A DISTRIBUIÇÃO SOCIAL E O USO PEDAGÓGICO DO … · a distribuiÇÃo social e o uso pedagÓgico...
Transcript of A DISTRIBUIÇÃO SOCIAL E O USO PEDAGÓGICO DO … · a distribuiÇÃo social e o uso pedagÓgico...
A DISTRIBUIÇÃO SOCIAL E O USO PEDAGÓGICO DO ESPAÇO ESCOLAR NO
MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO:
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO A PARTIR DOS DADOS DO GERES 2005
Alicia Maria Catalano de Bonamino
Departamento de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Elisangela da Silva Bernado
Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Luiza Helena Lamego Felipe
Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Fernanda Ferreira Pedrosa
Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Órgão financiador: Cnpq
RESUMO
A literatura especializada sobre eficácia e equidade escolar aponta que os recursos
escolares, em termos do prédio escolar, dos espaços e equipamentos didático-pedagógicos e
seu estado de conservação, influenciam o desempenho dos alunos brasileiros. O efeito da
escola é relevante e decisivo, e mudanças nos fatores escolares podem criar melhores
condições de aprendizagem. O artigo focaliza o estado de conservação dos prédios segundo as
condições socioeconômicas dos alunos de 68 escolas públicas e privadas do município do Rio
de Janeiro participantes do Projeto GERES, bem como a distribuição dos espaços
pedagógicos e recursos materiais escolares segundo as redes de ensino. Trata-se de estudo de
natureza exploratória, que faz uso de dados coletados em estudo longitudinal (Geres/2005), a
partir da aplicação de questionários contextuais, no início e no final do ano de 2005. Numa
interpretação panorâmica, procuramos identificar as condições de oferta e uso de infra-
estrutura escolar que podem reduzir o impacto do nível socioeconômico sobre a distribuição
dos recursos escolares.
Palavras-chave:
Ensino Fundamental, estudo longitudinal, espaço escolar, recursos didático-pedagógicos.
1. Introdução
Uma das evidências estabelecidas de forma contundente no campo da sociologia da
educação diz respeito às relações entre desigualdades sociais e condições de oferta
educacional. De fato, a pesquisa educacional vem contribuindo há mais de quarenta anos com
evidências extensas e recorrentes sobre a associação entre condições escolares e
características socioeconômicas e culturais dos alunos (Forquin, 1995).
Apesar dos achados pouco alentadores deste acervo de pesquisas, a escola ganha,
principalmente a partir dos anos 80, maior autonomia e centralidade no contexto de
descentralização das políticas e sistemas educacionais, convertendo-se em um novo objeto
sociológico, na linha do que Van Zanten e Duru-Bellat (1999) denominam de “Sociologia da
Escola”. Além disso, a unidade escolar é também reinscrita na agenda das pesquisas
educacionais, em parte em razão de ser nesta dimensão institucional que as intervenções
tornam-se mais plausíveis.
Pesquisas que buscam equacionar o efeito dos fatores escolares sobre os resultados dos
alunos se colocam na perspectiva das escolas eficazes. Esses estudos originaram-se da reação
ao Relatório Coleman (1966), que afirma ser a origem social e familiar dos alunos o fator
mais importante na explicação das diferenças no desempenho escolar nos EUA. Essas
conclusões, somadas as do Relatório Plawden, publicado na Inglaterra nos anos 60, que
também afirma que as diferenças entre famílias explicam mais sobre a variação do
desempenho escolar das crianças que as diferenças entre as escolas, bem como aos trabalhos
de Bourdieu e Passeron (1964; 1970) na França, suscitaram debates e novas pesquisas que
buscam caracterizar o papel de diferentes fatores escolares no desempenho dos alunos. A
partir desses estudos, o foco se desloca do aluno para a escola e a sala de aula, visando
investigar as características das escolas que promovem melhores resultados no desempenho
escolar de alunos com as mesmas características socioeconômicas e culturais (Bonamino,
Bernado e Polon, 2005).
