A CRIATIVIDADE ENQUANTO DINAMISMO DE DESENVOLVIMENTO E DE EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA
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FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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O novo paradigma científico, mais holístico e menos mecanicista, teve, em Psicologia, claros reflexos nas correntes Humanista e Transpessoal, sobretudo pela permeabilidade destas ao diálogo com outras áreas do saber e pela flexibilidade e abrangência das suas visões antropológicas. É assim que nestas duas áreas vamos encontrar os trabalhos que, não fugindo do rigor conceptual e metodológico a que obriga o procedimento científico, mais proximamente vão situar‐se daquele «estudo da alma» em torno do qual, como vimos, se organizava a Psicologia filosófica.
Querendo nós reaproximar‐nos desse «estudo da alma», observando de que modo melhor se reflecte na Psicologia científica dos nossos dias, consideramos imprescindível a focalização nos conceitos de criatividade e desenvolvimento, também eles alvo preferencial dos estudos humanistas e transpessoais, por ambos terem subjacente uma concepção maximamente aberta do ser humano.
Assim, o presente trabalho tem como objectivo ensaiar uma compreensão global do fenómeno da criatividade à luz de algum do pensamento de várias figuras marcantes da Psicologia Humanista e/ou da Psicologia Transpessoal. Defender‐se‐á, através de um entrecruzamento de ideias de Carl Rogers, Abraham Maslow, Carl Jung, Ken Wilber, Viktor Frankl e Mihaly Csikszentmihalyi, que a criatividade é um dinamismo indissociável do processo de desenvolvimento humano integral, sendo que a conceptualização dos mecanismos subjacentes a esse processo e a descrição das etapas de que se compõe – aspectos estes a que dedicaremos a nossa atenção – se revestem do mais vivo interesse, dado que através do seu conhecimento e do reconhecimento da sua preponderância (que pretendemos demonstrar) se chega ao esclarecimento de como pode ser concretizado o potencial de desenvolvimento da pessoa. Desse modo, ainda, se acaba igualmente por circunscrever os alicerces de uma visão mais rica e fecunda dos próprios conceitos de criatividade e desenvolvimento.
CRIATIVIDADE, NOVIDADE E EXPRESSÃO DO SER: O VALOR DA SINGULARIDADE
Carl Rogers, no seu livro Tornarse Pessoa (1977), oferece‐nos uma visão bastante interessante acerca da criatividade. Para Rogers, a criatividade consiste fundamentalmente no surgimento, no contexto da acção de uma pessoa, de uma construção nova resultante da interacção entre a própria pessoa, enquanto ser único que tem uma forma particular de ser e de exprimir‐se, e todo o meio que a envolve e serve de enquadramento para a sua experiência, contexto que se compõe de «materiais, acontecimentos, pessoas ou circunstâncias de vida» (1977, p. 301).
O carácter de novidade sempre ligado aos produtos chamados criativos deriva, simplesmente, da presença de uma subjectividade a agir num momento particular, dirigida para a transformação de materiais específicos. Quer isto dizer que para Rogers a novidade está muito mais dependente de uma circunstancialidade
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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relacional do que de um reconhecimento social de um eventual produto. Podemos então considerar que a novidade, a diferença, é introduzida sobretudo quando a pessoa se exprime, i. e. no processo de expressão, muito mais do que quando essa expressão inevitavelmente se concretiza num produto acabado. Assim, o produto surge como rasto, indício de um acontecimento, e interessa sobretudo enquanto pista conducente à reactualização desse acontecimento, desse processo que o engendrou e pode vir a estar na origem de novos produtos. A novidade surge então, para Rogers, sempre que a pessoa imprime uma marca distintiva sua num determinado produto, que é, evidentemente, o resultado da interacção entre a pessoa e os materiais que lhe serviram de base para fazer emergir esse produto.
O primeiro aspecto que queremos sublinhar, e que derivamos do pensamento do Rogers, é precisamente este da primazia do processo criativo sobre o produto, na medida em que o processo é o centro donde tudo nasce e a partir do qual tudo se elabora. É o momento mais significativo, o da expressão do ser. E Rogers, ao reflectir sobre o reconhecimento social dos produtos criativos (a necessidade de, para serem historicamente reconhecidos, obterem a aceitação dum determinado grupo num determinado momento), acentua a sua valorização do processo criativo propriamente dito, rejeitando uma classificação dos produtos, a qual levaria apenas, em última análise, a considerar uns superiores a outros sob o ponto de vista de determinados critérios (1977, p. 302).
