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“A educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta.” (cit. Émile Durkheim)

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“A educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta.”

(cit. Émile Durkheim)

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Índice

Introdução ......................................................................................................................... 3

O Homem um Ser Social .................................................................................................. 4

A Socialização .................................................................................................................. 5

Papéis Sociais ............................................................................................................... 6

A Identidade ................................................................................................................. 8

Mecanismos de Socialização ........................................................................................ 9

Agentes de Socialização ............................................................................................. 11

Etapas da Socialização................................................................................................ 12

A Construção Social do Feminino e Masculino ............................................................. 16

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Atividade de Grupo para a Apresentação

Objetivos: Iniciar a integração do grupo: conhecimento mútuo para desenvolver a

relação interpessoal.

Processo:

• Os membros dos grupos são divididos em subgrupos de dois, preferencialmente

com parceiros(as) desconhecidos(as).

• Durante cerca de 10 minutos os subgrupos entrevistam-se mutuamente.

• Regresso ao grupo inicial e cada membro fará a apresentação do colega

entrevistado.

• Cada membro deve permanecer atento e verificar se apresentação feita pela

colega é correta e se corresponde aos dados fornecidos (Fritzen, 1985).

Introdução

O percurso dos homens e mulheres, enquanto seres sociais é, desde as civilizações mais

arcaicas, até aos nossos dias, um processo de conquista da sua autonomia. A espécie

humana, desde a sua origem é uma aventura do conhecimento, pois a autonomia inter-

relaciona-se com o conhecimento e encontra-se indissoluvelmente associada à aventura

da nossa experiência.

Homens e mulheres procuram construir o real ou uma realidade social onde possam

existir com o mínimo de segurança. A diversidade dos seres agrupam-se e organizam-

se, num determinado espaço e num determinado tempo, de modo a criar um ambiente

seguro, lutando ao mesmo tempo, pela sua sobrevivência.

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A Psicossociologia é antes de tudo uma ciência conciliadora. O seu desenvolvimento

crescente e a sua emergência, advém da necessidade da construção de uma ponte, entre

sociologia e a psicologia, ao mesmo tempo que permite explicar e integrar a maior parte

dos comportamentos humanos (Maisonneuve, 1996).

No cruzamento da psicologia e da sociologia, a psicossociologia, herda uma parte dos

conceitos das duas áreas de conhecimento (por exemplo: classe, nos sociólogos,

identificação nos psicólogos). A heterogeneidade dos conceitos utilizados advém, em

grande parte, da sua dupla origem (Maisonneuve, 1996).

Kurt Lewin, nascido na Alemanha, em 1890, tentou formular uma teoria científica que

abarcasse diversas orientações teóricas, quer psicológicas, quer sociológicas. Nas suas

conceções transforma o campo científico reducionista até então existente, passando a

abranger, não só o sujeito, mas também todo o seu meio ambiente

As experiências de Lewin mostraram, que qualquer acontecimento é resultante não só

da história individual do sujeito, mas também do meio onde interage, num determinado

momento de vida.

Assim, a ideia de que os pensamentos dos indivíduos devem ser entendidos num

contexto social e através de um quadro social de referência, é o que tem mostrado a

teoria das representações sociais, modelo de conhecimento, determinante na construção

de uma realidade comum a um conjunto social (Jodelet, 1989, cit. por Vala, 1996).

Para Moscovici (1984), o objeto de representação deve ser considerado como um objeto

construído a partir de materiais retirados do mundo real, ou seja, as representações

podem ser entendidas como um reflexo de uma realidade externa. Não são uma

reprodução mas uma construção.

O Homem um Ser Social

O Homem é um ser eminentemente social que procurou sempre a vida em grupo. É a

vida em grupo que constitui o fundamento da evolução da espécie. Desde do

nascimento até à morte, o ser humano vive integrado em grupos. Quando nasce, faz

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parte de um grupo familiar que é fundamental na primeira fase da sua socialização

(Psicossociologia, 2003).

Outros grupos sociais vão sucedendo e são responsáveis pelas diferentes aprendizagens

inerentes à vida coletiva: a escola o grupo profissional, religioso, político...É nos grupos

que o indivíduo modela o seu comportamento em função dos valores, normas e regras

vigentes. É no grupo que desempenhará os diferentes papéis sociais e é aí que o seu

estatuto é reconhecido (Psicossociologia, 2003).

A Socialização

A socialização é um processo em que o

indivíduo aprende a ser membro de um

grupo social específico e de uma

sociedade em geral. Inicia-se com o

nascimento e prolonga-se pela vida fora.

No seu processo de socialização o

indivíduo interioriza normas, valores e

crenças do seu meio, integrando-os na estrutura da sua personalidade.

