A Brasilidade Verde-Amarela

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ABRASIL ADE VE E-AMARELA: naonasmo e reonasmo pausta A construção da nação: arte e política clima do primeiro -guerra de- termina alteraçõ fundamen- tais forma de פar o Brasil. Modificado o quadro inrcional, alta- rae coüenmen a ꝏnfiguração da par Brasil. A crise de valor que sacode o nário euroפu tem seus fle- x imedia aqui. rrendo me- táforas organiciss, ns inltuais exprimem a idéia da velha e da nova civilizao: o Brasil é o ornismo sadio e jovem, enquanto a Eupa é a o deden que deve falmente der lugar à América triunfan. Al in- ltuais interpretam o con como uma cormação da análise de Sפn- Mônica Pimenta Velloso gler que previa o fim da cultura euro- ia e a auro do novo mundo. Cai r rra, porn, o mit o li- ral da ' era inrnacional que tornava obsoles os nacionalismos. A idéia da grande comunidade que s e auto-regu- lava com פrfeição, distribuindo eqüi- tativanlente a ordem e o progreo, é desmascarada. O Brasil vê-se, então, frente a frente com os problemas. E eles são aves: quist os de imigran- , vazios demográficos, amplidão de terririo.. I quadro deno clara- mente a fragilidade da noa situação no panorama internaciol, amplian- do o nsma da cobiça exter. Em 1915, conferencia "A unidade da pátria",MooArinos prega a nec- sidade de campanha cívica dti- nada a criar a ção. o Brasil tem Not Este texto roi rilo em 1T c pubJido פla primeiro vez em 1987 no série CPOOC". A versão origi nnl sor reu flq ui (l1�UllS cortes c leve gen8 si ntelizndas. Et.lltór;, Rio de JOllCi. vaI. 6, n. 11, 1Z3, P. 89-1 t2.

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  • ABRASIL ADE VE E-AMARELA:

    nacionalismo e regionalismo paulista

    A construo da nao: arte e poltica

    clima do primeiro ps-guerra determina alteraes fundamen

    tais na forma de se pensar o Brasil. Modificado o quadro internacional, altara-se conseqentemente a oonfigurao da parte Brasil. A crise de valores que sacode o cenrio europeu tem seus reflexos imediatos aqui. Recorrendo s metforas organicistas, nossos intelectuais exprimem a idia da velha e da nova civilizao: o Brasil o organismo sadio e jovem, enquanto a Europa a nao decadente que deve fatalmente ceder lugar Amrica triunfante. Alguns intelectuais interpretam o contexto como uma confirmao da anlise de Spen-

    Mnica Pimenta Velloso

    gler que previa o fim da cultura europia e a aurora do novo mundo.

    Cai por terra, portanto, o mito liberal da 'era internacional que tornava obsoletos os nacionalismos. A idia da grande comunidade que se auto-regulava com perfeio, distribuindo eqitativanlente a ordem e o progresso, desmascarada. O Brasil v-se, ento, frente a frente com os seus problemas. E eles so graves: quistos de imigrantes, vazios demogrficos, amplido de territrio .. I Este quadro denota claramente a fragilidade da nossa situao no panorama internacional, ampliando o fantasma da cobia externa.

    Em 1915, na conferencia "A unidade da ptria",MonsoArinos prega a necessidade de uma campanha cvica destinada a criar a nao. Se o Brasil tem

    Nota: Este texto roi C$Crilo em 1084 c pubJicodo pela primeiro vez em 1987 no srie "Textos CPOOC". A verso origi nnl sor reu flq ui (l1UllS cortes c leve pn8Jngen8 si ntel izndas.

    ElJtlldo.llistr;cos, Rio de JOllCiro. vaI. 6, n. 11, 1903, P. 89-1 t2.

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    territrio, no tem ainda o que se pode chamar de nao.2

    Esta a palavra de ordem da poca: criar a nao. Da o tom de urgncia assumido pelo debate intelectual ento instaurado com vistas descoberta de um veredito seguro, capaz de encaminhar o processo da organizao nacional. O problema da identidade nacional assume lugar de relevo. Encontrar um tipo tnico especfico capaz de representar a nacionalidade torna-se o grande desafio enfrentado pela elite intelectual.

    A Revista do Brasil, lanada em 1916, reflete esse debate, propondo-se efetuar um reexame da identidade nacional. Seu editorial de lanamento esclarece que o objetivo da publicao criar um ncleo de propaganda nacionalista. Gilberto Amado, em discurso parlamentar pronunciado no mesmo ano, conclama o brasileiro a assumir a sua verdadeira identidade: "Sejamos cafuzos ou curibocas resignados .frocurando honrar o nosso sangue ... '

    1bmados deste sentimento de orgulho e resignao, os intelectuais brasileiros se auto--elegem executOle5 de urna misso: encontrar a identidade nacional, rompendo com um passado de dependncia cultural. Verifica-se, portanto, uma mudana radical na forma de conceber o papel do intelectual e da literatura. A idia corrente a de que o intelectual deve forosamente direcionar 6118S reflexes para os destinos do pas, pois o momento de luta e de engajamento, no se admitindo mais o escapismo e o intirnismo. Cabe, ento, ao intelectual evitar os temas de cunho pessoal: ele deve deixar de falar de si mesmo para falar da nao brasileira.

    O marco valorativo da obra literria passa a ser o grau maiOr ou menor com

    que exp'ressa a terra e a sociedade brasileira.4 Em Olavo Bilac esse nacionalismo literrio venl associado questo

    da mobilizao militar. A defesa da nacionalidade brasileira, segundo ele, s pode ser feita atravs do Exrcito, nica instituio capaz de restaurar a ordem no pas. Seus discursos assinalam a unio entre intelectuais de inclinao militarista e oficiais propriamente ditos. O patriotismo interpretado como um dever cvico, cabendo aos intelectuais - elementos da vanguarda social - assumi-lo integralmente.

    Ao desembarcar da sua viagem Europa, em 1916, Bilac pronuncia um discurso5 alertando para a urgncia da mobilizao intelectual em torno do ideal nacionalista. Duas questes adquirem relevo em seu pronunciamento: de um lado, a necessidade de se reformular a funo da literatura na sociedade; de outro, o novo papel a ser assumido pelo intelectual. Assim, a literatura brasileira deve deixar de ser apenas um ''templo da arte" para se transformar em uescola de civismo". Para levar a efeito tal princpio, o artista precisa abandonar sua 'rre de marfinl" e pr 05 ps na terra, que onde se decidem os destinos humanos. Porque dotados de dons divinatrios, os intelectuais so eleitos os '1egtimos depositrios da civilizao", tornando-se, portanto, os mais indicados para ensinar o amor pela ptriaH Nesta perspectiva, eles devem se transformar enl educadores, exercendo uma funo eminentemente pedaggca na sociedade.

    As idias de Olavo Bilac encontram repercusso imediata entre os intelectuais que, mais tarde, comporiam o grupo modernista Verde-Amarelo. Menotti Del Picchia defende a idia de que o intelectual deve se portar como um mestre em relao s multides, que necessitam ser educadas, assim como as crianas. E esta relao que vai assegurar o progresso e a cultura. Alm de mestre, o poeta deve assumir O papel de soldado a servio da ptria,

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    defendendo-a das invases aliengenas. O nome de D'Annunzio constantemente mencionado por Menotti como exemplo do "poeta-soldado" que soube abdicar de sua individualidade para lutar pelos ideais patritic06.7

    No perodo ps-guerra, a questo da organizao nacional passa a figurar como tema obrigatrio no debate intelectuaL Verifica-se uma refonnulao total de valores, na qual a poltica adquire papel fundamental. Alberto 'lbrres aparece como um dos principais guias da nova gerao, mais pelo tom de urgncia de sua obra e pela nfase conferida questo nacional do que propriamente por suas propostas polticas.H

    O depoimento de Cndido Motta Filho registra o estado de esprito que reinava no seio da intelectual idade brasileira sob o impacto da Primeira Guerra Mundial.9 O autor caracteriza sua gerao como sendo essencialmente pc-ltica por ter ficado entre duas civilizaes. Esta posio dramtica teria levado a que o problema da organizao nacional assumisse primazia absoluta. A arte deixaria de ser um caprichoso subjetivismo para interferir na prpria organizao da sociedade. Procurando desfazer a tradicional idia da incompatibilidade entre a arte e a poltica, Cndido Motta Filho observa que ambas se voltam para o ser humano. Enquanto a arte se dirige para a expresso, a poltica se volta para o exerccio da conduta. Alm do mais, argumenta ele, a poltica no destituda de razes metallSicas conforme a concebiam os positivistas, na medida em que trata da questo do destino.lO A arte, por sua vez, tambm tem o seu lado pragmtico, pois atravs do sonho que possvel projetar e dar margem realizao. Neste sentido, nos "povos poticos", como o brasi leiro, que encontramos as grandes reali-- 11 zaoes.

    Na constituio do projeto do Estado nacional, literatura e poltica caminham juntas como il'liIs siamesas. A arte definida como o saber mais capaz de apreender o nacional e, portanto, o mais apto para conduzir a organizao do pas. O mito cientificista do progl essa indefmido e todo o seu corolrio de valores j haviam sido desmascarados nos estertores da guerra. Razo, leis, desenvolvimento linear, padres civili zatrios etc. passam a ser vistos como representaes ultrapassadas de uma poca dada como encenada. Neste con texto, as teorias de Bergson, a valorao da intuio e da emoo mostramse mais atraentes, por oferecerem um novo lugar arte no campo do conhecimento. Lidando com a emoo e a intuio, a arte passa a ser consagrada como depositria de valores superiores, devendo sair da esfera do puro intimismo para exercer uma ao mais dinmica no seio da sociedade.

