A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS · Suas, minha doce avó. Legivelmente escritas......

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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA - FGF NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTES NA ÁREA DE LICENCIATURA EM ARTES A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS JOSIANE MARQUES DE ALMEIDA Fortaleza-CE 2012

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FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA - FGF NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

PROGRAMA ESPECIAL DE FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DE DOCENTE S NA ÁREA DE LICENCIATURA EM ARTES

A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS

JOSIANE MARQUES DE ALMEIDA

Fortaleza-CE 2012

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JOSIANE MARQUES DE ALMEIDA

A ARTE DE FORMAR LEITORES CONTANDO HISTÓRIAS

Monografia apresentada ao Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes na Área de Licenciatura em ARTES, da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciada em Artes.

Orientadora: Prof. Ms. Elaine Cristina Forte-Ferreira

Fortaleza-CE Janeiro de 2012

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Monografia submetida ao Programa Especial de Formação Pedagógica de Docentes em Arte

Educação, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Licenciado em Arte

Educação, outorgado pela Faculdade Integrada da Grande Fortaleza – FGF.

___________________________________________________

Josiane Marques de Almeida

__________________________________________

Ms. Elaine Cristina Forte-Ferreira

Orientadora

____________________________________________________

Ms. Nertan Dias Silva Maia

Coordenador do Curso

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... E foram felizes para sempre!

Minha história só foi escrita porque vocês desejaram.

Cada letra... um tempo dedicado a mim.

Cada palavra... um carinho.

Cada frase... um alimento: do corpo e da alma.

Cada texto... Construído nas lutas, alegrias, tristezas, dedicação, orientação...

Nenhuma folha em branco!

Muitas páginas escritas...

Por você, meu pai.

Por você, minha mãe.

Letras tão singelas...

Suas, minha doce avó.

Legivelmente escritas...

Por vocês, meus irmãos.

E nas páginas que todos vocês não escreveram...

Ilustraram e...

Coloriram minha vida!

No segundo capítulo...

Escrevi no livro...

Agora... minha própria história.

Escolhi para fazer parte do próximo capítulo,

Você, Rogério... que está até hoje ao meu lado.

Vocês, meus filhos... Camila, Yure e João Pedro.

E continuo a escrever...

Buscando a felicidade em cada linha escrita!

As linhas...

Essas traçadas por Deus...

Dono deste precioso livro.

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“É através da história que o homem vem traçando a sua trilha,

por onde muitos caminham.

Assim, as histórias se repetem, se aprimoram.

A história contada de geração a geração,

palavra falada é o fio de prumo que ajuda orientar,

com sensibilidade e equilíbrio

o coração do mundo.”

Neusa Sorrenti

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RESUMO

O presente trabalho está voltado para a importância da contação de história no processo da formação do aluno leitor. Desta forma, este trabalhou objetivou investigar se a prática da contação de histórias favorece a formação do aluno leitor no âmbito escolar. Para tal, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica pertinente ao tema aliado a pesquisa de campo com os alunos pesquisados, baseando-se em diversos autores que já pesquisaram esta temática em especial Abramovich (1997), Bettelheim (1980), Coelho (1998), estudiosos relevantes sobre o assunto. Averigou-se que quando a criança possui contato com histórias, antes mesmo de ingressar na escola, tem sua curiosidade, criatividade, atenção, raciocínio, imaginação e afetividade aguçadas. Assim é necessário que pais e professores contem histórias, incentivando e auxiliando dessa forma, o processo de formação do aluno-leitor.

PALAVRAS-CHAVE: Contação. Aluno-Leitor. Escola. Professor.

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SUMÁRIO

Introdução ........................................................................................................................... 8 Capítulo I: Contar e ouvir histórias: um aprendizado para a formação do leitor........ 10 1.1 O poder de encantamento dos contos............................................................................ 10 1.2 O maravilhoso mundo das histórias.............................................................................. 12 1.3 Valores psíquicos e humanos........................................................................................ 13

1.4 Trilhando os caminhos das histórias e da educação...................................................... 14 Capítulo II: A contação de histórias no contexto pedagógico.......................................... 18 Capítulo III: A literatura como entretenimento............................................................... 20 Capítulo IV: Postura profissional do professor................................................................ 23 4.1 Valores e significados ocultos dos contos.................................................................... 23 4.2 Formação profissional do professor.............................................................................. 24 4.3 Elementos necessários para contar história................................................................... 25 Capítulo V: Procedimentos metodológicos e Análise....................................................... 29 5.1 Análise dos dados coletados com os sujeitos envolvidos no processo......................... 29

5.2 A arte de contar histórias para a formação do aluno leitor, na perspectiva da observação e participação dos alunos selecionados...............................................................

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5.3 Apresentação das atividades para a escola e comunidade e culminância do projeto....................................................................................................................................

35

Considerações Finais........................................................................................................... 37 Referências............................................................................................................................ 39 Apêndices.............................................................................................................................. 41

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INTRODUÇÃO

Considerando que contar histórias é uma Arte. Atualmente, formar leitores

também está sendo uma “Arte”, pois é necessário um conjunto de procedimentos, tais como

emoção, cultura, equilíbrio, harmonia, valores, história, sentimentos para realizar uma obra de

arte grandiosa que é a formação do próprio ser humano.

Ouvir histórias é fator indispensável na vida da criança, visto ser elas essenciais

na alfabetização e no gosto pela leitura, levando os alunos a desenvolverem o seu lado

cognitivo de forma espontânea e prazerosa.

Em termos de linguagem, a criação e a descoberta não ocorrem no vazio. A

criança precisa dominar convenções linguísticas, que lhes serão oferecidas através do contato

com diferentes modelos contextualizando a língua escrita através de seus usos, antes mesmo

de se tornarem efetivamente capazes de ler e escrever.

Assim, as crianças que nascem em ambientes letrados, cedo desenvolvem um

interesse pela leitura e escrita, espelhando-se nos adultos ao seu redor. É muito difícil uma

criança não se interessar por ouvir histórias e não demonstrar interesse lúdico pelas palavras.

Dessa forma, o contar histórias para as crianças torna-se fator indispensável na formação do

hábito e gosto pela leitura.

Nesta perspectiva, este trabalho acadêmico, tem a finalidade de mostrar a arte de

formar leitores contando historias.

Vários estudos tem sido desenvolvidos em torno dessa temática, porém a presente

pesquisa visa colher e/ou fornecer informações que se mostrem relevantes para o

desenvolvimento e compreensão do assunto em questão.

A presente pesquisa partiu da necessidade de compreender a eficácia de contar

histórias no processo da formação dos alunos leitores, pois pode-se perceber que na prática

pedagógica de muitos educadores, as histórias estão presentes incentivando a leitura com um

prazer.

Destacando desta forma como objetivo geral analisar, como e se acontece, a

prática de contação de histórias para os alunos do 6º ano de uma escola pública estadual de

uma cidade do interior de Minas Gerais.

Objetivou-se também nesta pesquisa investigar se é realizada a prática de contar e

ouvir histórias como uma estratégia de construção do conhecimento na formação inicial das

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crianças e ainda analisar como é realizada a contação de histórias na escola.

Para o desenvolvimento da pesquisa foi utilizada uma referência bibliográfica

pertinente ao tema, buscando obter maiores e melhores informações sobre o assunto

pesquisado. Será realizada também uma pesquisa de campo, a qual constará de um

questionário semi-estruturado a ser respondido por alguns alunos do 6º ano da escola

pesquisada, buscando perceber como o tema é tratado por eles, enquanto sujeitos do processo

ensino-aprendizagem.

Para a complementação da pesquisa também será propiciado aos alunos

pesquisados um momento de contação de histórias, visando analisar o comportamento dos

mesmos e os aspectos do processo ensino-aprendizagem que possa contribuir com a análise

dessa temática.

Quanto à análise dos dados, pode-se classificar como análise de conteúdo, que é

um conjunto de técnicas de análise das comunicações que tem como objetivo enriquecer a

leitura e ultrapassar as incertezas.

Essa pesquisa encontra-se dividida em cinco capítulos e uma consideração final.

O capítulo I expõe o poder de encantamento dos contos, como surgiram as

histórias e as intenções que elas possuem ao transmitir determinados valores, padrões a serem

respeitados pela comunidade ou incorporados pelo comportamento de cada indivíduo.

O segundo capítulo busca analisar a importância da contação de histórias como

meio de despertar o desejo de ler.

Já no capítulo III é exposta a relação de cumplicidade entre o leitor e o texto,

tendo como pano de fundo a literatura enquanto entretenimento.

O quarto capítulo mostra como os contos são transmissores de conhecimentos e de

valores culturais, mas através da intervenção do professor essa construção pode se transformar

em um caminho de descobertas, e compreensão do sujeito em formação.

O capítulo V, trata-se da análise dos dados coletados, finalizando com as

considerações finais. A partir desse contexto, a presente pesquisa foi desenvolvida no intuito

de investigar se a contação de histórias pode favorecer ou não a formação do aluno leitor no

âmbito escolar.

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CAPÍTULO I

CONTAR E OUVIR HISTÓRIAS: UM APRENDIZADO PARA A

FORMAÇÃO DO LEITOR

Desde a época remota, o ser humano ao desenvolver a linguagem, transmite de

geração em geração suas histórias, seus causos e por meio deles, seus mitos e ensinamentos.

Assim, a criança que ouve histórias desde pequena adquire muito cedo o gosto pela

leitura. O essencial que os pequenos sejam motivados a contar histórias antes mesmo que

aprendam a ler.

Segundo Abramovich (1997) é importante para a formação de qualquer criança ouvir

muitas histórias. Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, conhecer diferentes

tipos de textos, vocabulários, enfim, ampliar o universo linguístico.

No entendimento de Machado (2004), os contos podem ser utilizados na escola

como instrumentos e dar uma contribuição pedagógica importante para diversas aprendizagens

como à compreensão da multiculturalidade1. A riqueza que encontramos nas narrativas

tradicionais nos revela elementos da cultura de um povo como: costumes, crenças, paisagens,

vestimentas, hábitos alimentares e outros.