A socialização não é um tipo de formatação cultural, através da qual a criança absorve

passivamente as influências que recebe. Em maior ou menor grau, as crianças aliam a

todos os modelos e padrões socioculturais a que integram, uma componente muito

própria, uma contribuição muito particular. O indivíduo é, desde o princípio da sua

existência, um ser ativo e dinâmico. Desde crianças até à idade adulta, passamos por

diferentes fases a que correspondem diferentes padrões de comportamento, diferentes

maneiras de sentir, pensar e agir.

Assim, podemos distinguir dois tipos de socialização:

� Primária

� Secundária

Desta forma, chamamos socialização primária à que ocorre na primeira infância,

período durante o qual o bebé está mais apto a aprender desde hábitos de higiene, às

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regras da linguagem. Muito importante em termos de aprendizagem das regras e na

criação do processo de habituação á necessidade de cumprir regras e leis comunitárias.

A socialização secundária

social específico. Por exemplo a mudança de estado civil (casamento, divórcio), de

estatuto profissional (promoção, despromoção, adaptação a novas tecnologias),

deslocações geográficas (mudanças de residência, mudanças dentro e fora do país)

exigem que o indivíduo se adapte a nova

Papéis Sociais

Este processo de socialização mais não

é do que a aprendizagem e

interiorização de novos papéis de

novas formas de estar. O assumir desse

novos papéis é assinalado por

acontecimentos e comportamentos que

poderemos designar por ritos de

passagem. (Psicossociologia, 2003).

momentos da sua vida em que se

“ Há alguns anos fui com os meus

restaurantes em que a ementa vem escrita a giz numa lousa. Depois de um

o empregado de mesa trouxe a conta e colocou

um fenómeno: o meu pai não fez mençã

me dei conta que era eu que tinha de pagar.

restaurantes com os meus pais, após uma vida inteira a pensar nele como o homem que

pagava as contas, tudo mudara. Eu era um adul

Muitas pessoas assinalam a vida pelos anos: eu meço a minha por pequenos

acontecimentos – ritos de passagem. Apercebei

determinada idade um miúdo entrou no armazém onde eu trabalhava e me tratou por

“Senhor”. Repetiu-o várias vezes, olhando

Muito importante em termos de aprendizagem das regras e na

criação do processo de habituação á necessidade de cumprir regras e leis comunitárias.

socialização secundária, por seu lado, é um processo de integração num mundo

emplo a mudança de estado civil (casamento, divórcio), de

estatuto profissional (promoção, despromoção, adaptação a novas tecnologias),

deslocações geográficas (mudanças de residência, mudanças dentro e fora do país)

exigem que o indivíduo se adapte a novas situações, em suma, que se socialize.

Este processo de socialização mais não

é do que a aprendizagem e

interiorização de novos papéis de

novas formas de estar. O assumir desse

novos papéis é assinalado por

acontecimentos e comportamentos que

poderemos designar por ritos de

passagem. (Psicossociologia, 2003). No seguinte texto, o autor descreve alguns

momentos da sua vida em que se perceciona a adoção de novos papéis. Vejamos:

Há alguns anos fui com os meus pais, a minha mulher e o meu filho a um daqueles

restaurantes em que a ementa vem escrita a giz numa lousa. Depois de um

o empregado de mesa trouxe a conta e colocou-a à nossa frente. Foi então que se deu

um fenómeno: o meu pai não fez menção de pagá-la. A conversa continuou e só por fim

me dei conta que era eu que tinha de pagar. Depois de centenas de refeições em

restaurantes com os meus pais, após uma vida inteira a pensar nele como o homem que

pagava as contas, tudo mudara. Eu era um adulto.

Muitas pessoas assinalam a vida pelos anos: eu meço a minha por pequenos

ritos de passagem. Apercebei-me que deixei de ser jovem quando com

determinada idade um miúdo entrou no armazém onde eu trabalhava e me tratou por

várias vezes, olhando-me bem no rosto. Foi como uma bofetada:

Muito importante em termos de aprendizagem das regras e na

criação do processo de habituação á necessidade de cumprir regras e leis comunitárias.

, por seu lado, é um processo de integração num mundo

emplo a mudança de estado civil (casamento, divórcio), de

estatuto profissional (promoção, despromoção, adaptação a novas tecnologias),

deslocações geográficas (mudanças de residência, mudanças dentro e fora do país)

s situações, em suma, que se socialize.

