67397.PDF Ética e Estudo de Caso

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  ATUAÇÃO ÉTICA DO ENFERMEIRO: UM ESTUDO DE CASO FICTÍCIO. LICHESKI, Ana Paula 1  MASSAROLI, Aline¹ SILVA, Débora Regina 2  SIQUEIRA, Karyn Albrecht¹ RESUMO Introdução:  Trata-se de um estudo de caso em saúde, utilizado como estratégia interdisciplinar no Curso de Graduação em Enfermagem, que consiste num estudo que abrange todas as disciplinas para que seja resolvido o caso do personagem. O estudo conta a história de vida de Filomena, uma senhora de 45 anos de idade, portadora de hipertensão e diabetes, casada, com uma filha adolescente que tem um filho e está grávida de outro e ainda conta com a companhia de seu pai, enfermo, que veio morar em sua casa para receber os devidos cuidados. Há vários anos Filomena recorre a Unidade Básica de Saúde de seu bairro com queixas de cefaléias incessáveis, no entanto após tanto tempo buscando a resolubilidade de seu problema ainda não à alcançou e nada consta nos registros de seu prontuário. Além disso, os profissionais da Unidade Básica de Saúde, a julgam como uma paciente chata que não pára de importuná-los com queixas sem fundamentos. Na unidade que atende o bairro de Filomena, a pré-consulta dos pacientes é feita pela auxiliar de enfermagem, que apenas verifica a pressão e pesa. A enfermeira não realiza consultas de enfermagem e em nenhum momento são prestadas informações sobre medidas de promoção de sua saúde, bem como o acolhimento. Objetivo:  Analisar os aspectos éticos do trabalho do enfermeiro em um estudo de caso fictício. Metodologia: Trata-se de um estudo de caso fictício proposto como Atividade Interdisciplinar do Curso de Graduação em Enfermagem, com o intuito de abordar as questões éticas do trabalho do enfermeiro. Resultados: Segundo o código de ética dos profissionais de enfermagem, esta profissão é composta por conhecimentos científicos e técnicos, que são construídos e propagados por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se reproduzem por meio de ações 1  Discentes do 7º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI/SC 2  Relatora: Discente do 7º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI/SC. Rua 961, nº 77 – Centro – Balneário Camboriú/SC. CEP: 88330-000. [email protected]

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  • ATUAO TICA DO ENFERMEIRO: UM ESTUDO DE CASO FICTCIO.

    LICHESKI, Ana Paula1 MASSAROLI, Aline

    SILVA, Dbora Regina2 SIQUEIRA, Karyn Albrecht

    RESUMO Introduo: Trata-se de um estudo de caso em sade, utilizado como estratgia

    interdisciplinar no Curso de Graduao em Enfermagem, que consiste num estudo

    que abrange todas as disciplinas para que seja resolvido o caso do personagem. O

    estudo conta a histria de vida de Filomena, uma senhora de 45 anos de idade,

    portadora de hipertenso e diabetes, casada, com uma filha adolescente que tem

    um filho e est grvida de outro e ainda conta com a companhia de seu pai,

    enfermo, que veio morar em sua casa para receber os devidos cuidados. H vrios

    anos Filomena recorre a Unidade Bsica de Sade de seu bairro com queixas de

    cefalias incessveis, no entanto aps tanto tempo buscando a resolubilidade de

    seu problema ainda no alcanou e nada consta nos registros de seu pronturio.

    Alm disso, os profissionais da Unidade Bsica de Sade, a julgam como uma

    paciente chata que no pra de importun-los com queixas sem fundamentos. Na

    unidade que atende o bairro de Filomena, a pr-consulta dos pacientes feita pela

    auxiliar de enfermagem, que apenas verifica a presso e pesa. A enfermeira no

    realiza consultas de enfermagem e em nenhum momento so prestadas

    informaes sobre medidas de promoo de sua sade, bem como o acolhimento.

