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  • O GS NATURAL LIQUEFEITO NO BRASIL

    Experincia da ANP na implantaodos projetos de importao de GNL

  • Presidente da Repblica Federativa do BrasilLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro de Minas e EnergiaMrcio Pereira Zimmermann

    Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e BiocombustveisDiretor-GeralHaroldo Borges Rodrigues Lima

    DiretoresAllan Kardec DuailibeMagda Maria de Regina ChambriardVictor de Souza Martins

  • O GS NATURAL LIQUEFEITO NO BRASIL

    Experincia da ANP na implantaodos projetos de importao de GNL

    Rio de Janeiro 2010 Sries temticas ANP N 4

  • 2010 Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e BiocombustveisTodos os direitos reservados pela Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis.Disponvel tambm em: http://www.anp.gov.br

    Copyright 2010 Catalogao na fonte: Centro de Informao e Informao da ANP

    O Gs Natural Liquefeito no Brasil Experincia da ANP na implantao dos projetos de importao de GNL / Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis, Superintendncia de Comercializao e Movimentao de Petrleo, seus Derivados e Gs Natural. Rio de Janeiro : ANP, 2010. p. : il. (Sries ANP ; 4) ISBN 978-85-88286-12-2

    Inclui bibliografia.

    1. Gs natural liquefeito (GNL). 2. Produo de gs natural - Brasil. I. Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis, Superintendncia de Comercializao e Movimentao de Petrleo, seus Derivados e Gs Natural. II. Srie.

    CDD 665.773

    O Gs Natural Liquefeito no Brasil Experincia da ANP na implantao dos projetos de importao de GNL

    CoordenaoSuperintendncia de Comercializao e Movimentao de Petrleo, seus Derivados e Gs Natural Jos Cesrio Cecchi, superintendenteAna Beatriz Stepple da Silva Barros, superintendente-adjuntaHeloise Helena Lopes Maia da Costa e Marcelo Meirinho Caetano, assessores

    Equipe tcnicaHelio da Cunha BisaggioHeloise Helena Lopes Maia da CostaJader Conde RochaLuciana Rocha de Moura EstevoLuciano de Gusmo VelosoMarcelo Meirinho CaetanoMario Jorge Figueira ConfortMelissa Cristina Pinto Pires MathiasTathiany Rodrigues Moreira de Camargo

    Coordenao editorialSuperintendncia de Divulgao e Comunicao InstitucionalDurval Carvalho de Barros, superintendenteClaudia Rabello, superintendente-adjuntaAna Cristina Carvalhaes Machado, assistente tcnica

    Capa: Joo Carlos Machado

  • 5SUMRIOAPRESENTAO .............................................................................................................................................................................................................................................................9

    I. INTRODUO .............................................................................................................................................................................................................................................................11

    II. CADEIA GNL ................................................................................................................................................................................................................................................................12 II.1 Transporte de GNL ................................................................................................................................................................................................................................12 II.2 Instalaes de peakshaving ...................................................................................................................................................................................................13

    III. ANTECEDENTES .................................................................................................................................................................................................................................................14

    IV. A ENTRADA DE GNL NO BRASIL ..........................................................................................................................................................................................19 IV.1. Aderncia regulatria ..................................................................................................................................................................................................................20 IV.2. Importaes de GNL: histrico das autorizaes na ANP ..............................................................................................22

    V. PANORAMA ATUAL DO MERCADO MUNDIAL DE GNL ...............................................................................................................25

    VI. EXPERINCIA INTERNACIONAL ...........................................................................................................................................................................................29 VI.1. Estados Unidos .......................................................................................................................................................................................................................................29 VI.2. Reino Unido .................................................................................................................................................................................................................................................33 VI.3. Espanha ..............................................................................................................................................................................................................................................................35

    VII. RISCOS ASSOCIADOS INDSTRIA DE GNL ............................................................................................................................................38 VII.1. Riscos inerentes ao GNL ........................................................................................................................................................................................................39 VII.2. Principais incidentes ...................................................................................................................................................................................................................40

    VIII. CARACTERSTICAS TCNICAS DOS PROJETOS IMPLEMENTADOS...............................................................43 VIII.1. Descrio das instalaes dos peres ............................................................................................................................................................43 VIII.2. Descrio dos gasodutos ..................................................................................................................................................................................................48 VIII.3. Suprimento de gs .......................................................................................................................................................................................................................50 VIII.4. Anlise de risco dos projetos ......................................................................................................................................................................................50 VIII.4.1. Resultados do HAZID de Pecm (CE) ......................................................................................................................................52 VIII.4.2. Resultados do HAZID da Baa da Guanabara (RJ) ..............................................................................................53

    IX. INSTRUES DOS DECRETOS DE UTILIDADE PBLICA E AUTORIZAES OUTORGADAS .........54 IX.1. Instruo dos decretos de utilidade pblica ........................................................................................................................................54 IX.2. Outorga de autorizaes .......................................................................................................................................................................................................55 IX.2.1. Legislao pertinente ...........................................................................................................................................................................................56 IX.2.1.1. A Lei do Petrleo................................................................................................................................................................................56 IX.2.1.2. A Portaria ANP n 170/1998 ............................................................................................................................................56 IX.3. O Grupo de Trabalho da ANP para o GNL ................................................................................................................................................58 IX.4. A outorga das autorizaes para os projetos de GNL .........................................................................................................59 IX.4.1. Publicao do sumrio ........................................................................................................................................................................................59 IX.4.2. Outorga das autorizaes de construo (ACs) ........................................................................................................59 IX.4.3. Outorga das autorizaes de operao (AOs) .............................................................................................................62 IX.4.4. Vistorias .........................................................................................................................................................................................................................................67 IX.4.5. Simulados ..................................................................................................................................................................................................................................67

    X. EXPERINCIA PARA O RGO REGULADOR .................................................................................................................................................68

    XI. CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................................................................................................................................................69

    BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................................................................................................................71

  • 7SIGLAS MAIS UTILIZADAS

    ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis Berr United Kingdom Department for Business and Skils, antes Departament for Business, Enterprise

    and Regulatory Reform (Reino Unido)CM Confirmation MemorandumCNE Comisin Nacional de Energa (Espanha)CPAC Concurso Pblico de Alocao de CapacidadeDOE United States Department of Energy (Estados Unidos)DOU Dirio Oficial da UnioEnagas Empresa Nacional de Gas S.A. (Espanha)Ferc Federal Energy Regulatory Comission (Estados Unidos)Gaspetro Petrobras Gs S.A. (subsidria da Petrobras)Gasfor Gasoduto Guamar-PecmGN Gs NaturalGNL Gs Natural LiquefeitoGNV Gs Natural VeicularGT Grupo de TrabalhoHAZID Hazard identificationHAZOP Hazard and operability studiesLNG Liquefied Natural GasMAS Master Sales AgreementsMME Ministrio das Minas e EnergiaPPT Programa Prioritrio de TermoeletricidadeUT Usina TermoeltricaTAG Transportadora Associada de Gs S.A. (subsiria da Gaspetro)

  • 9APRESENTAO

    A indstria brasileira de gs natural enfrentou inmeros desafios nos ltimos cinco anos. No plano econmico, a infraestrutura de transporte ainda incipiente e o agravamento na insegurana do suprimento do mercado nacional pelo gs boliviano impuseram restries oferta do produto, justamente num momento em que aumentava o consumo domstico do gs natural, graas, entre outros fatores, ao incentivo governamental ao crescimento da demanda.

    No campo regulatrio, o aumento da participao do gs natural na matriz energtica brasileira fez crescer a necessidade de aperfeioamento das normas vigentes, culminando em revises de portarias e resolues da ANP e edio de novos regulamentos.

    Neste ambiente, ganhou importncia a necessidade de aumentar a oferta de gs natural e a segurana de seu suprimento, de modo a atender demanda nacional, conforme orientao emanada do Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE). Assim, determinou-se a construo de duas instalaes de regaseificao de Gs Natural Liquefeito (GNL), uma em Pecm, Cear, e outra na Baa de Guanabara, Rio de Janeiro. As instalaes tornaram possvel a importao de gs tambm de pases mais distantes, como, por exemplo, Trinidad e Tobago e Nigria, alm dos pases fronteirios, conectados por gasodutos.

    Frente ao carter indito e urgente da execuo dos projetos de GNL no Brasil, a ANP, com igual urgncia e ineditismo, investiu esforos humanos e materiais para a capacitao de servidores nas operaes tcnicas e econmicas da comercializao de GNL. Assim, foi possvel realizar a anlise dos documentos para a outorga das autorizaes de construo e de operao das referidas instalaes, fundamentais para o cumprimento da misso institucional de garantia do abastecimento do Pas. Para instruir os processos de outorga dessas autorizaes com rapidez e rigor tcnico, a Agncia mobilizou uma equipe multidisciplinar, conformada num Grupo de Trabalho, do qual participaram ativamente servidores de vrias superintendncias e coordenadorias.

    O objetivo deste trabalho, originado na Nota Tcnica ANP/SCM n 12/2009, sintetizar a experincia adquirida pela ANP no processo de implantao de projetos de GNL no Pas e, em particular, o aprendizado na emisso das outorgas. Inclui a experincia dos pases visitados pela equipe tcnica (Estado Unidos, Reino Unido e Espanha), descries das instalaes construdas, riscos inerentes indstria do gs natural liquefeito e uma breve descrio das aes tomadas pela ANP para a correta instruo dos processos.

    Dado o sucesso da experincia, a ANP espera que esta publicao possa servir como fonte de informaes e consulta para os interessados no tema, assim como um guia para atuao futura da prpria ANP nos prximos projetos de GNL, contribuindo para a eficcia da regulao, para o crescimento deste mercado e para maior segurana do abastecimento nacional.

    Haroldo LimaDiretor-Geral

  • 11

    I. INTRODUO

    O desequilbrio nas condies de oferta e demanda de gs natural no Brasil, nos ltimos anos, aliado s incertezas quanto ao fornecimento do gs boliviano, imps ao Pas a necessidade de adoo de alternativas de suprimento, a fim de flexibilizar a oferta de gs e assegurar o fornecimento continuado deste energtico aos diferentes segmentos de consumo.

    A diversificao das fontes de suprimento tornou-se de suma relevncia para mitigar os riscos de desabastecimento. Deste modo, o Gs Natural Liquefeito (GNL) tornou-se uma importante alternativa ao transporte por dutos, principalmente nos casos em que: (a) existe incerteza quanto entrega de gs no volume negociado com o pas exportador; (b) a malha de transporte ainda incipiente ou inexistente; (c) os dutos j esto operando no mximo de sua capacidade; e/ou (d) a demanda total de gs natural de um pas atendida por mais de uma fonte exportadora, por vezes com a utilizao de diferentes modais de transporte.

    Em que pese os custos da comercializao de GNL, historicamente elevados, verifica-se que aos poucos esta alternativa comea a se viabilizar em pases como o Brasil, por exemplo, trazendo mudanas em contratos e preos.

