A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA ESCOLA NORMAL JOAQUIM MURTINHO

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

    CENTRO DE CINCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

    Ana Carolina de Siqueira Ribas dos Reis

    A FORMAO DE PROFESSORES NA ESCOLA NORMAL

    JOAQUIM MURTINHO

    Campo Grande

    2011

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    Ana Carolina de Siqueira Ribas dos Reis

    A FORMAO DE PROFESSORES NA ESCOLA NORMAL JOAQUIMMURTINHO

    Monografia apresentada Universidade

    Federal de Mato Grosso do Sul como

    atividade complementar do curso de

    Licenciatura em Matemtica.

    Orientadora: Profa. Dra. Luzia Aparecida de Souza

    Campo Grande

    2011

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    Ana Carolina de Siqueira Ribas dos Reis

    A FORMAO MATEMTICA DE PROFESSORES NA ESCOLA

    NORMAL JOAQUIM MURTINHO

    Monografia apresentada Universidade

    Federal de Mato Grosso do Sul como

    atividade complementar do curso de

    Licenciatura em Matemtica.

    BANCA EXAMINADORA

    ___________________________________________

    Profa. Dra. Luzia Aparecida de Souza (orientadora)

    ___________________________________________

    Prof. Me.Thiago Pedro Pinto

    ___________________________________________

    Profa. Ma. Carla Regina Mariano da Silva

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. Grupo Escolar e Escola Normal Joaquim Murtinho (1931) .................................... 11Figura 2. Matria sobre a Escola Normal .............................................................................. 12Figura 3. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho ....................................................... 15Figura 4. Livro ponto (1955-1956) ....................................................................................... 16Figura 5. Cndida dos Santos .............................................................................................. 18Figura 6. Maria da Glria Leite Dubian ................................................................................ 25Figura 7. Maria de Lourdes Teixeira e seu pai, Mcio Teixeira Jnior .................................. 28Figura 8. Portaria n 9/52 ..................................................................................................... 45

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1. Nmero de alunos matriculados (1931-1934) ....................................................... 39Quadro 2. Disciplinas da Escola Normal (1 fase)................................................................ 40Quadro 3. Disciplinas do Curso Regional (1 e 2 sries) ..................................................... 41Quadro 4. Disciplinas do Curso Regional (3 e 4 sries) ..................................................... 42Quadro 5. Disciplinas do Curso Normal (1 e 2 sries) ....................................................... 43

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    SUMRIO

    INTRODUO ..................................................................................................................... 7

    1. O PROCESSO DE IMPLANTAO DA ESCOLA NORMAL NO BRASIL: UMCENRIO ............................................................................................................................. 8

    2. ASPECTOS METODOLGICOS ................................................................................ 13

    2.1 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA .............................................................. 14

    3. NARRATIVAS ............................................................................................................ 18

    3.1 CNDIDA DOS SANTOS ........................................................................................ 18

    3.1.1 CNDIDA DOS SANTOS .................................................................................. 19

    3.2 MARIA DA GLRIA LEITE DUBIAN .................................................................... 25

    3.2.1 MARIA DA GLRIA LEITE DUBIAN .............................................................. 26

    3.3 MARIA DE LOURDES TEIXEIRA ......................................................................... 28

    3.3.1 MARIA DE LOURDES TEIXEIRA ..................................................................... 29

    4. UM PRIMEIRO OLHAR SOBRE A ESCOLA NORMAL JOAQUIM MURTINHO ... 31

    5. ALGUMAS CONSIDERAES ................................................................................. 46

    6. REFERNCIAS. ........................................................................................................... 47

    7. ANEXOS ...................................................................................................................... 50

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    INTRODUO

    Este trabalho, realizado em nvel de monografia do curso de Licenciatura em

    Matemtica, no perodo de abril a dezembro de 2011, o incio de um estudo sobre aformao matemtica de professores formados pela primeira Escola Normal de Campo

    Grande. Tem como objetivo explicitar e articular indcios do cenrio educacional da Escola

    Normal Joaquim Murtinho e auxiliar nos estudos sobre como a formao de professores que

    ensinam matemtica vem se estruturando no pas.

    A pesquisa foi orientada pela busca e anlise de fontes relevantes compreenso de

    propostas pedaggicas, objetivo do ensino de matemtica na Escola Normal, metodologia,

    livros adotados e das dificuldades que alunos da Escola Normal Joaquim Murtinho possam terenfrentado j como professores do ensino primrio.

    A investigao em questo contribui para com os estudos do grupo Histria da

    Educao Matemtica em Pesquisa (cadastrado no CNPq e certificado pela UFMS) , do qual

    a autora faz parte, e que, em parceria com o Grupo de Pesquisa em Histria Oral e Educao

    Matemtica, busca mapear a formao de professores que ensinam matemtica no pas e

    compreender a dinmica escolar no contexto do ensino e da aprendizagem de matemtica.

    A princpio, foram realizadas entrevistas com duas ex-alunas da Escola Normal

    Joaquim Murtinho na dcada de 1950, e com uma ex-diretora que tambm foi professora da

    escola.

    O captulo 1 constitui um primeiro cenrio sobre o processo de implantao das

    Escolas Normais no Brasil e em Campo Grande, objeto de estudo do trabalho.

    No captulo 2 so apresentadas a metodologia utilizada e os procedimentos que, na

    pesquisa, ajudam a estrutur-la.

    As textualizaes das entrevistas so apresentadas no captulo 3 e o captulo 4 trata de

    uma primeira articulao das fontes estudadas. So feitas anlises do contexto da Escola

    Normal Joaquim Murtinho, da dinmica escolar e formao dos professores primrios

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    1. O PROCESSO DE IMPLANTAO DA ESCOLA NORMAL NO BRASIL: UMCENRIO

    Durante o perodo colonial existiram, no Brasil, os colgios jesutas e aulas rgias,restritos a uma pequena classe reconhecida como dominante. A vinda de D. Joo VI, em

    1808, tambm trouxe mudanas nas instituies educacionais como a criao de cursos

    superiores. Nesse contexto, nem todos tinham acesso educao.

    Com a Constituio de 1824, o ensino primrio passou a ser gratuito aos cidados. Em

    1827, a Lei de 15 de outubro sobre a instruo pblica do Imprio do Brasil, determinou a

    criao das Escolas de Primeiras Letras em todas as cidades, vilas e nos lugares mais

    populosos do Imprio que fossem necessrios.As Escolas de Primeiras Letras eram escolas de ensino primrio que ensinava a leitura,

    a escrita, clculo e doutrinas religiosas. O ensino adotado nessas escolas era o ensino mtuo, e

    os professores que no tivessem instruo sobre esse ensino, deveriam ir s escolas das

    capitais para obt-la, sem nenhum auxlio financeiro. O ensino mtuo consistia na aplicao

    do mtodo lancasteriano1: os alunos mais adiantados ajudavam o professor na tarefa de

    ensinar. Com esse mtodo aumentava-se o nmero de alunos por sala, diminuindo

    consequentemente o nmero de professores e os gastos com educao.Os professores ensinavam nas Escolas de Primeiras Letras, para meninos, a leitura e a

    escrita; as quatro operaes aritmticas, fraes, decimais e propores e noes gerais de

    geometria prtica; gramtica de lngua nacional; princpios da doutrina da religio catlica e

    apostlica romana e de moral crist, leituras sobre a Constituio do Imprio e histria do

    Brasil. Tambm, havia escolas para meninas nos lugares mais populosos, porm o currculo

    seria diferenciado na parte de matemtica, na qual deveriam ser ensinadas somente as quatro

    operaes aritmticas, e teriam instrues sobre aptides para o trabalho domstico.

    Nos relatrios de 1931 a 1936, o Ministro do Imprio Lino Coutinho denunciava a

    situao ruim do ensino elementar no pas. Alegava que os municpios eram os responsveis

    pela precariedade e pela ineficiente administrao e fiscalizao das escolas, e admitia o

    abandono do poder pblico quanto ao provimento de recursos materiais, como os edifcios

    pblicos previstos pela Lei das Escolas de Primeiras Letras, livros didticos e outros itens.

    1 O Mtodo Lancasteriano ou ensino mtuo surgiu com Bell e Lancaster na Inglaterra no final do sculo XVIII.No Brasil, foi o mtodo pedaggico para a instruo pblica institudo oficialmente por D. Pedro I, por meio daLei 15 de outubro de 1827. (PERES, 2005)

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    Com o Ato Adicional de 18342, os ensinos primrio e secundrio passaram a ser

    responsabilidade das provncias e, com a expanso do ensino pblico, foram criadas

    instituies para atender a demanda de docentes, as escolas normais, escolas para formao de

    professores em expanso nos pases europeus.

    A primeira Escola Normal brasileira foi implantada em Niteri, em 1835. Segundo

    Romanelli (2007), foi a pioneira na Amrica Latina, e de carter pblico, a primeira do

    continente. De acordo com a Lei n 10 de abril de 1835, que autorizava a criao de uma

    Escola Normal na Provncia do Rio de Janeiro para a formao de docentes primrios, a

    escola seria regida por um diretor que faria tambm o papel de professor. O currculo para a

    formao dos professores diferia do currculo da escola primria somente pela parte

    metodolgica. Seria ensinado: leitura e escrita pelo mtodo lancasteriano; as quatro operaese propores; a lngua nacional; princpios de moral crist; elementos de geografia. Para

    ingressar na Escola Normal era necessrio ser cidado brasileiro, ter 18 anos de idade, saber

    ler e escrever, ter boa conduta e bons antecedentes. A Escola Normal de Niteri foi fechada

    em 1849, sendo criticada durante a primeira fase. Segundo Schaffrath (2008), as crticas

    vinham relacionadas principalmente morosidade do processo de formao de professores e

    ao alto ndice de evaso (p. 151).

    Aps a criao da Escola Normal de Niteri outras foram criadas, como a escolaNormal da Bahia em 1836; a do Par em 1839; do Cear em 1845; a de So Paulo em 1846 e

    mais tarde influenciou as Escolas Normais de outros estados. Em Mato Grosso, a Escola

    Normal foi criada em 1876.

    Durante o sculo XIX, o funcionamento das Escolas Normais nas provncias

    brasileiras foi bastante instvel. Estas ficavam sujeitas a um constante processo de criao e

    extino, sendo fechadas ora por falta de alunos ora por falta de continuidade administrativa.

