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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Naval e Oceânica Especialização em Engenharia Naval Módulo 4: Análise Estrutural de Navios Prof. Dr. Oscar Brito Augusto Material de apoio ao curso oferecido na Universidade de Pernambuco – UPE 2007

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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Naval e Oceânica

Especialização em Engenharia Naval Módulo 4: Análise Estrutural de Navios Prof. Dr. Oscar Brito Augusto Material de apoio ao curso oferecido na Universidade de Pernambuco – UPE 2007

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1 24/03/2007 Texto completo Versão Data Observações

Apostila: ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA NAVAL

Módulo 4: Análise Estrutural de Navios Dept./Unidade Data Autor PNV/EPUSP 2007 Prof. Dr. Oscar Brito Augusto

Curso oferecido pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo na Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco

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Programação das aulas:

Data Período Horários Assunto

18:30h – 19:20h Apres.: Professor, alunos e módulo 4

19:20h – 20:10h As ações das cargas e do ambiente

20:10h – 21:00h

29/0

3/20

07

Qui

nta-

feira

Noi

te

21:00h – 21:50hArranjo estrutural

18:30h – 19:20h

19:20h – 20:10hBreve revisão de Mec. Sólidos

20:10h – 21:00h

30/0

3/20

07

Sex

ta-f

eira

Noi

te

21:00h – 21:50hO navio como viga flutuante. Estrutura Primária

08:00h – 08:50h

08:50h – 09:40hTensões normais primárias

09:40h – 10:10hMan

10:10h – 11:00hTensões de cisalhamento primárias

13:00h – 13:50h Estrutura Secundária

13:50h – 14:40h Distribuição de cargas

31/0

3/20

07

Sáb

ado

Tar

de

14:40h – 15:30h Chapa Colaborante

Data Período Horários Assunto

18:30h – 19:20h Estrutura Secundária

19:20h – 20:10h Perfis leves

20:10h – 21:00h Perfis pesados

14/1

2/20

06

Qui

nta-

feira

Noi

te

21:00h – 21:50h Grelhas

18:30h – 19:20h A Estrutura Terciária

19:20h – 20:10h Pequenas Deflexões

20:10h – 21:00h Chapas Longas

15/1

2/20

06

Sex

ta-f

eira

Noi

te

21:00h – 21:50h Soluções

08:00h – 08:50h Flambagem

08:50h – 09:40h Chapeamento

09:40h – 10:10h Perfis leves Man

10:10h – 11:00h Painéis

13:00h – 13:50h

13:50h – 14:40hComposição de tensões: Primária+Secundária+Terciária

16/1

2/20

06

Sáb

ado

Tar

de

14:40h – 15:30h Sociedades Classificadoras

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Índice

1. INTRODUÇÃO.............................................................................................................................1

1.1. Carregamentos estruturais em navios ..............................................................................1 1.2. Cargas estáticas ...............................................................................................................2 1.3. Cargas dinâmicas .............................................................................................................3 1.4. Cargas ocasionais ............................................................................................................6 1.5. Arranjo Estrutural ............................................................................................................8 1.6. Chapeamento reforçado ...................................................................................................9 1.7. Tipos de cavernamento ...................................................................................................11

2. ESTRUTURA PRIMÁRIA ........................................................................................................22 2.1. O Navio como uma viga flutuante ..................................................................................22 2.2. Relações básicas entre esforços solicitantes e cargas....................................................26 2.3. Aplicação da teoria de vigas ..........................................................................................27 2.4. Tensões de flexão............................................................................................................29 2.5. Módulo de Seção ............................................................................................................32 2.6. Tensões cisalhantes ........................................................................................................35

3. ESTRUTURA SECUNDÁRIA ..................................................................................................43 3.1. Introdução ......................................................................................................................43 3.2. Distribuição de Cargas ..................................................................................................51 3.3. Os efeitos do cisalhamento na flexão de vigas. Chapa Colaborante..............................53 3.4. Grelhas ...........................................................................................................................64 3.5. Grelha Simples ...............................................................................................................65 3.6. Grelha Múltipla ..............................................................................................................67 3.7. Flambagem de painéis reforçados..................................................................................68

4. ESTRUTURA TERCIÁRIA ......................................................................................................77 4.1. Introdução ......................................................................................................................77 4.2. Nomenclatura .................................................................................................................78 4.3. Hipóteses simplificadoras e suas limitações...................................................................79 4.4. Teoria das pequenas deflexões .......................................................................................82 4.5. Relações entre momentos fletores e curvaturas..............................................................83 4.6. Relações entre momentos torçores e curvaturas ............................................................86 4.7. Equação de equilíbrio, desprezando o efeito de cargas paralelas ao plano médio........90 4.8. Solução do problema de flexão de placas.......................................................................91 4.9. Placas simplesmente apoiadas .......................................................................................92 4.10. Soluções em forma de Gráficos ......................................................................................96 4.11. Placa longa...................................................................................................................100 4.12. Comportamento elasto-plástico....................................................................................103 4.13. Equação das placas para pequenas deflexões, incluindo-se o efeito de cargas paralelas ao plano médio............................................................................................................................113 4.14. Flambagem de placas ...................................................................................................119 4.15. Flambagem de placas no regime elástico.....................................................................120 4.16. Efeito de uma curvatura ...............................................................................................129 4.17. Flambagem por cisalhamento ......................................................................................131 4.18. Momento fletor no plano da placa................................................................................133 4.19. Carregamentos combinados .........................................................................................134 4.20. Comportamento de placas após a flambagem ..............................................................137

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. .............................142

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1

1. Introdução

Para as estruturas flutuante, tão importante quanto a segurança à

estabilidade e à sobrevivência, devido a perda de flutuabilidade oriunda de

um alagamento, é a segurança à falhas estruturais. Este assunto em todos os

seus detalhes é extenso e complexo o suficiente para completar diversos

volumes e muitas horas de curso, mais do que teremos disponíveis, pois

envolve a previsão das cargas impostas a estrutura em serviço, a análise das

tensões causadas por aqueles carregamentos em milhares de componentes

estruturais, a especificação dos materiais a serem utilizados com base em

suas propriedades de resistência, custo, soldabilidade, facilidade de

manutenção e a escolha do arranjo estrutural.

Apesar de todas estas considerações, tratando-se de um curso

introdutório de análise de estruturas de embarcações, vai-se focar os

fundamentos do comportamento destas em suas componentes primária,

secundária e terciária. Espera-se, com isso, que o estudante tenha uma

compreensão destes fenômenos e possa aprofundá-los em etapas

posteriores de sua vida profissional ou acadêmica.

1.1. Carregamentos estruturais em navios

Uma embarcação deve possuir resistência estrutural suficiente para

suportar as cargas sem sofrer falhas ou deformações permanentes. O mesmo

poderia ser dito para qualquer estrutura, máquina ou dispositivo projetado

pela engenharia. Como qualquer outro objeto de engenharia, o projeto

estrutural de embarcações depende da avaliação precisa das cargas, ou das

forças, impostas à estrutura durante sua vida útil. Para embarcações, no mar,

as cargas resultam de uma ampla variedade de fontes inerentes a natureza,

com amplitudes que não são determinadas de maneira determinística.

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2

1.2. Cargas estáticas

São aquelas relacionadas com a flutuação, estabilidade e trim. Existem

os pesos do próprio navio (estrutura, máquinas e equipamentos) e o devido à

carga embarcada (carga, óleo combustível, óleos lubrificantes, água

potável....) que geram as forças gravitacionais (mg), verticais e apontando

para baixo, e cuja soma integraliza o deslocamento do navio. Equilibrando o

total das forças de peso do navio flutuando estão as forças de flutuação

(ρg∇), com sentido oposto às de peso, que são as componentes verticais da

pressão da água que atuam na parte imersa do casco. O total das forças de

flutuação também é igual ao deslocamento da embarcação. Pressões

externas e internas nas paredes de tanques que carregam líquidos também

geram forças estáticas que solicitam a estrutura.

Figura 1.1 – Cargas em uma seção típica de embarcação. Tupper, E, 1996.

Efeitos térmicos podem gerar tensões na estrutura do navio devido a

contração e expansão de membros estruturais que estão acoplados a outros

membros estruturais e que não estão sujeitos a extremos de temperatura.

Para fins de análise e projeto estrutural, os carregamentos

anteriormente descritos são considerados estáticos, embora de fato, eles

mudem de viagem para viagem, uma vez que a distribuição de cargas e de

óleo combustível nem sempre seja a mesma.

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3

1.3. Cargas dinâmicas

Somando-se às cargas estáticas há uma grande quantidade de cargas

dinâmicas que variam constantemente enquanto o navio está em operação. A

mais obvia destas é o carregamento variável imposto à estrutura causado

pela combinação de ondas irregulares e dos movimentos do próprio navio

resultante ao navegar nestas condições. As forças de onda geram variações

contínuas da flexão do navio nos planos vertical e horizontal e também a

torção.

Figura 1.2 – Carregamento devido a ondas. Alquebramento e

Tosamento.

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4

Figura 1.3 – Carregamentos devido a ondas

As ondas e o movimento do navio ao longo destas também são

responsáveis pela carga da água que embarca nos conveses, figura 1.3 ou

que impacta no costado. Outras mais severas ocorrem quando a embarcação

sofre slamming, situação em que a proa emerge totalmente da água para, na

seqüência, reentrar, gerando uma breve, mas intensa pressão na estrutura do

fundo da embarcação e que provoca um movimento vibratório de alta

freqüência que se propaga ao longo da estrutura.

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5

Figura 1.4 – Registro de Slamming.

Os movimentos do navio também provocam forças em tanques que

contém líquidos e que estão parcialmente cheios devido ao impacto, sloshing,

que a superfície gera sobre suas paredes.

Figura 1.5 - Registro de pressões dinâmicas devido ao movimento de líquidos

em tanques. ABS, 2000.

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6

A operação do sistema de propulsão também gera forças periódicas e

de alta freqüência nas estruturas de suporte das máquinas e propulsores que

se transmitem para a estrutura da embarcação provocando as vibrações

forçadas.

Figura 1.6 – Fontes de vibrações em navios. Veritec, 1985.

1.4. Cargas ocasionais

Somando-se às cargas mencionadas é comum acontecer de uma

embarcação estar sujeita a cargas em operações especiais. Navios que

navegam no gelo estão sujeitos a cargas diferenciadas ao quebrar o gelo.

Estas cargas induzem um acréscimo da flexão do navio enquanto navega

ondas e causam forças localizadas de grande magnitude nos pontos de

contato do casco com o gelo.

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7

Figura 1.7 – Navio operando em regiões geladas.

Navios de guerra estão sujeitos a cargas de impacto severas geradas

por pouso de aeronaves, disparo de mísseis e explosões, sob ou acima

d’água. Cargas severas também são impostas ao navio durante o lançamento

e a docagem e mesmo durante a atracação. Finalmente, cargas acidentais e

não intencionais são causadas por albaroamentos e encalhes e as situações

de alagamento provenientes de tais acidentes.

Figura 1.8 – Lançamento lateral

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8

Figura 1.9 – Encalhe. Benford, 2006.

Um cenário completo das situações de cargas impostas à estrutura de

uma embarcação para um dado momento é extremamente complexo, como a

lista de fontes mencionada pode indicar. Por isso, é comum entre os

engenheiros navais arbitrarem um cenário hipotético de cargas equivalentes

que é concebido de sorte que se a estrutura se mostra adequada a estes, ela

terá um bom desempenho durante sua vida útil.

1.5. Arranjo Estrutural

Para servir ao seu propósito, um navio deve ser: um objeto flutuante e

impermeável, capaz de transportar cargas e de resistir a ações do ambiente e

de sua própria operação sem sofrer falhas por fratura ou por deformações

permanentes. A estrutura pode ser imaginada como uma viga, isto é,

apresenta uma dimensão muito maior que as outras, suportada pelas forças

de flutuação e sendo solicitada pelas forças provenientes da carga, do próprio

peso e outros itens que transporta, enquanto sofre flexão e torção ao longo de

sua rota. A “viga navio”, como passaremos a designar tal estrutura, deve ser

projeta para resistir ao momento fletor longitudinal, o esforço solicitante

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primário da embarcação. Logo esta estrutura deve consistir de material

contínuo no sentido longitudinal, de proa a popa. Enquanto a maioria das

estruturas é constituída de vigas sujeitas à flexão, a estrutura do navio é única

neste universo, pois seu chapeamento deve ser estanque. A combinação dos

requisitos de resistência longitudinal e de estanqueidade em uma única viga,

enquanto se tenta conseguir o mínimo peso da estrutural, tem sido, há

décadas, a principal tarefa dos engenheiros de estruturas.

1.6. Chapeamento reforçado

A configuração da unidade estrutural típica a que se chegou no

desenvolvimento do projeto da estrutura de embarcações é o chapeamento

reforçado. Um exemplo de chapeamento reforçado é mostrado na figuraxx.

Os reforçadores podem ser perfis laminados (cantoneiras, perfil T, bulbo, etc.)

soldados no chapeamento, ou perfis fabricados, soldados a partir de chapas e

posteriormente soldado ao chapeamento. Por razões de eficiência (menor

peso para resistir à carga), os reforçadores devem ser dispostos em direções

ortogonais, conforme o mostrado na figura. Perfis leves, separados por menor

espaçamento, agem como suporte para o chapeamento e os perfis pesados,

separados por maiores espaçamentos, suportam o chapeamento e os perfis

leves que neles se apóiam.

Figura 1.10 - Painel estrutural

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10

Figura 1.11 - Tipos de reforços. Eyres, D. J., 2001

O Projetista estrutural deve escolher a orientação (longitudinal ou

transversal, vertical ou horizontal) de cada tipo de reforço em cada região da

estrutura, como fundo, costados, conveses e anteparas. A escolha é

baseada, na maioria das vezes, com base nas seguintes considerações:

1. Eficiência estrutural. Esta é determinada comparando-se os pesos

de alternativas de arranjo com a mesma resistência estrutural. Em

geral, o arranjo que resulta em mínimo peso para uma dada

resistência é o melhor. Há exceções quando a solução de menor

peso for a de custo elevado quando comparadas às demais

alternativas.

2. Custos de material e de fabricação. Alternativas de arranjo

estrutural devem ser comparadas tanto no custo quanto no peso e

uma relação de compromisso deve ser analisada, considerando-se

quanto o custo adicional se justifica em função da redução do peso

da estrutura e, portanto, no aumento da receita com o aumento da

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capacidade de carga da embarcação, mantendo-se o mesmo

deslocamento.

3. Continuidade estrutural. Os membros estruturais como os

reforçadores devem suportar as cargas na estrutura e as

transmitirem aos membros adjacentes sem lhes gerar mudanças

abruptas nos níveis de tensões. Para garantir que tais

“concentrações de tensões” sejam evitadas, os membros

estruturais concebidos contínuos, perfeitamente alinhados, se são

cortados e soldados, ao encontrarem os painéis principais, como

anteparas, costados e conveses.

4. Utilização do espaço. Em painéis reforçados em duas direções,

geralmente tem-se perfis leves, em espaçamento estreito entre

eles, em uma delas e perfis pesados, em espaçamento largo, na

outra, uma vez que os pesados suportam os leves. A escolha da

orientação dos reforçadores pode, em muitas vezes, ser ditada pela

necessidade de evitar que membros estruturais avancem no

compartimento de carga e interfiram com a utilização do espaço.

1.7. Tipos de cavernamento

Embora todo navio possua reforços nas direções longitudinais e

transversais, o tipo de cavernamento em cada um é caracterizado pelo

número, tamanho e espaçamento, dos reforçadores transversais

relativamente ao número, tamanho e espaçamento, dos reforçadores

longitudinais. A evolução do projeto estrutural de embarcações resultou em

dois sistemas de cavernamento: o cavernamento transversal e o

cavernamento longitudinal. E como não poderia deixar de ser, aproveitando-

se os benefícios de cada um deles, há embarcações que apresentam um

sistema misto.

Cavernamento transversal. Na figura 1.12, mostra-se a seção mestra de um

navio com cavernamento transversal. Tal sistema apresenta muitos

reforçadores leves, dispostos na direção transversal, sendo suportado por

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poucos reforçadores pesados na direção longitudinal. Os reforçadores leves

estão dispostos, em espaçamentos curtos, de 600mm a 1000mm, em forma

de anéis, ao longo de todo o comprimento do navio. No mapeamento do anel

ao longo do contorno da baliza do navio mostrado na figura, nota-se que ele é

composto do vau do convés, que suporta o chapeamento do convés, caverna,

que suporta o chapeamento do costado, e a hastilha, que suporta o

chapeamento do fundo e do teto do duplo fundo. A cada transição ao longo

do anel, há as borboletas conectando os membros estruturais. Estes anéis de

cavernas garantem a resistência transversal da estrutura, mantendo o

desenho da forma do casco, mas eles em nada contribuem para a resistência

longitudinal do navio.

A resistência longitudinal em navios com cavernamento transversal é

garantida pelo chapeamento do casco, teto do duplo fundo, dos conveses,

fora das regiões de aberturas e de escotilhas, e pelos reforçadores

longitudinais pesados, como quilhas e longarinas, no fundo, sicordas nos

conveses e escoas nos costados.

Cavernamento longitudinal. No sistema de cavernamento longitudinal,

os reforçadores leves estão dispostos na direção longitudinal da embarcação.

Na figura 1.13 mostra-se a seção mestra de um navio tanque onde tal sistema

é freqüentemente empregado. Tais reforçadores, espaçados entre 600mm e

900mm, além de darem suporte ao chapeamento também contribuem para a

resistência longitudinal da viga navio, conferindo a tal arranjo mais eficiência

do que o anterior. Anéis de cavernas gigantes, dispostos a cada 3 a 5 metros,

fornecem resistência transversal e suporte para os longitudinais leves.

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13

Figura 1.12. Cavernamento transversal. Zubaly, R. B., 2000.

Figura 1.13 - Cavernamento longitudinal. Zubaly, R. B., 2000.

Cavernamento misto. Como resultado das lições aprendidas na aplicação

dos dois arranjos típicos apresentados, alguns tipos de navios apresentam

uma combinação de cavernamento longitudinal e de carregamento

transversal. Na figura 1.14 mostra-se um exemplo.

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14

Figura 1.15 – Cavernamento misto. Zubaly, R. B., 2000.

Figura 1.16 – Cavernamento misto. Navio graneleiro de casco simples. Porão de carga. IACS, 1982.

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15

PROBLEMAS

Propriedades de Área

Os momentos de área são grandezas dependentes da geometria de uma

figura plana e tem grande influência nos cálculos referentes a propriedades

hidrostáticas e de resistência estrutural de embarcações.