    Alm do Plano de Antecipao da Produo de Gs Natural (Plangs), em implementao pela Petrleo Brasileiro S.A. (Petrobras) na Regio Sudeste, a companhia brasileira levou adiante dois projetos de GNL, localizados em Pecm (CE) e na Baa de Guanabara (RJ), com capacidade para regaseificar, respectivamente, 7 milhes de m/dia e 14 milhes de m/dia.

    Face ao ineditismo dos projetos de GNL no Brasil e de suas atividades associadas, tornou-se necessria a capacitao da ANP para as operaes tcnicas e econmicas que envolvem a comercializao de GNL, a fim de realizar de forma adequada a anlise dos documentos para a outorga das autorizaes de construo e de operao.

    Tendo em vista a relevncia do tema, este trabalho objetiva apresentar a experincia da ANP na implantao de projetos de GNL no Pas. O texto, baseado na Nota Tcnica ANP n 12, de 20091, descreve a cadeia do GNL e as instalaes de peakshaving, desenha um panorama das condies de mercado que motivaram a construo dos projetos de GNL no Pas e a importao do insumo, com destaque para o marco regulatrio e o histrico das primeiras importaes realizadas.

    O trabalho apresenta tambm as principais caractersticas do mercado de GNL nos trs pases visitados pela ANP (Estados Unidos, Espanha e Reino Unido), com um breve panorama do comrcio mundial de GNL na atualidade. Descreve tambm os riscos associados atividade e os principais incidentes j ocorridos no mundo. Trata, ainda, das caractersticas tcnicas dos projetos implantados na Baa de Guanabara e em Pecm, do processo de outorga das autorizaes de construo e operao das instalaes de GNL e traz as reflexes sobre o aprendizado do rgo regulador.

    1 Disponvel no stio eletrnico da ANP: www.anp.com.br/gasnotas

  • 12

    II. CADEIA DO GNLA cadeia do GNL um conjunto de atividades compreendidas na indstria do gs natural que visam ao transporte ou ao armazenamento do produto em estado lquido, situao em que ocupa volume 600 vezes menor que no estado gasoso.

    II.1. Transporte de GNL

    A produo de GNL se justifica quando as quantidades ou distncias a serem transpostas entre os locais de produo e aqueles de consumo so tais que se torna economicamente invivel o transporte do gs natural via duto.

    Nestes casos, a cadeia de valor do GNL compreende as seguintes atividades: a) explorao, produo e processamento do gs natural; b) liquefao; c) transporte, d) armazenamento; e) regaseificao; f ) distribuio ao mercado consumidor. A sequncia de etapas est apresentada na Figura II.1.

    Figura II.1. Cadeia de valor do GNL (adaptado de OATLEY, 2008).

    A atividade de liquefao consiste em uma srie de processos que visam converter gs natural do estado gasoso para o lquido. Uma planta de liquefao composta por um ou mais trains 2, podendo conter instalaes para o armazenamento do produto para posterior transporte ou regaseificao.

    Fatores como a composio do gs, a quantidade de gs a ser produzido e liquefeito e a localizao da produo (e, consequentemente, da planta de liquefao) exercem forte influncia sobre o desenho de cada planta de liquefao. Apesar de cada planta ser nica, todas realizam os mesmos procedimentos, a saber: tratamento do gs para a remoo de impurezas e liquefao do produto por meio do processo de resfriamento (at aproximadamente 162 C

    2 Um train uma unidade de processamento modular, parte integrante das plantas de liquefao, cujos tamanhos so limitados pela capacidade dos compressores (Energy Charter Secretariat, 2007).

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    negativos, temperatura em que o gs natural liquefaz presso atmosfrica).

    O transporte do GNL pode ocorrer por meio de navios metaneiros ou de caminhes-tanque. Os navios metaneiros so normalmente utilizados no comrcio internacional, em que geralmente se percorrem grandes distncias, possibilitando, assim, economias de escala. Os caminhes-tanque so utilizados para abastecer localidades no atendidas pela malha de gasodutos de transporte, dando origem ao conceito de gasoduto virtual, que utilizado para criar um mercado consumidor. Tais navios e caminhes so equipados com tanques com isolamento trmico, que permitem a manuteno do gs natural em estado lquido.

    Independentemente da forma como o GNL transportado, ao atingir o seu destino ele ter que ser submetido a um processo de regaseificao, que pode ser realizado em planta prpria ou unidade mvel (navios e caminhes3), para ento ser utilizado.

    II.2. Instalaes de peakshaving

    Embora o GNL produzido nessas plantas seja normalmente transportado por meio de navios ou caminhes (denominados gasodutos virtuais), em pases em que existem grandes picos de consumo de gs, em determinadas pocas do ano, o gs natural pode ser liquefeito e armazenado nos perodos de baixa demanda para posterior regaseificao e utilizao nos perodos de pico. Estas instalaes recebem a denominao de peakshaving e assumem papel de destaque em diversos pases, constituindo a maior parte das instalaes de GNL nos EUA.

    A Figura II.2 mostra o perfil do consumo de gs natural de um pas com indstria madura e no qual esto disponveis diversas instalaes de transporte e armazenamento deste produto, a saber: (a) instalaes de regaseificao com contratos na modalidade firme para a importao de GNL; (b) gasodutos; (c) instalaes de estocagem subterrnea; e (d) plantas de peakshaving.

    Figura II.2 - Perfil anual de consumo e armazenamento de gs natural estocagem subterrnea e instalaes de peakshaving (elaborao prpria, a partir de VITALE, 2009).

    3 Recentemente, o GNL tem sido usado para abastecer caminhes e nibus urbanos.

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    Nas pocas do ano nas quais o consumo de gs inferior capacidade da malha de transporte dutovirio, as empresas aproveitam esta capacidade no utilizada para armazenar o volume excedente nas instalaes de estocagem subterrnea e de peakshaving, para posterior utilizao. Esta capacidade est representada, em verde, na Figura II.2.

    Nos perodos em que a demanda maior que a capacidade da malha dutoviria utiliza-se o gs armazenado para suprir esta demanda adicional, como pode ser observado na Figura II.2. Outro ponto a destacar que as instalaes de peakshaving so utilizadas apenas nos dias de pico de demanda, devido caracterstica peculiar destas instalaes, que a de poder injetar uma grande quantidade de gs na malha em um curto intervalo de tempo.

    III. ANTECEDENTES

    Nos ltimos anos, foram implementadas, em diferentes segmentos de consumo, polticas de incentivo ao uso do gs, que tiveram grande impacto no aumento da demanda por este energtico.

    De acordo com os dados da Resenha Energtica Brasileira 2009, referente ao ano de 2008, publicada pela Empresa de Pesquisa Energtica (EPE), o gs natural representa hoje 10,2% da oferta interna de energia, contra a participao de 5,4% em 2000 (EPE, 2009).

    A evoluo das vendas mdias mensais de gs das distribuidoras no perodo 2000-2008 pode ser verificada na Tabela III.1 abaixo, por segmento de consumo: industrial, gerao trmica4 , automotivo (Gs Natural Veicular, GNV), residencial e comercial.

    Tabela III.1 - Vendas mdias mensais de gs das distribuidoras por segmento, expressas em mil m/dia (elaborao prpria, a partir de dados da Abegs).

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2007/2008 (% a.a.)2008/2009

    (% a.a.)

    Industrial 12.917,1 14.828,6 16.579,7 18.459,6 20.256,9 22.487,2 24.265,5 25.267,2 25.743,9 1,9 9,0

    Automotivo 992,6 1.752,4 2.688,9 3.646,0 4.321,7 5.295,7 6.308,8 6.986,3 6.722,0 -3,8 27,0

    Residencial 495,8 462,6 491,5 538,8 593,0 607,3 649,8 661,5 597,2 -9,7 2,4

    Comercial 287,6 304,3 361,9 407,4 447,5 706,6 556,4 582,6 587,7 0,9 9,3

    Gerao (inclui co-gerao) 2.155,6 5.271,3 6.956,7 6.100,2 10.322,6 11.349,6 9.670,4 7.266,3 15.915,2 119 28,4

    Outros (inclui GNC) 165,3 310,3 265,5 172,9 -34,9 1,5

    Total 16.849 22.619 27.079 29.152 35.942 40.972 41.761 41.029 49.739 21,2 14,5

    Os segmentos que mais consomem gs natural no Brasil so o industrial, o de gerao eltrica e o automotivo, seguidos pelo residencial e pelo comercial, cujas participaes no consumo so bastante similares.

    Como pode ser observado a partir da tabela acima, a demanda brasileira de gs natural apresentou uma taxa mdia de crescimento anual de 14,5% a.a. para o conjunto do perodo.

    Os segmentos que mais impactaram tal crescimento foram os de gerao eltrica (28,4% a.a.) e o automotivo (27% a.a). J os segmentos industrial e comercial tambm apresentaram altas taxas, embora menos expressivas que as dos setores anteriores, de 9,0% a.a. e 9,3% a.a., respectivamente.

    4 A diferena entre os valores das vendas pelas distribuidoras e os dados de oferta total disponvel decorrente, principalmente, do consumo das refinarias e das fbricas de fertilizantes nitrogenados pertencentes Petrobras.

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    Considerando-se o perodo de 2007/2008, atingiu-se uma taxa de crescimento da demanda por gs natural de 21,2% a.a., puxada, principalmente, pelo forte aumento no consumo de gs destinado gerao eltrica, que atingiu 119,0%. Isto pode ser explicado em grande medida pela maior necessidade de despacho das usinas trmicas a gs natural.

    Do ponto de vista dos consumidores industriais e automotivos, a razo para o acrscimo de demanda residiu, em grande parte, em uma poltica de preos deliberada de incentivo ao uso de gs natural, em que o preo mais baixo do gs frente aos seus concorrentes diretos (leo combustvel, gs liquefeito de petrleo, gasolina e lcool) foi determinado de maneira a tornar vivel sua rpida adoo, compensando os custos de converso.

    Com isto, objetivou-se esgotar a capacidade considerada ociosa do Gasoduto Bolvia-Brasil (Gasbol), tendo em vista os compromissos assumidos pela Petrobras de take-or-pay de 80%5 e ship-or-pay de 100%6 , respectivamente, com a Yacimientos Petrolferos Fiscales Bolivianos (YPFB) e a Gas TransBoliviano S.A. (GTB), na Bolvia, e com a Transportadora Brasileira Gasoduto Bolvia-Brasil S.A. (TBG) no Brasil.

    Deste modo, entre os anos de 2003 e 2004, a Petrobras manteve os preos do gs natural praticamente inalterados (PETROBRAS, 2008).

    Alm disso, a empresa instituiu em 2004 o Programa de Massificao do Uso do Gs Natural 7, que contou com o apoio do Governo Federal e dos governos estaduais, os quais concederam incentivos fiscais aos potenciais clientes para estimular a utilizao do gs, confiantes de que seu preo se manteria competitivo no longo prazo.