    Tais idias tendem a adquirir fora crescente entre 08 intelectuais brasileiros por tornarem patente a decadncia dos valores civilizatrios europeus. A viso pessimista do ser nacional, o atraso econmico do Brasil e os problemas racial e climtico so repensados em funo das modificaes determinadas pelo panorama internacional. Verifica-se, ento, uma tentativa de reverter a situao. Os fatores negativos atribudos nossa civilizao no o so, na realidade. Se aparecem assim porque as elites brasileiras se pensaram e pensaram o seu pas de acordo com a mentalidade europia. E se esta demonstra sua falncia, sua inaptido para gerir a comunidade internacional, no h mais sentido em continuar tomando-a como modelo.

    Nesse ambiente de reclJsa ao aliengena, considerado como responsvel pelo ceticismo que se abatera sobre as elites brasileiras, cresce a onda naciona-

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    lista. Alceu Amoroso Lima observa que o impacro do pc5s-guen a no nosso meio intelectual teria incentivado a "volta s nossas razes, que mais tarde n06 iriam levar reao modernista".12

    So Paulo: smbolo da modernidade e brasilidade

    Em nenhum ponro da nossa ptria ainda encontramos reunidas tantas

    possibilidades, tantos farores para a elabo,,!o de uma grande

    nacionalidade. E em So Paulo que est se formando a grande intuio, o

    gran.

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    motivo de inspirao dessa fase do mc>vimento modernista, na qual So Paulo se confunde com o prprio Brasil. De acordo com esse esprito ... to os livros de Mrio de Andrade Paulicia desvairada (1922) e de Oswald de Andrade Os condenados, obras que traduzem a perplexidade, a velocidade, o desvario, enfim, a prpria tragdia existencial e sc>eial acanetada pelo processo de industrializao-urbanizao da grande cidade.

    Concomitante ao clima de tenso, instala-se tambm o de euforia. Os jornais da poca enaltecem o proglessO da cidade de So Paulo, comparando-a com as grandes capitais europias. Seus jardins pblicos, avenidas, teatros e cinemas nada ficam a dever a05 de Paris; a construo da catedral no largo da S obedece ao modelo da ca tedral de Viena; o seu povo exem plar.Enfun, a idia recorrente: So Paulo representa o exemplo da modernidade e a imagem do pas futuro.17

    Alcntara Machado, tido como um dos cronistas mais perspicazes da vida paulista, no esconde o seu encanto pela urbanizao.

    ( ... ) em Santa Ceclia as caSQS se arastam respeitosamente para as rUAS passarem vontade. Higienpolis se enche de sombras. Do Piques at a avenida um despropsito de prdios se acotovelando. No Piques so prdios mesmo. Na avenida so palacetes. E a esto os anncios de novo: Cheurolet, Lana,.Perfume Pienvt, Cruzwaldina, Sabonete Gessy. Esverdeando, azulando e aVel'lIlelhando, sobretudo avermelhando de alto a baixo a arquitetura embaralha-d 18 a.

    A linguagem cinematogrfica registra o dinaolismo das transforll18es que fazem da provncia uma metrpo-

    le. No cosmopoHtismo da cidade os intelectuais paulistas entrevem o novo Brasil que se anuncia. Centro industrial, bero do movimento modernista, So Paulo corporifica o esprito do progresso e da modernidade.

    Menotti dei Picchia, nome j conhecido nacionalmente atravs de 6Uas crnicas no Correio Paulist=, historia com entusiAsmo as inovaes estticas introduzidas pelo movimento, apontando as obras de Mrio e de Oswald de Andrade como smbolo da nova gerao paulista. Oswald discursa na cerimnia de homenagem prestada a Menotti por ocasio do lanamento de sua obra As mscaras.19 Nessa etapa inicial do movimento modernista os paulistas esto unidos em torno de uma questo: combater seus adversrios passadistas para realizar a revoluo literria. So Paulo, segundo palavras de Oswald, surge como smbolo da prometida Cana que ir acolher as futuras geraes. De l, portanto, irradia o esprito moderno destinado a tomar conta de todo o pas.

    A viso ufanista de So Paulo traz um aspecto interessante: a desqualificao empreendida em relao ao Rio de Janeiro. A promiscuidade de suas praias, o aspecto anrquico de sua economia, a futilidade dos hbitos cariocas e a violncia e amoralidade do carnaval so objeto de inmeras crnicas e char publicadas no Correio Paulist=.20 At a questo da diferena climtica entre os dois estados aparece como fator favorvel ao progresso paulista. O clima frio propiciaria o conforto, a intimidade e a concentrao de energias no trabalho, enquanto o calor favoreceria a displicncia e a promiscuidade das ruas e praas.21

    O nome do estado paulista adquire significado simblico: como o santo bblico que se v investido de uma misso sagrada, cabe a So Paulo levar sua

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    mensagem ao Brasil, notadamente ao Rio de Janeiro, vtima do ceticismo.22 So Paulo aparece sempre como a terra do trabalho, do esprito pragmtico, da responsabilidade e da seriedade. Mais ainda. 'Iem o poder da sntese por ser capaz de unir energias aparentemente contradit6rias: a da ao e a da criao. Por isso So Paulo simultaneamente Hrcules eAp,

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    Os modernistas so unnimes no combate s estticas parnasiana, realista e romntica. O parnasianismo descartado enquanto gnero literrio ultrapassado por aprisionar a linguagem n08 cnones rigid08 da mtrica e da rima. A liberdade de expreeso a bandeira de luta do movimento, que reivindica a criao de uma nova linguagem, capaz de exprimir a modernidade.

    Thmbm o realismo criticado, na medida em que incidiria sobre valOles tid08 como retrgrados, tais como o cientificismo. OswalddeAndradese insurge contra a pintura figurativa do quadro de carneiros que se "no tivesse lzinha mesmo no prestava". Para o autor, a utopia uma dimenso do real, porque no 8Pf!:Das sonho, mas tambm um proteeto.28 Assim, o ideal figurativo, a extremada nfase no realismo so considerados barreiras criao artstica.

    Para Menotti, a crtica ao realismo adquire uma outra conotao. Ele associa realismo a pessimismo, observando que 05 autores realistas do sem pre uma viso distorcida do nacionaL Distorcida por sobrecarregar seus aspectos negativos, gerando sentimentos de derrota e incapacidade. Em Juca Mulato (1917), o autor procura criar umA nova verso do "Jeca-Tatu", fugindo ao estilo realista de Monteiro Lobato, que retrata o atraso e a misria do caboclo, em oposio frontal ideologia da grandiosidade e da operosidade paulista, to veementemente defendida pelos verde-amarelos. Aobra de Menotti acaba derivando, todavia, para uma "idealizao de base sentimental", sendo a vida do caboclo descrita de modo lrico e sonhador.29

    A objeo ao romantismo incide na nfase que este d ao sentimento, na sua tendncia tragdia e morbidez. Agora, a "alegria a prova dos nove". Oswald categrico: "E preciso extrpar as glndulas lacrimais". Na literatura

    modernista, o riso deeempenha uma funo catrtica, voltada pira a liberao de falsos conceitos eetticos, tiOO8 e sociais. Exige-se uma nova conscincia social capaz de refletir a complexidade do mundo moderno. Menotti tambm combate o romantismo argindo a nee cessidade de atualiwD do ser nacional. No entanto, eeta atualizao assume um tom s vezes dramtico e dilacee rante quando o autor sente

    (ou) uma necessidade instintiva de apunhalar (u.) esse q"aM duende (.u) que, de quando em quando, surge tona do (seu) ser atualizado para relembrar o pas sempre intimamente sonhado da cisma e da sentimentalidade.3O

    A incorporao ordem moderna compreendida como urbana e induse trial. Por isso torna-se dramtico ter uma Ualma de caboclo'" aprisionada na "gaiola anti-higinica da cidade".31 O acesso modernidade significa ento o acesso racionalidade, ao pragillatise mo, enfim, tica capitalista. Atravs de sua coluna no Correio Paulistann, Menotti defende esses valores e pleiteia a morte necessria do romantise mo. Em ''0 ltimo romntico", o autor lamenta o carter anacrnico de um suicdio amoroso, argumentando que os novoe tempos exigem que o amor passe para o domnio de uma simples operao financeira, devendo essa mesma dinmica OCOI'l er no nvel da vida pessoal, social e poltica.

    Menotti prope, ento, o "patriotismOeprtico" baseado no lema "Amar o Brasil trabalhar". Na era industrial, preciso sacrificar o lirismo e o "nirvaniSIDO contemplativo" e 886umir uma perspectiva eminentemente utilitarista e pragmtica. A natureza deve deixar de ser, confol"me o fora no romantismo, objeto de culto potico para se

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    transformar em objeto de lucro e de investimento. A poesia da nossa riqueza econmica deve predominar no Brasil novo. Esse Brasil representado por So Paulo, considerado como centro do trabalho, de atividades prticas, utilitaristas e inteligentes. A velha Faculdade de Direito - antigo ncleo da boemia - transforula-se numa "fbrica de bacharis" que devero difundir a cultura brasileira.32

    Na crtica ao romantismo e a todo o seu corolrio de valores (devaneio, escapismo, culto natureza, boemia) esboa-6e a tica do homem empreendedorideologia tpica dos pases europeus no comeo do processo de industrializao. Nela encontram-se os fundamentos ideolgicos da doutrina dos verde-amarelos. AD defender o esprito pragmtico, o poeta-educador e o soldado, o culto da operosidade e do progresso, o grupo, na realidade, est apontando So Paulo como o modelo da nao. Pelo alto grau de desenvolvimento industrial e pela vanguarda de intelectuais que produziu, o estado deve necessarialnente exercer o papel de lder.