Momento de primeira ordem: (momento estático de área)

x

y

G

∫=A

y xdAm (P1)

∫=A

x ydAm (P2)

Momento de segunda ordem: (momento de inércia de área)

∫=A

y dAxI 2 (P3)

∫=A

x dAyI 2 (P4)

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16

Define-se também o produto de inércia

∫=A

xy xydAI (P5)

O produto de inércia dá a idéia da assimetria da figura em relação ao par de

eixos.

(*)1

1) Havendo uma translação de eixos, como se mostra na figura, como

se modificam as relações (P1) a (P5)

B

1 Nível: (B)ásico; (I)ntermediário; (A)vançado

x

y

G

ba

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17

2) Havendo uma rotação de eixos, como se mostra na figura, como se

modificam as relações (P1) a (P5)

I

3) Na seção mostrada na figura, qual é o ângulo α do eixo ξ de forma

que o momento de inércia relativo ao Centro de Área seja mínimo

seja mínimo?

I

4) Retomando a questão anterior, quanto vale produto de inércia para

este ângulo?

I

x

y

G

0.5

32

0.5

0.3

5

x

y

G

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18

5) Ainda em relação as duas questões anteriores, qual é o ângulo que o

torna máximo? O que pode se concluir disto?

I

6) Qual a área A que torna as duas figuras como momentos de inércia

iguais? Em outras palavras, se uma chapa h fosse reduzida a duas

áreas A nos seus extremos, com mesmo valor do seu momento de

inércia, qual o valor de A? Ache A em porcentagem da área total h*t.

I

7) Utilizando a mesma técnica do exercício anterior, deduza expressões

analíticas para o cálculo da posição do centro de área e do momento

de inércia para a figura composta pelos três retângulos.

I

G

A

A

t

a

a

h

Ah + Ac

Ah + Ab

tw

linha neutra

h

tbb

ctc

hc

hb

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19

8) Deduzir as expressões das propriedades de área para os perfis

laminados T e HP, ou Bulbo, mostrados em detalhes nas figuras.

Deduzir as expressões para os momentos de inércia em relação ao

centro de área.

A

30 graus

d

R2

tw

R1

x x

y

y

R3

b

8 graus

d

R2

b

tw

R1

= =

tb

x x

y

y

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20

9) Alguns aplicativos computacionais para o cálculo de estrutura só

trabalham com perfis do tipo T fabricado, isto é composto por dois

retângulos. Para superar este obstáculo podemos simular os perfis

laminados do tipo T, e HP, como T fabricado, adequando-se as

dimensões do flange, largura e espessura, preservando-se a altura total

do perfil e a espessura da alma, de sorte a manterem-se a área e o

momento de inércia relativo ao centro de área da seção. Como isto

poderia ser feito?

b

twX

tb

Perf il H P Perfil T equi valente

HT

tw

YLN

Procura-se b e tb de sorte que a Inércia e Área do perfil T fabricado

sejam idênticas às do perfil Laminado. A altura total do perfil é mantida

constante.

Área do flange:

bf tbA ⋅=

Área da alma:

wbTw ttHA ⋅−= )(

Área total:

A

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21

fw AAA +=

Altura da Linha Neutra:

AttHtHA

Y wbTbTfLN

2)(5.0)5.0( −+−=

Inércia de área relativa a linha neutra:

[ ]⎭⎬⎫

⎩⎨⎧

−−+−

+⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−−+= 2

22

2

)(5.012

)()5.0(

12 LNbTbT

wLNbTb

fLN YtHtH

AYtHt

AI

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22

2. Estrutura Primária

Na descrição dos arranjos estruturais, a estrutura do navio foi comparada

com a de uma viga, suportada por baixo, pela flutuação, carregando seu

próprio peso mais os pesos de máquinas e outros equipamentos, peso das

cargas e dos itens de consumo.

Na disciplina de arquitetura naval, nos cálculos de flutuação são

consideradas apenas as magnitudes do peso e da flutuação. Nos cálculos de

estabilidade, banda e trim, são necessários, além da magnitude, as posições

dos centros de peso e de flutuação.

Nos cálculos da resistência longitudinal da estrutura, ou resistência da

viga navio, serão necessários o conhecimento destes itens e também de

como peso e flutuação se distribuem ao longo do comprimento do navio.

Diferentemente dos estudos de arquitetura naval, neste caso, o navio não é

mais tratado como um corpo rígido, e sim um corpo que se deforma na

presença dos esforços devido a pesos e flutuação. A deformação é causada

pelas tensões impostas aos componentes estruturais do casco, da mesma

forma que um corpo de prova se deforma no ensaio uniaxial de tração.

Embora as previsões mais realistas das forças, tensões e deformações

associadas à flexão longitudinal do navio em serviço requeiram um

tratamento estatístico por conta da imprevisibilidade dos carregamentos

impostos pela natureza do mar não serem conhecidos de maneira precisa,

muito se pode inferir a partir do estudo da teoria simples de viga.

2.1. O Navio como uma viga flutuante

A maioria das estruturas em serviço em terra está sujeita a cargas que

podem variar de tempos em tempos, mas raramente invertem a curvatura da

estrutura deformada. O piso de um armazém no porto, por exemplo, irá fletir

por ação de seu próprio peso e o peso variável dos produtos que nele são

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23

empilhados. Embora esse carregamento possa variar no tempo, não se

espera que ele gere a flexão do piso para cima.

No caso do navio suportado pelas forças de flutuação e carregado pelo

próprio peso, o peso da carga e o de outros itens que transporta, no entanto,

deve-se esperar que, em alguns instantes, a viga navio apresente a tendência

de fletir para baixo, a semelhança do piso do armazém, mas em outras, ele é

forçado a fletir para cima, quando as forças de flutuação se rearranjam.

Essa reversão no sentido da flexão não é de ocorrência rara. Na

verdade, ela acontece continuamente ao longo de uma rota de navegação.

Estima-se que durante um período de vida de 20 anos, um navio típico sofre

100 milhões destas reversões.

Os dois sentidos de flexão da viga navio, ilustrados nas figuras 2.1 e

2.2, são denominados de alquebramento, quando a viga se arqueia para

cima, e de tosamento, quando o arco se dá no sentido oposto.

Figura 2.1 - Alquebramento a quilha se curva para cima

Figura 2.2 - Tosamento: a quilha se curva para baixo

Nível médio da superfície do mar (águas tranqüilas)

Page 28: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

24

Estas curvaturas atingem seus valores extremos quando o navio se

move de encontro ou no mesmo sentido das ondas, e estas possuem

comprimento, de crista a crista, da mesma ordem do comprimento da

embarcação, conforme se mostra na figura. Quando as cristas suportam os

extremos da embarcação, o casco tende a tosar, devido à diminuição da

flutuação a meio navio. O alquebramento ocorre na seqüência, quando a

crista se localiza a meio navio e os vales se encontram na proa e na popa.

As reversões de sentido na flexão também invertem as tensões e

deformações dela resultantes no fundo e no convés da viga navio. Tosamento

gera tensões de compressão no convés e tensões de tração no fundo. Já o

alquebramento gera tensões de tração no convés e de compressão no fundo.

Nem sempre as embarcações navegam na direção das ondas com

comprimentos da ordem de grandeza do próprio. Portanto, os ciclos de

tosamento e de alquebramento nem sempre serão extremos. No entanto,

essas reversões de carga ocorrerão continuamente em outras condições de

mar, gerando níveis de tensões menores.

Figura 2.3 – A diferença entre as distribuições de peso e flutuação gerando a

flexão da viga navio. Eyres, D. J., 2001.

Page 29: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

25

Importa destacar que inevitavelmente a distribuição de pesos e a

distribuição da flutuação ao longo do comprimento do navio raramente serão

iguais uma à outra. Assim, a viga navio estará sujeita a forças cortantes e

momentos fletores e as tensões e deformações oriundas destes esforços,

como serão vistas na solução do problema a seguir.

Figura 2.4 Tensões primárias na viga navio. Hughes, 1983.

Problema.

Uma barcaça retangular de 80m de comprimento, 10m de boca e 6m

de pontal flutua em água salgada apresentando um calado de 0.5m quando

vazia. O peso da embarcação leve pode ser considerado como

uniformemente distribuído ao longo do comprimento da barcaça. Ela possui 5

porões de carga, cada um 16m de comprimento. As condições de

carregamento da barcaça estão mostradas na figura. Pode-se adotar a

hipótese de que as cargas estão distribuídas uniformemente ao longo do

Page 30: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

26

comprimento de seus porões. Vai-se calcular e desenhar os diagramas de

pesos, de flutuação, de carregamento, de força cortante e de momento fletor.

400 t

700 t

80 m

700 t

400 t

16 m 16 m 16 m 16 m 16 m

800 t

2.2. Relações básicas entre esforços solicitantes e cargas

Como se mostra na figura 2.4, o equilíbrio vertical estático do navio, requer

que o total das forças de flutuação equilibre o total das forças devido ao peso.

Utilizando a notação da figura 2.4, tal requisito pode ser escrito como:

Δ== ∫∫l

o

l

odxxmgdxxag )()(ρ (2.1)

onde

a(x) área imersa da seção transversal

m(x) intensidade da massa distribuída

ρ densidade da água do mar

g aceleração da gravidade

Δ deslocamento da embarcação.

O fator g foi mantido em ambos os membros da equação 2.1 para enfatizar

que se trata de forças os termos envolvidos.

Page 31: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

27

Figura 2.4 – Resumo da flexão da viga navio. Hughes, 1983.

De modo análogo, o equilíbrio de momentos requer que:

g

l

o

l

olxdxxmgxdxxag Δ== ∫∫ )()(ρ (2.2)

onde lg é a distância longitudinal do centro de gravidade do peso do navio.

2.3. Aplicação da teoria de vigas

Na teoria simples de vigas, pode-se caracterizar a distribuição do

carregamento vertical atuante como sendo f(x), sendo x a direção do eixo da

Page 32: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

28

viga. Para uma embarcação, tal distribuição deve ser a força líquida

resultante da superposição do empuxo b(x) e do peso w(x), conforme se

mostra na figura 2.4c. Na convenção de sinais adotada, as forças verticais

positivas apontam para cima. Portanto, a força liquida resultante é f(x) =b(x)-

w(x).

)()()( xgmxgaxf −= ρ (2.3)

O equilíbrio de forças resulta em relações interessantes entre os esforços

solicitantes e o carregamento atuante nas vigas em flexão. Impondo-se o

equilíbrio a um elemento diferencial, conforme mostrado na figura 2.4d e com

as convenções de sinais ali mostradas, obtém-se:

0=−−+ dQQfdxQ

ou

dxdQf = (2.4)

da qual, por integração, obtém-se

CdxxfxQx

+= ∫0)()( (2.5)

Para navios, a constante de integração é sempre nula porque a viga navio é

uma viga com condições de contorno, livre-livre, ou seja, não há a presença

de forças cortantes ou de momentos fletores em suas extremidades, de proa

e de popa.

0)()0( == LQQ

Impondo-se o equilíbrio de momentos em torno de um pólo na extremidade

direita do elemento e considerando-se momentos positivos aqueles que

tendem a girar o elemento no sentido horário, obtém-se:

=0

Page 33: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

29

02

=−−++ dMMdxfdxQdxM

observando que o termo dx2 é de segunda ordem a equação se simplifica

para:

dxdMQ = (2.4)

da qual se obtém:

CdxxQxMx

+= ∫0)()( (2.5)

As convenções de sinais estão mostradas na figura 2.4e, para as forças

cortantes, e 2.4f, para os momentos fletores. A força cortante em qualquer

ponto é positiva se a integral, ou a soma acumulada do carregamento, até

aquele ponto, for positiva. De modo similar, o momento fletor é positivo se a

integral, ou a soma acumulada, das forças cortantes até o ponto for positiva.

2.4. Tensões de flexão

A análise estrutural da viga navio utiliza a Teoria Simples de Viga, que se

pauta nas seguintes hipóteses:

1. Seções planas permanecem planas.

2. A viga é prismática sem aberturas e descontinuidades.

3. Outras formas de resposta estrutural aos carregamentos não

afetam a flexão no plano vertical e podem ser tratadas

separadamente.

4. O material é homogêneo e permanece no regime elástico.

=0

Page 34: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

30

Figura 2.5 – Elemento diferencial em flexão

A primeira hipótese está ilustrada na figura 2.5. Sob a ação do momento

fletor, a viga sofre uma curvatura, com raio local R e, se as seções planas

permanecem planas, a deformação longitudinal εx varia linearmente na

direção vertical e está relacionada com o raio de curvatura, R, como:

Ry

RdRddyR

x =−+

θθε )( (2.1)

A superfície horizontal onde y e, portanto, a deformação é zero, é chamada de

superfície neutra ou de eixo neutro. O material, por hipótese, homogêneo,

elástico, com módulo de elasticidade E, apresenta a tensão normal na direção

longitudinal:

RyEE xx == εσ (2.2)

A ausência de força externa axial requer, por equilíbrio:

y

Page 35: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

31

0== ∫A

xx dAF σ (2.3)

Que se reduz a

0=∫A

ydA (2.4)

e indica que a superfície neutra coincide com o centróide da seção

transversal da viga.

O equilíbrio de momentos requer que o momento externo Mz seja equilibrado

pelo momento resultante das forças internas

∫=A

xz dAyM σ (2.5)

que, após a utilização da equação 2.2, se reduz a:

REIM z = (2.6)

onde I é o momento de inércia da seção transversal, definido por:

02 == ∫A

dAyI (2.7)

A equação 2.6 relaciona a curvatura com o momento fletor e se ela for

utilizada para eliminar R da equação 2.2, o resultado é a familiar expressão

para o calculo das tensões em função da distância y relativa ao eixo neutro:

IyM z

x =σ (2.8)

Page 36: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

32

2.5. Módulo de Seção

A equação 2.8 indica que σx é máximo quando y é máximo, isto é nos

extremos, superior e inferior, da seção transversal. Quando y corresponde a

um destes extremos a quantidade I/y é chamada de módulo de seção e é

usualmente denotado por Z. Como o eixo neutro não se localiza, geralmente,

a meia altura da seção, existe, então, dois valores extremos de y: yD para o

convés resistente mais distante da linha neutra e yK para a quilha, resultando

dois valores para o módulo Z: ZD e ZK. Na maioria das embarcações, estrutura

do fundo é mais robusta que a do convés, resultando uma localização abaixo

do meio pontal para o eixo neutro. Uma altura de 0.4D acima da quilha é

típica, mas tal localização varia entre os diferentes tipos de navios. Assim, as

máximas tensões de flexão ocorrem tanto no convés quanto no fundo.

O cálculo dos módulos reduz-se ao cálculo das propriedades de área e

de inércia da seção transversal em questão. Como a estrutura longitudinal da

viga navio é uma composição de diversos elementos, a marcha de cálculo

destas propriedades é simples, porém dependendo da quantidade de

elementos pode ser trabalhosa. Nestes casos, o uso de planilhas eletrônicas

auxilia sobremaneira o trabalho.

Page 37: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

33

1.25

m

1.25m

20 mm

10 mm

7 mm

22 mm

20 mm

18 mm

20 mm

17 mm

Bojo 22 mm

30 mm

S1

S2

S3

20 mm

25 mm

25 mm

1.25

m

45o

800x450x25 mm

Espaçamento de cavernas 700 mmDistância entre anteparas 14 m

4.00

m3.

25m

3.25

m3.00m3.00m

9.75m

6.50m

Figura 2.9 – Seção transversal de uma embarcação com cavernamento

transversal

Page 38: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

34

Tabela 2.1 – Cálculo das propriedades de área da seção mostrada na figura 2.9

Á R E A T R A N S V E R S A L DIST À MOMENTO MOMENTO DE INÉRICA ELEMENTO CHAPEAMENTO PERFIS PAINEL LINHA ESTÁTICO DE ÁREA

ESP. COMPR. ÁREA N° ÁREA ÁREA TOTAL BASE DE ÁREA PRÓPRIO TRANSFERÊNCIA (unidades) m m m2 m2 m m3 m4 m4

convés 1 0.020 6.50 0.1300 0.1300 11.750 1.5275 0.000 17.948costado 1-2 0.022 3.25 0.0715 0.0715 10.125 0.7239 0.063 7.330convés 2 0.010 6.50 0.0650 0.0650 8.500 0.5525 0.000 4.696costado 2-3 0.020 3.25 0.0650 0.0650 6.875 0.4469 0.057 3.072convés 3 0.007 6.50 0.0455 0.0455 5.250 0.2389 0.000 1.254costado 3-f 0.018 2.75 0.0495 0.0495 3.875 0.1918 0.031 0.743bojo 0.022 3.93 0.0865 0.0865 0.907 0.0785 0.051 0.071teto do DF 0.017 8.50 0.1445 0.1445 1.250 0.1806 0.000 0.226fundo 0.020 7.25 0.1450 0.1450 0.000 0.0000 0.000 0.000quilha 0.015 1.25 0.0188 0.0188 0.625 0.0118 0.002 0.007longarina 1 0.025 1.25 0.0313 0.0313 0.625 0.0196 0.004 0.012longarina 2 0.025 1.25 0.0313 0.0313 0.625 0.0196 0.004 0.012p. marginal 0.020 0.73 0.0146 0.0146 0.732 0.0107 0.003 0.008

∑ 0.8985 4.0023 0.215 35.379

Altura da Linha Neutra yLN = ∑ me/∑ a = 4.0023/0.8985 = 4.454 m

Inércia em relação a Linha de Base Iz = ∑ Ipróprio + ∑ Itransf = 0.215 + 35.379 = 35.594 m4

Mudança para Linha Neutra = - (∑ a) yLN2 = -17.825 m4

Meia Inércia em relação a LN I/2 = Iz - (∑ a) yLN2 = 35.594 - 17.825 = 17.769 m4

Módulo de resistência no fundo Zfundo = I/yLN = (2*17.769)/4.454 = 7.979 m3

Módulo de resistência no convés Zconvés = I/(D-yLN) = (2*17.769)/(11.750-4.454) = 4.871 m3

Page 39: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

35

2.6. Tensões cisalhantes

Devido a variação do momento fletor ao longo do comprimento do navio,

as tensões σA e σB em duas faces, de um elemento diferencial ao longo do

comprimento, não serão idênticas. Portanto, ao isolarmos uma porção deste

elemento por meio de dois cortes, um na linha de centro e outro na distância

s, ao longo do perímetro medido a partir da linha de centro, as forças

resultantes da diferença de tensões devem ser equilibradas por uma

distribuição de tensões cisalhantes no sentido longitudinal, ao longo das

superfícies de corte. Por questões de simetria, as tensões de cisalhamento ao

longo do corte na linha de centro não devem existir e o equilíbrio, portanto,

deve ser totalmente obtido pela presença de tensões cisalhantes τ na outra

seção de corte.