Outra importante ideia que deve ser acentuada é a de que sem a manifestação da singularidade do ser a criatividade não surge. Para que algo novo surja, no sentido que Rogers atribui ao conceito de «novidade», tem de haver uma singularidade a manifestar‐se enquanto tal, a ser enquanto tal, a reconhecer‐se enquanto tal. Caso se perca a sintonia com esse elemento de singularidade, então não haverá criatividade, mas rotina, e a pessoa, afastada da sintonia com a sua singularidade, não será capaz de produzir coisas novas.
Rogers pode elucidar‐nos também quanto ao que aqui entendemos por «singularidade» quando reflecte acerca da motivação que subjaz à criatividade. Para ele, o mecanismo que reside na origem da criatividade – e também do próprio processo curativo ao nível da psicoterapia – é «a tendência do homem para se realizar a si próprio, para se tornar no que em si é potencial» (Rogers, 1977, p. 302). Ora, a singularidade de um ser humano, como a entendemos, consiste precisamente na ligação da pessoa a esse movimento de realização do que em si é potencial, e manifesta‐se quer através do processo de a pessoa se tornar nela mesma, quer através da consciência que se desenvolve acerca desse processo. Quando não há, por parte da pessoa, sintonia com essa dimensão de inscrição num processo de desenvolvimento pessoal, então, com o esbatimento da singularidade, dá‐se o afastamento da criatividade.
Vemos que a criatividade surge como expressão desta tendência do ser humano para ser mais ele mesmo. Quando produz coisas novas e passa a relacionar‐se de novas formas com o meio envolvente, o ser não está a fazer mais do que a mergulhar no processo de tornar‐se ele mesmo, de pôr em acto aquilo que em si é
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potencial. Este processo de desenvolvimento passa por uma expansão, um alargamento das capacidades do ser, e a expressão pessoal através de produtos é apenas a consequência natural desse processo que consiste em ser aquilo que, de algum modo, já se é. Essa expressão, à medida que o processo decorre e evolui, vai‐se complexificando cada vez mais, mas o que nos parece fundamental é observá‐la – à expressão, ao produto criativo – enquanto testemunho de um processo em curso no qual o ser se encontra em aproximação de si mesmo.
Tendo em conta o que até agora foi dito, consideramos justo afirmar que ser criativo é lançar o ser no fazer. Uma definição tão simples como esta contém em si um larguíssimo espectro de implicações. Por exemplo, a de que se pode ser criativo em qualquer área da vida, em qualquer momento, em qualquer lugar, desde que se aja inscrito, ou em sintonia, com essa tendência para se realizar a si mesmo. Ou ainda a de que quando ser e fazer coincidem, ou quando entre ambos se estabelece uma harmonia, então deixa de fazer sentido a distinção entre sujeito e objecto, uma vez que um e outro passam a estar totalmente envolvidos num mesmo dinamismo de desenvolvimento dentro do qual ambos se derramam um no outro, quase como se de uma relação amorosa se tratasse.
CONDIÇÕES PARA UMA CRIATIVIDADE CONSTRUTIVA
Reflectindo acerca da pertinente problemática da criatividade socialmente construtiva e da criatividade socialmente destruidora, Rogers identifica uma série de condições internas que constituem, segundo ele, o referencial mais seguro para apurar se a criatividade de alguém, manifestada através dos produtos criados, é ou não positiva e benéfica para o meio social.
A primeira dessas condições é a da abertura à experiência, que consiste num estado de disponibilidade da pessoa relativamente às experiências de vida em que se vê mergulhada, não sendo este objecto de distorção com vista à defesa da organização psíquica. Uma pessoa aberta à experiência encontra‐se, portanto, aberta à percepção dos momentos existenciais integralmente considerados, sem haver a interposição de filtros e barreiras entre ela e o que acontece. Para Rogers, a abertura à experiência é garantia de uma criatividade construtiva, enquanto que uma reduzida abertura à experiência facilita a emergência de uma criatividade patológica, uma vez que há fases, ou partes, da experiência que não acedem à consciência e não se encontram clarificadas para a pessoa. Haverá, assim, sempre um reduto a defender, e é na defesa desse reduto que se localiza o perigo potencial (Rogers, 1977, p. 305).