    A partir do denominado segundo tempo modernista (1924 em diante) consolidam-se as diferenas entre as vrias correntes do movimento. Se, num primeiro momento, a questo da atualizao da nossa cultura uniu indistintamente os modernistas na luta contra os gneros literrios tidos como ultrapassados, agora o problema muda de configurao. Para modernizar o Brasil urge conhec-lo, considerar as

    -

    suas peculiaridades e propriedades. E neste momento, p:>rtanto, que se articula a proposta modernizadora - voltada para a atualizao - com a questo da brasilidade.33 O ingresso na modernidade deve ser mediado pelo nacional. A grande questo que se coloca dar conta do nacional. E nesse ponto

    vo se situar as divergncias quanto forma mais adequada de apreend-lo.

    A geografizao do Brasil

    Cada um de ns tem um ltecho de paisagem dentro de si. Temos que

    flX-lo em tudo quanto escrevemos. Cassiano Ricardo

    O que o Brasil? Um pas fragmentado pelas diferenas ou um conjunto homogneo? E o regionalismo? Seria um sinal do n0550 atraso, um obstculo atualizao da cultura brasileira ou, pelo contrrio, o deJXlsitrio da nossa verdadeira identidade?

    So essas as questes que aquecem o debate intelectual modernista, criando cises, cOIuses e alianas. Se, de certa fotmA, a idia do Brasil como conjunto cultural que se impe pela sua originalidade unnime, a constatao do fato no dilui as divergncias. Lanado em 1926, oM anifesto regiona,. listadoNorckste registra o seu protesto contra a homogeneizao, criticando o estilo citadino de vida, a cultura urbana ocidentalizada, enfim, a nova re alidade do ps-guerra. O grupo VerdeAmarelo encampa em parte esta crtica, notadamente a reao ao cosmoJXl litismo. Acusados de fazerem uma literatura regionalista, os verde-amarelos respondem dizendo que os acusadores que perderam a dimenso do nacional por estarem comprometidos com os modismos estrangeiros.

    Entre 1925 e 1926, os verde-amarelos rompem com os grupos Terra Roxa e Pau Brasil. Desencadeia-se a partir de ento uma verdadeira polmica que tem como pano de fundo a questo da relao regionalismo-nacionalismo. Para os verde-arnarelos, as demais corren tes modernistas cometem um el I o ruo-

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    damental: encaram O regionalismo c0-mo motivo de vergonha e de ali aso. Isto acontece, segundo seu ponto de vista, porque esses intelectuais teimam em ver o Brasil "com olhos parisienses", o que leva, em decorIncia, a que qualquer ma nifestao de brasilidade seja reduzida a regionaJisDlo.34

    Para o grupo Verde-Amarelo, o que est em primeiro plano o culto das nossas tradies, ameaadas pelas influncias aliengenas, tornando-se, JX>r isso, urgente a criao de uma "JlQltica de defesa do esprito naciona!".35 A1!.sim, a valorizao do regionalismo co loca-se como imprescindvel porque poesibilita "delimitar fronteiras, ambiente e lngua local". E mais: s o regionalismo capaz de dar sentido real no tempo e no espao, j que o ritmo da terra local. A1!.sim, o brasileiro no deve acompanhar o ritmo da vida universal, pois este abstrato, genrico e exterior. A alma nacional tem um ritmo prprio que deve ser

    36' respeitado custe o que custar. E este senso extremado do localismo que marca a doutrina verdeamarela, diCe renciando-a do ide rio modernista.

    Ao aplcscntarem o caipirismo como elemento definidor da brasilidade, os verde-amarelos se indispem com o grupo antropofgico e com a conente liderada por Mrio de Andrade. Criticam a filiao europia do primeiro e o intelectualismo da segunda, posicionando-se contra tudo o que no consideram ser genuinamente nacional. As idias do particular, da fronteira e da guarda do primitivo passam a constituir 85 bases do seu nacionalismo cultural.

    'Ibda a polmica desencadeada sobre o que significa ser brasileiro deixa clara a relevncia da questo regionalista no interior do modernismo, mareando bem as resistncias tentativa de redefini-la de acordo com novos parmetros. Apesar de o modernismo no

    se assumir como anti-regionalista, na medida em que confere notria importncia ao folclore e aos costumes das diferentes regies culturais brasileiras, ele introduz uma nova concepo do regional, acrescentando elementos que viriam mediar a relao regionalismo-nacionalismo.

    'Ibda a polmica desencadeada sobre o que significa ser brasileiro deixa clara a relevncia da questo regionalista no interior do modernismo, marcando bem as resistncias tentativa de redefmi-la de acordo com novos parmetros. Apesar de o modernismo no se assumir como anti-regionalista, na medida em que confere notria importncia ao folclore e aos costumes das diferentes regies culturais brasileiras, ele introduz uma nova concepo do regional, acrescentando elementos que viriam mediar a relao regionalismo-nacionalismo.

    A1!. diferenas existentes entre as vrias regiiiee brasileiras passam a ser vistas como parta. de uma totalidade COI porificada pela nao. A perspectiva de anlise extrair do singular os elementos capazes de infonnar o conjunto. Portanto, a viso do conjunto cultural que deve direcionar a pesquisa do regional. Mrio de Andrade, um doa intelectuais mais representativos do movimento, defende com preciso essa idia atravs da teoria da "desgeografizao" - prooesso atravs do qual se descobre, alm das diferenas regionais, uma u dat:k subjacente relativa sua identidade.37 Tal unidade deve constituir o objeto ltimo da pesquisa do regional, pois nela reside sua inteligibilidade, sua razo de ser. O regional em si no tem sentido.

    Atravs da teoria da "desgeografizao". Mrio prope uma nova maneira de se pensar o Brasil. At ento a literatura regional vinha interpretando a realidade a partir da geografia e do

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    meio ambiente, priorizando sempre o fator espacial. Agora, entram as questes temporal e histrica. De acordo com esse universo conceitual, Mrio procura interpretar o Brasil, situandoo no quadro internacional.

    O regionalismo aparece como uma mediao necessria para se atingir a nacionalidade, assegurando O ingl'esso do pas na modernidade. No quadro internacional, a parte Brasil deve ser apreendida como uma totalidade indivisa, coesa e unitria. Assim, o folclore e as tradies populares das vrias re gies brasileiras - do Oiapoque ao Xudevem ser valorizad03 apenas como elementos constitutivos da prpria nacio-

    o

    nalidade. E portanto a idia de unidade cultural que interessa resgatar.

    Esta percepo do nacional que defende a eliminao das partes em favor do conjunto torna-se uma das idissguias do modernsmo. No entanto, a prpria dinmica do movimento vai mostrar que ela no consensual. O obstculo sua aceitao residia na predominncia de forte tradio regionalista de cunho ainda local e geogrfico. O comentrio que Srgio Milliet enderea ao livro de Guilherme de Almeida Raa um exemplo caracterstico dessa viso ideolgica. Elogiando a obra pelo seu alto sentido nacionalista, Milliet assim se refere ao seu autor: "Guilhel me profundamente brasileiro. Digo mais paulista.'.3il Mrio de Andrade, em carta dirigida a Srgio, o advertiria contra o sentido simblico, herico e grandiloqente atribudo palavra paulista. Argumenta ser necessrio abandonar tal viso, pois o Brasil tem sido um "vasto hospital amarelo de regionalismo" e ''1> ' ' h' t

    ' ,,39 81IT15mO IS rico . A polmica Mrio uersus Milliet

    significativa por registrar os resqucios de uma tradio regionalista de fortes bases locais. Atravs dela possvel entrever a }X>stura ambgua assumida

    por alguns intelectuais frente questo do nacionalismo. Presos tradio loca lista, eles tendem a identificar a sua regio de origem como ncleo da

    nacionalidade. E o caso de Milliet: para ser autenticamente brasileiro preciso ser paulista!

    Este tema estar sempre presente nas elaboraes de um grupo modernsta: o Verde-Amarelo. Para estes intelectuais, a construo de um projeto de cultura nacional deve comportar um retorno idlico s tradies do pas. No manifesto NMngau, os verde-amarelos rememoram o perodo colonial como o momento ureo de nossa civilizao devido integrao pacfica entre o elemento colonizado e o colonizador. A cultum brasileira sempre percebida como uma esfera isenta de conflitos, onde reina a integI ao e a ha. litOnia. O elemen to tupi eleito o cerne da nacionalidade brasileira por simbolizar a passividade, identficada como o canal perfeito de absoro tnica e cultural. A chegada dos portugueses ao Brasil teria inaugurado um tempo que no se esgotou simplesmente no processo de colonizao, mas que permanece ao longo de toda a nossa histria devido plenitude de seus valores.4o

    Observa-se nessa perspectiva o predomnio de uma viso pitoresca e esttica da tradio, uma vez que o passado passa a coexistir com o presente. lWmpe-se com a concepo linear do tempo: passado e presente deixam de ser con cebidos como etapas sucessivas para ingressarem numa mesma realidade. Tal percepo da histria que tende a privilegiar o espacial sobre o temporal constitui uma das caractersticas centrais do pensamento conservador, de acordo com o j consagrado estudo de M nnh 41 a . eln.

    Ao adotarem esta concepo da tradio, 06 verde-amarelos mais uma vez se distanciam do iderio modernsta.