    Estas escolas s apresentaram progresso durante o perodo republicano.Em Mato Grosso foi somente em 1911, na administrao de Pedro Celestino Corra da

    Costa (1908-1911), que a Escola Normal passou a funcionar com regularidade. Foi criada a

    Escola Normal de Cuiab, onde o curso tinha durao de trs anos e cuja orientao

    pedaggica foi influenciada pelas ideias paulistas trazidas por professores contratados vindos

    desse estado. Assim como em So Paulo, foi instalado em Mato Grosso um Grupo Escolar

    2 O Ato Adicional de 1834 concedeu s Assemblias Legislativas provinciais o poder de elaborar o seu prprioregimento, desde que respeitassem as imposies gerais do Estado. Em relao instruo pblica, repassou aopoder local o direito de criar estabelecimentos prprios, regulamentar e promover a educao primria esecundria.

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    anexo Escola Normal, a Escola Modelo, que servia para a aprendizagem prtica dos

    alunos da Escola Normal.

    Para ingressar na Escola Normal de Cuiab, o candidato era submetido a um exame,

    em que mostraria seu conhecimento nas reas de gramtica da lngua portuguesa, leitura de

    prosa e verso, escrita a partir de ditado, caligrafia, aritmtica, morfologia geomtrica,

    desenho, moral prtica e educao cvica, geografia geral e histria do Brasil, noes de

    cosmografia e de cincias fsicas, qumicas e naturais, e leitura de msica e canto. Entretanto,

    os alunos que conclussem o curso da Escola Modelo eram dispensados do exame de

    admisso. As avaliaes eram feitas ao final de todo ms via provas orais e escritas, e atravs

    dos exames anuais realizados trs vezes ao ano.

    No governo do Presidente Joaquim Augusto Costa Marques (1911-1915) o cursopassou a ter durao de quatro anos e, no segundo mandato de Pedro Celestino (1922-1926),

    foi criado o Curso Complementar que servia como um curso intermedirio admisso na

    Escola Normal.

    Com a inaugurao da estrada de ferro, em 1914, Campo Grande passou a atrair

    imigrantes, comerciantes e fazendeiros, tornando-se o centro de operaes comerciais da

    regio sul do Estado de Mato Grosso3, levando a cidade a um processo de modernizao e

    busca de profissionais, para atuar na rea educacional.A primeira Escola Normal de Campo Grande foi implantada em 1930, no governo de

    Anbal de Toledo (22/01/1930-30/10/1930). Entretanto, neste ano funcionou apenas o Curso

    Complementar, que abrangia as seguintes disciplinas: Portugus, Cincias Fsicas e Naturais,

    Matemtica, Geografia e Histria do Brasil, e Desenho. O incio do ensino na Escola Normal

    deu-se em 1931.

    3A diviso do Estado de Mato Grosso e a criao do Estado de Mato Grosso do Sul ocorreram em 1977, com a

    Lei Complementar n 31, assinada pelo presidente Ernesto Geisel.

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    Figura 14.Grupo Escolar e Escola Normal Joaquim Murtinho (1931)

    Foi desativada no governo de Julio Strubling Muller (1937-1945), com o Decreto n112 de 29 de dezembro de 1937, e a formao de professores primrios passou a ser feita em

    um curso especializado anexo ao Liceu Campograndense.

    A Escola Normal foi restabelecida oficialmente em Campo Grande em 1947, durante o

    governo do interventor Jos Marcelo Moreira (1946-1947), com o Decreto-Lei no 834,

    podendo dessa forma ser divido em duas fases: a primeira compreendida entre 1930 e 1937, e

    a segunda, a partir de 1947. No encontramos, at o momento, documentos que abordem a

    desativao dessa instituio, mas h indcios de que em 1973 o Grupo Escolar e a EscolaNormal Joaquim Murtinho foram integradas, criando-se assim a Escola Estadual de 1 e 2

    graus Joaquim Murtinho. A foto abaixo, de 1974, mostra a fase de demolio do prdio que

    deu lugar atual Escola Estadual de estrutura imponente na regio central de Campo Grande.

    4Fotografia que compe o lbum do professor Mcio Teixeira Jnior. O acesso a este lbum nos foi concedido

    pela professora Maria de Lourdes Teixeira, filha de Mcio e ex-diretora da Escola Normal Joaquim Murtinho.

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    Figura 25. Matria sobre a Escola Normal

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    Fotografia retirada de um recorte de jornal que cedido por Maria de Lourdes Teixeira.

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    2. ASPECTOS METODOLGICOS

    A investigao, como j anunciado anteriormente, foi orientada pela busca e anlise de

    fontes relevantes compreenso de propostas pedaggicas, do objetivo do ensino de

    matemtica no curso normal, da metodologia e dos livros adotados e das dificuldades que

    normalistas possam ter enfrentado j como professores do ensino primrio. Nessa direo,

    fundamenta-se em fontes documentais como livro de matrcula, atas de exames trimestrais e

    finais, livro de portarias, livro de registro de diplomas, em referncias bibliogrficas sobre o

    assunto e entrevistas com antigos alunos e diretora.

    A metodologia utilizada nessa investigao a histria oral (SOUZA, 2006). Essa

    metodologia de pesquisa qualitativa (GOLDENBERG, 2003) se baseia na historiografia e emprincpios ticos voltados criao de fontes, articulando fundamentao terica e

    procedimentos de pesquisa na construo de narrativas.

    Se desenvolver uma pesquisa um exerccio de andar em torno de uma questo

    problematizadora, faz-lo no contexto da pesquisa qualitativa desenvolver uma postura

    especfica durante esse andar. Uma postura que reconhea a subjetividade do pesquisador e,

    com isso, o leve a tomar o cuidado de explicitar suas opes tericas e metodolgicas ao

    longo de seu trabalho.No caso da histria oral, esse caminhar envolve procedimentos especficos como:

    mapeamento e contato de interlocutores possveis no contexto da investigao, elaborao de

    um roteiro de entrevista, gravao do momento da entrevista (gerao de uma fonte oral),

    transcrio, textualizao e carta de cesso (para utilizao da fonte criada por esta e outros

    pesquisadores).

    A transcrio exercita um cuidado de procurar registrar no papel detalhes do momento

    da entrevista, mantendo ou procurando manter entonaes, vcios de linguagem, pausas,silncios. A textualizao, por sua vez, considerada aqui como um exerccio de edio da

    transcrio, no qual so reorganizadas ideias, retiradas as pausas e vcios excessivos e, em

    nosso caso, retiradas as questes feitas ao entrevistado. Esses procedimentos visam

    construo de uma narrativa de leitura mais fluente e uma busca por aproximao do

    pesquisador com as ideias do depoente, o que faz com que esse momento seja reconhecido

    como um exerccio analtico. Esse reconhecimento justifica nossa opo pela incluso das

    textualizaes no corpo dessa monografia.

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    Vale ressaltar que o objetivo do estudo no a busca pela verdade sobre os fatos, pois

    para Bloch (2001) o conhecimento do passado uma coisa em progresso, que

    incessantemente se transforma e aperfeioa (p.75). Por isso, segundo o autor, o pesquisador

    deve compreender, problematizar, contextualizar os fatos sem estud-los isoladamente. Bloch

    inaugura um modo de se pensar histria em que esta no depende mais da existncia prvia de

    documentos, mas da existncia de questes a serem investigadas.

    Construir verses histricas, segundo Schmitt (2005), requer analisar vrios pontos de

    vista acerca do objeto de estudo, o que justifica a variedade de fontes de que temos nos valido.

    2.1 O DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

    A pesquisa foi dividida em trs etapas. Na primeira, foram realizados estudos de

    literatura de referncia sobre a Histria da Educao Matemtica, Escolas Normais e contexto

    educacional em Campo Grande (ressaltamos que essas leituras fizeram parte de todas as fases

    de desenvolvimento, mas que nesse primeiro momento tiveram nfase). A segunda etapa

    corresponde ao levantamento e realizao de entrevistas com antigos alunos/professores da

    Escola Normal Joaquim Murtinho e organizao e digitalizao de documentos encontrados

    no acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho e em arquivos pessoais como o das

    professoras Maria de Lourdes Teixeira e Cndida dos Santos. A terceira etapa dessa

    investigao constituiu-se da anlise dos documentos construdos por essa pesquisa, seja pelos

    procedimentos da histria oral, seja pela prtica de leitura (lembrando que um documento no

    fala por si).

    Procuramos constituir um cenrio da Escola Normal Joaquim Murtinho, levantando

    indcios sobre o perodo em que esteve em funcionamento. Para o levantamento dedocumentos entramos em contato com o diretor da Escola Estadual Joaquim Murtinho, na

    qual existe um acervo com documentos da poca. Com sua autorizao, comeamos as

    buscas. Essa etapa da pesquisa levou um bom tempo, pois a sala onde se encontram os

    documentos um lugar pequeno e com pouca luminosidade. Alm disso, os documentos

    estavam misturados porque a sala tinha sido dedetizada. Alguns materiais se perderam devido

    a presena de cupins.

    Como as condies de trabalho no acervo no eram ideais, foi solicitado ao diretor daescola a retirada de documentos j mapeados como referentes Escola Normal Joaquim

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    Murtinho. Essa autorizao foi negada por conta da postura de outros pesquisadores que, ao

    terem sua entrada autorizada no acervo, desviaram documentos da escola.

    A foto abaixo indica um pouco das condies, ao menos as visuais, nas quais

    desenvolvemos esse primeiro mapeamento e todo o trabalho de digitalizao das fontes.

    Figura 3. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho

    Inicialmente, focamos documentos da dcada de 1930, perodo da implantao da Escola

    Normal em Campo Grande. O primeiro documento encontrado foi um livro de matrcula de

    alunos do ano de 1931 a 1935. Depois, foram encontrados outros documentos como atas dos

    exames trimestrais e finais de 1931 a 1935, e de 1935 a 1937, livro de portarias de 1934 a

    1944, e registro de nomeaes e portarias de 1934 a 1938.

    A partir do livro de matrculas, comeamos um mapeamento de ex-alunos para umprimeiro contato. Entretanto, devido dificuldade em encontrar depoentes desse perodo,

    optamos por selecionar ex-alunos da segunda fase. Voltamos escola em busca de

    documentos dessa fase e encontramos materiais como: livro de registro de diplomas de alunos

    de 1954 a 1968, que permitiu o levantamento de vrios nomes de alunos dessa poca. Para

    encontr-los, entramos em contato com o Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da

    Educao Pblica, onde soubemos que professores aposentados se reuniam duas vezes na

    semana para cursos e conversas. Na primeira ida ao sindicato encontramos Cndida dos

    Santos, uma ex-aluna da Escola Normal na dcada de 1950 que aceitou contribuir com a

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    pesquisa. Por meio dela, ficamos sabendo quais ex-alunos moravam aqui e telefone de alguns

    deles. Devido ao pouco tempo para a realizao da pesquisa, optamos por selecionar apenas

    trs depoentes.