    Assim, plantas industriais foram alteradas para viabilizar a utilizao de gs natural como combustvel, usinas trmicas a gs foram construdas, automveis foram convertidos para usar GNV, entre outras iniciativas.

    No que concerne gerao trmica, o Programa Prioritrio de Termeletricidade (PPT), criado pelo Decreto n 3.371/2000, teve por objetivo estimular a construo de Usinas Termeltricas (UTEs) para promover uma alternativa gerao hdrica e, para isso, estabeleceu, entre outras prerrogativas, preos de gs natural diferenciados para as trmicas includas no PPT. Desde ento, este incentivo propiciou os aumentos observados no consumo de gs destinado gerao de energia eltrica.

    Deste modo, tendo em vista o modelo hidrotrmico da gerao eltrica brasileira, imaginava-se que, quando o nvel dos reservatrios das usinas hidreltricas apresentasse capacidade de gerao insuficiente para suprir a demanda, bastaria acionar o despacho trmico. No entanto, em fins de 2006, foi realizado um teste final de disponibilidade das UTEs que utilizam gs natural como combustvel, para os submercados Sul e Sudeste/Centro-Oeste. O resultado indicou uma gerao em mdia 42,8% abaixo da programada para o conjunto das usinas em teste, sendo que 85% deveu-se indisponibilidade ou falta de gs (ANP, 2007)8.

    5 Uma clusula take-or-pay obriga o comprador a pagar pelo gs, mesmo quando este no tenha sido efetivamente consumido.

    6 Os contratos de transporte usualmente contm clusulas de pagamento mnimo independente do volume de fato transportado, referidas no mercado como ship-or-pay, que consiste em um encargo pago em contrapartida reserva de capacidade no gasoduto. Esse tipo de encargo est relacionado ao servio de transporte firme.

    7 Para mais detalhes, ver palestra Programa de Massificao do Uso do Gs Natural, proferida por Ildo Sauer, ento diretor de Gs e Energia da Petrobras, no IV Congresso Brasileiro de Planejamento Energtico Itajub, em 26 de maro de 2004. Disponvel em: http://www.iee.usp.br/biblioteca/producao/2004/Trabalhos/Sauer.pdf.

    8 O teste de disponibilidade das UTEs compreendeu o perodo de 00h00 do dia 11/12/2006 s 24h00 do dia 21/12/2006 e foi realizado pelo Operador.

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    Assim que, entre 2005 e 2006, a demanda de gs natural pelas UTEs apresentou uma queda de 14,8% a.a., ficando aqum do exigido pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

    Se, por um lado, o Programa de Massificao do Uso do Gs Natural contribuiu para aumentar a competitividade do gs natural no Pas e sua penetrao na matriz energtica brasileira, por outro intensificou o risco associado imprevisibilidade das variaes no preo do energtico.

    Assim, a partir de 2005 pode-se perceber um movimento de elevao nos preos do gs natural nacional. Entre meados de 2007 e meados de 2008, esse movimento de elevao nos preos no city gate9 foi intensificado tanto para o gs natural de origem nacional quanto para o importado e para o gs destinado s trmicas do PPT.

    A partir de fins de 2008, as curvas de preos do gs comearam a apresentar inflexo, resultante da reverso das condies mercadolgicas, como pode ser verificado na Figura III.1 abaixo.

    De fato, neste perodo, o preo da cesta de leos, usada como referncia para precificar o gs natural de origem nacional, foi impactado pelos baixos preos do barril do leo cru praticados no mercado internacional no decorrer de 2008, em comparao com os preos observados em 2007.

    Nacional

    I - Primeiro trimestre / II - Segundo Trimestre / III - Terceiro Trimestre / IV - Quarto Trimestre

    Trmico Importado

    11,00

    10,00

    9,00

    8,00

    7,00

    6,00

    5,00

    US$ /

    MM

    BTU

    4,00

    3,00

    2,00

    1,00

    0,00

    Figura III.1 Preos no city gate do gs natural nacional, importado e do programa PPT, em US$/milho de BTUs referentes ao perodo do 3 trimestre de 1999 ao 1 trimestre de 2009 (elaborao prpria, a partir de dados da PETROBRAS, 2009).

    Notas: Gs natural vendido como nacional: preos mdios no ponderados com PIS/Cofins e sem ICMS.Gs natural vendido para as trmicas: preos mdios no ponderados sem PIS/Cofins e ICMS. Gs natural vendido como importado: preos mdios no ponderados sem PIS/Cofins e ICMS. Dlar comercial pela mdia mensal de venda (Ptax do Banco Central).

    Nacional do Sistema Eltrico (ONS) em cumprimento da Resoluo Autorizativa n 755, de 30 de novembro de 2006, editada pela Agncia Nacional de Energia Eltrica (Aneel).

    9 Tambm denominado ponto de entrega, city-gate a instalao onde o produto movimentado entregue pelo transportador ao detentor de um volume de gs natural, que tenha contratado o servio de transporte. Essa instalao normalmente contempla sistemas de filtragem, aquecimento, reduo de presso e medio para fins contratuais e fiscais.

  • 17

    Do lado da oferta, seu crescimento nos ltimos anos, ainda que expressivo, mostrou-se insuficiente para atender totalidade da demanda nacional. Quando, durante um teste em fins de 2007, trmicas a gs natural foram despachadas simultaneamente para verificar a capacidade real de fornecimento de gs necessrio gerao de energia eltrica complementar gerao hdrica, novamente evidenciou-se a impossibilidade de entrega de gs a estas trmicas sem que se restringisse o consumo de outras classes.

    Alm disso, a Petrobras realizou cortes pontuais no fornecimento de gs concessionria de distribuio de gs natural do Estado do Rio Janeiro, a CEG-Rio, provocando, por exemplo, interrupes no consumo da Usina Termeltrica Norte-Fluminense, em 27 de setembro e em 13 de outubro de 2007, e reduo acentuada em 24 de novembro do mesmo ano (ANP, 2008). Foram observados tambm, pontualmente, situaes de desabastecimento em postos credenciados para atendimento ao consumidor de GNV. Tais cortes, todavia, no ultrapassaram os volumes fixados nos contratos de compra e venda de gs natural.

    A insuficincia da oferta de gs colocou em pauta a busca por melhores solues de poltica energtica para o atendimento adequado totalidade da demanda nacional, tanto para as usinas trmicas com vistas gerao eltrica quanto para os segmentos industrial, residencial, automotivo e outros.

    Ademais, aqueles episdios contriburam para reforar a necessidade de se estabelecer claramente a ordem de prioridade de entrega de gs por classe de consumidores em situaes de contingenciamento.

    A Lei n 11.909, de 4/3/2009, conhecida como Lei do Gs, prev em seu Captulo VII, Art. 50, a possibilidade de suspenso das obrigaes de fornecimento de gs, em atividades da esfera de competncia da Unio, e de prestao de servio de transporte, em situaes caracterizadas como de contingncia. A mesma lei prev a elaborao e execuo de um plano de contingncia, a ser ainda regulamentado pelo Poder Executivo em norma especfica. Este plano dever dispor sobre: (a) medidas iniciais, quando couberem; (b) medidas que mitiguem a reduo na oferta de gs; (c) consumos prioritrios; e (d) distribuio de eventuais redues na oferta de gs de forma isonmica, atendidos os consumos prioritrios e respeitadas as restries de logstica (Art. 51, 1, Lei n 11.909/2009).

    Assim que, no contexto de instabilidade da indstria de gs natural brasileira, de incertezas quanto ao fornecimento do gs natural da Bolvia, que, desde a nacionalizao dos hidrocarbonetos naquele pas, ocorrida em maio de 2006, aumentaram a percepo de risco do suprimento e, tambm, dos riscos de uma nova crise energtica no Brasil, alternativas foram avaliadas e postas em prtica.

    Deste modo, desde o fim de 2006, a Petrobras executa o Plano de Antecipao da Produo de Gs Natural (Plangs), composto por projetos em explorao e produo, processamento e transporte de gs natural no Sudeste do Pas, com o objetivo de incrementar a oferta de gs, nesta regio, de 15 milhes de m3/dia para 40 milhes de m3/dia ao longo de 2008 e, posteriormente, 55 milhes de m3/dia em 2010.

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    No obstante a evoluo recente na oferta e demanda de gs natural comentada anteriormente, desde o final de 2008 at o primeiro semestre de 2009, o mercado gasfero brasileiro apresenta retrao, consequncia dos efeitos da crise internacional no mercado de crditos, que teve incio em meados de 2008, e que se expandiu globalmente.

    Esta crise, aliada ao perodo mido (dezembro a abril), no qual o nvel dos reservatrios hidreltricos permanece alto e diminui a necessidade de despacho trmico, afetou o consumo nacional de gs natural, principalmente nos segmentos industrial e de gerao eltrica.

    De acordo com os dados estatsticos da Associao Brasileira das Distribuidoras de Gs Canalizado (Abegs), a venda de gs das distribuidoras para gerao de energia eltrica e cogerao passou de 16,2 milhes de m3/dia em dezembro de 2008 para 5,9 milhes de m3/dia em abril de 2009, reduo de cerca de 63,7%.

    J o consumo industrial, como efeito da crise internacional que atingiu o Brasil, apresentou forte inflexo a partir de outubro de 2008, passando de 26,5 milhes de m3/dia neste ms para 19,3 milhes de m3/dia em abril de 2009, uma reduo de 27,4% neste perodo.

    Alm disso, como visto, o forte reajuste de preos do gs natural praticado pela Petrobras para as concessionrias distribuidoras tambm provocou impactos na demanda por gs natural, uma vez que este perdeu competitividade frente ao leo combustvel, por exemplo, seu principal substituto.

    Refletindo a reduo na demanda interna, a produo de campos no associados de gs foi reduzida, bem como as importaes de gs boliviano. Todavia, desde maio de 2009, o mercado de gs natural no Brasil comea a dar sinais de recuperao e as perspectivas, expressas no Plano de Negcios 2009 da Petrobras, so de que o mercado no termeltrico crescer em mdia 6% a.a. entre 2009 e 2013.

    Assim que as condies de demanda reprimida e restries na oferta que vigoraram no decorrer de 2005 at meados de 2008, tanto em virtude dos limites de produo quanto dos limites de infraestrutura de transporte existente, estimularam as iniciativas de aumento da produo nacional, os investimentos em infraestrutura de transporte e a flexibilizao da oferta, com a construo dos projetos de GNL no Pas.

    Estas condies continuam a ditar, em certa medida, os investimentos em capacidade de transporte e maior segurana do suprimento, com o objetivo de diminuir os gargalos existentes na malha dutoviria e evitar os riscos de falta de energia que j fizeram parte do cenrio nacional.

    Em suma, em virtude da grande dependncia do gs da Bolvia (de cerca de 50%) e da instabilidade poltico-institucional daquele pas, somadas ao crescimento do mercado brasileiro de gs natural, tornou-se premente criar alternativas confiveis de suprimento para o atendimento da demanda nacional. Assim, alm do incremento da oferta domstica, a importao de GNL assumiu importante papel na busca da garantia do abastecimento continuado de gs natural no Brasil.