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    No por defenderem a tradio como requisito para a elaborao de um projeto de cultura nacional. Nesse aspecto no h discordncia; todos 08 modernis tas esto convencidos de que s a partir do conhecimento de nossas ti adies possvel encontrar um caminho prprio, urna cultura de bases nacionais. BU8 cando os tmos definidores da identidade nacional, Mrio de Andmde cria o conceito de "tradies mveis". Atravs desse instrumental, o autor procura resgatar a dinmica das manifestaes da cultura popular e, ao mesmo tempo, garantir a permanncia do ser nacional. Mrio chama a ateno para o aspecto positivo das "t.radies mveis" na medida em que, movimeniando-se atravs dos tempos. elas atualizariam as mam festaes da cultura popular. A perspectiva do autor histrica, uma vez que evidencia sua preocupao em encontrar para o Brasil uma temporalidade prpria no quadro internacional. 42

    05 verde-amarelos no compartilham desse ponto de vista, pois consideram a tradio um valor que extrapola o contexto histrico. Assim, ela transcende o tempo cronolgico para se fixar no espao, no mito das origens. Este mito cria um tempo ideal que deve ser revivido, retomado, pois nele reside a brasilidade. A tradio permanece, portanto, aflXBda em um momento e espao precisos: eles so plenos de significados. No h que atualiz-la, conforme o quer Mrio de Andrade, j que ela no pertence ao temporal, mas ao espacial (So Paulo).

    Este contmponto entre o iderio verde-amarelo e as teorias de Mrio de Andmde tem como objetivo mostmr distncia que separa o referirt... grupo dos ideais modernistas no que se refere questo do regionalismo. Concebendo a tradio de forma espacial, o grupo busca recuperar o tempo mtico, localizando na regio paulista. Se em MOr

    cunaina (1928) visvel o esforo de Mrio para superar a concepo geogrfica do espao, em M artim Cerer (1926), de Cassiano Ricardo, encontmse mais do que nunca pJ'esente a geografizao da realidade. Mas vamos por partes.

    Para Mrio, o Brasil uma entidade homognea na qual as diferenas regionais devem ser abstmdas. Por isso seu personagem Macunama movimenta-se livremente pelo espao da brasilidade. Assim, sua trajetria no segue a lgica dos roteiros possveis, mas inventa uma espcie de "utopia geogrfica" que vem corrigir o grande isolamento em que vivem 08 brasileiro5.43 Sobrevoando o Brasil no "tuiui aeroplano", o heri COllBegue descortinar o mapa da sua terra. Este episdio rico de significados. Encontrar a identidade nacional significa no perder de vista a viso do conjunto. Para levar a efeito tal projeto, preciso, ento, se deslocar dos estreitos limites geogrficos. Sobrevoar o Brasil para v-lo na sua inteireza e complexidade. Assim, a perspectiva geogrfica abandonada, por impedir que se atiIa

    ,

    uma viso do conjunto. E este o aspecto para o qual Mrio de Andrade quer chamar a ateno na elaborao de um projeto de cultura nacional.

    J no Martim Cerer verifica-se o inverso: Cassiano Ricardo cria 08 "he_ ris geogrficos" que iro realizar a epopia bandeirante. O ponto de partida das incurses tem um retorno predeterminado: So Paulo. O percurso circular, cabendo aos heris realizar a ''psulistanizao'' do Brasil. Isto por

    , que os valores desta civilizao sinteti-zam a prpria brasilidade.

    O contraste entre as duas obras flagrante: a primeira constri a figura do "heri sem nenhum carter", e a segunda, a do 'rasil dos meninos, poetas e heris". Flvio Koeth4 sugere

  • 100 ESTUDOS HlSTIUCOS - IO!l3i1 1

    que a figura do heri, presente em qlJDse toda narrativa Hterria, se configura como elemento estra tgico para decifrar um texto. Rastrear o percurso e a tipo-logia do heri corresp:mderia a uma forma de captar as "pegadas do sistema social nosistema das obras", No caso dos dois autores, a figura do heri - seja ele inspirado no pico (Cassiano J.'ticardo) ou no pcaro (Mrio de Andrade) - traduz a prpria imagenl do Brasil. 'fumos, ento, o confronto de duas vises sobre a nacionalidade: a de Mrio, que em aberto, irnica e inten'Ogativa porque voltada para a dificil busca da identidade nacional. Busca esta que pode acabar em um logi o, em um verdadeiro beco sem sada. O personagem Macunama no corporifica apenas qualidades consideradas positivas, mas inclui todas as fraquezas e vacilos do ser nacional que, dilacerado entre duas culturas, busca a sua estratgia de sobrevivncia. Este heri, ou este anti-heri, o prprio Brasil: ambguo, conflitante, em constante procura de identidade. A diversidade de raas, culturas e dominaes tece a "roupa arlequinal" do brasileiro, na qual se misturam o "tango. a bran-

    . ,, 45 p ' h " cura e pIa . 01' 1550, o . el'Ol senl ne-nhum carter, o desenraizado, o descontnuo ...

    J o heri ricardiano aquele que realiza a "epopia dos trpicos", Ele pleno de atributos por sua capacidade de enfrentar dificuldades, seu esprito aguerrido, seu altrusmo mpar. O engrandecimento e a dignidade desse heri so sem", reforados pela dimenso trgica. G Como decorrncia desta viso, temos um outro retrato do Brasil: acabado (no sentido de no afeito a dvidas), grandiloqente e laudatrio. Contrapondo-se "heterogeneidade Dlacunanlica do nacional", vemos instalar-se a homogeneidade.

    Em resumo: enquanto a obra de Mrio aponta para uma perspectiva hist-

    rica (mesmo que limitada), crtica e universal, a de Cassiano Ricardo refora a viso geogrfica de cunho estritamente localista.

    Para os verde-amarelos, So Paulo se apresenta como o cerne da nacionalidade brasileira, justamente pela sua configurao geogrfica. Aoriginalidade da geografia paulista investiu a regio de um destino especial: ser o guia da nacionalidade brasileira. O argumento se desenvolve da seguinte forma: diferentemente das demais regies do pas, em So Pa ulo os rios col'tem em direo ao interior. Este fato teria obrigado os paulistas a caminharem em direo ao serto, abandonando o litoral. Por uma questo de fata lidade do meio ambiente, eles se tornaram, ento, bandeirantes e desbravadores. Ao se internarem nos sertes, os bandeirantes teriam abdicado dos falsos valores do litoral-aliengena para encontrar os mes do Brasil-autntico, illue o rural. Em ''Cano geogrfica',4 transparece claramente a oposio litoral-serto, e a associao geograf

  • A BRASII.IDADE VERDEAMAREt.o\ 101

    cobrir novos horizontes eaventuras. Por isso, o habitante do litoral propenso ''nostalgia do exotismo", que o leva fre qentemente a importar idias e ma. das, grando revolues e desordem Sl>cial.

    A imagem da sereia simboliza a atral>-traio que o litoral exerce sobre os seus habitantes, enquanto a tetla-es sa repI esenta a fidelidade e o porto seguro. Tal discurso potico bU8C8 mostrar que So Paulo optou pelo caminho certo, ao contrrio, por exemplo, do Rio de Janeiro, vtima do fascnio europeu. Graas sua reserva natural, ao seu esprito conservador, sobriedade e tenacidade, o paulista soube se precaver contra os sortilgios estrangeiros. Refugiando-se nas fontes nativas, ele se mostrou capaz de encarnar o esprito mais intenso da brasilidade.49 por isso que cabe a So Paulo exercer o papel de guardio das verdadeiras tradies brasileiras, Assumindo a vanguarda no conjunto nacional.

    No iderio verde-amarelo, o Brasil sempre apontado como motivo de orgulho: de um lado, ele o gigante, de outro a criana. Apesar da aparente disparidade, as metforas convergem para urna idia matriz: a de potencialidade. Quando o gigante acordar, quando a criana crescer ...

    A histria do Brasil apresentada como testemunha da nossa grandiosidade. E fato curioso: a geogra{la que escreve esta histria de grandes feitos e heris ... Porque no Brasil, diferentemente dos pases europeus, a categoria espao que explica a civilizao:

    A ptria, nos outros pases, uma coisa feita de tempo; aqui todaespa.o. Quinhentos anos q' Ia"" no passado para uma nao. Por isso, ns a compreendemos no plesente, na sn-

    od" d , 50 te... pr Igl0S8 o nosso paIS.

    No seio da tradio filosfica ocidental, desde os fins do sculo XVII, o fa tor tempo j aparece associado idia de acrscimo e aperfeioamento, prenunciando 8S noes de evoluo, civilizao e progresso. De acordo com esse quadro de referencias o Brasil seria desqualificado, e na qualidade de povo primitivo representaria a "infncia do civilizado".5

    A idia do Brasil-criana encontra certo consenso entre as elites intelectuais brasileiras, vindo a ser constituir em vertente expressiva da nossa tradio poltica. O grupo Verde-Amarelo a absorve e consagra, buscando, ao mesmo tempo, mcxlificar os marcos valorativos que a infoJ'mam. Ou seja: ao invs de o fator temporal entrar como elemento abalizador da superioridade na histria das civilizaes, agora entra o espacial. O tempo paSSQ a ser associado idia de esgotamento, crise e passado, enquanto o espao identificado idia de potencialidade, riqueza e futuro. Se o critrio temporal serviu at ento para explicar a evoluo das velhas civilizaes, o espacial vai definir o Brasil, garantindo a sua originalidade no quadro internacional. Chegamos ao ponto nevrlgico da questo: brasilidade = espao, territrio, geograf18.

    Em pleno modernsmo, os verdeamarelos atualizam o pensamento de um autor que fora estiglnatizado pelo movimento: Afonso Celso. Dele retomam a identificao entre nacionalismo e territrio. A extenso territorial do pas aparece como fator determinante de sua histria, que ser sempre gI andiosa porque deve reeditar a epopia das Bandeiras.

    O mapa do Brasil se transforma no nosso 81 ande poema nacional, deelocando-se do domnio puramente geogrfico para o tico ao tomar a forma

    62 de uma harpa.

