houve grandes mudanças. Além de uma faculdade de jornalismo (lotada na

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), a cidade possui uma TV pública e uma

comercial, sete rádios regulamentadas pela Dentel (comerciais, religiosas, pública), três

jornais impressos, muitos sites e blogs e ainda uma infinidade de agência de

comunicação. Pesquisando esses veículos, percebe- se que a queda do diploma teve

efeito praticamente nulo nos modelos de gestão.

Os profissionais responsáveis pelos principais meios de comunicação da cidade,

jornalistas diplomados, acreditam que o ensino superior é de suma importância para se

fazer um bom jornalismo. Evidente que nem todos os jornalistas que trabalham e tem

destaque na cidade possuem formação acadêmica na área. Sobre estes, foi constatado

que alguns conseguem exercer a função com qualidade. Outros, entretanto, ferem a

ética, a técnica e o bom senso que estabelece o bom jornalismo que a sociedade, como

consumidora interessada, deveria exigir.

Partindo dessa teoria, resolvemos analisar a opinião da sociedade sobre a queda

do diploma do jornalismo, os meios de comunicação da cidade e seus respectivos

jornalistas. Foi utilizada a metodologia de pesquisa de campo, considerando todos os

tipos de consumidores de notícia como fonte: diferentes classes sociais, idades variadas,

áreas de habitação diferenciadas, distintas profissões e gênero. Coletamos dados com o

intuito de analisar, interpretar e retratar a figura daquele que consome a informação

noticiada.

O presidente do STF, no seu discurso de quase um ano atrás, comparou

jornalistas a cozinheiros. Enfim, fomos conhecer os vários tipos de culinárias

produzidas em Conquista e a opinião de quem as consome.

Os consumidores

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Em Vitória da Conquista, a mobilização dos acadêmicos e jornalistas formados a

favor da obrigatoriedade do diploma para se exercer a profissão foi rápida: uma passeata

que percorreu as principais ruas do centro da cidade foi realizada logo após a decisão do

Supremo Tribunal Federal de permitir que qualquer cidadão, mesmo sem formação

específica, estivesse apto para realizar a função. Mas, de acordo com os dados

recolhidos para este artigo, a passeata não conquistou o seu principal objetivo: a adesão

da população em favor da graduação obrigatória para se exercer o jornalismo

profissionalmente.

Os dados recolhidos apresentam um cenário ainda pior: 60% dos nossos

entrevistados nem sequer sabiam que uma pessoa que não tem diploma de jornalismo

pode atuar na área. Ou seja, não haviam sido informados sobre a decisão do STF ou se

sensibilizado com a mobilização subseqüente dos jornalistas da região. Pode-se então

dizer que a comunicação dos profissionais formados, principais defensores da

necessidade de reconhecimento obrigatório do diploma de jornalismo, não alcançou os

efeitos esperados neste caso específico. Cabe, portanto, aqui, a pergunta: como

profissionais que ganham a vida informando à população sobre os principais

acontecimentos da nossa realidade não conseguiram informar sobre um assunto que

tanto lhes interessava, a desregulamentação do diploma de Jornalismo?

Na verdade, o ponto de vista da maioria dos nossos entrevistados vai diretamente

de encontro com o ponto de vista dos acadêmicos. Dos 250 entrevistados, 98%

acreditam que o jornalismo é importante para a sociedade. Mas 73% desses mesmos

entrevistados concordam que uma pessoa que não possua diploma de jornalista pode

exercer esta atividade profissional. O que se entende disso é que o jornalismo pode até

ser importante para a sociedade, mas a necessidade de se ter jornalistas formados

exercendo a profissão não é levada em conta por grande parte da população.

Em questionário distribuído aos principais profissionais da comunicação na

região, Fabrício Gama, coordenador de programação da TV Uesb, uma emissora de TV

pública local ligada à Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, concorda com este

ponto de vista: “Não vejo nenhuma movimentação da população pedindo algo melhor

ou reclamando dos não-formados. Acredito assim que, para a população, o que o

mercado hoje apresenta está de bom tamanho”.

