A Metapsicologia Freudiana

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A METAPSICOLOGIA FREUDIANA A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. É um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental é considerado em relação com três coordenadas: dinâmica, topográfica e econômica. Estrutura e funcionamento do psiquismo Pouco a pouco o psiquismo se organiza se estrutura como um todo complexo, com traços originais que não poderão variar depois. Bergeret (2006) fala que essa organização e estruturação do psiquismo individual começarão desde a tenra infância; antes do nascimento em função da hereditariedade para certos fatores, mas, sobretudo do modo de relação com os pais, desde os primeiros momentos da vida, das frustrações, dos traumas e dos conflitos encontrados, em função também das defesas organizadas pelo ego para resistir às pressões internas e externas, das pulsões do id e da realidade. Em seus aportes teóricos Freud foi levado a elaborar um modelo de funcionamento mental. Desde cedo ele forjou o termo metapsicologia mental para designar os aspetos teóricos da Psicanálise. Essa metapsicologia busca dar conta dos fatos psíquicos em seu conjunto, principalmente de sua vertente inconsciente. A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. Em 1915 fez uma tentativa para produzir uma ‘Metapsicologia. ‘Sobre o Narcisismo’ (1914) ‘As Pulsões e suas Vicissitudes’ (1915), ‘Repressão’ (1915), ‘O Inconsciente’ (1915), ‘Luto e Melancolia’ (1917) etc. vem fazer parte dessa tentativa. Com isso queria construir um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental é considerado em relação com três coordenadas, as

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A METAPSICOLOGIA FREUDIANA

A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica. É um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental é considerado em relação com três coordenadas: dinâmica, topográfica e econômica.

Estrutura e funcionamento do psiquismo

Pouco a pouco o psiquismo se organiza se estrutura como um todo complexo, com traços originais que não poderão variar depois. Bergeret (2006) fala que essa organização e estruturação do psiquismo individual começarão desde a tenra infância; antes do nascimento em função da hereditariedade para certos fatores, mas, sobretudo do modo de relação com os pais, desde os primeiros momentos da vida, das frustrações, dos traumas e dos conflitos encontrados, em função também das defesas organizadas pelo ego para resistir às pressões internas e externas, das pulsões do id e da realidade.

Em seus aportes teóricos Freud foi levado a elaborar um modelo de funcionamento mental. Desde cedo ele forjou o termo metapsicologia mental para designar os aspetos teóricos da Psicanálise. Essa metapsicologia busca dar conta dos fatos psíquicos em seu conjunto, principalmente de sua vertente inconsciente. A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica.

Em 1915 fez uma tentativa para produzir uma ‘Metapsicologia. ‘Sobre o Narcisismo’ (1914) ‘As Pulsões e suas Vicissitudes’ (1915), ‘Repressão’ (1915), ‘O Inconsciente’ (1915), ‘Luto e Melancolia’ (1917) etc. vem fazer parte dessa tentativa. Com isso queria construir um método de abordagem de acordo com o qual todo processo mental é considerado em relação com três coordenadas, as quais descreveu como dinâmica, topográfica e econômica, respectivamente.

Ponto de vista dinâmico

O ponto de vista dinâmico explica os fenômenos mentais como sendo o resultado da interação e de contra-ação de forças mais ou menos antagônicas. A explicação dinâmica examina não só os fenômenos, mais também as forças que produzem os fenômenos. As pulsões¹ são um tipo especial de fenômeno mental que força no sentido de descarga, experimentada como uma “energia urgente”. Zimerman (1999) define pulsão como necessidades biológicas, com representações psicológicas que urgem em ser descarregadas.

Segundo Freud (1915) as pulsões são o representante psíquico dos estímulos somáticos. As pulsões tendem a baixar o nível de tensão através da descarga de forma

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imediata, mas existem contra-forças que se oporão a essa descarga (satisfação da pulsão). E a luta que se cria constitui a base dos fenômenos mentais.