  • 102 ESTUDOS HISTRICOS -1993111

    Esta transmutao do objeto implica a sua imediata sentimentalizao:

    ... Ergo-me para olhar o mapa, com amor. O sentlnento da ptria uma eucaristia. Cada ponto da carta grfica me evoca uma lembrana. 53

    So as lembranas que geram o sentimento da ptria, o senso profundo de sua unidade, a par das diversidades. A "totalidade da nao" um mistrio, comunho profunda que no pode ser decodificada pelo intelecto. Esse tipo de pensamento que desqualifica o uso do intelecto vendo-

  • A BRASIUDADE VERDEAMARELA 103

    es do intelecto. No conhecimento no deve haver mediao, mas oomunho: O sentimento da ptria uma eucaristia ... Os verde-amarelos consideram a viso crtica do nacionalismo falsa por se re fugiar no esprito de anlise, o que denota incapacidade de criar, de apreender, de intuir. Da a identificao do nacionalismo com o sentimento: ele de-ve ser "corao, sangue e crebro".61 Na construo do nacionalismo as categorias do intelecto so sempre as ltimas a atuar. Como na literatura romntica, o impulso reflexo confundido com "devaneio ocioso". Ao invs da pesqujsa e auto-reflexo, o contato direto com a me e mestra natureza que fala pela voz

    -

    da geogl afia. E ela que cria a nacionali-dade, fazendo prevalecer o espacial sbre o temporal. Basta, portanto, rendermo-nos ao fascnio do nosso habitat, integrai mo-nos nele, para seI'UIOS nacionalistas autnticos ...

    No debate modernista a controvrsia do nacionalismo aparece de fOj'llla clara quando se distingue brasidade e brasileirismo. Qual das expresses seria a Dlais adequada para exprimir o verdadeiro sentido do nacionalismo? A brasilidade, identificada como estado natural de esprito, diz respeito intuio de um sentimento nacional, visceralmente brasileiro. J o brasileirismo associado a sistemas fU08ficos, escolas e partidos.62

    Os verde-amarelos defendem a brasilidade, argumentando que esta permite a comunho natural do homem com o meio ambiente. Ao intelectual designada uma misso: a de criar a conscincia nacional, removendo os obstculos que dificultam a comunho homem-meio. E quais aeriam esses obstculos? As idias aliengenas, o mal da inteligncia , o mal urbano. O esprito citadino de nossas elites visto como uma verdadeira catstrofe, na medida em que distancia o intelectual

    do seu pas. Um exemplo de intelectual alienado Rui Barbosa, criticado pelo seu saber livl esco e inteligncia teri ca, fatores que o teriam irremediavelmente afastado do Brasil. J Euclides da Cunha apontado como modelo do intelectual brasileiro, porque sua obra fala do pas, que rural.

    Na ideologia do grupo a viso antittica rural-urbano aparece intimamente associada idia de espao e tempo. Assim, a cidade encarnaria a noo de tempo, porque sofreria a influncia do sculo) enquanto o campo significaria o espao, a influncia da terra e da natureza. E estas seriam as verdadeiras foras nacionais ...

    A cidade representa o cosmopolitsmo, na medida em que projeta o homem no mercado) dist&nciando-o da nature za. Este distanciamento gera tipos falsos como o homem de gabinete, da fbrica e da burocracia. E o brasileiro no sto; sua mentalidade caipira, desurba.nizada e rude. Os verde-smarelos consideram o esprito citadino um dos grandes males do Brasil por trair nossa ndole primitiva e nossas mires rurais) gerando problemas e ideologias que no combinam com a realidade brasileira. O fenmeno comunista ento apontado como um exemplo de corpo estranho organizao do pas, pois representaria a "antecipao histrica de um sculo". Por outro lado, se o esprito citadino antecipa problemas, ele tambm retarda solues para as verdadeiras questes nacionais. O cangao seria um desses problemas no resolvidos.

    O prognstico sombrio sobre a realidade brasileira endereado s elites intelectuais. So elas, segundo os verdeamarelos) 8S responsveis pelo nos so descompasso traduzido ora na antecipaD de problemas ora no atraso em resolv-los. Exige-se, portanto, uma nova postura do intelectual: no mais o "saber livresco", mas o saber prtico.

  • 104 ESTUDOS HlSTRICOS - 1993/11

    Para conhecer a sua terra, o intelectual dever aprender geogra(w., nico saber capaz de coloc-lo em contato direto com a realidade e com os fenmenos naturais. Tal idia defendida por Plnio Salgado que, na sua Geografia sentimental, narra suas viagens pelo Brasil. Detalhe importante: leva apenas um livro na bagagem: O problema ncv cioruzl., de Alberto 'lbrres. E Plnio vai confirmar a tese do seu mentor: o Brasil verdadeiro rural...

    1bda essa retrica converge para um ponto: a urgncia de integrao interior litoral, espao-tempo, enfim, a busca da homogeneidade. Se o litoral designado como a parte falsa do Brasil, nem por isso ele deve ser esquecido. Urge nacionaliz-lo. E o serto deve comandar esse processo, ou seja. deve dar sua alma cidade para em seguida receber os beneficios oriundos da civilizao. G3 E a alma brasileira se exprime atravs do folclore, dos cantos nativos e das lendas, que so os elelllentos responsveis pela integrao do rural com o urbano.

    Para os verde-amarelos foi So Paulo que deu incio ao processo nacionalizador. Atravs da epopia das Bandeiras, em pleno sculo XVI, o estado partiu para a conquista do territrio. Cabe a So Paulo, portanto, coordenar todas as vozes regionais, assegurando a comunho brasileira. Este o objetivo do Centro Paulista, sediado no Rio de Janeiro. Em 1926 a entidade promove uma srie de conferncias sobre o papel pioneiro de So Paulo na fonnao do Estado nacional. Os verde-amarelos aplaudem a iniciativa argumentando que a providncia histrica havia outorgado ao estado este destino, pois fora ele que elineara o "nosso gigan tesco mapa".

    A associao nacionalismo-territ rioherosmo constitui Ullla das bases

    do ide rio verde-amarelo. E atravs dela que sempre se estabelece a rela-

    o So Paulo-brasilidade, So PauloEstado nacional. Todas as conferncias do Centro Paulista vo girar em torno desse eixo. A histria de So Paulo sintetiza a prpria histria do Brasil, desde a colnia at os dias atuais.65 E a geograflB privilegiada da regio que explica o seu papel de vanguarda . . .

    Rememorando o que j foi dito: o grupo Verde-Amarelo atribui originalidade da rede hidrogrfica paulista o papel-diretor da regio no seio da nacionalidade. Os rios explicam o fenmeno bandeirante, que por sua vez propiciou a integrao territorial. Da mesma forma, foi o clima que tornou possvel a adaptao dos mais diversos tipos humanos regio.

    O grupo Verde-Amarelo revive a epopia das Bandeiras, mostrando que, desde o sculo XVI, So Paulo j estaria imbudo de uma misso: a da integrao territorial e tnica.

    o imigrante se incorpora "alma coletiva"

    No interior da ideologia modernista, o tema da imigrao ganha um lugar especial, marcando sua presena nas obras mais expressivas do movimento: basta lembrar a figura do gigante Pietro-Pietra em Macunaima (1928) e a preceptora alem em Amai; verbo intransitivo (1927), alm dos v rios contos de Alcntara Machado sobre os imigrantes italianos em So Paulo.

    A questo deve ser necessariamente enfrentada, pois o que est em pauta a constituio de um projeto de cultura nacional. Qual seria, ento, o papel do imigrante no novo contexto? Constituiria uma ameaa nacionalidade ou um elemento passvel de ser integrado?

    A maioria dos intelectuais paulistas tende a assumir a segunda posio, no

  • A BRASll.JDADE VERDE-AMARELA 105

    deixando, no entanto, de mostrar o choque cultural ocasionado pela imigrao. Mrio de Andrade se refere ao fenmeno da modernidade paulista como a "mistura pica das raas". J Oswald aponta So Paulo como o modelo para se repensar a nossa formao tnica:

    A questo racial entre ns uma questo paulista. O resto do pas, se continuar conosco, mover-se-. como o corpo que obedece, emps do nosso caminho, da nossa ao da nossa von-

    GG tade.

    Os modernistas criam uma nova verso sobre a nossa fOI mao tnica diversa da clssica teoria da "trindade racial" composta pelo branco, o neglO e o ndio. Esta teoria, segundo eles, apICsentaria uma profunda defasagem em relao nova realidade brasileira, muito mais complexa e dinmica. A associao imir grcu;o-nuxJernirzde desfruta, portanto, de certo consenso entre 05 intelectuais paulistas.

    Para os verde-amarelos o Brasil no pode ser definido pelo "selvagem anllOpofgico", pelos mestios miserveis, "mulatos bonachos" e ''mucamas sapeC:as".G1 Sua recusa da Utrindade racial" se alia ao combate a uma imagem pessimista da nacionalidade. Se "o passado nos condena", o futuro promissor ... No basta, porm, associar a questo da modernidade da imigrao: necessrio torn-Ia compatvel com a proposio que se tornou sua bandeira de luta: So Paulo como ncleo da brasilidade. Como estabelecer um nexo entre a idia de So Paulo constituir a representao mais autntica do nacional e o fato de ser o maior centro de imigl ao? Como defender os beneficios oriundos da imigrao sem entrar em chCXJ.ue com o nacionalismo? Enfun, como os verde-amarelos vo conciliar seu virulento anticosmopolitis-

    mo, o seu nacionalismo defensivo, com a exaltao da flgllrR do imigrante?

