41 - DEVERES DOS SUBORDINADOS

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Cornelius a Lapide, sj (1597-1637) + DEVERES DOS SUBORDINADOS Tradução por Uyrajá Lucas Mota Diniz Deveres que os subordinados tem que cumprir com relação aos seus superiores Os subordinados devem cumprir quatro deveres a respeito de seus superiores: o amor, o respeito, a obediência e a fidelidade. O que se entende por amor que os subordinados devem a seus senhores? Entende-se um afeto sincero que une os servidores aos interesses daqueles a cujo serviço encontram-se. Primeiro dever: o amor

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Texto de Cornélio à Lápide traduzido da Obra "TESOROS DE CORNELIO Á LÁPIDE" - Tomo I, por Uyrajá Lucas Mota Diniz.

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Cornelius a Lapide, sj (1597-1637)+

DEVERES DOS SUBORDINADOS

Tradução por Uyrajá Lucas Mota Diniz

Deveres que os subordinados tem que cumprir com relação aos seus superiores

Os subordinados devem cumprir quatro deveres a respeito de seus superiores:

o amor, o respeito, a obediência e a fidelidade.

O que se entende por amor que os subordinados devem a seus senhores?

Entende-se um afeto sincero que une os servidores aos interesses daqueles a cujo

serviço encontram-se.

Primeiro dever: o amor

Os subordinados devem:

1º ver a Deus na pessoa de seus superiores;

2º olhar sua vontade como a de Deus;

3º dedicar-se a eles, com a finalidade de agradar a Deus;

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4º propor-se por objetivo de suas penas e trabalhos a recompensa eterna;

5º ser, finalmente, bons e previdentes em relação àqueles a quem servem.

Segundo dever: o respeito

O segundo dever dos subordinados para com seus superiores é o respeito.

Todos os que estão debaixo do jugo da subordinação, diz o grande Apóstolo, hão de

considerar a seus senhores como dignos de todo o respeito, para que o Nome e a

doutrina do Senhor não sejam blasfemados: Quicumque sunt sub jugo servi,

dominós suos omni honore dignos arbitrentur, ne nomem Domini, et doctrina

blasphemetur (I Tim. VI, 1).

São Pedro expressa-se da mesma maneira: Servos, diz, sede submissos a

vossos senhores com todo respeito, não somente aos que são bons e razoáveis, mas

também aos perversos, porque é grato a Deus que, com a finalidade de agradar-Lhe,

padeçamos os males e as penas que nos fazem injustamente sofrer: Servi, subditi

estote in omni timore dominis, non tantum bonis et modestis, sed etiam discolis.

Haec est enim gratia si promter Dei conscientizam sustinet quis tristitias patiens

injuste (I Pet. II, 18-19).

Os subordinados devem respeitar seus senhores; é-lhes proibido zombar

deles, maldizê-los, contradizê-los, desprezá-los, insultá-los etc.

Devem honrar a seus superiores com suas palavras, seus modos dignos, e

devem também defender sua honra.

Devem procurar sempre zelar por sua reputação; nunca falar deles a não ser

em termos respeitosos e plenos de afeição; e, sobretudo, ocultar com prudência seus

defeitos.

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Nisto pecam gravemente muitíssimos subordinados indiscretos,

inconsiderados, imprudentes, ingratos e malvados, que comendo o pão de seus

senhores não se envergonhem de publicar, por todas as partes, seus caprichos, suas

debilidades, suas antipatias, suas disputas, suas divisões; revelam os segredos de

família, e violam as leis do direito natural, as leis da sociedade civil, e o preceito da

caridade cristã.

Terceiro dever: a obediência

Servos, ensina São Paulo, obedecei em tudo a vossos senhores temporais,

não somente servindo-os quando tenham o olhar fixo sobre vós, como se não

tratásseis mais do que agradar aos homens; mas, com simplicidade de coração e

temor de Deus: Servi, obedite per omnia dominis, non ad oculum servientes, quase

hominibus placentes, sed in simplicitate cordis, timentes Deum (Coloss. III, 22).

Servos, diz em outra parte aquele grande Apóstolo, obedecei com temor e

respeito a vossos senhores temporais como ao mesmo Jesus Cristo: Servi, obedite

dominis cum timore et tremore, sicut Christo (Ephes. VI, 5).

Não trateis de servir-lhes tão somente quando sois observados; pelo

contrário, fazei de todo o coração aquilo que vos exige a vontade de Deus, como

servidores de Jesus Cristo: Non as oculum servientes, sed ut servi Christi facientes

voluntatem Dei ex animo (Ephes. VI, 6).

Exortai aos servidores, escreve a seu discípulo Tito, a que sejam obedientes a

seus senhores, e agradem-lhes em tudo quanto possam, e não lhes contradigam:

Servos dominis suis súbditos esse, in omnibus placentes, non contradicentes (Tit. II,

9). Obedecei a vossos superiores e sede-lhes submissos, escreveu aos Hebreus:

Obedite praeposit vestris, et subjacite eis (Heb. XIII, 17).

Os subordinados não devem tão somente obedecer a seus senhores porque

sua condição os obrigue a isso, mas também por amor a seu dever.

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Aqueles que não obedecem senão à força discutindo e murmurando, são

culpáveis diante de Deus.

Somente no caso em que seus senhores mandassem fazer coisa ilícita é-lhes

permitido desobedecer. Porém, então, estarão inclusive absolutamente obrigados à

desobediência.

Quarto dever: a fidelidade

O quarto dever dos criados com relação a seus superiores é a fidelidade. Em

que consiste esta fidelidade? Consiste, sem dúvida, em trabalhar

conscienciosamente; cuidar, de imediato, dos interesses de seus senhores e em

mantê-los, sem jamais causar-lhes prejuízo.

São Paulo recomenda-o a Tito: Exortai aos servos a que não defraudem em

nada a seus senhores, e a que demonstrem uma lealdade perfeita: Non fraudantes,

sed in omnibus fidem bonam ostendentes (Tit. II, 10).

Nem tampouco lhes está permitido, para recompensarem-se e sob o pretexto

de que seus senhores não lhes dão salários proporcionais a seus serviços, tomar para

si algo além do que o preço ajustado.

Tampouco é lícito aos servos dar algo do que pertence a seus senhores. Se se

perceber que aos senhores roubam-lhes ou causam-lhes algum prejuízo, tem a

obrigação de lhe avisar, ainda que os culpáveis fossem os mesmos filhos da casa.

Porém, antes devem procurar afastar-lhes do mal, ou se já está feito, inclinar-lhes a

repará-lo.

Os criados e os trabalhadores pecam também contra a justiça e estão

obrigados à restituição quando não empregam fielmente seu tempo, ou não

trabalham segundo suas forças.

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Finalmente, um subordinado deve também, como outro José, cuidar com

atenção de que nada se perca nem se extravie; a negligência nesta ocasião

compromete a consciência.

Se, por culpa sua, por exemplo, a roupa branca perde-se ou rasga-se, os

móveis quebram-se, o azeite ou o vinho derramam-se, e os comestíveis deterioram-

se; ou se coisas que deixou expostas ao alcance de muitos são roubadas por ladrões,

o próprio servo será o responsável por todos os prejuízos.

Porém, dirão alguns, os superiores não o viram? Boa desculpa, na verdade!

Não é durante a ausência dos superiores quando, sobretudo, devem brilhar a

fidelidade e a vigilância de um bom subordinado?

Aquele que cuida bem de seu superior e de seus bens, será cumulado de

honras, dizem os Provérbios: Qui custos est domini sui, glorificabitur (Prov.

XXVII, 18).