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11 Itinerários, Araraquara, n. 30, p.11-30, jan./jun. 2010 FORMAÇÃO DA LITERATURA E CONSTITUIÇÃO DO ESTADO NACIONAL José Antonio SEGATTO* Maria Célia LEONEL** RESUMO: O objetivo deste trabalho é discutir questões literárias e históricas postas em pauta pelo livro Formação da literatura brasileira de Antonio Candido, cuja primeira edição é de 1959. Essa obra – ao reelaborar e procurar superar antigas referências vinculadas às datações e explicações das origens da literatura nacional – apresenta caráter inovador, o que, de um lado, a levou a ser um paradigma fundamental para a história e a crítica literária no país e, de outro lado, provocou muitas polêmicas e objeções. Partindo, portanto, da herança histórico-crítica precedente e incorporando muitos de seus elementos, o crítico repensa os marcos históricos, literários e culturais do surgimento da literatura no Brasil, ou seus momentos decisivos, tendo em vista a noção de sistema literário. Cinquenta anos após a publicação desse estudo, é oportuno e necessário, cremos, rediscutir e redenir as demarcações histórico-literárias da criação ou da formação da literatura brasileira, por meio de uma leitura diversa do processo de organização do Estado e da nação no Brasil. PALAVRAS-CHAVE: Antonio Candido. Formação da literatura brasileira. Literatura. História. Sistema literário. Estado nacional. Formação da Formação Ao longo do século XIX, desde o rompimento do estatuto colonial e o início da construção do Estado nacional no Brasil, colocou-se a necessidade de elaboração de uma historiograa literária capaz não só de assegurar a existência de uma literatura brasileira, como de pensar e apontar seus caracteres e especicidades. De Ferdinand Denis a Ferdinand Wolf, de Gonçalves de Magalhães a Joaquim Norberto, passando por Santiago Nunes Ribeiro e Francisco Adolfo Varnhagen com a colaboração de vários outros estudiosos, concebeu-se uma tradição histórico-literária com importante * UNESP – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras – Departamento de Sociologia. Araraquara – SP – Brasil. 14800-901 – [email protected] ** UNESP – Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências e Letras - Departamento de Literatura. Araraquara – SP – Brasil. 14800-901 – [email protected]

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  • 11Itinerrios, Araraquara, n. 30, p.11-30, jan./jun. 2010

    FORMAO DA LITERATURA E CONSTITUIO DO ESTADO NACIONAL

    Jos Antonio SEGATTO*Maria Clia LEONEL**

    RESUMO: O objetivo deste trabalho discutir questes literrias e histricas postas em pauta pelo livro Formao da literatura brasileira de Antonio Candido, cuja primeira edio de 1959. Essa obra ao reelaborar e procurar superar antigas referncias vinculadas s dataes e explicaes das origens da literatura nacional apresenta carter inovador, o que, de um lado, a levou a ser um paradigma fundamental para a histria e a crtica literria no pas e, de outro lado, provocou muitas polmicas e objees. Partindo, portanto, da herana histrico-crtica precedente e incorporando muitos de seus elementos, o crtico repensa os marcos histricos, literrios e culturais do surgimento da literatura no Brasil, ou seus momentos decisivos, tendo em vista a noo de sistema literrio. Cinquenta anos aps a publicao desse estudo, oportuno e necessrio, cremos, rediscutir e redefi nir as demarcaes histrico-literrias da criao ou da formao da literatura brasileira, por meio de uma leitura diversa do processo de organizao do Estado e da nao no Brasil.

    PALAVRAS-CHAVE: Antonio Candido. Formao da literatura brasileira. Literatura. Histria. Sistema literrio. Estado nacional.

    Formao da Formao

    Ao longo do sculo XIX, desde o rompimento do estatuto colonial e o incio da construo do Estado nacional no Brasil, colocou-se a necessidade de elaborao de uma historiografi a literria capaz no s de assegurar a existncia de uma literatura brasileira, como de pensar e apontar seus caracteres e especifi cidades. De Ferdinand Denis a Ferdinand Wolf, de Gonalves de Magalhes a Joaquim Norberto, passando por Santiago Nunes Ribeiro e Francisco Adolfo Varnhagen com a colaborao de vrios outros estudiosos, concebeu-se uma tradio histrico-literria com importante

    * UNESP Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Letras Departamento de Sociologia. Araraquara SP Brasil. 14800-901 [email protected]** UNESP Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Cincias e Letras - Departamento de Literatura. Araraquara SP Brasil. 14800-901 [email protected]

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    papel cultural e ideolgico na construo nacional. Construto coletivo, essa operao envolveu muitos intelectuais e a ao decisiva do Estado durante algumas dcadas.

    Esse acervo histrico-crtico foi reelaborado, nos ltimos decnios do sculo XIX e incio do sculo XX, por diversos outros intelectuais em estudos da histria da literatura brasileira, entre eles, Slvio Romero, Araripe Jnior e Jos Verssimo. Absorvendo concepes do positivismo, do naturalismo e do evolucionismo sobretudo de Auguste Comte, Herbert Spencer e Hippolyte Taine , suas formulaes so impregnadas de noes de raa, meio, lngua e cultura1. No obstante o determinismo das anlises e propostas, aqueles autores brasileiros passaram a ser referncia bsica ou mesmo paradigmtica para as histrias literrias at, pelo menos, meados do sculo XX.

    Somente nos anos cinquenta daquele sculo que esses referenciais foram reelaborados e superados, entre outros, por Antonio Candido (1971) no livro Formao da literatura brasileira, de 19592. Nesse estudo, o autor, partindo da herana histrico-crtica precedente e incorporando muitos de seus elementos, repensa os marcos histricos e culturais do surgimento da literatura no Brasil, ou seja, seus momentos decisivos sculo XVIII (Arcadismo) e XIX (Romantismo) conjuntamente com o estabelecimento de um sistema literrio.

    Cinquenta anos aps a publicao desse importante estudo de Antonio Candido, oportuno e necessrio, cremos, rediscutir e redefi nir os marcos histricos da criao ou formao da literatura nacional, por meio de uma leitura diversa do processo de organizao do Estado e da nao no Brasil.