    A primeira vista tudo pareoe muito contraditrio. Mas O grupo tem uma resposta: devido ao seu passado glorioso, So Paulo corporifica a prpria idia de nao. Logo, a regio imune s descaracterizaes e ameaas aliengenas. Em outras palavras: em So Paulo, o sentimento de brasilidade to forle e est to profundamente enraizado que se torna mais fcil O imigrante contagiar-se por ele do que exel1,er qualquer ao que lhe seja prejudicial. Assim, a "alma coleliud' da regio capaz de homogeneizar todas as diferenas raciais, englobando-as em um todo orgnico e coeso. A unlloI'luidade de valores -como o senso de realidade, instinto de expanso econmica e gosto pelas categorias objetivas do trabalho - imposta naturalmente.G8

    Com base em teis argumentos, os verde-amarelos alegam ser despropositada a crlica dirigida a So Paulo enquanto terra conquistada pelos estrangeiros. Revertem a acusao: de antinao, So Paulo passa a ser a nao capaz de abrasileirar todos os imigrantes. Reavivando as nossas tradies, reverenciando os nossos cultos cvicos e ritualizando a nossa histria, o estado paulista o exemplo mais vivo da brasilidade junto aos imigrantes.69

    O grupo posiciona_ contra o "nacionalismo jacobino" que tem como lema ''O Brasil dos brasileiros". Argumentam no ser necessria tal afil'll,so, j por demais evidente na nossa Constituo, histria, sangue, liVh e discursos. O imigl ante, segundo os verde-amarel06, se caracteri:za pelo sentimento de integrao na comunidade nacional. Embora, s vezes, se verifiquem algumas ten dncias no sentido de quebrar esta unidade - como o projeto de ligas de descendentes italianos -, elas no tm continuidade. So apenas vozes isoladas

  • 106 ESTUDOS J IISTOruCOS - IDOS/li

    que lutam contra os sentimentos patriticos.

    O grupo defende, ento, o ''nacionalismo integralizador", apontando a influncia estrangeira, se reduzida ao denominador comum da nacionalidade, como benfica ao pas. O imigrante sempre visto como elemento integrvel, capaz de contribuir para o enrique-. t d - 71 ClIDen o a naao.

    No bojo de toda a discusso fica clara uma idia: a positividade de nosso meio, sempre flexvel absoro de novos ele-

    mentos tnicos. E o mito da democracia racial... O problema do choque cultural advindo da miscigenao est fora de cogitao, pois o que predomina a perspectiva de integl'afro pac{tCa. Assim, entre 05 verde-amarelos, a pl'oblemtica da imigrao ganha um tratamento que a diferencia do conjunto do iderio modernista. Explicando melhor: o imigrante perde sua identidade original para se integrar no "organismo etnolgico nacional". Verifica-se quase que uma reificao da figura do imigrante: ele se transfol'ma em instrumental no s da modernidade, como tambm da prpria brasilidade!

    Mas vamos por partes. Primeiro a idia do imigrante enquanto elemento introdutor da modernidade. Entra aqui a questo do trabalho. So Paulo aparece como exemplo da modernidade JXlrque foi a primeira regio a abolir o trabalho escravo, favorecendo o afluxo de correntes imigratrias. Mas, note-se bem: no foram propriamente os imigrantes os responsveis pela industrializao paulista. Para os verde-amarelos, ela se explica antes pelo mpeto empreendedor dos paulistas do que pelo trabalho do imigrante; o imigrante tornou-se trabalhador porque sofreu as influncias benficas do meio. Logo, a herana bandeirante que explica o progle5S0 e a modernidade de So Paulo ...

    O afluxo de imigrantes para a regio explica tambm o fato de o modernismo ter ocorrido em tellas paulistas. Devido ao contato direto com os centros civilizatrios europeus, todas as fOl'mas de pensamento chegam a So Paulo com uma "rapidez telegrfica". Mais uma vez aparece a idia do imiglante enquanto veculo de atualizao e de modernizao da sociedade brasileira. S que agora em termos de cultura. Arevoluo esttica a poderia ocon"r, portanto, em So Paulo porque l estaria se formando a nossa verdadeira identidade. Identidade esta que se caracteriza por uma complexidade proveniente da ''rebeldia ncola", da "inquietude ocidental" do ''nirvarusmo do oriente" e da , "audcia dos oow-OOys e aventureiros",

    Os verde-amarelos atribuem nova arte brasileira uma funo inadivel: refletir a "tr bablica da diversidade racial". Tal diversidade, apesar de seu aspecto catico, sempre valorizada pelo grupo por abrigar em seu interior a idia de sintese. Se nossa raa originalmente heterognea, ela homognea na sua essncia, porque obedecemos "futalidade de um destino" ... A argumentao fica mais clara quando os verde-amarelos anunciam o advento do homem novo. O homem que realiza a sintese prodigiosa, pois rene em si a "soma de virtudes positivas" de todas as raas, constituir um dos JXlVOS "mais

    73 belos e msculos do mundo",.. E exa-tamente nesse ponto que se d a articulao imigraJ:>-brasilidade via raa. O abrasileiramento do imigrante uma fatalidade, JXlis os que vm de fora so absorvidos, pel"mitindo, assim, o enriquecimento do esprito nacionaL

    Em sntese: a doutrina dos verdeamarelos confere especial nfase ao papel dos imigrantes na construo da nacionalidade, sendo eles 05 responsveis pelo progresso industrial paulista, o evento modernista e a constituio de

  • A BRASIUDADE VERDEAMARELA 107

    uma nova raa. No entanto, toda essa constelao de fatores positivos s se Bustenta em funo da positividade do meio. Trocando em midos: se os imigl antes trouxeram o progresso porque 6e incorporaram ao esprito pa ulista. Esta verso herica do nacionalismo vai distinguir 08 verde-amarelos dos demais grupos modernistas.

    o heri nacional paulista!

    Como todo movimento literrio, o modernismo tambm cria a figura do seu heri, inspirada, segundo Wilson Martins, no tipo renascentista: atltico, , - d

    . 74 na' " - , IOn, sa la e VIgoroso. I a eIUa.se nos esportes e no escotismo, que se ligam diretamente aos problemas de higiene pblica e de defesa nacional, ta. IDAS to caros 80s verde-amarelos. Por outro lado, o culto do esporte e da vida sadia representariam, segundo o autor, uma reao contra a "nevr06e" do simbolismo. Assim, ao invs da boemia urbana com os seus vicios contraproducentes, a vida ao ar livre, as viagens pelo interior, a fuga dos centros turbulentos. Essa temtica aparece constantemente nas crnicas de Hlios, publicadas pelo C01Teio Paulistano.75

    Trata-se de construir o universo do homem novo, do heri que ir dominar o mundo moderno. A heroizao do ser nacional j se manifesta em JucaMulalo, que representa o nosso Hrcules: "gil como um poldro e forte como um touro." E em Martim Cerer o Brasil aparece como o resultado de uma epopia realizada por gigante6.

    A viso ufanista do grupo encontra sua verso ma is bem elaborada na ideologia do carter nacional, que viria 6intetizar toda uma tradio ufanista do pensamento poltioo brasileiro. S que com um detalhe: o hSli nacional tem

    6ua origem em So Paulo! E porque So Paulo? Argumento primeiro e nioo: devido herana bandeirante que possibilitou o fenmeno da absoro tnica. Se as expedies bandeirantes integraram o branco, o negro e o indio, So Paulo da dcada de 1920 d continuidade ao ideal integl"ador, absorvendo 88 mais variadas nacionalidades. Tal absoro, confOJ'lllej foi visto, resultaria em riqueza tanto em termos biogenticos quanto culturais. O homem paulista passa a representar, portanto, a "raa dos fortes", Da a acalorada polmica que o grupo trava contra o caboclismo corporificado na figura do Jeca Tatu.

    Transparecem no debate duas grandes linhas ideolgicas: a primeira, que identifica o brasileiro como um tipo no-homogneo: no nem o Jeca nem o ndio. o "Brasilmenino" dos curo mins, dos moleques de senzala, dos italianinhos, verdadeiro "xadrez-etnolgico" no qual se entrecruzam diversas nacionalidades. Logo, a idia do caboclo como prottipo da brasilidade falsa. Ao defender tal perspectiva, o grupo no est destituindo o homem do interior do seu papel de verdadeiro representante da nacionalidade. O parmetro da autenticidade continua eendo o homem rural, s que em novas roupageM. Substitui-se a verso realista pela ufanista: o Jeca Tatu de Monteiro Lobato cede lugar ao Man Xique-Xique de Idelfonso Albano. este caboclo o verdadeiro heri nacional, . que passa a corporificar a brasilidade devido sua bravura para enfrentar 85 adversidades do meio e ao seu esprito de aventura e de conquista. Ele realiza a "epopia nos trpicos", moldando o territrio nacional e garantindo a preservao do esprito da brasilidade.76

    Alguma dvida 60bre a semelhana de perfil entre o Man e o bandeirante? Na doutrina dos verde-amarelos a fIgUra do Man Xique-Xique vem atualizar, re-

  • 108 EruDOS IIIS1'RlCOS - 191)3/11

    forar e talvez popularizar a ideologia da grnndiosidnde do carter nacional. C0-ragem, esprito combativo e finlleza de carter modelam o perfil do heri nacinal representado pelo paulista. Tamanho ufanismo levaria o glUpo inevitavelmente a entrar em choque com ideolgias ou representaes de carter mais crtico. Como aceitar a figura incmoda de U1n Macunama que oscila todo o tempo em busca de sua identidade? No discurso laudatrio, a dvida e o questionamento se transformam rapidamente em acinte e injria. A polnuca suscitada pela caricatura do Juca Pato, criada por Belmonte,jornalista paulista, ilustra bem o caso. O gmpo vai interpret-la como uma injria "fibra mscula dos paulistas". A1; atitudes constantes do personageln, de aool'lecimento, desconflana e protesto, seu modo de ser urbano,;, suas vestes, enfim, toda a sua flgura, 7 se colocam frontalmente contra a ideologia dos verde-amarelos. Para o gmpo, Juca Pato no passa de um dandy sem carter. E este no o povo brasileiro, que prima pelo vigor e dedicao ao trabalho. ksim, a tradicional imagem do Z-Povo que melhor traduz o brasileiro: caboclo ingnuo e esperto, msofo e bonacho, enfun, expresso do trabalho, bom humor e sacrifcio.