Dessa forma a história centrada no desenvolvimento da criança amplia seu

vocabulário e seu conhecimento linguístico, favorecendo o desenvolvimento da linguagem oral e

escrita.

1.1 O Poder de Encantamento dos Contos

O conto tem o poder do encantamento, segundo Bettelheim (1980), o encanto

deve-se ao fato de se tratar de uma obra de arte, uma riqueza literária que contém elementos

simbólicos, conteúdos arquetípicos, causando impacto sobre a criança, pois age no seu

inconsciente e no seu emocional.

[...] os contos de fadas procedem de uma maneira consoante ao caminho pelo qual uma criança pensa e experimenta o mundo; por esta razão os contos de fadas são tão convenientes para ela. Ela pode obter um consolo muito maior de um conto de fadas do que de um esforço para consolá-la baseando em raciocínio e pontos de vista

1 Prática de acomodar qualquer número de culturas distintas, numa única sociedade, sem preconceito ou discriminação.

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adultos. Uma criança confia no que o conto de fada diz porque a visão de mundo ai apresentada está de acordo com a sua. (BETTELHEIM, 1980, p. 15).

Dessa forma, os contos de fadas podem ser decisivos para a formação da criança

em relação a si mesma e ao mundo a sua volta. Ao conviver com as personagens boas e más,

belas e feias, poderosas ou fracas etc., facilita a criança à compreensão de certos valores

básicos de conduta humana e conivência social.

Já Calvino (1982) tem interesse pelo conto popular, histórias que possuem

encanto, valor, importância estilística e estrutural. O escritor afirma que a criança sente prazer

em ouvir histórias porque espera as sucessivas repetições de frases e situações que acontecem

na estrutura de um conto.

O encantamento provocado pelos contos também levanta alguns aspectos. De

acordo com Bittencourt (1989) a criança ainda em desenvolvimento ouve a voz materna e

essa experiência de transicionalidade, é essencial para a interação da criança com o mundo

letrado. Esse é o conceito que, segundo Winnicott (1975), é representado por algo imaginário

ou simbólico, sendo um processo de comunicação silenciosa, sem palavras, baseada no

funcionamento corporal e nos cuidados oferecidos pela mãe ao recém-nascido, é

essencialmente uma experiência de mutualidade, fazendo com que a criança se encante com

os contos. Na relação ouvinte-narrador, a musicalidade do narrador provoca prazer e

encantamento no ouvinte.

Os povos orientais consideravam que no conto oral há conhecimento e ideias de

um povo, sendo possível até mesmo indicar condutas, resgatar valores e até curar doenças. O

conto adquire um caráter terapêutico.

Belink (2008), escritora e defensora das fadas, diz que os contos encantam porque

treinam para as emoções, fazem rir e chorar. Buzatto (2003) ainda acrescenta que o conto de

tradição oral, seja conto de fada, mito, lenda, fábula ou conto de ensinamento, encanta, pois

alimenta o nosso imaginário e interior, sendo uma expressão artística democrática, cada um

constrói sua própria história e seus próprios significados. Cada realidade interna é diferente e

cabe ao poder imaginário de cada um concluir as suas ideias de espaço, tempo e destinos dos

personagens, fisionomias, enfim, que a liberdade em imaginar, dar vida a própria história é

um motivo de prazer e satisfação através do conto.

A criança deve ouvir, contar e ler histórias adequadas a sua idade, para que

fantasiem e sonhem com as aventuras de seu imaginário. Ler e contar histórias é por si só,

uma arte, é meio de comunicação.

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1.2 O Maravilhoso Mundo das Histórias

O dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875) era um garoto pobre, feio e

que queria ser ator. Divertia-se quando seu pai encenava histórias em um teatrinho feito de

papelão, mas o seu pai morreu e ele teria que sustentar a família. O garoto partiu para longe,

passou fome e frio e só algum tempo depois conheceu um homem que pagou seus estudos. O

menino não se tornou ator, mas ficou rico e famoso, escrevendo histórias infantis,

transformando-se num dos maiores contadores de histórias do mundo, criando personagens

maravilhosos, como “Patinho Feio”. Dizem que essa história é, um pouco, a história do

próprio Hans, que saiu de uma infância cheia de dificuldades e se tornou um escritor amado e

reconhecido por todos.

Hans Christian Andersen é autor de cerca de 160 contos e seis romances, além de

poesias e de uma autobiografia. Sua obra foi traduzida para mais de 100 línguas.

Os escritores que o antecederam, Charles Perreault (1628-1703) e os irmãos

alemães Jacob (1785-1863) e Wilhelm Grimm (1786-1859), apenas registraram no papel as

histórias já contadas como “Chapeuzinho Vermelho”. Andersen é, portanto, o primeiro

escritor infantil.

Os irmãos Grimm nasceram na Alemanha, na pequena cidade de Hanau, em 1785

e 1786. Durante suas vidas, estudaram, moraram e trabalharam em várias cidades, como

Steinau, Kassel e Góltingen. Visitaram também muitas outras cidades e vilas da mesma

região.

Logo perceberam que em muitas localidades se contavam histórias fantásticas

sobre príncipes, fadas, bruxas, anões e animais que falavam. Começaram então a reunir essas

histórias que corriam de boca em boca e a registrá-las em forma de contos.

Assim, crianças de todo o mundo podem ler e conhecer tantas histórias

maravilhosas como “João de Maria”, “Os músicos de Bremem”, “A Bela Adormecida”,

“Chapeuzinho Vermelho”, “O gato de botas”, “Cinderela”, “O Alfaiate Valente”, “Branca de

Neve” e muitas outras.

“Contos de Grimm” é uma seleção dos mais belos contos de fadas recolhidos da

tradição popular alemã pelos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm. São 12 volumes, com texto em

português da escritora Maria Heloísa Penteado.

No ano de 2005 foi comemorado o aniversário de 200 anos dos autores,

oportunidade para as escolas trabalharem os contos de fadas e a leitura.

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Rotta (2009) explica: No conto maravilhoso, o leitor é transportado para um

mundo onde tudo é possível: tapetes voam e galinhas põem ovos de ouro. Essa é a magia da

fantasia”.

1.3 Valores Psíquicos e Humanos

A contação de histórias é uma atividade fundamental que transmite

conhecimentos e valores, sua atuação é decisiva na formação e no desenvolvimento do

psiquismo humano.

Gerações e gerações de professores, psicólogos, psicanalistas, como também

orientadores educacionais, pedagogos e artistas discutem a adequação e validades dessas

narrativas para as crianças.

Segundo Vieira (2005, p. 10) “Os acontecimentos objetivos da vida da

humanidade são a nossa história. Os acontecimentos subjetivos, as vivências interiores

criaram as estórias”.

As histórias são acontecimentos da realidade externa, fatos da comunidade de

acordo com a cultura, etnia, mas as histórias falam da realidade interior na construção das

nossas culturas, das estruturas psicológicas das pessoas e dos grupos humanos.

As histórias são uma maneira mais significativa que a humanidade encontrou para expressar

experiências que nas narrativas realistas não acontecem. Os contos são temidos porque

objetivam os fatos e as verdades que não podem ser expressos pela razão, por isso nos estudos

dos contos observa-se: “Em primeiro lugar o fato de que eles falam sempre de

relacionamentos humanos primitivos e por isso exprimem sentimentos muito arcaicos do

psiquismo humano”. (VIEIRA, 2005, p. 38)

São arcaicos, mas também são atuais, atraentes e investigadores, porque mostram

o que se evita manifestar nas sociedades contemporâneas: raiva, inveja, mentira, também

felicidade, amor, generosidade. Os contos tratam de princípios éticos universais, falam da

busca da totalidade psíquica, da plenitude do ser. Sabendo que os contos antecedem a leitura,

pois são usados no cotidiano das crianças pela família desenvolvendo seu imaginário, eles

muito tem a contribuir para desenvolver o gosto pela leitura e para a resolução dos conflitos

internos infantis.

Assim, o que importa nesse estudo é referendar a importância que a escola tem na

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formação do leitor, sendo primordial que as pessoas que trabalham com educação estejam

conscientes dos valores psíquicos e humanos que podem oferecer às crianças, inclusive

proporcionar a elas melhores condições para crescer e amadurecer por meio da narrativa e da

reflexão das histórias.

Essa proposta deveria ser um trabalho sistematizado e permanente nas escolas e os

professores, orientadores, psicólogos e artistas precisariam ter um desenvolvimento pessoal e

uma intimidade com seus próprios inconscientes, para poder favorecer (ou pelo menos, não

atrapalhar) o encontro das crianças com seu mundo interno.

1.4 Trilhando os caminhos das Histórias e da Educação

Tão antigo como a humanidade é o ato de contar histórias. As narrativas exercem

fascínio e sedução da infância a velhice.

Segundo Coelho (2005), hoje a Contação de Histórias está de volta, em pleno

mundo do progresso tecnológico, da velocidade dos meios de comunicação e do império da

imagem. Até os “distraídos” podem perceber que o mercado editorial vem sendo invadido

pela magia das histórias.

Se pensarmos na distância entre o tempo ultramoderno e os tempos primitivos,

podemos nos perguntar por que tais histórias tão antigas continuam a interessar crianças e

adultos. Por que o destino da “Gata Borralheira” ou “Cinderela”, ou o da “Branca de Neve”,

da “Bela Adormecida”, da “Bela e a Fera” continuam a interessar? Que importância pode ter

para os leitores de hoje as tristezas do “Patinho Feio” e sua lenta transformação em cisne? Ou

a desobediência da “Chapeuzinho Vermelho”, que vai levar bolo para a avó e escolhe o

perigoso caminho da floresta invés da estrada reta e clara e assim atrai o lobo que acaba

devorando ela e a avó?

Tais interrogações podem ser respondidas lembrando-se que tais “lições de vida”

dadas pela sabedoria dos povos desde os primórdios vêm constituindo a humanidade em

contínua evolução.