    O sentido da formao

    Antonio Candido (1971, v.1, p.23), ao analisar a formao da literatura brasileira, procura demarcar seus momentos decisivos (Arcadismo e Romantismo)

    1 A crtica literria e a histria social se orientaram at 1930 pelas noes de raa e natureza, o que explica a grande recepo do positivismo, do evolucionismo e do racismo. (VENTURA, 1991, p.41, grifo do autor). Ainda, segundo o mesmo autor, a [...] ideologia da mestiagem, como fuso de raas e culturas, se tornou elemento recorrente na literatura, na historiografi a e no ensasmo brasileiros. (VENTURA, 1991, p.67). Slvio Romero seria a sua mais eminente expresso, ao formular [...] em sua histria literria, a epopeia da nacionalidade, fbula cujas origens mticas se situam na gnese do mestio e do cruzamento de culturas, matrizes da diferenciao progressiva do povo e da sociedade nacional, de acordo com os padres darwinistas e evolucionistas. Estabeleceu o esquema da formao e de presena do esprito nacional, segundo o modelo pico da continuidade ininterrupta. (VENTURA, 1991, p.166, grifo do autor).2 Otto Maria Carpeaux (1999, p.845), poca, comentando sua publicao junto com o penltimo volume de A literatura no Brasil, organizado por Afrnio Coutinho, diz que seriam [...] tentativas de empregar modernos processos de crtica e historiografi a na elucidao de um assunto h muito tempo sufocado pela rotina. Pois a rotina a repetio a crtica de conceitos que j foram novos e teis mas esto antiquados.

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    [...] como sntese de tendncias universalistas e particularistas. Entre o primeiro momento (mais cosmopolita) e o segundo (que busca peculiaridades locais) haveria um movimento dialtico de continuidade e ruptura, mas com o mesmo solidrio objetivo: a misso de criar a literatura brasileira e de construir a nao.

    [...] o intuito foi sugerir, tanto quanto possvel, a idia de movimento, passagem, comunicao entre fases, grupos e obras; sugerir uma certa labilidade que permitisse ao leitor sentir, por exemplo, que a separao evidente, do ponto de vista esttico, entre as fases neoclssica e romntica, contrabalanada, do ponto de vista histrico, pela sua unidade profunda. diferena entre estas fases, procuro somar a idia da sua continuidade, no sentido da tomada de conscincia literria e a tentativa de construir uma literatura. (CANDIDO, 1971, v.1, p.37).

    Ao delimitar e qualifi car os momentos decisivos, o crtico procura distinguir [...] manifestaes literrias, de literatura propriamente dita, considerada aqui um sistema de obras ligadas por denominadores comuns... (CANDIDO, 1971, v.1, p.23; grifo do autor). O que seriam esses denominadores?

    [...] [eles] so, alm das caractersticas internas (lngua, temas, imagens), certos elementos de natureza social e psquica, embora literariamente organizados, que se manifestam historicamente e fazem da literatura aspecto orgnico da civilizao. Entre eles se distinguem: a existncia de um conjunto de produtores literrios, mais ou menos conscientes do seu papel; um conjunto de receptores, fornecendo os diferentes tipos de pblico, sem os quais a obra no vive; um mecanismo transmissor (de modo geral, uma linguagem, traduzida em estilos) que liga uns a outros. O conjunto dos trs elementos d lugar a um tipo de comunicao inter-humana, a literatura, que aparece, sob este ngulo, como sistema simblico [...] (CANDIDO, 1971, v.1, p.23).

    A literatura, assim constituda como sistema, levaria fi xao de uma tradio, como resultado de um processo acumulativo de autores e obras sucessivas, possibilitando a formao da continuidade literria (CANDIDO, 1971, v.1, p.24). Com tudo isso, a noo de sistema permitiria repensar a periodizao histrica da literatura brasileira3. Do sculo XVI a meados do XVIII, teria havido manifestaes 3 Luiz Costa Lima (1991, p.160-161) chama a ateno para o fato de a noo de sistema literrio ser caudatria do funcionalismo antropolgico ingls, presente entre professores europeus da USP nos anos 1940, como Radcliffe-Brown e outros. De nossa parte, supomos que, muito provavelmente, essa ideia deriva do conceito de sistema social, que implica coeso e integrao, determinao e articulao orgnica e funcional dos componentes de uma dada realidade. Antonio Candido (2002, p.113), inclusive, reconhece o resqucio de mecanicismo em sua formao, feita dentro da escola sociolgica francesa, sobretudo Durkheim. Leopoldo Waizbort (2007, p.90), por seu turno, procura mostrar que a noo de sistema literrio de Antonio Candido aproxima-se da de Curtius, alm de ter similitudes tericas com Auerbach, especialmente quando caracteriza os momentos decisivos. possvel, cremos, que ela tenha sido inspirada num certo hibridismo terico e o contenha mesmo

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    literrias esparsas, rarefeitas, isoladas, sem continuidade e organicidade, de repercusso local, sem conseguir formar tradio. somente na segunda metade do sculo XVIII, com as academias e os rcades, que comea a se confi gurar uma literatura brasileira, [...] encorpando o processo formativo, que vinha de antes e continuou depois [...] (CANDIDO, 1971, v.1, p.16). O Arcadismo teria tido mesmo papel importante [...] porque plantou de vez a literatura do Ocidente no Brasil [...] (CANDIDO, 1971, v.1, p.17).

    Sem desconhecer grupos ou linhas temticas anteriores, nem infl uncias como as de Rocha Pita e Itaparica, com os chamados rcades mineiros, as ltimas academias e certos intelectuais ilustrados, que surgem homens de letras formando conjuntos orgnicos e manifestando em graus variveis a vontade de fazer literatura brasileira. Tais homens foram considerados fundadores pelos que os sucederam, estabelecendo-se deste modo uma tradio contnua de estilos, temas, formas e preocupaes. (CANDIDO, 1971, v.1, p.25).

    O processo formativo ganhou novo impulso nas primeiras dcadas do sculo XIX, quando so criadas algumas premissas bsicas para a construo da nao, propiciadas pelo deslocamento do Estado portugus para a colnia e, posteriormente, pela quebra do estatuto colonial.

    Imprensa, peridicos, escolas superiores, debate intelectual, grandes obras pblicas, contato livre com o mundo [...] Foi a poca das Luzes, acarretando algumas consequncias importantes para o desenvolvimento da cultura intelectual e artstica, da literatura em particular. Posta a cavaleiro entre um passado tateante e o sculo novo, que se abriria triunfal com a Independncia, viu o aparecimento dos primeiros pblicos consumidores regulares de arte e literatura; a defi nio social do intelectual; a aquisio, por parte dele, de hbitos e caractersticas mentais que o marcariam at quase os nossos dias. (CANDIDO, 1971, v.1, p.227).