No seguinte texto, o autor descreve alguns

de novos papéis. Vejamos:

pais, a minha mulher e o meu filho a um daqueles

restaurantes em que a ementa vem escrita a giz numa lousa. Depois de um ótimo jantar,

a à nossa frente. Foi então que se deu

A conversa continuou e só por fim

Depois de centenas de refeições em

restaurantes com os meus pais, após uma vida inteira a pensar nele como o homem que

Muitas pessoas assinalam a vida pelos anos: eu meço a minha por pequenos

me que deixei de ser jovem quando com

determinada idade um miúdo entrou no armazém onde eu trabalhava e me tratou por

me bem no rosto. Foi como uma bofetada:

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de repente eu passava a ser um senhor! E houve mais ritos. Os polícias da minha

meninice sempre me pareceram enormes e, claro, mais velhos do que eu. E um dia,

subitamente, já não eram uma coisa nem outra... De facto, alguns até eram umas

crianças. Chegou também um dia em que me apercebi que todos os jogadores de

futebol da partida que estava a assistir eram mais novos do que eu. Eram só uns

rapazolas. Nesse dia, lá se foi o sonho de um dia, quem sabe, também eu vir a ser

jogador de futebol.

Nunca pensei vir a adormecer em frente da televisão, como o meu pai. Agora é a minha

especialidade. Nunca pensei ir à praia e não tomar banho. E o certo é que passei

Agosto inteiro na praia e não pus os pés na água. Nunca pensei vir a apreciar ópera, e

agora o phatos e a combinação da voz com a orquestra fascinam-me. Nunca pensei

preferir ficar em casa à noite e dou comigo a recusar ir a festas. Costumava considerar

as pessoas que observam os pássaros meios esquisitos, mas este Verão fiz exatamente o

mesmo, e sou capaz de comprar um livro sobre o assunto. Anseio por uma convicção

religiosa, coisa que nunca pensei que quereria; recordo pessoas de família que já

morreram há muito tempo e falo com o meu pai nas discussões com o meu filho.”

(Richard Coehen, Seleções do Reader’ Digest, cit. por Psicossociologia, 2003).

É pois através da socialização, que os indivíduos aprendem os seus papéis sociais, que

são as expectativas socialmente definidas seguidas pelas pessoas de uma determinada

posição social (Giddens, 2004). O papel social de “um profissional de polícia”, por

exemplo, envolve um conjunto de comportamentos que devem seguidos por todos os

profissionais, independentemente das suas opiniões ou formas de ver as coisas. No

entanto, Giddens (2004) acrescenta que os indivíduos não se limitam a desempenhar os

seus papéis, mas assumem-nos e concebem-nos, no decurso de um processo de

interação social.

Ao longo do desenvolvimento psicossocial o ser humano é um sistema aberto, que está

em constante interação dinâmica com o meio ambiente. Atualmente considera-se errada

a oposição estanque entre o biológico e o social pois a dinâmica entre o organismo e o

meio é uma realidade. Erikson defende que o crescimento psicológico ocorre através de

estádios e fases, não ocorrendo ao acaso, dependendo da interação da pessoa com o

meio que a rodeia.

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Até ao momento de cogitar em ser-se um agente de autoridade, passamos por várias

fases e estádios onde se foi formando uma personalidade que nos distingue dos demais.

Durante o nosso desenvolvimento aprendemos com os exemplos emanados dos

contactos com a família, a escola, os grupos de pares, entre outros agentes de

socialização que se tornam responsáveis pelo desenvolvimento cognitivo, físico e sócio

emocional. Construímos uma personalidade com base em aprendizagens de valores de

comportamentos específicos, atitudes e racionalizações que são favoráveis a uma

normal atividade social. São essas construções que fizemos durante o nosso

desenvolvimento que no momento em que abraçamos a atividade policial podem

conduzir à colisão do que é certo ou errado. Podemos pensar de uma forma sobre

determinadas conjunturas, contudo devemos agir de acordo com o que está previsto na

lei e na constituição.

A Identidade

A identidade está relacionada com o entendimento que os indivíduos têm acerca de

quem são e do que é importante para eles. “O herói que a sociedade não reconhece” é a

auto imagem que o policia muitas das vezes detem de si próprio.

No decurso da socialização, cada um de nós, desenvolve um sentido de identidade e

capacidade para pensar e agir de forma independente. Desta forma, o facto de estarmos

em interação com outros, condiciona de certa forma a nossa personalidade,

comportamentos e valores, mas tal não significa que seja negada a individualidade. Esta

identidade forma-se em função de certos atributos, como o sexo, a orientação sexual, a

nacionalidade ou etnicidade (Giddens, 2004).

Existem dois tipos de identidade: a identidade social e a identidade pessoal. Por

identidade social, entende-se as características que os outros nos atribuem, sendo vistas

como marcadores que indicam, de um modo geral, quem é determinada pessoa. A

identidade pessoal distingue-nos como indivíduos. Este tipo de identidade diz respeito

ao desenvolvimento pessoal através do qual formulamos uma noção interna de nós

próprios e do relacionamento com o mundo à nossa volta (Giddens, 2004).