A segunda das condições para uma criatividade construtiva é a existência de um centro interior de apreciação, i. e., o facto de a pessoa se sentir aquela que activamente, mais do que ninguém, valoriza aquilo que faz, na medida em que aquilo que faz é expressão de uma actualização das suas potencialidades. A satisfação com a criação vem do interior, e não do exterior (Rogers, 1977, pp. 305‐306).
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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A terceira condição indicada por Rogers é a capacidade para lidar com elementos e conceitos, i. e., a capacidade para manejar com destreza um determinado elemento («ideias, cores, formas, relações») (1977, p. 306), de modo a produzir combinações inesperadas que progressivamente vão conduzindo ao surgimento de algo novo e significativo.
Entendido o dinamismo da criatividade como inscrição do ser na tendência para se realizar a si mesmo, para se tornar naquilo que em si é potencial, e conhecidas as principais condições que, de acordo com Rogers, estão associadas à criatividade socialmente construtiva, iremos agora deter‐nos nalguns aspectos importantes deste processo de desenvolvimento.
O PROCESSO DE AUTO-ACTUALIZAÇÃO E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO: ABERTURA PARA O SI-MESMO E CRIATIVIDADE ENQUANTO VISÃO SIMBÓLICA DO REAL
Abraham Maslow, que estudou a fenomenologia das chamadas experiências de pico, ou experiências de topo, propôs, na sequência desse estudo, uma revisão do conceito de auto‐actualização, no sentido de que se passasse a considerar a auto‐actualização não como um patamar rígido, a que apenas alguns têm acesso, mas sim como um episódio, que pode surgir na vida de qualquer pessoa, a qualquer momento, em que os potenciais dessa pessoa se realizam de uma forma particularmente eficiente e intensamente gratificante, e em que a pessoa se encontra mais integrada e menos dividida, mais aberta à experiência, mais expressiva, espontânea e idiossincrática, mais criativa e mais distante das suas necessidades ligadas ao preenchimento de um défice. Segundo Maslow, nestes episódios de auto‐actualização pode dizer‐se que as pessoas são mais elas mesmas, encontrando‐se mais perto de realizar as suas potencialidades, e mais perto do núcleo do seu ser (Maslow, 1998, p. 106).
O que, para o autor, constitui o factor de distinção entre as pessoas auto‐actualizadoras e as restantes é o facto de na vida das pessoas auto‐actualizadoras os episódios de auto‐actuali‐zação surgirem com muito mais frequência e serem bastante mais intensos e completos do que em pessoas que não são consideradas auto‐actualizadoras (Maslow, 1998, p. 106).
Através desta ideia, que corrobora de certo modo a ideia de Rogers da universalidade da motivação para a auto‐realização do potencial humano, percebemos que o processo de auto‐actualização, encontrando‐se aberto a todas as pessoas, nem em todas elas encontra plena concretização. Para que isso aconteça, para que esse processo se plenamente desenvolva, é necessário que comece a enraizar‐se na vida um padrão de experiências de auto‐actualização.
Interrogamo‐nos agora acerca da natureza deste processo. Portanto, ao invés de nos centrarmos nalgumas das principais características das experiências de topo
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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às quais Maslow extensamente se refere (e. g., Maslow, 1998, pp. 83‐111; pp. 115‐125), vamos antes deter‐nos no movimento de individuação descrito por Carl Jung, crendo que alguns dos conceitos propostos por este autor podem elucidar‐nos acerca do modo como se engendra esse padrão de experiências de auto‐actualização.
Para Jung, o processo de individuação é um «processo psicológico que conduz, tendencialmente, cada ser humano à realização consciente e plenamente cumprida de si mesmo como um ser único» (Proença, 2003, p. 27). Este processo tem como ponto culminante a abertura a um centro psíquico diferente daquele do ego. Este novo centro psíquico, que transcende o ego, é por Jung designado Si‐Mesmo. Enquanto o ego pode ser considerado como o «centro da personalidade consciente, a sede da identidade subjectiva» (Proença, 2003, p. 27), o Si‐Mesmo é, por sua vez, «o centro ordenador e unificador da psique total, consciente e inconsciente, a sede da identidade objectiva, a divindade empírica interna, equivalente à imago Dei. É a fonte central (não nascente...) de energia de vida. É a vivência psíquica que o homem pode ter da divindade» (Proença, 2003, p. 28).