Por mais que o homem transforme o mundo com sua inteligência e trabalho, sua

natureza humana não muda. Nela se misturam amor, ódio, amizades, medo, vontade de poder,

ideais, desejos, inveja, ciúmes, solidariedade, fraternidade (paixões da alma) e o ar para

respirar, alimento para matar a fome e proteção para o corpo (necessidades básicas). Tanto as

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“paixões” quanto as “necessidades básicas” são matérias-primas das histórias e de todos os

livros que venceram o tempo e através de milênios continuam a interessar os leitores e

ouvintes.

Graças a essa “matéria-prima” humana, somada à linguagem narrativa, que os

contos de fadas e os “clássicos” estão novamente entrando nas escolas. Cabe à educação

moderna a tarefa de oferecer caminhos para a formação da consciência de mundo da criança e

não apenas servir como instrumento de informações.

No nosso mundo dinamizado pelas multilinguagens visuais, sonoras e velozes, a

leitura da palavra faz-se cada vez mais necessária para que as novas gerações não se

imobilizem como “gerações sem palavras”. Gerações sem consciência de si mesmas, histórica

e crítica. A ausência de autoconsciência torna o indivíduo sem autonomia interior.

Sociedade bela-horrível que ao mesmo tempo em que gera o professor e melhora a

vida no planeta também provoca a alienação humana porque atrai o indivíduo para fora de si

mesmo, alimenta-o apenas de extremidades; impede a formação da sua consciência crítica;

impede que cada eu adquira a consciência de seu lugar no mundo e de sua relação essencial com o

outro. Uma das verdades do nosso tempo é que sem essa conscientização do eu em relação ao

outro e sem o domínio da palavra que nomeia e expressa a realidade não há plena realização

existencial.

Um dos caminhos para essa autoconscientização é a leitura: é o corpo a corpo do

ouvinte com as experiências de vida do outro, que a literatura lhe oferece. Tudo isso precisa

começar quando a criança passa a perceber o mundo à sua volta, um dos meios que os adultos

podem usar são os contos de fadas. De maneira inconsciente e divertida, a criança entra em

contato com a sabedoria humana que vem da origem dos tempos e foi guardada pela memória

dos povos e transmitida pelo “contar histórias”. Desse fenômeno tiramos uma lição: o “contar

histórias”, mais que entretenimento prazeroso, é uma experiência vital, é um exercício de

viver. Como disse Meireles (2009) “Os livros que têm resistido ao tempo são os que possuem

uma verdade capaz de satisfazer a inquietação humana, por mais que os séculos passem”.

Estão nesse caso os clássicos universais. Todos eles, por meio de mil variantes das situações

narradas, tramam-se em torno de algumas poucas invariantes que correspondem às

necessidades básicas do ser humano.

Como existe o código genético fisiológico (DNA), pelo qual a natureza

“programa” cada ser humano, também deve existir um “código espiritual” que, desde os

primórdios “programa a alma da humanidade”. Nos clássicos, contos de fada e fábulas é essa

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“alma da humanidade” que nos fala. As grandezas e as misérias do ser humano estão ali

transformadas em narrativas mágicas que seduzem e convencem porque, de maneira

inconsciente, tocam o leitor em suas aspirações vitais mais profundas e muitas vezes,

inconscientes.

Assim, por exemplo, em “Branca de Neve”, na trama criada entre a rainha

madrasta, a Branca de Neve e os sete anões entram em confronto a inveja ou o ciúme que a

beleza e a bondade podem despertar; valorizam-se a paciência diante de um destino adverso e

a busca de outros caminhos para fugir dele; exalta-se a solidariedade a ser dada a quem

necessita; recompensa-se a virtude e castiga-se o mal; exalta-se o poder regenerador dos maus

etc.

São experiências humanas que o imaginário do leitor vivencia de maneira

inconsciente e, com elas, seu mundo vai-se enriquecendo. Nas “transformações” que são

comuns aos contos de fadas (a do “Patinho Feio” em cisne; do sapo ou da Fera em príncipe

etc.) estão claras as transformações que o ser humano precisa passar da infância a maturidade

para se realizar em plenitude quando persegue um ideal de vida.

Há um perfeito paralelo entre as histórias contadas e a vida humana, quando a

entendemos como uma caminhada, em busca da autorrealização. Nesse caminho surgem

obstáculos, inimigos, maldades, bruxas, madrastas etc., mas também auxílios, amigos, fadas,

anões e o final é sempre feliz: a realização do ideal.

Todos nós para nos realizarmos precisamos ter um projeto de vida; entregamo-nos

à “caminhada” para realizá-lo, encontramos “obstáculos” que precisam ser superados por

nossa paciência, esforço e por fim, a realização: o “final feliz”. O ser humano veio para “dar

certo”. Quando não dá é porque algo não foi bem no mundo à sua volta.

Em nossa época é fundamental que os adultos que lidam com as crianças,

principalmente professores, se deem conta do valor ético-existencial dos contos de fadas para

o “povoamento” do imaginário infantil e é nesse imaginário que nossa vida se resolve.

Ao ouvirem ou lerem tais contos as crianças, mesmo sem o saber, estão formando

as leituras de mundo que as ajudarão nos caminhos a serem trilhados na vida. Em cada uma

dessas histórias maravilhosas, há uma verdade vital. Segundo Coelho (2005), nesse nosso

mundo-cão do “vale tudo”, esses exemplos de vida, em que a virtude é exaltada, o mal é

castigado e os altos ideais saem vitoriosos, sem dúvida podem ser ótimos “guias

iluminadores” para os pequenos aprendizes de vida e de leitura.

O sucesso dos contos de fadas e clássicos infantis se dá pelo o fato de que sua

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matéria-prima é extraída de verdades humanas e, portanto, não envelhece. É fundamentada

em necessidades humanas: o fundo impulso de autorrealização do indivíduo; o desejo do eu

de ser aceito pelo outro; a vontade de poder; a luta pela preservação física. Necessidades que

uma vez frustradas geram tragédias. Para além do prazer e das emoções do leitor, ao participar

de tais aventuras, lhe dá grandes lições de sabedoria e de vida. É preciso descobrir que os

contos de fadas têm na base a vida real e que a literatura infantil não é “infantil”, como o

senso comum (distraído) a considera. É acima de tudo um excelente meio de educação a ser

explorado.

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CAPÍTULO II

A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS NO CONTEXTO PEDAGÓGICO

Ver uma biblioteca repleta de livros e os alunos indiferentes a eles é um

acontecimento angustiante para educadores e professores. É necessário refletir e agir,

despertando nos alunos o desejo de ler, vivenciando momentos prazerosos através das

histórias. Quando é conseguido atrair o aluno a conquista é garantida e ele passa a ser um

leitor frequente em qualquer atividade relacionada ao livro.

Muitos professores alegam que alunos a partir do 3º ano não se interessam mais

pelas histórias, Coelho (2005) relata que nesse momento a maioria dos professores deixa de

contar histórias (se é que as contavam antes).

Coelho (2005) declara que uma aluna do curso de Magistério, estagiária em uma

classe de quarta série de uma escola pública, constatou que a deficiência está na falta de

hábito em ouvir histórias. Quando isso é trabalhado há um grande interesse, mas o trabalho

foi suspendido, alegando que o conteúdo programático é extenso e a aprendizagem dos alunos

é lenta. Entretanto, os alunos insistiram e a estagiária nas “sobras de tempo” continuou

contando histórias e assim os alunos ficaram motivados para as longas narrativas dos livros

didáticos.

As histórias podem ser contadas de diversas formas. Um exemplo interessante foi

quando Coelho (1998) conta Quinquim Labareda (53) usando o livro, além de todo o seu

desempenho como motivação para que o aluno possa se tornar um leitor assíduo. Depois da

introdução, fez perguntas que aguçaram a curiosidade, leu mais e interrompeu fazendo

comentários pertinentes. Os alunos queriam ouvir mais, ela prosseguiu a leitura e quando já

estavam inteiramente motivados, não houve quem resistisse ao desejo de continuar essa

leitura. Formou-se fila na espera desse livro.

Também há um relato de um aluno que por vários dias participou de sessões de

contação do famoso livro de Collodi, na tradução de Monteiro Lobato, trabalho realizado

durante um mês. Porém, o aluno ausentou-se no fim da narrativa e assim que foi possível

procurou Betty Coelho e disse que Pinóquio não saía de sua cabeça. Ela respondeu que ele

poderia ler sozinho para saber o que aconteceu ao boneco de pau. Esse aluno levou o livro

para casa e voltou muitas vezes para outras leituras.

Segundo Coelho (1998) algumas atividades enriquecedoras podem ser trabalhadas

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a partir das histórias, pois elas permanecem na mente da criança e podem ser digeridas em

práticas artísticas e educativas. São exemplos dessas atividades:

- Dramatizações: Participação espontânea e dramatização sem ensaio. O narrador

deixa-os agir livremente. A dramatização ajuda a desinibir alunos tímidos, chegando até a nos

surpreender.

- Pantomima: Mímica, com expressão corporal, sem o uso da voz.

- Desenhos, recortes, modelagem, dobradura: Oportunizar a expressão de acordo

com as preferências do aluno, não somente através do desenho.

- Criação de textos orais e escritos: Fazer propostas que permita a criança refletir

sobre a história, ter um final diferente, redigir uma cara para alguém, inventar um caso,

quadrinhas, prosas e versos. Incentivar o gosto pela escrita ilustrando e até confeccionado

livros.

- Brincadeiras: Adivinhas, Cantigas de roda, parlendas.

- Construção de maquete: Reproduzir, construir uma ou mais cenas da história.

Devem ser trabalhadas espontaneamente, sem imposições.

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CAPÍTULO III

A LITERATURA COMO ENTRETENIMENTO

A literatura infantil surgiu somente no século XVII, com a descoberta da prensa.

Os contos populares existem desde que o ser humano adquiriu a fala. Há histórias antigas da

África, Índia, China, Japão e Oriente Médio – como a coleção de contos árabes “As mil e uma

noites”. “A fantasia é um mecanismo inventado pelo homem na era medieval para superar as

dificuldades da vida real”, conta Canton (2005), especialista em contos de fadas pela

Universidade de Nova York.

As histórias tratam de temas que fazem parte da tradição de muitos povos e as

soluções são universais, como por exemplo, O Pequeno Polegar. O personagem representa o

desejo de vingança do mais fraco contra o mais forte. As crianças identificam com os heróis e

experimentam emoções.