O artigo focaliza o estado de conservação dos prédios escolares segundo as condições
socioeconômicas dos alunos de 68 escolas públicas e privadas do município do Rio de Janeiro
participantes do Projeto GERES e a distribuição dos espaços pedagógicos e de recursos
materiais escolares segundo as redes de ensino. Trata-se de estudo de natureza exploratória,
que faz uso de dados coletados em estudo longitudinal (Geres/2005), a partir da aplicação de
questionários contextuais, no início e no final do ano de 2005. Para controlar essa
distribuição, foram utilizadas variáveis explicativas envolvendo o nível socioeconômico
(NSE1) dos alunos.
2
2. Fatores escolares e sócio-familiares
O Projeto GERES/2005 – Estudo Longitudinal sobre a Qualidade e Eqüidade no
Ensino Fundamental Brasileiro é uma pesquisa longitudinal que vem avaliando alunos dos
anos iniciais do ensino fundamental desde 2005, levando em consideração os fatores escolares
e sócio-familiares que incidem sobre o desempenho escolar. Este acompanhamento, que se
estenderá até 2008, visa identificar as características das escolas que aumentam o aprendizado
dos alunos e que conseguem lidar com a diversidade, de modo a diminuir a influência da
origem social dos alunos nos resultados escolares. A pesquisa está sendo desenvolvida em
cinco cidades brasileiras: Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Salvador (BA), Campo
Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ), por seis centros universitários, o Laboratório de
Avaliação da Educação da PUC-Rio, o Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da
UFMG, o LOED, da UNICAMP, o IPES e a Linha de Pesquisa de Avaliação da Educação do
Programa de Pós-Graduação em Educação da UFBA e o Centro de Avaliação da Educação da
UFJF (Bonamino, 2004).
As 302 escolas públicas e privadas, com 881 turmas e aproximadamente 20.000 alunos
participantes do GERES são acompanhados por meio da aplicação de testes de Leitura e
Matemática que focalizam as habilidades básicas dos alunos das séries/anos iniciais do Ensino
Fundamental. Além das atividades realizadas com os alunos, outros dados estão sendo
coletados através de questionários contextuais destinados aos pais dos alunos, aos professores
e diretores das escolas investigadas. Os dados coletados através dos instrumentos contextuais
possibilitam uma melhor compreensão da relação entre fatores extra-escolares e intra-
escolares e sua influência no desempenho escolar dos alunos.
O estudo que aqui apresentamos considera como fatores extra-escolares àqueles
relacionados ao nível socioeconômico da família de origem dos alunos. Entre os fatores intra-
escolares, foram considerados aqueles associados à escola, tais como a infra-estrutura, a
existência e estado de conservação dos prédios, a existência e uso de espaços didático-
pedagógicos (Sala de Artes, Laboratório de Ciências, Laboratório de Informática, Biblioteca,
Sala de Leitura, etc.) e de equipamentos/recursos didático-pedagógicos (mapas geográficos,
fitas/DVD educativas, livros didáticos, computadores, televisão, etc.), que são coletados no
GERES por meio de instrumentos contextuais. Trata-se de um questionário respondido pelos
pais dos alunos e de um questionário sobre a infra-estrutura da escola (Anexo I), que
verificam, respectivamente, as características socioeconômicas das famílias dos alunos e as
características materiais da unidade escolar.
3
Em 2005, os questionários contextuais foram respondidos pelos pais dos alunos da 1ª
série do Ensino Fundamental (ou o equivalente na rede municipal de ensino organizada em
ciclos) e por participantes da pesquisa. Nesse ano, participaram do GERES cerca de 20 mil
alunos, 880 professores e 300 diretores de mais de 300 escolas das cinco cidades envolvidas
no estudo. A pesquisa foi feita em uma amostra representativa do universo das matrículas
escolares no Ensino Fundamental, na série em questão.
Nas próximas seções, apresentamos e discutimos os resultados sobre características
escolares e sua distribuição segundo o nível socioeconômico dos alunos nas 68 escolas que
participam do GERES no município do Rio de Janeiro.
Estas características estão organizadas em três conjuntos de fatores relacionados aos
recursos escolares: estado de conservação dos prédios escolares; existência e uso dos espaços
didático-pedagógicos; e, existência e uso dos equipamentos/recursos didático-pedagógicos.