Constituindo o Si‐Mesmo o centro e a totalidade da psique, compreendendo tanto a esfera da consciência como a do inconsciente, e sendo capaz de conciliar os opostos, ele tem a capacidade de integrar e englobar todos os elementos da vida psíquica, com as inevitáveis contradições que lhes são inerentes. Dada a proeminência de que se reveste a estrutura do Si‐Mesmo, importa, de acordo com a dinâmica da individuação, que se dê o estabelecimento de um «eixo ego / Si‐Mesmo» (Neuman, cit. in Proença, 2003, p. 28), de forma a que o ego se torne capaz de suportar as tensões da vida psíquica e adquira uma estrutura efectivamente sólida.
Ora, o modo como este eixo ego / Si‐Mesmo pode consolidar‐se passa pelo desenvolvimento de uma leitura simbólica da realidade e dos conteúdos oníricos, tendo em consideração que a pressão do Si‐Mesmo para se manifestar e entrar na vida consciente se exerce em todas as áreas da vida. Deste ponto de vista, os acontecimentos da existência passarão a ser lidos como símbolos que remetem para aspectos diversos da busca de um novo centro para a personalidade, mais vasto e abrangente que o ego. Note‐se que o Si‐Mesmo não vem excluir nem diminuir o ego, mas antes dar‐lhe a vitalidade necessária para que possa desempenhar eficazmente o seu papel de mediador dessa estrutura mais vasta que é o Si‐Mesmo.
Segundo cremos, esta visão simbólica da realidade, tal como aqui a descrevemos, à luz da perspectiva jungiana, pode ser considerada como o mecanismo facilitador da ocorrência de experiências de auto‐actualização. Propomos que o Si‐Mesmo jungiano seja aproximado da noção de motivação básica para a realização do potencial por parte do ser humano, passando a coincidir com a máxima realização desse potencial. Assim, as experiências de auto‐actualização, ou de auto‐realização, entendidas como experiências de construção e fortalecimento do eixo ego / Si‐Mesmo, e que teriam nas experiências de pico descritas por
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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Maslow umas das suas mais intensas expressões, seriam facilitadas através do exercício desta leitura simbólica da realidade, sob a pressão desenvolvimental do Si‐Mesmo, em pleno processo de individuação. Assim, consideramos o processo de auto‐actualização, ou auto‐realização, e o processo de individuação, como conceitos intermutáveis.
Coloca‐se agora, justamente, uma pergunta: qual é o lugar da criatividade neste cenário? Ora, a criatividade, tal como Rogers a entende, queremos nós aproximá‐la desta visão simbólica da realidade a que fazemos menção. Sendo um dinamismo de transformação da realidade, com a criação de produtos novos, e tendo como principal motivação a realização de todo o potencial da pessoa, se considerarmos o fortalecimento do eixo ego / Si‐Mesmo como o mais significativo processo da vida psíquica, em que o potencial humano é maximamente actualizado, então a criatividade confundir‐se‐á com o exercício dessa visão simbólica, tendendo para a constante escuta dos apelos que o Si‐Mesmo lança ao ego no sentido da consolidação dos seus alicerces. Deste modo, a criatividade aprofundar‐se‐ia como expressão de uma busca, a busca desse novo centro psíquico, o Si‐Mesmo, sendo ao mesmo tempo o veículo de realização dessa busca. Cada produto criativo seria o indício da vitalidade da visão simbólica à procura da amplificação do espaço de abertura do ego ao Si‐Mesmo, enquanto que o processo criativo funcionaria como via de integração mais eficaz e profunda nessa estrutura mais vasta.
CRIATIVIDADE E AUTOTRANSCENDÊNCIA
Na sequência do conceptualização que fazemos da criatividade, olhando‐a como força tendencialmente posta ao serviço da manifestação do Si‐Mesmo, e percebendo‐a assente sobre uma visão simbólica do mundo através da qual a atenção à realidade interna e externa se torna capaz de discriminar estímulos que, sendo lidos à luz desse dinamismo axial do psiquismo que é a realização do máximo potencial da pessoa, i. e., a abertura ao contacto com o Si‐Mesmo, se revelam fecundos e construtivos, com o poder de operar mudanças muito significativas na vida da pessoa, cabe‐nos interrogar todo este dinamismo na tentativa de nele identificarmos processos essenciais que nos levem a melhor compreendê‐lo.