Figura 2.10 – Tensões de cisalhamento na flexão. Hughes, 1983.

∫∫ −=s

A

s

B tdstdstdx00

σστ (2.9)

Page 40: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

36

Substituindo I

yM zx =σ em ambas as faces:

∫∫ =−

=ssAB ytds

IdMytds

IMM

tdx00

τ (2.10)

Substituindo dM=Qdx:

∫=sytds

IQdxtdx

0 τ (2.11)

A integral na equação 2.10 é função da geometria da seção e da posição s ao

longo desta. Por conveniência, associa-se o símbolo m para essa grandeza:

∫=sytdsm

0 (2.12)

e, pode-se notar que m é o momento estático, em relação a linha neutra, da

área da área acumulada, iniciando-se em um corte livre de tensões

cisalhantes. (ou livre ou no plano de simetria).

Substituindo m em 2.11 e isolando τ, obtém-se:

ItQm

= τ (2.13)

O produto τt possui significado especial tanto no cisalhamento quanto na

torção de vigas de paredes finas. Ele é denominado como fluxo de

cisalhamento, como analogia ao escoamento de um fluido ideal contido em

uma rede de tubulações. Guarda as mesmas características, ou seja, em um

entroncamento, se preserva a conservação da massa, “a soma dos fluxos que

chegam deve ser igual a soma dos fluxos de saem”. O produto τt,

denominado de fluxo de cisalhamento, é representado pelo símbolo q

Page 41: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

37

IQmq = (2.14)

Como, tanto Q quanto I, são constantes ao longo da seção, o fluxo de

cisalhamento é diretamente proporcional a distribuição de m. De fato a

relação Q/I pode ser interpretada como um fator de escala e uma vez

calculada a distribuição de m, a distribuição do fluxo de cisalhamento é

idêntica, a menos das unidades. Outra vantagem do cálculo de q é a não

existência de mudanças abruptas com as variações de espessuras, o que já

ocorre com a distribuição de τ.

Page 42: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

38

PROBLEMAS

1. Uma embarcação com 10.000t de deslocamento e 100m de

comprimento apresenta máximo momento fletor de alquebramento da

ordem de ΔL/100 (t.m). O pontal na Seção Mestra é de 12m e o eixo

neutro se localiza a 4m acima da quilha. O momento de inércia da

Seção Mestra é 48m4. Calcule os valores máximos de tensão de tração

e de compressão e o local onde ocorrem.

2. Considere uma embarcação prismática com 130 m de comprimento,

cujos pesos do casco, de máquinas e de carga sejam: 3200t, 800t e

6400t, respectivamente. O peso do casco é uniformemente distribuído

ao longo do comprimento. O das máquinas se estende uniformemente

ao longo de 1/5 do comprimento a meio navio, e o da carga se estende

uniformemente sobre 2/5 do comprimento a partir da popa e 2/5 a

partir da proa. Desenhe as curvas de peso, de flutuação, de

carregamento, de força cortante e de momento fletor, e determine seus

valores nas descontinuidades e nos máximos.

3. Um navio hipotético possui a curva de pesos que varia linearmente de

zero, na proa e na popa, a um máximo na seção mestra (meio navio), e

a curva de flutuação que varia linearmente de zero, na seção mestra, a

um máximo nas extremidades, proa e popa. Desenhe as curvas de

peso, de flutuação, de carregamento, de força cortante e de momento

fletor e determine os valores extremos em função do deslocamento Δ e

do comprimento L.

4. Os valores médios de peso por unidade de comprimento e de flutuação

por unidade de comprimento de uma embarcação de 180m,

representadas em seis segmentos iguais ao longo do comprimento da

embarcação, são:

Page 43: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

39

Segmento w (t/m) b (t/m)

1 78 33

2 150 126

3 88 145

4 75 141

5 63 78

6 93 18

Desenhe as curvas de peso, de flutuação, de carregamento, de força

cortante e de momento fletor e determine os valores em cada

segmento e os valores máximos.

5. Uma barcaça tipo caixa, com 43m de comprimento, 10m de boca e 6m

de pontal, pesa 544t quando vazia. O peso leve da barcaça pode ser

considerado uniformemente distribuído ao longo de seu comprimento.

Ela é compartimentada em 4 porões de carga, todos de igual

comprimento. Em uma de suas operações, ela foi carregada com

grãos, de maneira uniforme, conforme a tabela seguinte:

Porão Carga (t)

1 192

2 224

3 272

4 176

Construir a curva de pesos, de flutuação, de carregamento, de força

cortante e de momento fletor para a barcaça carregada e calcule os

valores em cada antepara e os valores máximos.

6. Calcule o mínimo módulo requerido para a barcaça do problema

anterior de sorte que a máxima tensão para aquela condição de

carregamento não exceda 100 MPa.

Page 44: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

40

7. Uma barcaça possui a vista em planta conforme mostrado na figura.

Todos os planos de flutuação são idênticos. As cargas estão

carregadas uniformemente nos porões, conforme indicado.

Desprezando o peso próprio da barcaça, desenhe as curvas de peso,

de flutuação, de carregamento, de força cortante e de momento fletor

para a barcaça flutuando em águas tranqüilas. Indique os valores em

cada antepara e identifique os valores máximos da força cortante e do

momento fletor.

vazio 400 t

80 m

950 t 400 t

14 m 14 m 14 m 14 m 14 m

950 t vazio

14 m

10 m

8. Uma embarcação de 200m possui obras vivas prismática ao longo do

comprimento. O peso do casco, de 2400t, pode ser adotado como

uniforme ao longo do comprimento. Ela possui 6 porões de carga,

idênticos, que estão carregados (em toneladas), começando pela proa,

conforme a tabela a seguir:

Porão Carga Combustível Máquinas

1 400 100

2 700 200

3 800 300

4 800 300

5 100 800

6 500

Page 45: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

41

Os pesos estão uniformemente distribuídos em seus respectivos

porões. Desenhar as curvas de peso, de flutuação, de carregamento,

de força cortante e de momento fletor, indicando os valores em cada

ponto de mudança ou de inflexão e os valores de máximo.

9. Uma barcaça, do tipo caixa, com 100m de comprimento, 15m de boca

e 15m de pontal, possui o peso de 1920t distribuídos uniformemente

ao longo do comprimento. Ela é carregada com 1200t ao longo de

30m, em cada uma de suas extremidades, proa e popa (carga total de

2400t). Determine o máximo momento fletor para essa condição de

carga e calcule as máximas tensões primárias, no convés e no fundo,

admitindo que a seção mestra possua inércia de 4,61 m4.e altura da

linha neutra de 2.25m acima da quilha.

10. Calcule os módulos de resistência no convés e no fundo para seção

mostrada na figura. Todas as chapas possuem 6.34mm de espessura.

Quais serão as tensões no chapeamento do convés se a embarcação

está sujeita a um momento fletor de 1980tm?

4.5 m

1.5

m

1.5

m

1.5

m

1.5 m

0.35 m

0.35 m

0.35 m

0.70

m

Todas as espessuras6.35 mm

Page 46: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

42

11. Calcule os módulos de resistência no convés e no fundo da seção

mostrada na figura. Se o aço possui tensão de escoamento de

240MPa, qual é o fator de segurança ao escoamento para esta

estrutura quando submetida a um momento fletor de 3960tm?

4.5 m

3.5

m

3.0 m

Placa de 3/4"

Placa de 1/4"

Placa de 1/2"

300mm x 3/4"

12. Um navio de 184m de comprimento e pontal de 14m está submetido a

um máximo momento fletor de 50.000tm. O eixo neutro, na seção

mestra, se localiza a 6m acima da quilha. Para a máxima tensão

primária de 80MPa, determine o momento de inércia requerido para

essa seção. A tensão máxima ocorre no convés ou no fundo? Qual o

valor da tensão para a outra extremidade?

Page 47: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

43

3. Estrutura secundária

3.1. Introdução

A estrutura secundária de uma embarcação consiste de um chapeamento

reforçado por:

1. perfis leves, que limitando as dimensões das unidades de

chapeamento o enrijecem, tais como cavernas, vaus de conveses,

longitudinais, etc.

2. perfis pesados, que sempre servem de apoio aos perfis leves,

recebendo destes a carga que lhes foi transmitida pelas unidades de

chapeamento. São perfis pesados os anéis gigantes, as sicordas, as

hastilhas, as quilhas, as longarinas e as escoas.

Esse conjunto de chapeamento, perfis leves e perfis pesados,

considerado entre duas anteparas estruturais, é que se costuma designar por

estrutura secundária. Vê-se que, como a estrutura secundária contém

unidades de chapeamento, nela também está contida a própria estrutura

terciária, a qual nada mais é do que o conjunto de unidades de chapeamento,

sem que nele se considerem os perfis. Entretanto as tensões secundárias

estão associadas com as deformações secundárias e as tensões terciárias

com as deformações terciárias.

Convém lembrar as seguintes definições:

3. unidade de chapeamento: é a porção de chapa limitada por dois perfis

adjacentes na direção longitudinal e outros dois na direção transversal.

4. painel: é uma porção da estrutura secundária, formada de

chapeamento, perfis leves e perfis pesados, no caso mais geral, que

Page 48: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

44

se toma para estudo. Contém, portanto, pelo menos duas unidades de

chapeamento.

5. grelha: é um conjunto de vigas que se interceptam. Caso elas sejam

ortogonais diz-se que a grelha é ortogonal.

6. grelha chapeada: quando se tem um conjunto de perfis que se

interceptam, soldados a chapeamento em um lado (caso do convés)

ou em dois lados (caso do duplo fundo), diz-se que tem-se uma grelha

chapeada. Nesse caso supõe-se que o chapeamento, em lugar de ser

contínuo, como realmente é, constitui-se de tiras de chapa que se

soldam aos perfis, servindo-lhes de flanges. Desta forma, em lugar de

um chapeamento reforçado, supõe-se que se tem uma verdadeira

grelha, na qual cada viga é formada por um perfil com a tira de chapa

que se lhe supõe soldada. Essa tira é chamada chapa colaborante e

essa grelha fictícia designa-se por grelha chapeada.

Observando-se as figuras 3.1 a 3.3, nota-se que todos os

enrijecedores leves ou pesados estão sujeitos à flexão devida às cargas

laterais no chapeamento e, como possuem ligações entre si, formam um

conjunto para resistir a estas cargas, tornando assim a análise deste tipo de

estrutura bastante difícil em face ao grande número de elementos que a

envolve.

Page 49: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

45

Figura 3.1 - Estrutura do fundo de um navio tanque de casco singelo

Page 50: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

46

Figura 3.2 - Detalhe de um painel do fundo 1-Quilha. 2-Chapeamento. 3-Hastilha.

4-Longitudinal leve. 5-Antepara transversal. 6-Antepara longitudinal

Page 51: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

47

Figura 3.3 - Deflexões secundárias leves e pesadas

Page 52: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

48

Pode ser utilizado o seguinte esquema para análise preliminar das tensões

secundárias e sua superposição com as terciárias:

1. cálculo das tensões terciárias σ3 nas unidades de chapeamento (abcd

na Figura 3.4a), devido a pressão lateral, considerando esta unidade

limitada por perfis leves e/ou pesados, desprezando qualquer deflexão

dos perfis. Esta unidade deve ser verificada quanto à estabilidade sob a

ação da tensão primária.

2. cálculo das tensões secundárias σ2'' , nos perfis leves, supondo que

estes se apoiam sem recalque nos perfis pesados. Associa-se aos perfis

leves uma certa largura de chapa, para funcionar como um de seus

flanges. Essa porção de chapa, como se viu, denomina-se chapa

colaborante e será discutida adiante. Emprega-se a teoria simples de

viga e adotam-se hipóteses adequadas sobre as rotações nas

extremidades de cada tramo da viga constituída do perfil mais sua chapa

colaborante. Assim o problema se reduz ao da análise de uma viga com

um só tramo. Atribui-se a essa viga uma certa fração da carga lateral

que age sobre o chapeamento, daí se transmitindo ao perfil. A estima

dessa fração de carga será discutida posteriormente.

f

h

c

t

t

f

th

c

chapacolaborante

alma

flange

Figura 3.4 - Perfil + Chapa Colaborante

Page 53: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

49

1

2

4

65

chapa colaborante

3 (LN)

Figura 3.5 - Cálculo dos perfis Leves

3. cálculo das tensões σ2', atuantes na grelha formada pelo chapeamento

com os perfis mais pesados. Existem diversos métodos para o cálculo de

σ2' com diferentes graus de complexidade e precisão. No mais simples,

método da teoria simples de viga com um só tramo, procura-se estimar

σ2' ignorando-se o comportamento de grelha e imaginando-se que ela

pode ser suficientemente bem representada analisando-se cada um

daqueles perfis separadamente, como se desligado estivesse dos

demais, e com chapas colaborantes, cargas e condições de extremidade

arbitradas. Embora esse método simplifique muito o cálculo, é por

demais subjetivo e impreciso, sendo inviável estimar bem aquelas

condições que nele devem ser arbitradas, a não ser para certos casos

convencionais. Apesar disto é o mais adequado para fases iniciais de

análise.

Page 54: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

50

A título de exemplo suponha-se que se deseja aplicar tal método para

calcular o valor máximo de σ2' na longarinas2 QL, Figura 3.6, com o navio em

águas tranqüilas e sem carga no porão e duplo fundo. De acordo com o

método, imagina-se que QL esteja desligada das hastilhas B, C e D. Arbitram-

se, então, condições de extremidades para QL, nos pontos em que ela

intercepta as anteparas. Estas, pela rigidez que apresentam a deslocamentos

no seu próprio plano, podem ser consideradas, com razoável precisão, como

apoios irrecalcáveis para QL. É difícil, porém, estimar a rigidez à rotação de QL

nas suas interseções com as anteparas, pois ela dependerá muito da geometria

antepara

longarina

quilha

costado

costado

longarina

antepara

L1L2L3QLL4L5L6QL6'L5'L4'QL'L3'L2'L1'

B C D

hastilha

A

A

c d

ba

Figura 3.6a - Esquema do fundo de um navio, entre anteparas

teto do duplo fundo

L5 fundo bojo

Figura 3-6b - Corte A-A

2As longarinas também são chamadas de quilhas laterais.

Page 55: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

51

e do carregamento nos porões adjacentes. Como se visa a simplificar os

cálculos neste método, deve-se arbitrar uma das condições extremas: restrição

total à rotação (engastamento) ou restrição nula à rotação (apoio simples). A

seguir estima-se a largura da chapa colaborante, tema que será estudado

adiante. Resta, por arbitrar, a carga sobre QL. Na realidade QL recebe cargas

de duas formas:

1. cargas distribuídas, provindas do chapeamento que sobre ela se apóia,

ao longo de todo o seu vão;

2. cargas concentradas, provenientes das ações de cisalhamento com as

hastilhas, nos pontos em que com elas se intercepta.

Embora o primeiro tipo de carga se possa estimar com razoável precisão, o

segundo dificilmente se estimará bem, pois depende basicamente da rigidez à

flexão de cada elemento da grelha, bem como da distribuição das cargas sobre

o porão, caso as haja. Sensíveis alterações nesses parâmetros farão com que

uma carga na interseção possa mudar não apenas de valor, mas também de

sentido. O propósito do método é, porém, o de propiciar estimativas de σ2' com

cálculos deveras simples, para arranjos e carregamentos convencionais. Por

isso, costuma-se arbitrar um carregamento distribuído que, espera-se,

produzirá um valor máximo de σ2' próximo daquele que o carregamento real de

QL acarreta. No caso que ora tratamos poder-se-ia adotar, como carregamento,

a pressão sobre o fundo, ao longo de todo o vão de QL, entre L2 e L5. Isto

significaria admitir que supomos ser a rigidez à flexão de QL bem maior que as

das hastilhas, de sorte que essas últimas tendam a ter flechas maiores que as

de QL e, por conseqüência, em QL apoiarem-se.

3.2. Distribuição de Cargas Ao isolarmos um elemento reforçador de um painel requer que se façam

hipóteses sobre a distribuição de cargas entre as várias vigas em que se

considera o chapeamento reforçado. Cada uma dessas vigas é constituída de

um perfil e de uma parte de chapeamento a ele associada, a chapa

Page 56: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

52

colaborante. A distribuição de cargas pode ser efetuada de diversas maneiras,

umas mais simples e outras mais elaboradas:

1. Cada reforço recebe toda a carga aplicada sobre a largura s e a

transmite aos reforços mais rígidos que lhe servem de apoio. A situação

está esquematizada na região AEBDFC da Figura 3.7, onde se

representa um painel estrutural de um costado de um navio. Aí a caverna

C1, no trecho entre a escoa e o fundo, estaria recebendo a carga

hidrostática da região hachurada e transmitindo-a à escoa e ao fundo

nos pontos E e F, respectivamente. Essa distribuição é superestimada

para a caverna a não ser que a distância s seja muito pequena quando

comparada a distância b.

2. Cada reforço recebe a carga do losango determinado pelas diagonais de

cada unidade de chapeamento. A região GHIJKL, da Figura 3.7, ilustra

essa distribuição. A caverna C2, entre o convés e a escoa, receberia a

carga distribuída sobre o losango KMHN, e a escoa entre L e K

receberia a carga distribuída sobre o losango LMKO.

3. Os reforços recebem a carga distribuída na região cujo centro ficam e

que é limitada por linhas em ângulos de 45 graus. A distribuição está

ilustrada na região PQRS da Figura 3.7. A caverna C3, no trecho entre o

fundo e a escoa, receberia a carga distribuída sobre a área 1,2,3,4,5,6 e

a escoa entre 2 e Q receberia a carga que se distribui sobre 2,7,Q e 3.

Esta distribuição é a que mais se aproxima da realidade. Apesar de esta

distribuição gerar um carregamento trapezoidal sobre o elemento

desconsidera-se a diminuição nos extremos, adotando-se carregamento

constante, uniformemente distribuído.