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    IV. A ENTRADA DE GNL NO BRASIL

    Uma das principais mudanas observadas nos ltimos anos na indstria de gs natural no mundo foi o aumento da penetrao do gs na matriz energtica de diferentes pases e a opo cada vez mais utilizada de comercializao do produto por meio do GNL.

    No contexto de restries oferta de gs natural no mercado brasileiro e da poltica de aumento da produo nacional, foram construdos dois terminais de regaseificao para viabilizar a importao de GNL o que se tornou uma importante opo para aumentar a confiabilidade no suprimento de gs natural no Brasil.

    A primeira iniciativa para assegurar a implementao plena das atividades concernentes ao GNL e para superao de possveis problemas com sua execuo foi a edio, pelo Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE), da Resoluo n 4, de 24/11/2006, que estabeleceu diretrizes para a implementao de projetos de importao de GNL, de modo a garantir suprimento confivel, seguro e diversificado de gs natural.

    Com base neste ato administrativo e em seu Plano de Negcios 2007-2011, a Petrobras apresentou dois projetos de terminais de importao de GNL, um em Pecm (CE) e outro na Baa de Guanabara (RJ), com capacidade para regaseificar, respectivamente, 7 milhes de m3/dia e 14 milhes de m3/dia.

    A proprietria de todos os ativos que compreendem estes projetos a Transportadora Associada de Gs S.A. (TAG), subsidiria integral da Petrobras Gs S.A. (Gaspetro), e a empresa carregadora a Petrobras, sendo responsvel pela aquisio de GNL no mercado internacional e pelo afretamento dos navios-cisterna junto empresa Golar LNG Ltd. A Petrobras Transporte S.A. (Transpetro), por sua vez, prestar servios de operao e manuteno TAG, mediante a assinatura de um Contrato de O&M com esta transportadora.

    A TAG, ento, solicitou ANP autorizao para a construo das instalaes integrantes dos referidos projetos. Esta Agncia, aps a anlise da documentao requerida, outorgou as Autorizaes nos 464 e 465, de 18/12/2007. A primeira delas refere-se construo do Gasoduto Porto de Pecm-Gasfor e desmontagem dos sete braos de carregamento de derivados lquidos no Per 2 do Porto de Pecm, ativos integrantes do Projeto de GNL em Pecm. A segunda, por seu turno, refere-se construo do Gasoduto Per de GNL-Campos Elseos para a movimentao de gs natural entre o per de GNL a ser instalado na Baa de Guanabara e a Estao de Campos Elseos, esta ltima localizada no municpio de Duque de Caxias (RJ).

    Em resumo, o Projeto de GNL em Pecm compreende: (a) as instalaes para recebimento de GNL, regaseificao e escoamento de gs natural no Per 2 do Porto de Pecm; e (b) o gasoduto que interliga este terminal de GNL malha de gasodutos de transporte existente, o Gasoduto Guamar-Pecm (Gasfor). Destinado exclusivamente ao escoamento do gs natural proveniente do terminal de GNL de Pecm, este gasoduto tem 20 polegadas de dimetro e 19,1 km de extenso, com presso mxima de 100 kgf/cm2.

    Este terminal recebeu a primeira Autorizao Temporria de Operao, expedida pela ANP, em 7 de janeiro de 2009, para o comissionamento de gs natural do Brao n 7, de transferncia

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    de gs natural regaseificado para injeo na malha de dutos, e do Gasfor. Posteriormente, foram emitidas novas autorizaes temporrias de operao para comissionamento dos demais braos e instalaes do per.

    J o Projeto de GNL da Baa de Guanabara abrange a instalao: (a) dos equipamentos para recebimento de GNL, regaseificao e escoamento de gs natural no Per de GNL da Baa de Guanabara; e (b) do gasoduto que interliga este terminal de GNL Estao de Campos Elseos. Este gasoduto destina-se exclusivamente ao escoamento de gs natural proveniente daquele per e tem 28 polegadas de dimetro, com 16 km de extenso e presso mxima de 100 kgf/cm2.

    Em 10 de maro de 2009, a ANP expediu a primeira autorizao temporria de operao para comissionamento dos braos de transferncia de GNL do Terminal da Baa de Guanabara e, posteriormente, emitiu a autorizao temporria de operao para comissionamento dos demais braos e instalaes do Per.

    O histrico das autorizaes de construo e de operao outorgadas pela ANP objeto da Seo IX.4.

    Para acompanhamento desses projetos, a ANP publicou a Portaria ANP n 217, de 30 de novembro de 2007, que instituiu um Grupo de Trabalho (GT) composto por tcnicos da Agncia, com vistas anlise e emisso de pareceres e documentos complementares relativos aos projetos. Este GT embasou as decises da Diretoria Colegiada da ANP quanto s outorgas das autorizaes de construo e de operao.

    Por fim, vale lembrar que, apesar do ineditismo caracterstico destes projetos, a primeira experincia brasileira com a comercializao de GNL ocorreu em 2005, com a implementao do Projeto Gemini, desenvolvido pelas empresas White Martins Gases Industriais Ltda., Petrobras e GNL Gemini Comercializao e Logstica de Gs Ltda.

    No Projeto Gemini, cabe Petrobras o fornecimento do gs natural, White Martins a operao da Unidade de Liquefao, de sua propriedade, e GNL Gemini as atividades de distribuio e comercializao de GNL.

    Tal projeto consiste na produo de gs natural liquefeito em uma planta de liquefao situada no municpio de Paulnia/SP, com capacidade de 380 mil m3/dia, e na sua posterior distribuio e comercializao em regies cujas redes de distribuio de gs canalizado so pouco desenvolvidas ou inexistentes. Este empreendimento atende clientes localizados no Distrito Federal e nos Estados de Esprito Santo, Gois, Minas Gerais, Paran, Rio de Janeiro e So Paulo e visa principalmente o mercado de Gs Liquefeito de Petrleo (GLP), caracterizado por contratos de curto prazo e pela ausncia de fidelidade aos fornecedores (ANP, 2005).

    IV.1. Aderncia regulatria

    As normas legais que embasaram os procedimentos para a entrada de GNL no Brasil foram a Portaria ANP n 170/1998 (que ser mais adiante discutida) e a Resoluo ANP n 27/2005, que regulamenta o uso das instalaes de transporte dutovirio de gs natural, mediante remunerao adequada ao transportador.

    De acordo com esta ltima norma, toda capacidade disponvel de transporte para a

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    contratao de Servio de Transporte Firme (STF) em instalaes de transporte ser ofertada e alocada segundo os procedimentos de Concurso Pblico de Alocao de Capacidade (CPAC). O Art. 7 da Resoluo ANP n 27/2005 assim dispe:

    Art. 7. (...)

    1 A Capacidade de Transporte em projetos que no entraram em operao ser objeto de realizao de CPAC, com exceo dos projetos em processo de licenciamento ambiental ou de declarao de utilidade pblica na data da publicao desta Resoluo.

    2 O transportador submeter aprovao da ANP, no prazo de 30 (trinta) dias anteriores divulgao, o regulamento do CPAC, que detalhar os procedimentos de oferta e alocao de capacidade para STF.

    Pargrafo nico. O transportador dever elaborar, e enviar ANP no prazo de 60 (sessenta) dias antes de sua aplicao, os modelos de contrato previstos no caput desse artigo.

    Desse modo, as instalaes de GNL estariam sujeitas ao referido procedimento pblico para oferta e alocao de capacidade firme de transporte de gs natural. No entanto, tendo em vista a projeo de nveis elevados de risco para o sistema eltrico brasileiro no horizonte de anlise de at trs anos e, consequentemente, a necessidade de priorizar o atendimento das termeltricas, foi editada a Resoluo CNPE n 4/2006, conforme comentado anteriormente.

    Esta Resoluo, em seu Art. 1, declarou:

    ... prioritria e emergencial a implementao de Projetos de Gs Natural Liquefeito (GNL), compostos pela importao de gs natural na forma criognica, armazenamento e regaseificao, bem como a infraestrutura necessria, com os objetivos de:

    I - assegurar a disponibilidade de gs natural para o mercado nacional com vistas a priorizar o atendimento das termeltricas;

    II - facilitar o ajuste da oferta de gs natural s caractersticas do mercado nacional, por meio de suprimento flexvel;

    III - mitigar riscos de falha no suprimento de gs natural em razo de anormalidades;

    IV - diversificar as fontes fornecedoras de gs natural importado; e

    V - reduzir o prazo para implementao de projetos de suprimento de gs natural. (grifo dos autores)

    Diante, portanto, da necessidade de flexibilizar a oferta e garantir o suprimento de gs natural s termeltricas, em virtude do risco de dficit de energia da ordem de 20% (bem acima do patamar de 5% considerado aceitvel pelo ONS), a urgncia de se iniciar a implantao dos Projetos de GNL foi considerada decisiva para a no realizao de CPAC neste caso.

    Outro aspecto importante a destacar refere-se obrigatoriedade de acesso aos dutos de transporte e terminais martimos existentes ou a serem construdos, estabelecido pelo Art.

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    58 da Lei n 9.478/1997 (Lei do Petrleo). Esta permisso de acesso, mediante remunerao adequada ao titular das instalaes, no ser aplicvel s instalaes de GNL, uma vez que a Lei n 11.909/2009 (Lei do Gs) a desobrigou.

    A Lei do Gs alterou o Art. 58 da Lei do Petrleo da seguinte forma:

    Art. 58. Ser facultado a qualquer interessado o uso dos dutos de transporte e dos terminais martimos existentes ou a serem construdos, com exceo dos terminais de Gs Natural Liquefeito - GNL, mediante remunerao adequada ao titular das instalaes ou da capacidade de movimentao de gs natural, nos termos da lei e da regulamentao aplicvel. (grifo dos autores)

    E, ainda, o Art. 45 da Lei do Gs assim determina:

    Art. 45. Os gasodutos de escoamento da produo, as instalaes de tratamento ou processamento de gs natural, assim como os terminais de liquefao e regaseificao, no esto obrigados a permitir o acesso de terceiros. (grifo dos autores)

    Por fim, merece registro que o CPAC ser substitudo por chamada pblica: procedimento, com garantia de acesso a todos os interessados, que tem por finalidade a contratao de capacidade de transporte em dutos existentes, a serem construdos ou ampliados (Lei n 11.909/2009, Art. 2, VII).

    A chamada pblica para contratao de capacidade de transporte visa identificar os potenciais carregadores e dimensionar a demanda efetiva e preceder a outorga de autorizao ou a licitao para a concesso da atividade de transporte.

    Esta chamada, a exemplo do CPAC, tambm ser promovida pela ANP, conforme diretrizes do Ministrio de Minas e Energia (Lei n 11.909/2009, Art. 6) e, alm disso, ao final de seu processo, sero assinados termos de compromisso entre a ANP e os carregadores para a compra da capacidade solicitada (Lei n 11.909/2009, Art. 5, 3).