Viktor Frankl desenvolve na sua obra dois conceitos que nos parecem ser fundamentais para esta compreensão que pretendemos aprofundar: a autotranscendência e a vontade de sentido. A autotranscendência é, de acordo com Frankl (1990), essa faceta do ser humano que corresponde à sua vontade de ir além de si mesmo. Para Frankl, a auto‐realização da pessoa, ou auto‐actualização, é algo só possível pela autotranscendência, pela transcendência de si (1990, p. 30). Só se cumpre a pessoa que apontar para além de si própria. E também a identidade é, segundo o autor, algo que só se consolida graças à autotranscendência.
A autotranscendência mais não é do que uma decorrência de uma original vontade de sentido que aparece no ser humano como algo de estrutural e
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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elementar (Frankl, 1982, p. 99). É através da autotranscendência que essa basilar vontade de sentido se exerce e cumpre. E este apontar para além de si próprio, esta autotranscendência, acaba por ter a sua concretização global no serviço de uma causa ou no amor de uma pessoa, repousando sobre a capacidade de perceber os sentidos subjacentes às diversas etapas e situações de vida. Para Frankl, o sentido é algo objectivo, algo que emerge da existência e a confronta. Por isso, não pode ser dado, mas apenas encontrado. Uma vez encontrado o sentido de algo, a realização desse sentido passará pela autotranscendência, em que o ser humano de algum modo se perde para ir encontrar‐se à medida que se põe em marcha rumo a esse sentido que o ultrapassa (Frankl, 1982, p. 100).
Sublinhada então a ideia de que, para Frankl, a autotranscendência é o processo que garante a auto‐realização do ser humano e a consolidação da estrutura identitária, propomos que se alargue a nossa compreensão da criatividade tendo também em conta o contributo teórico dado por este autor.
Retomando a proposta que fazemos, a autotranscendência constituiria o processo de base da criatividade, sendo que todo este edifício que descrevemos assentaria sobre esse elemento essencial no homem que é a vontade de sentido. Que lugar teria aqui a tendência para a auto‐realização descrita por Rogers, posta por ele na base da criatividade? Muito simplesmente, seria a expressão desse mecanismo nuclear da autotranscendência. A auto‐realização seria, assim, o efeito do exercício da autotranscendência. O Si‐Mesmo jungiano manter‐se‐ia como estrutura identitária basilar. A abertura a essa estrutura conquistar‐se‐ia por meio da busca de sentido levada a cabo através da autotranscendência, concretizada na construção de uma visão simbólica dos acontecimentos de vida, i. e., na criatividade. De facto, o que é o Si‐Mesmo senão uma culminação da autotranscendência, na medida em que é mais vasto e abrangente do que a estrutura egóica? O encontro com o Si‐Mesmo seria o sentido supremo para que convergiria a vida humana, encontrando expressão objectiva na ultrapassagem de si alcançada através do serviço a uma causa ou do amor a uma pessoa.
A criatividade entendemo‐la então como um processo em que está envolvida a autotranscendência. O ser humano criativo deixa de estar dobrado sobre si próprio, mas transcende‐se, criando. Através da sua criação, reinaugura constantemente uma visão tendencialmente simbólica da realidade, que o coloca na esteira do encontro com o Si‐Mesmo. Enquanto cria, realiza ao mesmo tempo esse sentido supremo que é colocar‐se na presença de uma estrutura identitária mais vasta, e a sua criação confunde‐se com a entrega a algo que o ultrapassa. Deste modo, auto‐realiza‐se.
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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A EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA: CRIATIVIDADE, ABERTURA À ALTERIDADE E DEVIR
Depois das considerações acerca da autotranscendência e da criatividade, trataremos agora da questão da existência de diferentes níveis de consciência que podemos encontrar ao longo do processo de auto‐realização, e cuja natureza traduz sucessivas e cada vez maiores aproximações à estrutura identitária final que é o Si‐Mesmo.
Ken Wilber chama a atenção para a existência de vários estádios no desenvolvimento da consciência do Si‐Mesmo (Proença, 2003), no sentido da sua expansão. De acordo com Wilber, a percepção do Si‐Mesmo progride através de estados de consciência cada vez mais diferenciados, à medida que se processa a evolução para uma consciência mais ampla da totalidade em que consiste essa estrutura identitária.