    , no entanto, entre os anos trinta e setenta daquele sculo que o sistema literrio se consolida. Consubstancia-se atravs do movimento romntico, desencadeado em Paris por um grupo liderado por Gonalves de Magalhes, por meio da revista Niteri, em 1836. Seu referencial so as teses elaboradas por Ferdinand Denis em Resumo da histria literria do Brasil, de 1826, [...] fundando a teoria de nossa literatura segundo os moldes romnticos, orientando-a por meio sculo e repercutindo quase at o momento em que a Formao escrita (CANDIDO, 1971, v.2, p.323). Inspirado em Schlegel, Madame de Stal e Chateaubriand, Denis defi ne

    , proveniente da juno de elementos do funcionalismo durkheiminiano com a dialtica materialista do marxismo; tal conjetura pode ser ilustrada por uma passagem de outro texto do autor acerca de problemtica conexa: Se fosse possvel estabelecer uma lei da evoluo de nossa vida espiritual, poderamos dizer que toda ela se rege pela dialtica do localismo e do cosmopolitismo, manifestada pelos modos mais diversos. (CANDIDO, 1976, p.109, grifo nosso).

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    o carter que a literatura deveria assumir na Amrica: diferenciar-se pela temtica local e pela natureza. Os sentimentos dominantes na literatura sero portanto o nacionalismo, o indianismo e o cristianismo, pois este foi o ideal que dirigiu nossa colonizao. (CANDIDO, 1971, v.2, p.322).

    O desafi o que se colocava para os intelectuais, nesse momento, era formular uma teoria da literatura brasileira. Ou ainda, [...] o grande problema era defi nir quais os caracteres de uma literatura brasileira, a fi m de transform-los em diretrizes para os escritores [...] (CANDIDO, 1971, v.2, p.329). Seus princpios fundamentais poderiam, para Antonio Candido (1971, v.2, p.329-330), ser sistematizados como segue:

    1) O Brasil precisa ter uma literatura independente; 2) esta literatura recebe suas caractersticas do meio, das raas e dos costumes prprios do pas; 3) os ndios so os brasileiros mais ldimos, devendo-se investigar as suas caractersticas poticas e tom-las como tema; 4) alm do ndio, so critrios de identifi cao nacional a descrio da natureza e dos costumes; 5) a religio no caracterstica nacional, mas elemento indispensvel da nossa literatura; 6) preciso reconhecer a existncia de uma literatura brasileira no passado e determinar quais os escritores que anunciaram as correntes atuais.

    Tributrios do nacionalismo, os intelectuais romnticos criaram as bases do que seria a literatura brasileira. Empenhados na construo da nao, assumiram mesmo um sentimento de misso que os levava a [...] considerar a atividade literria como parte do esforo de construo do pas livre (CANDIDO, 1971, v.1, p.26). Alis, o prprio Antonio Candido esclarece que, para a realizao do estudo, se colocou de maneira deliberada do ponto de vista

    [...] dos nossos primeiros romnticos e dos crticos estrangeiros, que antes deles, localizaram na fase arcdica o incio de nossa verdadeira literatura, graas manifestao de temas, notadamente o Indianismo, que dominaro a produo oitocentista. Esses crticos conceberam a literatura do Brasil como expresso da realidade local e, ao mesmo tempo, elemento positivo na construo nacional. (CANDIDO, 1971, v.1, p.25).

    Nos anos setenta do sculo XIX, o sistema literrio estaria plenamente confi gurado, a formao da literatura brasileira concluda e seu ponto de chegada seria Machado de Assis, que

    [...] se embebeu meticulosamente da obra dos predecessores. A sua linha evolutiva mostra o escritor altamente consciente, que compreendeu o que havia de certo, de defi nitivo, na orientao de Macedo para a descrio dos costumes, no realismo sadio e colorido de Manuel Antnio, na vocao analtica de Jos de Alencar. Ele pressupe a existncia de predecessores, e esta uma das razes de sua grandeza [...] aplicou o seu gnio em assimilar,

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    aprofundar, fecundar o legado positivo das experincias anteriores [...]. Assim, se Swift, Pascal, Schopenhauer, Sterne, a Bblia ou outras fontes que sejam, podem esclarecer sua viso do homem e a sua tcnica, s a conscincia de sua integrao na continuidade da fi co romntica esclarece a natureza do seu romance. (CANDIDO, 1971, v.2, p.117-118).

    Dessa forma, para Antonio Candido, a obra machadiana, ao realizar de maneira cabal a dialtica do local e do universal num processo mais amplo de constituio de uma tradio cultural e/ou intelectual em que se destacou a literatura , atesta a consubstanciao do largo e progressivo movimento histrico de constituio do sistema literrio, iniciado no sculo XVIII com o Arcadismo e que foi se adensando no sculo seguinte. nessa perspectiva, segundo o crtico, que deve ser entendida a forma e o contedo dos romances de Machado de Assis: um lento curso de formao do sistema literrio criou uma tradio e os predecessores do autor de D. Casmurro.

    A Formao: o cnone e a polmica

    Dado o carter inovador e renovador da compreenso da histria da literatura brasileira, as teses propugnadas por Antonio Candido em 1959 foram aceitas por grande nmero de pesquisadores4. Todavia, tais teses causaram tambm, como era de se esperar, muitas polmicas e objees. Entre elas, trs crticas devem ser destacadas: a de Afrnio Coutinho (1981) em 1960, a de Haroldo de Campos (1989) nos anos oitenta e, mais recentemente, a do estudioso portugus Abel Barros Baptista (2005).

    O primeiro alega que Antonio Candido parte de uma concepo no-esttica, mas histrico-sociolgica, qual contrape o mtodo estilstico, valorizando o Barroco e destacando as fi guras de Anchieta, Gregrio de Matos e Vieira nas origens da literatura brasileira. Incorporando as formulaes de Araripe Jnior do estilo tropical e da obnubilao, afi rma:

    A literatura brasileira no comeou no movimento arcdico-romntico. Vem de antes, partiu do instante em que o primeiro homem europeu aqui ps os ps, aqui se instalou, iniciando uma nova realidade histrica, criando novas vivncias, que traduziu em cantos e contos populares, germinando uma nova literatura. Naquele instante, criou-se um homem novo, obnubilando, como

    4 A obra tornou-se um cnone, passando a ser difundida por muitos intelectuais como Roberto Schwarz (1999), Ligia Chiappini (1990), Paulo Arantes (1997), Carlos Guilherme Mota (1977), Marisa Lajolo (2003), Regina Zilberman (2004), Leopoldo Waizbort (2007) entre outros. Alguns desses estudiosos atestam mesmo reverncia ao livro de Antonio Candido. Sua relevncia e seu carter inovador foram destacados, mas com ponderaes, tambm por outros pensadores como Otto Maria Carpeaux (1999), Benedito Nunes (1988), Alfredo Bosi (2002), Luiz Costa Lima (1991).