    Tal dispositivo, contudo, no se aplicar s instalaes de GNL, pois, como mencionado, estas no esto sujeitas ao livre acesso.

    IV.2. Importaes de GNL: histrico das autorizaes na ANP

    Em meados da dcada de 90, foram realizados os primeiros estudos para a implantao de projetos visando importao de GNL. Estas primeiras avaliaes, conduzidas pela Petrobras e pela Shell Brasil, estavam associadas ao suprimento de gs natural para a Regio Nordeste, com foco no atendimento da demanda proveniente de novos projetos de gerao termeltrica a gs.

    Em novembro de 1998, as duas empresas firmaram um acordo com o propsito de avaliar tcnica e economicamente a implantao de um terminal para recebimento de GNL no Porto de Suape (PE), com previso de incio da operao no ano de 2004.

    Com a justificativa de viabilizar o andamento das negociaes com o fornecedor do produto, a Petrobras e a Shell Brasil solicitaram ANP, nos termos da Portaria n 43, de 15 de abril de

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    1998, a outorga de autorizaes, para ambas as empresas, para o exerccio da atividade de importao de GNL, da Nigria. As duas solicitaes somadas totalizavam o volume de at 7,6 milhes de m/dia de gs natural, ou at 2 milhes de toneladas/ano de GNL.

    Neste sentido, a ANP concedeu Petrobras e Shell Brasil, respectivamente, as Autorizaes n 32 e 33, de 26/3/1999, publicadas no Dirio Oficial da Unio (DOU) de 29/3/1999. Todavia, em virtude da desistncia das empresas na implantao do terminal de GNL de Suape, o prazo de validade destas autorizaes expiraram aps um ano de vigncia, no havendo pedidos de renovao das mesmas por parte das empresas interessadas.

    Somente em janeiro de 2008, foram retomadas as tratativas com o rgo regulador para dar incio atividade de importao de GNL no Pas. Tal iniciativa coube Petrobras, mediante a apresentao ANP do requerimento com a solicitao de autorizao para importar at 33.300 m/dia de GNL, ou 20 milhes m/dia de gs natural, a ser adquirido no mercado spot, sem um fornecedor previamente definido, que poder variar de uma carga de produto para outra.

    Em julho de 2008, aps o envio da documentao necessria para o atendimento da regulamentao vigente, a ANP autorizou a Petrobras a exercer a atividade de importao de GNL, nos termos da Portaria n 43/1998. De acordo com a Autorizao n 257, de 8/7/2008, publicada no DOU de 9/7/2008, o GNL ser adquirido pela Petrobras no mercado spot e ter como finalidade o atendimento da demanda para gerao termeltrica e, eventualmente, do suprimento das distribuidoras de gs canalizado. O GNL ser transportado por meio de navios metaneiros at os locais de entrega nos Terminais Martimos da Baa de Guanabara (RJ) e do Porto de Pecm (CE), onde ocorrer a sua regaseificao em estaes mveis e flexveis instaladas em navios de transporte de GNL devidamente adaptados para esta finalidade.

    Vale ressaltar que a Portaria n 43/1998 no estabeleceu diferenciao de tratamento entre a importao de gs natural por gasoduto e a importao de GNL. Desta forma, alguns dos requisitos estabelecidos neste regulamento esto defasados para o mercado de GNL, sobretudo no que se refere tendncia mundial de crescimento da relevncia do mercado spot para a aquisio do produto.

    Assim, foi acordado entre os representantes da ANP e da Petrobras que, para atendimento do Art. 3, 1, da Portaria ANP n 43/1998, seriam apresentados ANP os Master Sales Agreements (MSA) assinados com os potenciais fornecedores do GNL, em substituio aos Contratos de Compra e Venda de gs natural exigidos pelo regulamento em tela, os quais no so compatveis com a forma de contratao no mercado spot de GNL.

    O MSA um tipo de pr-contrato, no vinculante, pelo qual se estabelecem as clusulas no comerciais da compra e venda de GNL. No ato de fechamento de um negcio spot, as partes assinam um Confirmation Memorandum (CM), contendo os termos e as condies comerciais especficas daquela negociao, constituindo o par MSA/CM um contrato vinculante.

    Por esta razo, e tendo em vista que a ANP , tambm, o rgo responsvel pela anuncia das licenas de importao de gs natural no Sistema Integrado de Comrcio Exterior (Siscomex), a ANP poder solicitar a apresentao do CM, ou de outros documentos e informaes, sempre que houver questionamentos sobre os dados declarados nas licenas de importao de GNL,

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    previamente ao seu deferimento pela ANP, resguardado o carter confidencial das clusulas de cunho comercial apresentadas ao rgo regulador.

    Foi com base nestas premissas que se procedeu outorga da Autorizao n 257, de 8/7/2008, publicada no DOU de 9/7/2008. Para tanto, a Petrobras apresentou ANP a cpia do modelo de MSA a ser celebrado com os seus potenciais fornecedores, para a contratao no mercado spot de GNL, bem como a cpia autenticada do MSA celebrado com a Total Gas & Power Limited, datado de 19 de outubro de 2007, e intitulado Master Sale and Purchase Agreement for Spot LNG. Foi acordado entre os representantes da ANP e da Petrobras que, para a outorga desta autorizao, no seriam exigidos os instrumentos contratuais celebrados com todos os potenciais fornecedores, porm, estes documentos podero ser solicitados a qualquer tempo pela ANP.

    Alm disso, para a outorga da autorizao, a Petrobras atestou que o GNL a ser importado atenderia as especificaes tcnicas contidas na Resoluo ANP n 16, de 17/6/2008.

    A Petrobras iniciou a importao de GNL no ms de novembro de 2008, com a chegada do primeiro navio metaneiro no Terminal de Pecm (CE), conforme mostra o Quadro IV.1 e a Figura IV.1. Os dados foram coletados a partir dos relatrios mensais de atividade, enviados pela Petrobras nos termos do Art. 6 da Portaria n 43/1998.

    Todas as cargas importadas de GNL at a presente data eram procedentes de Trinidad e Tobago. A ANP concedeu a anuncia prvia para cada uma destas cargas mediante o deferimento das respectivas Licenas de Importao no Siscomex.

    No Quadro IV.1, a coluna boil-off corresponde perda da carga do navio nas etapas de transporte, transbordo e armazenamento. De acordo com os dados fornecidos pela Petrobras, as perdas mdias so de 0,2% ao dia na viagem do navio metaneiro, de at 1,5% ao dia no transbordo e de 0,15% ao dia durante o armazenamento (navio ancorado). O boil-off da carga de GNL importada no ms de novembro de 2008 foi de cerca de 24% do total importado, devido ao longo tempo de espera do navio no Terminal de Pecm (CE).

    Quadro IV.1 - Quantidades de gs natural importado via GNL pela Petrobras (Fonte: ANP/Petrobras).

    Pas de origem Destino Volume medido (m GNL)

    Volume equivalente (m Gs)

    Energia disponvel (milhes BTU)

    boil-off consumido (milhes BTU)

    nov/08 Trinidad e Tobago Pecm (CE) 57.872,10 34.723.262,40 1.278.717,00 395.558,00

    dez/08 - - - - - -

    jan/09 - - - - - -

    fev/09 - - - - - -

    mar/09 Trinidad e Tobago Baa de Guanabara (RJ) 52.000,00 31.200.000,00 1.172.315,00 -

    abr/09 Trinidad e Tobago Pecm (CE) 50.538,46 30.323.078,40 1.140.155,00 279.611,00*

    mai/09 - - - - - -

    Nota :* De acordo com a Petrobras, o boil-off consumido em maro de 2009, desde a sada do navio de Trinidad e Tobago, foi lanado na ltima descarga deste navio em Pecm (CE), em abril de 2009.

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    Importao de GNL pela Petrobras (energia disponvel e perdas)

    Boil-oconsumido(milhesde BTU)

    Energia(milhesde BTU)

    nov / 2008 dez / 2008 jan / 2009 fev / 2009 mar / 2009 abr / 2009

    1.800.000,00

    1.600.000,00

    1.400.000,00

    1.200.000,00

    1.000.000,00

    800.000,00

    600.000,00

    400.000,00

    200.000,00

    Figura IV.1 - Evoluo da importao de GNL no Brasil de novembro de 2008 a abril de 2009 (Fonte: ANP/PETROBRAS).

    Por fim, cabe ressaltar que a Lei n 11.909/2009 transferiu para o Ministrio de Minas e Energia (MME) a atribuio de outorgar as autorizaes para o exerccio das atividades de importao e exportao de gs natural. O MME observar as diretrizes estabelecidas pelo CNPE.

    A ANP aguarda a publicao do decreto que regulamentar a referida lei, para que se definam suas novas responsabilidades neste elo da cadeia do gs natural. Supe-se que a ANP passe a instruir os processos de requerimento de autorizao ao MME, cabendo-lhe ainda a fiscalizao, o acompanhamento e a prtica de todos os atos acessrios necessrios regulao desta atividade.

    V. PANORAMA ATUAL DO MERCADO MUNDIAL DE GNL

    O mercado de GNL , em todo o mundo, predominantemente regional, ou seja, os pases exportadores se dedicam ao atendimento dos pases importadores mais prximos, apesar das recentes redues de custos nesta modalidade de transporte.

    Inicialmente, a maior procura por GNL nos EUA, bem como no Reino Unido, beneficiou os produtores da frica Ocidental e do Caribe, mas logo percebeu-se que o incremento da demanda na Bacia do Atlntico superior oferta dos produtores locais deveria ser suprido por projetos externos, em especial aqueles do Oriente Mdio, destacando-se o Qatar (HUITRIC, 2007). Em grande medida, questes de custo relativas entrega de GNL a longas distncias perderam parte de sua relevncia com a recente introduo de maiores trains e navios transportadores, permitindo este movimento (HUITRIC, 2007).

    Entre 2000 e 2005, todos os projetos implementados no Oriente Mdio tiveram como objetivo o atendimento do mercado da Bacia do Atlntico (HUITRIC, 2007). Por sua posio

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    estratgica, o Oriente Mdio tornou-se o swing supplier 10 ideal no atual panorama do mercado, com destaque para o Qatar, podendo entregar GNL tanto a Oeste quanto a Leste do Canal de Suez. Persistem, porm, restries de cunho tcnico s diferentes especificaes do GNL a serem entregues e s capacidades dos terminais de regaseificao de suportar navios transportadores maiores (HUITRIC, 2007). Contudo, recentemente vm sendo desenvolvidos mecanismos para encontrar solues tcnicas para estes problemas iniciais.

    Como reflexo do aumento das vendas para os mercados da Bacia do Atlntico, as transaes de curto prazo passaram a ter uma participao consideravelmente maior nas vendas de GNL ao longo dos ltimos anos.