Proença (2003), reflectindo acerca do desenvolvimento da identidade, nota que, na infância, o ego tende a emergir, através de um processo de diferenciação, de um Si‐Mesmo primordial, oceânico. O culminar de todo este processo são as experiências de pico transpessoais em que o Si‐Mesmo transcende os limites de um ego organizado. Entre um e outro extremo do continuum há uma série de experiências de identificação pelas quais a pessoa vai passando, mais ou menos egocentradas (Proença, 2003, p. 29).
Num dos derradeiros patamares dessa progressão, o estado de consciência cósmica, ou supra‐consciência, os próprios padrões energéticos reconhecidos pela consciência como ego desaparecem, expandem‐se e integram‐se em padrões mais ampliados de consciência, a que Wilber chama o Si‐Mesmo Transpessoal (Wilber, cit. in Proença, 2003, p. 29).
Por último, deparamo‐nos com um estado de consciência unitiva, em que se passa do domínio da psique para o domínio da vivência mística, da pura consciência. Trata‐se aqui, segundo Proença, de um estado absoluto de ser, em que só a pura Consciência de Ser se manifesta, acedendo‐se a uma identidade radical total (Proença, 2003, p. 29).
Uma abordagem complementar a esta, que olha o desenvolvimento da consciência humana como um processo que decorre ao longo de oito / nove estádios, é‐nos também descrita pelo próprio Wilber, que nos remete para os seus autores, Don Beck e Christopher Cowan (Wilber, 2005, p. 27). De acordo com Wilber, esta abordagem, que constitui um aperfeiçoamento do trabalho de Clare Graves, é sustentada por cuidadosos estudos empíricos (2005, p. 26). O modelo proposto, chamado Dinâmica da Espiral, preconiza a existência de oito / nove estádios (o último estádio é um acrescento do próprio Wilber), ou ondas de existência, ou ainda memes (segundo Wilber, meme é «um estádio básico de desenvolvimento que pode ser expresso em qualquer actividade») (2005, p. 28),
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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que são designados com o nome de várias cores e se encontram divididos em dois grupos. O que estes estádios basicamente descrevem são diferentes modos, progressivamente mais sofisticados, à medida que se avança na espiral, de estruturação do pensamento e da consciência – em síntese, referem‐se a mundividências e a características das estruturas identitárias das pessoas. Os primeiros seis níveis (bege, púrpura, vermelho, azul, laranja e verde) são chamados níveis de subsistência, e configuram um pensamento dito de primeira camada. Os restantes níveis (amarelo, turquesa e, na proposta de Wilber, coral) são os níveis de ser, dos quais emerge um pensamento de segunda camada. Não querendo nós deter‐nos na explicitação exaustiva das características de todas as ondas de existência, importa sublinhar a diferença entre os níveis de primeira e de segunda camada. De acordo com Wilber, enquanto que os memes de primeira camada não podem reconhecer plenamente a existência dos outros memes (e. g., se um determinado grupo de pessoas se encontra num meme de primeira camada, não terá a capacidade de perceber que um outro grupo de pessoas possa situar‐se noutro, indo fazer tudo para adaptar a realidade à medida das características do seu próprio pensamento). Estes memes caracterizam‐se, com efeito, por bastante rigidez e dificuldade na aceitação da diferença. Já nos memes de segunda camada o que sucede é a emergência da capacidade para olhar para a espiral de desenvolvimento na sua totalidade, sem a fixação rígida num qualquer nível. O aspecto fundamental do pensamento de segunda camada reside no seu holismo (ou integralismo, como prefere chamar‐lhe Wilber), já que agora a existência de cada meme é aceite e vista como necessária para a completação de todo um percurso desenvolvimental (Wilber, 2005, p. 35).
De notar a simplicidade e o acerto lapidares subjacentes à concepção de desenvolvimento que norteia Wilber. Para o autor, o desenvolvimento define‐se como «uma diminuição sucessiva de egocentrismo» (Wilber, 2005, p. 43). Aquilo a que assistimos, então, ao longo da Dinâmica da Espiral, é simplesmente a um decréscimo do egocentrismo, que cede o seu lugar a uma cada vez maior abertura à alteridade.