Os resultados encontrados em cada componente são analisados para cada uma das
redes avaliadas pelo GERES no Rio de Janeiro, destacando-se as situações em que as
diferenças se mostraram mais relevantes do ponto de vista estatístico.
3. Recursos Escolares
Os recursos escolares, em termos do prédio escolar, dos espaços e equipamentos
didático-pedagógicos e seu estado de conservação, influenciam o desempenho escolar dos
alunos brasileiros (Franco e Bonamino, 2005). A literatura especializada sobre eficácia e
equidade escolar aponta efeito positivo da infra-estrutura física da escola sobre o desempenho
em leitura dos alunos brasileiros, bem como das condições de funcionamento de laboratórios
e espaços adicionais para atividades pedagógicas (Lee, Franco e Albernaz, 2004; Soares.
2004; Soares e Alves, 2003; Albernaz, Ferreira e Franco, 2002; Espósito, Davis e Nunes,
2000). Os autores salientam, no entanto, que a simples existência de tais recursos não pode ser
considerada condição suficiente, já que é o uso efetivo desses recursos que faz diferença nos
resultados escolares dos alunos.
Em outros países, principalmente nos países desenvolvidos, os recursos escolares não
são fatores de eficácia escolar. A razão disto é que o grau de equipamentos e conservação das
escolas não varia muito de escola para escola, uma vez que praticamente todas as escolas
possuem recursos básicos para seu funcionamento. No Brasil, ainda temos bastante
variabilidade nos recursos escolares com que contam as escolas, o que pode explicar as
situações que serão descritas nesta seção.
4
Nesta dimensão, o estudo considera três variáveis, a saber: (a) estado de conservação
do prédio (telhado, paredes, piso, portas e janelas, banheiros, cozinha, refeitório, cantina, área
de recreação/pátio, auditório, instalações hidráulicas e elétricas); (b) existência e uso dos
espaços didático-pedagógicos (sala de artes, laboratório de ciências, laboratório de
informática e quadra de esportes); (c) existência e uso dos equipamentos/recursos didático-
pedagógicos (material concreto de matemática, mapas geográficos / globos, material para
atividades lúdicas, fitas de DVD / educativas, fitas de DVD /lazer, televisão, vídeo / DVD).
O conjunto de varáveis retrata as condições escolares que podem favorecer o trabalho
pedagógico e a aprendizagem dos alunos e as desigualdades identificadas na sua distribuição
segundo a condição socioeconômica dos alunos.
3.1. Estado de conservação dos prédios escolares
No que se refere ao estado de conservação do prédio, investigamos a porcentagem de
alunos com diferentes origens sociais - expressas pelo seu nível socioeconômico (NSE)
freqüentando escolas que funcionam em prédios com diferentes estados de conservação.
Nesse caso, as respostas dos questionários compuseram variáveis sínteses que,
posteriormente, foram categorizadas em bom, regular e ruim.
O NSE foi obtido a partir de medidas de indicadores de educação, ocupação e renda
dos pais dos alunos participantes do GERES, relacionados à escolaridade e ocupação dos pais
e à descrição de bens e serviços disponíveis nas residências dos alunos, tais como quantidade
de banheiros e cômodos, de televisão a cores, TV por assinatura, videocassete, geladeira
duplex, máquina de lavar roupa, automóvel, computador, telefone fixo e móvel, além da
existência de empregada doméstica.
As variáveis relacionadas ao estado de conservação dos prédios são examinadas de
forma simultânea, mediante análises multivariadas de dados, o que implica em comparar
correlações (o grau de associação entre os pares de itens) entre as variáveis com o objetivo de
desenvolver padrões de variação. Esses padrões de variação são formados por grupos de
variáveis que estão fortemente associadas entre si, o que permite afirmar que estão numa
mesma dimensão. Para tal, utilizamos a análise fatorial cuja finalidade é sintetizar dados
relacionados a muitas variáveis com o objetivo de gerar dimensões artificiais (fatores) que
representem construtos (versão operacional do conceito). O Quadro 1, apresenta a descrição
dos fatores.