    A Tabela V.1 apresenta os volumes efetivamente transacionados entre as regies exportadoras e importadoras em 2008, medidos em bilhes de metros cbicos. Como se v, a regio da sia-Pacfico continua demandando mais da metade do volume de GNL movimentado, ao passo que a Europa ocupa a segunda posio, com a Espanha e a Frana representando aproximadamente trs quartos desta demanda, e o Mxico, responsvel pelo volume restante. J a Amrica do Norte, representada predominantemente pelo volume demandado pelos EUA (73,4%), respondeu por 6,0% da demanda mundial de GNL em 2008. No atual contexto, as demandas da Amrica do Sul e Central (Argentina, Repblica Dominicana e Porto Rico) revelam-se apenas marginal, representando menos de 0,7% da demanda global. Merece destaque a entrada da Argentina no quadro dos pases importadores, com a entrada em operao do terminal de GNL de Baa Blanca.

    Tabela V.1 - Importaes e exportaes de GNL por regio, no ano de 2008, em bilhes de metros cbicos (BP, 2009).

    Regies importadorasRegies exportadoras

    Total das importaesAmrica

    do NorteAmricas do Sul

    e CentralOriente Mdio Europa frica

    sia- Pacfico

    Amrica do Norte - 13,38 - 0,52 10,09 - 23,99

    Amricas do Sul e Central - 1,10 - - - - 1,10

    Europa - 2,67 0,14 7,59 42,94 - 53,34

    sia Pacfico 1,18 1,00 - 50,09 8,59 87,12 147,98

    Total das exportaes 1,18 18,15 0,14 58,20 61,62 87,12 226,41

    Nota-se, pelos nmeros acima, que a regio da sia-Pacfico figura ainda como a maior exportadora de GNL, reforando o carter regional deste mercado. Em segundo e terceiro lugares, encontram-se, respectivamente, a frica, para o atendimento da demanda europeia, especialmente da Espanha e da Frana, e o Oriente Mdio, para o atendimento dos contratos de fornecimento firmados com o Japo e a Coreia do Sul. As exportaes realizadas pelas Amricas do Sul e Central so realizadas exclusivamente por Trinidad e Tobago, com destino, sobretudo, aos mercados norte-americano e espanhol. J os negcios entre a Amrica do Norte e a sia referem-se s exportaes da Pennsula do Kenai, no Alaska, para o Japo, que tiveram incio em 1969.

    10 Os pases denominados swing suppliers so aqueles aptos a abastecer distintos mercados, com diferentes modalidades contratuais, sendo capazes de realizar arbitragens internacionais de preos e de atender demandas imprevistas, beneficiando-se, assim, do aumento recente na volatilidade dos preos do GNL.

  • 27

    A distribuio da demanda atual e futura por GNL est na Tabela V.2, abaixo, que apresenta o status dos terminais de regaseificao classificados em: operacionais, em construo e em estgio de aprovao. De acordo com os dados apresentados, verifica-se que, atualmente, esto em operao 64 terminais de regaseificao em 22 pases. Japo, Estados Unidos, Espanha e Coreia do Sul detm aproximadamente 67% das instalaes. Considerando as instalaes em operao e em construo no mundo, pode-se chegar a 83 terminais de regaseificao de GNL em um horizonte prximo.

    Tabela V.2 - Localizao e situao atual das instalaes de regaseificao (ZEUS, 2009a).

    PasStatus das plantas de regaseificao

    Total PasStatus das plantas de regaseificao

    TotalOperacional Em construo Planejada Operacional

    Em construo Planejada

    Japo 26 3 2 31 Portugal 1 1Estados Unidos 8 2 35 45 Repblica Dominicana 1 1Espanha 5 2 1 8 Tailndia 1 1Coreia do Sul 4 4 Filipinas 3 3Reino Unido 3 1 4 8 Holanda 3 3Itlia 2 11 13 Indonsia 2 2ndia 2 1 7 10 Paquisto 2 2Frana 2 1 2 5 Sucia 2 2Mxico 2 6 8 Alemanha 1 1BRASIL 2 1 3 frica do Sul 1 1Turquia 2 2 Bahamas 1 1China 1 2 15 18 Chipre 1 1Formosa 1 1 2 Crocia 1 1Chile 1 1 2 El Salvador 1 1Canad 1 6 7 Emirados rabes 1 1Argentina 1 1 Irlanda 1 1Blgica 1 1 Jamaica 1 1Grcia 1 1 Nova Zelndia 1 1Coveite 1 1 Polnia 1 1Porto Rico 1 1 Singapura 1 1

    TOTAL 64 19 45 198

    Nota: Os projetos de instalaes de regaseificao de GNL no Brasil sero objeto de uma seo prpria (Captulo VIII) neste estudo.

    Merece destaque, ainda, a quantidade de projetos de terminais em construo e/ou aprovados na China e nos Estados Unidos, independentemente de suas capacidades nominais, o que revela a inteno de ambos os pases de diversificar suas fontes energticas, principalmente por questes de segurana do abastecimento.

    importante notar que a maior parte das novas instalaes de regaseificao em construo e planejadas localizam-se na Bacia do Atlntico (excluda a Europa Continental), totalizando 56 projetos situados no Brasil, Jamaica, Mxico, Estados Unidos, Canad e Reino Unido, elevando, assim, o nmero total para 72 instalaes nestes pases.

    O incremento do nmero de terminais de regaseificao na Bacia do Atlntico intensifica a tendncia flexibilizao do mercado mundial de GNL, aumentando com isso sua liquidez e favorecendo, dessa forma, a realizao de negcios com prazos cada vez menores (mercado spot e contratos com prazos mximos de at cinco anos), tais como os observados, principalmente, nos EUA e no Reino Unido.

    importante notar que ndia e China esto em processo de ampliao imediata de sua capacidade de importao, aumentando ainda mais a participao da regio da sia-

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    Pacfico no mercado consumidor de GNL. Ambos os pases podem ser considerados grandes mercados potenciais, com destaque para a China que, seguida pelos Estados Unidos, um dos pases com o maior nmero de projetos de terminais de regaseificao em construo e aprovados, como destacado anteriormente.

    Em resposta ao aumento da demanda, percebe-se tambm, pelo lado da oferta, um crescimento no nmero de plantas de liquefao de gs natural atualmente em construo e em planejamento. A Tabela V.3 apresenta a localizao das atuais plantas em operao (e eventuais ampliaes de capacidade), das plantas em construo e de projetos planejados no mundo.

    Com base nos valores apresentados, supondo que todos os projetos em planejamento sero levados a cabo e que se somaro s plantas j em construo, o nmero de unidades de liquefao (trains) tender a dobrar no mundo em um horizonte de mdio prazo (2015), passando das atuais 88 para 178 instalaes. A curto prazo pode-se afirmar que dois novos pases passaro em breve ao grupo restrito de exportadores: Imen e Angola, pois suas primeiras plantas de liquefao esto em fase de construo. J os pases que pretendem ingressar neste mercado como exportadores, mas com plantas ainda em fase de planejamento, so: Ir, Papua Nova Guin, Venezuela, Canad, Mauritnia, Peru e Turquia.

    Uma informao relevante diz respeito ao nmero de projetos de ampliao de capacidade em curso ou planejada pelos maiores exportadores atuais de GNL: Catar, Indonsia, Arglia, Malsia, Nigria, Trinidad e Tobago, Austrlia e Egito, pases que juntos foram responsveis, em 2008, por cerca de 83,9% das exportaes mundiais. Em especial, merece destaque o esforo de ampliao de capacidade dos trs pases localizados no continente africano (Arglia, Nigria e Egito) e do Catar, que possuem a considervel vantagem competitiva de poderem atender as distintas demandas dos maiores mercados existentes: sia-Pacfico, Europa e Bacia do Atlntico. Estes recentes movimentos, somados aos anteriormente mencionados, atinentes demanda, reforam a tendncia de aumento da flexibilizao do mercado de GNL e de uma eventual convergncia no processo de formao de preos.

    Tabela V.3 - Localizao e situao atual das instalaes de liquefao (ZEUS, 2009b).

    PasStatus das plantas de liquefao *

    Total PasStatus das plantas de liquefao *

    TotalOperacional Em construo Planejada Operacional

    Em construo Planejada

    Indonsia 13 1 5 19 Guin Equatorial 1 1 2Catar 11 4 15 Noruega 1 1 2Malsia 8 1 9 Estados Unidos 1 1 2Austrlia 6 1 27 34 BRASIL 1 1Brunei 5 5 Imem 2 2Trinidad e Tobago 4 2 6 Angola 1 1 2Egito 3 3 6 Ir 9 9Abu Dabi 3 2 5 Papua Nova Guin 4 4Lbia 3 3 Venezuela 2 2Om 3 3 Canad 1 1Arglia 18 2 1 21 Mauritnia 1 1Rssia 2 3 5 Peru 1 1Nigria 6 11 17 Turquia 1 1

    TOTAL 68 11 79 178

    * Mdulos independentes de produo de GNL (trains)

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    Curiosamente, o nico pas que figura, atualmente, tanto na lista de pases importadores quanto na de pases exportadores so os Estados Unidos, que possuem esta caracterstica em funo dos antigos compromissos contratuais de fornecimento ao Japo e devido sua grande disperso territorial.

    Para concluir a presente seo, a Figura V.1 apresenta os maiores fluxos atuais de gs natural no mundo, tanto por meio de dutos de transporte quanto por GNL. No atual contexto, os pases situados no Oriente Mdio e na frica, em consequncia de sua privilegiada condio geogrfica, aparentam ser os nicos capazes de atender, simultaneamente, s demandas das duas principais bacias, ora atendendo a contratos de longo prazo firmados com os consumidores na Bacia do Pacfico, ora atendendo ao recm-redescoberto mercado da Bacia do Atlntico, no qual predominam as modalidades de negociao vista e de curto prazo.

    O Brasil encontra-se na rea de influncia dos mercados norte-americano e europeu, compartilhando, assim, das mesmas opes de fornecimento daqueles, em especial, da produo advinda da frica Ocidental (Nigria e Arglia) e de Trinidad e Tobago.

    Figura V.1 - Maiores fluxos de gs natural no mundo (elaborao prpria, a partir de BG GROUP, 2007).

    VI. EXPERINCIA INTERNACIONAL

    Conforme apresentado no Captulo I, como parte de seu aprendizado, o Grupo Tcnico da ANP realizou misses internacionais aos Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, que incluram visitas a rgos governamentais, plantas de GNL, projetistas e instituies normativas. A seguir, o detalhamento destas visitas.

    VI.1. Estados Unidos

    Nos EUA, os projetos de GNL esto submetidos a leis e normas infralegais, estas ltimas estabelecidas pela Federal Energy Regulatory Commission (Ferc), pela US Coast Guard

  • 30

    (USGC, Guarda Costeira Americana), pelo US Army Corps of Engineers e pelos estados norte-americanos. O Energy Policy Act of 2005 (Lei de Poltica Energtica de 2005) estabeleceu a Ferc como autoridade para a anlise de projetos de terminais de GNL.

    importante ressaltar que, mesmo aps a aprovao do projeto pela Ferc, necessrio ainda que o agente econmico obtenha autorizaes de outras instituies estaduais para construir e operar suas instalaes observando, por exemplo, as Leis do Ar e das guas Limpas (Clean Air Act e Clear Water Act), cuja fiscalizao cabe Environmental Protection Agency (EPA), a agncia ambiental norte-americana.