    Objetivo: Analisar os aspectos ticos do trabalho do enfermeiro em um estudo de

    caso fictcio. Metodologia: Trata-se de um estudo de caso fictcio proposto como

    Atividade Interdisciplinar do Curso de Graduao em Enfermagem, com o intuito de

    abordar as questes ticas do trabalho do enfermeiro. Resultados: Segundo o

    cdigo de tica dos profissionais de enfermagem, esta profisso composta por

    conhecimentos cientficos e tcnicos, que so construdos e propagados por um

    conjunto de prticas sociais, ticas e polticas que se reproduzem por meio de aes

    1 Discentes do 7 perodo do Curso de Graduao em Enfermagem da Universidade do Vale do Itaja

    UNIVALI/SC 2 Relatora: Discente do 7 perodo do Curso de Graduao em Enfermagem da Universidade do Vale do Itaja

    UNIVALI/SC. Rua 961, n 77 Centro Balnerio Cambori/SC. CEP: 88330-000. [email protected]

  • de ensino, pesquisa e assistncia. Estas aes tm por finalidade, prestar servios

    ao ser humano, no seu contexto e circunstncia de vida. No estudo de caso

    apresentado, verifica-se que a enfermeira da unidade de sade em questo,

    descumpre alguns dos artigos impostos no cdigo de tica que regulamenta a

    profisso. Dentre as aes realizadas, ou no, por esta profissional encontramos

    que ela infringiu o Art. 1, que dispem que a enfermagem comprometida com a

    sade das pessoas e coletividade, atuando na promoo, preveno, proteo,

    recuperao e reabilitao das pessoas, respeitando os preceitos ticos e legais.

    Relevando que a resoluo 271/2002 do COFEN, Art. 5 e 6, o Enfermeiro pode

    receber o paciente para efetuar a consulta de enfermagem, com o intuito de

    conhecer o paciente e intervir nas situaes problemas ou doenas do cliente, nesta

    consulta o profissional pode diagnosticar e solucionar os problemas detectados, por

    meio das aes de enfermagem, integrando-as s aes multi-profissionais.

    Observa-se em um dos pontos do estudo, que a enfermeira infringiu a Lei da

    Enfermagem e tambm seu cdigo de tica, Art. 4 e 6, pois estes colocam que o

    profissional enfermeiro exerce suas atividades com responsabilidade e respeitando

    os preceitos legais da enfermagem, no momento em que delegou uma funo que

    era de sua atribuio a um profissional de nvel mdio, sem competncia para

    realiz-la. Era um momento em que a enfermeira deveria estar conversando com os

    pacientes e conhecendo-os melhor, porm isso no aconteceu, impedindo que ela

    compreendesse as reais necessidades da populao. Isso dificulta a organizao de

    um trabalho estratgico que enfatize os pontos problemticos da comunidade,

    intervindo nestes fatores melhorando a qualidade de vida da populao. Como est

    contido no Art. 5 o Profissional de Enfermagem presta assistncia sade visando

    promoo do ser como um todo, neste episdio somente ocorre um incio do

    processo de recuperao da sade de Filomena. No momento em que relatada a

    forma como a paciente recebida para a pr-consulta e como realizada a consulta

    pelo mdico, percebe-se que em nenhum momento ocorre o acolhimento da

    paciente nesta unidade, ferindo todos os preceitos norteadores do Programa de

    Humanizao do Ministrio da Sade, onde se preconiza que as pessoas devem ser

    recebidas com educao, gentileza, simpatia, ateno, compreenso e inmeros

    outros fatores que fazem com que o paciente possa falar o que est sentindo,

    esclarecer suas dvidas e preocupaes e ter resolutividade do seu problema. A

    enfermeira como no conhece sua cliente, nem sua queixa e suas idas e vindas ao

  • servio em busca de uma resoluo para o seu problema, no pode estabelecer um

    diagnstico para a mesma, nem a encaminha para um servio adequado, ferindo

    assim o Art. 1 do cdigo de tica que estabelece que o enfermeiro deve atuar nas

    aes de recuperao, reabilitao e promoo da sade. A paciente portadora de

    Diabetes melito e hipertenso, com 45 anos de idade, no perodo de climatrio, no

    participa de nenhum programa de controle e acompanhamento das doenas

    crnicas e tampouco do programa de ateno a sade da mulher, ou ainda o

    programa de planejamento familiar pelo fato de que a cliente faz parte da populao

    em idade reprodutiva. Alm da falta de acolhimento e resolutividade do problema da

