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PreviNE Boletim Informativo de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Região Nordeste Segundo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos prevenção, iNvestIGAÇÃO, Cuidar da Aviação é a nossa obrigação!!! 1 SERIPA II ano 3 - Edição nº 17 outubro de 2014 Figura 1 - Aves na trajetória de pouso das aeronaves AS IMPLICAÇÕES DO RISCO DA FAUNA PARA A AVIAÇÃO Em 2013, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) registrou 4.600 ocorrências aeronáuticas com animais no Brasil. Os números revelam um aumento de 21,62% em relação a 2012. A maior parte dos registros, 2.344 casos, foi de avistamentos de animais na trajetória de aeronaves, condição que resultou em 1.625 colisões com aves, 114 colisões com outros animais e 517 quase colisões. Um urubu, cujo peso médio é de 1,5 Kg, por exemplo, ao se chocar com uma aeronave a 300 km/h (na aproximação final), provoca um impacto de cerca de sete toneladas. Dependendo da fase do voo e do ponto de colisão na aeronave, mesmo o impacto de um animal pequeno pode provocar sérios problemas e até resultar em acidente aeronáutico. Figura 3 - Colisão entre avifauna e helicóptero Figura 2 - Colisão com avifauna A energia de impacto (E) gerada por uma colisão é proporcional à massa do animal (M), multiplicada pelo quadrado da velocidade da aeronave (V²) e dividida pela área (S) atingida (E=M.V²/S).

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prevenção, iNvestIGAÇÃO, Cuidar da Aviação é a nossa obrigação!!!1SERIPA II

ano 3 - Edição nº 17 outubro de 2014

Figura 1 - Aves na trajetória de pouso das aeronaves

AS IMPLICAÇÕES DO RISCO DA FAUNA PARA A AVIAÇÃO

Em 2013, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) registrou 4.600 ocorrências aeronáuticas com animais no Brasil.

Os números revelam um aumento de 21,62% em relação a 2012. A maior parte dos registros, 2.344 casos, foi de avistamentos de animais na trajetória de aeronaves, condição que resultou em 1.625 colisões com aves, 114 colisões com outros animais e 517 quase colisões.

Um urubu, cujo peso médio é de 1,5 Kg, por exemplo, ao se chocar com uma aeronave a 300 km/h (na aproximação final), provoca um impacto de cerca de sete toneladas.

Dependendo da fase do voo e do ponto de colisão na aeronave, mesmo o impacto de um animal pequeno pode provocar sérios problemas e até resultar em acidente aeronáutico.

Figura 3 - Colisão entre avifauna e helicóptero

Figura 2 - Colisão com avifauna

A energia de impacto (E) gerada por uma colisão é proporcional à massa do animal (M), multiplicada pelo quadrado da velocidade da aeronave (V²) e dividida pela área (S) atingida (E=M.V²/S).

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ano 3 - Edição nº 17 OUTUBRO de 2014

˜ Em 10 de novembro de 2013, um T-27 da Força Aérea Brasileira colidiu com um urubu-de-cabeça-preta em Salvador (BA). A ave quebrou o canopi do avião e atingiu o rosto do piloto, que perdeu a visão de um dos olhos. O piloto na nacele traseira conseguiu pousar a aeronave no Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães.

Casos recentes de colisão com fauna no Brasil

˜ Em 30 de maio de 2014, uma anta atravessou a pista do aeródromo de Porto Urucu (AM) e foi atingida por uma aeronave ATR 42 que havia iniciado a decolagem. A tripulação decidiu prosseguir no voo até o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus. Na aterrissagem, ocorreu a quebra do trem de pouso. Todas as 47 pessoas a bordo saíram ilesas.

Um caso conhecido ocorreu em 2009, em Nova Iorque, quando um Airbus A320 da empresa US Airways colidiu com gansos canadenses que entraram nas duas turbinas. Elas pararam de funcionar e a aeronave perdeu potência. Felizmente, o piloto teve habilidade para pousar no Rio Hudson, salvando a vida de 155 pessoas.

No Brasil, o trabalho do CENIPA é incentivar o reporte dos casos, a fim de manter o banco de dados nacional para direcionar ações preventivas.

Sempre que alguém avistar um animal perto de aeronaves, identificar uma carcaça na pista do aeródromo ou perceber uma colisão, deve informar ao CENIPA, por meio de um formulário online.(

)http://www.cenipa.aer.mil.br/ce

nipa/sigra/perigoAviarioExt

Figura 5 - T-27 atingido por um urubu

Figura 4 - Acidente com Airbus A320 em Nova Iorque

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ano 3 - Edição nº 17 OUTUBRO de 2014

Ações-chave no esforço pela redução do risco da fauna

1 Certifique-se de que todos os aeroportos têm um Plano de Gerenciamento de Risco da Fauna (PGRF) válido

Todos os aeroportos devem possuir um PGRF desenvolvido por biólogo especializado e treinado para o controle de fauna nesse tipo de ambiente. Uma vez que esse local muda constantemente, tais planos devem ser reexaminados no mínimo a cada dois anos com inspeções in loco.

2 Certifique-se de que todos os

a e r ó d r o m o s t ê m p e s s o a l

adequadamente t re inado e

equipado para as atividades de

controle da fauna

O gerenciamento de fauna nos

aeródromos é uma tarefa complexa

envolta em um conjunto de aspectos

legais, técnicos e sociais. A maioria

dos grandes aeroportos necessita de

um biólogo em tempo integral para

conduz i r t a re fas comp lexas

relacionadas à gestão da fauna no

local e em seu entorno. Os

aeroportos menores necessitam de

biólogos profissionais para fins de

consultoria e treinamento de pessoal

de operações nas técnicas mais

modernas de gerenciamento de

fauna.