    Tambm foram encontrados documentos como livro de portarias de 1952 a 1955, registro

    de correspondncias de 1950, livro ponto de 1955 e 1956, registro de diplomas de 1969,

    registro de correspondncias expedidas de 1954, livro de registro de professores e portarias de

    1951, e registro de funcionrios e professores de 1969. Ao todo foram encontrados treze

    livros, sendo nove em bom estado, dois com algumas pginas danificadas (foto abaixo) e

    outros dois no puderam ser aproveitados devido ao mau estado de em que se encontravam.

    Figura 4. Livro ponto (1955-1956)

    O roteiro das entrevistas foi elaborado com o objetivo de focar questes como aformao dos professores, dinmica escolar e o ensino de matemtica. Foram realizadas

    entrevistas com duas ex-alunas e uma ex-diretora.

    As entrevistas foram marcadas conforme a disponibilidade das depoentes. Quanto ao

    uso do gravador nenhuma foi contra. Entretanto, todas optaram por uma conversa preliminar

    na qual citaram fatos que no foram relatados com o gravador ligado.

    Realizadas as entrevistas, foram feitas as transcries e posteriormente a textualizao,

    utilizada como fonte no levantamento de algumas tendncias encontradas nos depo imentos.

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    Algumas informaes foram retiradas das textualizaes e transcries, pois as depoentes

    preferiram que no fossem publicadas (como, por exemplo, situaes de perseguio e priso

    de professores durante a Ditadura Militar).

    Percebe-se nas transcries muitas interrupes, sem necessidade, por parte da

    pesquisadora e tambm sua falta de maiores intervenes na explorao de determinadas

    temticas, de modo a enriquecer as memrias. Tambm se evidencia vcios de linguagem

    utilizados por esta autora. Essas questes sero melhoradas com o tempo, a partir da prtica e

    da experincia.

    Outra fonte de grande importncia para a pesquisa foi o livro Memria da Cultura e da

    Educao em Mato Grosso do Sul, de Maria da Glria S Rosa, que rene entrevistas com ex-

    alunos, professores e diretores da Escola Normal. Algumas destas entrevistas foram utilizadasneste trabalho.

    Devido ao curto perodo para a realizao da pesquisa, se apresenta nesse trabalho um

    primeiro olhar sobre algumas tendncias encontradas nos depoimentos.

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    3. NARRATIVAS

    3.1 CNDIDA DOS SANTOS

    Figura 5. Cndida dos Santos. Entrevista realizada em 21/07/2011 e 06/10/2011

    Cndida dos Santos foi, num primeiro momento, um nome entre tantos que

    encontramos no acervo da Escola Normal Joaquim Murtinho. Na busca por localizar alguns

    desses ex-alunos, uma visita foi feita ao grupo de aposentados que se renem no Sindicato

    semanalmente. Nessa visita, no identificamos Cndida, ela se identificou ao localizar seu

    nome e o de outros colegas (dos quais nos forneceu telefones) na lista resultante do

    mapeamento antes feito. Antes de ligar o gravador, uma primeira conversa sobre sua histria

    de vida, e, depois, a doao de livros ao Grupo de Pesquisa no qual esta pesquisa se insere.

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    3.1.1 CNDIDA DOS SANTOS

    Meu nome Cndida dos Santos, nasci em 11 de maro de 1935. Eu iniciei a minha

    formao escolar em 1945, na escola Externato So Jos, que funcionava na Rua DomAquino perto dos Correios. Estudei com um pouco de dificuldade porque no tinha dinheiro

    para pagar, e para pagar os meus estudos fui limpar as salas de aulas. Terminando l eu vim

    para a Escola Joaquim Murtinho onde funcionava o Colgio Estadual Campograndense.

    ramos obrigados a fazer o exame de admisso ao ginsio para entrar na escola. Sendo

    aprovado, fazia o ginsio (antigamente 1 a 4 srie ginasial). Aps isso, ns iramos escolher

    a parte do 2 grau: Cientfico, Normal ou Contador. Contador s tinha em escola particular e o

    Cientfico tinha nas outras escolas. Mas eu queria fazer Medicina, e para fazer Medicina teriaque ir para So Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais ou Bahia. Como no tinha condies,

    escolhi a Escola Normal para completar o 2 grau.

    No prdio da Escola Normal funcionava, naquela poca, o primrio de manh, no

    perodo vespertino funcionava o Colgio Estadual Campograndense, noite funcionava a

    Escola Normal e no fundo do prdio funcionava o Colgio Baro do Rio Branco, que era o

    ginsio noturno. Terminei o meu curso normal em dezembro de 1956, mas em julho j tinha

    sido nomeada professora do Estado. Antes de terminar eu j estava trabalhando.

    O curso normal tinha durao de dois anos. Na minha turma tinha de 30 a 40 alunos, a

    maioria era mulher, tendo na turma dois ou trs homens. Desses acho que se formaram quase

    todos, era difcil aluno reprovar. As aulas duravam quarenta a cinqenta minutos,

    aproximadamente. As matrias6 do curso normal eram: Portugus, Ingls, Matemtica,

    Puericultura, Desenho, Psicologia, Sociologia, Metodologia, Cincias Fsicas, Canto

    Orfenico, Francs, Educao Moral e Cvica, Prtica de Ensino. A avaliao de todas as

    matrias era uma prova escrita, copiada do quadro negro. No me recordo qual era a mdia de

    aprovao. Eu gostava das matrias nas quais tirava as notas mais altas, como Desenho,

    Psicologia, Francs e Prtica de Ensino. A aula que menos gostava era a de Metodologia,

    porque tirava nota baixa, a professora cobrava muito dos alunos.

    Uma vez dei a matria de Recreao e quando dei a prova algumas alunas disseram

    que eu no tinha dado a matria. Eu falei que no dava prova daquilo que no explicava. Na

    sala havia um rapaz cego que disse: d licena professora, a senhora deu essa matria no dia

    6As disciplinas citadas por Cndida foram retiradas do Certificado de Concluso do Curso Normal, apresentado

    pela depoente no dia das entrevistas.

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    tal do ms tal. Ento se ele cego tinha a matria, as outras que no eram tambm tinham que

    ter. Tudo que eu falava ele escrevia em braile. Eu tive trs alunos cegos na Escola Normal e

    todos seguiram com o curso tranquilamente.

    Naquela poca tinha toda uma programao dos contedos. Assim como tinha a

    programao na escola primria, ns tnhamos na Escola Normal. Tudo era programado, voc

    tinha uma diretriz. Eu tenho um planejamento do ano de 1984 da Escola Visconde de Cairu,

    do primrio. No planejamento voc tinha a matria todinha do ms para aplicar. Depois de

    ensinar, a diretora Ayd Camargo Csar planejava a prova que as professoras iam aplicar,

    depois essas avaliaes voltavam para a mo da diretora para ver o que foi aplicado, se voc

    corrigiu certo ou errado. Voc tinha que elaborar a sua aula para poder aplicar porque ela

    cobrava de voc o que voc tinha aplicado.No tinha muita cobrana do governo, o professor quase no tinha material didtico,

    ento as aulas eram dadas em exposio e os professores escreviam no quadro. Eles

    acompanhavam religiosamente o dirio oficial. Cada um fabricava seu prprio material

    didtico. s vezes a professora colocava desenhos no quadro, dava orientao de como fazer

    o material e ns elaborvamos em casa para apresentarmos ao aluno, usvamos nossa

    criatividade. No curso noturno tinha pouca possibilidade da professora fazer muita exposio

    de material, por isso ela orientava e fazamos em casa, tanto que eu at pouco tempo guardavauma srie de material como desenho colorido, procurava revista, tudo que voc podia fazer

    voc fazia. Na minha sala mesmo tinha mapa, porque eu fui professora de desenho, ento eu

    colocava um mapa. Fazia o desenho do mapa e colocava na sala de aula.

    A professora de Matemtica no passava material para construirmos, mas a gente,

    enquanto aluna e como a professora de Didtica orientava, pegava, procurava construir aquilo

    para dar para o aluno no s em Matemtica, mas em Histria, Geografia... Todo material que

    eu podia fabricar eu fazia e levava para a sala de aula. No estou lembrada de nenhummaterial de matemtica.

    Os cursos para professores eram muito raros, quase no tinha. Dependia do prprio

    professor que dava a matria e explicava. Ns tivemos por vrios anos o curso da CADES7.

    Professores vinham do Rio de Janeiro, Gois e So Paulo para dar um curso de um ms para

    os professores que estavam dando aula. O curso era como se fosse a aula da Escola Normal.

    Ento eles ensinavam a matria e mostravam como deveria ser aplicada aos alunos, e no final

    7Campanha de Aperfeioamento e Difuso do Ensino Secundrio (CADES), criada em 1953.

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    conta at assimilar o que eram as quatro operaes. Da para frente eu ia aumentando a

    dificuldade. Tambm passava problemas para os alunos.

    A dificuldade era muito grande para planejar as aulas porque eu dava aula de manh,

    tarde e noite de matrias diferentes. Regncia de sala para o curso primrio, educao fsica,

    e trabalhava na parte administrativa. Ento eu tinha que chegar em casa, dividir o tempo para

    preparar cada aula. Mas a dificuldade era devido falta de tempo s.

    H pouco tempo veio aqui em casa uma menina, que no era minha aluna, que no

    conseguia fazer mximo divisor comum nem mnimo mltiplo comum, se fizesse a prova de

    recuperao ia repetir o ano. Ficou aqui duas horas comigo para eu explicar e eu perguntei

    como ela tinha resolvido o problema. A menina me mostrou a resposta. Eu falei que queria

    saber a maneira como tinha resolvido, e a menina disse que a professora tinha falado que areposta era tal e ela s colocou a resposta sem executar o trabalho. Eu falei ento agora voc

    vai executar para que quando for l e chegar para fazer a prova, saber fazer a prova. Ela leu o

    problema, eu expliquei como deveria fazer, ela fez e disse: to fcil n, professora.

    Ento tem que levar o aluno a entender o que com frao, ou seja, seja qual for a

    parte da matria de Matemtica, tem que explicar para o aluno. E isso eu fazia na sala de aula.

    Graas a Deus nunca tive problema em questo de reprovar. Isso era passado na Escola

    Normal para todo mundo entender e passar para frente porque se voc no fizesse isso como que voc ia aplicar? Eu cobrava isso no s dos meus alunos.

    Tenho um defeito porque eu no sei ensinar somente eu fazendo, eu obrigo a pessoa a

    fazer, e aprender como se faz, em toda atividade. Por exemplo, aqui eu tenho uma linha.