Em Psicopatologia da Vida Cotidiana Freud (1914) diz que os lapsos de língua, erros, atos sintomáticos, sonhos são os melhores exemplos de conflitos que se produzem entre a luta pela descarga das forças que a isso se opõem. Em Conferências Introdutórias Freud (1916) defende que o produto do lapso pode ele próprio ter o direito de ser considerado como ato psíquico inteiramente válido, que persegue um objetivo próprio. Para Freud os fenômenos lacunares – sonhos, atos falhos, parapraxias, sintomas constituem um meio – êxito e um meio – fracasso para cada uma das duas intenções.

Quando as tendências à descarga e as forças repressoras que inibem essa descarga são igualmente fortes a energia consome-se em luta interna e oculta; o que se manifesta clinicamente com sinais de exaustão sem produção de trabalho perceptível. (Fenichel, 2005).

Ponto de vista econômico

O ponto de vista econômico considera a energia psíquica sob um ângulo quantitativo. Esse ponto de vista econômico se esforça em estudar como circula essa energia, como ela é investida e se reparte entre as diferentes instâncias, os diferentes objetos ou as diferentes representações. (Boulanger, 2006)

A energia das forças pulsionais e das forças repressoras que estão por trás dos fenômenos mentais é deslocável. Algumas pulsões são mais fortes e mais difíceis de reprimir, mas podem sê-lo se as contra-forças forem igualmente poderosas. Que quantidade de excitação pode ser suportada sem descarga é problema econômico.

A pulsão é um elemento quantitativo da economia psíquica. As pulsões são constituídas pelas representações e pelos afetos que lhes estão ligados. o termo afeto designa o aspecto qualitativo de uma carga emocional, mas também, o aspecto quantitativo do investimento da representação dessa carga. Investimento é o nome dado à ação de que uma certa quantidade de energia psíquica esteja ligada a uma representação mental. Freud diz que investimento pode ser aumentado, diminuído, deslocado, descarregado e que se estende sobre as representações, um pouco como uma carga elétrica na superfície dos corpos.

Teoria Topográfica

A concepção tópica do aparelho psíquico ocorreu progressivamente e desde os primeiros trabalhos de Freud sobre a histeria. O primeiro esquema topológico do aparelho psíquico está descrito no capitulo VII da Interpretação dos Sonhos (1900) e no ensaio sobre O Inconsciente (1915).

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É no capítulo VII da Interpretação dos Sonhos que Freud formula o primeiro grande modelo do aparelho psíquico (a primeira tópica). Nesse texto Freud teoriza um psiquismo composto por dois grandes sistemas – inconsciente e pré-consciente/consciente – que são separados por uma barreira (a censura) que através do mecanismo de recalque expulsa e mantêm certas representações inaceitáveis fora do sistema consciente. Mas essas representações exercem uma pressão para tornarem-se conscientes e ativas. Ocorre um jogo de forças, entre os conteúdos reprimidos e os mecanismos repressores. Como resultado desses conflitos há a produção das chamadas formações do inconsciente: sintomas, sonhos, lapsos e chistes. Essas formações representam o fracasso e o sucesso das duas forças em conflito, uma espécie de acordo entre elas.

A palavra “aparelho” é usada para caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções especificas para cada uma delas, que estão interligadas entre si. (Zimerman, 1999).

Consciente

Localizado entre o mundo exterior e os sistemas mnêmicos; é encarregado de registrar as informações oriundas do exterior e perceber as sensações interiores da série prazer – desprazer. (Boulanger, 2006).

Recebe informações provenientes do exterior e do interior que ficam registradas qualitativamente (prazer x desprazer); mas não tem função de inscrição; não conserva nenhum traço duradouro das excitações que registra; pois funciona em registros qualitativos enquanto o resto do aparelho mental funciona em registros quantitativos.

Faz a maior parte das funções perceptivas, cognitivas e motoras, como a percepção, o pensamento, juízo critico, evocação, antecipação, atividade motora.

