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  • XXIII ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS Caxambu, MG, 19 a 23 de outubro de 1999

    GT SINDICALISMO E POLTICA

    Comunicao de Pesquisa

    OS VIGILANTES E AS TRANSFORMAES NO MUNDO DO TRABALHO

    Snia Izabel Wawrzyniak (UFPR)

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    Os vigilantes e as transformaes no mundo do trabalho Snia Izabel Wawrzyniak

    RESUMO Nas ltimas duas dcadas, o mundo do trabalho est passando por grandes transformaes, principalmente, decorrentes das inovaes tecnolgicas e organizacionais. Dentro desta perspectiva este estudo pretende contextualizar a dinmica da categoria profissional dos vigilantes, empregados em empresas de segurana, frente a estas transformaes, destacando o aumento do setor de servios e o processo acelerado de terceirizao, o que permite visualizar as mudanas que geram um novo perfil da categoria. E, em decorrncia investigar a atuao de como o Sindicato (estes dividido em 7 Sindicatos com bases territoriais distintas no Estado do Paran, mas que encaminham as suas reivindicaes de forma conjunta atravs da Federao de Trabalhadores), com a sua estrutura oficial responde as novas exigncias do capital, entre elas a reduo dos postos de servios, o processo de terceirizao, a exigncia de qualificao dos trabalhadores e a tentativa de evitar o desemprego. Esta discusso permite compreender a individualizao do trabalhador e a organizao sindical dentro do processo produtivo, sendo assim, contribui para ampliar o conhecimento das transformaes sociais a partir da anlise das novas relaes de trabalho e do sindicalismo.

    Sociloga, Mestranda do Programa de Ps-graduao em Sociologia da Universidade Federal do Paran UFPR.

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    Os vigilantes e as transformaes no mundo do trabalho Snia Izabel Wawrzyniak

    O mundo em transformao

    O mundo do trabalho est passando por inmeras transformaes, nas ltimas duas

    dcadas, decorrentes das inovaes tecnolgicas e organizacionais, exigncias do atual

    processo de acumulao do capital. Estas mudanas esto se processando em escala

    mundial, indo da expanso material para a expanso financeira intensificando as condies

    do capitalismo. Para atender estas exigncias, inmeras categorias profissionais tm seus

    perfis redesenhados, exigindo uma atuao diferenciada do sindicalismo.

    As mudanas que vem ocorrendo, nas prticas culturais e poltico-econmicas,

    principalmente a partir da dcada de 70, esto diretamente ligadas s dificuldades

    econmicas e sociais, desencadeadas pela crise que ocorreu com o Estado burgus do tipo

    welfare, caracterstico do processo de acumulao fordista e de seu crescimento

    sustentado (Braga,1995). Isto demonstra uma confrontao entre as noes bsicas da

    acumulao capitalista e as emergentes formas de dominao social integradas prtica

    ocupacional de algumas categorias entre as quais a dos vigilantes. O fordismo vai alm de

    um modo de produo, pois, se por um lado, h o aumento da produtividade, por outro os

    Sociloga, Mestranda do Programa de Ps-graduao em Sociologia da Universidade Federal do Paran UFPR.

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    trabalhadores tm o seu poder aquisitivo elevado, portanto, h uma melhora nas condies

    de vida constituindo-se, assim, um modelo de desenvolvimento legitimado pela sociedade

    contempornea.

    Este modelo comea a sofrer os efeitos da crise do fordismo na medida em que o

    modo de sua estruturao no consegue conter as contradies existentes dentro do prprio

    capitalismo, impedindo a existncia de uma certa mobilidade na acumulao. Na tentativa

    de superar esta crise e aumentar o lucro abandona-se a rigidez adotada na era industrial

    fordista para esquemas mais flexveis, criando-se novas formas organizativas e tecnolgicas

    do trabalho. O que em um primeiro momento serviria de estratgia de sobrevivncia do

    modelo fordista mudanas tecnolgicas, disperso geogrfica -, torna-se, hoje, o embrio

    de uma forma renovada manuteno do capital.