5
Quadro 1: DESCRIÇÃO DOS FATORES
Variáveis Fatores Itens que compõem os fatores
Fator 1: conservação do
prédio
Paredes, telhado, pisos, portas ejanelas, banheiro, área de
recreação, instalações hidráulicase elétricasEstado de conservação
Fator 2: áreas de alimentação Refeitório e cozinha
Os dados do GERES indicam que, na série avaliada, existe um maior percentual de
alunos com baixo NSE estudando em prédios com estado de conservação ruim e, no extremo
oposto, um percentual mais elevado de alunos com NSE alto estudando em prédios com bom
estado de conservação, como mostra o Gráfico 1. Apenas 25% dos alunos com NSE baixo
estudam em escolas bem conservadas, enquanto que entre os alunos de NSE alto 60%
estudam em prédios em bom estado de conservação.
Gráfico 1: Distribuição dos Alunos da 1a série do Ensino Fundamental pelo Estado de
Conservação do Prédio, de acordo com o Nível Socioeconômico do Aluno
Fonte: Geres, 2006.
No Gráfico 2, podemos observar que na rede municipal de ensino, dentre os alunos
que estudam em prédios com bom estado de conservação, 80% têm NSE baixo e 20% têm
NSE médio. Em contrapartida, na rede privada, quase 70% dos alunos com NSE alto estudam
em prédios bem conservados (Gráfico 3).
45 401521,1
47,431,6
60
15250
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
6
Gráfico 2: Distribuição dos Alunos da 1a série do Ensino Fundamental pelo Estado de
Conservação do Prédio, de acordo com o Nível Socioeconômico do Aluno e a
Dependência Administrativa (Municipal)
Fonte: Geres, 2006.
Gráfico 3: Distribuição dos Alunos da 1a série do EF pelo Estado de Conservação do
Prédio, de acordo com o NSE do Aluno e a Dependência Administrativa (Privada)
Fonte: Geres, 2006.
3.2. Estado de Conservação das Áreas de Alimentação
No interior do espaço escolar, destacamos áreas de alimentação como o refeitório e a
cozinha. No Gráfico 4, podemos observar a distribuição dos alunos pelo estado a conservação
destas áreas de alimentação segundo o NSE médio da escola. Dentre os alunos que estudam
15,438,5 46,2
28,6 28,642,9
80
20 00
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
75
25 030
60
1015,4 15,4
69,2
0
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
7
em escolas que têm áreas de alimentação em bom estado de conservação, 50% deles são de
NSE baixo.
Gráfico 4: Distribuição dos Alunos da 1a série do EF pelo Estado de Conservação das
Áreas de Alimentação, de acordo com o Nível Socioeconômico do Aluno
Fonte: Geres, 2006.
A totalidade dos alunos de NSE médio estuda em escolas da rede federal cujas áreas
de alimentação têm estado regular de conservação, ao passo que os alunos de NSE baixo e
alto se distribuem proporcionalmente (50%) na freqüência a escolas que oferecem,
respectivamente, áreas de alimentação em estado de conservação ruim e bom (Gráfico 5).
Gráfico 5: Distribuição dos Alunos da 1a série do Ensino Fundamental pelo Estado de
Conservação das Áreas de Alimentação, de acordo com o Nível Socioeconômico do
Aluno e a Dependência Administrativa (Federal)
50
0
50
0
100
02550
250
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
Fonte: Geres, 2006.
57,133,3
2040 4050
19,430,69,5
0
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
8
Na rede municipal 80 % dos alunos que possuem NSE alto estudam em áreas de
alimentação em estado precário (Gráfico 6).
Gráfico 6: Distribuição dos Alunos da 1a série do Ensino Fundamental pelo Estado de
Conservação das Áreas de Alimentação, de acordo com o Nível Socioeconômico do
Aluno e a Dependência Administrativa (Municipal)
Fonte: Geres, 2006.
Na rede privada, a distribuição dos alunos em termos do NSE médio da escola se
comporta de forma análoga à distribuição do conjunto da amostra das escolas do município do
Rio de Janeiro. Enquanto que alunos que possuem NSE médio ou baixo freqüentam escolas
com áreas de alimentação em estado de conservação ruim ou regular, alunos que com NSE
alto estão em escolas com áreas de alimentação com bom estado de conservação (70% dos
alunos com NSE alto), como pode ser observado no Gráfico 7.