    paciente, a mesma ainda motivo de chacota e piadinhas entre os funcionrios da

    unidade, que no demonstram o mnimo respeito e tica, caracterizando uma ao

    de maus tratos com o cliente. Estes funcionrios so de responsabilidade da

    enfermeira, coordenadora do posto, que est desatenta aos acontecimentos dentro

    de sua unidade de sade, e acaba sendo cmplice de seus funcionrios ferindo o

    Art. 52 do Cdigo de tica, que coloca que os enfermeiros no podem provocar,

    cooperar ou ser conveniente com maus tratos. A falta de anotao no pronturio

    outro grave problema encontrado neste posto, pois a paciente j fez vrias

    consultas, onde lhe solicitaram exames, dos quais a paciente trouxe os resultados

    de volta para a unidade e nada foi anotado no pronturio dela. Este fato abre

    caminho para novas reflexes, pois o pronturio do paciente um documento onde

    devem estar contidas todas as informaes sobre os cuidados prestados ao paciente

    pelo servio de sade. Como a enfermeira a coordenadora desta unidade, ela

    quem deveria conferir se ocorre as anotaes nos pronturios, e tomar as devidas

    providncias para que todos os pacientes tivessem seus pronturios preenchidos

    corretamente, pois como exposto acima, o pronturio um documento. Outro

    problema, que a enfermeira no tem o menor nimo ou comprometimento neste

    posto, devido a alta demanda de pacientes na unidade, as precrias condies de

    vida da populao e do Sistema de Sade, que impossibilita que ela participe

    ativamente da comunidade, ajudando as pessoas que residem neste bairro a

    reivindicarem junto a prefeitura por melhores condies de saneamento bsico, gua

    tratada e condies para que estas pessoas possam ter uma qualidade de vida.

    Como coloca o Art. 2 do Cdigo de tica, o enfermeiro participar como integrante

    da sociedade, das aes que visem satisfazer s necessidades de sade da

    populao. A falta de motivao da enfermeira em relao a implantao do SUS

  • outro fator que precariza ainda mais a situao desta populao, pois a partir do

    momento que ela no acredita no sistema e no busca implantar os programas

    oferecidos pelo sistema, a prpria enfermeira dificulta ainda mais a vida dessas

    pessoas, pois impossibilita que elas participem dos programas e recebam um

    acompanhamento mais efetivo dos profissionais de sade. No momento em que a

    enfermeira assume que suas aes dependem do parecer do mdico, ela admite

    que trabalha no modelo mdico-centrado, onde os servios so guiados a partir da

    figura do mdico, e como dispe o Art. 6 do cdigo de tica, o Profissional de

    Enfermagem exerce a profisso com autonomia..., o que no se concretiza nesta

    unidade pelo fato da enfermeira fazer o que o mdico manda, sem ter iniciativas

    prprias, concordando com as atitudes e erros do mdico. Descumprindo as normas

    do Sistema nico de Sade, que no trabalha com o modelo mdico-centrado, mas

    sim com o trabalho multi e inter disciplinar. Desta forma, percebe-se que esta

    enfermeira infringiu todos os artigos do cdigo de tica de dispem sobre respeitar

    os preceitos legais da enfermagem (Art. 1 e 6), responsabilidade e competncia

    (Art. 3 e 4), garantia de continuidade da assistncia, assistncia com qualidade e

    aes que satisfao s necessidades de sade (Art. 2, 5, 16 e 25), proteo do

    cliente contra danos decorrentes de impercia, negligncia ou imprudncia por

    qualquer profissional de sua equipe (Art. 33). Consideraes Finais: O caso de

    Filomena retrata a realidade de milhes de famlias de nosso pas. A falta de

    educao e informaes das pessoas leva-os a serem joguetes do sistema e a se

    conformarem com isso, uma vez que estas pessoas no tm sequer noo dos seus

    diretos e de tudo que teoricamente, o governo lhes assegura por decretos e leis. O

    conformismo e a falta de entusiasmos dos trabalhadores tambm fator clssico de

    nossa realidade, tornando a melhoria das condies de atendimento que tem como

    resultado a melhoria das condies de vida da nossa populao, algo cada vez mais

    distante. O entusiasmo parece se perder assim que as primeiras dificuldades

    comeam a surgir.

    Palavras Chave: Estudos de Caso; tica de Enfermagem; Papel do Profissional de

    Enfermagem

    Temtica: Relaes de trabalho: tica e subjetividade.