    A transio do fordismo para a acumulao flexvel acarreta uma nova organizao

    do trabalho, os princpios do gerenciamento cientfico proposto por Taylor a diviso ntida

    entre as tarefas elementares comeam a ceder espao s especializaes. H, pois o

    surgimento de novos setores de produo, fornecimento de servios financeiros, novos

    mercados, inovaes tecnolgicas e organizacionais e o aumento do setor de servios.

    Distingue-se a acumulao flexvel do modelo taylorista pela capacidade de superar a

    rigidez do sistema fordista atravs da produo em pequenos lotes, da subcontratao e

    atender a uma gama mais ampla de necessidades do mercado, incluindo as rapidamente

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    cambiveis. Assim, a flexibilidade caracteriza-se pela transformao e aparecimento de

    setores de produo e maneiras diferentes de fornecimento de servios (Harvey,1990).

    Alguns autores, entre eles, Dahrendorf, Daniel Bell, Alain Touraine referem-se a

    uma sociedade ps-capitalista, pois para eles a economia produtora de bens estaria

    mudando para uma economia de servios, dando destaque aos profissionais liberais e

    tcnicos; a sociedade estaria sendo movida por conhecimentos imateriais. Ao contrrio,

    Braverman, justifica a inexistncia de uma sociedade ps-capitalista, afirmando que o o

    modo capitalista est continuamente se expandindo a novas reas de trabalho inclusive

    quelas recentemente criadas pelo avano tecnolgico e o emprego do capital a novas

    indstrias (Braverman, 1980:32). Submetendo a classe trabalhadora aos interesses do

    capital, na sua construo e desconstruo da organizao do trabalho. Na verdade, so

    maneiras que o capitalismo encontra para se manter, garantindo os princpios j

    perpetuados de ao, em outras palavras, o capitalismo vive uma nova etapa do processo

    ampliado de acumulao.

    Este processo de construo e desconstruo das faces que o capitalismo mundial

    assume atualmente tem, entre suas caractersticas, a disperso e a mobilidade geogrfica,

    que passaram a ser difundidas pelo termo de globalizao. Este um dos aspectos da

    acumulao flexvel, pois possibilita o desaparecimento de fronteiras, modifica os

    significados das naes, os pases centrais descentralizam o seu poder abrangendo os pases

    perifricos e, ao mesmo tempo, ligando-os; torna industrializado pases at ento agrrios;

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    leva internacionalizao de mercados financeiros, ao crescimento do comrcio entre

    naes e expanso de atuao das empresas transnacionais (Giddens, 1990).

    O capital, a tecnologia, a fora de trabalho, a diviso do trabalho social, o mercado e

    o planejamento ultrapassam fronteiras geogrficas e histricas, regimes polticos e o modo

    cultural de vida, transformando a vida dos indivduos e suas relaes. Para Chesnais (1996)

    h uma ordenao hierarquizada mundialmente a servio do capital, num processo de

    valorizao do capital produtivo e financeiro. So portanto, relaes de rivalidade,

    dominao e de dependncia poltica entre os Estados, que aprofundam o abismo entre os

    pases que dominam economicamente e aqueles que so dominados. Com a mundializao,

    o capital o articulador das grandes empresas, dos mercados e dos diversos Estados

    nacionais.

    Esta movimentao mundial e a mudana na forma de produo tm como uma de

    suas caractersticas o aumento do setor de servios. Este sofre os efeitos da reestruturao

    da economia, na medida em que a lgica do capitalismo est presente em todos seus

    setores. Para tanto deve-se consider-lo como uma forma de produo capitalista, quando o

    efeito do prprio trabalho transformado em mercadoria, quando o trabalhador no

    oferece esse trabalho diretamente ao usurio de seus efeitos, mas ao invs, vende-o ao

    capitalista, que o revende no mercado de bens, temos ento o modo de produo

    capitalista no setor de servios (Braverman, 1980:304).