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A população, inclusive, aprova o modelo de jornalismo regional vigente em

Vitória da Conquista e nas cidades mais próximas: 54% dos entrevistados

caracterizaram o jornalismo regional como ótimo ou bom e 32% como regular. Isso

significa que a população concorda com a forma como se faz jornalismo na região, e a

forma que se faz jornalismo na região visivelmente mescla jornalistas formados ou em

formação (principalmente nas redes de televisão) e não formados (principalmente em

rádios, jornais e blogs). Tal dado prova mais uma vez que a sociedade conquistense não

consegue diferir o trabalho de um profissional formado ou provisionado, mas, em sua

maioria, concorda com o trabalho que está sendo feito. A jornalista Michele do Carmo,

uma das sócias da AGTM Comunicação, inovadora agência de comunicação integrada

local, justifica o motivo:

É difícil a população se posicionar diante de algo que ela não pode comparar. O jornalismo passou muito tempo sendo feito APENAS por não-formados. Essa realidade muda aos poucos agora, com a entrada dos diplomados. Talvez somente agora ela [a população] tenha a possibilidade de enxergar a diferença. No entanto, a concepção de jornalismo regional com qualidade se dá em um processo prolongado e constante. Aos poucos o reconhecimento do que “é bom de verdade” vai aparecendo. [grifo no original, resposta a questionário enviado por e-mail]

Mais um dado que representa a indiferença da população em relação à

necessidade de jornalistas formados é que, quando perguntados sobre quais jornalistas

de Vitória da Conquista eles se lembram (técnica quantitativa de avaliação de

popularidade que na comunicação social é conhecida como recall), há um exato

equilíbrio entre nomes de graduados e não-graduados em sua área de atuação: o

radialista graduado em Direito e pós-graduado em Comunicação Social Herzem

Gusmão (com 90% de recall entre os entrevistados) e o âncora televisivo graduado em

Comunicação Social Daniel Silva (com 12% de recall) representam os graduados mais

lembrados pelos entrevistados enquanto o radialista Zenon Barbosa (18%) e a âncora

televisiva Cíntia Garcia (8%) são os mais lembrados do time dos não-graduados. Com

68% de recall, temos também Judson Almeida, âncora televisivo da TV Sudoeste que,

atualmente, ainda termina a graduação de Comunicação Social.

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O recall de três âncoras televisivos e dois radialistas como os mais lembrados da

população comprovam o hábito dos conquistenses de não consumirem muita

informação por jornais e revistas. O diretor do A Semana, principal semanário da

cidade, José Pinheiro Soares, é o jornalista de atuação em meios impressos da região

mais citado dentro da nossa pesquisa. Mesmo assim, foi lembrado pouco mais de 3%

das vezes pelos entrevistados. Assim como ele, alguns outros jornalistas, mesmo que

lembrados por poucas pessoas, foram citados pela população: 12% dos entrevistados se

lembraram de outros nomes além dos cinco apresentados acima, mas em quantidade

muito pequena para ser discriminada.

Ao serem perguntados sobre que meios utilizam para se informar, os

entrevistados confirmam que a leitura de publicações impressas não é o hábito mais

comum dos conquistenses: apenas 28% afirmaram se utilizar de jornais e/ou revistas, o

que faz com que ambos sejam o meio de informação menos procurado pela população,

atrás mesmo de blogs e sítios eletrônicos informativos (28%). A televisão e o rádio, no

entanto, são os preferidos da sociedade: 72% dos entrevistados afirmaram que utilizam

a televisão como meio de informação e 63% afirmaram utilizar não só a televisão, mas

também o rádio. Importante enfatizar que nenhum dos entrevistados afirmou utilizar o

rádio como a única forma de se buscar notícias. Todos que ouvem o rádio para se

manterem informados utilizam também a televisão, sem exceções.