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    Formao da literatura e constituio do Estado nacional

    queria Araripe Jnior, o homem antigo, o europeu. Foi o homem brasileiro [...] E com ele se formou a literatura brasileira. (COUTINHO, 1981, p.37-38).

    J a crtica de Haroldo de Campos mordaz e categrica, propondo-se a rever e desconstruir o modelo de Antonio Candido, segundo ele, linear e evolutivo, calcado numa perspectiva histrica que [...] responde a um ideal metafsico de entifi cao nacional (CAMPOS, 1989, p.12). Incorporando sugestes de Afrnio Coutinho e lastreando suas formulaes em propostas tericas de Roman Jakobson, Walter Benjamin, Hans Robert Jauss e Jacques Derrida, acusa Antonio Candido de ter sequestrado o barroco, por ignorar Gregrio de Matos, [...] um dos maiores poetas da nossa literatura, e Vieira (CAMPOS, 1989, p.35). Defende, ainda, a ideia de que a literatura brasileira [...] no teve infncia, j nasceu adulta, formada (CAMPOS, 1989, p.64).

    A excluso o sequestro do Barroco na Formao da literatura brasileira no , portanto, meramente o resultado objetivo da adoo de uma orientao histrica, que timbra em separar literatura como sistema, de manifestaes literrias incipientes e assistemticas. Tampouco histrica, num sentido unvoco e objetivo, a perspectiva que d pela inexistncia de Gregrio de Matos para efeito da formao de nosso sistema literrio (I, 24). Essa excluso esse sequestro e tambm essa inexistncia literria dados como histricos no nvel manifesto, so, perante uma viso desconstrutora, efeitos, no nvel profundo, latente, do prprio modelo semiolgico engenhosamente articulado pelo autor da Formao. Modelo que confere literatura como tal, tout court, as caractersticas peculiares ao projeto literrio do Romantismo ontolgico-nacionalista. (CAMPOS, 1989, p.32).

    Abel Baptista, tambm de maneira custica e com pretenses desconstrucionistas, acusa Antonio Candido de perpetrar uma espcie de sequestro da literatura portuguesa no processo de formao da literatura brasileira teria ignorado, pura e simplesmente, Portugal, dissociando-o dessa histria. Imputa ao crtico uspiano a criao de uma teoria da literatura brasileira em que ela seria um fator importante de construo nacional. Resgatando o projeto romntico e revendo-o sob o foco da infl uncia modernista, Candido teria reiterado a necessidade de afi rmao da literatura brasileira e seria, ao mesmo tempo, responsvel [...] pela estipulao dum cnone brasileiro mascarado de tradio (BAPTISTA, 2005, p.71). Assim,

    O trabalho crtico de Antonio Candido, prolongando o projeto literrio do Modernismo de 22, produziu um paradigma crtico, ainda dominante, que, articulado com uma dimenso institucional decisiva, a universitria, estabeleceu a possibilidade de desconhecer Portugal pura e simplesmente, dando esse desconhecimento como resultado natural do processo de formao da literatura brasileira. (BAPTISTA, 2005, p.43).

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    A inexistncia do Estado nacional

    De nossa parte, entendemos que a problemtica histrica posta quando se discute e se procura compreender a constituio da literatura brasileira no pode ser dissociada do processo de organizao do Estado nacional. Questes centrais, como a das origens ou do ponto de partida, a dos marcos e momentos decisivos, a da continuidade ou ruptura, a do processo formativo, a da particularidade e da universalidade dessa literatura tm que ser analisadas num movimento dialtico e em sua historicidade.

    Quando se procurou estabelecer uma tradio literria brasileira (de Ferdinand Denis a Slvio Romero), partiu-se do pressuposto, dado como inquestionvel e transformado em moeda corrente na historiografi a literria (presente ainda em Antonio Candido, Afrnio Coutinho, Haroldo de Campos e outros), de que o Brasil preexistia constituio do Estado nacional. Isso quer dizer que teramos j uma literatura brasileira antes mesmo da existncia do Brasil ou da nao brasileira (ROUANET, 1991). Mas, possvel conceber, historicamente, uma literatura brasileira antes do Estado nacional, num territrio em condies de colnia? Poder-se-ia responder afi rmativamente essa questo, recorrendo aos casos alemo e italiano, ocorridos em reas em que havia uma tradio literria nacional anterior unifi cao do Estado.

    As literaturas europeias, j formadas [...] desde pelo menos o sculo XIX, encontraram seu parmetro de identidade sobretudo na lngua nacional. O devir da lngua oferecia aos historiadores das literaturas nacionais do sculo XIX uma chave construtiva privilegiada, que organizava os materiais e assentava as bases da histria literria. Por conta disso, foi possvel (ou ao menos pretendeu-se que fosse) escrever histria literria nacional prescindindo da formao nacional basta lembrar os casos clssicos de unifi cao nacional tardia Itlia e Alemanha que possuam histria da literatura nacional antes da existncia da nao, na forma do moderno Estado nacional unifi cado. (WAIZBORT, 2007, p.164).

    Nesses lugares, j existia uma histria da literatura que precedeu a organizao nacional, porque se contava com elementos e requisitos (lngua, cultura, identidade, imaginrio, smbolos, instituies) do moderno Estado nacional, o que no havia na(s) colnia(s) portuguesa(s) na Amrica. Itlia e Alemanha, contudo, dispunham de poderosa tradio potica remontando Idade Mdia e formao da lngua verncula. (ZILBERMAN, 1999, p.26).

    J a montagem do nosso Estado nacional, aps o rompimento do pacto colonial (1808-1822), realizada de cima para baixo, por grupos dominantes restritos, tendo frente o prncipe herdeiro portugus, acordada com a metrpole e com o aval da Inglaterra, defrontar-se-ia com diversos problemas: manter a integridade da

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    Formao da literatura e constituio do Estado nacional

    colnia; decidir sobre que tipo de Estado montar e sobre como construir a unidade poltica, criar a identidade nacional e a estrutura socioeconmica.