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A forma como as pessoas se vestem, andam, se expressam, a sua origem, classe social,

religião, orientação sexual, são de igual forma, elementos observados pela comunidade

em geral, quer pelos polícias. Essas características observadas, conduzem a juízos

sociais, formando por vezes uma identidade errónea de determinado individuo. Por

vezes, mais difícil se torna quando o agente policial detentor de uma identidade e

cultura própria, na sua atividade quotidiana interage com uma diversidade de culturas

onde os seus constituintes, detêm um conjunto de características estereotipadas e de

atribuições situacionais que o impele para determinados juízos sociais e morais.

“ No mundo atual, temos a oportunidade sem precedentes para decidir a nossa vida e

criar a nossa própria identidade. Somos o melhor recurso na definição de quem somos,

de onde vimos e para onde vamos. Agora que os sinais tradicionais se tornaram menos

determinantes, o mundo social confronta-nos com um estonteante leque de escolhas

acerca de quem devemos ser, como viver e o que fazer –sem oferecer grandes

orientações acerca das seleções a fazer. As decisões que tomamos no quotidiano –

acerca do vestir, como agir ou como ocupar o tempo – ajudam-nos a tornar-nos quem

somos. (...)” (Giddens, 2004).

Mecanismos de Socialização

Se nos detivermos a analisar o que acontece no dia-a-dia, verificamos que a nossa

existência se processa por atividades que visam essencialmente relacionar-nos com o

meio ambiente. Com efeito desde a alimentação, ao arranjo pessoal até aos trabalhos

escolares e profissionais, passando pela utilização de transportes e pela ocupação dos

tempos livres, é exigido ao indivíduo toda uma atividade, na qual se incluem atos

motores, expressões fisionómicas, atos verbais, pensamentos, atitudes, decisões e

outros.

Neste momento, sabemos já que estes atos, na sua quase totalidade, não nascem com o

ser humano, mas são adquiridos ao longo da sua vida. Contudo, as condutas humanas,

desde as mais simples até às mais elaboradas, são possíveis porque o homem dispõe de

mecanismos fisiológicos e psicológicos que lhe permitem adquirir e conservar modos de

responder adequadamente e eficazmente ao que o rodeia.

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Uma vez adquiridos e conservados, o

indivíduo dispõe deles, evocando-os ao

longo do tempo e nas mais variadas

situações. Dois dos principais mecanismos

de socialização são a identificação e a

aprendizagem. É através do processo de

identificação que a criança se identifica

com pessoas que desempenham diferentes

papéis, interioriza progressivamente as atitudes, as normas e os princípios que os

definem. O pai e a mãe surgem como primeiros e principais modelos na determinação

dos comportamentos específicos da criança (Psicossociologia, 2003).

No entanto, outros modelos sociais constituem meios com os quais a criança se

identifica: O(a) Professor(a), um familiar, um herói de cinema ou da televisão. Por

aprendizagem entende-se uma construção intrapessoal, resultante de um processo

experiencial. Ao dizer que a aprendizagem é um processo, pretende exprimir-se que a

ação de aprender não é fugaz nem momentânea, mas realiza-se num tempo que se

considera indeterminado, na medida em que o ser o humano se encontra

permanentemente em aprendizagem e porque a aquisição do conhecimento requer um

período de assimilação.

“Aprende-se até morrer”. O ser humano encontra-se permanentemente em

aprendizagem. Contudo, a aprendizagem não é instantânea, é necessário tempo para que

o conhecimento seja assimilado e se torne conhecimento adquirido.

A aprendizagem é um processo pelo qual o comportamento do indivíduo muda em

função da experiência. A aprendizagem depende da maturação e do crescimento do

próprio indivíduo que lhe permite adaptar-se ao meio. Hoje, relacionamo-nos de uma

forma diferente com os objetos, do que a relação que tínhamos há uns anos atrás.

Todos nós conhecemos bem determinadas frases, pois ouvimo-las repetir vezes sem

conta “Não se fala coma boca cheia” “Não deites lixo para o chão” “Lava as mãos antes

de vires para a mesa” “Cumprimenta o Senhor(a) ”. Muitas vezes, o agente socializador

manifesta a sua aprovação ou desaprovação, atribuindo recompensas ou castigos, como

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forma de reforçar o processo de aprendizagem. Este processo visa, apenas, condicionar

o comportamento às normas de determinada cultura (Psicossociologia, 2003).

Sintetizando, a aprendizagem, consiste na aquisição de hábitos, atitudes e

comportamentos que guiam a conduta do sujeito. Esta aprendizagem realiza-se através

da imitação, da repetição, de tentativas e erros, da aplicação de recompensas e castigos.

Agentes de Socialização

Podemos considerar a família, a escola e os meios de comunicação social como os

principais agentes de socialização. A família tem um papel determinante nos primeiros

anos de vida da criança. Os valores e os conhecimentos adquiridos no núcleo familiar

tornam o indivíduo capaz de atuar em diferentes situações que irá encontrar no seu

percurso de vida.