A pesquisa mostra, portanto, uma postura mais independente do consumidor da

informação nos meios virtuais. Dos 28% dos entrevistados que utilizam blogs e sítios

eletrônicos para se informarem, 10% não utilizam nenhum outro meio além deste. Dos

18% restantes, todos utilizam a televisão, 14% utilizam o rádio e 1% também utiliza os

meios impressos. Isso prova a força que o rádio e a televisão possuem na região de

Vitória da Conquista: mesmo se informando por outros meios, o conquistense tem a

tendência de complementar o que sabe sobre a notícia com os meios televisivos e

radiofônicos.

Os Cozinheiros

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Em Vitória da Conquista, muitos jornalistas diplomados exercem a função que

aprenderam na academia. Entrevistamos alguns deles, responsáveis por veículos de

comunicação de grande, médio e pequeno porte. Constatamos, como era de esperar, que

a maioria deles não acredita que as funções jornalísticas podem ser exercidas por

pessoas sem formação. Fabrício Cabral Gama procura desconsiderar, no nosso

questionário, o conhecimento pela prática:

Existem conhecimentos que são necessários para a efetiva execução do trabalho de um jornalista. Esses conjuntos de teorias não são abordados no dia-a-dia da profissão e, por isso, apenas o conhecimento adquirido na prática é insuficiente para a plena execução da profissão. [grifo no original, resposta ao questionário respondido]

Fabrício Gama combate um dos principais argumentos do Supremo Tribunal

Federal para a desnecessidade do diploma: a restrição constitucional sobre a

regulamentação profissional refere-se somente a determinadas profissões, nas quais se

exige conhecimentos técnicos específicos, como é o caso dos profissionais da área de

saúde, dentre alguns outros. Esta restrição não se aplicaria à prática do jornalismo, uma

vez que os requisitos, segundo o Ministério Público Federal, para se ser um bom

jornalista são: bom caráter, ética e conhecimento sobre o assunto abordado. Ou seja,

matérias que não são apreendidas na faculdade, mas no cotidiano de cada individuo, nas

suas relações intersubjetivas, de forma que o exercício desta profissão prescinde de

formação acadêmica especifica.

A Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj – argumentou a favor do diploma.

O advogado João Roberto Egydio Piza Fontes considerou “equivocada” a tese sobre a

não exigência de formação profissional específica, porque

esta profissão requer, não apenas leitura, mas igualmente o conhecimento de legislação e preceitos técnicos específicos. (...) Para ser jornalista é necessário além do hábito de leitura, conforme alegado, o aprendizado de matérias especificas estudadas nas faculdades de jornalismo, entre elas a redação e edição jornalística, pesquisa e teoria da comunicação, relações públicas e sociologia, dentre muitas outras, todas elas essenciais ao bom exercício da profissão de jornalista. Para ser jornalista é preciso bem mais do que simples hábito de leitura e o exercício da prática profissional pois, acima de tudo, esta profissão, além de exigir amplo conhecimento sobre cultura, legislação e economia, requer que o profissional jornalista adquira preceitos técnicos e éticos, necessários para entrevistar, reportar, editar e pesquisar. Ou seja, os conhecimentos específicos à profissão vão muito além da mera cultura e

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erudição, pois o papel de jornalista no Brasil não é o de qualquer cidadão inapto, uma vez que, para o exercício da profissão, é ainda necessária a reflexão sobre a informação, a constituição e definição dos fenômenos sociais, tarefa difícil no cotidiano das relações e cuja aprendizagem, de modo adequado e intransferível, ainda é adquirida no curso superior de jornalismo, do qual não se pode abrir mão.

Michele do Carmo concorda com os fundamentos acima: “todas as técnicas

aprendidas na academia, mostraram-se totalmente necessárias no mercado de trabalho”.

A AGTM Comunicação, assim como a TV Uesb, só trabalha com jornalistas

diplomados ou estudantes da área. Para Michele do Carmo, o custo/benefício é

totalmente satisfatório:

Os atributos de um trabalho produzido por quem possui os conhecimentos acadêmicos das diversas ciências sociais (antropologia, sociologia), dos princípios éticos, da história da comunicação para compreender o presente, das técnicas dos procedimentos comuns da profissão (para segui-las ou para saber burlá-las), são importantes para o resultado final satisfatório. Vale a pena investir num profissional diplomado com todos esses adjetivos, porque ele irá render mais do que outro.