    Resolveu-se operar uma mudana dentro da ordem: criou-se um pas com uma monarquia constitucional, conservando-se intacta a estrutura socioeconmica colonial com suas caractersticas bsicas: grande propriedade latifundiria, trabalho escravo e produo de gneros tropicais para o mercado europeu. Ao mesmo tempo, procurou-se manter a unidade territorial e poltica das colnias portuguesas na Amrica era disso que se tratava , o que era extremamente difcil, pois no havia elementos que as unissem, a no ser a lngua e a religio. Segundo observou o viajante francs Saint-Hilaire (apud CARVALHO, 1999, p.234), [...] as capitanias ignoravam a existncia uma das outras [...]. As relaes entre as diversas regies eram muito tnues, alm de no haver percepo ou conscincia de identidade nacional. A coeso das vrias regies, capitanias ou circunscries coloniais era muito precria e elas formavam um conjunto altamente diversifi cado e heterogneo. O que existia de fato era no uma, mas vrias colnias. Os ingleses tinham razo quando falavam, nos sculos XVII e XVIII, dos Brasis [...]. (SCHWARTZ, 2000, p.112). Dessa forma, [...] a colnia americana chegou ao fi nal de trs sculos de existncia sem constituir uma unidade, exceto pela religio e pela lngua. (CARVALHO, 1999, p.233).

    Assim sendo, a presumvel identidade ou imaginrio coletivo , denominada muitas vezes de nativismo em determinadas reas (Pernambuco, Bahia, Minas etc), que teria sido esboada ainda nas condies histricas da colnia portuguesa da Amrica, questionvel em vrios sentidos. O mais comum era os colonos ou nativos identifi carem-se como mineiros, paulistas, pernambucanos, baienses etc. e mesmo americanos ou portugueses:

    Para designar o todo da Amrica portuguesa, o termo que se segue, em nmero de ocorrncias, Brasil. Mas ateno: naturais da terra inquiridos, excludos os que integravam o aparato administrativo metropolitano, no utilizam o vocbulo Brasil para designar a territorialidade subjacente identidade poltica coletiva que querem designar. Nada de brasileiros, nenhuma identidade poltica coletiva ultrapassando o regional. (JANCS; PIMENTA, 2000, p.140).

    A cultura e a literatura na constituio da unidade nacional

    A unidade acabou sendo imposta de cima e pela fora. O nico elemento de consenso entre os grupos dominantes das diferentes regies foi a manuteno da escravatura e do trfi co de escravos. Contra essa unidade imposta pelo centro (Rio de Janeiro), entre 1822 e 1848 irrompeu o inconformismo em quase todos os pontos do territrio (Bahia, Pernambuco, Par, Rio Grande do Sul, atingindo mesmo So Paulo, Minas Gerais e at o Rio de Janeiro), por meio de motins, levantes e revoltas

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    alguns com ntido carter separatista , pondo em risco a precria unidade do Estado imperial. Derrotados a ferro e fogo os movimentos rebeldes, os donos do poder montaram (a partir dos anos quarenta) um arcabouo poltico-estatal extremamente centralizado, controlado por grupos dominantes reduzidos. Somente em 1850 pode-se dizer que estava consolidado o processo de criao do estado nacional, centralizado e monrquico. Das unidades frouxamente ligadas construra-se o pas [...] mas no se construra ainda uma nao. (CARVALHO, 1999, p.236).

    Era necessrio no s completar a organizao do Estado, como criar os elementos constituintes bsicos de uma nao, como smbolos, instituies e, sobretudo, um povo. Isso implica engendrarem-se e institurem-se alguns pressupostos de identidade e unidade nacional: mercado interno, sociedade civil, exrcito e polcia, moeda, sistema fi scal e tributrio, justia, hino, bandeira, heris, mitos, etc. e, juntamente com tudo isso, uma cultura, uma histria e uma literatura.

    Nesse processo de criao da nao, a elite dominante, amparada pelo Estado imperial, elaborou uma poltica cultural extremamente arrojada, tendo como pilar a elaborao da cultura brasileira, ancorada, sobretudo, no forjamento da literatura e na concepo da histria. A reconstruo do passado como legitimao do pas recm-fundado deveria ser uma das tarefas primordiais. Para desempenh-la, formado, em 1838, com decisivo apoio governamental, o Instituto Histrico e Geogrfi co Brasileiro (IHGB). Em 1845, Karl F. von Martius vence um concurso sobre como se deveria escrever a histria do Brasil; seu projeto estabelecia que ela deveria ser assentada na tese da formao da nacionalidade a partir da confl uncia das trs raas (o portugus, o ndio, o negro), da unidade territorial, da organizao do poder pela instituio de uma monarquia constitucional e na crena de um futuro prspero e promissor. Essas indicaes seriam desenvolvidas, a seguir, por Francisco A. Varnhagen, que publica, entre 1854 e 1857, a Histria geral do Brasil, em que estabelece as balizas poltico-ideolgicas e institucionais de uma verso ofi cial da histria brasileira. Nesse mesmo sentido, h um grande esforo de (re)valorizao da cultura mineira do setecentos, especialmente a escultura e a arquitetura barroca e a idealizao de Aleijadinho (1730/1814) como uma espcie de mito da cultura nacional (GRAMMONT, 2008). Deve ser lembrado, tambm, o incentivo estatal para documentar o passado e o presente atravs da pintura, com uma verso patritica plasmada nos quadros de Pedro Amrico, Vitor Meireles e outros. Uma cultura, uma histria, uma literatura, enfi m, que elaborasse e disseminasse a ideia de nao brasileira.

    A partir de 1838, os usos do passado colonial foram afi rmativos da unidade e identidade nacionais que interessavam a elas [elites] e, mais tarde, ao ufanismo positivista do Estado republicano e tambm ao patriotismo e civismo de seus momentos de exceo, como o Estado Novo e a ditadura militar de 1964. Nesse modelo historiogrfi co, os autores e as obras coloniais funcionam

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    Formao da literatura e constituio do Estado nacional

    teleologicamente como antecipaes exemplares que anunciam a grandeza do tempo dos intrpretes [...] no caso da historiografi a romntica da literatura e das artes, o tlos nacionalista faz os intrpretes buscarem, nas obras coloniais, exemplos do ideal pr-formado na sua ideologia que transforma autores coloniais em protonacionalistas, como ocorre na folclorizao da poesia chamada Gregrio de Matos e na mulatice e na doena de Aleijadinho [...] As representaes coloniais tornam-se, por isso, exteriores verdadeira realidade brasileira que se pressupe j existir no local como nacional, apesar de o lugar efetivamente ser uma colnia dominada pelo exclusivo metropolitano. (HANSEN, 2008, p.26-28).