Para a escritora Machado (2005), os contos de fadas pertencem ao gênero literário

mais rico do imaginário popular. “Essas histórias funcionam como válvula de escape e

permitem que a criança vivencie seus problemas psicológicos de modo simbólico, saindo

mais feliz dessa experiência”.

A ideia foi transmitida a todos após os estudos de Bettelheim (1903- 1990), para

ele nenhuma leitura é tão enriquecedora como os contos de fadas, pois além de ajudarem a

resolver os problemas interiores, a fantasia ajuda a formar a personalidade e é por isso que os

contos não podem faltar à educação.

“A criança aumenta seu repertório de conhecimentos sobre o mundo e transfere

para os personagens seus principais dramas,” diz a terapeuta Mariúza Pregnolato Tanouye, de

São Paulo (2005).

Uma obra é clássica quando desperta emoções humanas. A separação é temida na

infância e em muitos contos, este tema é absorvido em seu início. Para Bettelheim (1980) a

agressividade e o descontentamento com irmãos, mães e pais são vivenciados na fantasia dos

contos: o medo da rejeição é trabalhado em João e Maria, a rivalidade entre irmãos em

Cinderela e a separação entre as crianças e os pais em Rapunzel e O Patinho Feio. As histórias

do passado apontavam padrões sociais da época, por exemplo, quando falam sobre garotas

desobedientes, como Chapeuzinho Vermelho, mostram que camponesas não deviam andar

sozinhas.

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[...] os contos de fadas, considerados por pais e educadores até pouco tempo como irreais, “falsos” e cheios de crueldade, são, para as crianças, o que há de mais real, algo que é real dentro delas. Os pais temem que os contos de fadas afastem as crianças da realidade, através de mágicas e de fantasias. Porem, o real, a que os adultos comumente se referem, é o externo, é o mundo circundante, enquanto que os contos de fadas falam de um mundo bem mais real para as crianças. (BETTELHEIM, 1980, p. 11-12).

Silva (2007) aborda que os adultos também apreciam as histórias e que elas além

de divertir o leitor refletem sobre a realidade que o cerca. Menciona, além disso, que é difícil

estabelecer uma separação entre livros de entretenimento e o de leitura para aquisição de

conhecimentos e estudo nas escolas. “A literatura infantil propriamente dita partiu do livro

escolar, do livro útil e funcional, de objeto eminentemente didático”. (ARROYO, 1968)

Antigamente, nas escolas, as histórias usadas nos livros eram produzidas

especialmente para serem passados valores da sociedade. Foram passados adiante através

dos livros infantis, mas a autêntica literatura infantil não deve ter basicamente esta intenção

pedagógica ou didática. O imaginário e a fantasia são cruciais para o desenvolvimento

integral da criança. Percebe-se que a maneira de escolher os livros está atualmente atrelada

ao seu design, ao invés do conteúdo em si.

Os pais têm um papel fundamental na formação do filho leitor, pois se contam ou

leem histórias, o filho adquire este hábito com mais facilidade.

A escola, os professores exercem também um papel primordial na formação do

leitor, pois cabe a eles oportunizar o contato da criança com o livro já que no cotidiano do

brasileiro essa atitude não é muito utilizada.

Contar histórias antes de dormir é um costume que vem se perdendo. O grande

vilão dessa história é a televisão, que vem substituindo a leitura e até mesmo os pais. Contar,

ler e ouvir histórias é o grande laço de cumplicidade e aproximação entre pais e filhos e a

formação da criança leitora.

O interesse de diferentes áreas pela Literatura Infantil e Juvenil pode trazer

resultados negativos quanto ao empenho em estimular a criança e jovens o gosto pela leitura,

pois podem transformar a compreensão literária do texto em mera denúncia de caráter

sociológico, considerado prematuro para ser estimulado no espírito infantil.

A Literatura Infantil perde suas características de literariedade quando é abordada

somente como meio de transmitir valores. Quanto ao valor literário, se livros são bons ou

maus, os comentários críticos mais frequentes divulgados pela mídia utilizam uma linguagem

emotiva, condenam ou louvam a obra, tornando-se mais uma linguagem sensacionalista e

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manipuladora que crítica, que orienta os leitores. É necessário respeitar os escritores e depois

da obra analisada, a crítica deve ser construtiva e os críticos que ocupam o poder de ajuizar

acerca do valor e desvalor da obra, possam assumir o papel adequado de questionador.

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CAPÍTULO IV

POSTURA PROFISSIONAL DO PROFESSOR

4.1 Valores e significados ocultos dos Contos

É necessário encontrar e compreender o significado da própria vida e isso

acontece gradativamente, mas é na idade adulta que esta compreensão se torna mais presente,

devido às experiências possuídas, o significado da vida é o conhecimento interior, deixar a

emoção, a imaginação e o intelecto se fundirem, assim a vida será mais rica e significativa.

Na infância a presença dos pais e de pessoas que estão ao redor da criança é

imprescindível para que ela encontre o sentido da vida, assim também é a herança cultural que

deve ser transmitida de maneira correta e a literatura como fonte estimuladora de significados,

informação, necessidades, diversão, curiosidade, imaginação, desenvolvimento, satisfação e

emoção. (SCHILLER, 1980, p. 04) afirma que “Há maior significado profundo nos contos de

fadas que me contaram na infância do que na verdade que a vida ensina”.

Os contos de fada possibilita a criança o entendimento de mundo, de seus

problemas interiores e sentimentos e ainda auxilia no encontro das soluções para enfrenta-los

de maneira correta.

“A criança faz tais identificações por conta própria, e as lutas interiores e

exteriores do herói imprimem moralidade sobre ela”. (BETTELHEIM, 1980, p.16) Através

dos contos de fadas, que desperta a imaginação, a criança descobre caminhos para sua

segurança interior, o que sozinha não consegue.

“Se as pressões internas da criança predominam – o que acontece com frequência

– o único caminho pelo qual ela pode esperar obter algum controle sobre elas é a

externalização”. (BETTELHEIM, 1980, p. 82)

Os contos são um patrimônio da humanidade. A criança compreende que eles

foram escritos em outra época. Clássicos são clássicos porque se perpetuam, diz CANTON

(2005).

O medo e a morte devem fazer parte dos contos, no entanto, especialistas afirmam

que a tendência de se retirar o medo, a morte, o mal e o castigo das narrativas é forte

atualmente. Mas como lembra Canton (2005, p. 54) “As mudanças de enredo apaziguam as

emoções que precisam ser vivenciadas. Não é saudável evitar que as crianças enfrentem os

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conflitos”.

4.2 Formação profissional do professor

Segundo Carvalho (2003), a formação profissional dos professores prioriza os

conteúdos que favorecem o desenvolvimento cognitivo, sendo desconsiderados os aspectos

emocionais.

As atividades com a literatura infantil fazem parte de um programa curricular. As

histórias não são contadas por contar, são vinculadas a uma atividade pedagógica e

apresentadas às crianças geralmente escritas, desprezando assim a narração oral.

Carvalho (2003) entrevistou algumas professoras e analisou que suas dificuldades

encontram-se na narração das histórias e na necessidade de utilizar muitos recursos e

dramatizações para prender a atenção dos alunos. As professoras preferem histórias mais

simples, realistas e que o aprendizado seja mais imediato. Há uma preferência por textos

informativos, que tragam um aprendizado concreto.

O professor é o responsável muitas vezes na escolha de livros e histórias para os

alunos, portanto ele precisa ter critérios e condições para selecioná-los, primeiramente é

necessário que ele tenha critérios para si mesmo.

Ainda assim, para as professoras, segundo a análise feita, as histórias da infância,

rodeadas de emoção são as mais significativas para as crianças. Com relação aos contos de

fadas, as professoras reconhecem que essas narrativas prendem a atenção das crianças e que

elas se identificam com os heróis, realizam sonhos impossíveis, como tornar uma princesa ou

casar-se com um príncipe. Essas histórias são diferentes porque têm magia e fantasia. Ao

ouvi-las as crianças aguçam a imaginação e criatividade.

Porém, ainda assim, o professor se sente incomodado quando perde o seu papel de

educador. Viver a fantasia não corresponde à prática pedagógica, tira o aluno da realidade, é o

mesmo que mentir e o professor coloca-se como a verdade na sala de aula, desconhecendo o

interior da criança.

O professor deve estimular as crianças para construir uma relação afetiva com a

literatura infantil, aprendendo o valor intelectual que cada obra tem. Favorecer o gosto pelas

histórias, textos, poesias, entre outras obras literárias, implica a determinação do professor em

promover momentos apropriados ao ato de contar e de ler histórias.

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Os contos de fadas antecedem a leitura, pois são usados no cotidiano das crianças

pela família desenvolvendo seu imaginário, eles muito têm a contribuir para desenvolver o

gosto pela leitura e para a resolução dos conflitos internos infantis.

Entretanto, as professoras entrevistadas na pesquisa de Carvalho (2003) relatam

que atualmente os pais não são presentes e a televisão ocupou um lugar importante em suas

vidas, por isso as crianças estão ficando prejudicadas, havendo problemas de disciplina e

comportamento. Falta limite a essas crianças, controle, regras e modelos. A natureza da

criança é pouco aceita dentro do contexto escolar, sua emoção, agressividade e sua

necessidade de passar a maior parte do tempo brincando ou sonhando são vistos como um

obstáculo.

A imaginação e a criatividade tornam-se anormais e o fracasso acaba sendo

responsabilidade da criança, de sua consciência familiar, sócio-cultural e do educador, que é

incapaz de exercer suas funções. As histórias, transformadas em atividade escolar, perdem

muitas vezes, suas funções lúdica e estética e impedem que as emoções sejam vivenciadas.

Bettelheim (1980) mostra que a magia está no ato de contar, viver emoções

novas, sem se deixar dominar, compartilhar com as crianças seu conhecimento e enfrentar a

incerteza e o desconhecido.

A verdadeira educação pode respeitar e aproveitar a natureza infantil, integrando a

fantasia e a emoção em seu processo de desenvolvimento e conhecimento para ingressar em

um mundo social e cultural.