    Preciso fazer um trabalho usando os quatro dedos. Eu mostro como a eu no vou fazer, eu

    pego a linha e dou para o aluno comear a aplicar aquilo que expliquei. A ele comea a

    aplicar e sai dali fazendo sozinho. J fiz isso agora h pouco com uma criana de oito anos

    ensinando a trabalhar, a fazer trabalhos artesanais com o dedo. Ensinei a av (a av no sabiaa ela ficou me olhando e eu falei vem c). Chamei a criana, mostrei como fazia. A criana

    lanou, levou um pedao feito e depois veio me trazer o trabalho em pedao do tamanho de

    um colar. No sei ensinar s comigo fazendo, a pessoa tem que fazer. Isso eu usei durante o

    meu tempo todo na escola. Vamos fazer? Vamos!

    Ns usvamos um livro de tabuada para as quatro operaes principalmente com as

    crianas. Fazamos a explicao e depois tomvamos a tabuada, quanto tanto vezes tanto,

    quanto isso, ou ento mandava escrever no quadro. E hoje no se usa mais isso, a criana

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    fica perdida, tanto na matemtica como no portugus. Voc tinha que explicar tudo. Voc

    explicava e depois passava exerccios no quadro para trs ou quatro alunos.

    Uma vez uma criana perguntou como eu tinha cabea para passar o nmero certo

    para o aluno resolver. Hoje quando estou dirigindo, somo as placas do carro com rapidez. De

    um, dois, trs carros. Tenho uma vizinha que falou assim: eu punha meus netos para estudar

    tabuada e tomava. Quer dizer, a av punha a criana para estudar, quanto que era isso quanto

    que era aquilo... Depois ela tomava para saber se a criana tinha estudado. Quer dizer,

    antigamente os pais se interessavam mais. Hoje no, hoje a criana fica aqui perdida. No tem

    o trabalho. Os pais de antigamente faziam a criana estudar. Hoje no. A criana hoje faz tudo

    pela mquina. T certo que a pessoa, a criana hoje tem facilidade, faz pela mquina, mas tem

    que ter o trabalho mental.No curso Normal tnhamos a professora de Metodologia, noite estudvamos e no

    perodo matutino tnhamos que apresentar o nosso trabalho como professora, e alm disso, ela

    dizia a professora tem que ser o espelho para o aluno. Ento era exigente, a pessoa tinha que

    trabalhar e cumprir com aquela obrigao. Dias antes encontrei um ex-aluno meu do

    Joaquim Murtinho que disse eu era caxias. Eu expliquei que tinha sido educada por militar,

    ento tinha que ser caxias. Tudo que ns fazamos era cobrado como normalista e segui esse

    caminho dando aula no Joaquim Murtinho e na escola Visconde de Cairu. Como professoraprimria durante 28 anos na Escola Visconde de Cairu, 35 na Escola Joaquim Murtinho, e

    dei aula de Educao Fsica no Colgio Estadual Campograndense. Quando o professor

    Alcides Pimentel precisou passar para a diretoria. Eu fui substitu-lo no ginsio, dava aula l

    de educao fsica e no perodo noturno dava vrias aulas de recreao na Escola Normal.

    Na Escola Normal tinha o professor Agib, professor de Ingls, de Canto Orfenico era

    o professor Frederico, de Cincias o professor Virglio, a dona Eunice dava aula de

    Metodologia, a professora Eneida dava aula de Sociologia. Se no me engano o professor dePsicologia era at um advogado. A maioria era daqui e formada at o segundo grau. Ento,

    por exemplo, o professor de primeiro grau dava aula para o segundo grau e muitos, no sei

    como e porque, davam aula de segundo grau mas a aula era como se tivesse numa faculdade.

    Tanto que o aluno ia para o Rio, So Paulo prestar vestibular e passava. Eles cobravam muito

    mais e o aluno aprendia, eu fiz o curso de magistrio de dois anos, fui ao Rio fazer uma

    especializao em Educao Fsica, fiz o vestibular e passei. Depois de dez anos vim fazer

    aqui novamente o vestibular, primeira turma de Educao Fsica, s com o curso que eu tinha

    feito l no Rio. Na hora eu falei e agora, como que eu vou fazer vestibular se eu no fiz o

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    cientfico? Peguei trs volumes de Botnica, Fsica e Qumica, estudei sozinha e fui fazer o

    vestibular. Fiz o vestibular e passei.

    A relao entre professores e alunos era completamente diferente do que hoje. Era

    um respeito fora de srio, tanto dentro quanto fora da sala de aula. Chamvamos os

    professores de senhor, senhora. Da mesma forma eles diziam: no senhora, a senhora no fez

    tal coisa. Antigamente o tratamento era completamente diferente de hoje, no falvamos

    voc.

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    3.2 MARIA DA GLRIA LEITE DUBIAN

    Figura 6. Maria da Glria Leite Dubian. Entrevista realizada em 07/10/2011

    Maria da Glria Leite Dubian era um nome no mapeamento feito no acervo escolar,

    depois disso, um nome a ser buscado e encontrado na lista telefnica de Campo Grande. Por

    telefone foi agendado um primeiro contato e, neste, uma entrevista inteira antes do gravador

    ser ligado. Com o tempo, durante a conversa, a ligao do gravador foi autorizada, no sem

    nervosismo e, como evidncia deste, o suor.

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    3.2.1 MARIA DA GLRIA LEITE DUBIAN

    Meu nome Maria da Glria Leite Dubian. Nasci em Campo Grande no dia 16 de

    agosto de 1931.Eu fiz o primrio e o ensino normal na Escola Joaquim Murtinho, o ginsio cursei na

    escola Maria Constana. No me lembro quando ingressei na Escola Normal, pois parei de

    estudar durante um tempo. Na minha turma tinha aproximadamente 20 alunos, sendo que

    destes apenas um era homem.

    Eu trabalhei muito em escritrio, era uma exmia datilgrafa. Depois fiz concurso

    federal da Superintendncia de Campanhas de Sade Pblica (SUCAM). No me casei, mas

    tenho um neto.Tambm dei aula como normalista. Resolvi cursar o ensino normal por ser mais fcil,

    para ter uma profisso. Para ingressar era necessrio fazer uma prova, parecida com

    vestibular. A prova era difcil. A escola era asseada, limpa, e a diretora era a dona Maria

    Constana de Barros Machado.

    As aulas tinham durao de cinqenta minutos. No me lembro se o governo investia

    na educao, mas acredito que sim porque a escola era estadual. Na minha turma tinha

    aproximadamente vinte alunos e destes apenas um era homem, chamava-se lcio. No me

    lembro o sobrenome dele.

    As disciplinas do curso eram Metodologia, cuja professora era a dona Eunice de

    Souza, Portugus... Ns tivemos at um pouco de Ingls tambm, um pouco, mas tinha.

    Francs no tinha na Escola Normal. Eu gostava de todas as matrias e de todos os

    professores, nunca briguei com professor, graas a Deus. Eu sempre fui briguenta em casa,

    mas na escola no. Gostava das aulas de portugus do professor Licurgo Bastos, ele ensinava

    bem. Tinha mais dificuldade em matemtica, era difcil aprender, inclusive fiquei de segunda

    poca de Matemtica com o professor Luiz Cavallon. Eu reprovei porque a gente fazia a

    prova rpido. Mas depois eu fiz o curso e passei, graas a Deus.

    Fazamos todos os exerccios de adio, subtrao, problema e tambm o Teorema de

    Pitgoras, e agora no sei mais. Enquanto estudei l no me lembro se mudou alguma coisa

    no ensino de matemtica.

    Os professores usavam livros como guias didticos e tambm fazamos pesquisas, em

    todas as matrias. As avaliaes eram escritas e orais. Na prova oral amos ao quadro fazer os

    exerccios, a professora perguntava e a gente respondia. A relao dos professores com os

    alunos era tima, sempre fui bem tratada, nunca briguei. Eu era muito encrenqueira em casa e

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    xingava muito. Apanhei muito da minha me, a finada. Mas eu me recordo da minha me,

    apanhava de pau.

    Eu me lembro do meu tempo de Normal que ns fazamos baile para formatura, todo

    sbado tinha baile. Eu dancei muito tambm, brinquei muito, briguei, mas venci, graas a

    Deus.

    A formao que tive me deu condies para dar aula. Como trabalhava durante o dia,

    nunca dei aula para criana, s para adultos porque dava aula noite. Ensinava todas as

    matrias: Portugus, Matemtica, Estudos Sociais, Biologia. Dava aula de Matemtica

    tranquilamente, de tudo que aprendi. Quem no sabe as quatro operaes nunca vai dar aula.

    Por isso que sempre minha me ensinou a estudar a tabuada. Minha me tomava a tabuada da

    gente: duas vezes um dois, duas vezes dois quatro, duas vezes trs seis.Eu pedia para os alunos comprarem um livro de tabuada, porque eu passava no quadro

    a tabuada. Quem no compreendia comprava para estudar. Eu no tenho mais meus livros, dei

    tudo, nunca queimei. Um dia vi uma professora que queimou tantos. Lembrei de dar para

    alguma entidade, mas ela jogou tudo no lixo. Eu fiquei doente de ver aquilo. como se

    tirassem um brao da gente. Jogar? Em vez de dar para outras pessoas, ps no lixo. O lixeiro

    de certo ficou contente. Se o lixeiro foi consciencioso at deve ter guardado para ele.

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    3.3MARIA DE LOURDES TEIXEIRA

    Figura 7. Maria de Lourdes Teixeira e seu pai, Mcio Teixeira Jnior. Entrevista realizada em 01/11/2011

    Em busca de documentos do tempo em que Mcio Teixeira Jnior esteve frente da Escola

    Normal Joaquim Murtinho, como diretor, conhecemos, por telefone, Maria de Lourdes

    Teixeira. Esta havia sido aluna de uma outra Escola Normal de Campo Grande, mas havia,

    assim como seu pai, trabalhado como diretora e professora na Escola Normal que temos aqui

    focado. Maria de Lourdes concedeu esta investigao no somente uma entrevista, mas

    diversos documentos que ainda guarda acerca daquela poca.

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    3.3.1 MARIA DE LOURDES TEIXEIRA

    Eu sou Maria de Lourdes Teixeira, filha de Mcio Teixeira Jnior e Maria Rita Pontes

    Teixeira. Nasci dia 25 de novembro de 1937. Estudei no Colgio Nossa Senhora Auxiliadora

    e depois fiz cursos no Rio de Janeiro de aperfeioamento para a educao e vim para Campo

    Grande. Lecionei no Ateneu Rui Barbosa, no Senac. Dei aulas de Portugus, Geografia e

    Conhecimentos Gerais que eram do curso no Senac mesmo.

    Depois vim para a Escola Normal onde lecionei Histria do Brasil, Geografia e

    Desenho Pedaggico, do qual ningum mais fala. Voc tinha, no primrio, uma histria s

    com desenhos, como histria em quadrinhos. Tinha uma repercusso boa, os alunos se

    interessavam, aprendiam. A Cadeira chamava-se Desenho Pedaggico. Aplicava o desenho

    pedagogia infantil.