Page 57: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

53

45ocaverna C2

caverna C2

convés

fundo

antepara

antepara

A B

C D

escoa

E

F

1

2

3

4

5

6

G H I

M N

L K J

O

caverna C3

b

s

P Q

RS

7

H K

E F 2 5

Figura 3.7 - Esquemas de distribuição de cargas sobre os perfis

3.3. Os efeitos do cisalhamento na flexão de vigas. Chapa Colaborante

Uma das hipóteses básicas na teoria simples de vigas é que secções

planas permanecem planas após a flexão e, por conseguinte, as tensões de

flexão são diretamente proporcionais à distância do eixo neutro. Portanto em

qualquer viga formada por alma e flanges, as tensões devem ser constantes ao

longo dos flanges. No entanto, a maioria dos problemas a flexão não é causada

por um binário de forças nas extremidades da viga e sim causada por cargas

transversais que são absorvidas pela alma da viga e não pelos flanges. Sob o

efeito das cargas, a alma da viga é curvada induzindo deformações máximas

nos flanges. Como eles suportam a máxima deformação e, conseqüentemente,

Page 58: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

54

as máximas tensões, os flanges são os elementos da secção transversal da

viga que mais contribuem para a rigidez à flexão. Mas é importante notar que

estas máximas deformações se originam na alma e somente atingem o flange

por causa do cisalhamento. Este fenômeno é ilustrado na Figura 3.8 onde se

mostra uma seção de uma viga tipo caixa, engastada em uma das

extremidades e com uma carga concentrada na outra.

F/2

F/2

eixo neutro

F

a alma arrastao flange por ci-salhamento

no plano de sime-tria a tensão cisa-lhante é nula.

máxima distorção

mínima distorção

Figura 3.8 - Efeito shear lag em vigas tipo caixa

A força é resistida pelas almas, que se curvam de forma a alongar e a

encurtar os extremos superior e inferior da viga. Por simplicidade, a curvatura

não está ali representada. O contorno alongado da alma traciona consigo o

chapeamento do flange através de forças de cisalhamento, o que resulta em

tensões de cisalhamento. Estas tensões de cisalhamento distorcem o flange e

esta distorção é tal que o lado mais afastado da alma do elemento retangular

não deve se "esticar" tanto quanto o lado mais próximo; isto é, a deformação no

sentido longitudinal é menor no lado interno e, portanto, também o é a tensão

normal longitudinal. Este mesmo fenômeno ocorrerá em cada elemento, do

Page 59: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

55

canto, junto à alma, até a linha de centro, embora ele, paulatinamente, diminua

até desaparecer na linha de centro, porque a tensão de cisalhamento neste

ponto cai para zero. O resultado disto é que o flange sofre uma distorção no

plano longitudinal e, portanto, as secções planas não permanecem planas

quando as tensões cisalhantes estão presentes. Esta distorção é comumente

chamada de empenamento ou warping. O aspecto significativo da distorção

pelo cisalhamento é que as regiões mais afastadas do flange apresentam

menores tensões de flexão e são, portanto, menos efetivas do que as regiões

mais próximas. Isto é, devido aos efeitos do cisalhamento, as tensões de flexão

longe da alma "atrasam" (lags behind) em relação às tensões próximas a alma.

O fenômeno foi então batizado de efeito de shear lag. Este efeito ocorre em

qualquer viga com flanges largos sob cargas laterais.

σmax

CL

distribuição de tensões normaisno flange do perfil

Figura 3.9 - Efeito shear lag em vigas com flanges

A distribuição exata das tensões em vigas com flanges largos pode ser

encontrada usando a teoria da elasticidade ou o método dos elementos finitos,

mas o uso destas ferramentas, em fases iniciais de projeto, para computar este

tipo de fenômeno é de pouco senso prático. Um estudo pela teoria da

elasticidade mostra que a magnitude do efeito shear lag (isto é, o quanto a

distribuição de tensões difere daquela originada pela teoria simples de viga)

depende :

1. da relação largura do flange pelo comprimento da viga.

2. do tipo de carregamento lateral.

3. das proporções relativas entre alma e flange.

Page 60: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

56

4. do tipo de seção transversal da viga.

5. da posição ao longo da viga. O efeito shear lag em geral varia de ponto

a ponto ao longo do comprimento da viga e é máximo onde existem altos

gradientes de forças de cisalhamento.

A melhor maneira de considerar o efeito shear lag em painéis reforçados é

fazendo uso do conceito de largura efetiva do chapeamento, b1, definida

como:

a largura de chapa que, quando utilizada no cálculo do

momento de inércia da seção transversal do perfil, resultará

no valor correto de tensão normal de flexão na junção

alma-flange, quando se faz uso da teoria simples de viga

para o cálculo dessa tensão.

A largura efetiva deve ser tal que a força longitudinal no flange seja igual tanto

no modelo simples quanto no modelo complexo. Igualando as forças

b dzmax x

b

1 0 σ σ= ∫

ou

bdzx

b

max1

0=∫ σ

σ

O modelo que apresentaremos a seguir, sugerido por W. Muckle, 1967,

se baseia na teoria de Shear Lag desenvolvida por Taylor, 1964.

Considere a viga fabricada mostrada na Figura 3.3. A tensão de

cisalhamento longitudinal em um plano vertical utilizando a relação da

resistência dos materiais pode ser escrita como:

Page 61: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

57

B B

z

y eixo neutro

Figura 3.10 - Tensões cisalhantes em vigas com flanges largos

τ = =−Qm

ItQ b z y

I( )

(3.1)

com a correspondente deformação angular, ou de cisalhamento

γ τ= =

−G

Q b z yGI

( ) (3.2)

Conforme se vê na Figura 3.11, as deformações angulares provocam um

movimento longitudinal das fibras

dx

dz

γ

τ

τ

τ

τ

de

Figura 3.11 - Deformação de cisalhamento no flange da viga

de dz= ⋅γ (3.3)

Somando todos os elementos, da origem à uma posição genérica z, obtém-se:

Page 62: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

58

e de Q b z yGI

dzQ bz z y

GIz z

= =−

=−

∫ ∫0 0

2

2( ) ( ) (3.4)

A variação no sentido longitudinal deste movimento leva a uma deformação

linear e uma conseqüente tensão normal longitudinal, que é de relaxamento:

Δσ∂∂

∂∂

= =−⎡

⎢⎢

⎥⎥

=−

E ex

Ex

Q bz z y

GIE

q bz z y

GI

( ) ( )2 2

2 2 (3.5)

onde se fez uso da hipótese da viga ser prismática, homogênea e o fato da

variação da força cortante ao longo do eixo da viga ser igual ao carregamento

distribuído, q.

Se o momento fletor, em uma particular secção for designado por M,

então a tensão de flexão no centro do flange é calculada como:

σ fMI

y= (3.6)

e a tensão modificada, pelo efeito de cisalhamento, para

σ xMI

yEq bz z y

GI= −

−( )2

2 (3.7)

Como conseqüência desta composição, a equação de equilíbrio entre

momentos externo e interno não mais fica satisfeita, ou seja, a integral dos

momentos devido as forças internas deve ter como resultado o momento fletor

M. O segundo termo da equação acima resulta no que chamamos de perda de

resistência fletora que é obtida como:

ΔMEq bz z y tdz

GIEG

qb y tI

b=

−=∫2 2 2

3

2 2

0

3 2( ) (3.8)

Page 63: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

59

O equilíbrio pode ser então restabelecido se imaginarmos que - aqui se

encontra a hipótese fundamental dessa teoria - as tensões de flexão na viga

são geradas por um momento fletor:

M M+ Δ (3.9)

o que corresponde ao momento real adicionado da parcela devido ao

relaxamento das tensões de flexão devido ao cisalhamento. A distribuição de

tensões resultante no flange da viga será:

σ x

M EG

qb y tI

Iy E

Gq bz z y

I=

+−

−23 2

3 22

( ) (3.10)

σ max

CLσ max

CL

2b

2b12b1

Figura 3.12 - Largura efetiva de flanges

Na junção alma-flange, quando z=0 o valor da tensão é

σ max

M EG

qb y tI

Iy=

+23

3 2

(3.11)

Page 64: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

60

Tomando este valor como constante ao longo de uma largura b1, largura

da chapa colaborante, então a força longitudinal suportada pelo flange é:

F b t b tM E

Gqb y t

II

yflange max= =+

⎜⎜⎜⎜

⎟⎟⎟⎟

2 2

23

1 1

3 2

σ (3.12)

No entanto, esta força deve ser igual àquela obtida pela integração da

equação 3.10, ou seja:

F tdz btM E

Gqb y t

II

y EG

qb ytI

b tM E

Gqb y t

II

y

flange x

b= =

+⎛

⎜⎜⎜⎜

⎟⎟⎟⎟

=+

⎜⎜⎜⎜

⎟⎟⎟⎟

∫2 2

23 2

3

2

23

0

3 2

3

1

3 2

σ

(3.13)

o que resulta na relação entre a largura efetiva e a largura do flange como

sendo

bb

EG

qb

M EG

qb y tI

1

2

3 21

1323

= −+

(3.14)

Fica evidente que a largura da chapa colaborante é função da

distribuição da carga e das condições de contorno da viga. No caso de uma

viga simplesmente apoiada e com carga uniformemente distribuída, o momento

fletor é dado por:

M qlx qx= −

2 2

2

(3.15)

e a chapa colaborante

Page 65: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

61

bb

EG

b

lx x EG

b y tI

1

2

2 3 21

13

2 223

= −− +

(3.16)

Para uma viga bi-engastada sob a mesma condição de carga

M qlx qx q= − −

2 2 12

2 2l (3.17)

e a chapa colaborante

bb

EG

b

lx x EG

b y tI

1

2

2 2 3 21

13

2 2 1223

= −− − +

l (3.18)

Observando em mais detalhe as equações 3.16 e 3.18, nota-se que as

quantidades:

7. momento de inércia I, e

8. y , distância do flange ao centróide da secção da viga;

são funções da largura b1, que esta sendo calculada no primeiro membro de

ambas as equações, de onde se conclui que o processo deve ser iterativo.

Por outro lado, em regiões onde o momento fletor possui valores muito

maiores que o segundo termo no denominador das equações 3.16 e 3.18, este

pode ser desprezado, resultando para:

Page 66: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

62

• vigas engastadas:

bb

b12

21 8 1= − +( )μl

no engastamento (3.19)

bb

b12

21 16 1= − +( )μl

no centro da viga (3.20)

• vigas apoiadas:

bb

b12

21 163

1= − +( )μl

no centro (3.21)

onde o carregamento é uniformemente distribuído.

É de interesse uma comparação entre estes resultados e os obtidos pelo

trabalho de Schade, apud Hugues, 1983. Schade fornece os resultados para

chapas colaborantes em função do parâmetro cL/B, onde cL é a distância entre

pontos, ao longo do comprimento da viga, onde são nulos os momentos e B é o

espaçamento entre reforçadores do painel, ou a largura total do flange da viga.

Portanto chamando cL= l1 , B=2b e adotando (1+μ)=5/4 a equação 3.21 para

vigas apoiadas, na região de máximo momento fletor se transforma para 3

bb

B12

121 5

3= −

l

Para finalizar deve-se ressaltar que para secções transversais cujo eixo

neutro estão muito próximos do chapeamento, como é o caso de painéis

reforçados usualmente aplicados na construção naval, as propriedades da

3 Segundo Muckle, 1987, utilizando teoria da elasticidade Schade, chega a seguinte relação para

chapeamentos reforçados, bb

B12

12

1

11 1 2= +⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

.l

, válido para valores de l1 2B

≥ e mostra que para

certas circunstâncias é possível ter-se uma relação de chapa colaborante espaçamento de perfis maior do que a unidade.

Page 67: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

63

secção não são significativamente afetadas pela largura de chapa colaborante

utilizada, de modo que a largura efetiva não possui a importância que pode

parecer a uma primeira vista, veja exercício 1.

As principais conclusões destas investigações são:

1. a largura efetiva varia de ponto para ponto ao longo do comprimento da

viga. Em contrapartida, não há efeito shear lag na flexão pura (força

cortante nula).

2. shear lag ocorre tanto em tração quanto em compressão de forma

idêntica, desde que não ocorra a flambagem do flange.

Na figura 3.13, extraída de Hughes, 1983, apresentam-se as curvas para o

cálculo de largura de chapa colaborante em função do arranjo dos perfis e do

tipo de carregamento.

Figura 3.13 – Largura de chapa colaborante. Hughes, 1983.

Page 68: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

64

perfil +chapa colaborante

unidades de chapeamentodistribuição de tensões de flexãono chapeamento

distribuição de momentos fletoresao longo do comprimento do perfilpara carga uniforme

vão L

distância entre momentosfletores nulos = 0.578 L

l1

1

2

1 /2

2 /2

BB

BB

1 /2

2 /2cc

Largura da chapa colaborantec = (c + c )/2

1 2

q L /122 q L /242

l1

Sentido do comprimento

Figura 3.14 – Largura de chapa colaborante em painéis reforçados

3.4. Grelhas

Muitas estruturas se constituem de uma rede de vigas que se estendem

em duas direções, geralmente ortogonais. Nas estruturas navais e oceânicas o

uso deste arranjo é comum, podendo-se citar os conveses de navios,

reforçados na direção transversais pelos vaus e, na longitudinal, pelos

longitudinais leves e sicordas. Conforme se mencionou anteriormente, uma das

formas de se analisar este tipo de estrutura é considerar que o carregamento é

absorvido por um grupo de reforços, enquanto que o outro, agindo como

suporte para o primeiro, não se deforma. De acordo com esse principio e

retomando o exemplo do convés, admite-se que os vaus se apóiam no costado

e em uma sicorda, ambos os apoios considerados irrecalcáveis. Um modelo

melhor reconheceria que o segundo conjunto de reforços atua como apoio

Page 69: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

65

elástico para primeiro. O estudo das grelhas contempla este tipo de problema, e

define-se a grelha com uma estrutura onde existem vigas ou reforços em duas

direções.

Nas estruturas navais e oceânicas o problema de grelhas é complicado

pelo fato de os reforços estarem ligados a um chapeamento, ou em outras

palavras, a grelha é chapeada. A dificuldade aqui se refere a qual valor de

chapa colaborante que deverá ser associado à secção reta dos perfis para

formar as vigas ou reforços nas duas direções.

3.5. Grelha Simples Uma introdução ao problema de grelhas pode ser feito considerando

apenas duas vigas que se interceptam em ângulos retos, sendo solidárias no

ponto de interseção. Na Figura 3.15 mostra-se uma estrutura, na qual uma

viga, simplesmente apoiada, com comprimento l 1 e momento de inércia I1, é

ligada, em seu ponto central, a uma segunda viga, também simplesmente

apoiada, comprimento l 2 e momento de inércia I2. As cargas atuantes em cada

uma delas seriam q1 e q2 respectivamente e para o propósito deste problema

serão consideradas uniformes ao longo do comprimento das vigas.

O efeito da ligação entre as duas vigas será a geração de uma força

concentrada F no ponto de interseção e essa agirá para cima em uma das

vigas e para baixo na outra, de modo que a reação de apoio na primeira viga

será:

Qq F

11 1

2 2= −

l (3.22)

e na segunda viga

Qq F

22 2

2 2= +

l (3.23)

Segue que os momentos fletores para estas duas vigas serão:

Page 70: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

66

M Q xq x

1 11

2

2= − (3.24)

M Q yq y

2 22

2

2= − (3.25)

q

q

viga 1

viga 2

l1

l2

centro das vigas

2

1

2I

I1

y

x

Figura 3.15 - Grelha simples apoiada

Uma vez conhecida a força F os distribuições de momentos M1(x) e M2(y)

podem ser calculadas para cada uma das vigas. O procedimento é simples.

Como as vigas estão ligadas em seus pontos centrais, as deflexões delas neste

ponto devem ser a mesma. Considerando apenas a influência do momento

fletor no cálculo dos deslocamentos, tem-se:

δ11 1

4

1

13

1

5384 48

= −qEI

FEI

l l (3.26)

e

δ 22 2

4

2

23

2

5384 48

= +qEI

FEI

l l (3.27)

Igualando as duas expressões obtém-se:

Page 71: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

67

F

qI

qI

I I

=

−⎛

⎝⎜

⎠⎟

+

58

1 14

1

2 24

2

13

1

23

2

l l

l l (3.28)

É educativo examinar-se os valores limites na equação 3.28. Se a viga 2

for muito rígida (comprimento pequeno e/ou inércia grande), o segundo termo

em ambos, numerador e denominador, tendem a zero, resultando para a força

F = 5/8 q1 l 1 , que seria o resultado para uma viga contínua sobre três apoios. A

Figura 3.16 ilustra a solicitação de momentos para a viga 1. Se, por outro lado,

a viga 2 for muito flexível e admitir-se que nela atue uma carga desprezível, a

força F será nula e a viga 1 se comportaria como uma viga sobre dois apoios.

l3 /4

2l9 q

128

equivalente a umaviga engastada-apoiada

2lq

8

Figura 3.16 - Momentos Fletores para a viga 1 supondo que a viga 2 seja muito

rígida

3.6. Grelha Múltipla

Quando existem mais de um reforçador em cada direção, a solução do

problema da grelha é mais complicada, pois ao invés de ter-se somente uma

incógnita hiperestática (força concentrada no ponto de interseção das vigas)

surgirá uma série delas. Em outras palavras, haverá tantas reações

hiperestáticas quantas forem as intersecções entre reforços. O problema se

Page 72: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

68

transforma de uma equação a uma incógnita para n equações a n incógnitas

se for utilizado o mesmo método do item anterior. Obviamente, em termos

práticos, isso limita a umas poucas vigas o problema que pode ser resolvido

sem o auxilio de um computador.

Existem alguns métodos aproximados para a solução do problema de

grelhas. Um deles, muito difundido na década de 70, antes da popularização

dos Métodos Matriciais, era o Método da Chapa Ortotrópica, onde a grelha é

substituída por uma placa com características ortotrópicas fictícias de rigidez.

Os resultados dessa teoria, úteis nas fases iniciais de qualquer projeto, são

apresentados em forma de gráficos, que podem ser encontrados em Freitas, E.

S., 1977.

Porém o problema de grelha pode ser facilmente resolvido através de

Métodos Matriciais de Cálculo de Estruturas, objeto de estudo não abordado

neste curso.

3.7. Flambagem de painéis reforçados

Embora a flambagem de painéis reforçados seja objeto de estudo do

capítulo de estrutura secundária, ele é mais bem compreendido após o estudo

da estrutura terciária. Assim, sugere-se que o leitor prossiga seus estudos

focalizando a estrutura terciária e, posteriormente, retorne a este item para

compreender o cálculo da instabilidade de painéis reforçados.