4.3 Elementos necessários para contar História

Segundo Coelho (1998) já que é constatada a importância da história como fonte

de prazer e como contribuição ao desenvolvimento da criança, o sucesso da narrativa depende

de vários fatores.

O primeiro passo consiste em escolher o que contar. Muitas vezes é necessário

adaptar verbalmente a história escrita para facilitar a compreensão, considerando o estilo e o

gosto pessoal do narrador. É imprescindível que o interesse do ouvinte, sua faixa etária,

condições sócio-econômicas sejam levados em conta.

Quanto à faixa etária e interesses, Coelho (1998) informa que a história é

assimilada de acordo com o desenvolvimento da criança, então o que contar, tendo em vista a

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quem contar? Assim ela divide em fases de interesses:

Fase pré-mágica: (Crianças até 3 anos) as histórias devem ter enredo simples e

atraente e que aproxime da sua realidade, fazendo com que possa vivenciar os enredos. As

histórias devem conter de preferência ritmo e repetição. Histórias de bichinhos, crianças,

brinquedos, seres da natureza humanizados.

Fase mágica: (Crianças de 4 até 6 anos) a criança nessa fase é mais criativa,

solicita a mesma história várias vezes e escuta com o mesmo encanto, a primeira vez é

novidade e nas repetições ela já sabe o que vai acontecer, ela pode participar e apreciar mais

os detalhes.

A partir dos 7 anos quando sua linguagem se torna mais evoluída, a criança exige

enredo mais longos, diversos assuntos. Com música e a participação dos ouvintes a história

fica mais divertida. Coelho (1998) relata que não há rigidez nessa classificação, pois cada

criança cresce com seu ritmo próprio.

As lendas e fábulas são apropriadas para alunos que possam interpretar seu

significado. Quando a história a ser contada é escolhida, é preciso estudá-la. Estudar não é

decorar, é captar a mensagem que está implícita, divertir com ela, cantar, inventar músicas,

segundo Coelho (1989) seja em quais elementos essenciais abaixo quiser:

- Introdução: Parte e contato inicial entre narrador e ouvinte, deve ser curta e cabe

ao narrador adaptar e acrescentar caso necessário.

- Enredo: Sucessão dos episódios com ideias ordenadas, os conflitos que surgem e

a ação dos personagens são acontecimentos para alcançar o clímax.

- Clímax: Ponto culminante da história. Emoção. Acontece como uma resultante

de todos os acontecimentos.

- Desfecho: Fim da história. Costumam-se cantar ou usar expressões clássicas

para concluir: “Entrou por uma porta, saiu pela outra e quem quiser que conte outra...”.

- A moral e/ou lições da história, enfim a conclusão das histórias pertence ao

ouvinte. Pode haver comentários sem interferir em lições.

Várias são as formas de apresentar histórias:

- Simples narrativa: Mais antiga, tradicional, fascinante. Expressão verdadeira do

contador que usa somente a voz, expressão corporal e postura. A ilustração das histórias se

deve a imaginação, a invenção é mais significativa.

- Com o livro: Quando a ilustração é tão rica quanto o texto (às vezes mais rica).

Mesmo quando a criança não for alfabetizada, a apresentação do livro contribui para o

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desenvolvimento da sequência lógica do pensamento infantil. Narrar com o livro não é ler a

história, é contá-la evitando chamar atenção das crianças para as imagens, pois elas percebem

tudo enquanto escutam.

- Com gravura: Aconselha-se o uso de gravuras reproduzidas, ampliando as

imagens, quando o formato e ilustrações do livro forem pequenos. As gravuras favorecem as

crianças pequenas permitindo a observação de detalhes, a sequência das ideias. Pode também

haver uma interação com os ouvintes, participando ativamente na colocação das gravuras,

com perguntas e comentários pertinentes.

- Com o flanelógrafo: Recurso visual prático, usado para histórias que há

movimento dos personagens entrado e saindo, cada personagem é colocado individualmente.

A ação do personagem principal é importante.

- Com desenho: Recurso atraente. As histórias são contadas e os desenhos são

reproduzidos em quadros ou papéis, aguçando a curiosidade dos ouvintes e sua participação

ativa, desenhando, expressando e criando suas próprias ideias no momento.

- Com interferências do narrador e dos ouvintes: A interferência consiste numa participação

ativa dos ouvintes tanto pela voz e/ou gestos: falando, cantando, dividindo em grupos,

dramatizando. A interferência incorpora ao texto para tornar a narrativa mais atraente, isto se

deve a criatividade do narrador. É indispensável o equilíbrio para que as crianças possam

ouvir e não somente participar.

De acordo com Coelho (1989), antes de iniciar a narração da história é apropriado

ter uma breve e rápida conversa com os ouvintes, sobre o assunto mencionado na história,

facilitando e evitando interrupções no desenvolvimento do conto.

O contador precisa estar consciente de que a história é importante, precisa gostar

de crianças e se divertir como elas, se sensibilizar com as histórias.

Contar com naturalidade depende da segurança e para ter segurança é preciso

conhecer a história, dominar a técnica e estar preparado para contá-la.

Coelho (1989) relata que as emoções são transmitidas pela voz, que é o principal

instrumento do narrador e tem que saber modulá-la, considerando alguns aspectos:

- Intensidade: Varia de acordo com o ritmo, a inflexão e as entonações - Forte,

vibrante, pausada, suave, baixa, tendo cuidado para não ser estridente e irritante.

- Clareza: Boa dicção, evitar cacoetes (certo? então, aí, entenderam?).

- Conhecimentos: Possuir noções básicas de psicologia evolutiva, para escolher

melhor as histórias, avaliar as reações e apreciar os comentários das crianças.

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Uma passagem de Prieto (1994, p. 20) esclarece:

O ‘Era uma vez’ levanta a cortina de um mundo novo que, se escapa à realidade imediata, suscita em troca uma realidade simbólica dotada de uma intensidade tal que as reações que nela se dão podem tomar um matiz às vezes fascinante. (...) Todos os elementos são sugeridos pela voz e pela mímica do narrador, que esquece “seu” rosto, dissimula “seu” corpo, esquece “sua” voz, para converter-se, todo ele, em pincel e paleta, cor e som, forma e emoção. E a emoção chega aos pequenos.

Assim, as histórias conduzem a uma imaginação sem limites. Uma boa narrativa

pode levar ao fundo do mar, a mais alta montanha, acima das nuvens, a países desconhecidos,

ao futuro e ao passado.

O contador de histórias precisa ter alguns cuidados para que tenha êxito na sua

narração, como conhecer o local, a clientela, número de alunos, faixa etária, quem e onde a

história será contada, sentar as crianças de modo que todas o vejam.

A duração da narrativa depende da faixa etária e do interesse, de 05 a 10 minutos

para os menores e de 15 a 20 minutos para os maiores. Mas isso é flexível. Compete ao

narrador alongar ou diminuir o texto, conforme a experiência adquirida.

Caso houver interrupções o contador não deve interromper a narrativa, confirma

com um sorriso, fixa o olhar na direção de quem interrompeu, sorri e com um gesto pede-lhe

para aguardar, só depois de concluída a narração lhe dá a oportunidade de falar. Sempre

manter uma atitude tranquila, afinal, geralmente, as crianças indisciplinadas são as que mais

necessitam ouvir histórias.

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CAPÍTULO V

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E ANÁLISE

Análise dos dados coletados com os sujeitos envolvidos no processo

No intuito de comprovar que a hipótese dessa pesquisa possui plausibilidade e

retomando ao problema exposto inicialmente, buscou-se coletar dados com o intuito de

averiguar se a contação de histórias contribui de forma positiva no desenvolvimento da leitura

prazerosa e enriquecimento do imaginário das crianças.

Foi realizado um questionário semi-estruturado com alguns alunos selecionados

de uma escola pública de São Tiago / MG. Foi feita também uma observação não participante

sistemática de um momento de contação e apresentação de história para a averiguação do

comportamento e participação dos alunos nas atividades de histórias em sala de aula. Com

isso, observou-se o relacionamento entre aluno-aluno, aluno-professor, aluno-ambiente

escolar e aluno-comunidade.

5.1 A arte de contar histórias para a formação do aluno leitor, na perspectiva dos alunos

selecionados

Sabe-se que ouvir histórias é fator preponderante para a formação das crianças.

Ouvi-las é o início da aprendizagem para ser um bom leitor, tendo um caminho mágico e

prazeroso com infinitas descobertas e compreensão do mundo.

Interpretando os alunos entrevistados sobre se gostam de ouvir histórias a maioria

responderam que sim, um aluno respondeu que é coisa de criança e três alunos responderam

não gostam dessa prática.

Analisando as respostas de alguns alunos podemos entender que para se contar

uma história,seja ela qual for, faz-se necessário uma preparação antecipada do contador de

história. Este preparo deve ser feito com antecedência para evitar o gaguejar diante das

palavras e ser surpreendido por acontecimentos na história.

Abramovich (1997, p. 18) afirma que:

... quando se vai ler uma história (...) não se pode fazer isso de qualquer jeito,

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pegando o primeiro volume que se vê na estante. E aí no decorrer da leitura, demonstrar que

não está familiarizado com uma ou outra palavra (ou com várias).

Este cuidado permite que o enredo emocione, desperte uma aventura e tinha

sentido. O narrador tem de transmitir confiança, chamar a atenção, pois ele é o elo entre a

história e o ouvinte.

No que diz respeito ao ouvir histórias na escola, a forma como são trabalhadas e

como gostariam que as histórias fossem contadas, os alunos foram unânimes ao afirmarem

que ouvem histórias na escola, porém divergiram no tocante à forma e deram sugestões de

como gostariam que esse processo fosse realizado, conforme relaram abaixo:

“Sim. Lendo, às vezes a gente imita o personagem. Um ambiente aconchegante e

confortável.” (aluno 1)

“Sim. A professora fica na frente e lê. Queria que fosse tipo um teatro.” (aluno 2)

“Sim. Em folha. Se fizesse um círculo num lugar com uma área verde, com

lanches.” (aluno 3)

“Às vezes. De maneiras diferentes. Gostaria que fosse sentado na praça.” (aluno

4)

Entretanto, um aluno menciona que apesar de ouvir histórias na escola, ela

funciona como trabalho a cumprir, o que o faz ter repulsa pela contação de história, conforme

confirmado em sua fala.