A escola comunica os ideais de uma sociedade, noções éticas básicas, normas sociais,

bem como conhecimentos de carácter técnico e científico, que permitirão ao indivíduo

vir a ocupar um lugar especializado na divisão social do trabalho. O período de

escolarização é cada vez maior, assumindo o sistema educativo uma importância

decisiva na formação dos jovens.

Os diversos grupos sociais a que vamos pertencendo ao longo da vida desempenham

também uma importância fundamental no processo de socialização. Os meios de

comunicação – a rádio, o cinema, a televisão, o computador – tornaram-se nos nossos

dias, agentes de socialização, quer de crianças, quer de jovens, quer de adultos. A partir

da leitura do texto que se segue, reflita em conjunto sobre a importância dos diversos

agentes de socialização.

“Na maioria dos países ocidentais, as crianças passam muito tempo diante do

aparelho de televisão, que geralmente fica na sala de estar ou no seu próprio quarto de

dormir. (..) e sabe-se que as crianças dedicam mais tempo a ver televisão do que a ir à

escola ou a conversar com os pais.

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É evidente que não se pode ignorar um meio de comunicação capaz de despertar

tamanho interesse e de ser utilizado durante tanto tempo. Temos de admitir que a

televisão desempenha um papel de grande importância no desenvolvimento e

socialização da criança – papel equiparável ao da família, da escola ou da igreja. (..)

As crianças são quase forçadas a sofrer a influência dos valores subjacentes a quase

tudo o que a televisão transmite. Na maioria dos países ocidentais, a televisão tem uma

mensagem clara e poderosa – principalmente quando se associa à publicidade para

promover a “obsolescência acelerada de produtos”, a “insatisfação criativa” ou a

“exibição ostentadora do consumo”.

(O Correio da UNESCO, cit. por Psicossociologia, 2003)

Atividade de Grupo

Discuta, em grupo o papel da família como agente socializador

Discuta em grupo, o papel de outros agentes socializadores

Procure textos onde reconheça e identifique diferentes agentes de socialização

O desenvolvimento, é um conjunto de modificações comportamentais e estruturais

sistematicamente relacionadas com a idade, que se caracterizam por sucessivas

alterações qualitativas, por fenómenos de reorganização, por constituição de estádios,

fases ou períodos, de tal modo, que cada um é condição necessária para a emergência do

seguinte.

Etapas da Socialização

A socialização é entendida como uma

série de processos abertos em todas as

idades, por meio dos quais os

indivíduos formam “tensões ativas”

com o ambiente que os rodeia. As

etapas de socialização começam com o

nascimento do individuo e finalizam com a sua morte. Existe todo um percurso de vida

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com passagens pela infância, adolescência, adultícia e velhice com características que

lhes são próprias. Como agente de polícia, integrante do processo de socialização é

fundamental conhecer as características que estão inerentes a cada etapa de socialização

para melhor entender e atuar perante a comunidade.

Na fase em que se é criança ou adolescente a família é um dos principais agentes de

socialização, como tal, poderá ser igualmente um fator de risco no desenvolvimento de

condutas desviantes. Muitas das manifestações comportamentais delinquentes revelam

uma profunda perturbação da identidade e disfunções dos laços familiares a nível

psicoafectivo e económico-social, o que dificulta todo o processo de aprendizagem das

regras comunitárias. Uma estrutura familiar desequilibrada e disfuncional, associada a

climas de pobreza, desemprego, exclusão social, violência familiar e maus tratos,

potenciam o comportamento delinquente dos jovens. A adesão por parte destes menores

a grupos delinquentes e o início destes comportamentos são fortemente influenciados

por estes fatores familiares, que geram, inevitavelmente, um défice nas competências

individuais de socialização de cada jovem. Não se pretende que o agente policial ao

compreender os fatores potenciadores deste tipo de comportamento delinquente,

desculpabilize os jovens que não tenham tido um modelo familiar favorável à

aprendizagem de regras comunitárias, mas sim, atuar junto destas comunidades e

sinalizar conjunturas que se reveem de situações de risco para o salutar crescimento dos

jovens em sociedade.

De referir que a polícia por si só não chega para resolver os problemas da criminalidade,

das incivilidades pois estas decorrem de situações multicausais, pelo que a sua

compreensão requer uma análise interdisciplinar e participativa da sociedade civil para

identificar as responsabilidades específicas e as atuações possíveis nas principais causas

e contextos facilitadores da violência, criminalidade e incivilidades, como são a titulo de

exemplo entre muitos outros, o caos urbano, a exclusão económica, a educação e

cultura, o funcionamento do sistema judicial, o cepticismo nas instituições,

comunicação social e violência, saúde mental, violência doméstica e facilitadores da

violência (álcool, drogas e armas).