20 0
80
0
50 5036,4 40,9
22,70
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
9
Gráfico 7: Distribuição dos Alunos da 1a série do Ensino Fundamental pelo Estado de
Conservação das Áreas de Alimentação, de acordo com o Nível Socioeconômico do
Aluno e a Dependência Administrativa (Privada)
42,9 42,914,3
50 50
010 20
70
0
20
40
60
80
100
NSE Baixo NSE Médio NSE Alto
%
Ruim Regular Bom
Fonte: Geres, 2006.
3.3. O uso dos espaços didático-pedagógicos
A partir desta seção, apresentaremos uma análise descrita da oferta de espaços
didático-pedagógicos e mais a frente, dos equipamentos/recursos didático-pedagógicos por
rede de ensino. As categorias de resposta no questionário da escola ofereciam as opções: “não
tem”, “tem e não é usado” e “tem e é usado”. Categorizamos em variáveis dicotômicas estas
opções gerando dois casos de oferta aos alunos: a primeira, quando não existe o espaço ou
equipamento ou quando existe, mas não é usado e a segunda, quando efetivamente os alunos
têm acesso às salas didático-pedagógicas e aos recursos.
O Gráfico 8 permite observar o quanto a oferta da sala de artes se dá de forma
diferenciada nas redes. Enquanto nas escolas federais, todos os alunos usufruem do espaço, na
rede municipal, apenas 10% tem acesso. Na rede privada, mais da metade (65,5%) dos alunos
não possuem o espaço ou não lhes é oferecido como suporte pedagógico.
10
Gráfico 8: Distribuição da oferta de Sala de Artes por rede de ensino
Fonte: Geres, 2006.
Em relação ao laboratório de ciências, o gráfico tem comportamento diferenciado.
Percebemos de imediato que nenhum aluno da escola municipal tem acesso a laboratórios de
ciências. Em contrapartida, 62,7 % dos alunos da rede federal possuem acesso ao espaço,
percentual semelhante dos alunos da rede privada que não têm acesso a laboratórios de
ciências (Gráfico 9).
Gráfico 9: Distribuição da oferta de Laboratório de Ciências por rede de ensino
Fonte: Geres, 2006.
Sala de Artes
100 9065,5
34,5100
20406080
100
Tem e éusado
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Federal Municipal Privada
%
Laboratório de Ciências
37,562,5
10068,9
31,10
20406080
100
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Nãotem/não
usa
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Federal Municipal Privada
%
11
Na rede federal, 1/4 dos alunos não tem acesso a laboratórios de informática; quando
se trata de alunos da rede municipal, a 89,7% dos alunos não é oferecido este espaço como
apoio didático pedagógico. Na rede privada, o laboratório é um espaço disponível para 68,9%
das crianças da primeira série, o que pode ser verificado no Gráfico 10.
Gráfico 10: Distribuição da oferta de Laboratório de Informática por rede de ensino
Fonte: Geres, 2006.
3.4. O uso dos equipamentos/recursos didático-pedagógicos
O material concreto pode ser exemplificado pelo tangran e pelo material dourado,
recurso para apoio no ensino de matemática. São objetos de uso imediato que costuma ficar
na sala de aula. Este recurso não sofre muita diferença entre as redes de ensino. No Gráfico 11
percebemos que mais da metade dos alunos, independentemente da rede que estuda, está
exposto ao uso do equipamento. Comportamento semelhante ocorre com o uso de mapas e
globos. A maioria dos alunos tem acesso a estes recursos, conforme se verifica no Gráfico 12.
Laboratório de Informática
75 89,710,3 31,1
68,925
020406080
100
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Nãotem/não
usa
Tem e éusado
Federal Municipal Privada
%
12
Gráfico 11: Distribuição da oferta de Material Concreto por rede de ensino
Fonte: Geres, 2006.
Gráfico 12: Distribuição da oferta de Mapas Geográficos e Globo por rede de ensino
Fonte: Geres, 2006.