“Sim. Manda fazer resumo. De nenhum jeito.” (aluno 5)

Tal relato nos remete a Poças (1992; p. 17) ao afirmar que:

“Cabe ao professor a tarefa de despertar a criança para a leitura, vista como uma

atividade predominantemente lúdica, onde o livro, antes de mais nada, é fonte de prazer,

estímulo a curiosidade e passaporte ao desconhecido.”

Assim, faz-se necessário que os professores contem histórias aos alunos,

incentivando a criatividade e a curiosidade, auxiliando o processo da leitura como prazer e

não como tarefa obrigatória possível de avaliação.

O educador contador de histórias deve considerar também as condições

psicológicas e mentais das crianças selecionado os textos de acordo com a faixa etária de seus

ouvintes.

Um outro questionamento feito aos alunos foi se contariam histórias para pessoas

necessitadas de atenção e carinho, como idosos em asilos e crianças hospitalizadas e por quê.

Analisando essa questão foi constatado que a maioria dos alunos contariam

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histórias a esse público, levando em consideração os mais diversos valores pessoais, como a

ética, a solidariedade, o respeito ao ser humano.

Entretanto um aluno não se posiciona quanto à interrogação e outros três afirmam

que não contariam histórias por diversos motivos conforme relatam abaixo:

“Não. Porque eu não gosto de ler para outras pessoas. Só pra mim.” (aluno 7)

“Não. Só se for olhando na folha. Não consigo contar de memória. (aluno 8)

“Não. Porque tenho vergonha.” (aluno 9)

Analisando o relato dos alunos é possível constatar que desenvolver o gosto pela

leitura ainda é uma conquista a ser realizada pela escola, que deve hoje alertar-se par os

problemas advindos dessa realidade de poucos buscarem o livro por prazer e sentirem inibidos

ao realizar leituras em público.

Nesse sentido, Toledo (1990; p. 09) afirma que “há a necessidade de se criar

relações de carinho entre a criança e os livros... para isso a missão é tornar a leitura fator

significativo em sua vida, inserindo-a no seu cotidiano.”

Assim, ouvir e ler histórias significa também desenvolver todo o potencial oral e

crítico da criança, é poder pensar, duvidar, se perguntar, questionar. É sentir inquieto,

cutucado, querendo saber mais e percebendo que se pode mudar de ideia.

Dessa forma, as histórias podem ser um instrumento pedagógico relevante,

conduzindo os alunos de forma eficaz no mundo da leitura, uma vez que elas conseguem

despertar o interesse da criança, bem como colocar os elementos cotidianos num contexto

simples e adequado ao entendimento dos mesmos.

5.2 A arte de contar histórias para a formação do aluno leitor, na perspectiva da

observação e participação dos alunos selecionados

Através da observação, no momento da contação de história, foi possível perceber

que há um vínculo de amizade entre professor e aluno. O professor demonstra

comprometimento com a aprendizagem, investindo na construção da relação de confiança

com o aluno.

Constatou-se também o importante papel da escola na busca da formação de

alunos leitores, propondo atividades lúdicas e diferenciadas a partir da contação de histórias,

incentivando a leitura.

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A observação e atuação se deram em uma turma do 6º ano, na qual se

encontravam alguns alunos repetentes, com dificuldades de leitura, interpretação e

comportamento. A sugestão partiu diante de problemas enfrentados pela direção e professores

quanto ao desinteresse e indisciplina da turma e com o objetivo de fazer um trabalho

diferenciado e lúdico com estes alunos.

O desenvolvimento do trabalho aconteceu em duas vezes por semana em um

período de uma hora e meia por dia, durante quatro meses, em uma sala ambiente com

decoração propícia a despertar o interesse dos alunos.

Durante o desenvolver de todo o trabalho, foi possível observar que os debates

foram momentos riquíssimos, pois os alunos tiveram uma maior facilidade em expor suas

ideias oralmente.

O momento de contação de histórias foi um momento mágico, pois a contadora se

preparou de forma antecipada, utilizando acessórios e musicas que pudessem despertar o

interesse dos alunos. As crianças adoraram e tiveram a oportunidade de manusear os materiais

utilizados pela contadora de história, inclusive os livros. Foi uma aula de grande valia para

conhecer os interesses dos alunos.

Outro momento de grande importância se deu quando foi oportunizado aos alunos

o contato com vários livros de diversos autores, porém, de forma dirigida, foi pedido que cada

aluno escolhesse um livro e que fizesse a leitura do mesmo, livres, sem uso de carteiras, que

eles se portassem da maneira que mais lhes agradassem: sentados ou deitados. Depois, em

círculo, os alunos que desejaram, contaram a história para os colegas e professor.

Assim, foi possível constatar que as histórias exercem um grande fascínio nas

crianças, pois são caminhos de descoberta e compreensão do mundo.

Outra atividade realizada com os alunos foi dividi-los em cinco grupos para que

escolhessem um livro para que pudessem ler fora da sala e que fizessem um “teatro de

sombras” com a história escolhida, da forma como lhes agradassem.

Os alunos confeccionaram os personagens e cenários das histórias usando material

reciclável sob a orientação da professora. Depois, ensaiaram a história, utilizando os fantoches

feitos por eles e apresentaram a história para a turma.

Foi um momento muito rico que propiciou ao professor perceber a importância do

trabalho coletivo, no qual os alunos tiveram a oportunidade de trabalharem em grupo,

respeitando as diferentes opiniões e construindo um conhecimento democrático pautado na

diversidade e coletividade.

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No décimo momento foram distribuídos potinhos com vários cheiros (canela, flores,

alecrim, hortelã, limão, chás, café etc.), para que através dos cheiros os alunos escrevessem

alguma lembrança que tivessem desse cheiro. Com uma música clássica de fundo, os alunos

se concentraram e escreveram uma experiência pessoal, sem cobranças de ortografia,

simplesmente com o objetivo de explorar a imaginação e resgatar uma memória.

A curiosidade foi um fator preponderante deste momento, pois os alunos queriam

saber qual aroma o colega havia tirado, porém foi combinado que cada aluno guardaria

segredo e que fosse descoberto somente na apresentação do texto. As apresentações foram

emocionantes, cada aluno pôde contar uma pequena parte de sua própria história, conforme

trecho transcrito de uma aluna:

“... Minha irmã mora fora e todas as vezes que ela chega pede pra minha mãe fazer

arroz doce pra ela, ela gosta principalmente da canela que minha mãe põe por cima, ela diz

que o arroz doce fica com um gostinho especial, o cheiro incendeia a casa toda, é muito bom,

sinto falta dela e quando fico com saudades dela, pego o pote de canela, cheiro e choro.”

Analisando o trecho da aluna, podemos constatar a importância dos relatos pessoais

na vida das crianças, pois reviver a memória através do cheiro foi um modo de oportunizar a

escrita de forma espontânea, contando a história de sua própria vida.

No momento de contação de histórias houve muitas variantes, como brincadeiras,

danças, dinâmicas livres e dirigidas.

Foi contada a história “Guilherme Augusto Araújo Fernandes” do escritor Mem Fox

com o objetivo da compreensão do conceito de “Memória” e que os alunos reportassem as

suas memórias, trazendo para escola algo que representasse suas memórias.

Os alunos, em unanimidade, trouxeram e apresentaram cada memória. Foram

momentos nos quais houve muitos sorrisos, mas também intensas tristezas. Momentos esses

que nos fizeram conhecer o íntimo de cada ser humano, suas dores, lembranças e sonhos.

Assim, além de incentivar a criatividade, as histórias forneceram um contexto no

qual é possível conhecer um pouco da realidade dos alunos.

A literatura é o sonho acordado das civilizações, dizia Antônio Cândido em um de

seus textos mais conhecidos. O sociólogo observava que o livro “desenvolve em nós a quota

de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos par a natureza, a

sociedade, o semelhante”.

Outro momento de grande relevância foi a contação da história através dos fantoches

do Sítio do Picapau Amarelo. Os alunos ficaram atentos, fizeram perguntas e tiveram a

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oportunidade de manipular os bonecos e criar suas próprias histórias.

Foi um momento importante e enriquecedor, pois muitos alunos nunca tinham

manipulado um fantoche e alguns não tinham ritmo quanto à manipulação dos bonecos, o que

não atrapalhou o desenvolvimento e andamento do trabalho. Tanto o trabalho livre e dirigido

com os fantoches empolgou os alunos, que consequentemente ficaram concentrados na leitura

da história.

Tal relato nos remete a Toledo (1990; p. 09) quando afirma que “há necessidade de

se criar relações de carinho entre a criança e os livros... para isso a missão é tornar a leitura

fator significativo em sua vida, inserindo-a no seu cotidiano”.

Assim, apresentar os alunos aos livros através da ludicidade, destacar a leitura como

prazer e não como tarefa possível de avaliação através das histórias, é uma forma de

desenvolver o imaginário das crianças, contribuindo para o desenvolvimento do gosto pela

leitura e para a resolução dos conflitos internos infantis.

A pintura também foi um momento muito descontraído e prazeroso que propiciou

aos alunos o trabalho em equipe. A única restrição foi quanto à organização e limpeza do

material utilizado, porém no outro dia, foram estabelecidas regras para que todos

participassem das atividades e da organização do material de forma cooperada.

Após a pintura, foi propiciado aos alunos várias formas de contação de histórias

como: apenas imagens, CD e DVD, contação de história, usando fitas olímpicas coloridas,

dinâmicas, danças e usando o tangram.

Após ouvirem a história e confeccionarem o tangram, cada aluno criou uma figura

e uma história em sequência, de acordo com suas vontades e criatividades.

De uma maneira descontraída, os alunos participaram efetivamente das atividades

propostas, vencendo desafios e descobrindo o valor das histórias e do trabalho em equipe.

A apresentação realizada pelo grupo de teatro da APAE foi de extrema

importância para o projeto, pois propiciou aos alunos interagir e conhecer as potencialidades

dos alunos especiais.