    Para as instalaes de GNL, h a diviso de atribuies entre entes reguladores de acordo com a localizao do terminal. Se projetado ou construdo em costa (shore-side LNG terminals), cabe Ferc a atuao como regulador principal, enquanto que, quando planejado em alto- mar (LNG deepwater ports), esta funo cabe USCG. A autoridade da USCG para terminais em guas profundas foi estabelecida pelo Deepwater Port Act, de 1974, pelo Deepwater Port Modenization Act, de 1996, e pelo Maritime Transportation Security Act (MTSA), de 2002.

    Ambos os rgos, Ferc e USGC, possuem atribuies semelhantes s de rgos pblicos ambientais brasileiros, sendo responsveis pela emisso de permisses e licenas ambientais. A Ferc e a USCG articulam-se entre si e com o Department of Transportation (DOT), rgo que possui, dentre outras atribuies, a regulao da malha dutoviria dos EUA (inclusive aquela relacionada com as instalaes de GNL), com o objetivo de garantir a segurana das instalaes. Essas instituies acompanham as etapas de construo dos terminais de GNL. A Figura VI.1, a seguir, apresenta, de forma esquemtica, a diviso de atribuies entre os principais entes federais na regulao das instalaes de GNL.

    Tanque Navio

    Primeiravlvula

    Jurisdio exclusiva da FERC para autorizaode projetos de GNL (EPA 2005, Section 3 of the NGA).*

    FERC - Agncia lider para Avaliao de Impactos Ambientais (EIS)

    USCG - Segurana (Safety)

    USCG - Segurana patrimonial (Security)

    * Emenda feita pelo Energy Policy Act - EPA de 2005 Seo 3 do Natural Gas Act - NGA.

    DOT - Segurana (Safety)

    Regaseicao

    Duto

    Figura VI.1 - Jurisdio de Ferc, USCG e DOT para instalaes de GNL (elaborao prpria, a partir de ZERBY, 2009).

    Vale destacar, conforme demonstra a figura acima, que a Ferc concentra seus esforos em toda a cadeia sob sua jurisdio para garantir a adequao ambiental dos projetos (Environmental Impact Statement). A USCG, por sua vez, responsvel pela segurana patrimonial (security, envolve, por exemplo, procedimentos para preveno de atos terroristas) tanto de terminais

  • 31

    offshore como de terminais costeiros. A Figura VI.2 a seguir apresenta os principais projetos de terminais de GNL existentes nos EUA e aprovados pela Ferc em sua jurisdio costeira, enquanto que a Tabela VI.1 elenca suas principais caractersticas.

    Figura VI.2 - Principais projetos de terminais de GNL existentes nos EUA e aprovados pela Ferc, em operao ou em implementao (elaborao prpria, a partir de FERC, 2009b).

    Tabela VI.1 Principais projetos de GNL nos EUA (adaptado de GDF Suez; Ferc; Energy Current; El Paso; DOE, 2008; Ecoeletrica; Cheniere, 2008; Panhandle).

    Terminal Localidade (UF) Ano de construo / operaoCapacidades

    Tancagem (milhes de m) Regaseificao

    Distrigas of Massachusets LLC. Everett (Massachussets) 1971 96,28 28,32 milhes de m/d

    Dominion Cove Point LNG Calvert County (Maryland) 1972 413,4 22,65 milhes de m/d

    Elba Island LNG (El Paso) Elba Island (Georgia) 1972 201(a) 33,98 milhes de m/d (a)

    Kenai LNG Export TerminalCook Inlet Basin Area (Alasca)

    1976 No informado2,78 bilhes de m entre

    01/04/2009 e 31/03/2011 (b)

    Guayanilla Bay LNGGuayanilla Bay, Peuelas, (Porto Rico)

    1996-2000 (c) 96Cogerao eltrica de 461 megawatt

    Free Port LNG (d) Quintana Island (Texas) 2008 189,7 (d) 42,47 milhes de m/d (d)

    Sabine Pass (d) Cameron Parish (Louisiania) 2008 (d) 286 (d) 39,6 milhes de m/d (d)

    Trunkline LNG Company, LLC Lake Charles (Louisiania) 1977 254,8 50,97 bilhes de ft/d

    (a) Capacidades no final do projeto de expanso denominado Elba III Project, em curso.(b) Volume de exportao de gs autorizado pelo Department of Energy DOE.(c) Em 1996, a Ferc autorizou a construo do terminal e, em 2000, o DOE autorizou a importao de GNL.(d) De acordo com a Cheniere, estes terminais ainda se encontram em construo/expanso. No entanto, de acordo com a Ferc, receberam a primeira

    carga de GNL em abril de 2008.

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    Vale ressaltar que as aprovaes da Comisso dos projetos de GNL no obrigam sua execuo. A Ferc aprova em um nico ato (Order Issuing Certificate) a construo, operao e manuteno de um Terminal de GNL.

    Nos EUA o mercado que define se uma planta ser construda ou no, cabendo aos rgos reguladores a preocupao e adequao do projeto pretendido garantia da proteo ambiental, da segurana industrial e do interesse pblico. A Figura VI.3 a seguir indica todos os projetos de GNL aprovados na Amrica do Norte. Dos 23 projetos aprovados no territrio dos EUA (trs dos quais sob a jurisdio da US Coast Guard), apenas sete se encontram efetivamente em obras de construo ou expanso.

    Figura VI.3 - Projetos de GNL aprovados na Amrica do Norte (elaborao prpria, a partir de FERC, 2009b).

    Enquanto Ferc e USCG, dentre outras instituies pblicas, so responsveis pela aprovao da locao, construo e operao de terminais de GNL, cabe ao Department of Energy (DOE) a regulao da importao e exportao de petrleo e gs natural, inclusive liquefeito. Esta a atribuio do Office of Oil and Gas Global Security and Supply, Office of Natural Gas Regulatory Activities, departamento do DOE que tambm identifica oportunidades para a indstria privada dos EUA, desenvolve programas e implementa polticas com o objetivo de aumentar a competitividade internacional da indstria de gs natural norte-americana (DOE, 2009).

    Finalmente, vale ressaltar que, como forma de estmulo ao setor de GNL, no existe ainda a obrigatoriedade do livre acesso a novas instalaes. O Energy Policy Act de 2005, que determinou a jurisdio da Ferc sobre os projetos de GNL, estabeleceu tambm que os terminais de GNL no esto sujeitos a livre acesso at 2015, como forma de estimular a implantao e o financiamento dos projetos.

    J no que tange segurana das instalaes de GNL, os principais padres encontram-se relacionados no Ttulo 49, Captulo I, Parte 193, do Code of Federal Regulations (Cdigo Federal de Regulamentaes) norte-americano.

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    Alm dos terminais de GNL citados at aqui, existem instalaes terrestres geralmente sob a jurisdio de rgos estaduais. As instalaes de peakshaving da Filadlfia (Pensilvnia), que armazenam e regaseificam gs natural liquefeito para o perodo de maior consumo (inverno) e as instalaes de liquefao e distribuio, por meio de caminhes-tanque, de Houston (Texas), so exemplos desses tipos de planta.

    VI.2. Reino Unido

    O Reino Unido um caso interessante no mercado mundial de gs, por ter passado recentemente em 2004 da condio de supridor para a de importador do energtico devido queda de sua produo aliada ao aumento do consumo, em especial para a gerao eltrica. Na Gr-Bretanha, desde 1996 j existe separao (unbundling) entre as figuras do carregador/produtor e do transportador de gs, com acesso sem discriminao a gasodutos (open access).

    O Department for Business, Enterprise, and Regulatory Reform (Berr) o rgo responsvel pela elaborao das reformas e ajustes nos marcos regulatrios, tendo ainda a atribuio de regular a indstria de leo e gs e de energia na plataforma continental britnica, uma vez que o Office of the Gas and Electricity Markets (OFGEM) tem jurisdio sobre as instalaes onshore.

    Em 2005, o consumo de gs natural no Reino Unido foi de 103.000 milhes de m3. A produo nacional foi suficiente para atender a 93% do consumo e os restantes 7% foram importados, principalmente, durante o inverno.

    Segundo a Berr, em 2020, o Reino Unido provavelmente importar aproximadamente 80% do gs natural necessrio ao seu abastecimento. Para isso foi adotada uma poltica de importao de gs natural baseada na competio. Em termos de mercado consumidor, o perfil da demanda, por segmento, em 2005, foi aquele mostrado na Figura VI.4.

    Gerao termoeltrica30%

    Uso domstico35%

    Usos comerciale industrial

    35%

    Figura VI.4 - Diviso do consumo em 2005 (BERR, 2008).

    A Figura VI.5, a seguir, mostra um mapa da infraestrutura da indstria de gs natural no Reino Unido.

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    Figura VI.5 - Infraestrutura da indstria de gs natural no Reino Unido (elaborao prpria, a partir de HAVARD, 2007).

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    A partir da Figura VI.5, possvel identificar quatro unidades de GNL em operao ou fase final de construo no Reino Unido e trs planejadas. As instalaes em operao ou em fase final de implantao so, no Pas de Gales, a Dragon LNG (visitada pela misso tcnica da ANP em 2008) e a South Hook, e, na Inglaterra, a Isle of Grain. Existe ainda, na Esccia, o Terminal de Teeside, com configurao similar dos projetos brasileiros de Pecm e da Baa de Guanabara, que atualmente est em operao. Em fase de planejamento, h os terminais de Anglesey (Pas de Gales), Canvey Island (Inglaterra) e Norsea (Esccia).

    Comparada com a dos EUA, a regulao no Reino Unido muito menos prescritiva. Na Amrica, novas tecnologias demoram mais tempo para serem introduzidas do que no Reino Unido, pois nos Estados Unidos a evoluo tecnolgica somente pode ocorrer aps a elaborao, por parte dos rgos reguladores, de normas detalhadas, especficas para a tecnologia a ser introduzida, o que no ocorre no Reino Unido.

    No Reino Unido, a regulao baseada em estudos que consideram a anlise dos riscos de cada projeto. Empresas especializadas quantificam os riscos dos novos projetos, treinam os operadores e estabelecem os procedimentos operacionais e de segurana.

    VI.3. Espanha

    Um dos aspectos mais marcantes da indstria de gs espanhola foi o grande aumento do consumo pelas usinas trmicas na ltima dcada. Em 2006, por exemplo, o setor industrial foi responsvel por 52% do consumo de gs natural, seguido pelo segmento trmico para a gerao eltrica, com 34%. J o segmento domstico comercial demandou 13% do total consumido, enquanto o uso como matria-prima representou apenas 1%. Este acentuado crescimento, aliado inexpressiva produo nacional e s grandes distncias at os produtores de gs natural, torna o pas altamente dependente das importaes de GNL para o abastecimento interno. Para minimizar os riscos inerentes a essa dependncia, a Espanha instituiu a obrigatoriedade da diversificao de fornecedores, atravs do Real Decreto 1716/2004, de 23/7/2004, que tambm determinou o estabelecimento de reservas mnimas de segurana (ESPANHA, 2004).