Os materiais para atividades lúdicas são caracterizados por jogos, recursos que
costumam estar disponíveis na sala de aula para uso imediato do professor. O Gráfico 13 nos
mostra que este recurso não constitui um problema na escola carioca, sendo bastante
disponibilizado a qualquer aluno, independente da rede de ensino. Podemos justificar essa
oferta pela facilidade e custo deste recurso. Embora não se possa dizer o quanto o seu uso
pode estar atrelado a um planejamento de aula (alguns professores utilizam os jogos como
prêmio de comportamento da turma ou pra deixar as crianças mais calmas no fim da aula), o
que se observa é que é oferecido às crianças.
Mapas geográficos/Globos
100 86,7 86,7
13,313,30
20406080
100
Tem e éusado
Não tem/nãofunciona/não
é usado
Tem e éusado
Não tem/nãofunciona/não
é usado
Tem e éusado
Federal Municipal Privada
%
Material Concreto
87,5 76,7 58,612,5 23,341,4
020406080
100
N ão t em/ nãof unciona/ não
é usado
Tem e éusad o
N ão t em/ nãof uncio na/ não
é usad o
T em e éusado
N ão t em/ nãof unciona/ não
é usado
Tem e éusad o
F ed eral M unicip al Pr ivad a
%
13
Gráfico 13: Distribuição da oferta de Material para atividades lúdicas por rede deensino
Fonte: Geres, 2006.
Diferentemente dos outros recursos que vimos até aqui, os recursos audiovisuais nem
sempre estão disponíveis para uso imediato dos alunos. Algumas vezes, a sala de multimeios
precisa ser agendada. O fato é que estes recursos demandam uma articulação com o conteúdo
ensinado na sala de aula, o que não ocorre quando são utilizadas fitas de vídeo/dvd para lazer.
A oferta deste recurso para crianças das séries iniciais é praticamente resolvida para a rede
pública de ensino, o que também pode ser apontado para a rede privada, mas com algumas
restrições (cerca de 17% dos alunos não tem acesso a este recurso).
Gráfico 14: Distribuição da oferta de Fitas de vídeo/ DVD educativas por rede de ensino
Fonte: Geres, 2006.
Fitas de vídeo/DVD (Educativas)
100
3,3
96,7 82,7
17,30
20406080
100
Tem e éusado
Não tem/nãofunciona/não é
usado
Tem e éusado
Não tem/nãofunciona/não é
usado
Tem e éusado
Federal Municipal Privada
Material p/Atividades Lúdicas
100
3,3
96,7 83,3
16,7
020406080
100
Tem e éusado
Não tem/nãofunciona/não é
usado
Tem e éusado
Não tem/nãofunciona/não é
usado
Tem e éusado
Federal Municipal Privada
14
4. Conclusões
Os achados deste trabalho foram consistentes com os de outras pesquisas nessa linha.
Numa interpretação panorâmica, podemos dizer que as condições socioeconômicas dos alunos
são muito relevantes no caso da distribuição e uso dos espaços e dos recursos materiais das
escolas. Os achados sugerem que um dos aspectos que as políticas escolares deveriam
focalizar diz respeito à identificação de elementos da oferta e uso de infra-estrutura escolar
que podem reduzir o impacto do nível socioeconômico sobre a distribuição dos recursos
escolares.
Este estudo sobre as desigualdades sociais na distribuição das características das
escolas participantes do GERES no Rio de Janeiro foi realizado a partir dos dados coletados
em 2005 e oferece uma visão panorâmica sobre o tema.
Apesar das limitações decorrentes da natureza descritiva do trabalho alguns resultados
interessantes merecem ser ressaltados. A distribuição social do espaço e das condições
escolares privilegia os grupos mais favorecidos economicamente. A oferta de condições
escolares, medida com base no estado de conservação dos prédios escolares; na existência e
uso dos espaços didático-pedagógicos; e, na existência e uso dos equipamentos/recursos
didático-pedagógicos, segundo o nível socioeconômico dos alunos privilegia os estudantes de
nível socioeconômico mais alto, aumentando as disparidades na oferta das condições
escolares.