Ao se estudar a flambagem de uma unidade de chapeamento, estrutura

terciária, se supõe que seus contornos permanecem estáveis. Na realidade isso

pode não acontecer. Os reforços longitudinais e transversais podem flambar

antes mesmo de uma unidade de chapeamento chegar à sua tensão crítica.

Os painéis reforçados podem flambar de duas formas diferentes. Na

flambagem global, os reforços flambam junto com o chapeamento; na

flambagem local ou o reforço flamba prematuramente, por insuficiente rigidez

ou estabilidade, ou as unidades de chapeamento flambam entre reforços,

Page 73: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

69

sobrecarregando desta maneira os reforços de tal forma que estes flambam de

modo semelhante às colunas.

Para a maioria dos painéis, de aplicação em engenharia naval e

oceânica, as dimensões são tais que a flambagem - seja de qual tipo for - é

inelástica, e assim sendo o termo falha é mais adequado de ser usado ao invés

de flambagem. No entanto, a flambagem elástica nos dá uma boa indicação de

como serão os modos de falha e servem, também, como um balizamento inicial

para estudos mais complexos envolvendo a flambagem inelástica.

Como já fora feito anteriormente na flambagem de placas, o cálculo das

tensões criticas de flambagem são, em geral, feitas adotando-se contornos

simplesmente apoiados, não obstante a presença de forças laterais, pois na

maioria dos casos estes carregamentos podem estar ausentes ou podem não

ser grandes o suficiente para prover uma total restrição a rotação. Além disso,

as cargas laterais têm pouca influência na flambagem elástica. Portanto, a

menos que se diga o contrário, será adotado que os lados do painel estão

simplesmente apoiados.

Uma maneira prática de calcular a tensão crítica de flambagem de um

painel reforçado consiste em considerar cada reforçador, associado a uma

largura de chapeamento, como uma viga sendo comprimida. A tensão crítica de

flambagem é então obtida pelas fórmulas de Euler, ou qualquer outra

envolvendo a flambagem de colunas, e esta tensão, assim obtida, deve ser

inferior à tensão crítica de flambagem da unidade de chapeamento.

O que acontece então quando a unidade de chapeamento flamba antes

de se atingir o valor da tensão acima mencionada? Obviamente o valor de b,

vide figura 3.18, tomado como largura de flange para a secção do perfil, deverá

ser menor, uma vez que a unidade de chapeamento sofrera flambagem e uma

conseqüente redistribuição de tensões.

Uma vez que no bom projeto estrutural de um painel esbelto tal condição

deva ser verificada, ou seja, a flambagem do chapeamento deve preceder a

Page 74: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

70

flambagem dos reforços, ocorre que a chapa colaborante para o reforçador não

será totalmente efetiva sobre toda largura b. Ao invés, é necessário tomar uma

largura efetiva reduzida, digamos, be. Note que esta largura não é a mesma

deduzida como chapa colaborante à flexão de modo a corrigir o efeito shear

lag. Naquele caso a perda de efetividade era devido a deformações no plano do

chapeamento em função do cisalhamento. No presente caso ela é devido a

deformações para fora do plano, causadas pela flambagem.

b e

b e

b

a

unidade de chapeamento σ a

σ e

tensão uniforme no painel antes da flambagem da unidade de chapeamento

tensão máxima no perfil após a flambagem da unidade de chapeamento

σ a tensão média no painel após a flambagemda unidade de chapeamento

redistribuição de tensões após a flambagem da unidade de chapeamento

Figura 3.18 - Flambagem de uma unidade de chapeamento

A largura efetiva devido a flambagem é uma questão difícil de ser

resolvida, principalmente porque, na maioria dos casos, ela é discutida e

aplicada em um difícil contexto onde os painéis não flambam de forma

puramente elástica. Para a flambagem elástica uma teoria satisfatória foi

apresentada por von Karman, 1932. A proposta de von Karman é, além de

elegante, simples e prática, e fornece uma ferramenta útil na previsão da

flambagem elástica de painéis reforçados.

Page 75: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

71

Ele idealizou o estado de tensões na placa após a flambagem adotando

que, devido a flambagem a região central da placa não sofre tensões de

compressão, enquanto que as regiões dos extremos permanecem totalmente

efetivas e apresentando tensões uniformes σe, como se mostra na figura, 3.18.

Em outras palavras, a região flambada da placa é descontada completamente

da placa original de largura b e substituída por uma placa de menor largura, não

flambada e com largura efetiva be.

Do equilíbrio estático fica claro que σe e σa estão relacionadas por:

σ σeA

aAe

dA dA∫ ∫= (3.29)

Para simular a progressão da flambagem é também adotado que a

(ainda não flambada) largura efetiva está sempre na eminência de sofrer a

flambagem, isto é, a largura efetiva é aquela largura na qual a placa

equivalente sofreria flambagem quando submetida a tensão σe. Isto implica em

σπ

ee

k Db t

=2

2 (3.30)

e, para a placa original

( )σ πa cr k D

b t=

2

2 (3.31)

Pressupondo-se que o valor de k seja o mesmo para ambos os casos,

tem-se que:

( )bbe a cr

e

σ (3.32)

Page 76: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

72

Esta última hipótese não é estritamente correta porque, embora as

condições de contorno possam ser consideradas como similares em ambos os

casos, as razões de aspecto são diferentes. No entanto, foi mostrado, quando

do estudo da flambagem de placas, que para razões de aspecto maiores do

que a unidade, k pode ser tomado como sendo 4. A substituição desse valor,

juntamente com o coeficiente de Poisson ν = 0.3, na expressão para (σa)cr,

transforma a equação (3.31) para

bb

tb

Ee

e

= 19.σ

(3.33)

De posse de uma expressão para o cálculo de be podemos prosseguir e

obter uma expressão para a carga de colapso de um painel reforçado, isto é,

para o colapso do painel em modo elástico. A largura efetiva be é associada ao

perfil de área A e inércia I, atuando como uma chapa colaborante no cálculo da

inércia Ie da área transversal Ae do novo perfil. A tensão normal axial, σe , que

atua no reforço mais chapa colaborante, tem seu valor crítico é dado por:

σπ

ee

e

EIA L

=2

2 (3.34)

Note que nesta equação se refere a σe ao invés de σa .A tensão axial no

reforçador é maior do que a tensão externa aplicada σa por causa da largura

reduzida da chapa. A quantidade de interesse é o valor de σa correspondente a

σe . pois este é o valor da carga de flambagem do painel reforçado. Do

equilíbrio estático, ambos se relacionam:

σ σa e ebt A b t A( ) ( )+ = + (3.35)

e, por conseqüência

σ σae

eb t Abt A

=++

(3.36)

Page 77: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

73

Por causa da presença de σe na equação (3.33) o cálculo deve ser

iterativo. Um procedimento adequado seria:

1. Adota-se um valor inicial para be (suponha-se be =0.8 b).

2. Calcula-se o momento de inércia do perfil associado à sua chapa

colaborante.

3. Calcula-se σe através da equação (3.34).

4. De posse deste valor, recalcula-se be através da equação (3.33).

5. Repete-se os passos de 2 a 4 ate que be tenha convergido.

6. Calcula-se σa através da equação (3.36).

7. Pode-se observar, através do exercício 6, que com este procedimento,

obtém-se a carga crítica de flambagem do painel em poucas iterações.

Page 78: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

74

PROBLEMAS

1. Para o perfil mostrado na figura, calcular o momento de inércia, os

módulos de resistência, no flange e na chapa, utilizando larguras de

chapa colaborante, conforme as relações b1 /b=(1.0;0.8;0.6;0.4);

Para b1/b=1 calcular a distribuição das tensões de cisalhamento no perfil.

(Faça os cálculos para o perfil analiticamente, pois estes resultados

serão úteis para todo o seu futuro dentro do cálculo das estruturas

navais e oceânicas).

b=500; tb=6.3; h=105; th=5; f=45; tf=9.5 (em mm)

f

h

b

t

t

f

th

b

2. Admitindo que a viga com o perfil acima possua 1030 mm de

comprimento e b=500 mm está submetida a uma carga com distribuição

triangular (q=500 N/m) e lados simplesmente apoiados, calcular a chapa

colaborante na posição de momento máximo.

q=N/m

Page 79: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

75

3. Para o painel mostrado na figura, calcular as tensões secundarias,

admitindo espaçamento de cavernas de 1030 mm e vão livre da sicorda

de 4 espaçamentos de cavernas. Qual é a máxima tensão no perfil e em

que posição do painel ela ocorre.

p=1.0 mca

P=280x6.3x200x12.5L=105x5x45x9.5

2000espes. = 7

med

ida

s em

mm

4. Na figura mostra-se um painel do fundo de um petroleiro que está

submetido a uma pressão hidrostática de 25 mca. O chapeamento

possui 20 mm de espessura, o espaçamento entre hastilhas é de 3700

mm, e o de longitudinais, 880 mm. Os longitudinais leves possuem

dimensões, 400x12x150x18 (almaxflange), as hastilhas 800x20x400x30

e a quilha 1000x20x300x30. Calcular as máximas tensões secundárias.

Levantar o diagrama de momentos fletores na estrutura pesada.

Page 80: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

76

5. Calcular, para as duas direções, as tensões críticas de flambagem do

painel reforçado mostrado na figura.

3000 3000

600

7~

L90x60x6

T300x8x100x12

Aço Naval2

Page 81: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

77

4. Estrutura Terciária

4.1. Introdução

Em navios e em algumas estruturas oceânicas encontramos como

componente estrutural básico o painel estrutural ou chapeamento reforçado. O

painel estrutural é composto pelo chapeamento, que assegura a

estanqueidade, ao qual são soldados reforçadores - perfis - em uma única

direção ou em direções ortogonais. Chamamos de unidade de chapeamento de

um painel a porção de placa limitada por quatro reforçadores, ou outras

descontinuidades geométricas, adjacentes. Em navios, quando o lado maior da

unidade de chapeamento é paralela ao eixo proa-popa, diz-se que o sistema de

cavernamento é longitudinal. Quando o lado maior está em direção ortogonal

ao eixo proa-popa, diz-se que o cavernamento é transversal. Na figura 4.1

mostramos, de forma esquemática, a região do fundo de duas embarcações,

uma com cavernamento longitudinal e outra com o cavernamento transversal. É

fácil localizar ali, num painel do duplo fundo, uma unidade de chapeamento4.

Figura 4.1 - Tipos de duplo fundo

4Para os engenheiros navais a unidade de chapeamento também é denominada de estrutura terciária.

Page 82: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

78

Ao contrário das vigas nas quais a flexão ocorre apenas ao longo do

comprimento, a flexão de placas geralmente ocorre ao longo de duas direções.

Para equacionarmos o problema da flexão de placas, partimos da teoria geral

da elasticidade, introduzindo hipóteses simplificadoras, baseadas na

observação pura e simples, a fim de facilitar o manuseio matemático do

problema.

4.2. Nomenclatura

No decorrer do presente capítulo, ao tratarmos de placas planas,

usaremos os sistema de referência da figura 4.2, no qual o plano Oxy coincide

com o plano médio, não deformado, da placa.

xy

z

a b

t

O

Figura 4.2 - Placa e sistema de referência

Os deslocamentos nas direções dos eixos x,y e z serão u,v e w,

respectivamente.

Os esforços solicitantes: forças normais, forças cortantes e momentos

fletores, serão sempre dados por unidade de comprimento ou largura e não

serão necessariamente constantes ao longo do comprimento ou largura

(diferente das vigas onde os esforços solicitantes são constantes ao longo da

seção).

Page 83: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

79

4.3. Hipóteses simplificadoras e suas limitações

Das simplificações a que se recorrem, as quatro seguintes são parcial ou

totalmente usadas nas teorias mais usuais de placas planas.

1. O material permanece elástico.

2. O plano de meia espessura não se deforma pela flexão. Note-se

que é a flexão que, supostamente, não deforma o plano médio. Este poderá

deformar-se, em realidade, pela própria flexão e, ainda, pelas causas a seguir:

a) forças externas aplicadas ao plano médio da placa, em seu contorno,

como exemplifica a figura 4.3a5.

b) reação de apoios que se opõem a mutua aproximação dos contornos

(figura 3b).

(a) forças normais externas

R R

(b) reações de apoio

n

n

Figura 4.3 - Forças no plano médio da placa

5Poderia haver também forças de cisalhamento, apesar de não aparecerem na figura 4.3.

Page 84: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

80

3. Na expressão dos raios de curvatura, pode-se desprezar a

contribuição da derivada primeira, isto é

2

2

23

2

2

2

1

1n

w

nw

nw

rn ∂∂

∂∂

∂∂

−≅

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡⎟⎠⎞

⎜⎝⎛+

−= (4.1)

onde rn é o raio da curva de interseção de um plano perpendicular a Oxy

com o plano médio defletido ("superfície média").

4. Nas deformações de flexão podem ser desprezadas as

contribuições de σz, τxz e τyz, isto é:

( )yxx νσσε −≅E1

( )xyy νσσε −≅E1

( )yxz σσνε +−

≅E

γτ

xyxy=

G

(4.2)

0≅xzγ

γ yz ≅ 0

Page 85: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

81

As duas últimas das equações (4.2) equivalem a dizer que seções

perpendiculares ao plano médio assim permanecem, aproximadamente, após a

flexão6.

A primeira hipótese deixa de ser válida, para estruturas de navios, nos casos

seguintes:

a) em algumas partes da estrutura projetadas para trabalhar, sob as

condições mais desfavoráveis, em regime plástico; exemplo: as regiões mais

solicitadas de anteparas estanques;

b) em pequenas regiões da estrutura que, apesar de projetadas para

o regime elástico, passam ao regime plástico por efeito de tensões residuais7 e

de imperfeita estima das cargas e modelo de cálculo.

A segunda hipótese pode ser considerada válida quando a máxima

deflexão é pequena, comparada com a espessura da placa. Quando a pressão

é uniforme costuma-se utilizar a segunda hipótese até8 wmax/t = 0.5, pois para

deflexões maiores a reação dos lados (figura 4.3) pode tornar considerável a

deformação do plano médio pela flexão.

A terceira hipótese pode ser considerada válida para pequenas

deflexões, sendo, porém usada mesmo para grandes deflexões.

A quarta hipótese produz resultados insatisfatórios para placas grossas e

próximo a contornos. Por placa grossa entenda-se aquela em que as razões a/t

e b/t não são suficientemente grandes. Delas não cogitaremos por não

existirem em estruturas oceânicas.

6Portanto, se admitirmos a hipótese 4, uma linha perpendicular ao plano médio, como Oz, assim continuará após a deformação. 7Tensões remanescentes dos processos de fabricação, principalmente a soldagem. 8Alguns autores sugerem wmax/t = 0.75.

Page 86: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

82

4.4. Teoria das pequenas deflexões

A teoria das pequenas deflexões é formulada para um modelo que

incorpora as quatro hipóteses simplificadoras mencionadas. Ela apresenta duas

ramificações, resultantes da inclusão, ou não, do efeito das forças paralelas ao

plano médio da placa9. A não inclusão de tal efeito é razoável quando a razão

wmax/t é pequena e as forças paralelas ao plano médio, aplicadas no contorno

da unidade, não são elevadas. Frequentemente tais condições se satisfazem

em estruturas oceânicas. Como conseqüência obtém-se uma teoria linear.

As forças a serem consideradas, em um elemento da placa, com

dimensões t, dx e dy, são as que se representam na figura 4.3. Para não

sobrecarregar a figura estão mostradas as forças que atuam nos lados visíveis

do elemento. Nas faces opostas às visíveis existem as mesmas forças em

sentidos opostos e sem os termos devido a variação dx e dy, conforme se vê

representado no canto superior direito da figura 4.4(a).

xy

z

dxdy

n + dndxx

xdx

n + dxx y dxdn x y

n + dyy x dydn y x

dxdy

n + xdndx

xdxn x

n + dy y dydn y

Figura 4.4(a) - Forças de membrana em um elemento de placa

9Essas forças, denominadas de forças (que geram tensões) de membrana, estão representadas na figura 4.4, como sendo nx, ny, e nxy.

Page 87: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

83

xy

z

q + dqdxx

xdx

m + dmdxx

x dx

m + x yx ydm

dxdx

q + dqdyy

y dym + dmdyy x

y x dy

m + dmdyy

ydy

p dx dy

Figura 4.4(b) - Forças de flexão em um elemento de placa

4.5. Relações entre momentos fletores e curvaturas

Consideremos um elemento de dimensões t, dx e dy, isolado de uma

placa, e representado na figura 4.5 apenas com os momentos fletores que

sobre ele atuam, simplesmente para não sobrecarregar a figura.

xy

z

dxdy

z

dz

m x

m y bc

d

σx

σy

t/2 a

Figura 4.5 - Momentos fletores em um elemento de placa

Page 88: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

84

Focalizemos a lâmina abcd. Utilizemos:

a) quarta hipótese, isto é γ γxz yz= ≅ 0 ,

b) segunda hipótese, isto é, indeformabilidade do plano médio.

Podemos escrever10

εxx

zr

= ; ε yy

zr

= (5.1)

onde z é uma coordenada perpendicular ao plano médio deformado, medida a

partir dele, e no mesmo sentido de Oz.

Usando a quarta hipótese temos:

( )yxx νεεν

σ +−

= 21E

(5.2)

( )xyy νεεν

σ +−

= 21E

Usando as equações (5.1), temos

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

−=

yxx rr

111

Ez2

νν

σ

(5.3)

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

−=

xyy rr

111

Ez2

νν

σ

e os momentos resultantes em cada uma das faces da figura 5

10A dedução é a mesma que se faz na teoria simples de vigas.

Page 89: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

85

∫−= 2

2

t

tdydzzdym xx σ

(5.4)

∫−= 2

2

t

tdxdzzdxm yy σ

Usando as equações (5.3) e ainda a terceira hipótese,

2

21xw

rx ∂∂

−= ; 2

21y

wry ∂

∂−=

podemos expressar σx e σy em função de w nas equações (5.4), obtendo:

( ) ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

−−= 2

2

2

2

2

3

112E

yw

xwtmx ∂

∂ν∂∂

ν

(5.5)

( ) ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

−−=

2

2

2

2

2

3

112E

xw

ywtm y ∂

∂ν∂∂

ν

Definindo módulo de rigidez à flexão11 de placas como

( )2

3

112ED

ν−=

t (5.6)

resulta:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+−=

2

2

2

2

Dy

wx

wmx ∂∂ν

∂∂

(5.7)

11É equivalente ao produto de rigidez EI nos problemas de fexão de vigas.