    Posteriormente fui convidada para a direo da Escola Normal Joaquim Murtinho,

    onde fiquei por dez anos. Depois, enfrentei um concurso para fiscal de renda do Estado e,

    embora fosse completamente diferente da minha rea, eu peguei o Cdigo Tributrio, estudei

    bastante e, juntando com o conhecimento que a gente tem de professor, fui bem.

    Na poca o governo investia pouco na educao. A educao sempre foi banida.

    Houve uma poca em que recebi caixas e mais caixas de livros para serem distribudos no

    primeiro ano primrio e simplesmente ignorei porque os livros no tinham nada de objetivo,

    nada que levasse a criana a aprender alguma coisa. No os mandei para classe nenhuma, nem

    para colgio nenhum. Depois escrevi para o governador dizendo que sentia muito, mas que o

    livro era inaceitvel. No me lembro qual era esse livro, era feio e de alfabetizao no tinha

    nada.

    Todos os meses havia uma mini prova. Cada professor fazia o seu currculo eestabelecia dentro dele o que deveria ser aplicado mediante o conhecimento daquele ms e de

    meses anteriores. Isso era muito bom porque ficavam sempre atualizados.

    Os professores eram timos e se doavam muito. A professora Quintina Bueno, por

    exemplo, era uma gacha e adorava lecionar. Tinha a filha da dona Maria Constana, a Maria

    Aparecida Bogalho era uma professora muito boa. O Lieberman era o professor de msica.

    Idelbrando Campestrini e o Dr. Siuffi tambm foram professores. Era uma equipe muito boa e

    muito unida.

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    Os professores geralmente tinham faculdade de alguma outra coisa, no era especfico

    para a educao. Ento, por exemplo, quem ministrava Portugus era uma pessoa j

    reconhecidamente como uma pessoa letrada e de boa formao.

    A relao dos professores com os alunos era excelente. Os professores gostavam

    muito dos alunos e os alunos gostavam muito dos professores. Nunca, no meu tempo todo,

    houve discusso entre professor e aluno.

    Geralmente os professores que lecionavam na Escola Normal eram de outros colgios

    e, quando indicados, iam dar aula na Escola Normal. Eles eram muito bons. J os alunos

    tinham que fazer um vestibular que era difcil.

    O prdio onde funcionava a Escola Normal era velho, mas muito limpo, tinha diversos

    empregados. Quando terminava a aula no primrio eles j deixavam tudo limpo. Da tinha ocurso normal noite e noite mesmo j varriam, limpavam tudo para o curso primrio do

    outro dia. No meu tempo a Vera Bastos era a diretora do primrio e eu me dava muito bem

    com ela.

    A minha atuao como diretora foi muito prazerosa. At hoje encontro diversos alunos

    que ainda me chamam de diretora.

    Ns comprvamos muitos livros. Tinha uma biblioteca boa, deve ter a ainda,

    biblioteca de portugus, biblioteca de matemtica, sabe tudo acoplado. Muito bom. Quandosaa um livro novo o Estado mandava para a gente. Porm, mandava s para os professores,

    no mandavam para os alunos. Eu sinto falta disso, hoje em dia os alunos quase no

    freqentam mais a biblioteca, s computador.

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    4. UM PRIMEIRO OLHAR SOBRE A ESCOLA NORMAL JOAQUIMMURTINHO

    Nesse captulo apresentamos algumas tendncias encontradas a partir dastextualizaes das depoentes e dos documentos digitalizados, bem como a partir de entrevistas

    que, embora no tenham sido por ns realizadas, so fontes construdas em outros tempos a

    partir da oralidade.

    No perodo que antecede a implantao da Escola Normal Joaquim Murtinho, o Brasil

    assistiu a uma srie de acontecimentos importantes que, de uma forma ou de outra,

    influenciaram a poltica no pas, como as Revoltas Tenentistas9, em 1920, a quebra da bolsa

    de Nova Iorque10

    , em 1929, e a criao da Aliana Liberal11

    , fatos que influenciaram, diretaou indiretamente, a Revoluo de 1930, que levou Getlio Vargas ao poder. Munido de

    amplos poderes, Vargas suspendeu a Constituio de 1891, fechou o Congresso Nacional e as

    Assemblias Estaduais, substituiu os governadores por interventores federais nomeados por

    ele prprio. Em 1933, elegeu-se uma Assemblia Constituinte para elaborar uma nova

    constituio, que foi promulgada em 1934.

    Dr. Mrio Corra da Costa foi eleito, pelos constituintes, governador do estado de

    Mato Grosso. Em 1937 Jlio Strubing Muller eleito pela Assemblia Legislativa paragovernador. Nesse mesmo ano, Vargas dissolveu o Congresso, destituiu os governadores

    estaduais e extinguiu todos os partidos polticos. Esse perodo ficou conhecido como Estado

    Novo e durou at 1945, ano em que Vargas foi deposto pelas Foras Armadas. O general

    Dutra, lanado candidato pelos partidos PSD12 (Partido Social Democrtico) e PTB (Partido

    Trabalhista Brasileiro), ambos com Getlio Vargas como presidente de honra, venceu as

    eleies em 1945 e assumiu a presidncia de 1946 a 1951.

    Vargas venceu as eleies em 1950, assumindo o poder de 1951 a 1954, ano em que

    suicidou-se.

    9Entre 1921 e 1930, o movimento tenentista realizou revoltas e rebelies armadas com objetivo de derrubar osgovernos oligrquicos e assumir o poder.10Em 1929 a economia mundial abalada pela crise da bolsa de valores de Nova Iorque. A crise atingiuduramente a economia do Brasil, que era exportador de produtos primrios, principalmente de caf. Nessecontexto, os mercados consumidores encolheram drasticamente.11 Formada em 1929, a Aliana Liberal foi a coligao que lanou as candidaturas de Getlio Vargas e JooPessoa presidncia e vice-presidncia da Repblica. Com o intuito de impedir que os paulistas continuassemgovernando o pas, a Aliana Liberal articulou um golpe conhecido como Revoluo de 1930, e que impediu a

    candidatura de Jlio Prestes, colocando Getlio Vargas no poder(Governo Provisrio 1930-1934).12 O PSD (Partido Social Democrtico) e a UDN (Unio Democrtica Nacional), considerados os principaispartidos polticos nas dcadas de 1940 e 1950, disputavam a hegemonia nacional e regional.

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    No estado de Mato Grosso, a dcada de 1950 marcada por disputas polticas entre

    dois partidos que se alternaram no poder: PSD e UDN. Esses partidos buscavam a hegemonia

    poltica. Filinto Muller (PSD) e Fernando Corra da Costa (UDN) surgem como fora poltica

    no estado de Mato Grosso.

    nesse contexto de transformaes polticas no pas que a Escola Normal foi fundada,

    em 1930, comeando a funcionar em 1931. Foi desativada no governo de Julio Strubling

    Muller (1937-1945), com o Decreto 112 de 29 de dezembro de 1937, e a formao de

    professores primrios passou a ser feita em um curso especializado anexo ao Liceu

    Campograndense.

    O ensino normal foi restabelecido oficialmente em Campo Grande em 1947, durante o

    governo do interventor Jos Marcelo Moreira (1946-1947), com o Decreto-Lei no 834,podendo dessa forma ser divido em duas fases.

    Em sua segunda fase, h documentos que evidenciam o carter de urgncia de sua

    reabertura. Segundo o professor Mcio13:

    Em 1947, a Lei 834 de 31 de janeiro de 1947 cria a Escola Normal JoaquimMurtinho de Campo Grande. Nesse tempo era interventor federal JosMarcelo Moreira. Em 18 de fevereiro de 1948, considerando gritante a faltade normalistas do Estado, o Governador Arnaldo de Figueiredo, atravs doDecreto 410, determinou sua instalao e imediato funcionamento. (ROSA,

    1990, p. 49)

    A escola foi reativada nos moldes da Lei Orgnica do Ensino Normal (Decreto-Lei n

    8530, de 2 de janeiro de 1946). O professor Mcio comenta sobre a reabertura da escola:

    A festa de instalao da Escola Normal aconteceu em 4 de abril de 1948 efoi uma das mais importantes do ano. Estavam presentes o professor JerciJac, Diretor de Educao e Cultura do Estado, que veio de Cuiab para oevento, Dr. Dolor de Andrade, deputado federal, mais tarde candidato daUDN ao Governo do Estado, Waldir dos Santos Pereira, Presidente daAssemblia Legislativa do Estado, Nicolau Fragelli, Suplente de Senador e

    professor de Francs, Demsthenes Martins, que mais tarde fez parte dosecretariado do Governo Fernando Correa da Costa, Severino de Queirs,professor de Portugus e representante do Governo, alm de representantesda 9 Regio Militar. (ROSA, 1990, p. 49)

    Fica evidente nas dcadas de 1930 a 1960 a influncia exercida pelos polticos nas

    nomeaes, eleies e demisses de funcionrios da escola, prevalecendo as questes

    13Mcio Teixeira Jnior era carioca, formado em Engenharia e j havia lecionado Matemtica no Liceu de Artes

    e Ofcios do Rio. Foi diretor da Escola Normal Joaquim Murtinho de 1931 a 1932, 1934 a 1937 e de 1948 a1951.

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    polticas sobre os assuntos do ensino. Havia mudana no quadro de funcionrios conforme

    mudava o governador do estado. Segundo o professor Mcio:

    Quando mudava a poltica, o Governo exonerava os que eram do contra,

    perseguia os que haviam trabalhado contra o partido. Havia diretores queforneciam ao Governo a lista dos funcionrios que eram do partido daoposio, mas nunca me prestei a um papel desses. (ROSA, 1990, p. 50)

    Essa forte influncia tambm se manifesta no depoimento de Lus Alexandre14 de

    Oliveira, professor que se inscreveu, em 1930, no concurso de ingresso Escola Normal e que

    relata o poder poltico na contratao de professores:

    Em 1930, foi aberto concurso para professor de Geografia na Escola Normal

    de Campo Grande. Eu era da oposio, pertencia ao partido de Jlio Prestese, por isso, recebi um recado do Governador da poca, Lenidas de Matos,de que no adiantava me inscrever, nem prestar o concurso, porque, mesmose passasse, no seria nomeado. (ROSA, 1990, p. 32)

    O Decreto- Lei n 834 de 31/01/1947, autorizou a criao da Escola Normal Joaquim

    Murtinho em conformidade com a Lei Orgnica do Ensino Normal. De acordo com essa lei, o

    ensino normal, um ramo do segundo grau, tinha como finalidade formar docentes necessrios

    s escolas primrias; habilitar administradores escolares destinados a tais escolas; e

    desenvolver e difundir conhecimentos e tcnicas referentes educao da infncia. Esse

    ensino passaria a ser ministrado em dois ciclos. O primeiro, composto de quatro anos, seria

    ministrado no Curso normal regional, com escolas primrias anexas para demonstrao e

    prtica de ensino. Esse curso habilitaria regentes para o ensino primrio. O segundo ciclo

    habilitaria professores para o ensino primrio e estaria diretamente ligado com o curso

    ginasial, sendo ministrado na Escola Normal. Esse ciclo, com durao de trs anos, poderia

    ser realizado em dois anos, desde que houvesse em seu currculo as seguintes disciplinas, no

    mnimo:Primeira srie: Portugus, Matemtica, Biologia educacional (noes de anatomia e

    fisiologia humanas e higiene), Psicologia educacional (noes de psicologia da criana

    e fundamentos psicolgicos da educao), Metodologia do ensino primrio, Desenho e

    artes aplicadas, Msica e canto, e Educao fsica, recreao e jogos.