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    Os setores da economia extrativo, produtivo e de servios no so autnomos, mas

    esto diretamente ligados entre si; portanto, o setor de servios dependente da acumulao

    industrial. A nfase est em considerar o seu crescimento em relao produo e ao

    consumo, como complementares ao crescimento e dinmica do setor produtivo.

    O crescimento do setor de servios comea a ter destaque a partir dos anos 70, com

    o rpido crescimento ocorrido em boa parte da indstria manufatureira. A industrializao,

    segundo Offe (1985), teria sido mais lenta se no houvesse a sua expanso como infra-

    estrutura, enquanto as atividades produtivas tornam-se mais especializadas. Assim, a

    economia desloca o capital excedente gerado no setor de produo de bens e possibilita a

    modernizao do setor de servios.

    As razes que levaram este setor a ofertar servios mais modernos e a investir em

    tecnologia foram as mesmas que levaram o setor industrial a se transformar, ou seja, a

    reduo dos custos nos produtos ofertados, necessidades de acompanhar a competio do

    mercado, flexibilidade de organizao, rapidez, maior quantidade e qualidade da

    informao e produtividade da fora de trabalho. Observa-se, assim como a produo de

    bens permite o surgimento da competio, pois exige a aquisio de novos conhecimentos,

    a capacidade de conhecimento abstrato, lgica e planificao prprias, potencialidade em

    solucionar problemas e operar criativamente, alm da capacidade de comunicao e

    cooperao.

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    Com o aumento do setor de servios, entram no cenrio as transformaes do

    processo acelerado de terceirizao em todos os ramos produtivos, compondo os servios

    de apoio, tais como vigilncia, alimentao, transporte, processamento de dados. No

    processo de internacionalizao o capital hegemnico prefere administrar o contato com os

    fornecedores, possibilitando baixar os custos e transferir os nus dos encargos trabalhistas

    outras empresas. Esta transferncia torna a empresa mais flexvel para atender as

    necessidades e mudanas de pedidos de seus clientes.

    A terceirizao ocorre quando uma determinada atividade deixa de ser desenvolvida

    pelos trabalhadores de uma empresa central e transferida para outra empresa e

    trabalhadores diversos, ento chamado de terceiros. O processo de terceirizao do

    trabalho reduz o nmero de trabalhadores centrais, so as empresas terceirizadas as

    responsveis pela admisso ou demisso empregados, isto tanto pode qualifica como

    desqualifica os trabalhadores.

    Portanto, a terceirizao sinnimo de subproletarizao do trabalho, presente nas

    formas de trabalho precrio parcial, temporrio, subcontratado, vinculado economia

    informal e capaz de tornar os trabalhadores, totalmente descartveis (Antunes, 1997). Mas,

    o processo de terceirizao, exige, tambm, uma maior qualificao de seus trabalhadores,

    ao criar uma elite de trabalhadores altamente especializada.

    Esses efeitos das transformaes do mundo do trabalho com reflexos no setor de

    servios comeam a ser sentidos no Brasil na dcada de 80, perodo em que se deu incio

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    entrada das inovaes tecnolgicas e organizacionais que atingiu todo o processo produtivo

    do pas, tanto industrial como de servios. Em conjunto a estas transformaes sofridas

    pelo capital, h uma mudana poltica, isto , um esforo de redemocratizao do pas.