Os memes de segunda camada coincidiriam, como sugere o próprio Wilber, com a consideração de uma dimensão transpessoal da existência (2005, p. 37), e, acrescentamos nós, com a irrupção de espaço no psiquismo para a manifestação da estrutura identitária do Si‐Mesmo, ela própria passível de uma separação em diferentes graus, o mais elevado dos quais associado, como vimos, à transpessoalidade.
Esta breve referência ao pensamento de Wilber fazemo‐la apenas para destacar a importância da consideração dos níveis para que tende a auto‐realização do ser humano. A criatividade, como dinamismo intimamente ligado a esse processo de auto‐realização, vai ser também um mecanismo posto ao serviço deste caminho de integração em níveis cada vez mais expandidos de consciência na aproximação ao Si‐Mesmo, culminando na experiência do Si‐Mesmo transpessoal e, tendencialmente, na vivência de estados místicos.
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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Assim, é lícito afirmar que a criatividade está ordenada à expansão da consciência, embora, como é evidente, apenas uma ínfima percentagem dos seres humanos atinja os níveis de consciência mais elevados. O mais significativo, para nós, partindo da evidência da existência de múltiplos estádios de desenvolvimento do pensamento e de níveis de consciência expandidos [diferentes dos níveis de consciência habituais (vigília, sono, sonho, etc.)], em que a identidade se amplifica, é a conceptualização da criatividade como um conjunto de passos dados no sentido da integração do ser nesses mesmos níveis de consciência e estádios superiores de desenvolvimento do pensamento.
A clarificação deste aspecto quando se estuda a criatividade, reforçando a percepção de que ela é inseparável do devir do ser humano, torna evidente que o seu significado e razão de ser só são encontrados precisamente quando ela é situada nesse processo de devir.
MIHALY CSIKSZENTMIHALYI, UM PENSAMENTO DE SÍNTESE
O pensamento de Mihaly Csikszentmihalyi centra‐se sobre o estudo das experiências de fluxo, da criatividade e do desenvolvimento da personalidade. Para o autor, as experiências de fluxo, cuja fenomenologia se assemelha bastante à das experiências de pico, ou de topo, descritas por Maslow, consistem em ocasiões de pleno envolvimento da pessoa com uma tarefa, com altos níveis de motivação, perda da noção habitual do tempo, optimização do desempenho e esbatimento acentuado, ou pronunciada alteração, da consciência egóica (Csikszent‐mihalyi, 1998). As experiências de fluxo, na nossa opinião, podem ser, sem prejuízo, interpretadas como momentos de plena inscrição da pessoa nessa tendência básica para a realização do seu máximo potencial, recortando‐se como momentos privilegiados para o reforço da comunicação entre as estruturas identitárias do ego e do Si‐Mesmo, com o alicerçar da base desse eixo, até à sua plena consolidação. Estes momentos fortes corresponderiam, por conseguinte, a um aprofundamento do movimento de expansão identitária, conduzindo a pessoa à experiência de níveis de cada vez maior amplificação da consciência.
A criatividade, embora seja olhada por Csikszentmihalyi como uma consequência das experiências de fluxo (1998, p. 187), é por nós lida como aquele dinamismo nuclear de produção do novo, com a projecção total de todo o ser na corrente do seu devir. Ela está, antes de mais, na origem dessas mesmas experiências. Primeiro a criatividade, depois o fluxo. Não negamos que a criatividade seja também uma consequência do fluxo, como é evidente, mas queremos reforçar a ideia da existência de uma motivação fundamental que desencadeia o fluxo, e essa é a da criatividade, em que percebemos a presença da vontade de sentido e do mecanismo da autotranscendência franklianos.
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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Csikszentmihalyi, no seu estudo do desenvolvimento da personalidade e da estrutura egóica, acaba, com efeito, por acolher, embora sem o explicitar, o legado do pensamento de Viktor Frankl. De facto, o autor de que agora nos ocupamos, ao definir um perfil de pessoa T, ou transcendente, que corresponde ao nível mais elevado do desenvolvimento da personalidade, associado à capacidade de ir além de si mesmo, de transcender, acolhendo em si a alteridade, os outros e o mundo, e encontrando fluxo em actividades construtivas, capazes de aumentar o grau de harmonia e ordem do mundo interno de cada um e da própria sociedade (1998, pp. 200‐238), não está a fazer mais do que assumir o carácter primacial da vontade de sentido e da autotranscendência, do pôr‐se todo ao serviço dos outros e / ou duma causa.