    14Lus Alexandre de Oliveira nasceu em Minas Gerais, mas quando pequeno se mudou para Aquidauana com a

    famlia, onde em 1915 fundou a escola primria Instituto Pestalozzi. Mudou-se para Campo Grande e, em 1923,montou em sua casa uma escola denominada Instituto Rui Barbosa.

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    Segunda srie: Psicologia educacional, Fundamentos sociais da educao, Puericultura

    e educao sanitria, Metodologia do ensino primrio, Prtica de ensino, Desenho e

    artes aplicadas, Msica e canto, Educao fsica, recreao e jogos.

    Apesar de terem sido encontrados nos documentos informaes sobre o curso regional

    e normal, estas no foram suficientes para diferenciar professor e regente primrio.

    O ensino normal tambm deveria compreender cursos de especializao para docentes

    primrios e de habilitao para administradores escolares do grau primrio.

    Para os exames de admisso ao curso de primeiro ciclo, o candidato deveria apresentar

    a prova de concluso dos estudos primrios e ter idade mnima de treze anos; para inscrio

    aos de segundo ciclo, deveria apresentar certificado de concluso de primeiro ciclo ou

    certificado do curso ginasial, e ter idade mnima de quinze anos. Vale ressaltar que de acordo

    com a Lei Orgnica, candidatos acima de vinte e cinco anos no seriam admitidos em nenhum

    dos dois cursos. Na primeira fase, baseado no livro de matrculas, a idade dos alunos variava

    de 9 a 19 anos de idade, enquanto que na dcada de 60, a faixa etria dos alunos estava entre

    20 e 30 anos.

    Quanto aos professores do ensino normal, estes deveriam receber conveniente

    formao em cursos apropriados, em regra de ensino superior e seriam efetivados mediante

    prestao de concurso pblico. Apesar dessa padronizao, os indcios encontrados ressaltamas prevalncias polticas.

    Para o incio das atividades da Escola Normal de Campo Grande, em 1930, vieram

    professoras de Cuiab para lecionar na Escola Normal, conforme cita o professor Mcio

    Teixeira Jnior:

    Como diretor da Escola Normal Anexa, de 30 a 32 convivi com professorascuiabanas que deixaram seu nome na histria de nosso ensino: MariaConstana de Barros Machado, Elisa Silva, Elvira Pacheco, SimplicianaCorrea, Ana Lusa Prado Bastos, Helvecina Reveilleau, Sofia Berenice.Essas professoras enfrentavam corajosamente um meio estranho, moravamem casas de amigos e dedicavam-se de corpo e alma ao ensino. Nuncafaltavam s aulas, nem reclamavam das longas horas que passavam ao ladodos alunos. Quando se casavam, repartiam com os alunos o amor dos filhos.(ROSA, 1990, p. 49)

    Ayd Camargo Csar comenta que haviaprofessores esforados e outros que estavam

    ali s, porque tinham influncia poltica. Tive um professor de Didtica que costumava dizer:

    Sou farmacutico formado, de Didtica no entendo nada (ROSA, 1990, p.40).

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    Geralmente, os professores tinham formao em outras reas, pois segundo Maria de

    Lourdes na poca no havia faculdade especfica para educao . Ento, por exemplo, quem

    ministrava Portugus era uma pessoa j reconhecida, letrada e de boa formao.

    Os professores que lecionavam na Escola Normal geralmente eram de outros colgios,

    e quando recebiam indicao iam dar aula na Escola Normal.

    Ayd Camargo Csar relata:

    S consegui ser nomeada para o Joaquim Murtinho e infiltrar-me na turmadas professoras cuiabanas, porque era praticamente sobrinha do prefeito.Elas formavam um reduto privilegiado, protegido pela poltica do Norte(ROSA, 1990, p. 40-41)

    Segundo Lusa Vidal,

    Havia uma rivalidade grande entre os professores que vinham de Cuiab eos que eram daqui. Mesmo aps o processo da Diviso, continuam asdiferenas, pois os professores que se aposentaram por Mato Grosso do Sulesto ganhando mil e poucos cruzados, enquanto em Cuiab ganham vinte edois mil cruzados. [...] Tambm no havia da parte de Cuiab qualquerestmulo educacional. S me lembro de uma turma do Ministrio daAgricultura eu andou por aqui, dando aulas na Escola Miguel Couto sobretudo que se relacionava com a Agricultura, para orientar os professores, nocaso de eles serem transferidos para a zona rural. (ROSA, 1990, p. 58-59)

    Houve um concurso para professores, em 1956, sobre o qual Maria Constana deBarros Machado, ex-diretora da Escola Normal Joaquim Murtinho, relata:

    Sabendo que o PSD ia entrar no Governo de foice na mo, comeando pelosprofessores, que no tinham nenhuma segurana e seriam cortados de seusempregos, Dr. Fernando resolveu promover um concurso, para preencher ascadeiras existentes no Colgio Estadual e na Escola Normal JoaquimMurtinho. Os editais foram publicados a 25 de outubro de 1955, aps aderrota da UDN, trs meses antes da realizao do concurso. Os professoresaprovados e nomeados teriam o ttulo de catedrticos, isto no poderiamser demitidos e muito menos transferidos. Eram irremovveis, como se dizia.[...] Foi um acontecimento aquele concurso. Os professores nervosos,

    passando noites em claro, a estudar para garantir sua afirmao profissional.O candidato deveria submeter-se a uma prova escrita de contedo, apresentaruma tese datilografada sobre um assunto de sua disciplina, defend-laperante a banca examinadora e ainda dar uma aula sobre assunto sorteadocom vinte e quatro horas de antecedncia. (ROSA, 1990, p. 69-70)

    O que parecia ser a consolidao de uma poltica educacional no durou muito. Uma

    das primeiras providncias tomadas pelo Governador Joo Ponce de Arruda (PSD),

    empossado em 1 de fevereiro de 1956, foi a anulao do concurso. Segundo Maria

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    Constana15, nesse perodo ocorreram diversas represlias a professores que no estavam

    vinculados ao partido da situao. Ela prpria foi demitida. Os professores, entretanto, no se

    conformaram com a anulao do concurso e, com o apoio do advogado Lenine Pvoas,

    entraram com um mandado de segurana contra o governo. Perderam a causa em Cuiab

    (porque, segundo Maria Constana (ROSA, 1990, p. 70) o tribunal obedecia s ordens do

    Governo Estadual), mas ganharam a causa no Supremo Tribunal Federal, recuperando seus

    direitos.

    Toda essa manipulao poltica e a decorrente insegurana na carreira docente so

    traos de um processo contnuo (e atual) de desvalorizao desse profissional.

    Quanto desvalorizao salarial, Ayd Camargo Csar comenta:

    Nosso salrio era de cento e sessenta mil ris por ms. As professorasandavam bem vestidas: iam aula de sapato de salto, vestido de seda. DonaElisa usava roupas de opala, blusas de cambraia-de-linho finssimas. Anosdepois, vi professoras, dando aulas de chinelo de borracha, com o declnio denosso padro oramentrio. (ROSA, 1990, p. 40)

    No trabalho desenvolvido por Rosa (1990), o depoimento de uma professora

    aposentada do Grupo Escolar Joaquim Murtinho (Lusa Vidal) aponta para a inexistncia de

    incentivos financeiros, afirmando que havia professores que ficavam at seis meses sem

    receber o salrio, devendo o aluguel, o hospital, o armazm, alimentavam-se de esperanas

    (p.58).

    Para alm da questo salarial, h outros indcios do pouco investimento feito em

    Educao na poca (como confirma a professora Maria de Lourdes).

    No havia material didtico e, segundo a professora Cndida,

    Os cursos para professores eram muito raros, quase no tinha. Dependia doprprio professor que dava a matria e explicava. Ns tivemos vrios anos ocurso da CADES. Eram professores que vinham do Rio de Janeiro, Gois,So Paulo, e davam curso de um ms para os professores que estavam dando

    aula. O curso era como se fosse a aula da Escola Normal. Ento elesaplicavam a matria e mostravam como devia ser aplicada e no final docurso os professores faziam uma prova, um teste do tipo de aprendizado,depois eles levavam essas provas e, de volta, vinha o certificado como lhemostrei. (Entrevista realizada em 06/10/2011)

    A Campanha de Aperfeioamento e Difuso do Ensino Secundrio (CADES), criada

    em 1953, tinha como objetivo suprir as deficincias de professores sem formao, referentes

    15 Maria Constana de Barros Machado, natural de Cuiab, formou-se na Escola Normal Pedro Celestino. Foidiretora da Escola Normal Joaquim Murtinho no perodo de 1937 a 1945, de 1951 a 1956 e de 1961 a 1966.

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    parte pedaggica e s disciplinas que seriam ministradas por esses professores. Geralmente os

    cursos da CADES tinham durao de um ms e eram realizados em janeiro ou julho. Quem

    fazia esse curso recebia o registro de professor do ensino secundrio e tinha direito de dar

    aulas onde faltassem professores licenciados.

    Esse contexto de desvalorizao salarial da profisso docente, falta de investimento na

    educao, bem como a instabilidade da carreira por conta dos interesses polticos, entre

    outros, contribua para que a atuao do professor fosse dividida entre outras tantas

    atividades, diminuindo possibilidades de dedicao.

    A professora Cndida assinala para sua dificuldade em planejar as aulas, isso por conta

    de que seu dia era dividido entre regncia no curso primrio, regncia de Educao Fsica e

    trabalho administrativo. A professora Maria da Glria tambm faz referncia a um trabalhoadministrativo durante o dia, o que fez com que sua prtica de professora ocorresse somente

    noite e, por isso, com alunos j adultos. A professora Maria de Lourdes, em conversa anterior

    gravao da entrevista, fez referncia ao baixo salrio e, j em gravao, afirma ter

    procurado por um concurso pblico em outra rea.