A violência, o crime as incivilidades não abarcam somente a fase da adolescência

embora poderá ser nesta fase que exista um pico crescente de determinados

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comportamentos antissociais. A adultícia e a velhice atualmente também, abrangem um

conjunto de problemáticas como é o exemplo dos maus tratos em geral, a violência

doméstica, o femicídio, aos quais urge dar respostas. Pelo que, para prevenir é

necessário conhecer os contextos psicossociais, económicos e culturais, quer de vítimas

e agressores, para tentar responder de forma mais eficaz e eficiente a este tipo de

situações, surgidas no seio da sociedade e da interação entre os seus atores.

Atividade de Grupo

Leia e discuta em grupo o texto que se segue

“Tudo o que vemos e vivemos torna-se cada vez mais complexo. Já não se fala em

cultura, mas de subculturas, de fragmentos culturais. O lugar e a tarefa do indivíduo

(foi) libertado das tradicionais relações de classe e de família e dos tradicionais papéis

específicos para cada sexo e cada idade. Desta maneira abre-se para o indivíduo um

maior número de escolhas possível nas mais variadas áreas da vida. Por exemplo deixa

de existir uma norma que faz prever onde irá viver, se constituirá família e de que

maneira a organizará, que crença ou posições assumirá em momentos chaves da sua

vida, quanto tempo ficará com o seu parceiro(a) de vida, como educará os seus filhos,

que línguas falarão, de que meios tecnológicos irão dispor.

(…)

Há alguns anos atrás a resposta a estas perguntas era ainda óbvia para a grande

maioria das pessoas. Os conhecidos padrões de comportamento diluem-se.

Paralelamente cresce o número de possibilidades para o indivíduo desenvolver o que

melhor se adeque com as suas conceções, os seus desejos e as suas aspirações

particulares. Desta maneira a vida torna-se cada vez mais uma acumulação de

escolhas individuais. Uma carreira escolar ou profissional, por exemplo, torna-se cada

vez mais uma sucessão cada vez mais rápida dum cada vez maior número de momentos

em que se deve escolher. As possibilidades de escolha também aumentam imensamente

e já não se limitam à cidade ou à região onde a pessoa mora. Já nem se pode prever o

desenvolvimento de uma carreira profissional. Certas capacidades ou certos diplomas

dão acesso a sectores muito diferenciados e há cada vez mais mudanças que intervêm

na carreira profissional. Há pouca gente que fique ligada à mesma empresa ao longo

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de toda a sua vida. Na área do trabalho, a responsabilidade do desenvolvimento torna-

se cada vez mais uma tarefa individual.

(...)

Além disso, as áreas vitais importantes, tais como morar, trabalhar a família e os

amigos, o lazer coincidem cada vez menos. Estas áreas espalham-se, o que aumenta a

dificuldade para o indivíduo encontrar soluções de compromisso. Muitas vezes já não

se mora na zona onde se trabalha, os colegas de trabalho não são os amigos, e às vezes

mora-se longe da família. Nem os tempos livres nem as férias se passam em casa. As

distâncias alargadas são parcialmente compensadas por todo o tipo de sistemas de

comunicação e meios de transporte que, por sua vez, provocam poluição do meio

ambiente cada vez maior e um ritmo de vida cada vez mais acelerado.

(...)

Além disso presenciamos o declínio da clássica família nuclear. Somos confrontados

com famílias mono parentais. Também aumenta o número de adultos que vivem sós,

sobretudo nas grandes cidades. Além disso há um número crescente de formas de

coabitação que se alteram no decorrer do tempo. Há, por exemplo, combinações de

famílias desintegradas, a coabitação de pessoas divorciadas que têm filhos de relações

anteriores, relações entre pessoas que não vivem juntas. Estas alterações deram-se

praticamente em todos os países industrializados, na segunda metade dos anos

sessenta. Há um crescimento do número de pais que educam os filhos sozinhos e é cada

vez mais frequente que os filhos não vivam com os pais naturais.

(...)

O acréscimo de liberdade individual implica ao mesmo tempo um encargo grande para

a vida em comunidade.”

(...)

“A fragmentação tem como consequência que a população se torne cada vez mais

inapta em conceber e em realizar objetivos comuns. A fragmentação surge quando as

pessoas se consideram átomos sociais ou quando manifestam pouca inclinação para se

ligarem a outras pessoas no âmbito de projetos comuns. Esta falta de interligação pode

levar a uma forma de autossatisfação que faz com que as questões comunitárias de

natureza económica, ecológica, religiosa, política ou histórica, fiquem cada vez mais

fora do campo de visão do indivíduo. Desconfiança, animosidade e indiferença

penetram cada vez mais nas relações humanas entre os grupos e entre os indivíduos,

nomeadamente nas áreas urbanas onde a desintegração social se expande. A

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experiência de interligação social no seio da família, do bairro ou da região, ou

baseada na comunidade espiritual, é um dado cada vez mais desconhecido para um

maior número de pessoas. A ameaça da diminuição do conforto material e das certezas

traz à superfície a guerra de todos contra todos.”