    Estes anos foram marcados pela criao de sindicatos e inmeras mobilizaes de

    trabalhadores, inclusive daqueles que no possuam tradio de organizao e luta.

    neste contexto que este estudo se prope a compreenso das transformaes no

    mundo do trabalho, visualizando, por decorrncia as mudanas que geram um novo perfil

    da categoria, com o crescimento do setor de servios, da terceirizao e da substituio de

    trabalhadores por equipamentos eletrnicos sistemas de alarmes, vdeos, sensores etc. A

    categoria que est sendo analisada so os vigilantes empregados em empresas de segurana

    as quais, desde o seu surgimento, tm como caracterstica estarem enquadradas no setor de

    servios e, em sua maioria fazem parte do quadro de empresas prestadoras de servios

    terceirizadas, com uma representao sindical prpria.

    E em decorrncia detectar como o sindicalismo, com sua estrutura oficial, tutelado

    pelo Estado que tem o compromisso fordista (Birh, 1998:45) de acumulao do capital,

    aliando a produtividade com a garantia das necessidades mnimas dos trabalhadores, se v

    obrigado a encontrar novas formas de representao sindical em resposta s exigncias do

    capital, que est passando de um modelo rgido de acumulao para outro flexvel. Entre os

    problemas encontrados, pode-se destacar: a reduo dos postos de servios, o processo

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    acelerado de terceirizao, diminuindo a concentrao dos trabalhadores nas empresas e

    aumentando a exigncia de suas qualificaes, alm do desemprego.

    Portanto, as mudanas que ocorrem no interior da prpria categoria influenciam a

    dinmica da ao sindical. Esta discusso permite compreender a individualizao do

    trabalhador e a organizao sindical dentro do processo produtivo atual.

    De vigia a vigilante

    A dcada de 90 marcada por transformaes que alteram o perfil da categoria dos

    vigilantes em decorrncia da substituio das tarefas pela especializao e a introduo

    de inovaes tecnolgicas automao, robtica e microeletrnica - e novas formas de

    gestes organizacionais. Assim, a categoria adquire uma nova caracterizao, muito

    diferente daquela que possua no final dos anos 60, quando surgiu, ainda, como vigia.

    necessrio esclarecer os vigias no podiam usar armas e no tinham nenhuma forma de

    garantia trabalhista ou de segurana pessoal. Somente mais tarde com o reconhecimento da

    profisso que se tornam vigilantes e passam a utilizar armas.

    O surgimento da categoria est ligado aos anos da ditadura militar no perodo que se

    iniciou em 1964, quando foras contrrias ao governo constitucional de Joo Goulart

    organizaram o golpe militar. Este perodo marcado pela represso, justificada pelos

    militares como uma forma de proteo ao desenvolvimento econmico do pas. Alguns

    grupos de esquerda, no acreditando em solues pacficas, com a inteno de derrub-los,

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    assaltavam bancos para conseguir recursos financeiros necessrios manuteno de suas

    organizaes militantes.

    Quando os governantes sentiram necessidade de coibir estes assaltos, constataram

    que a polcia no mobilizava a opinio pblica contra os militantes. Para tanto a maneira

    encontrada foi a contratao de indivduos da prpria comunidade, pois esta, em caso de

    morte do vigia, voltava-se contra os ativistas (Wawrzyniak,1998). O decreto-lei n 1034 de

    outubro de 1969 respaldava esta forma de contratao, determinando quem poderia ser

    contratado e estabelecia que os elementos no poderiam ter antecedentes criminais e seus

    nomes deveriam ser aprovados pela Polcia Federal que, na poca, era controlada pelo

    Servio Nacional de Informaes.

    Os indivduos selecionados eram, em sua maioria de origem rural, expulsos da terra

    pela poltica agrria adotada nos anos 70, atrados para as cidades com a expectativa de

    melhores condies de vida. Na cidade, por no possurem a qualificao necessria e, em

    muitos casos, por serem analfabetos, no eram absorvidos pela indstria e, junto com outras

    categorias, entre as quais, empregado domstico e vendedor ambulante, passaram a

    encorpar o setor tercirio.