Dessa forma, a contação de história tem como objetivo despertar o gosto e o

prazer de ler e desenvolver a competência leitora.

A escola deve converter-se em espaços cada vez mais propícios a leitura. Sendo

esta uma questão de sobrevivência no mundo atual, é preciso realizar uma prática que abra

para todas as portas desse mundo letrado.

Coelho (1998; p. 86) afirma que:

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“A literatura é o meio ideal para auxiliar a criança não só a desenvolver suas

potencialidades naturais, como também auxiliá-los nas várias etapas de amadurecimento que

mediam entre a infância e a vida adulta.”

Assim, o essencial é fazer da escola um ambiente propício a leitura, mediante um

caminho que todos possam percorrer para tornarem cidadãos da cultura escrita.

5.3 Apresentação das atividades para a escola e comunidade e culminância do projeto

A exposição e encerramento da pesquisa “A Arte de Formar Leitores Contando

Histórias” aconteceu na Sede Social da cidade, com a participação dos alunos, pais,

professores e comunidade.

As atividades apresentadas foram contação de histórias, teatro de sombras,

fantoches, danças e as demais atividades confeccionadas pelos alunos durante o projeto.

No encerramento os alunos adoraram ouvir novos contos com a contadora de

histórias e ficaram empolgados com a confraternização final.

As histórias foram trabalhadas de diferentes formas, com dança, teatro, música,

desenho, pintura, colagem, fazendo com que os alunos usassem a criatividade, a improvisação

e o raciocínio.

De uma forma geral, os alunos vibraram ao expor seus trabalhos para a comunidade.

Todos os números apresentados foram escolhidos democraticamente e os alunos participaram

em unanimidade na decoração e preparação da exposição e culminância.

No dia da mostra, os alunos demonstraram alegria, empenho e receberam muito bem

os convidados, sendo elogiados pelos professores, pais e comunidade em geral.

Assim, através das histórias os sentimentos de cada aluno, foram investigados o

próprio aluno, para conhecê-lo melhor, suas emoções, dando oportunidade para que também

os pais e professores pudessem conhecê-los. O trabalho em grupo proporcionou sentimentos

como respeito, solidariedade, cooperação, compromisso, responsabilidade, capacidade de

ouvir, iniciativa, amizade e alegria.

O progresso quanto à linguagem oral dos alunos foi um fator relevante no processo

do trabalho e ao término da pesquisa, vários alunos já estavam lendo de forma fluente e

prazerosa, diversos livros de literatura.

Assim, é de extrema importância que pais e professores estimulem o hábito da

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leitura contando histórias, pois esta é como uma janela para a imaginação e a criatividade,

uma janela para um novo mundo, que proporciona a ampliação do conhecimento.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao desenvolver esta pesquisa buscou-se estabelecer uma interlocução entre a

análise dos dados coletados e os estudos realizados pelos autores sobre essa temática.

Esta pesquisa constituiu-se em analisar a importância da contação de histórias

para a formação do aluno leitor.

Foi constatado durante esse diálogo que os autores defendem a importância de

contar histórias para os alunos, como fator relevante para o desenvolvimento da leitura e

escrita e formação de alunos leitores.

Assim, valorizar e integrar o conhecimento cultural que o aluno traz de suas

experiências familiares, articular a comunidade de forma a integrá-la no processo educativo,

atender o aluno incondicionalmente e formá-lo, como ser humano integral, são práticas

indispensáveis para as crianças.

A importância da educação na formação da subjetividade humana é imensa. Cada

professor e cada educando são diferentes porque são únicos e possuem sua carga de valores,

conceitos e preconceitos. Conviver com essas diferenças é tarefa complexa que exige um

relacionamento de respeito e confiança entre os pares.

Dessa forma, os educadores hoje têm como principal desafio, a autoria do

pensamento. Objetividade e subjetividade convivem no espaço do ensinar e do aprender, onde

sejam privilegiados aspectos interacionais que possibilitam ao sujeito humano compreender

os dilemas e os grandes problemas por ele gerados.

Aprender, então, é a própria vida, que deve ser vivida na reflexão, no diálogo, na

interação.

Diante disso, o papel da escola é determinante na formação do adulto, de seus

valores, do respeito ao outro e da construção de sua identidade, inserindo-o na cultura escolar

e compartilhando com a família a responsabilidade pela formação humanística dos educandos.

Dessa forma, foi possível comprovar a importância de contar histórias para as

crianças, para a formação do aluno leitor e como a literatura infantil pode ser um instrumento

pedagógico extremamente relevante no processo ensino-aprendizagem.

A arte de contar histórias é essencial a criança desde o seu nascimento, através das

histórias contadas pelos pais, avós e tios, para que possam viajar no seu imaginário, criando

personagens e fantasias.

Segundo Bettelheim (1980) “A psicanálise dos contos de fadas mostra que as

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razões, as motivações psicológicas, os significados emocionais, a função de divertimento, a

linguagem simbólica do inconsciente estão subjacentes nos contos infantis” e Ana Maria

Machado corrobora com o autor supracitado afirmando que “Já que não podemos entrar em

uma máquina do tempo do século XVIII, ler é a melhor maneira de nos transportar para outros

universos, tempos e espaços”.

Assim, à medida que a criança se desenvolve e amplia seu contato com livros,

folheando-os, manuseando-os, encontrará tempo par sonhar e criar aventuras.

Com isso, faz-se necessário que o professor haja como um mediador entre a

criança e as histórias, pois a partir daí acontecerá a segunda etapa deste processo, o momento

da criação com o estilo próprio de cada criança.

Portanto, cabe ao professor criar um ambiente acolhedor e aconchegante,

favorável para contar histórias e posteriormente criar histórias, utilizando para isso diversos

meios, como organizar o cantinho de leitura, contar histórias ao ar livre, entre outros, que a

criatividade e a imaginação do professor e dos alunos poderão criar, resgatando a leitura como

fonte de encanto e prazer.

Que as histórias nunca deixem de nos ensinar a interpretar as noites de frio, de

medo... o encanto das paisagens, o ruído dos animais... enfim, que consigamos repovoar o

mundo das histórias, nos tornando cidadãos, fazendo de nossas histórias uma história a ser

contada.

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REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e bobices. São Paulo: Scipicione, 1997. (Pensamento e Ação no Magistério).

BENCINI, Roberta. Era uma vez… O maravilhoso mundo dos contos de fadas e seu poder de formar leitores. Revista do Professor. Nova Escola. São Paulo: Abril, nº. 185, Set./2005.

BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. Trad. Arlene Caetano. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.

BUSATTO, Cléo. Contar e encantar: Pequenos segredos da narrativa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

CHIEN, B. Allan. … E foram felizes para sempre. São Paulo: Cultrix, 1995.

COELHO, Betty. Contar histórias: uma arte sem idade. 8. ed. São Paulo: Ática, 1998.

COELHO, Nelly; NOVAES. Conto de fadas. Revista Criação do Professor de Educação Infantil. Brasília, jan./2005.

COELHO, Nelly; NOVAES. A Literatura Infantil: história, teoria, análise. 3. ed. São Paulo: Quíron, 1984, jan./2005.

JUNG, C. Obras completas. Petrópolis: Vozes, 1983.

MACHADO, Regina. Fundamentos teórico-poéticos da arte de contar histórias. São Paulo: DCL, 2004.

MALDONADO, Márcia Diniz. Português. 1.ª série do Ensino Fundamental. Rede Promover de Ensino.

RADINO, Glória; CARVALHO, César. Contos de Fadas e Realidade Psíquica – A importância da fantasia no desenvolvimento. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.

SALLES, Norma; COSTA, Madu. Contos de fadas: ferramenta para a construção da ética. Apostila: Consultoria de Arte – Quem Conta enCanta. Oficina: “Quem quiser que conte outra…”. 1993. POÇAS, I. M. Quando ler se torna um prazer par o aluno. Santa Cruz do Sul: Revista do Professor, nº. 32, out./dez. 1992.

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TOLEDO, A DE C. A. Ler, hora de Lazer. Belo Horizonte: Revista Amae Educando, nº. 215, out. 1980.

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APÊNDICE A

Questionário

(Foi realizada uma avaliação diagnóstica para futuras intervenções em relação à prática e o

gosto em ouvir, contar e ler histórias com alunos do 6º ano da Escola pesquisada)

Nome: _________________________________________________________

1- Você gosta de ouvir histórias?

2- Quando você era bem pequeno alguém contava histórias para você? Quem? 3- Quais as histórias que você ouviu quando criança?

4- Atualmente você ouve histórias? Onde você ouve e por quem são contadas? 5- Cite quais as últimas histórias que você ouviu.

6- Que tipo de histórias você gosta de ouvir?

7- Você já contou histórias para alguém? Para quem?

8- Qual ou quais histórias já contou?

9- Você sente mais prazer em ouvir ou contar histórias? Por quê?

10- Você gosta de ler?

11- Quais os últimos livros que leu? Alguém pediu que os lesse?

12- Quais as últimas poesias que leu?

13- Você tem vontade de escrever poesias, livros?

14- Você contaria histórias para muitas pessoas diferentes?

15- Na escola você ouve histórias? De que forma as histórias são trabalhadas? E como você gostaria que elas fossem trabalhadas?

16- Você contaria histórias para pessoas que precisam de muito carinho e atenção como

idosos em asilos e crianças em hospital? Por quê?

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APÊNDICE B

Livros utilizados na pesquisa: (Leitor iniciante, em processo e fluente).

- (Ronaldo Simões Coelho - escritor de São João del Rei - Minas Gerais)

Pedrinha no sapato / Amanhecer na roça / A laranja colorida / Chuva chuvisco / Macaquinho /

Dormir fora de casa / Janelas de domingo / O lobisomem que quase morreu de medo / Pérola

torta / Pum! / Jardim do sonho / O caso dos ponteiros do relógio / 7 cores, 7 autores / De

repente um pássaro / Um dia dentro de casa / Doido varrido / Tia Delica / O caso da banana.