    Envolta nesse contexto poltico, a Escola Normal Joaquim Murtinho foi instalada

    anexa ao Grupo Escolar Joaquim Murtinho e, inicialmente, funcionou em condies precrias:

    faltavam mveis (como carteiras) e os que existiam estavam em mau estado de conservao.No livro Memria da Cultura e da Educao em Mato Grosso do Sul, a normalista

    Ayd Camargo Csar relata: [...] Se a Escola Normal de Cuiab era modelo, a nossa deixava a

    desejar. Tanto o aprendizado quanto o material didtico eram extremamente deficientes.

    (ROSA, 1990, p. 40)

    As regras da escola eram rigorosas como possvel perceber no Regulamento da

    Instruo Pblica do Estado:

    1)- Os alunos devero comparecer Escola decentemente trajados, procedersempre com urbanidade e prestar ateno aos atos escolares e obediencia srecomendaes e conselhos do Diretor, dos Professores e dos funcionariosda Escola.2)- obrigatorio o uso de uniforme, no podendo nenhum aluno estar noedifcio da Escola, sem que esteja devidamente uniformizado.3)- defeso aos alunos trazer para o estabelecimento dinheiro ou objetos devalor, bem como usar joias, atavios ou qualquer arrebique que o distingua osoutros alunos.4)- So faltas disciplinares:a)- reunies e palestras nos corredores;b)- ler durante as aulas ou ocupar-se em qualquer outro trabalho estranho s

    mesmas;c)- ter consigo, alem dos livros e cadernos de aula, livros impressos,gravuras ou escrito de qualquer genero que seja improprio sua instruo.

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    d)- utilisar, dos livros, cadernos ou quaisquer objetos dos colegas, semconsentimento destes;e)- provocar, conscientemente, por palavras, gestos ou atitudes a hilaridadede seus colegas;f)- levar para as aulas objetos com que se possa distrair ou que possa distraira ateno de seus colegas.g)- erguer-se com ruido propositado e excessivo entrada ou saida deprofessor ou de qualquer pessa;h)- retirar-se do estabelecimento, sem permisso do Diretor;i)- bocejar e espreguiar-se ou dar outros sinais de enfado ou impaciencia,estando em aula;j)- danificar de qualquer modo as paredes e moveis do edificio;k)- deixar de observar as determinaes do Diretor relativas s ordensinternas do Estabelecimento;l)- ocupar-se, durante as aulas, de qualquer trabalho estranho s mesmas;m)- desacatar, moral ou fisicamente, ao Diretor, aos professores, aos

    inspetores e mesmo aos demais funcionarios da Escola. (LIVRO DEPORTARIAS, 1934, p. 1)

    Indcios mostram que os diretores cobravam disciplina dos alunos. Segundo Maria

    Constana, disponvel em Rosa (1990), ela sempre foi enrgica, chamando a ateno de

    alunos e professores quanto disciplina e progresso individual e da sala.

    As trs professoras entrevistadas neste trabalho comentam a boa relao entre

    professores e alunos. Segundo a professora Cndida,

    A relao entre professores e alunos era completamente diferente do que hoje. Era um respeito fora de srio, tanto dentro quanto fora da sala de aula.Chamvamos os professores de senhor, senhora. Da mesma forma elesdiziam: no senhora, a senhora no fez tal coisa. Antigamente o tratamentoera completamente diferente de hoje, no falvamos voc. (Entrevistarealizada em 21/07/2011)

    Segundo a professora Maria da Glria, a relao dos professores com os alunos era

    tima, sempre fui bem tratada. Nessa mesma direo, a professora Maria de Lourdes afirma

    que:

    E os professores eram timos e se doavam muito. A professora QuintinaBueno, por exemplo, era uma gacha e adorava lecionar. Tinha a filha dadona Constana tambm, a Maria Aparecida Bogalho, era uma professoramuito boa. Tinha o Lieberman, que era o professor de msica. IdelbrandoCampestrini tambm foi professor. O Siuffi tambm. Uma equipe muito boae muito unida. [...] A relao dos professores com os alunos era excelente.Os professores gostavam muito dos alunos e os alunos gostavam muito dosprofessores. Nunca, no meu tempo todo nunca houve discusso entreprofessor e aluno. [...] A minha atuao como diretora foi muito prazerosa.At hoje encontro diversos alunos que ainda me chamam de diretora.(Entrevista realizada em 01/11/2011)

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    So comuns os relatos acerca dessa boa relao entre alunos e entre professores e

    alunos, ou seja, o ndice considervel de evaso no estava muito ligado boa re lao e sim a

    outros fatores como dificuldades financeiras e casamento.

    No primeiro ano de funcionamento da Escola Normal foram matriculados vinte e um

    alunos, todos do sexo feminino com faixa etria variando de doze a vinte anos, o que mostra a

    diferena em relao primeira Escola Normal no pas, onde s podiam se matricular pessoas

    com at 18 anos.

    A primeira turma a se formar tinha onze alunos, sendo que desses apenas seis faziam

    parte da turma inicial, as outras cinco alunas ingressaram posteriormente, por motivo de

    transferncia ou outros. Desse modo, mais de 70% dos alunos desistiram no decorrer dos

    quatro anos. Dos doze alunos que iniciaram o curso em 1932, oito se matricularam no 2 anoe, destes, apenas seis no 3 ano, indicando uma desistncia de 50% at o 3 ano nessa segunda

    turma. Os dados encontrados no acervo da Escola Normal e que mostram o nmero de

    matrculas, datam do perodo de 1931 a 1934 pode-se perceber um elevado ndice de

    desistncia na Escola Normal. A situao mais crtica foi em 1933, quando foram feitas

    somente cinco matrculas no 1 ano. A literatura acerca das escolas normais no pas indica

    que, entre os motivos que poderiam levar desistncia do curso esto as dificuldades

    financeiras (pois muitas vinham do interior do estado) e o casamento.Segue no quadro abaixo o nmero de alunos matriculados at 1934 :

    1931 1932 1933 1934

    1 ano 21 12 5 17

    2 ano 14 12 4

    3 ano 8 12

    4 ano 11

    Quadro 1. Nmero de alunos matriculados16 (1931-1934)

    Na segunda fase, h indcios de que a situao em relao a matrculas e desistncias

    diferente da encontrada na dcada de trinta, entretanto, a matrcula de homens no curso

    16Informaes retiradas do Livro de Matrculas da Escola Normal Joaquim Murtinho, 1931 a 1935.

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    permanece a mesma, conforme a professora Cndida relata: [...] Na minha turma tinha de 30

    a 40 alunos, a maioria era mulher, tendo na turma dois ou trs homens. Desses acho que se

    formaram quase todos, era difcil aluno reprovar.

    Maria da Glria refora essa ideia: [...] Na minha turma tinha aproximadamente 20

    alunos, sendo que destes apenas um era homem.

    Em 1969, foram emitidos cinqenta e sete diplomas de habilitao para o magistrio

    primrio. Destes, todos foram emitidos para mulheres.

    Segundo Maria Constana, ao longo do tempo, muitas turmas de professores saram

    dos bancos daquela escola, a maioria mulheres, devido ao preconceito que sempre existiu no

    Brasil quanto profisso, considerada totalmente feminina. (ROSA, 1990, p. 64)

    A dinmica escolar, marcada por esse conflito entre ms condies de trabalho, a boarelao entre professores e alunos e o alto grau de evaso, envolve diversas aes

    apoiadas/fomentadas por diretrizes locais e/ou nacionais. Na dcada de trinta, o curso tinha

    durao de quatro anos e para ingressar na Escola Normal de Campo Grande era feito um

    exame de admisso. Quanto ao currculo, segundo Cavalcante (2006), a escola seguiu os

    modelos das escolas da capital federal e de So Paulo (p. 12). As disciplinas eram

    distribudas da seguinte forma:

    1 ano 2 ano 3 ano 4 ano

    Portugus Portugus Portugus Literatura

    Francs Francs Pedagogia Didtica e Histria da

    Educao

    Aritmtica e

    lgebra

    Matemtica Fsica e Qumica Fsica e Qumica

    Geografia Corografia Histria Natural Histria NaturalDesenho Psicologia Histria Universal Histria do Brasil

    Trabalho Desenho Higiene Higiene

    Ginstica Trabalho Desenho Msica

    Ginstica Msica e Trabalho

    Ginstica

    Quadro 2. Disciplinas da Escola Normal (1 fase)

    Na segunda fase, as disciplinas foram organizadas nos moldes da Lei Orgnica do

    Ensino Normal, como pode ser observado na tabela abaixo. As informaes as matrias

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    estudadas na Escola Normal Joaquim Murtinho so baseadas nos dados de avaliaes do ano

    de 1952, do Livro de Portaria 1952-1955.

    Curso normal regional

    1 srie 2 srie

    Lei Orgnica Curso Regional Lei Orgnica Curso Regional

    Portugus Portugus Portugus Portugus

    Matemtica Matemtica Matemtica Matemtica

    Geografia geral Geografia Geografia geral Geografia

    Desenho e caligrafia Desenho e caligrafia Desenho e caligrafia Desenho

    Cincias naturais Cincias Cincias naturais Cincias

    Canto orfenico Msica Canto orfenico Msica

    Trabalhos manuais e

    economia domstica

    Trabalhos manuais e

    atividade econmica

    da regio

    Trabalhos manuais e

    atividades

    econmicas da regio

    Trabalhos manuais e

    atividade econmica

    da regio

    Educao fsica Educao fsica

    Quadro 3. Disciplinas do Curso Regional (1 e 2 sries)

    3 srie 4 srie

    Lei Orgnica Curso Regional Lei Orgnica Curso Regional

    Portugus Portugus Portugus Portugus

    Matemtica Matemtica Desenho Desenho e Caligrafia

    Histria geral Histria Geral e do

    Brasil

    Noes de Higiene Puericultura

    Noes de anatomia

    e fisiologia humanas

    Anatomia Psicologia e

    pedagogia

    Psicologia

    Desenho Desenho e Caligrafia Didtica e prtica de

    ensino

    Metodologia

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    Canto orfenico Msica e Canto

    Orfenico

    Histria do Brasil Histria do Brasil

    Trabalhos manuais eatividades

    econmicas da regio

    Trabalhos manuais eatividade econmica

    da regio

    Canto orfenico Msica

    Educao fsica,

    recreao e jogos

    Educao fsica,

    recreao e jogos

    Quadro 4. Disciplinas do Curso Regional (3 e 4 sries)

    O curso de professores primrio, de acordo com a Lei Orgnica e como j foi citado

    anteriormente, tinha durao de trs anos, mas poderia ser realizado em dois anos. Na Escola

    Normal Joaquim Murtinho foi adotado o segundo, com menor durao, pois de acordo com o

    Decreto-Lei n 410, de 18/02/1948, o funcionamento da Escola Normal anexa ao Ginsio

    Campograndense e o curso oferecido em dois anos conciliava com os interesses financeiros

    do Estado.