    Esta idealizao do ser nacional incorporada pela flgura do paulista, portador imediato da herana bandeirante. So os uheris geogrficos" que constroem a brasilidade ...

    Consideraes finais: a geografia nos redime ...

    A questo da brasidade constitui um tema obrigatrio no debate modernista, mobilizando indistintamente tdos os intelectuais. Como enfrentar o fator diferena? Como explicara defasagem Brasil-mundo? Que lugar caberia

    ao nosso pas no concerto das naes? Ser mera projeo ou ter luz propria?

    Se as indagaes so comuns, as respostas divergem. Oswald sugere que acertemos o nosso relgio; Mrio alerta para a necessidade de pensaI mOS em uma temporalidade prpria, o que significa dizer que o Brasil no reproduz o tempo, llUl3 o cria de acordo com uma nova dimenso, que a sua. Fica patente, portanto, que a singularidade reside no fator temporal, na descoberta de um novo tempo, do nosso tempo. Mas esta idia no consenso. Os verde-amarelos defendem perspectiva adversa quando priorizam o espao como fator da nossa singularidade. Interessa ao gmpo resgatar o Brasil-territrio, do mapa e das fronteiras, das paisagens locais delimitadas pela geografIa ...

    Deflnem."e, portanto, duas vises antagnicas sobre a nacionalidade: a primeira, que emerge com o modernismo, baseada no critrio temporal e voltada para a contextualizao histrica (Mrio de Andrade); e a segunda, baseada no critrio espacial, revelando ntida preocupao com a geografla (grupo Verde-Amarelo). Enquanto esta ltima mantm presente e atualiza a tradio regionalista, a conente de Mrio de Andrade procura justamente romper com essa perspectiva, apresentando novos instrumentos para repensar a nacionalidade.

    Ao longo de trs dcadas a teoria da espac.ializao do Brasil fundamenta o projeto hegemnico dos verdeamarelos. Na dcada de 1920, a viso da nacionalidade que apresenta So Paulo como ncleo da brasilidade chama polmica intelectuais paulistas e cariocas. Comparando o movimento modernista com as expedies bandeirantes, os verde-amarelos argumentam que os paulistas sempre se destacaram pelos seus ideais vanguardistas ao se d

  • A BRASIUDADE VERDEAMARELA 109

    significativo o comentrio que tecem ao visitarem o Rio de Janeiro: "Mais umA vez a provncia se adianta metrpole." Mas o que est em jogo o prprio projeto de hegemonia paulista. A desqualificao empreendida em relao ao Rio de Janeiro - provncia com ares de metrpole - toma ... e fundamental para assegurar o lugar de So Paulo no seio da nacionalidade.

    Alm de polemizar com 08 intelectuais cariocas, 06 verde-amarelos tambm elegem paulistas como seus interlocutores oposicionistas atravs das figuras de Mrio e Oswald de Andrade. O confronto que se estabeleceu aqui de outra natureza, decorrente de vises antagnicas sobre a nacionalidade.

    Atravs da viso geogrfico-espacial possvel explicar as origens do Estado nacional (bandeirante), o ruralismo da nossa civilizao (voz do Oeste), a formao do carter nacional (So Paulo = empreendedorlRio = contemplativo), a histria como fruto da ge0-grafia (percurso das expedies bandeirantes = percurso da brasilidade) e o predomnio da natureza sobre o intelecto. Essas idias constituem os fundamentos da idia verde--amarela atravs da qual o grupo consegue impor sua hegemonia poltica ao longo de trs dcadas (do modernismo ao Esta-

    do Novo). E dentro desse quadro que OCQfIe a associao entre a ideologia

    ufanista e a viso geogrfica. E porque a natureza tropical um desafio que sua conquista se transfOl'lU8 numa epopia a ser vivida por gigantes e heris (bandeirantes, claro!).

    Na qualidade de linguagem primor. dial, a natureza que deve inspirar o "sentimento patritico". Por isso a Gecr grafia sentimental, de Plnio Salgado, dispensa a pe"Quisa etnogrfica, tipo Mrio de Andrade, para registrar apenas 08 sentimentos evocados pela paisagem. Dispensando as mediaes do in-

    telecto, evitando os perigosos meandros da reflexo, chega se ao ufanismo ...

    Estas ""0 algumas das idias que compem a doutrina dos verde-amarelos. Na realidade, sua ideologia est bem mais enraizada na nossa histria do que supomoe. Ela se encontra diS5eminada nas linhas e entrelinhas dos nossos projetos polticos e dos nosBOB manuais escolares; aparece volta e meia noe discurBOB de parlamentaree ufanistas, chegando mesmo a desfrutar de certo consell8o entre os mais desavisados. A idia do "Brasil gi ande" seguida do imperativo "Ame..., ou deixe-o" no mais do que uma reinveno dessa ideologia.

    Como explicar tal poder de aceitao ou tal reconncia? Por que esta viso espacial do Braei! casa to bem com o ufanismo?

    A recoll8tituio da nossa histria pode oferecer uma resposta. De modo geral, os nossos historiadores trall8mitem uma viso amarga do passado. A idia de um "Brasil etIado" aparece quase sempre MS reconotituies histrica,.. Forwamos um pa5 de mesti os e analfabetos, Bofremos a extorso da metrpole, nossos aIl8ei"" de liberdade foram oon ados ... Isto nos conta a histria. Mas a geogiafl9 fala uma outra linguagem: a da grandiosidade. Ento, h porque se ufanar do Brasil! Seu gigantesco mapa, sua natureza exuberante, sua flora e fauna, sua geoglsfia potica (o mapa do Brasil vira harpa).

    E perfeita a coi\iugao geogI afia-ufanismo. Se o te" eno da histria est minado pelo pessimismo, "" nele no cabem as Ioas e glriAS, necessrio deslocar ... e ento para a geogi afia.

    Na geografia as coisas falam por si. A linguagem da natureza no envolve a trama das aes humanas... Este campo livre, portanto, para o que se deseja construir. Por isso a geografia serve to bem ao ufanismo. Se a hist-

  • 110 ESTUDOS lIISTRICOS - 1993/1 1

    ria nos condena, a geografia nos redime ...

    Notas

    1. Thomas Skidmore, "O novo nacionalismo", em Prelo no bl"wu::o; raa e ILacrouar lidade no pensamento brasileiro, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976, p.190, e Nicolau Sevcenko, Literatura como misso; ten.ses sociais e criao cultural na 1 a Repblica, So Paulo, Brasiliense, 1983, p.84.

    2. Thomas Skidmore, op.cit., p.173. 3. Idem, ib., p.l84. 4. Antnio Cndido, Literatura e socie

    dade; estudos de histria literria, So Paulo, Nacional, 1965.

    5. Olavo Bilac, Jornal do Comrcio, 2 de maio de 1916, p.3.

    6. Idem, ib., p.3. 7. Com ul tar a esse respei to as crnicas

    de Hlios (pseudnimo de Menotti deI Picchia) publicadas no Correio Paulistano: A crtica, 29 set. 1920, p.3, Gente nova de Portugal, 12 jul. 1920, p.1; e D'Annunzio, 29 dez.1920, p.3.

    8. Maria Teresa Sadeck. Machiauel, machicwis: a trag(fdia. octllviaJta, So Paulo, Smbolo, 1978, p.85.

    9. Cndido Motta Filho, ''Meu depoimento", em Testemunho de uma. ge.l'ao, org. E. Porto Alegre Cavalheiro, Globo, 1944. As idias do autor tm clara filjao na obra de Alberto 'lbrres, Na dcada de 1920, Cndido Motta Filho escreve uma srie de artigos para o Correio PaulistQJw que depois seriam reunidos na obra Alber lo Torres e o tema da nossa gera.o,

    10. Cndido Motta Filho, op.cit. 11. Vctor Viana, "Poetas", Jornal do

    Comrcio, 7 jul.de 1919, p.3. 12. Alceu Amoroso Lima, Mem,rias im

    provisadas, Petrpolis, Vozes, 1973. Gitado por Lcia Lippi Oliveira, liAs razes da ar dem: os intelectuais, a cultura e o Estado", em Revoluo de 30, Brasfiia, UnB, 1983.

    13. "Ns", Papel e TI"ta. So Paulo, 31 de maio de 1920, n9 1. Citado por Mrio da Silva Brito, l-Jistl'ia do moder"mo brasi leiro, So Paulo, Saraiva, 1958, vol.1, p.127.

    14. Richard Morse, Fon".a.o hstrica de So Peu.lo, So Paulo, Difel, 1970, p.343.

    15. Klaxon, nQ 1 , 15 de maio de 1922. Citado por Richard Morse, op.cit., p.277.

    16. Menotti dei Picchia, "Novas correntes estticas", Correio Paulistan.o, 3 de maro de 1920.

    17, Oscar Sobrinho, UAgrandeza de So Paulo", Correio PalLlistOllO, 4 de maio de 1920.

    18. Lus 'lbledo Machado, Alltllio de Alc {mtw'a Machado e o modernismo, Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1970, p.45.

    19. Menotti dei Picchia, "O almoo de ontem no Trianon", Correio Pau.listano, 10 de janeiro de 1921, p.3.

    20. Sobre o assunto consultar as crni cas de Veiga Miranda, "Os palhaos do Flamengo", 15 de outubro de 1920, P.li Otto Prazeres, "Como se vive no Rio de Janeiro", 2 1 de dezembro de 1920; Chrysnteme, "Carnaval e sangue", 7 de fevereiro de 1921, p.1; Flexa Ribeiro, "Cr nica Carioca", 13 de abril de 1928, p.2j e as charges sobre a vida carioca: "Noivados cariocas", 1 1 de maro de 1920, e "A crise das casas", 13 de abril de 1920.