    Alguns autores, entre os quais Browning, analisam esta situao mais a fundo, do

    que a simples falta de qualificao dos trabalhadores, argumentando que a questo

    econmica, ao afirmar que o crescimento relativo dos servios doentio porque reflete a

    ausncia de desenvolvimento econmico, medida que presses populacionais induzem as

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    pessoas a deixar o setor primrio improdutivo. Elas migram para as cidades, mas no

    podem ser absorvidos ao setor manufatureiro. (Browning apud Offe, 1985: 151).

    Seguindo uma tendncia mundial do ps-guerra de desenvolvimento industrial, o

    Brasil comea, nos anos 70, a incentivar o surgimento de parques industriais, acarretando

    um aumento da concentrao da populao urbana, mas o nmero de empregos industriais

    era insuficiente para absorver todo o contingente migrante vindo do campo, em

    conseqncia das transformaes sofridas pelo setor agropecurio, modernizao das

    tcnicas produtiva e a intensificao da pecuria.

    Esta questo melhor explicada por Bihr, ainda que, no se referindo ao Brasil, sua

    anlise permite compreender a realidade local, na medida que

    a influncia de uma transformao capitalista junto a agricultura que recolocava em marcha o xodo de uma importante populao de neoproletrios rurais para os centros urbanos; efeito do desenvolvimento de novos ramos motores da acumulao do capital, implicando sempre a formao de novos centros de acumulao e o relativo declnio de centros mais antigos; as transformaes ocorridas nos processos de trabalho de tudo isso resultam importantes deslocamentos da populao proletarizada dos campos para as cidades, entre regies, de um ramo de atividade para outro e de uma profisso para outra.(Bihr, 1998:54).

    Esses indivduos eram contratados por empresas de segurana gerenciadas por

    coronis aposentados, que impe aos vigias uma disciplina militar. Neste momento, anos

    70, estes trabalhadores so vistos e se vem como um grupo para-militar, idia reforada

    pelo decreto-lei n. 1034 que determinava que os elementos de segurana dos

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    estabelecimentos de crdito, quando em servio, tero prerrogativas policiais. No sendo

    permitido a eles valerem-se dos direitos conquistados por outros trabalhadores, entre os

    quais o da organizao sindical: sem o direito organizao e luta por melhores salrios e

    condies de trabalho (Wawrzyniak, 1998).

    Nesta poca, os trabalhadores do ramo de segurana se auto dividiam em dois

    grupos: o denominado de A, os vigilantes propriamente ditos, que atuavam nos bancos e

    transporte de valores usavam uniformes marrom, realizavam curso e portavam armas de

    fogo. E o grupo B atuava maciamente nas indstrias, no realizava curso de formao

    para vigilante, usava uniforme cinza e no portava armas e eram denominados vigias.

    O Decreto n 89.056 de 24 de novembro de 1983, que regulamenta a Lei Federal n

    7.102 de 20 de novembro de 1983, reconhece a profisso de vigilante, e por deciso o

    exerccio da profisso de vigilante requer prvio registro na Delegacia Regional do

    Trabalho do Ministrio do Trabalho, que s ser fornecido mediante a apresentao dos

    comprovantes de ser brasileiro, ter idade mnima de 21 (vinte e um) anos, ter instruo

    correspondente 4 srie de ensino de 1 grau, ter sido aprovado em curso de formao de

    vigilante, ter sido aprovado em exame de sade fsica e mental e psicotcnico, no ter

    antecedentes criminais registrados e estar quite com as obrigaes eleitorais e militares.

    Mesmo que oficialmente estes sejam os requisitos bsicos para a admisso do

    vigilante ao emprego, as exigncias reais so por uma maior qualificao: necessrio ter o

    2 grau, possuir noes de informtica, de outro idioma em alguns casos e ainda ser

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    portador de boa aparncia o que significa para a categoria um padro Rambo de

    profissional, deve ter no mnimo 1,75 ser forte musculoso, possuir habilitao de

    motorista e, em algumas empresas, solicita-se que tambm saiba andar a cavalo.