Pré-Consciente

O conteúdo do pré-consciente não está presente na consciência, mas é acessível a ela. Ele pertence ao sistema de traços mnêmicos e é feito de representações de palavras.

Funciona como um pequeno arquivo de registros (representações de palavras) que consiste num conjunto de inscrições mnêmicas de palavras oriundas e de como foram significadas pela criança. (Zimerman, 1999).

A representação da palavra é diferente da representação da coisa, cujas inscrições não podem ser nomeadas ou lembradas voluntariamente.

Inconsciente

É a parte do psiquismo mais próxima da fonte pulsional. É constituído por representantes ideativos das pulsões. Contém as representações das coisas, as quais

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consistem em uma sucessão de inscrições de primitivas experiências e sensações provindas dos órgãos dos sentidos o que ficaram impressas na mente antes do acesso à linguagem para designá-las.

O inconsciente opera segundo as leis do processo primário e além das pulsões do id, esse sistema também opera muitas funções do ego, bem como do superego.

Segunda tópica

As primeiras linhas dessa conceituação aparecem em Além do Princípio do Prazer (1920) e será desenvolvida em o Ego e o Id (1923). Introduz a existência de três instâncias: o Id, o Ego e o Superego. Essas três estruturas separadamente têm funções especificas, mas que são indissociadas ente si, interagem permanentemente e influenciam-se reciprocamente.

Id

O id tem um correspondente quase exato na primeira tópica: o inconsciente. É o pólo pulsional. Na segunda tópica pulsão de vida e pulsão de morte pertencem a ele. No id não há lugar para a negação, nem o princípio da não-contradição, ignora os juízos de valor, o bem, o mal, a moral.

Em Esboço de Psicanálise Freud (1930) diz que na origem tudo era id; o ego se desenvolveu a partir do id, sob a influência persistente do mundo externo.

Sob o ponto de vista econômico, o id é a um só tempo um reservatório e uma fonte de energia psíquica. Do ponto de vista funcional ele é regido pelo princípio do prazer; logo, pelo processo primário. Do ponto de vista da dinâmica psíquica, ele abriga e interage com as funções do ego e com os objetos, tanto os da realidade exterior, como aqueles que, introjetados, estão habitando o superego, com os quais quase sempre entra em conflito, porém, não raramente, o id estabelece alguma forma de aliança. (Zimerman, 1999).

Ego

O ego é o pólo defensivo do psiquismo. É um mediador. Por um lado pode ser considerado como uma diferenciação progressiva do id, que leva a um continuo aumento do controle sobre o resto do aparelho psíquico. Por outro ponto de vista, o ego se forma na seqüência de identificações a objetos externos, que são incorporados ao ego. De qualquer forma, o ego não é uma instância que passa a existir repentinamente, é uma construção.

O ego não é equivalente ao consciente, não se superpõe ao consciente, nem se confunde com ele. O ego tem raízes no inconsciente, como é o caso dos mecanismos de defesa, que são funções do ego, assim como o desenvolvimento da angústia.

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A função do ego é mediadora, integradora e harmonizadora entre as pulsões do id, as exigências e ameaças do superego e as demandas da realidade exterior.

Ao contrário do id, que é fragmentado em tendências independentes entre si, o Ego surge como uma unidade, e com instância psíquica que assegura a identidade da pessoa. (Boulanger, 2006). Também tem a função de consciência assegura a auto-conservação.

Superego

É o herdeiro do Complexo de Édipo. É estruturado por processos de identificação. A identificação com o superego dos pais. Assume três funções: auto-conservação; consciência moral; função de ideal – ideal de ego.

O superego é constituído pelo precipitado de introjeções e identificações que a criança faz com aspectos parciais dos pais, com as proibições, exigências, ameaças, mandamentos, padrões de conduta e o tipo de relacionamento desses pais entre si. Zimerman, 1999).

Notas de rodapé:

¹ Pulsões - É necessário distinguir pulsão (trieb) de instinto (instinkt), que designa explicitamente padrões hereditários de comportamento animal, típicos de cada espécie. Na Tradução Brasileira das Obras Completas de Freud pela editora Imago pulsão foi erroneamente traduzida como instinto.