    Baseados nessa compreenso, podemos depreender que a literatura comea a ser criada nas dcadas de 1830/40-1870 com o surgimento de obras de tendncia romntica, em voga na Europa, que iam ao encontro da necessidade de gerao de smbolos e imaginrio que contribussem para a elaborao de uma identidade ou conscincia nacional. Nessas circunstncias, tanto a valorizao da natureza exuberante quanto o indianismo romntico, ao procurarem estabelecer o mito de origem, exerceram papel importante na misso de construir a identidade.

    Entrelaada e/ou simultnea ao Romantismo de carter indianista ou urbano aparece uma vertente que passou a ser denominada regionalista. Afrnio Coutinho (1955, p.149) afi rma que o regionalismo [...] um conjunto que arma o todo nacional [...], isto , um conjunto de obras que, justapostas, formariam uma espcie de mosaico literrio, representando as especifi cidades locais a unidade na diversidade. Antonio Candido (2006, p.244) caracteriza esse fenmeno como literaturas nacionais atrofi adas.

    Com todas essas condies, aceitando-se a tese dos vrios autores que afi rmam que a literatura brasileira nasceu no sculo XVI ou mesmo no XVIII, tem-se um paradoxo histrico. Se no havia pas, Estado nacional, como poderia haver literatura brasileira? Talvez fosse mais plausvel afi rmar que, at o sculo XVIII, o que havia era uma incipiente produo literria colonial portuguesa e que, de meados desse sculo at as primeiras dcadas do XIX, houve uma espcie de pr-histria da literatura brasileira.

    Formao da literatura de Vila Rica ou brasileira?

    Aqui apropriada uma digresso para se discutirem as proposies de Antonio Candido de outro ngulo. Admitindo-se as premissas do crtico quanto ao sistema, lembramos que as atividades literrias por ele elencadas. como as academias e os rcades, fi xavam-se, sobretudo, em Minas Gerais, ou melhor, em Vila Rica, e no no pas, que, como entendemos, no existia como tal no sculo XVIII. Alis, o prprio Antonio Candido (2006, p.61-62) escreve:

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    Nas fases iniciais da literatura brasileira, as condies histricas favoreceram em Minas algumas manifestaes literrias de qualidade, ligadas fl orao urbana que sucedeu em tempo pasmosamente curto ao far-west inicial, cuja superao Cludio Manuel da Costa celebrou no Vila Rica.Do ngulo que nos interessa, preciso registrar que tais manifestaes constituram um ponto de partida decisivo para a cultura de todo o Pas, porque em virtude das caractersticas do Barroco e do Neo-Classicismo estabeleceram uma opo universalizante traduzida na linguagem civilizada do Ocidente, em terra semibrbara como era o Brasil daquele tempo na quase totalidade.

    No preciso mais para percebermos que, pelo menos, dois vrtices do sistema os autores e o pblico receptor (em boa parte, possivelmente, formado pelos prprios autores) eram constitudos de um nmero mnimo de vila-riquenses (do sculo XVIII mineiro), pois a maioria era analfabeta. As diferentes regies, como foi lembrado Minas, So Paulo, Bahia, Pernambuco , comunicavam-se antes com a metrpole do que entre si. Tais circunstncias eram agravadas pelas severas restries da metrpole publicao e at circulao de livros e peridicos. Srgio Buarque de Holanda (1978, p.87) chama a ateno para o fato de que os [...] entraves que ao desenvolvimento da cultura intelectual no Brasil opunha a administrao lusitana faziam parte do fi rme propsito de impedir a circulao de idias novas que pudessem pr em risco a estabilidade de seu domnio.

    Os intelectuais de Vila Rica e sua produo constituem, por conseguinte, uma espcie de metonmia, se assim se pode dizer, do que viria a ser o incio do sistema literrio no Brasil. Talvez Antonio Candido tenha pensado nisso mesmo na constituio, naquele espao e tempo, de um sistema histrico-literrio mais abstrato que concreto. Naturalmente, encontram-se nos rcades outros pontos fundamentais destacados por Antonio Candido, como

    [...] a incorporao das normas cultas, necessrias para nossa confi gurao como povo. [...] Do mesmo modo atuou, noutro plano, a vitria da lngua portuguesa sobre a lngua geral, nos lugares em que esta predominava. Se no fosse assim, no seramos o que somos. A essa luz a literatura dos rcades ganha o seu pleno signifi cado histrico de traduo daquele local naquele universal [...] (CANDIDO, 2006, p.62, grifo do autor).

    Assim, preciso considerar que a noo de sistema foi aplicada realidade mineira, ou melhor, intelectualidade de Vila Rica, ncleo do que viria a ser a elite artstica e intelectual do pas, que ainda no existia como tal em tempos de Arcadismo5. Com isso, estritamente, pode-se falar em literatura de Vila Rica, no em literatura brasileira. 5 A urbanizao crescente dos ncleos mineradores do sculo XVIII caracterizada pela criao de equipamentos e infraestrutura, pela presena de uma burocracia civil e militar, pela densa aglomerao demogrfi ca. Vila Rica chega mesmo a superar, em 1740/50, a populao do Rio de Janeiro, Salvador

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    Formao da literatura e constituio do Estado nacional

    Em outro momento, retomando a Formao, Candido reelabora seu ponto de vista: [...] s em meados do sculo XVIII se formou algo como um sistema literrio com uma interrelao entre obras e autores, um esboo de pblico e a constituio de uma tradio. (CANDIDO, 2002, p.95, grifo nosso). Talvez pelos motivos que expusemos, o prprio crtico observa, ainda sobre a Formao: Por isso dizia ainda que possa soar paradoxal que o mais importante para mim no saber quando a literatura brasileira se torna brasileira, mas quando chega a ser uma literatura: um conjunto de obras com funo total. (CANDIDO, 2002, p.94, grifo nosso).

    Na mesma direo, vale acrescentar, tambm com Antonio Candido (2002, p.115), que, no sculo XIX e incio do XX, a nossa tradio letrada era oral:

    Silvio Romero lembra que, no comeo do sculo XIX, as igrejas eram salas de conferncia, as pessoas saam de casa para ouvir Janurio da Cunha Barbosa, frei Francisco de So Carlos, Monte-Alverne, Santa rsula Rodovalho, Barana, todos aqueles frades eloquentes.

    Ele mesmo, Antonio Candido (2002, p.116), alcanou a prtica da [...] igreja sala de conferncia, na pequena cidade onde morei at os dez anos. No comeo do sculo XX, as pessoas liam muito pouco; nesse momento, contou-se com [...] a grande voga das conferncias, conferncias pagas, criada por Medeiros e Albuquerque, que viu isso na Europa e trouxe para o Brasil.