    A partir da promulgao da Lei 8.863 de 28 de maro de 1994, que alterou a Lei n

    7.102 ocorreu um desconhecimento para efeito legal da figura do guarda, guardio ou vigia,

    determinando que as empresas de segurana ofeream os cursos de formao necessrios

    para que passem a vigilantes. Atualmente, maioria dos que procuram as empresas para a

    realizao dos cursos que so pagos, na sua maioria, por desempregados, com esperana de

    encontrar um emprego. Isto suscita uma questo, que fornecer ao mercado de trabalho

    uma quantidade de profissionais que nem sempre ser absorvido por este.

    Os prprios vigilantes fazem crticas a estes cursos de formao, pois consideram a

    sua durao curta e alm das aulas terem sofrido uma expressiva queda na qualidade, no

    permitindo uma segurana ao profissional, nem a terceiros Afirmam que, quando este era

    realizado pela Polcia Civil, o treinamento era feito com maior eficincia e uma maior

    qualidade, tinha a durao de 30 dias, em comparao aos 10 dias atuais, dificilmente os

    padres desejados de segurana, em uma atividade que envolve arma de fogo, so

    conseguidos em to pouco tempo de treinamento (Wawrzyniak, 1998).

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    A organizao da categoria

    Somente nos anos 80, quando o Brasil foi palco da efervescncia poltica

    determinada pelo fim da ditadura militar e, conseqentemente, com o processo de abertura

    poltica, permitiu-se a reorganizao sindical dos trabalhadores. Este momento histrico

    caracteriza bem a proposta de novos sindicalistas que, embora dentro de uma estrutura

    corporativa, tentam conquistar espao para as lutas de suas categorias.

    A categoria dos vigilantes comea a se articular em associaes de forma incipiente,

    em torno de reivindicaes por melhores condies de trabalho e melhores salrios. De uma

    forma determinada, nos anos de 1980 e 81 realizam duas greves, a primeira marcada pela

    conquista total de suas reivindicaes , mas com pouca participao dos trabalhadores e, a

    segunda, com a conquista parcial de suas reivindicaes. Ambas caracterizadas pela

    inexperincia e pela mobilizao momentnea de seus participantes, logo aps atingirem

    seus objetivos se desmobilizam.

    Estas mobilizaes podem ser analisadas, enquanto uma organizao embrionria,

    onde as relaes so pouco visveis em geral, no esto assentadas em organizaes

    fortes, supra individuais (...) Constantemente se ata, se desata e se ata de novo a sociao

    entre os homens, num constante fluir e pulsar, que se encadeia os indivduos, ainda que

    no chegue a formar organizaes propriamente ditas (Simmel, 1983: 71). O processo

    que antecede a organizao formal e complexa, tal qual ocorre com sindicato so relaes

  • 16

    de reciprocidade, que constituem uma forma de sociao, mas no se constituem uma

    constante, esto unidos em funo de necessidades imediatas, que a partir do momento em

    que sejam satisfeitas desarticulam-se; e novamente podem rearticular-se em outras bases.

    Os vigilantes se aglutinam em torno destas mobilizaes por questes salariais,

    portanto, uma solidariedade de classe, muito mais do que por suas caractersticas gerais, ou

    mesmo, o domnio de certas tcnicas. No o fato de exercerem atividades semelhantes

    que os leva a uma ao coletiva, mas a necessidade para transformar ou defender-se de

    uma determinada situao, que de alguma forma est ameaando um interesse comum a

    todos os membros. O fato de terem realizado greves antes de estarem organizados em

    sindicatos uma evidncia disto.