Page 90: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

86

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+−=

2

2

2

2

Dx

wy

wm y ∂∂ν

∂∂

As equações (5.7) são as desejadas relações entre momentos fletores e

curvaturas.

4.6. Relações entre momentos torçores e curvaturas

Isolemos o mesmo elemento considerado no ítem anterior,

representando-o na figura 6.1 apenas com os momentos torçores que sobre ele

atuam. Sobre a lâmina abcd estarão presentes as tensões de cisalhamento τxy

e τyx.

xy

z

dxdy

z

dz

m xym yx

a

bc

d

σxy

σyx

t/2

Figura 6.1 - Momentos torçores em um elemento de placa

Observando a figura 6.2 notamos que, se um ponto a na placa,

localizado a uma distância z da superfície neutra é deslocado de uma

quantidade v na direção y, o deslocamento de um ponto vizinho, localizado em

x + dx será de v + (∂v/∂x)dx, de forma a mudar a inclinação da linha ab de

Page 91: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

87

v vx

dx v

dxvx

+ −=

∂∂ ∂

(6.1)

De modo análogo a mudança na inclinação da linha ad será ∂u/∂y.

O retângulo abcd se transforma no paralelogramo a'b'c'd' e a deformação

por cisalhamento é definida como:

γ ∂∂

∂∂xy

vx

uy

= +

(6.2)

τ γxy xy= G

m dy z dydzxy xyt

t

= −−∫ τ

2

2

(6.3)

∫−+= 2

2

t

tdxdzzdxm yxyx τ

De (6.3) vem : m mxy yx= −

É necessário expressar u e v em função de w. Consideremos a figura

6.2.

Para um dado valor do par (x,y), podemos escrever:

u u u z= +0 '( ) (6.4)

v v v z= +0 '( ) (6.5)

u0 e v0 são deslocamentos u e v para z = 0.

Page 92: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

88

Então

γ ∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

γ

xyvx

uy

vx

uy y

u zx

v z

xy

= + = + + +0 0

0( )

' ( ) ' ( )6 74 84

( )γ xy 0 é a deformação de cisalhamento γ xy no plano médio, que, por hipótese, é

indeformável.

Logo:

( ) '( ) '( )γ γ ∂∂

∂∂xy xy y

u zx

v z0 0= ∴ = +

(6.6)

Observando a figura 6.2, satisfeita a hipótese γ xz ≅ 0 , verifica-se que

u z z wx

' ( ) = −∂∂

(6.7)

e, analogamente

v z z wy

' ( ) = −∂∂

(6.8)

Page 93: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

89

a b

c d

a'

b'

c'

d'

v + (d v /d x) d xv

u

u + (d u /d y) d y

dx

dy

= d w / d x

t

u = - z ( d w / d x )w

x

z

z

sin θ

tan θ

pequenas deflexões

θ sin θ~~ ~~

θ

tan θ

Figura 6.2 - Deformação por cisalhamento e deflexão da placa

Substituindo as duas últimas equações na equação (6.6) obtém-se:

Page 94: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

90

γ ∂∂ ∂xy z wx y

= −22

(6.9)

Substituindo (6.9) nas equações (6.2) e estas em (6.3) vem:

m m wx yxy yx= − = D(1- )2

ν ∂∂ ∂

(6.10)

A equação (6.10) é a desejada relação entre momentos torçores e

torções na flexão de placas.

4.7. Equação de equilíbrio, desprezando o efeito de cargas paralelas ao plano médio.

Vamos desenvolver uma equação que relacione a função incógnita do

problema, w, com o valor da carga lateral aplicada. Poderemos utilizar todas as

relações já desenvolvidas. O elemento de placa a considerar é o da figura 4.1,

em que desprezamos, logo de inicio, os esforços nx , ny e nxy .

Estabeleceremos as condições de equilíbrio na direção de Oz e em torno de Ox

e Oy. As três condições restantes não serão consideradas pois desprezaremos

o efeito das forças paralelas ao plano da placa.

Equilíbrio de forças na direção de Oz:

∂∂

∂∂

qx

qy

px y+ + = 0 (7.1)

Equilíbrio de momentos em torno de Ox:

∂∂

∂∂

mx

my

qxy yy− + = 0 (7.2)

Page 95: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

91

Equilíbrio de momentos em torno de Oy:

∂∂

∂∂

my

mx

qyx xx+ − = 0 (7.3)

Substituindo as equações (7.3) e (7.2) em (7.1) obtém-se:

∂∂

∂∂ ∂

∂∂

2

2

2 2

22mx

mx y

my

px xy y

− + = − (7.4)

Substituindo as equações (5.7) e (6.10) em (7.4) obtem-se:

∂∂

∂∂ ∂

∂∂

4

4

4

2 2

4

42wx

wx y

wy

p D

+ + = (7.5)

ou

∇ =4w pD

(7.6)

4.8. Solução do problema de flexão de placas

O problema estará resolvido quando, dadas as condições de contorno e

a distribuição p(x,y), obtermos uma solução para a equação (7.6),e daí, as:

• tensão máxima na direção x:

σxxm

tmax=

62

• tensão máxima na direção y:

σ yym

tmax=

62 (8.1)

Page 96: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

92

• tensão máxima de cisalhamento no plano xy12:

τxyxym

tmax=

62

4.9. Placas simplesmente apoiadas

O problema em pauta foi resolvido para várias condições de contorno e

de carregamento. Um estudo completo das soluções da equação (7.6), com

seus desenvolvimentos, pode ser encontrado na referência Timoshenko,

Theory of Plates and Shells. Vamos tratar aqui dos casos comumente

encontrados em estruturas navais e oceânicas, placas retangulares com os

contornos ou simplesmente apoiados ou engastados sob pressão lateral

uniforme.

A solução para placas com os contornos simplesmente apoiados,

desenvolvida por Navier (1820), admite que o carregamento p(x,y) possa ser

representado por uma série de Fourier. Nestas condições, a expressão geral do

carregamento seria:

p P m xb

n yamn

nm

==

=

∑∑11

sin sinπ π (9.1)

onde o coeficiente Pmn pode ser obtido, por análise de Fourier, para qualquer

tipo de carregamento. Por exemplo, para o caso de pressão uniforme p0

pode-se demonstrar que o coeficiente Pmn é dado por

12Note que utilizando a hipótese de que γxz e γyz são nulos ficam desconhecidas as distribuições das tensões de cisalhamento τxz e τyz advindas das forças cortantes qx e qy respectivamente. Admitindo-se uma distribuição parabólica para τyz e τxz , calcularía-se as tensões máximas:

τ xzxq

t= 1 5. e τ yz

yqt

= 1 5.

Page 97: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

93

P pmnmn =

16 02π

(9.2)

onde m e n assumem valores impares somente pois, devido a simetria do

problema, os valores pares resultam em Pmn nulos.

A distribuição de carregamento bi-harmônica resultará em deflexão

também senoidal. Isto é, a solução geral da equação (7.6) e que satisfaz as

condições de contorno é da forma:

w W m xb

n yamn

nm

==

=

∑∑11

sin sinπ π (9.3)

Para achar o valor do coeficiente Wmn em (9.3), esta, juntamente com

(9.1) e (9.2), é substituída em (7.6). Após alguma manipulação obtém-se:

2

2

2

2

26

0

D

16

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

=

an

bmmn

pWmn

π

(9.4)

Encontrado w(x,y) obtemos os momentos fletores e destes as tensões de

flexão utilizando as equações (8.1) e (8.2)

∂∂

π π π2

211

2 2

2w

xW m

bm x

bn yamn

nm

= −=

=

∑∑ sin sin

(9.5)

∂∂

π π π2

211

2 2

2w

yW n

am x

bn y

amnnm

= −=

=

∑∑ sin sin

Como exemplo, calculamos

Page 98: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

94

ayn

bxm

an

bmW

yw

xwm

m nmnx

ππνπ∂∂ν

∂∂ sinsin

D

2

2

2

22

1 12

2

2

2

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+−= ∑∑

=

=

(9.6)

A curvatura, e portanto o momento fletor, será sempre maior ao longo do

lado curto da placa. Por convenção, o símbolo b é sempre utilizada para a

dimensão deste lado, fazendo com que a razão de aspecto a/b seja sempre

maior que a unidade.

Para se ter uma idéia da influência do número de termos retidos no

cálculo de mx na equação acima, consideremos uma placa com razão de

aspecto a/b=4 e tomemos os três primeiros termos em cada uma das séries

para o cálculo das deflexões e tensões no centro da placa, isto é, x = b/2 e y =

a/2. Neste ponto, os termos em seno da equação (9.3) valem 1 ou -1,

dependendo do valor de m e n. O coeficiente em (9.3) se reduz a

⎪⎪

⎪⎪

⎪⎪

⎪⎪

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

+

2

2

222

2

222

4

2016

abnmmn

abnmbp ν

π (9.7)

Adotando ν = 0.3, obtém-se:

( ) ⎪⎭

⎪⎬⎫

⎪⎩

⎪⎨⎧

+

+222

22

4

20

0625.0

01875.016

nmmn

nmbpπ

(9.8)

A tabela T1 mostra os cálculos do coeficiente entre chaves da equação (9.8).

Page 99: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

95

Tabela T1 Amplitude dos termos de Fourier

n m mn m2 n2 m2+0.01875n2 mn(m2+0.0625n2)2 Coeficiente

1 1 1 1 1 1.01875 1.1289 0.90240

1 3 3 9 1 9.01875 246.3867 0.03660

1 5 5 25 1 25.01875 3140.6445 0.00796

3 1 3 1 9 1.16875 7.3242 0.15957

3 3 9 9 9 9.16875 822.9726 0.01114

3 5 15 25 9 25.16875 9801.6210 0.00257

5 1 5 1 25 1.46875 32.8320 0.04473

5 3 15 9 25 9.46875 1673.5260 0.00566

5 5 25 25 25 25.46875 17 639.1600 0.00014

O valor do momento fletor a meio vão é:

m p bx = − + −16 0 90240 0 03660 0 007960

42

π( . . . ...)

= 0 125 02. p b

Timoshenko obtém, para o problema resolvido, 0 1235 02. p b , o que

mostra a precisão dos resultados obtidos com apenas 3 termos na série.

M = 0.125 q bb

max

q

2

a

q = p a

Embora a placa com contornos simplesmente apoiados tenha aplicação

prática restrita, o exemplo calculado mostra que o que chamamos de efeito

painel diminui rapidamente com crescimento da razão de aspecto, pois se

Page 100: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

96

pensássemos que na direção curta a placa fosse uma viga larga (viga com

comprimento b e seção transversal a x t), o máximo momento fletor, no centro

da viga (placa), será

M qbmax =

2

8

Dividindo pelo comprimento a

m Ma

qba

pbmaxmax .= = =

22

80 125

que, aproximadamente, é o mesmo valor obtido para a placa com razão de

aspecto 4.

4.10. Soluções em forma de Gráficos

A solução para placas com os lados engastados é um pouco mais

elaborada e pode ser vista com mais detalhe em Timoshenko, 1966. Para uso

em engenharia a solução em forma de gráfico é mais conveniente e,

visualmente, garante maior sensibilidade. Os gráficos mostrados nas figuras

10.1 e 10.2 fornecem a solução, em termos de tensões e deflexões, para os

dois casos mais utilizados em engenharia naval e oceânica.

Page 101: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

97

1.0

0.8

0.6

0.4

0.2

0.0

1.0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0

= 5 k p b / ( 384 D )ω4

a / b

k

Lados apoiados

= k p b / ( 384 D )ω4

Lados engastados

1

2

D = E t

12 ( 1 - )

3

k

k1

2

Figura 10.1 - Deflexão máxima em placas retangulares sob pressão uniforme

Page 102: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

98

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

K

PLACA RETANGULAR axbxt

PRESSÃO p

TENSÃO

TEORIA DAS PEQUENAS DEFLEXÕES COM COEFICIENTE DE POISSON = 0.3

σ = k p ( b / t ) 2

0 1.2 1.4 1.6 1.8 2.0 2.2 2.4

a / b

lados engastados

a

b

lados apoiados

μ

0.75

0.50

0.34

0.225

(a/b) oo

Figura 10.2 - Tensões em placas retangulares sob pressão uniforme13

13Para os engenheiros especializados em Estruturas, formados pelo Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da USP, este gráfico ficou conhecido como GIII-7, índice este dado pelo prof. Elcio de Sá Freitas em suas Notas para projeto, Tabelas e Índices de Cuvas, uma coletânea de trabalhos úteis ao projeto estrutural de navios.

Page 103: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

99

Exemplo

800

2500

x

y

#12.5

b b b

pressão

painel estrutural

unidade de chapeamento

rotação nula nos apoios

Calculemos qual a pressão que causaria o inicio do escoamento de uma

unidade de chapeamento de aço, E = 210.000 MPa, σe = 250 MPa e

coeficiente de Poisson ν=0.3, lados engastados, com dimensões

2500x800x12.5 mm. Utilizando o gráfico da figura 10.2, com razão de aspecto

2500/800 = 3.1, na direção do lado curto, no centro do lado longo, obtemos

kx=0.5. Neste ponto, como em todos os outros pertencentes a esta aresta, não

existe deformação na direção longa, ou seja εy = 0 e, consequentemente, σy =

νσx. Dentro da teoria de placas, a terceira tensão principal, σz é nula,

resultando, pelo critério devido a von Mises,

( ) ( ) ( )[ ]2222

21

yzzxyxe σσσσσσσ −+−+−= ,

escoamento quando:

σ σ σ σ σe x y x y= + −2 2

Page 104: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

100

Substituindo as definições de σx e σy

σ ν νe x ek p bt

= − +( )2 21

e a pressão procurada

p bt

ke

e

x

=− +

σ

ν ν( )2 21

Substituindo os valores numéricos, obteremos

pe = 0.1372 MPa = 14 mca (metros de coluna d'água)

4.11. Placa longa

Em termos teóricos uma placa longa é aquela em que a razão entre o

comprimento a e a largura b é "infinita". As relações a seguir são derivadas

mantendo esta hipótese. Estudando-se porém, placas com razão de aspecto

finito, verifica-se que, dependendo do tipo de carregamento e das condições de

apoio, a solução deduzida para placa longa é aplicável, com pequena

percentagem de erro, à placa com razão de aspecto superior a um determinado

valor limite. A tabela 2 apresenta alguns resultados.

Tabela T2 - Resultados comparativos entre TPD e Teoria de placas longas

Carga Condições de apoio a/b Erro em %

Pressão uniforme apoio simples 3 6.5

Pressão uniforme apoio simples 5 0.5

Pressão hidrostática apoio simples 4 1.5

TPD: Teoria das pequenas deflexões

Page 105: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

101

As equações para placas longas podem ser obtidas particularizando-se

aquelas anteriormente deduzidas, fazendo com que a razão de aspecto a/b

tenda a infinito.

Com a/b →∞ segue que:

ry → ∞ (11.1)

∂∂wy

→ 0 (11.2)

∂∂ ∂

2

0wx y

→ (11.3)

∂∂

2

2 0wy

→ (11.4)

Introduzindo essas relações em (5.7), (6.10), (7.6) e (8.3) obtemos:

m wx = −D d

dx

2

2 (11.5)

m my x= ν (11.6)

σ νσy x= (11.7)

γ xy = 0 ⇒τ xy = 0 (11.8)

d wdx

p t d wdx

p4

4

3 4

412= ∴ =

DE

1- 2ν (11.9)

Page 106: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

102

σxxm

tmax

max=6

2 ; (11.10)

σ νσy xmax max= (11.11)

As equações (11.5) e (11.10) mostram que as flechas e as tensões

longitudinais são as mesmas que se obteriam se considerássemos a placa

longa composta de vigas justapostas, de larguras unitárias, comprimento b e

módulo de elasticidade iguais a

E E'=−1 2ν

(11.12)

Nestas condições podemos utilizar as tabelas de resistência dos

materiais, substituindo-se E por E’, para determinarmos as solicitações nas

placas.

Para uma viga prismática de comprimento b, bi-engastada e com carregamento

uniformemente distribuido, q, o máximo momento fletor é dado por

M qmax /= l2 12 . Admitindo que a seção transversal seja um retângulo com

dimensões a x t, a máxima tensão flexão é

σmaxmax ( / ) / ( / )

/. ( / )= = =

M tI

qb tat

p b t2 12 212

0 52

32

M = q b / 12max

q

2

at

seção transversal

b

Figura 11.1 - Viga bi-engastada sob carregamento uniforme

Page 107: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

103

Observando o gráfico 10.2 vamos verificar que para uma placa com os

lados engastados e razão de aspecto superior a 2, a tensão, na direção curta é

exatamente igual a equação acima.

O deslocamento no meio do vão para a viga é δ = (qb4)/(384EI). Fazendo

as devidas substituições, calculamos para a placa longa:

w qb pbat

= =−

4

1 12

4

384 3842

3E Dν

Observando o gráfico da figura 10.1, verificamos que, para placas engastadas o

máximo deslocamento é dado por

w k pbmax = 2

4

384D

com k2 tendendo a 1 para a/b > 2.

4.12. Comportamento elasto-plástico14

Quando o material de uma placa possui elevada ductilidade, como em

aços navais, frequentemente ela pode suportar cargas muito mais elevadas do

que aquela que produz inicio de escoamento, antes de romper-se. É

conveniente, então, despender algum tempo em um breve estudo do

comportamento elasto-plástico das placas.

Nas discussões a seguir admite-se que o material apresenta um

diagrama idealizado de ensaio uniaxial, conforme esquematizado na figura

12.1.

14 Tópico dispensável em uma primeira abordagem

Page 108: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

104

σ

ε

eσescoamento

carregamento

descarregamento

Figura 12.1 - Diagrama idealizado de tensão-deformação

A seqüência de diagramas mostrado na figura 12.2 ilustra o desenvolvimento

das tensões normais em uma seção onde existe flexão simples, à medida em

que a carga aumenta.

+ + + + + +

- - - - - -

σ σ σσσ2σ1

( i ) ( i i ) ( i i i ) ( i v ) ( v ) ( v i )

+

-

σ

zonas escoadas

seção

xe xe

xe

xe xe

Figura 12.2 - Desenvolvimento das tensões normais de flexão pura com

carga crescente

O momento fletor do caso VI é o máximo que se pode desenvolver em

uma seção cujo material tem a curva idealizada mostrada na figura 12.1. Para

uma seção retangular, de largura unitária, ele vale

Page 109: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

105

m tp xe= σ

2

4 (12.1)

No caso VI toda a seção está plastificada. Qualquer carga adicional não

poderá ser resistida por flexão, já que o momento atingiu seu limite máximo.

