A Construção Da Coerencia

5
Curso: Engenharia civil. Aluno (a):________________________________________________________________________ Disciplina: Leitura e Produção de texto. Professora: Noelma Rafael A CONSTRUÇÃO DA COERÊNCIA O que é mesmo coerência textual? É a possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto. Ou seja, é a compatibilidade entre ideias e conceitos que permite ao leitor acompanhar a continuidade de um raciocínio em desenvolvimento. Quando encontramos enunciados contraditórios, que geram dificuldades a nossa compreensão, dizemos que houve incoerência, como ocorre no exemplo abaixo: E1. “No Brasil, não há preconceito; há apenas discriminação de cor e classe social”. DIMENSÕES DA COERÊNCIA: a. Em algumas dissertações argumentativas, ocorrem momentos de incoerências locais, isto é, incompatibilidades que acontecem em pontos específicos do texto, como os encontrados em enunciados localizados no interior de períodos e de parágrafos. b. A incoerência global – é aquela em que o leitor não consegue relacionar os enunciados de um texto inteiro. Ela ocorre muito raramente, exceto em se tratando de autores com patologias psicológicas graves. Há casos em que estudantes trocam o tema proposto por outro qualquer ou desviam parcialmente a discussão para um aspecto inusitado, sem, no entanto, retornar ao tema. Veja, pelos títulos, sobre quais temas alguns alunos escreveram, quando deveriam dissertar sobre: “Preconceito” - Minhas férias - As noitadas de sábado - Tardes de domingo - A violência urbana. Quando isso acontece, não podemos dizer que houve uma incoerência global, mas uma recusa deliberada do aluno a

description

A Construção Da Coerencia

Transcript of A Construção Da Coerencia

Page 1: A Construção Da Coerencia

Curso: Engenharia civil.

Aluno (a):________________________________________________________________________

Disciplina: Leitura e Produção de texto. Professora: Noelma Rafael

A CONSTRUÇÃO DA COERÊNCIA

O que é mesmo coerência textual?

É a possibilidade de se estabelecer um sentido para o texto. Ou seja, é a compatibilidade entre ideias e conceitos que permite ao leitor acompanhar a continuidade de um raciocínio em desenvolvimento. Quando encontramos enunciados contraditórios, que geram dificuldades a nossa compreensão, dizemos que houve incoerência, como ocorre no exemplo abaixo:

E1. “No Brasil, não há preconceito; há apenas discriminação de cor e classe social”.

DIMENSÕES DA COERÊNCIA:

a. Em algumas dissertações argumentativas, ocorrem momentos de incoerências locais, isto é, incompatibilidades que acontecem em pontos específicos do texto, como os encontrados em enunciados localizados no interior de períodos e de parágrafos.

b. A incoerência global – é aquela em que o leitor não consegue relacionar os enunciados de um texto inteiro. Ela ocorre muito raramente, exceto em se tratando de autores com patologias psicológicas graves. Há casos em que estudantes trocam o tema proposto por outro qualquer ou desviam parcialmente a discussão para um aspecto inusitado, sem, no entanto, retornar ao tema. Veja, pelos títulos, sobre quais temas alguns alunos escreveram, quando deveriam dissertar sobre:“Preconceito”- Minhas férias- As noitadas de sábado- Tardes de domingo- A violência urbana.

Quando isso acontece, não podemos dizer que houve uma incoerência global, mas uma recusa deliberada do aluno a não escrever sobre o tema proposto. Também pode acontecer de o aluno não ter lido a proposta de produção textual ou ter lido e não ter entendido ou ainda já ter trazido na memória um texto pronto, decorado, para ser simplesmente transcrito para a folha-padrão. Com certeza, ele sofrerá as consequências dessa infeliz decisão.

FATORES DE COERÊNCIAHá um conjunto de fatores que colaboram para dar certa lógica ao desenvolvimento do raciocínio do autor. São eles:a. ELEMENTOS LINGUÍSTICOS – as palavras usadas no texto, além de

acionar conhecimentos arquivados na memória do leitor, funcionam como pistas da língua que ajudam o leitor a pescar o sentido pretendido pelo autor, a sua linha argumentativa e as conclusões às quais gostaria que chegasse. Assim, artifícios linguísticos como: o uso de palavras do mesmo

Page 2: A Construção Da Coerencia

campo semântico e a posição delas no enunciado podem gerar interpretações curiosas.

E2: tramita na câmara um projeto sobre preconceito da boa deputada (boa) Rita Camata. (mesmo campo semântico = tramita, câmara, projeto, deputada).

E3: O congresso brasileiro precisa de novos parlamentares (novos) que legislem honestamente. (mesmo campo semântico = congresso, parlamentares, legislem).

b. CONHECIMENTO DE MUNDO – todas as experiências vividas são guardadas na nossa memória, de maneira que, quando lemos um texto, só conseguimos entendê-lo inteiramente, se reconhecermos as informações ali acionadas e estabelecermos uma relação com o que já sabemos sobre o tema. Em geral, é difícil para um camponês, por exemplo, entender um artigo científico de antropologia cuja temática seja “as raízes da discriminação racial, social e sexual no Brasil colonial”, por exemplo.

E4: “O repúdio aos bárbaros bem como o escárnio aos mouros “infiéis” são a gênese dos sentimentos que hoje explodem em “skinheads”...”