Na TV Sudoeste nem todos os profissionais são jornalistas diplomados. O diretor de

jornalismo, Eduardo Lins, acredita que isso é por uma inevitabilidade histórica. “Temos

profissionais que estão conosco desde o início da construção de uma TV comercial que

surgiu diante da necessidade de uma emissora importante numa região importante”, diz.

À época do surgimento da TV Sudoeste, 20 anos atrás, o Curso de Comunicação

Social / Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb – ainda não

existia. Então, para suprir a necessidade de profissionais, a TV contratou graduandos em

Letras para escrever as matérias jornalísticas. “No início, todo mundo era inexperiente e

houve alguns erros e falhas, mas com o tempo se vai melhorando, aperfeiçoando. Todo

começo é difícil, mas deve haver um ideal e, principalmente, profissionalismo”, diz

Lins. “Hoje, entretanto, já temos vários estudantes de jornalismo e jornalistas

diplomados exercendo funções de produção, reportagem e edição”, completa.

Apesar disso, a demanda por profissionais especializados em comunicação não

conseguem ser totalmente supridas pelos profissionais da região. Os profissionais, por

vezes, ficam estagnados e não procuram se atualizar. É cediço que defendemos a

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obrigatoriedade do diploma, mas também acreditamos que existem profissionais que

saíram da academia sem preparo algum, não colhendo o que ela oferece. A busca pelo

aprimoramento deve ser contínua. Serviços como diagramação e edição, que precisa de

uma preparação tecnológica de qualidade, ficam a desejar. Em Vitória da Conquista, são

raros os profissionais que conseguem ser completos.

Eliezer Neto, sócio-diretor administrativo da Mutamba Comunicação Inteligente,

acredita que a demanda por jornalistas competentes na cidade é grande e que o

profissional deve buscar o seu espaço:

Existe a demanda e ela ainda pode ser criada pelos profissionais da região, basta entender as dificuldades do mercado. Necessidade de bons profissionais sempre vai existir, ainda mais na área de comunicação onde as possibilidades de exploração são grandes, basta o jornalista enxergar onde está essa demanda e aprender a desenvolvê-la. Há muitas empresas de comunicação por aí que busca e precisa, cada uma com sua particularidade.

Isso acontece muito nas rádios. Mesmo com a vasta quantidade de rádios na em

VCA, poucos jornalistas estão trabalhando por lá. Jacqueline Silva, radialista da 96 FM

e estudante de jornalismo, diz que as rádios não se interessam por jornalistas

diplomados ou estudantes, mas o inverso também não acontece. “Sou apaixonada por

rádio e por jornalismo e para conseguir unir as duas coisas, precisei correr atrás, bater

na porta. Os problemas são a desvalorização em todos os sentidos”, diz. Constatamos

que no setor de radiojornalismo, a atuação do jornalista profissional é quase nula. “As

notícias no rádio são lidas por um locutor que tira a informação da internet. Para eles,

basta ter uma boa voz para exercer essa função”.

Isso é o que chamam de democratização da comunicação? Para Jacqueline Silva,

não. “É a desmoralização de uma profissão”, conclui.

Conclusão

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A queda do diploma de jornalismo trouxe certa indignação da área de

jornalismo, principalmente dos estudantes universitários. No início, a figura do

jornalista ficou um pouco desacreditada. Mas passado algum tempo, percebeu-se que

tudo continua do jeito que estava antes da decisão conturbada do Supremo Tribunal

Federal, com seus problemas evidenciados e suas soluções visíveis.

As opiniões dos profissionais ligados a área jornalística retratou bem o rumo que

a comunicação social, especificamente o jornalismo, pode tomar num futuro recente.