    21. Hlios, "Calor'\ COI1'cio Pau[istOlI.O, 28 de novembro de 1926, p.4.

    22. Jos do Patrocnio Filho, "Na estrada de Damasco; epstola aos cariocas", Correio PcutlistwlO, 18 de dezembro de 1922, p.6.

    23. Menotti deI Picchia, "Novas correntes estticas", Correio PaulistlUo, 3 de maro de 1920, p.l.

    24. Nicolau Sevcenko, op.cit., p.188 e 203-205.

    25. Mrio Vilalva, Como se faz uma in.stituiIJ; notcia histrica sobre o Cen tm Paulista (1907-37), Rio de Janeiro, Revista dos Tribunais, 1937.

    26. Lcia Lippi Oliveira, O nacionalis mo no pensmnenlo poltico brasileiro da 1 11

  • A BRASIUDADE VERDEAMARELA 111

    Repblica, Rio de Janeiro, CPDOC (mimeo), p.49.

    27. Rubens do Amaral, "Manifeataes do nacionalismo", Revista do Brasil, So Paulo, nov.1919, p.218-25.

    28. Lcia Helena, Uma literatura antropofgica, Rio de Janeiro, Ctedra, 1981, p.108.

    29. Mrio da Silva Brito, op.cit., p.123. 30. Menotti dei Picchia, "Uma carta",

    COI1't!io FaulistaJw, IV de julho de 1922, p.4. 31. Menotti dei Picchia, "11ma carta",

    Correio PaJ1UstwJ.,O, 18 de outubro de 1921, p.5.

    32. Sobre o combate ao romantismo pelos verde-amarelos ver as seguintes crnicas publicadas no Correio Paulistw,o: "O ltimo romntico", 27 de agosto de 1921, p.5; ''Pelo Brasil!", 19 de setembro de 1923, p.3j 'Patriotismo prtico", 4 de outubro de 1923j e "So Paulo de hoje", 7 de setembro de 1922, p.38.

    33. Eduardo Jardim, A constituio da idia de mode,.uidcuJe no modernismo bJ'( sileiro, Rio de Janeiro, UFRJ, 1983 (tese de doutorado).

    34. Menotti dei Picchia, "Regionalismo", Correio Paulistano, 3 de outubro de 1926, e "Carta ao Dany", Correio Paulista"o, 30 de setembro de 1926, p.7.

    35. Hlioe, "Nacionalismo", Correio Paulistall,o, 13 de abril de 1923, p.5

    36. Estas idias so expostas por Menotti deI Picchia no artigo ''Regionalismo'' (ver nota 34) e por Cassiano Ricardo em "O esprito do momento e da ptria na poesia brasileira", Correio Pa.u.listw,o, 24 de setembro de 1925, p.3.

    37. Eduardo Jardim de Moraes, op.cit., p.62-63.

    38. 'Terra Roxa, no I, p.6. Citado por Eduardo Jardim de Moraes, op.cit., p.103.

    39. Ibidem. 40. Sobre o projeto cultural dos verde

    amarelos consultaro trabalho da autora: O mito da originaJ.idcule brasileira; a tf'ojellr ria intelectual de CasSiO/lO Ricardo (doa WlOS 20 ao Estado Novo), Rio de Janeiro, PUC, 1963 (tese de mestrado), p.24-65.

    41. Karl Mannhein, "O pensamento conservador" I em Jos de Souza Martins (org.), 1"troduo crtica sociologia rural, So Paulo, Hucitec, 1981, p.77-131.

    42. Eduardo Jardim de Moraes, op.cit., p.121-27.

    43. Gilda de Melo e Souza, O tupi e o alack; uma inkrpretae) de M acunama, So Paulo, Duas Cidades, 1979, p.38-39.

    44 Flvio Koethe, "O percurso do heri", Tempo Brasileiro (passagem da modemidade), n' 69, abr/jun. 1982, p.96-120.

    45. Mrio de Andrade, Iflmproviso do mal da Amrica", 1928. Citado por Flora Sussekind, Tal Brasil, qual romance?, Rio de Janeiro, Achiam, 1984, p.9S.

    46. A distino entre o perfil do heri pico e do heri pcaro feita por Flvio Koethe, op.cit., p.120.

    47. Cassiano Ricardo, Martim Cerel', p.221-23.

    48. A psicologia do habitante do litoral e do serto traada por Alceu Amoroso Lima, op.cit., p.267-75.

    49. Alceu Amoroso Lima, op.cit., p.174-75.

    50. Plnio Salgado, "Geografia sentimental", Co,.,.eio P(Ullistano, 10 de novembro de 1927, p.3. Esta idia da geografia e da espacializao do Brasil como referenciais para exprimir a brasilidade comea ser desenvolvida na dcada de 1920, atravs dos artigos que o autor escrevia para o Cm"l"eio PeUllistwo. Em 1937 Plnio os reuniria em uma obra intitulado Geografia 8entimental.

    51. Franais Furet, L'aJ.elie de I'histoire, Paris, Flamarion. Citado por Maria Helena Rouanet, "Uma literatura sentimental para neutralizar a subjetivirlade", 'Thmpo Brasikiro, jan-mar da 1984, p.5-6.

    52. Cassiano Ricardo, Martim Cerer, p.191.

    53. Plnio Salgado, Geografia. sentimental, em Obraa completos, So Paulo, Ed. das Amricas, 1954, v.N.

    54. Lus Costa Lima, O controle do ima, gin.rio; razo e imaginao IlO ocidente, So Paulo, Brasiliense, 1984, p.14S.

  • 1 1 2 ESTUDOS II ISTOHlCOS - J !)D3I1 1

    55. Plnio Salgado, Geografia. sentim(!lttal, em Oras completas , So Paulo, Ed. das Amricas, 1954, v. IV, p.2122.

    56. Entrevista de Hrodete 'Michel Foucault, "Sobre a geografia", em Micl'ofi.sica do poder, Rio de Janeiro, Graal, 1982, p.161.

    57. Sobre a relao dos verde-amarelos com o militarismo ver Calazans de Campos, "O verde-amarelismo nas casernas", Correio Paulislcmo, 14 de outubro de 1927, p.4.

    58. Casslano Ricardo, "Nossa terra e nossa lngua", Correio PrULlisloILo, 8 de dezembro de 1925, p.5.

    59. Lus Costa Lima, op.cit., p.l04. 60. Cassiano Ricardo, "O estrangeiro",

    Correio Paulistano, 25 de maio de 1926, p.3. 61. Hlios, "Uma carta anti-cqui", Cor

    reio PCULlistllll.O, 5 de fevereiro de 1926, p.2. 62. Adauto Castelo Branco, "Brasilida

    de", Correio Paulistano, 11 de agosto de 1928, p.5.

    63. Estas idias que consagram as razes ruralistas de nossa formao e alertam para o perigo citadino so expostas por Plnio Salgado em "Aspectos brasileirosu, Correio Pou.listw,o, 30 de julho de 1927, p.3; Candido Motta Filho, "Para a conquista da terra", Correio Pau.listano, 4 de julho de 1927, p.5; e PUnia Salgado, USo Paulo no Brasil; crnicas verde-amarelas", Correio Pau.listano, 21 de julho de 1927, p.3.

    64. Cassiano Ricardo, "As conferencias do Centro Paulistano", Correio Pau.lista-110, 20 de novembro de 1926, p.3.

    65. As palestras do Centro Paulista realizadas por Marcondes Filho, Menotti deI Picchia, Alfredo Ellis, Roberto Moreira e outros encontram-se publicadas na obra S{w Paulo e sua. evolucio, Rio de Janeiro, Gazeta da Bolsa, 1927.

    66. Oswald de Andrade, "Reforma literria", Jornal do ComnwI'cio, 19 de maio de 1921. Ci tado por Lus 1bledo Machado, op.cit., p.16.

    67. Candido Motta Filho, "Literatura nacional", JOJ'lLCll (w Commercio, So Pau-10, 3 de outubro de 1921. Citado por Mrio da Silva Brito, op.cit., p.176.77.

    68. Ribeiro Couto, O eRprito de Seio Pa.ulo. Rio de Janeiro, Schmidt, 1932.

    69. Hlios, 'acionalismo integralizadorll, Correio PcuLlislemo, 19 de agosto de 1923, p.3.

    70. Hlios, ''Nacionalismo perigoso", Correio PoulistWlO, 4 de maio de 1920, p.6.

    7 1 . Estas idias so expostas no Correio Paulistano por Plnio Salgado em seus artigos 'acionalismo", publicado a 2 de agosto de 1923, e lISuave convvio", de 29 de maio de 1923, p.3.

    72. ru idias que associam o fenmeno tnico paulista ao modernismo so expostas por Menotti deI PiccJa em "O problema esttico em face do fenmeno tnico paulista", Correio Puulistcut.O, 7 de setembro de 1922, p.2, e "Poesia Brasil", Correio Pcuilistmw, 18 de maio de 1925.

    73. Menotti deI Picchia, liA questo racial", Correio Paulistano , 10 de maio de 1921, p.1.

    74. Wilson Martins, O moder"ismo, So Paulo, Cutrix, p.151.

    75. Arespeito do assunto consultar Hlias, "Escoteiros", Correio PaulislcuIO, 10 de maio de 1922, p.4.

    76. Cassiano Ricardo, "Meus heris", Correio PaulislGJIO, 29 de dezembro de 1927, p.3.

    77. A descrio desse personagem feita JXlr Herman Lima, em lliswl'ia_da C l'icaJ.ura 1).0 Brasil, Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1963, vA, p.1.368.

    (Recebido para publicao em jan.eiro de 1993)

    Mnica Pimenta Velloso pesquisadora do CPDOC/FGV.