As pessoas T seriam, portanto, pessoas maximamente capazes de exprimir a sua criatividade, pessoas em sintonia com a Dinâmica da Espiral, já situadas num pensamento de segunda camada; pessoas, enfim, abertas à emergência duma estrutura identitária expandida, o Si‐Mesmo, e tendencialmente aptas a uma imersão em estados amplificados de consciência.
Consideramos que o pensamento de Csikszentmihalyi é uma abordagem de síntese, integrando o contibuto teórico de vários autores, e o que o seu diálogo com as perspectivas jungiana e wilberiana, que tentámos esboçar, a enriquece e revitaliza. Saem a ganhar a criatividade e a pessoa, ficando mais esclarecidos o como e o para quê da ideia de que a primeira se encontra ao serviço do pleno desenvolvimento da segunda.
CONCLUSÃO
Através do itinerário efectuado ao longo do presente trabalho pretendeu‐se desenhar as fronteiras de um território que faz a Psicologia contemporânea aproximar‐se, sem prejuízo das exigências do rigor científico, daquelas que eram as motivações fundamentais da Psicologia filosófica, nomeadamente o estudo da alma.
A particular articulação de conceitos de diversos autores que foi sendo proposta e esboçada fez‐se no sentido de enfatizar o movimento de valorização da pessoa e do seu potencial de desenvolvimento, particularmente visível nas correntes Humanista e Transpessoal da Psicologia.
Através deste estudo conclui‐se da viabilidade da conceptualização da criatividade enquanto dinamismo ao serviço do desenvolvimento e da expansão da consciência, dado que os conceitos que serviram de base ao nosso pensamento foram capazes, através das considerações tecidas, de revelar a sua complementaridade.
Posta em evidência esta complementaridade existente entre os instrumentos teóricos a que recorremos para ilustrar o nosso entendimento dos processos da
FERREIRA, M. & Candeias, A. (2007) A criatividade enquanto dinamismo de desenvolvimento e de expansão da consciência. In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.
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criatividade e do desenvolvimento, ao mesmo tempo que identificadas as bases dessa complementaridade, o que ressalta deste trabalho é sobretudo o contributo para uma proposta de profunda revalorização da imagem da pessoa em todas as formas de Psicologia aplicada. Esta revalorização passará pelo privilégio dado à importância do exercício da criatividade, uma vez percebida a sua centralidade no próprio desenvolvimento da pessoa, i. e., no cumprimento de si mesma.
Relativamente à forma exacta das práticas psicológicas capazes de concretizar o exercício da criatividade olhada do ponto de vista em que nos situamos, conclui‐se que elas deverão, para além do seu desenho específico que não nos cabe aqui definir, ir no sentido de auxiliar a pessoa, caso a isso esteja receptiva e caso isso se revele necessário, a redefinir o próprio modo como a si mesma se olha. Esta redefinição da auto‐percepção, que deverá incluir por parte da pessoa a consideração da sua capacidade para a autotranscendência e o avistamento das possibilidades evolutivas da consciência humana, será o primeiro passo, sobretudo de carácter preparatório, na senda do desenvolvimento e expansão da consciência sobre os quais nos debruçámos. Assim, este estudo poderá modestamente concorrer para a construção de uma prática psicológica mais holística e totalizadora, em benefício, afinal, da própria pessoa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CSIKSZENTMIHALYI, MIHALY (1998). [Novas Atitudes Mentais] (Mário Dias Correia, Trad.). Lisboa: Círculo de Leitores. (Original publicado em língua inglesa, 1993);
FRANKL, VIKTOR (1982). [Man's Search For Meaning: An Introduction to Logotherapy] (Ilse Lasch, Trad.). London: Beacon Press. (Original publicado em língua alemã, 1946);
FRANKL, VIKTOR (1990). [A Questão do Sentido em Psicoterapia] (Jorge Mitre, Trad.). Campinas, SP: Papirus Editora. (Original publicado em língua alemã, 1981);
MASLOW, ABRAHAM (1998). Toward a Psychology of Being (3rd ed.). New York: John Wiley & Sons, Inc.;
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WILBER, KEN (2005). [Uma Teoria de Tudo] (Mário Oliveira & Pedro Soares, Trad.). Cruz Quebrada: Estrela Polar. (Original publicado em língua inglesa, 2000).