Fonte: http://artigos.psicologado.com/abordagens/psicanalise/metapsicologia-freudiana#ixzz2OC4Gl8So Psicologado - Artigos de Psicologia Siga-nos: @Psicologado no Twitter | Psicologado no Facebook

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A METAPSICOLOGIA FREUDIANA

Em seus aportes teóricos Freud foi levado a elaborar um modelo de funcionamento mental. Desde cedo ele forjou o termo metapsicologia mental para designar os aspetos teóricos da Psicanálise. Essa metapsicologia busca dar conta dos fatos psíquicos em seu conjunto, principalmente de sua vertente inconsciente. A metapsicologia freudiana traz os princípios, os modelos teóricos e os conceitos fundamentais da clínica psicanalítica.

Foi assim desde que, no final do século XIX, o trabalho com as histéricas mostrou a insuficiência da psicologia da consciência e levou-o a adotar a hipótese de que processos psíquicos inconscientes estavam na base da formação dos sintomas psicopatológicos. Esta hipótese tornou-se o disparador tanto de uma prática clínica diferenciada, quando da construção de um arcabouço teórico coerente com essa nova proposta.

Ao conjunto de modelos conceituais inferidos da experiência, Freud chamou de metapsicologia. Assim, o modelo de um aparelho psíquico dividido em instâncias, a teoria das pulsões, o processo do recalque, são hipóteses pertencentes ao registro de uma investigação teórica que pretende situar os conceitos básicos do empreendimento psicanalítico.

O longo Em vários momentos, Freud destaca que o caráter indeterminado e provisório de seus conceitos metapsicológicos não os torna menos válido. Pelo contrário, eles são fundamentais e indispensáveis na medida em que se constituem como os próprios instrumentos “científicos” utilizados na análise do material empírico. Mas estes instrumentos não podem ser rígidos e fixos, devendo se transformar toda vez que a experiência o exigir. Afinal, mais do que fornecer bases para as observações clínicas, as teorias são resultados que quando não são aperfeiçoados tornam-se estéreis. Entendida neste contexto, a metapsicologia tornou-se para Freud um aspecto essencial desta psicanálise que estava a se inventar, com a função não tanto de formular teses, mas de organizar e justificar o que deriva da experiência clínica.

Freud fez suas primeiras menções ao termo metapsicologia em correspondências para Fliess, no ano de 1896: “tenho-me ocupado continuamente com a psicologia – na verdade, com a metapsicologia” (MASSON, 1986, p.173).

Um ano antes, Freud havia escrito o seu projeto de uma “psicologia científico-naturalista”, assentado sob princípios biológicos e mecânicos do sistema nervoso. Trata-se de uma psicologia que recusa a identidade entre o psíquico e o consciente e propõe que a explicação para os processos neuronais sejam buscados em “processos psíquicos inconscientes”. Inconsciente, neste caso, é um adjetivo para os processos fisiológicos que não podem ser acessados direta ou imediatamente pelos sentidos. Como esclarece Gabbi Jr (1995, p.123) em sua tradução comentada do Projeto de uma

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psicologia: “o naturalismo de Freud leva-o a conceber processos que, como os físicos, devem ser inferidos, visto que não são imediatamente apreendidos pela consciência”.

Pois bem, a hipótese destes processos psíquicos inconscientes como determinantes independentemente da biologia, para este novo campo que se situa entre a esfera orgânica e psíquica. causais dos sintomas patológicos, acompanha-se de outras, ou seja, que o funcionamento neuronal transcende os processos físico-químicos e que obedece a leis diferentes daquelas de seus componentes materiais. Abre-se então uma área inédita de investigação que exige de Freud instrumentos e métodos específicos, para além do físico e do orgânico, o que a neurologia ou a biologia não tinha condições de fornecer. Tampouco a psicologia clássica. A metapsicologia nasce a partir dessa exigência de se dirigir a investigação psicológica,