Logo, daí para diante, a seção pode ser representada por uma articulação

submetida a um momento constante mp. A tensão de membrana ou tensão

média,

01=⋅= ∫

Am dA

Aσσ (12.2)

é nula.

Examinemos, agora, como se desenvolvem as tensões normais em uma

seção onde existe flexão composta.

Note-se que a tensão média, ou tensão de membrana, pode ser

composta pela adição de três termos:

• tensões devidas à aplicação direta de forças paralelas ao plano médio

(forças ativas);

• tensões devidas ao aparecimento das forças reativas dos vínculos,

impedindo os lados de se aproximarem;

• tensões devidas à deformação do plano médio pela própria flexão.

Consideremos o caso em que a força axial varia, juntamente com o

momento. A seqüência de diagramas na figura 12.3 ilustra o desenvolvimento

das tensões normais em uma seção onde existe flexão composta, à medida em

que a carga aumenta. O exemplo apresentado refere-se a um dado

carregamento e dada geometria. A seqüência de diagramas é, pois

esquemática, para estas condições, mas as conclusões são gerais.

Page 110: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

106

+ + + + ++

- - -

σ σ σσσ2σ1

( i ) ( i i ) ( i i i ) ( i v ) ( v ) ( v i )

xe xe xe xe

Figura 12.3 - Desenvolvimento das tensões normais de flexão composta com

carga crescente

Verifica-se agora que, ao se plastificarem todas as "fibras" da seção,

temos:

m mp<

(12.3)

σm ≠ 0

Observa-se que o momento fletor atinge um máximo e decresce,

enquanto a tensão de membrana cresce continuadamente até igualar-se à

tensão máxima no escoamento (caso VII). A partir daí a seção não terá

capacidade para resistir a cargas adicionais.

Vamos aplicar as idéias anteriores, examinando o que ocorre a uma

placa longa, com lados livres para se aproximarem, sob o efeito de crescente

pressão uniforme.

Page 111: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

107

p

m = p b C

2/24m = p b

A

2/12

b/2 b/2

A B

C

Figura 12.4 - Placa longa

Nos engastamentos temos:

σxa

t

t

m p bt

= =( ) ( )2

12

23 2

;

(12.4)

σ νσy x=

A terceira tensão principal é nula e portanto, utilizando o critério de von Mises,

o valor de σx para o qual ocorre inicio de escoamento nas "fibras" externas da

placa é

σ σν ν

xee=

− +1 2 (12.5)

Este resultado mostra que, devido a presença da tensão σy , o

escoamento não ocorre até depois que σx tenha excedido a tensão de

escoamento σe de aproximadamente 13% (foi admitido um coeficiente de

Poisson igual a 0.3).

A pressão que ocasiona o inicio do escoamente, pe , vale

Page 112: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

108

σ ν ν σν ν

ee

eep b

tp t

b= − + ∴ =

− +21 2

12 2

22( ) ( ) (12.6)

Aumentando-se a pressão além e pe, chegaremos à total plastificação nos

engastamentos, com

m m ta p

e= =− +

σν ν1 42

2

(12.7)

A estrutura equivalerá então a

C

b

pmpm

Figura 12.5 - Rótulas plásticas formadas nos engastes

Aumentando-se ainda mais a pressão haverá inicio de escoamento nas

"fibras" extremas do ponto C até que, a um dado valor da pressão p = pc ,

haverá plastificação total em C. Teremos neste instante:

C

pmpm

b/2

Figura 12.6 - Rótula plástica formada no centro

Page 113: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

109

m p b ma c p= ∴ =∑ 08

22

(12.8)

pm

b

t

btbc

p

e

e= = − + =− +

16 161 4 4

12

2

2

2 22

σν ν σ

ν ν( ) (12.9)

Portanto

p pc e= 2 (12.10)

A partir daí não mais pode haver equilíbrio diante de cargas adicionais.

Portanto pc é a pressão de colapso para a placa longa, de lados engastados

mas que podem se aproximar.

Examinemos, a seguir, o que ocorreria com a mesma placa longa caso

seus lados, também engastados, não pudessem se aproximar. Verifica-se,

então a seqüência mostrada na figura 12.7. As áreas escurecidas denotam a

ocorrência de plastificação, em tração ou compressão.

A BC

A B

A B

A B

A BA B

inicio do escoamentop1

p2

p

p3

p4

Figura 12.7 – Seqüência de formação de rótulas plásticas

Page 114: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

110

Observe-se que agora, quando ocorre plastificação total em A e em C,

embora os momentos agentes sejam nulos, existe a força de membrana nc

que, multiplicada por wm, produzirá um momento adicional capaz de equilibrar

uma pressão maior que pc, valor que levava ao colapso quando os lados

podiam se aproximar. Além disso, como vimos inicialmente, a força de

membrana pode crescer até o limite σxe t, anulando neste instante o momento

fletor. Nesta situação teremos:

A

C

b / 2

wm

cn

p

Figura 12.8

Fazendo o equilíbrio de momentos em relação ao ponto A, obtemos:

( )σxe mt w pb =2

8 (12.11)

de onde calculamos a pressão atuante p relacionada a deflexão no centro da

placa wm

p t wb

xe m=8

2( )σ

(12.12)

Substituindo (12.5) em (12.12) e utilizando a equação e dividindo o

resultado pela equação (12.9) obteremos:

pp

wtc

m= 2 (12.3)

Page 115: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

111

inicio do escoamento região escoada

inicio do escoamento

( i ) ( i i )

região escoada

( i i i ) ( i v )

Figura 12.9

Concluindo, se no projeto de uma placa caracterizarmos como falha15 o inicio

de escoamento no ponto de máxima solicitação, após a referida falha a placa

resistirá a adição de uma apreciável quantidade de carga antes de sofrer a

ruptura propriamente dita. É claro que os estágios mais avançados de

plastificação somente serão possíveis se houver a indispensável dose de

dutilidade do material. A figura 12.9 esquematiza o processo de escoamento de

uma placa até o estágio em que nesta só atuam tensões de membrana. A

pressão lateral que levou a placa atingir este estágio, dependendo da dutilidade

do material, é inúmeras vezes superior àquela que iniciou o escoamento no

ponto de máxima solicitação. No projeto de estruturas navais, a maioria das

unidades de chapeamento do casco é projetada prevendo-se o comportamento

elástico apenas. Somente em anteparas de subdivisão permite-se a

deformação plástica permanente, naturalmente com pressões inferiores àquela

15Falha é qualquer ocorrência indesejável na estrutura.

Page 116: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

112

que transformaria a placa em uma membrana plástica, estágio IV na figura

12.9.

Page 117: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

113

4.13. Equação das placas para pequenas deflexões, incluindo-se o efeito de cargas paralelas ao plano médio.

Mesmo que as deflexões sejam pequenas, poderemos obter resultados

insatisfatórios se desprezarmos, na flexão, o efeito de forças paralelas ao plano

médio e que tenham considerável magnitude. Em navios, dependendo da

geometria e da tensão primária16, a tensão máxima devido a flexão das

unidades de chapeamento poderá aumentar em cerca de seis por cento, se

incluirmos nesta flexão a ação da tensão primária.

Figura 13.1 - Flexão da viga navio gerando tensões uniformes paralelas 16Define-se tensão primária como sendo aquela decorrente da flexão do casco do navio como sendo uma viga , a chamada viga navio, conforme a figura 13.1 (a), em tosamento, e 13.1(b), alquebramento.

Page 118: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

114

ao plano médio da unidade de chapeamento

Modificaremos a formulação do item 7, Equação de equilíbrio,

desprezando o efeito de cargas paralelas ao plano médio, estabelecendo as

condições de equilíbrio nas direções de Ox e Oy, e incluindo, na direção Oz, o

efeito de nx , ny , nxy e nyx. Considerando a figura 13.2 e lembrando que

estamos utilizando a hipótese de pequenas deflexões (senθ ≅ tanθ ≅ θ ; cosθ ≅

1), podemos escrever:

F nx

nyx

x yx= → + =∑ 0 0∂∂

∂∂

(13.1)

Fnx

nyy

xy y= → + =∑ 0 0∂∂

∂∂

nxy x

y

n

yx

n

n

nx

y

x

z

t

Page 119: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

115

n + (d n /dx)dxx x

nx

dx

z

x

θθ + (d /dx)dxθ

= tan = dw/dxθ w θ ~

Figura 13.2 - Forças de membrana

Note-se que agora, quando não desprezamos nx , ny e nyx , podemos

escrever mais 3 equações de equilíbrio do tipo ΣFx = 0 e ΣFy = 0 (equações

13.1) e ΣMz = 0, completando as 6 equações de equilíbrio. A última equação Σ

Mz = 0 nos dá, porém, apenas nxy = nyx.

A projeção das forças nx na direção de Oz, veja a figura 13.2 vale,

{dydx

xw

xwdx

xnn

xwdyn

dxx

sen

xx

sen

x44 344 21)

(

2

2

)

() (

∂θ∂

θθ

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

+

+++− (13.2)

ou, após simplificação,

n wx

dxdy nx

wx

dxdyxx∂

∂∂∂

∂∂

2

2 + (13.3)

Page 120: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

116

Analogamente obtem-se, para a projeção de ny e nxy na direção de Oz

n wy

dxdyny

wy

dxdyyy∂

∂∂∂

∂∂

2

2 + (13.4)

n wx y

dxdynx

wy

dxdyxyxy∂

∂ ∂∂∂

∂∂

2

+ 13.5)

Obtém-se expressão análoga a (13.5) para a projeção de nyx na direção de

Oz. A projeção, sobre Oz, das forcas de cisalhamento é

22

n wx y

dxdynx

wy

dxdyny

wx

dxdyxyxy yx∂

∂ ∂∂∂

∂∂

∂∂

∂∂

+ + (13.6)

A equação de equilíbrio na direção de Oz (equação 7.1) será, então acrescida,

no primeiro membro, das projeções calculadas acima, com as simplificações

decorrentes da equação (13.1), resultando em

∂∂

∂∂ ∂

∂∂

∂∂

∂∂

∂∂ ∂

2

2

2 2

2

2

2

2

2

2

2 2mx

mx y

my

p n wx

n wy

n wx y

x xy yx y xy

− + = − + + +( ) (13.7)

Nos casos de pequenas deflexões, de que ora tratamos, é possível

desprezar a deformação do plano médio causada pela flexão e considerar nx ,

ny , nxy e nyx como decorrentes apenas de forças aplicadas no contorno da

unidade de chapeamento. Elas serão, portanto, funções conhecidas, em (13.7),

que também se pode escrever na forma:

∇ = + + +42

2

2

2

21 2w p n wx

n wy

n wx yx y xyD

( )∂∂

∂∂

∂∂ ∂

(13.8)

A Equação (13.8) é a equação para a teoria de pequenas deflexões que

inclui o efeito das forças aplicadas ao plano médio da placa.

Page 121: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

117

A resolução do problema consistirá em determinar a função w que

safistaz às condições de contorno e à equação (13.8) para um dado

carregamento p(x,y). Alguns casos estão resolvidos na referência [3]. O gráfico

da figura 13.3 apresenta o caso típico de engenharia naval, onde o

carregamento paralelo ao plano médio da unidade de chapeamento é

conhecido (advém das tensões de flexão da viga navio) e seu valor influencia o

valor das tensões de flexão da placa. Tal influência é apresentada sob a forma

de um fator de ampliação φ. Portanto na resolução de placas com cargas

laterais e paralelas ao plano médio, podem-se utilizar os mesmos gráficos

anteriormente descritos, figuras 10.1 e 10.2, e a eles aplicar-se o fator de

ampliação φ encontrado no gráfico13.3. No gráfico, o coeficiente k é definido

como:

• lados engastados: k ab

ba

= + +4 83

42

2

2

2

• lados apoiados: k ab

ba

= + +2

2

2

22

• lados B engastados, lados A apoiados: k ab

ba

= + +34

2 42

2

2

2

• lados B apoiados, A engastados: k ab

ba

= + +163

83

2

2

2

2

Page 122: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

118

A

AB B

a

by

0 1 2 3 4

a / b

k

10

20

30

40

50

60

70

80

A - engastadosB - apoiados

todos os ladosengastados

todos os lados apoiados

B - engastadosA - apoiados

i

ii

iii

iv

σm σm

w wf

x x f

y y f m

max

max

max

=

=

= +

φ

σ φσ

σ φσ σ

1

22 )/()D(1

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡−=

tbkm

πσ

φ

Figura 13.3 - Placa sob carga lateral e compressão nos contornos17

17f representa valores obtidos através da teoria das pequenas deflexões (Gráficos 10.1 e 10.2)

Page 123: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

119

4.14. Flambagem de placas

Em várias partes da estrutura de um navio encontramos unidades de

chapeamento sobre cujos lados atuam cargas paralelas ao plano da placa, de

compressão ou de cisalhamento, simultaneamente, ou não, com cargas

laterais. Assim é que no convés, por exemplo, uma unidade de chapeamento

pode sofrer a ação das tensões primárias de compressão, além de cargas

laterais, conforme já visto na figura 13.1. O mesmo se poderia dizer de uma

unidade de chapeamento do fundo do navio. Já no costado, a cerca de um

quarto do comprimento do navio e na altura do eixo neutro, uma unidade de

chapeamento apresenta tensões de cisalhamento atuantes sobre os seus

lados, e que correspondem, em geral, a um máximo das tensões de

cisalhamento da viga navio. Sabe-se que, para certos valores dessas cargas

atuantes no plano da placa, pode ocorrer uma brusca mudança de deflexão da

unidade, causando deformações permanentes ou não, e que possivelmente

não serão toleráveis pelos critérios de projeto. É possível, pois, ocorrer

instabilidade na unidade de chapeamento.

Se considerarmos, agora, um painel completo de chapeamento, formado

por placas e seus perfis longitudinais e transversais, entre duas anteparas

consecutivas, poderemos fazer considerações análogas notando, porém, que

as conseqüências da instabilidade, por afetarem parte bem maior da estrutura,

são mais graves. Caso fixemos a atenção em uma parte de um painel, apenas,

envolvendo algumas unidades de chapeamento e certos perfis, poderemos

repetir mais uma vez aquelas apreciações, o que também acontecerá se

considerarmos apenas perfis. Diante disto, ao examinarmos uma parte

qualquer da estrutura onde existem esforços de compressão ou cisalhamento

no plano do chapeamento, é razoável indagarmos:

• quais as possíveis formas de instabilidade, desde as mais locais às mais

globais?

• caso uma parte da estrutura flambe, como se redistribuirão os esforços

sobre as demais partes da estrutura? Haverá colapso?

Page 124: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

120

• como dimensionar cada membro para evitar qualquer tipo de

instabilidade?

4.15. Flambagem de placas no regime elástico

O conceito de instabilidade já fora introduzido quando do estudo de

flambagem de vigas e cuja revisão é aconselhável. O problema de flambagem

de placas pode ser formulado em termos da equação diferencial de equilíbrio,

desenvolvida no ítem 13, onde se inclui o efeito das forças de membrana na

flexão. O procedimento consiste em, partindo da equação diferencial de

equilíbrio, pesquisar o menor valor da carga que pode levar à situação

caracterizada pela instabilidade. Já vimos que a derivação da equação

diferencial de equilíbrio envolve simplificações que dependem do refinamento

da formulação. Como partiremos agora da equação de equilíbrio, é claro que

essas mesmas hipóteses estarão envolvidas na formulação de instabilidade.

Page 125: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

121

a

b

σy

x

y

os contornos atuam com rigidez a rotação aproximadamente nula - apoio simples

painel estrutural

unidade de chapeamento

reforçadores

antes de flambar

após flambar

Figura 14.1 - Flambagem das unidades de chapeamento de um painel

Ilustraremos o processo delineando a formulação e resolução do

problema de instabilidade de uma placa fina, plana, retangular, comprimida

uniformemente em uma direção e simplesmente apoiada nos quatro lados.

Conforme já mencionado anteriormente, o chapeamento da estrutura de um

navio é dividido em pequenas unidades de chapeamento por meio de

reforçadores longitudinais e transversais. Estes reforçadores garantem uma

elevada rigidez aos deslocamentos transversais da placa, porém o mesmo não

se pode dizer quanto à rigidez à rotação. Considerando a seção longitudinal de

um convés cavernado transversalmente, conforme o mostrado na figura

Page 126: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

122

14.1(a), quando ocorrer flambagem o chapeamento tomara a configuração

mostrada na figura 14.1(b), com os vaus rodando conforme lá indicado. A

rotação dos vaus faz com que estes imponham, nos contornos da unidade de

chapeamento, um momento fletor que é função das propriedades de torção

dos perfis. Porém sabe-se que a rigidez a torção de perfis abertos é muito

pequena, fazendo com que os momentos nos contornos da placa assumam

valores desprezíveis, garantindo o simples apoio como condição de contorno

para a unidade de chapeamento.

Não sabemos, de antemão, qual a configuração da placa ao flambar.

Entretanto uma série de Fourier em x e em y será suficientemente genérica

para representá-la. Portanto adotaremos como solução:

w W m xb

n yamn

nm

==

=

∑∑11

sin sinπ π (14.1)

Vê-se que (14.1) satisfaz às condições de contorno para quaisquer

valores de Wmn, pois resulta:

w e wx

para x e x b

w e wy

para y e y a

=

=

0 0 0

0 0 0

2

2

2

2

= , = =

= , = =

∂∂∂∂

(14.2)

Adotaremos a equação de equilíbrio para o caso de pequenas deflexões

e de cargas atuando paralelamente ao plano médio. Ela é a equação (13.8),

desenvolvida anteriormente:

∇ = + + +42

2

2

2

21 2w p n wx

n wy

n wx yx y xyD

( )∂∂

∂∂

∂∂ ∂

(13.8)

No presente caso temos: nx = nxy = p = 0. Substituindo em (13.8)

obtemos:

Page 127: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

123

D

∇ − =42

2 0w n wyy

∂∂

(14.3)

Substituindo (14.1) em (14.3) obtemos:

0sinsinD1 1

2

222

2

2

2

24 =

⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

⎡+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+∑∑

=

= ayn

bxmW

ann

an

bm

mnm n

yππππ (14.4)

A equação (14.4) é satisfeita quando Wmn = 0, caso em que a placa

continua plana. Logo Wmn = 0 não caracteriza instabilidade. As demais

soluções para (14.4) ocorrem quando se tem

0D 2

222

2

2

2

24 =+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+

ann

an

bm

yππ (14.5)

que nos dá

22

2

2D-= ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

nbam

anb

bn y

π (14.6)

Como m e n somente assumem valores inteiros, a equação (14.6)

mostra que somente se obtem formas de equilíbrio não planas quando ny

assume certos valores discretos. Logo (14.6) corresponde às cargas de

instabilidade. A menor delas corresponde a m=1 e um um valor de n que será

função da razão de aspecto a/b.