    Atravs da experincia cotidiana dos vigilantes admite-se que um grupo, depois de

    chegar a um certo tamanho, tem de desenvolver formas e rgos que sirvam sua

    manuteno e promoo, que antes no precisavam como grupo menor (Simmel, 1983:

    90). Somente aps a greve de 1985, contrariando os prognsticos, os vigilantes garantem

    a legalidade do movimento paredista, indo contra a Lei de Greve/64 que, naquela poca,

    ainda estava em vigor. Este movimento , at hoje, considerado pela categoria como sendo

    o maior e o gerador da necessidade de uma articulao organizada entre os seus membros.

    Com o crescimento das necessidades e reivindicaes da categoria, com a

    constatao de seu poder de organizao, os vigilantes articulam-se para a criao de um

    sindicato. A partir de ento, iniciam os encaminhamentos para a fundao de sindicatos em

  • 17

    todo o Estado do Paran. So atualmente, sete sindicatos que os representam, enquanto,

    empregados em empresas de segurana , com sede nas cidades de Curitiba, Ponta Grossa,

    Londrina, Maring, Umuarama, Cascavel e Pato Branco.

    Os novos sindicatos fundados, em meados dos anos 80, entre os quais o Sindicato

    do Vigilantes1, foram marcados, principalmente, por uma ao em torno da ampliao das

    negociaes coletivas de trabalho, do aumento da taxa de sindicalizao e da quantidade de

    greves . o chamado novo sindicalismo, fortemente influenciado pela conjuntura fordista

    da poca, que tomou corpo na dcada de 80, com a tendncia de rompimento com o modelo

    sindical corporativo. No conseguiu, porm romper com o sindicalismo oficial, dando

    continuidade com s prticas sindicais do passado.

    A estrutura corporativista estatal, ainda hoje, continua se reproduzindo, o que

    significa que conserva o monoplio da representao trabalhista, determinada pela

    legislao desde 1943, com mnimas e ambguas alteraes na Constituio de 1988.

    Segundo Comin e Castro

    a estrutura sindical brasileira induz a formao de sindicatos de base territorial, fragmentado em categorias definidas simultaneamente pelo setor econmico e pela profisso. Resguarda, ainda, a unicidade e o monoplio da representao trabalhista e confere tributao compulsria para o sustento dos sindicatos. Alm disso, as negociaes coletivas tambm rigorosamente reguladas, atravs de datas-bases. (1998:46)

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    As transformaes pelas quais o sindicalismo vem passando no esto apenas

    relacionadas com sua estrutura interna, mas tambm influenciada pela conjuntura mundial.

    Portanto, a alterao no modelo de acumulao do capital afeta diretamente a trajetria do

    trabalhador; em especfico, a categoria dos vigilantes proporciona um exemplo de como

    essas transformaes interferem tanto na atuao categoria, como nas estratgias da ao

    sindical.

    Os sindicatos enfrentam dois grandes problemas para a sua manuteno, o primeiro,

    a representatividade frente ao novo perfil que as categorias esto adquirindo como

    conseqncia das inovaes, a reduo dos postos de servios, a incapacidade do mercado

    absorver o excedente de trabalhadores, gerando desemprego e subemprego. As formas

    tradicionais da atuao sindical defensiva no respondem a este novo trabalhador que sofre

    a com a flexibilizao do trabalho.

    Em segundo lugar, este sindicato, ainda, atrelado ao Estado que na dcada de 80

    tinha o papel de normatizador a servio do capital, hoje, est submetido instabilidade da

    poltica nacional e s mudanas nos encaminhamentos em relao s questes do

    trabalhador, tais como: o fim da poltica salarial, a maior fragilidade nas negociaes. No

    consegue avanar em suas conquistas e, em muitos casos, h um retrocesso, pois o

    1 Inclui os sete sindicatos do Estado do Paran

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    sindicato tende a assumir a lgica do capital, como, por exemplo em sua poltica de

    qualificao de trabalhadores para o mercado.

    Referncia Bibliogrfica

    ALMEIDA, M. Crise econmica & interesses organizados: o sindicalismo no Brasil dos

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