(...)

“A interligação num sentido lato, é a experiência dum laço implícito e universal entre

todos os seres vivos. A interligação não significa só a sensação de fazer parte dum meio

social interiorizando por is

sentir unido com a totalidade natural, com a vida na sua totalidade

Interligação).

A Construção Social do Feminino e Masculino

O ato de conhecer começa pelo

dualismo, assenta na distinção e segue

em direção à classificação

Desde muito cedo que qualquer criança

aprende a classificar indivíduos em dois

grupos, um igual a ela, outro diferente

(Badinter, 1996). As características

físicas permanentes, como o sexo (ao contrário da idade e da classe social), constitui um

identificador que os indivíduos transportam consigo ao longo de toda a vida e em

qualquer tipo de contexto (Amâ

Este conhecimento comum e adquirido pode ser verificado num estudo

Hurting & Pivhevin (1990, cit. por Amâncio, 1993), a estudantes universitários da

Universidade de Aix em Provence

fotografias de adultos a um colega, tendo sido utilizados os critérios, sexo, idade e

expressão facial. Embora houvesse igual número de fotografias de homens (12) e de

mulheres (12), o sexo foi a categoria mais utilizada para descrever as fotografias e ainda

mais para descrever mulheres que homens.

experiência de interligação social no seio da família, do bairro ou da região, ou

baseada na comunidade espiritual, é um dado cada vez mais desconhecido para um

maior número de pessoas. A ameaça da diminuição do conforto material e das certezas

superfície a guerra de todos contra todos.”

“A interligação num sentido lato, é a experiência dum laço implícito e universal entre

todos os seres vivos. A interligação não significa só a sensação de fazer parte dum meio

social interiorizando por isso as suas normas, mas antes uma atitude de base de se

sentir unido com a totalidade natural, com a vida na sua totalidade” (Projeto

A Construção Social do Feminino e Masculino

de conhecer começa pelo

dualismo, assenta na distinção e segue

ualquer criança

aprende a classificar indivíduos em dois

, outro diferente

As características

físicas permanentes, como o sexo (ao contrário da idade e da classe social), constitui um

identificador que os indivíduos transportam consigo ao longo de toda a vida e em

qualquer tipo de contexto (Amâncio, 1993).

Este conhecimento comum e adquirido pode ser verificado num estudo

Hurting & Pivhevin (1990, cit. por Amâncio, 1993), a estudantes universitários da

Universidade de Aix em Provence – França onde foi pedido que descrevessem

afias de adultos a um colega, tendo sido utilizados os critérios, sexo, idade e

expressão facial. Embora houvesse igual número de fotografias de homens (12) e de

mulheres (12), o sexo foi a categoria mais utilizada para descrever as fotografias e ainda

s para descrever mulheres que homens.

experiência de interligação social no seio da família, do bairro ou da região, ou

baseada na comunidade espiritual, é um dado cada vez mais desconhecido para um

maior número de pessoas. A ameaça da diminuição do conforto material e das certezas

“A interligação num sentido lato, é a experiência dum laço implícito e universal entre

todos os seres vivos. A interligação não significa só a sensação de fazer parte dum meio

so as suas normas, mas antes uma atitude de base de se

Projeto DAFNE –

físicas permanentes, como o sexo (ao contrário da idade e da classe social), constitui um

identificador que os indivíduos transportam consigo ao longo de toda a vida e em

Este conhecimento comum e adquirido pode ser verificado num estudo efetuado por

Hurting & Pivhevin (1990, cit. por Amâncio, 1993), a estudantes universitários da

França onde foi pedido que descrevessem

afias de adultos a um colega, tendo sido utilizados os critérios, sexo, idade e

expressão facial. Embora houvesse igual número de fotografias de homens (12) e de

mulheres (12), o sexo foi a categoria mais utilizada para descrever as fotografias e ainda

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Há medida que a criança começa a olhar para si própria como rapaz ou rapariga, e

adquire capacidade para se classificar, como tal, principia a valorizar os aspetos

apropriados ao seu sexo. Esta valorização é reproduzida como já vimos, pelos principais

agentes de socialização. Este processo reproduz os conteúdos associados ao sexo do

indivíduo, criados pelo próprio sistema social, permitindo desta forma perceber, porque

é que as pessoas interiorizam as atitudes, comportamentos e características do seu

género (Greendorfer, 1992).

Os agentes de socialização comportam-se em relação à criança de acordo com as suas

expectativas, encorajando-a a empenhar-se no comportamento tradicional atribuído

normalmente ao seu género (Greendorfer, 1992).