Em suma, ao descrever os dados sobre a distribuição social da oferta de condições
escolares, ficamos com a certeza de que a ampliação das oportunidades de acesso à educação,
principalmente à educação básica, nem sempre se traduz na redução das desigualdades
escolares.
A análise desses dados precisa ser complementada por pesquisas fundamentadas em
outras abordagens, de modo a conduzir a uma compreensão mais complexa sobre o fato de as
condições escolares não se distribuírem ao acaso entre os alunos, mas de forma desigual
segundo o nível socioeconômico dos alunos.
Essa compreensão é fundamental porque atrás da constatação destas desigualdades
está o fato de a oferta de condições escolares mais precárias atingir, com maior severidade, o
aluno oriundo de grupos socioeconômicos desfavorecidos, o que contribui para sancionar as
desigualdades nas trajetórias escolares, seja em termos de repetência, defasagem idade-série
ou fracasso desses alunos.
15
Frente a esses resultados, o desafio da educação brasileira parece ser o de rejeitar o
fatalismo social ao mesmo tempo em que busca estratégias capazes de quebrar o círculo
vicioso das desigualdades escolares e de promover uma educação de qualidade no quadro de
uma verdadeira educação básica de massa.
5. Bibliografia
ALBERNAZ, A. FERREIRA, F. e FRANCO, C. (2002). A escola importa? Determinantes da
eficiência e da eqüidade no ensino fundamental brasileiro. Atas do Encontro sobre
Determinantes do Sucesso Escolar. Rio de Janeiro, IPEA.
BONAMINO, A. (2004) Colaboração entre metodologias Quantitativas e Qualitativas na
Pesquisa sobre características intra-escolares promotoras de aprendizagem. Projeto de
pesquisa apresentado e aprovado pelo CNPq. Rio de Janeiro: PUC-Rio. (mimeo).
BONAMINO, A., BERNADO, E. e POLON, T. (2005). Da “Arqueologia” das escolas às
práticas escolares: um estudo exploratório sobre as características das escolas participantes do
Projeto Geres no pólo Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.abave.org.br/publicacao.do?acao=buscar&codpublicacao=100&dest=mostra>.
Acesso em: 26 jul. 07.
BOURDIEU, Pierre e PASSERON, J-C. (1964). Les héritiers. Les étudiants et la culture,
Paris : Minuit.
BOURDIEU, Pierre e PASSERON, J-C. (1970). La Reproducción. Paris : Minuit.
DURU-BELLAT, M. e VAN ZANTEN, A (1999), Sociologie de l’École, Paris, ArmandColin.ESPOSITO, Y. L.; DAVIS, C.; NUNES, M. M. R. (2000). Sistema de avaliação do
rendimento escolar : o modelo adotado pelo estado de São Paulo. Revista Brasileira de
Educação, nº 13 jan/fev/mar/abr.
FORQUIN, J. C. (1995) Sociologia da educação: dez anos de pesquisa. Petrópolis: Vozes.
FRANCO, C. e BONAMINO, A. (2005) A pesquisa sobre características de escolas eficazes
no Brasil: breve revisão dos principais achados e alguns problemas em aberto. Revsita
Educação on-line, nº1. Rio de Janeiro: PUC-Rio (Publicação eletrônica).
LEE, V. E.; FRANCO, C e ALBERNAZ, A. (2004). Quality and Equality in Brazilian
Secondary Schools: a multilevel cross-national school effects study- Paper prepared for
presentation at the 2004. Annual Meeting of American Educational Research Association, San
Diego, CA, and April 12-16.
16
SOARES, J.F. (2004). O efeito da escola no desempenho cognitivo de seus alunos. Revista
Electrónica Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación, 2(2).
http://www.ice.deusto.es/rinace/reice/vol2n2/Soares.pdf. Acesso em: 25 jul. 07.
SOARES, J. F.; ALVES, M.T.G. (2003) Desigualdades raciais no sistema brasileiro de
educação básica. Educação e Pesquisa, vol. 29 nº 1, p. 147-165.
2
________________________________________________________
1 O NSE foi construído considerando os indicadores de educação, ocupação e renda dos pais dos alunosparticipantes do projeto.