    Escola Normal

    1 srie 2 srie

    Lei Orgnica Escola Normal Lei Orgnica Escola Normal

    Portugus Portugus Prtica de ensino Portugus

    Psicologia

    educacional

    Psicologia Psicologia

    educacional

    Psicologia

    Francs Francs Sociologiaeducacional

    Fundamentos de

    Sociologia

    Educacional

    Msica e canto Msica Msica e canto Msica

    Metodologia do

    ensino primrio

    Metodologia Metodologia do

    ensino primrio

    Metodologia

    Desenho e artes Desenho e Artes Desenho e artes Desenho e Artes

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    aplicadas Aplicadas aplicadas Aplicadas

    Biologia educacional

    (noes de anatomiae fisiologia humanas

    e higiene)

    Anatomia Puericultura e

    educao sanitria

    Puericultura

    Matemtica Matemtica Ingls

    Educao fsica Educao fsica Francs

    Quadro 5. Disciplinas do Curso Normal (1 e 2 sries)

    H, nos depoimentos constitudos, indcios de que as avaliaes na Escola Normal

    eram dos tipos oral e escrita.

    As aulas de metodologia compreendiam a explicao sistemtica dos programas de

    ensino primrio, os objetivos desses programas, articulao da matria, indicao dos

    processos e formas de ensino, e a reviso do contedo, quando necessrio. As prticas de

    ensino eram feitas em exerccios de observao e de participao real como docente,

    integrando conhecimentos tericos e tcnicos de todo o curso.

    Segundo relato da professora Cndida,

    A aula que menos gostava era a de Metodologia, porque tirava nota baixa, aprofessora cobrava muito dos alunos. [...] No curso Normal tnhamos aprofessora de Metodologia, noite estudvamos e no perodo matutinotnhamos que apresentar o nosso trabalho como professora, e alm disso, eladizia a professora tem que ser o espelho para o aluno. Ento era exigente,a pessoa tinha que trabalhar e cumprir com aquela obrigao. (Entrevistarealizada em 21/07/2011)

    No livro de Portarias (1952-1955) possvel mapear autores e livros utilizados nesta eem outras disciplinas do curso. Nesse perodo o autor mais referenciado no contexto de

    metodologia de ensino Theobaldo Miranda Santos, tanto como autor de manual pedaggico,

    quanto como autor da coleo Vamos Estudar17 escrita para o ensino primrio dos estados

    17 O contedo do livro disponibilizado pela professora Cndida para ser ensinado no ensino primrio e discutidona Escola Normal era:1 srie: noes de quantidade, tamanho e peso; nmeros; dezena e meia dezena; dzia e meia dzia; numeraoordinal; a soma; a subtrao; a multiplicao; a diviso; noo de dobro; diviso, noo de metade; nmeros

    pares e mpares; algarismos romanos; o relgio e as horas; dias da semana, calendrio; as moedas, o cruzeiro esuas atividades; a esfera, o cubo e o cilindro.2 srie: Nmeros de 1 a 1000; algarismos romanos; sries em ordem crescente e decrescente; nmeros pares empares; adio com reserva; subtrao com recurso ordem superior; noo de multiplicao; noo de dobro,

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    de Gois e Mato Grosso. Essa coleo era, segundo a professora Cndida, estudado nas aulas

    de Prtica de Ensino.

    Este autor tambm citado como referncia nas disciplinas de Psicologia, Pedagogia,

    Didtica e Prtica de Ensino. Na disciplina de Matemtica citado Algacyr Munhoz Maeder.

    A cpia de uma dessas portarias, disponibilizada abaixo, evidencia a constncia na

    utilizao das obras de Santos.

    triplo, qudruplo e quntuplo; multiplicao com multiplicador simples; multiplicao por 10, 100 e 1000; noode diviso; noo de frao; leitura de horas; conhecimento das moedas; esfera, ovide, cilindro, cubo e cone;superfcies planas e curvas; quadrado e retngulo; linhas curvas e retas, linha horizontal, vertical e inclinada.3 srie: Numerao, contagem de nmeros; numerao romana; adio e subtrao; nmeros divisveis por 2, 3,5, 9 e 10; multiplicao; diviso; fraes ordinrias; operaes sobre fraes ordinrias; fraes decimais;operaes sobre fraes decimais; metro, mltiplos e submltiplos; litro, mltiplos e submltiplos; grama,mltiplos e submltiplos; a moeda brasileira; medidas de tempo; prisma, paraleleppedo, pirmide e cone; linhas;ngulos; tringulos; quadrilteros; circunferncia.4 srie: Numerao, numerao falada, numerao escrita; numerao romana; multiplicao; diviso;

    divisibilidade nmeros primos; mnimo mltiplo comum; mximo divisor comum; fraes ordinrias; operaessobre fraes ordinrias; fraes decimais; converso de fraes ordinrias em fraes decimais, sistema mtricodcima; regra de trs; porcentagem; medida de ngulos; estudo da circunferrncia, crculo, raio, dimetro, arco eretificao da circunferncia.

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    5. ALGUMAS CONSIDERAES

    Este trabalho proporcionou uma primeira incurso na investigao cientfica e na rea

    da Educao Matemtica.

    Trata-se de um estudo que, mais do que se constituir como uma referncia aos

    trabalhos acerca da formao de professores no estado, se props a colocar essa autora frente

    a fundamentaes tericas na linha de Histria da Educao Matemtica, metodologia de

    pesquisa da Histria Oral e ao trabalho com acervos histricos. Desse modo, as articulaes

    que por hora divulgamos so registros do incio de um processo investigativo (disparado

    nesses oito meses) a ser desenvolvido nos prximos anos.

    Neste texto, buscamos evidenciar a influncia poltica no contexto de contratao eformao de professores, as condies de trabalho da primeira escola normal de Campo

    Grande, a procura e abandono do curso de normalistas e alguns indcios sobre sua dinmica

    escolar. Uma dinmica que traz poucas informaes sobre o ensino de matemtica, de modo

    especfico, evidenciando uma formao mais preocupada com a questo pedaggica em

    disciplinas como prtica de ensino e metodologia.

    Esse trabalho permitiu, ainda, a digitalizao de documentos em contnua

    deteriorizao e sua disponilizao Escola Estadual Joaquim Murtinho visa contribuir paracom o trabalho de outros pesquisadores.

    Essa uma ao fundamental para fomentar futuras pesquisas e garantir a

    possibilidade de aes como a que nos foi negada por conta da postura inadequada de

    pesquisadores que, antes de ns, passaram pela instituio.

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    6. REFERNCIASANGLO Sistema de Ensino. Histria: ensino mdio. So Paulo: Anglo, 2003.

    BARALDI, I. M.; GAERTNER, R.; Contribuio da CADES para a Educao (Matemtica)Secundria no Brasil: uma Descrio da Produo Bibliogrfica (1953-1971). BOLEMA. RioClaro, SP. v. 23, n. 35A, pp. 159-183, abril 2010.

    BLOCH, M. Apologia da Histria ou o Ofcio do Historiador. Traduo: Andr Traduo:Andr Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

    BRASIL. CMARA DOS DEPUTADOS. Lei Orgnica do Ensino Normal. Disponvel em:

    . Acesso em: 27 jul. 2011.

    BRASIL. PRESIDNCIA DA REPBLICA. Casa Civil. Constituio poltica do Imprio doBrasil. Disponvel em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htmAcesso em: 27

    jul. 2011.

    CAVALCANTE, L. G.; OLIVEIRA, R. T. C. Histria e poltica: o processo de implantaoda Escola Normal em Campo Grande. 2006. Disponvel emwww.neppi.org/gera_anexo.php?id=501. Acesso em: 05 mai. 2011.

    LIVRO de Atas dos Exames Trimestrais e Finais da Escola Normal e Curso Annexo, 1931-1935.Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    LIVRO de Atas dos Exames Trimestrais e Finais da Escola Normal e Curso Anexo, 1935-1937. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS

    LIVRO de Matrculas da Escola Normal de Campo Grande, 1931-1935. Acervo da EscolaEstadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    LIVRO de Portarias da Escola Normal, 1934-1944. Acervo da Escola Estadual JoaquimMurtinho. Campo Grande, MS.

    LIVRO de Registros de Nomeaes, Licenas e Portarias da Escola Normal e CursoComplementar, 1934-1938. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande,MS.

    LIVRO de Portarias da Escola Normal Joaquim Murtinho, 1952- 1955. Acervo da EscolaEstadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    LIVRO de Registro de Diplomas da Escola Normal Joaquim Murtinho, 1952-1968. Acervo

    da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    http://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8530-2-janeiro-1946-458443-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8530-2-janeiro-1946-458443-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htmhttp://www.neppi.org/gera_anexo.php?id=501http://www.neppi.org/gera_anexo.php?id=501http://www.neppi.org/gera_anexo.php?id=501http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htmhttp://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8530-2-janeiro-1946-458443-publicacaooriginal-1-pe.htmlhttp://www2.camara.gov.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-8530-2-janeiro-1946-458443-publicacaooriginal-1-pe.html
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    LIVRO Vida Escolar das Adjuntas Efetivas e Interinas da Escola Modlo JoaquimMurtinho. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    LIVRO de Registro das Correspondncias expedidas pela Escola Normal Joaquim

    Murtinho, 1954-1958. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    LIVRO de Registro dos funcionrios e professres da Escola Normal Joaquim Murtinho,1969. Acervo da Escola Estadual Joaquim Murtinho. Campo Grande, MS.

    FISCHER, B. D. A professora primria nos impressos pedaggicos (1950 1970). In:STEPHANOU, M.; BASTOS, M. H. C. (Orgs). Histria e memrias da educao noBrasil, vol. III. Petrpolis, RJ: Vozes, 2005. pp. 324-335.

    GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em CinciasSociais. Rio de Janeiro: Record, 2003.

    NASCIMENTO, M. I. M; O imprio e as primeiras tentativas de organizao daeducao nacional (1822-1889). Disponvel em:. Acesso em:14 nov. 2011.

    PERES, T. R.; Educao brasileira no Imprio. Disponvel em. Acesso em:17 dez. 2011.

    RODRGUEZ, M. V.; OLIVEIRA, R. T. C. A escola normal no sul do estado de MatoGrosso como expresso de uma poltica pblica (1930-1950). Disponvel em. Acesso em: 15 mai. 2011.

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    ROSA, M. G. S.; Memria da Cultura e da Educao em Mato Grosso do Sul. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1990.

    SAVIANI, D. Formao de professores: aspectos histricos e tericos do problema nocontexto brasileiro. Disponvel em .Acesso em: 18 jul. 2011.

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    http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_imperial_intro.htmlht