    Para Candido (2002, p.116), ainda, [...] [n]o Brasil do sculo XIX quase no se lia. A salvao da literatura foi o discurso, o comcio, o recitativo e a modinha. Porque a gente esquece que quase todos os grandes poetas brasileiros tiveram seus poemas musicados.

    Sendo assim, a noo de sistema utilizada para explicar a formao da literatura brasileira no sculo XVIII seria problemtica no apenas dadas as observaes anteriores referentes constituio do Estado a que voltaremos , mas tambm ao carter restrito do espao em que se deram as manifestaes do Arcadismo, circunscritas incipiente vida cultural de Vila Rica e predominncia, at o incio do sculo XX, da cultura oral, o que ilustrado pelo prprio autor da Formao.

    Uma hiptese para a formao

    Retomando-se as premissas anteriormente expostas relativas constituio do Estado como nao e da literatura, pode-se inferir que a partir da terceira

    e Recife, [...] sobretudo, pela diversidade e qualidade das manifestaes artsticas e profi ssionais tpicas das civilizaes urbanas a msica, o teatro [...] a escultura, a pintura, a literatura, as prticas mdicas, os ofcios jurdicos etc. No entanto, a [...] civilizao urbana de Minas Gerais no setecentos a manifestao concreta e exemplar da natureza e dos limites do sistema colonial tal como foi praticada no Brasil. A colnia, rica na gerao de excedentes que so carreados para o exterior, deixa no lugar a estagnao, a pobreza e o brilho mortio do antigo fausto. (PAULA, 1996, p.92-93).

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    dcada do sculo XIX que se desencadeia o movimento de criao da literatura nacional e da historiografi a para legitim-la. Assim, [...] comearia a surgir no Brasil, concomitantemente implantao do Romantismo, a sua Historiografi a literria, qual se deve, em estreita conexo com o aparecimento de uma Historiografi a nacional, aquele reconhecimento legitimador. (NUNES, 1988, p.205).

    vista disso, no decurso de algumas dcadas foi sendo idealizada uma histria literria sincrnica e em sintonia com o Romantismo e a construo do Estado-nao. No havia ainda, no entanto, uma [...] literatura brasileira, como corpus objeto de historizao, quando a histria literria julgou oportuno inventar a sua existncia. (MOREIRA, 1995, p.82). Para tanto, Denis (1978), de fato, lanou os pressupostos bsicos fundadores da literatura brasileira: o pas recm-fundado deveria ter uma literatura independente, diversa daquela da antiga metrpole. Mas, como os dois povos falassem a mesma lngua, a diferenciao deveria ser estabelecida por meio do tratamento literrio de uma temtica genuinamente americana, a da natureza tropical. Com isso [...] seria possvel ultrapassar o dilema da identidade lingustica com Portugal. (ROUANET, 1991, p.242).

    E mais, pelo estabelecimento de uma tradio, com elementos e aspectos precursores [...] que pudessem vir a confi gurar uma tradio literria nacional brasileira (ROUANET, 1991, p.232, grifo do autor). Para isso no seria necessrio recuar muito no tempo: seu esboo j estava, pelo menos, em O Uraguai de 1769 de Baslio da Gama e Caramuru de 1781 de Santa Rita Duro. A tradio precisava ser consolidada e desenvolvida. Caberia ao movimento romntico [...] fundar a representao da nacionalidade, atravs da entronizao de uma imagem da realidade brasileira. Uma vez defi nida tal realidade, competia aos autores do tempo louv-la, engrandec-la [...] (ROUANET, 1991, p.254, grifo do autor).

    Aps Denis e Garrett, passando por Janurio da Cunha Barbosa em Parnaso brasileiro ou Coleo das melhores poesias de poetas brasileiros de 1829/1830, [...] sucedeu-se uma srie de antologias que, sob a denominao de bosquejos, fl orilgios, harmonias e mosaicos, constituem volumes de compilao e informao bibliogrfi ca. (MOREIRA, 1995, p.80-81). Isso porque fazia-se necessrio forjar elementos que fomentassem a inveno de [...] um passado que j fosse nacional, marcando desde cedo a diferena em relao me ptria. (CANDIDO, 2006, p.211).

    A histria literria brasileira traz, desde os primeiros esboos no Romantismo, a defi nio de uma entidade abstrata corporifi cada nas obras, criaes individuais que refl etiriam um carter ou um esprito coletivo: o ser nacional [...] A histria literria se torna sinnimo mais ou menos difuso desse ser com a funo de apresentar a identidade coletiva do povo brasileiro, cuja origem

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    Formao da literatura e constituio do Estado nacional

    remetida formao quase mtica de uma tradio nacional. (VENTURA, 1991, p.166, grifo do autor).

    Esse movimento, intimamente ligado construo nacional, entre os anos 1830/40-1870, entendia a literatura como instrumento fundamental no processo de organizao do Estado-nao. Por intermdio [...] da literatura, o pas recebia atestado de nao, incluindo-o no rol dos territrios civilizados e progressistas [...] (ZILBERMAN, 1999, p.27).

    Literatura brasileira: de Machado de Assis a Guimares Rosa

    Sendo assim, possvel afi rmar, cremos, que a formao da literatura no se concluiu no momento mencionado por Antonio Candido, ou seja, com Machado de Assis. O processo de formao continuava, naqueles anos, inconcluso, tanto quanto o da organizao do Estado nacional. Essa , inclusive, a percepo de Machado de Assis em 1873, quando, ao refl etir sobre o estgio em que se encontrava a nossa literatura, atenta para o fato de que as [...] mesmas obras de Baslio da Gama e Duro quiseram antes ostentar certa cor local do que tornar independente a literatura brasileira, literatura que no existe ainda, que mal poder ir alvorecendo agora. (ASSIS, 1959, p.131).

    Entendemos, dessa maneira, ser problemtica a tese de Antonio Candido segundo a qual a literatura brasileira, em meados do sculo XIX, j estaria formada, com um sistema constitudo. Roberto Schwarz (1999), procurando justifi car a posio do autor da Formao, afi rma que, embora a construo do pas no se tivesse completado, o processo de formao da literatura mostrava estar concludo, ou seja, o movimento constitutivo da literatura havia terminado, apesar de a nao continuar inconclusa. Para o crtico, [...] Machado de Assis um ponto de fuga e de chegada do movimento de formao da literatura brasileira. Ao possibilitar a sua obra, despida de provincianismos e debilidades, o processo mostrava estar concludo. (SCHWARZ, p.90). Haveria mesmo [...] um descompasso entre maioridade literria e maioridade nacional propriamente dita [...]. (WAIZBORT, 2007, p.145).