Page 128: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

124

Figura 14.2 - Forma flambada de uma placa com razão de aspecto=3

Seja

knba

anb

=⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +

2

minimo

(14.7)

Então

n kby = - Dπ2

2 (14.8)

O sinal negativo em (14.8) denota que a força ny deve ser de

compressão. Já que a flambagem somente ocorre na presença de tensões de

compressão, vamos, por convenção, adotar, em se tratando de flambagem, as

tensões de compressão como positivas e negativas as de tração. Designemos

por nycr e σcr os módulos da carga e da tensão crítica de compressão. Logo

σ πcrit k

b t= D 2

2 (14.9)

O gráfico de k em função da razão de aspecto a/b tem a forma

Page 129: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

125

Figura 14.3 - Coeficiente k na flambagem de placas

Na ilustração precedente consideramos a placa com todos os lados

simplesmente apoiados. Para outras condições de contorno, agiríamos de

forma semelhante, adotando porém expressão trigonométrica, em (13.8), capaz

de satisfazer automaticamente à condição de contorno considerada.

Chegaríamos sempre à mesma equação (14.9), onde k teria, para cada caso,

uma expressão diferente de (14.7), mas que também dependeria de m, n, a e

b. Da figura 14.4 extraída da Freitas, 1976, tém-se o valor de k para diferentes

condições de contorno.

Page 130: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

126

AAB B

a

b

y

1

2

σ σ

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

k

0 1.0 2.0 3.0a / b

σ = π D2

b t2cr

lados engastadosB - apoiados

A - engastados

B - engastadosA - apoiados

lados apoiados

B - apoiadosA - engastadoA - livre

12

A B - apoiadosA - livre2

1

B - apoiadosA - livres

0.43

1.28

6.98

4.00

k

Figura 14.4 - Tensão crítica de flambagem de placas

Examinaremos, a seguir, como a fórmula (14.9) se transforma quando

a/b tende a zero. Este é, aproximadamente o, o caso de unidades de

Page 131: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

127

chapeamento em cavernamento transversal, conforme se mostra na figura

14.5.

Poderemos escrever, a partir de (14.9), para lados simplesmente

apoiados,

2

2

2D= ⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +

nba

anb

tbcrπσ (14.10)

ba

( a \ b ) < 1

Figura 14.5 - Quando a/b fica menor do que a unidade18

Vemos, porém, qua para a/b→0, o valor de n a ser usado na expressão

acima é 1. Assim:

2

2

2

2

22

2

2

1DD= ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛ +

ba

taba

ab

tbcrππσ (14.11)

Fazendo a/b = 0 temos:

σ πcr a t

= D 2

2 (14.12)

18Note que o lado paralelo ao eixo x é o lado que sofre a compressão.

Page 132: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

128

Esta mesma relação poderia ser obtida adotando-se o conceito de placa

longa. Nestas condições, a placa se comporta como uma viga fletindo em sua

direção curta e, em termos de cálculo, utilizamos as equações de vigas

substituindo-se o módulo de elasticidade E do material por E' definido na

equação 11.12. A carga de flambagem de Euler de uma viga bi-apoiada e de

comprimento L é:

P EILcrit =

π2

2

L

P

seçãotransversalcom inércia I

Substituindo-se E por E' e dividindo-se ambos os lados da equação pela área

da seção transversal da viga (placa = bt) obtém-se:

σπ

ν πcrit

critPA

E bt

bta a t= = − =

22

3

2

2

21 12

( )( ) D

que é igual a expressão (14.12). A abordagem por placa longa é conveniente

quando as condições de contorno da placa são outras que não lados

engastados ou apoiados.

Agora é possível examinar os méritos relativos de um painel enrijecido

na direção longitudinal ou na direção transversal ao lado comprimido.

Page 133: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

129

Observando as equações (14.9), (14.12) e a figura 14.6, conclui-se que

reforçado longitudinalmente

reforçado transversalmente

s

s

Figura 14.6 - Cavernamento longitudinal x cavernamento transversal

( )( )σσ

cr longitudinal

cr transversal

k= (14.13)

onde k é o coeficiente que se aplica ao caso do cavernamento longitudinal.

Como k é sempre maior que 4, evidencia-se a superioridade do cavernamento

longitudinal quanto à flambagem.

4.16. Efeito de uma curvatura

No bojo de um navio, em lugar de placa plana temos uma casca

aproximadamente cilíndrica. A própria geometria indeformada de um convés

não é a de um plano 19, mas a de uma superfície de pequena curvatura.

Considerações semelhantes aplicam-se a outras partes de navios que não

possuem corpo paralelo médio, ou que o tem muito curto. Convém então obter

a expressão para a tensão crítica nesses casos.

19para facilitar o escoamento de liquidos existe um tosamento, isto é, a elevação do convés na linha de centro é ligeiramente superior a elevação junto aos costados.

Page 134: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

130

L

β

r

σ

σ

β

Figura 14.7

Considere-se a figura 14.7. Se admitirmos condições de apoio simples

ao longo de todo o perímetro da unidade de casca ali representada, obtém-se

as seguintes expressões para tensões críticas, tal como se demonstra na

referência.

σν

crEt

r=

−3 1 2( ) (14.14)

σ πν βcr

Etr

=−

2 2

2 23 1( )( ) (14.15)

A expressão (14.15) aplica-se apenas quando o raio de curvatura r é

muito grande. Comparando-se (14.15) com (14.9), percebe-se que a unidade

de chapeamento com grande raio de curvatura pode ser tratada como se fosse

uma placa plana e longa, desde que se tome, como lado b, o comprimento

desenvolvido de seu lado em compressão.

Pode-se concluir, também, que em geral aumenta-se a resistência à

flambagem de uma unidade plana quando a ela se imprimem pequenos raios

de curvatura, como se verá a seguir. Considere-se uma placa longa,

simplesmente apoiada. Obtém-se

Page 135: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

131

σ πνcrt

b=

2 2

2 23 1E

( ) (14.15)

Após transformá-la em uma superfície cilíndrica, de raio r e ângulo β,sua

tensão crítica para a ser:

σν

crt

r⊗ =

E3 1 2( )

(14.16)

Adotando-se ν = 0.3 (aço), vem

σσ

νπ

cr

cr

r bt

br

bt

br

=−

=3 1 0 526

2

2( ) . (14.17)

No bojo, por exemplo, poderemos adotar como valores típicos b/r = π/4 e

b/t=60, resultando

σσ

cr

cr

≅ 25 (14.18)

ou seja, a curvatura aumentou a resistência à flambagem em,

aproximadamente, 25 vezes.

4.17. Flambagem por cisalhamento

Geralmente, o chapeamento do casco das embarcações estão sujeitos a

tensões de cisalhamento com amplitudes consideráveis. Estas tensões podem

causar flambagem, pois o cisalhamento faz surgir tensões normais de

compressão. Para o caso do cisalhamento puro, a tensão de compressão tem

magnitude igual a tensão de cisalhamento e atua a 45º do eixo onde atuam as

tensões de cisalhamento.

Page 136: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

132

τ

τ

σ = τ

Figura 14.8 - Flambagem por cisalhamento

As equações que governam a flambagem por cisalhamento são as

mesmas já deduzidas. Equação (13.8),

∇ = + + +42

2

2

2

21 2w p n wx

n wy

n wx yx y xyD

( )∂∂

∂∂

∂∂ ∂

(13.8)

com nx = ny = p = 0. Substituindo em (13.8) obtemos:

D

∇ − =42

2 0w n wx yxy

∂∂ ∂

(14.19)

A solução da equação (14.19) para diversas condições de contorno

podem ser encontradas na referência [6]. A metodologia difere um pouco da

adotada na solução do problema de compressão uniforme, pois as funções

Page 137: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

133

seno e cosseno não satisfazem a equação diferencial e, portanto, uma solução

analítica exata, em termos trigonométricos, é impossível. Uma solução

aproximada, baseada em princípios de energia e utilizando as deflexões como

w x y q sin xa

sin xb

q sin xa

sin xb

( , ) = +1 22 2π π π π

(14.20)

é mostrada a seguir. Como seria de se esperar da estreita relação entre

cisalhamento e compressão, a expressão resultante para a carga crítica de

cisalhamento τcr se assemelha com a expressão (14.9). De fato a única

mudança ocorre no coeficiente destas equações. No caso da flambagem por

cisalhamento o coeficiente é dado por

k b a para lados simplesmente apoiadosk b a para lados engastados

cis

cis

= +

= +

5 35 4 08 98 5 6

2

2

. . ( / )

. . ( / )

(14.21)

e a tensão crítica,

τ πcrit cisk

b t=

2

2D

(14.22)

4.18. Momento fletor no plano da placa

Figura 14.10 - Flambagem por flexão no plano

A figura 14.10 mostra que uma placa sofrendo flexão em seu próprio plano terá

regiões onde predominam tensões de compressão. Chamando de σb o maior

valor desta tensão de compressão, o valor crítico para a flambagem é, da

mesma forma que na compressão simples, dado por

Page 138: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

134

( )σ πb crit bk

b t=

2

2D

(14.23)

onde o coeficiente kb vale:

• lados simplesmente apoiados

para a b k b a a bpara a b k

b

b

: :

/ . . ( / ) . ( / )/ .

≤ = + +

> =

23

2 2

23

15 87 1 87 8 623 9

(14.24)

• lados engastados

para a b kb : / .> =1 41 8 (14.25)

• um dos lados sem a carga engastado e os outros simplesmente

apoiados

para a b kb : / > =12 25 (14.26)

• lados sem a carga engastados e os outros simplesmente apoiados

para a b kb : / .> =0 4 40 14.27)

4.19. Carregamentos combinados

Em muitas situações a placa pode estar sujeita a ação de carregamentos

combinados. Por exemplo, em uma unidade de chapeamento podem estar

presentes a ação de tensões primárias normais (de flexão) e de cisalhamento,

conforme o mostrado na figura 13.2. Torna-se necessário estimar que

combinação destes carregamentos levaria esta unidade de chapeamento a

flambar. Uma das melhores maneiras de tratar esse problema é através do uso

de fórmulas empíricas que relacionam as razões de cada um destes

carregamentos em relação ao seus valores críticos. Se apenas um dos

Page 139: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

135

carregamentos está presente, o valor unitário corresponderia a flambagem. No

caso de mais de um carregamento simultâneo, as relações devem ser menores

que a unidade, e a fórmula de interação combina as várias relações de forma

que a flambagem corresponde a soma dos termos resultando igual a unidade.

Uma das vantagens deste tipo de fórmula é que elas podem ser obtidas

tanto de resultados analíticos como de resultados experimentais.

• Compressão uniaxial e flexão no plano

a

σ σbb

σ σ

b

Flambagem ocorre quando σ e σb satisfazem a relação

1)(

2

=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

critb

b

crit σσ

σσ

(14.28)

onde são σcrit e (σb)crit valores críticos para estes dois tipos de carregamento

agindo separadamente, obtidos pelo uso das equações (14.9) e (14.28).

• Compressão uniaxial e cisalhamento

a

σ στ

τb

Por conveniência vamos adotar o símbolo R para denotar a razão entre a

tensão atuante e a tensão crítica de flambagem, relação de resistência. Nestas

condições, as relações de resistência são:

Rcrit

σ

Page 140: 67792623 4 Analise Estrutural de Navios

136

onde σcrit é a tensão crítica de flambagem com a tensão de compressão

uniforme σ atuando isoladamente na placa.

Rciscrit

τ

onde τcrit é a tensão crítica de flambagem com a tensão de cisalhamento τ

atuando isoladamente na placa.

e a flambagem sob ação combinada ocorre se:

)1/( 1 6.1

)/(6.01)1/( 1

2

2

<=+⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ +

≥=+

baRRbabaRR

cis

cis

(14.29)

Estas fórmulas podem ser usadas para tensões σ negativas, isto é de

tração, como também de compressão.

• Cisalhamento e flexão no plano

a

σ σbb

τ τb

Para este caso, definindo a razão de resistência para as tensões de

flexão como sendo

Rbb

b crit

σ( )

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137

onde (σb)crit é calculado pela equção (14.23), a relação de interação dos

carregamentos combinados é

R R a bb cis2 2 1

21+ = > ( / ) (14.30)

• Compressão uniaxial, flexão e cisalhamento

a

σ σbb

σ σ

τ τb

A flambagem ocorre se

R R R a bb cis+ + = >2 2 121 ( / ) (14.31)

4.20. Comportamento de placas após a flambagem

Vamos verificar o que acontece com a placa quando o carregamento é

superior àquele que a levou a instabilidade. Supõe-se que neste caso a carga é

aplicada muito lentamente de forma que, ao atingir-se a carga crítica, não se

ultrapasse este valor até que deliberadamente voltemos a aumentá-la.

Vimos nos ítems precedentes, que a forma flambada de uma placa

retangular corresponde a meia onda senoidal na direção perpendicular à das

cargas que levam a flambagem. Isto permite que o plano médio, uma vez

flambado, se distenda. A distensão é maior nas regiões de maior deflexão. A

carga de compressão que tais regiões suportavam é portanto aliviada,

transferindo-se para as regiões de menor deflexão. Ocorre, em resumo, uma

redistribuição de tensões, ilustrada na figura 14.11. A distensão do plano

médio, a que aludimos, pode ser desprezada até a flambagem, o que nos

permite obter a carga crítica usando a hipótese da indeformabilidade do plano

médio tal como fizemos.

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138

Figura 14.11 - Comportamento da placa após a flambagem

Após a flambagem, se continuarmos aumentar a compressão, mais e

mais, a redistribuição de tensões tornar-se-á cada vez mais significativa,

sobrecarregando-se as regiões de pequenas flechas. Aumentando-se

continuamente a carga, a tensão máxima de compressão atingirá o valor de

escoamento e, daí em diante, a capacidade de a placa suportar cargas

adicionais estará praticamente esgotada.

Percebe-se que, nas redistribuições de tensões acima, as condições de

apoio da placa ao longo de seus lados longos, e rigidez dos perfis em que ela aí

se apoia, são fatôres importantes na determinação da carga de colapso do

painel como um todo. Flambada a unidade de chapeamento, os perfis,

sobrecarregados, atuarão como uma segunda linha de resistência. Isto, porém,

somente será possível se eles mesmos estiverem distantes de falhas por

flambagem ou por escoamento, no momento em que o chapeamento flambar.20

20Portando o coeficiente de segurança para os perfis deve ser,preferencialmente, superior ao que se adotar para as unidades de chapeamento.

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139

PROBLEMAS

Em painéis estruturais, onde o chapeamento é geralmente reforçado por um ou

mais conjuntos de reforçadores ortogonais, o projeto estrutural requer que um

conjunto de reforçadores possua espaçamento menor que o outro. Portanto, as

unidades de chapeamento terão uma dimensão maior do que a outra, de sorte

que a placa pode ser considerada como longa. Tais placas, quando

deformadas, apresentam uma forma cilíndrica, exceto nas regiões próximas

aos lados curtos. Por isso elas podem ser calculadas como unidimensionais, ou

seja pela teoria simples de viga.

1. Prove que tratando uma faixa, na direção curta, de uma chapa longa

como uma viga, na fórmula,

2)(tbpk=σ

obtém-se

para placas simplesmente apoiadas, k=3/4;

para placas engastadas k=1/2;

2. Qual será a máxima pressão uniforme que pode ser aplicada a uma

chapa longa, engastada, de aço comum, com largura de b=600 mm e

espessura t=10 mm para que não ocorra escoamento? A tensão de

escoamento do material é de 240 N/mm2. Encontre a correspondente

deflexão máxima na placa como uma fração de sua espessura,

admitindo ν=0.3 e E=208000 N/mm2.

1) Uma placa de aço com espessura 12.5 mm, medindo 2.5x0.8 m, está sujeita

a uma pressão lateral de 12 m.c.a. Determinar as tensões máximas supondo

engastamento nos quatro lados. Se a placa fosse de alumínio, qual deveria ser

sua espessura para manter a relação w/t < 0.5?

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140

2) Para uma placa com razão de aspecto a x b, submetida a uma carga lateral

definida pela expressão:

p p xa

yb

= 0 sin sinπ π

e com condições de contorno simplesmente apoiada nos quatro lados,

determinar os valores de:

• deflexão máxima;

• momentos fletores máximos;

• tensões máximas;

• pressão que causa o inicio do escoamento no ponto de

máxima solicitação.

3) Qual deve ser a espessura t, para uma placa longa com largura de 700 mm,

lados simplesmente apoiados, sob pressão lateral de 9.5 mca. Adotar, como

material, aço de média resistência com tensão de escoamento de 220 MPa.

4) Deduzir a expressão 3.1.

5) Deduzir a expressão 5.1.

6) Deduzir as expressões 8.1. Verifique que existe uma analogia com a teoria

de vigas, onde σ=(M/I)c, se tomarmos a seção transversal da placa com

espessura t, largura unitária e c=t/2. [dica: o momento fletor é resultante do

momento das forças geradas pelas tensões. Adote uma distribuição de tensões

linear, com tensão máxima igual ao valor que se está procurando, e calcule o

momento gerado por estas tensões.

7) Deduzir as expressões 9.2 e 9.4.

8) O convés de uma embarcação possui cavernamento transversal com

espaçamento de 750 mm e sicordas espaçadas de 2200 mm. Considerando

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141

uma carga uniforme sobre todo o convés com intensidade de 2,0 t/m2 e uma

tensão primária de alquebramento de 950 kgf/cm2, determinar a espessura

mínima do chapeamento admitindo uma tensão terciária máxima de 1600

kgf/cm2.

9) Um petroleiro possui cavernamento longitudinal com espaçamento de 850

mm e anéis gigantes a cada 5020 mm. Para um aço de alta resistência, com

tensão de escoamento de 3600 kgf/cm2 e uma tensão primária de tosamento

de 1400 kgf/cm2 determine a mínima espessura do fundo do navio no qual atua

uma carga lateral de 20 mca.

10) Demonstre que os valores de m e n que minimizam a equação (14.7),

knb

amanb

=⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

2

minimo

2

, correspondem a m=1 e n = a/b e que o valor mínimo é 4.

11) Determinar a carga de crítica de flambagem para os problemas 6 e 7.

Considere flambagem por compressão, flambagem por cisalhamento e

flambagem por flexão.

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142

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