- (Vivina de Assis Viana – escritora de Morro do Ferro – Minas Gerais)

A coisa melhor do mundo / O dia de ver meu pai / O rei dos Cacos / Eu sou isso? / Suando

frio / Meu dente caiu / Barulho do tempo / O jogo do pensamento / O mundo é pra ser voado /

Sabe de uma coisa / Ana e Pedro / Picasso / Arco-iris tem mapa / Histórias dos tempos de

escola / Brincando na rede de acordar / A pipoca do quinto andar / Os passarinhos do mundo.

- O menino que via com as mãos (Alexandre Azevedo)

- Quando chove e faz sol (Regina Chamilian)

-Tobias e o anjo (Regina Chamilian)

- Rosa Gulosa (Lúcia Pimentel Góes)

- A lagarta que tinha medo de voar (Cleide Vilas)

- O galinho apressado (Tatiana Belinky)

- A viagem da sementinha (Regina Siguemoto)

- Dengosa, a girafinha cor de rosa (Gilda Figuiredo Padilla)

- Olhos para ver o que Deus fez (Eliana Atihé / Ana Cristina ronconi)

- Uma Joaninha diferente... (Regina Célia Melo)

- O atraso (Nely A. Guernelli Nucci)

- A descoberta da joaninha (Bellah Leite Cordeiro)

- As mãos de Rosinha (Glória Barreto)

- A sementinha-mãe (Marina Pereira)

- Turma do utilixo (Nely A. G. Nucci)

- O reino das borboletas brancas (Marli Assunção Gomes Pereira)

- Bruxa não (Mara Monteiro)

- Dez sacizinhos (Tatiana Belinky)

- A casa sonolenta (Audrey Wood)

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- A Bruxa Salomé (Audrey Wood)

- (Ana Maria Machado)

Menina bonita do laço de fita / Quem manda na minha boca sou eu / O domador de monstros /

Isso ninguém me tira / Do outro mundo / Abrindo caminho / A jararaca, a perereca e a tiririca

/ O canto da praça/ O que é.

- (Coleção da Bruxa Onilda - E. Larreula, R.Capdevila)

A infância da Bruxa Onilda / As férias da Bruxa Onilda / As memórias da Bruxa Onilda /

Bruxa Onilda e a macaca / Bruxa Onilda é uma boa companheira / Bruxa Onilda é uma

grande estrela / Bruxa Onilda em apuros / Bruxa Onilda vai a festa/ Bruxa Onilda vai a Paris /

Bruxa Onilda vai à Inglaterra / Bruxa Onilda vai a Nova Iorque / Bruxa Onilda vai a Veneza /

Bruxa Onilda vai à festa.

- (Rubem Alves)

A história dos três porquinhos / A árvore e a aranha / A libélula e a tartaruga / A menina, a

gaiola e a bicicleta / A menina e o pássaro encantado / A operação de Lili / A pipa e a flor / A

volta do pássaro encantado / Como nasceu a alegria / Histórias de bichos / O patinho que não

aprendeu a voar / Os morangos.

- O pequeno livro que ainda não tinha tíltulo (José Antonio Millan)

- Conta uma história? (Ana Lúcia brandão)

- Um beijo pra Isadora (Noram Marinheiro)

- O segredo das coisas mágicas (Cláudio Cuellar)

- Charalina (Nelson Albissu)

- Um talento diferente (Nelson Albissu)

- A velhinha que mudou o tempo (Juciara Rodrigues)

- Os peixes-sombra e o espelho encantado (Elizabete Andrade Araújo)

- O macaco e sua viola (Elias José)

- O macaco e a morte (Elias José)

- A gula da avó e da onça (Elias José)

- As virações da formiga (Elias José)

- De como o macaco venceu a onça (Elias José)

- O macaco e seu rabo (Elias José)

- Pé com pé com passo a pé (Regina Castro)

- A verdadeira história dos três porquinhos (Jon Scieszka)

- O galo apaixonado (Ana Suzuki)

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- No reino das águas doces (Célia Faraco Morais)

- O rapto das flores cantantes (Monika Papescu / Marcelo Finger)

- O corpo dourado de Débora (José Bortolini)

- A cidade iluminada (Ricardo Portugal)

- O bordado encantado (Edmir Perrotti)

- Noel (Nelson Cruz)

- Leonardo (Nelson Cruz)

- Do outro lado do arco-íris ( Eliana Martins)

- Lili Liberdade (Gonzalo Moure Trenor)

- A conquista da liberdade segundo os pássaros (Sergio Capparelli)

- O país dos Pitigrundos (Cláudia Dalila Verde)

- A história de Ernesto – O filho adotivo (Mercê Company)

- A história azul (Júlio Emílio Braz)

- O homem que botou um ovo (Daniela Chindler)

- Moça perfumosa, rapaz pimpão (Daniela Chindler)

- A raposa (Regina Chindler)

- Ferdinanda e Eu (Sylvia Monzano)

- Clave de Lua (Leo Cunha)

- Girafa não serve pra nada (José Carlos Aragão)

- O faz tudo (Maria Helena Hess Alves)

- Na barriga do escuro (Taisa Ferreira)

- (Ruth Rocha)

O rei que não sabia de nada / O reizinho mandão / Barba azul / O menino que quase morreu

afogado no lixo / Bom dia, todas as cores! / O amigo do rei / (Este) Admirável mundo louco /

O pequeno Mozart / De repente dá certo / Dois idiotas sentados cada qual no seu barril... /

Fábulas de Ésopo / Os músicos de Bremen / O velho, o menino e o burro & outras histórias

caipiras / A flauta mágica / Romeu e Julieta / O menino que aprendeu a ver / A menina que

aprendeu a voar / Faca sem ponta, galinha sem pé / Histórias das mil e uma noites / Marcelo,

marmelo, martelo e outras histórias.

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APÊNDICE C

Músicas e versos para iniciar e finalizar as histórias

(É importante criar um clima antes da apresentação das histórias para que se desperte

interesse no aluno).

Músicas:

- Uma História (Palavra Cantada)

Eu vou te contar uma história, agora, atenção!

Que começa aqui no meio da palma da tua mão

Bem no meio tem uma linha ligada ao coração

Quem sabia dessa história antes mesmo da canção?

Dá tua mão, dá tua mão, dá tua mão, dá tua mão...

- No meio da mata ouvi / Um piá de dois mutuns

Piava que retumbava maninha tum tum tum

- Perdi meu anel no mar / Não pude mais encontrar

E o mar me trouxe a concha / De presente pra me dar

Será que foi parar na güela da baleia / Ou será que foi parar no dedo da sereia

Ou quem sabe, o pescador / Pescou o anel e deu pro seu amor

Tirum tarudê, tirum tarudê / Tirum tarudê, tirum tarudê

Tirururu tirum, tiru tirum / tararararurê rarum

- Pedalinho (Bia Bedran)

Pedala, pedala / Pedala pedalinho / Me leva pra longe / Bem devagarinho

O mar ta bonito / Tá cheio de caminhos / Pedala, pedala / Pedala pedalinho

- E agora minha gente / uma história vou contar

Uma história bem bonita / todo mundo vai gostar

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- E agora minha gente / que a história acabou

Batam palmas bem contente / batam palmas quem gostou

- Desengonçada (Bia Bedran)

(refrão) Vem dançar, vem requebrar / Vem fazer o corpo se mexer / Acordar

É a mão direita, mão direita, mão direita agora que eu vou acordar.

É a mão esquerda, mão esquerda / As duas juntas que eu vou acordar

(refrão)

É o ombro direito, é o ombro direito, o ombro que eu vou acordar.

É o ombro esquerdo, é o ombro esquerdo / Os dois juntos que eu vou acordar

(refrão)

É o cotovelo direito, é o cotovelo direito / É o cotovelo que eu vou acordar / É o cotovelo

esquerdo, é o cotovelo Esquerdo / Os dois juntos que eu vou acordar

(refrão)

É o braço direito, é o braço direito / É o braço que eu vou acordar

É o braço esquerdo, é o braço esquerdo / Os dois juntos que eu vou acordar

(refrão)

É o joelho direito, é o joelho direito / É o joelho que eu vou acordar

É o joelho esquerdo, é o joelho esquerdo, / Os dois juntos que eu vou acordar

(refrão)

É o pé direito, é o pé direito, é o pé direito agora que eu vou acordar

É o pé esquerdo, é o pé esquerdo agora / Os dois juntos que eu vou acordar

(refrão)

É a cabeça, os ombros, as mãos, Cotovelos e braços / Que eu vou acordar

A cintura, a barriga, o bumbum, os joelhos / Tudo junto que eu vou acordar

- A História da Serpente

Esta é a história da serpente / Que desceu do morro

Para procurar um pedaço do seu rabo / Você também,você também,

Faz parte do seu rabão / Esta é a história da serpente

Que desceu do morro / Para procurar um pedaço do seu rabo

Você também,você também / Faz parte do seu rabão

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- Jacarezinho Triste

Vou contar a historinha do jacaré / Jacaré vive triste de ser como é

Ele é muito feinho, o seu corpo é durão / Até um jacarezinho, é um jacarezão

Ele tem uma bocarra ele tem tantos dentes

Ele faz medo a gente, ele faz medo a gente.

Jacaré está de mágoa não entende por que é

Por que só vive na água se peixe não é?

- Piuí Piuí Piuí / Coloca a mão no meu ombro

Piuí Piuí Piuí / Não deixa o trem descarrilhar

Eu sou a máquina / E vocês são os vagões

E os passageiros são os nossos corações

Finalizações para as histórias:

- E era uma vez uma vaca Vitória que caiu no buraco

E acabou-se a história.

- Esta história saiu de um coração e entrou em outros

E quem quiser que conte outra.

- E o que era de vidro: se quebrou / E o que era de papel: se molhou

Entrou por uma porta: saiu por outra / E quem quiser que conte outra.

- Entrou pelo pé do pinto / Saiu pelo pé do pato

E quem quiser que conte mais quatro

Entrou pelo pé do pato / Saiu pelo pé do pinto

E quem quiser que conte mais cinco

- Com sapatinhos de veludo / nesta sala vou entrar

Pra ficar bem quietinho / pra historinha escutar