Bárbaros = não romanos, incivilizadosMouros = sem fé cristãSkinheads = grupo de neonazistas

Esses termos destacados devem fazer parte do conhecimento de mundo do leitor (mediamente escolarizado e/ou relativamente informado pelos meios de comunicação) ao qual se dirige uma dissertação argumentativa.

c. CONHECIMENTO PARTILHADO – cada indivíduo constrói a sua própria enciclopédia de conhecimentos ao longo da vida, mais ou menos igual à daqueles que vivem em um mesmo ambiente social, político, econômico e cultural. Para que haja compreensão entre dois interlocutores, por meio de um texto, é necessário que ambos partilhem de alguns desses conhecimentos.

É importante o autor saber equilibrar as informações partilhadas antigas com as informações novas, a fim de evitar que o texto se torne repetitivo e circular ou até mesmo incompreensível.

As palavras destacadas em E4 não são explicadas pelo autor, logo ele pressupõe já serem conhecidas ou partilhadas pelo seu suposto leitor por causa do tema, do contexto e do seu provável nível cultural. Contudo, se as mesmas palavras de E4 fossem dirigidas a crianças ou a camponeses que nunca frequentaram escola ou nunca tiveram acesso aos meios de comunicação, seria muito difícil entenderem o sentido do enunciado e do texto (3) inteiro, já que possuem outras preocupações fundamentais na vida.

d. Inferências – é um processo de raciocínio através do qual se estabelece uma relação não explícita entre dois enunciados e deles se chega a uma conclusão. É um dos tipos de raciocínio mais utilizados no processo de interpretação, já que o texto, por ser um mecanismo de economia linguística, não pode nem deve dizer tudo. Como disse o escritor Umberto Eco, o texto é uma “máquina preguiçosa” e, por isso, sempre há lacunas a

Page 3: A Construção Da Coerencia

serem preenchidas pelos leitores com seu conhecimento de mundo e sua capacidade de inferir. E5. Apesar das severas leis brasileiras contra manifestações de preconceito, ele continua ocorrendo de forma velada.

INFERÊNCIAS:a. Há preconceito no Brasil.b. Há leis brasileiras que punem manifestações de preconceito. c. As leis não são suficientes para acabar com o preconceito velado. d. Para eliminar totalmente com o preconceito, devem-se criar maneiras

de punir também o preconceito velado, (inferência possível, mas não necessária).

EXERCÍCIO1. Defina com suas palavras o que é coerência textual. 2. Quais os fatores que contribuem para estabelecer a coerência em

um texto?3. Identifique, no fragmento abaixo, o termo que esteja provocando

uma incoerência local e, em seguida, substitua-o por outro que resolva o problema. “... não é de hoje que se convive com a discriminação, sem que, no entanto, medidas eficazes de implementação de tal política tenham sido encontradas”.

4. Faça o mesmo com o seguinte enunciado: “De um lado, o discurso disseminado da necessidade de ajuste ao preconceito, de outro, o comodismo, a conivência diante das injustiças sociais”.

5. Sublinhe todos os termos (substantivos) que estejam ligados diretamente ao campo semântico do preconceito, no fragmento abaixo:“O repúdio aos bárbaros, bem como o escárnio aos mouros “infiéis” são a gênese dos sentimentos que hoje explodem em “skinheads” com promessas de morte a negros, judeus, homossexuais e outras minorias. Ademais, do mercantilismo ao capitalismo neoliberalista constitui-se a necessidade da pobreza para untar a fôrma que se criou para o lucro.”

6. Explicite, com suas palavras, os termos sublinhados, imaginando a necessidade de explicá-los a alguém que não os conheça. “Antes mesmo da expansão ultramarina, a qual empurraria o mundo para a lubrificação da máquina escravocrata, ora indígena, ora negra, já se podia encontrar discriminação nas entrelinhas da história.”

7. Reescreva o fragmento abaixo, acrescentando as informações que achar relevantes aos termos destacados, através de apostos, a fim de esclarecer um pouco mais os conhecimentos que foram pressupostos pelo autor. “Da pregação da “ausência de alma” dos negros pela igreja católica à eleição de Nelson Mandela para governar a África do Sul, passando por políticas vergonhosas como o “apartheid”, instituído em 1948, a humanidade conheceu amadurecimento considerável.”

8. Comparando o fragmento acima com a nova versão que você produziu a partir dele, com os devidos apostos, responda: qual delas ficou mais concisa? Justifique.

9. Aponte, pelo menos, duas inferências que podem ser feitas a partir dos conteúdos do fragmento abaixo:

Page 4: A Construção Da Coerencia

“Da “salvação” que o Cristianismo supostamente representaria, impulsionando cruzadas e jesuítas, à liberdade de culto e à, ao menos teórica, demarcação de terras indígenas, esbouçou-se a decência.”.

10. Apresente duas inferências que possam ser tiradas do seguinte trecho:“Descobriu-se a importância da diferença e ministrou-se a redução dos degraus da injustiça. Entretanto, não se sabe, ainda, viver sem tal escada.”.

11. “Um jornal era isso, o sobressalto da novidade e a garantia de que a nossa rotina continuava. Simultaneamente um espalhafato – um espalha fatos – e um repetidor das nossas confortáveis banalidades municipais.”

L.F. Veríssimo, O Estado de S. Paulo, 1810/98.

a. Interprete o jogo de palavras entre espalhafatos e espalha fatos, considerando-o no contexto do trecho acima.

b. A qual dos termos se refere à expressão “confortáveis banalidades municipais”?