Num primeiro momento as crianças sabem se são masculinas ou femininas. Quando

estas características ganham consistência as crianças incorporam convicções sobre o que

é ser masculino ou feminino. Com estas convicções e a avaliação dos outros, são

moldadas pelo sistema, o que vai determinar que as escolhas das atividades, das

ocupações e das funções sociais, são influenciadas pelo sexo do indivíduo.

Vejamos o seguinte texto:

“A quem pertence fazer convites para jantar? Num casal, sobre quem recai,

normalmente a maior responsabilidade pelo cuidar dos filhos? Quem se ocupa da

cozinha e do trabalho doméstico? Quem mais provavelmente deixa de trabalhar quando

casa e, sobretudo, quando tem filhos? Quem toma, por via de regra, a iniciativa às

propostas sexuais? Quem gasta mais tempo a cuidar do seu aspeto? Quem são as

pessoas que as outros avaliam pelo menos tanto, senão mais, pelos seus ‘atrativos

pessoais’ quanto pelo trabalho que fazem ou por outras qualidades? Quase ninguém

terá dificuldade em responder a estas perguntas e a maioria, ao dar a resposta que

considera certa, estará ao mesmo tempo a descrever o seu próprio comportamento.

Ora, por que motivo são diferentes as formas de comportamento que a generalidade

das pessoas espera dos homens e das mulheres na sociedade atual? O facto de

existirem reais diferenças fisiológicas e biológicas entre homens e mulheres leva a que

frequentemente se suponha que a fisiologia e a biologia são diretamente responsáveis

por essas diferentes formas de comportamento. Argumenta-se, geralmente, que os

comportamentos usualmente adotados pelos homens e pelas mulheres não são de

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origem social, mas natural e assim se torna fácil apelidar, de algum modo, antinaturais

as pessoas que, não se comportam de acordo com as maneiras que delas se esperam em

função do sexo.” (Coulson, A .& Riddel - Approching Sociology. A Critical

Introduction, cit. por Psicossociologia, 2003)

Foi há cerca de meio século que a antropóloga americana Margaret Mead, que

permaneceu na Nova Guiné, entre 1925 e 1933, abriu caminho à análise, de que os

papéis sociais do homem e da mulher (e os comportamentos que daí resultam), variam

segundo a organização cultural própria de cada grupo.

Analisemos o seguinte texto:

“Verificamos que os Arapesh – tanto homens como mulheres – apresentam uma

personalidade que, devido às nossas preocupações historicamente limitadas,

denominaríamos maternal nos seus aspetos parentais e feminina nos seus aspetos

sexuais. Encontramos homens, assim como mulheres, educados para cooperar, seres

não agressivos, sempre dispostos a responder às necessidades e pedidos dos outros.

Não encontramos uma única ideia de que o sexo seja uma poderosa força

impulsionadora, quer para homens quer para mulheres. Em nítido contraste com estas

atitudes, descobrimos entre os Mundugunores, que tanto homens como as mulheres se

desenvolviam como indivíduos desapiedados, agressivos, positivamente dominados pelo

sexo, ou com aspetos da personalidade que se relacionam com o amor maternal

reduzidos à mínima expressão. Tanto os homens como as mulheres se aproximam de

um tipo de personalidade que na nossa cultura encontraríamos apenas num tipo

masculino, indisciplinado e violentíssimo, nem os Arapesh nem os Mundugunores

apresentam um contraste entre os sexos; o ideal dos Arapesh é o homem suave e

sensível, casado com uma mulher igualmente suave e sensível; o ideal dos

Mundugunores é o homem violento, agressivo, casado com uma mulher violenta e

agressiva. ( Mead, M. cit por Psicossociologia, 2003)

Parece desta forma demonstrado, que a variabilidade dos determinantes sociais e

culturais, definem o fundamental do comportamento masculino e feminino.

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Temos igualmente, o caso, das crianças selvagens do século XIX, crescidas longe de

todo o contacto humano, Victor de l’Aveyron e Gaspar Hauser. Embora os

observadores pouco se interessassem pelos problemas da identidade sexual, estes

surgem claramente nos respetivos relatórios de observação. “É Gaspar Hauser que quer

usar vestidos de rapariga porque os acha mais belos: «É-lhe dito que deve tornar-se um

homem...» Victor, por outro lado, não mostra preferência por um sexo ou por outro.”

(Badinter, 1996, pp. 47)

Acrescentam ainda os observadores, acerca de Victor, que o facto não deve ser

surpreendente - “ «da parte de um ser a quem a educação não tinha de todo ensinado a

distinguir um homem de uma mulher» ” (Badinter, 1996, pp. 48). Se a masculinidade e

a feminilidade se aprende e constrói, não restará assim dúvidas de que pode mudar.

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