3 Tolerância zero para animais

terrestres de grande porte dentro

da propriedade aeroportuária

Colisões entre aeronaves e animais terrestres de grande porte representam um risco iminente com potencial de causar lesões e morte aos ocupantes de aeronaves.

4 Participe do processo de zoneamento de áreas no entorno imediato dos aeródromos para minimizar focos de atração de fauna

Quando se pode garantir que o

zoneamento de áreas próximas aos

aeródromos é coerente com os

esforços dispendidos para reduzir a

presença de aves e animais

terrestres, torna-se menos provável o

aumento populacional de fauna

próximo ou dentro dos aeródromos.

O operador de aeródromo deve se

fazer ouvir quando da instalação de

at iv idades atrat ivas em sua

vizinhança imediata, bem como

coletar dados de focos atrativos

dentro da Área de Segurança

Aeroportuária (ASA).

5 Tolerância zero com recipientes

de lixo e entulho desprotegidos no

aeroporto

Recipientes de lixo e entulho que não são adequadamente protegidos podem se tornar uma fonte de alimento e abrigo para aves e outros animais. Ainda que esses animais não representem risco direto à aviação, o lixo pode servir de atrativo às espécies-problema.

6 Certifique-se de que o uso de dispositivos de afugentamento da fauna segue critérios adequados

O uso ind isc r im inado de

dispositivos de dispersão de fauna,

como canhões de gás e outros

equipamentos sonoros aumentará a

capacidade de adaptação dos

animais, reduzindo a efetividade

desses dispositivos.

Figura 6 - Colisão com fauna durante o pouso, em Correntina-BA

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9 Tolerância zero para aves

aquáticas dentro da propriedade

aeroportuária

Populações residentes de gansos

representam uma grave ameaça à

segurança das aeronaves (nos EUA),

por serem aves grandes e terem o

costume de se reunir em bandos. Por

analogia, no caso brasileiro, aves

aquáticas de maior porte com

tendência a formar bandos são um

risco concreto à aviação em

operação no aeródromo e em seu

entorno.

7 Promova continuamente os procedimentos de reporte de colisões com fauna ao Banco de Dados Nacional

Os reportes de colisão com fauna

fornecem dados valiosos para

biólogos, engenheiros aeronáuticos,

responsáveis pelo planejamento do

uso do solo, a fim de justificar e

desenvolver PGRF eficazes para

reduzir colisões com danos severos.

Tripulações, equipes de solo, pessoal

de manutenção e de gerenciamento

da Segurança Operacional nos

aeródromos devem ser encorajados

a reportar os detalhes de todas as

colisões confirmadas ou suspeitas.

10 Observações finais

O Doc 9137 AN/898 Airport

Services Manual, Part 3 Wildlife

Control and Reduction, emitido pela

Organização de Aviação Civil

Internacional em 2012, provê

informações para o gerenciamento

do risco de fauna. Apesar de

concentradas no operador de

aeródromo, é citada a necessidade

de integrar todos os stakeholders

aeronáut icos (operadores e

mantenedores de aeronaves, de

tráfego aéreo, além dos demais

i n teg ran tes da comun idade

aeroportuária, como empresas

terceirizadas) e os stakeholders

externos (no Brasil, o poder público

municipal, o responsável pelo uso do

solo no interior da ASA, e a

autoridade ambiental competente,

responsável pelo licenciamento de

atividades que atraem ou podem

atrair aves dentro da ASA de cada

aeródromo).

8 Tolerância zero para aves e outros animais se alimentando d e n t r o d a p r o p r i e d a d e aeroportuária

A presença de alimento tende a

atrair número maior de animais para

a área do aeródromo. Banir fontes de

alimento para animais dentro dos

l imites aeroportuários é uma

atribuição dos operadores de

aeródromos, não representando

violação a leis federais e tratados

internacionais que protegem

algumas espécies da fauna. Um

exemplo disso é a existência de

taxistas alimentando pombos no

estacionamento do aeroporto.

Figura 7 - Aves nas proximidades da pista de pouso

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ano 3 - Edição nº 17 OUTUBRO de 2014

Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) nº164, de 30 de maio de 2014, que trata do Gerenciamento do Risco da Fauna nos Aeródromos Públicos.

Lei nº12.725, de 16 de outubro de 2012, que dispõe sobre o controle da fauna nas imediações de aeródromos

Textos adaptados de:

Cenipa

Disponível em:<

>http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/index.php/component/content/article/1-comunicacao-

social/1181-%20%20risco-de-fauna-como-gerenciar . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Para saber mais:

Imagens:

Aerovisão nº 241 Jul/Ago/Set - 2014Disponível em: < >http://issuu.com/portalfab/docs/aerovisao_2014_241/0 . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Figura 1Disponível em: <

>http://www.ricardogauchobio.com.br/wordpress/wp-content/uploads/2010/06/ext-2013-aula-03-

teste-01-urubu-avi%C3%A3o-.jpg . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Figura 2Disponível em: <

>http://www.mundogump.com.br/wp-content/uploads/2013/06/atlantic_southeast_delta_birdstrike-

590x420.jpg . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Figura 3Disponível em: <

>http://4.bp.blogspot.com/-a8XgFhSak4o/UPHAtelhADI/AAAAAAAAAao/y4tZJgdfNGk/s1600/ima

ges+(4).jpg . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Figura 4Disponível em: < >http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/foto/0,,16644237,00.jpg . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Figura 5Disponível em: < >http://issuu.com/portalfab/docs/aerovisao_2014_241/0 . (Acesso em 30 setembro de 2014)

Figura 6SERIPA II - Relatório Final Simplificado (SUMA) - 30/04/2014

Figura 7Disponível em:< >http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/images/stories/carcaras.jpg . (Acesso em 30 setembro de 2014)