Por isso que, mesmo no Brasil, onde a educação é extremamente deficiente, a formação

acadêmica específica é essencial para o exercício de qualquer profissão, inclusive a de

jornalista, mesmo que não haja de imediato um reconhecimento popular.

O público mostrou, através dos questionários, que não está inteiramente ligado

se quem passa as informações possuiu ou não um diploma na área. O interessante para

os consumidores é que os jornalistas passem as notícias com a credibilidade necessária

para que se crie um vínculo de confiança entre as duas partes. E é exatamente essa a

função social do jornalista: prestar serviço a população.

A realidade que o mercado regional nos apresenta é diferente do que se poderia

supor logo após a decisão do STF estabelecendo a não obrigatoriedade do diploma

específico para o exercício da profissão de jornalista. Em Vitória da Conquista, o

mercado continua abrindo muitas vagas para quem sai da universidade com formação

em jornalismo em detrimento de quem queira exercer a função sem ter nenhum

conhecimento técnico na área. Isso, com certeza, irá ajudar que a comunicação local e

regional seja feita por bons profissionais, resultando em uma maior qualidade nos

serviços prestados.

O mais interessante dado que foi constatado nos questionários dos cidadãos foi a

tamanha falta de informação da população com relação a regulamentação da profissão

de jornalista, o que pode ser uma crítica implícita ao trabalho que vem sendo exercido

pelos profissionais que estão no mercado ou, simplesmente, é um dado que não

interessa a maioria dos consumidores de informação.

Dentre os meios de comunicação, deve-se dar uma prioridade quanto a avaliação

da qualidade de informação na televisão. Mesmo porque 72% dos conquistenses

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utilizam a TV para se informar. Felizmente é uma mídia que respeita o consumidor com

informações apuradas e apresentadas de forma extremamente satisfatória, sempre sendo

feita com qualidade pelos profissionais. Contudo não só de TV o público vive, e é nas

mídias inferiores que o problema se agrava consideravelmente. Os blogs, por exemplo,

é um tipo de mídia muito democrático, já que qualquer pessoa pode veicular

informações por lá, e por conta disso não há uma preocupação na apuração e construção

de notícias, o que pode causar uma confusão ao público que consome esse tipo de

mídia. Por coincidência ou não, é na internet que se concentra o maior número de

jornalistas sem formação acadêmica específica para área. Já o rádio, é um espaço que

não é explorado consideravelmente pelos jornalistas ou estudantes de jornalismo. No

rádio, é preferível a presença de radialistas ou simplesmente de pessoas que possuem

boa dicção e voz, e as notícias, em sua maioria, são releases dos mesmos blogs feitos

por profissionais sem técnica. Os jornais impressos em Vitória da Conquista são

deficientes ao extremo, o que atrapalha no ingresso de profissionais formados em

jornalismo. Sem falar que na cidade não há o hábito de leitura desses veículos

impressos. Contudo, há estagiários e profissionais com formação específica trabalhando

na área.

Nos mais diversos tipos de mídia, em Vitória da Conquista, os profissionais com

formação específica em jornalismo se destacam pela qualidade dos serviços. Ainda há

uma pequena desvalorização por parte da população, pois, muitas vezes, não sabe diferir

os tipos de trabalhos. Por isso, o bom jornalismo precisa continuar sendo feito por gente

qualificada para que essa impressão do público se modifique. E mesmo sem a

obrigatoriedade do diploma, os diplomados precisam justificar com qualidade sua

superioridade sobre os que não têm formação de jornalismo.

Em tempo: qualquer um pode cozinhar. Mas para produzir culinária de

qualidade, a técnica é essencial, sim. Independentemente do que pensa o Presidente do

Supremo Tribunal Federal.

Referências

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http://www.observatoriodaimprensa.com.br

http://www.versoereverso.unisinos.br

http://www.saladeprensa.org/art881.pdf

http://www.bocc.uff.br/pag/abreu-ana-carolina-Conselho-federal-jornalismo.pdf

http://www.fazendomedia.com.br

http://www.meioemensagem.com.br

http://www.g1.com

http://www.uol.com.br