    As plantas de GNL espanholas cumprem, portanto, um papel crucial para o incremento da flexibilidade do sistema gasfero e para a maior diversificao das fontes de suprimento, conforme dados apresentados pela Figura VI.6.

    % GNL

    % GN

    1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

    100

    90

    80

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    0

    49 44 46 50 55 58 63 64 6569

    31353637424550

    545651

    Figura VI.6 - Proporo da oferta de gs e GNL na Espanha: Evoluo 1997-2006 (CNE, 2007).

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    Esto instaladas seis plantas de regaseificao de gs natural, com capacidade de regaseificar 49 bilhes de m3 de GNL. Ademais, existem duas instalaes de estocagem subterrnea de gs natural, cuja capacidade total de 3.536 mil m3. Tal capacidade, embora considerada insuficiente, tem uma importante funo no equilbrio do mercado e na flexibilidade operacional necessria, devido sazonalidade da demanda, fruto das variaes de temperatura ao longo do ano no continente europeu. A Figura VI.7 apresenta a capacidade de armazenamento e regaseificao das plantas de GNL instaladas na Espanha, presentes neste pas j h 40 anos.

    Figura VI.7 - Instalaes de regaseificao de GNL Espanha (elaborao prpria, a partir de ENAGS, 2007).

    Em relao regulao setorial de gs natural na Espanha, o incio do processo de liberalizao da indstria deu-se em 1998, com a publicao da Directiva 98/30/CE e da Lei 34/1998 de Hidrocarbonetos (Ley de Hidrocarburos). Esta Lei estabeleceu: (a) a introduo da concorrncia na indstria de gs e uma regulao mais aberta; (b) a separao contbil entre as atividades de regaseificao, armazenamento, transporte e distribuio; (c) a separao jurdica entre a atividade de comercializao e as demais atividades reguladas; e (d) o acesso regulado a terceiros interessados em utilizar a infraestrutura.

    Obrigou-se, portanto, a separao de atividades da cadeia e a separao de propriedade da Enags (ainda em andamento), estabeleceram-se as bases para o sistema econmico e de liquidaes e se imps janeiro de 2005 como prazo para o fim das concesses na atividade de distribuio.

    Alm disso, deixou de existir o conceito de subsistema de transporte e criou-se a figura do Gestor Tcnico do Sistema (Empresa Nacional de Gs S/A, Enags). Instalaes de distribuio, transmisso, regaseificao, estocagem subterrnea e estocagem de GNL passam a estar sujeitas ao livre acesso para consumidores elegveis (GLOBAL, 2006).

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    Entre as responsabilidades da Enagas GTS, portanto, est o controle do nvel de garantia de abastecimento, a previso da utilizao das instalaes e das reservas e o controle da confiabilidade do sistema.

    Alm de atuar como a gestora tcnica do sistema, a Enagas cumpre o papel de empresa lder no transporte, regaseificao e armazenamento de gs natural na Espanha: proprietria de aproximadamente 7.600 km de rede de gasodutos de alta presso; trs plantas de regaseificao (Barcelona, Cartagena e Huelva), com capacidade total de 4.050.000 m3/h; e possui capacidade total de armazenamento de 1.287.000 m3 de GNL.

    importante mencionar que o desenvolvimento da regulao gasfera na Espanha seguiu o padro adotado nos demais integrantes da Unio Europeia e buscou harmonizar a legislao nacional tanto existente quanto quela a ser construda por meio das Diretivas da Comunidade Europeia. certo, contudo, a permanncia de especificidades prprias de cada Pas.

    O rgo regulador espanhol do setor de energia a Comisin Nacional de Energa (CNE), inicialmente subordinado ao Ministrio de Economia, atual Ministrio da Indstria, Turismo e Comrcio. A CNE tem como objetivo zelar pela concorrncia efetiva dos sistemas energticos (mercado eltrico, de petrleo e gs natural) e pela objetividade e transparncia de seu funcionamento, em benefcio de todos os agentes envolvidos e dos consumidores. Para o cumprimento de tais objetivos, CNE foram atribudas amplas funes, atuando tambm como um rgo consultivo em matria energtica, tanto da Administrao Geral do Estado como das Comunidades Autnomas (divises administrativas do estado espanhol).

    A CNE participa, junto com representantes do governo, do Gestor Tcnico do Sistema e dos representantes das Comunidades Autnomas, do processo de planejamento da construo de instalaes que possibilitem a expanso da rede gasfera espanhola.

    De acordo com a CNE, os prximos passos da indstria de gs natural devem passar necessariamente por: (a) uma reviso do planejamento; (b) o desenvolvimento dos mercados secundrios de gs natural; (c) a harmonizao com as regras da Diretiva; (d) outros protocolos especficos das Normas de Gesto Tcnica do Sistema (NGTS) e a melhora das mesmas; e (v) o aperfeioamento em termos de transparncia, flexibilidade, liquidez do sistema, na operao e gesto.

    Em relao segurana das instalaes, de acordo com as informaes obtidas na ocasio das visitas tcnicas realizadas aos Terminais de Sagunto e de Barcelona, existem diferentes estudos e avaliaes aplicados a cada uma das etapas de desenvolvimento de um terminal: o projeto, a construo e a operao.

    Na fase de projeto, so realizados estudos prvios de segurana e HAZOP (Hazard and Operability Study, estudo de perigos e operabilidade), modalidade que examina sistematicamente cada segmento de uma instalao, visando identificar todos os possveis desvios das condies normais de operao, relacionando suas causas e suas consequncias. Durante a fase de construo, so rigorosamente observadas normas que regem a instalao dos equipamentos do terminal e os estudos prvios so revisados. Finalmente, a segurana

  • 38

    da operao garantida atravs da elaborao e aplicao de procedimentos.

    O Terminal de Sagunto obedece tambm Directiva Seveso (Real Decreto n 1254/1999), por meio da qual foram aprovadas medidas de controle de riscos inerentes a acidentes graves que envolvam substncias perigosas. Esse decreto estabelece que as empresas que armazenam produtos perigosos devem notificar a autoridade da Comunidade Autnoma em que esto localizadas quanto sua capacidade de armazenamento, classificao do produto armazenado, descrio dos processos tecnolgicos e dos estabelecimentos ao redor da planta, bem como dos elementos capazes de causar um acidente grave ou de agravar suas consequncias.

    O Real Decreto 1254/1999 determina tambm que o estabelecimento deve manter uma Poltica de Preveno de Acidentes Graves, por escrito. Essa poltica deve conter, dentre outros elementos, a adoo sistemtica de procedimentos que identifiquem e avaliem os riscos de acidentes graves e suas consequncias e a adoo e aplicao de procedimentos e instrues para o funcionamento das instalaes, processos, equipamentos e paradas em condies seguras e para a manuteno dessas instalaes.

    Finalmente, durante a visita tcnica teceram-se comentrios sobre a realizao de estudos de risco, que tiveram como base a severidade e a frequncia para diversos cenrios de acidentes, e os estudos nuticos aplicveis planta de Sagunto. Esses estudos tm como principais objetivos: (a) verificar e dimensionar as reas necessrias para navegao e flutuao; (b) estabelecer as condies-limite de operaes nuticas; (c) avaliar a necessidade de rebocadores; e (d) identificar os riscos nuticos. Vale informar ainda que a responsvel pela administrao do porto de Sagunto como um todo a Autoridade Porturia da Comunidade Autnoma de Valncia.

    VII. RISCOS ASSOCIADOS INDSTRIA DE GNL

    O GNL obtido pelo processo de liquefao de gs natural aps tratamento para a remoo de impurezas, tais como gua, nitrognio, dixido de carbono, gs sulfdrico e outros componentes sulfurados. A remoo destes componentes feita antes do processo de liquefao, uma vez que alguns podem congelar no ponto de orvalho do gs natural. A Figura VII.1 mostra as composies mdias do gs natural e do GNL.

    Metano82%

    Metano95%

    GS NATURAL GNL

    Outros18%

    Etano

    Nitrognio

    PropanoCO2ButanoPentano

    Outros5%

    Figura VII.1 - Composio tpica do gs natural e do GNL (adaptado de FOSS, M.M., 2007).

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    VII.1. Riscos inerentes ao GNL

    O GNL estocado apenas sob refrigerao e no sob presso. Correntemente faz-se meno pressurizao do produto, o que implica a avaliao equivocada dos riscos a ele associados. Na verdade, a tecnologia atualmente empregada, conforme mencionado anteriormente, faz uso de armazenamento do produto presso atmosfrica e temperatura de aproximadamente -160oC.

    Os vapores inflamveis, liberados medida que o GNL retorna fase gasosa, s so capazes de criar uma atmosfera explosiva sob condies definidas. Para que os vapores sofram ignio, estes devem estar dentro do limite de inflamabilidade do material, neste caso, uma mistura primordialmente composta por metano. Assim sendo, para que haja a queima, a mistura metano-ar deve conter entre 5% e 15% de metano (Figura VII.2). Misturas mais concentradas em metano (acima de 15%) no sofrem ignio por falta de oxignio, enquanto que aquelas com teor de metano abaixo de 5% no a sofrem por falta de combustvel.

    Mistura muito rica em metanoNO INFLAMVEL

    Teor

    de

    CH4 e

    m m

    istu

    ra c

    om a

    r

    > 15%

    5% - 15%

    < 5%Mistura pobre em metanoNO INFLAMVEL

    LIMITE DE INFLAMABILIDADE

    Figura VII.2 - Limite de inflamabilidade do metano, principal componente do GNL (adaptado de FOSS, M.M., 2007).

    A situao de atmosfera excessivamente rica em material combustvel ocorre no interior de tanques, onde a fase gasosa composta quase que exclusivamente por metano. Nesta situao no h possibilidade de incndios por falta de oxignio. Entretanto, quando h vazamento de GNL em reas ventiladas, os vapores produzidos se misturam com o ar, podendo dar origem a condies adequadas para incndio, caso haja uma fonte externa de ignio. Contudo, os vapores rapidamente se dispersam no ar, reduzindo a concentrao para valores abaixo de 5%, o que, novamente, inviabiliza a possibilidade de fogo. Assim sendo, a maior possibilidade de ignio ocorre em pontos onde h a possibilidade de estagnao ou em vazamentos em reas confinadas.

    Os riscos associados ao GNL decorrem de suas propriedades intrnsecas, ou seja, dos seus vapores inflamveis, da baixa temperatura e da possibilidade de asfixia em vazamentos. Quanto aos possveis riscos, tm-se (FOSS, M.M., 2003; FLYNN, T.M., 2005):

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    Exploso: Este f