    Tanto tal tese problemtica que o movimento iniciado com o Romantismo e animado pelo Estado imperial, no sentido de forjar uma literatura, uma histria e uma cultura nacional, retomado no Modernismo e tem nele continuidade. Esse movimento recoloca, em outros termos, problemas postos pelo Romantismo, como a dicotomia nacionalismo/cosmopolitismo, as razes culturais, a lngua, a miscigenao racial e cultural, etc. Grupos, peridicos, manifestos como o pau-brasil, a antropofagia, o verde-amarelismo, a anta so casos emblemticos.

    A dialtica local/universal defendida por Antonio Candido como princpio da formao da literatura brasileira e expressada na produo e na refl exo de

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    muitos de nossos escritores, sobretudo no Romantismo, arrefecendo depois dessa tendncia reaparece com fora no Modernismo. Nesse movimento, o desejo de cosmopolitismo concentra-se nas vanguardas europeias. Quanto ao que seria o nacional, a diferena no grande relativamente s consideraes romnticas: descrio e mesmo louvao da terra, da natureza tropical.

    A propsito do interesse do Modernismo pelo nacional, Mrio de Andrade escreve na revista Esttica (1925, p.336) que, se tivesse havido uma evoluo natural [...] das tendncias espirituais do Romantismo pra c [...] j se teria uma arte nacional. Srgio Buarque de Holanda (apud LEONEL, 1984, p.74), por sua vez, lucidamente assinala em 1926, na revista Terra Roxa e Outras Terras, a presena do [...] velho jacobinismo dos nossos romnticos de 1860, a despeito de tantas tentativas para evitar essa atitude [...]; todavia, diz ele, [...] os mais ousados dentre ns tiram o melhor partido de sua efi cincia.

    Em O movimento modernista, Mrio de Andrade (1942, p.66) reafi rma essas afi nidades quando discorre sobre o que caracteriza como esprito revolucionrio romntico e esprito revolucionrio modernista. O primeiro teria preparado o [...] estado revolucionrio que resultou na independncia [...] e o segundo, o [...] estado revolucionrio de 30 em diante [...]; alm disso, ambos tiveram papel-chave na nacionalizao da linguagem. Antonio Candido (1976, p.112), por seu turno, aponta tambm as similitudes de ambos:

    Na literatura brasileira, h dois momentos decisivos que mudam os rumos e vitalizam toda a inteligncia: o Romantismo, no sculo XIX (1836/1870), e o ainda chamado Modernismo, no presente sculo (1922/1945). Ambos representam fases culminantes de particularismo literrio na dialtica do local e do cosmopolita; ambos se inspiram, no obstante, no exemplo europeu.

    Essa herana oitocentista do uso da literatura como instrumento de criao da conscincia nacional, a seguir, acabou sendo incorporada como poltica estatal no governo Vargas, na dcada de 30 do sculo passado, dentro do projeto de concluso da nao. Temas, problemas e tarefas so reatualizados e repostos, apontando o carter inconcluso do Estado nacional de forma geral e da literatura em particular. Desse modo, em especial durante a ditadura estadonovista (1937/1945), o Estado como no Imprio volta a ser protagonista primordial na redefi nio da identidade nacional. Nessa circunstncia, a cultura passou a ter a funo de [...] substituir a representao poltica no papel de ligar a poltica ao povo. (CARVALHO, 1999, p.258). Por meio de diversos rgos e instituies Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (SPHAN) e outros procurou-se recuperar [...] a viso imperial de continuidade da histria do pas. As razes portuguesas foram

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    Formao da literatura e constituio do Estado nacional

    revalorizadas sobretudo em seus aspectos religiosos (catlicos) e de tolerncia racial. (CARVALHO, 1999, p.261). A literatura, como registrou Mnica P. Velloso (apud CARVALHO, 1999, p.260), deveria refl etir a realidade brasileira na sua autenticidade, ser o espelho da nao.

    Essa reposio insistente e constante da tentativa de tornar a cultura e a literatura em particular recursos privilegiados da constituio nacional pode indicar que a literatura brasileira, apesar de ter tido papel importante nesse sentido, no havia cumprido de forma plena o papel que, ofi cialmente ou no, lhe era destinado. Tal recorrncia deve ser vista como manifestao no s de que a constituio do Estado nacional continuava inconclusa, mas tambm de que a formao da literatura brasileira encontrava-se constringida, em busca de uma fi sionomia ou confi gurao prpria.

    Por tudo isso, propomos uma hiptese plausvel: a de que a literatura brasileira, que comea a ser criada nos anos 1830/1870 com o Romantismo, ganha confi gurao plena entre a publicao do primeiro e do ltimo grande romance brasileiro: Memrias pstumas de Brs Cubas de Machado de Assis em 1881 e Grande serto: veredas de Guimares Rosa em 1956. Paralelamente a isso, a sistematizao crtica, autenticada e normatizada do que seria a literatura brasileira, poderia ser demarcada no interstcio histrico que vai da publicao da Histria da literatura brasileira de Silvio Romero de 1888 edio da Formao da literatura brasileira em 1959.

    SEGATTO, J. A.; LEONEL, M. C. Formation of literature and constitution of the National State. Itinerrios, Araraquara, n.30, p.11-30, Jan./June 2010.

    ABSTRACT : The aim of this paper is to discuss literary and historical issues raised by Antonio Candido in his book Formation of Brazilian literature, fi rst published in 1959. This work in re-elaborating and trying to overcome the former references concerning dates and the explanations for the origins of Brazilian literature presents an innovative character which, on the one hand, turned it into a fundamental paradigm of literary history and criticism in Brazil and, on the other hand, provoked many controversies and objections. In discussing the historical and critical heritage and incorporating many of its elements, the critic reconsiders the historical, literary, and cultural landmarks of the rise or the decisive moments of Brazilian literature with the aid of the notion of literary system. Fifty years after the publication of this work, we believe it is opportune and necessary to reconsider and redefi ne the historical and literary demarcations of the creation or the formation of Brazilian literature, by means of a different interpretation of the organization process of the State and the Nation in Brazil.

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    Jos Antonio Segatto e Maria Clia Leonel

    KEYWORDS : Antonio Candido. Formation of Brazilian literature. Literature. History. Literary system. Nation State.

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