21. Paul Ricoeur - Hermeneutica e Estruturalismo

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dada Duma funcao existcncial partiCular;" ~ assim que a pskanalisc'tcrri ....sell fundamento Duma arqueologia do sujeito, a fenomenologia do espiritonuma teleologia, a fenomenologia da religiao numa escatolog;~..

Podemos ir adiante? Podemos articular essas diferentes fun~5es.existen­dais numa figura unitaria, como tentava Heidegger na segurida parte deSein und Zeit? Eis a questao que 0 presente estudo deixa sem solu~ao. Con~

tudo, se permanecc scm solu<;ao, nao edesespcrada. Na dialftica da arqueo­logia, da teleologia e <ia escatologia, anuncia-se uma estrutura ontol6gicacapaz de congregar as interpreta<;oes discordantes no plano lingiiistico. Masessa figura coerente do ser que somas n6s, na qual viriam implantar-se asinterpreta<;6es rivais, nao se da em outro Iugar senao nessa dialetica das in­terpreta<;6es. A esse r.::speito, a hermencutica e insuperiveL Somente umahcrmcncutica instrufda peIas figuras simb6licas pode mostrar que essas dife­rcntes modalidades da ex:istcncia pertencem a uma unica problematica.Porque, afinal, sao as silnbolas mais ricos que asseguram a unidade dessasmultiplas intcrprcta<;oes. Somente des sao portadores de todos os veteres,regressivos e prospectivos, que as diversas hermencuticas dissociam. Os vcr­d;;,deiros simboJos es:ao c~;rc;::dos de tod~s as hen~lcnc:..Jtic:l.s, da c;:.:e sc di­rigc a cmcrgcnei:-:. de,; novJ.s s;gr;ific;l.~ijcs c da que sc d irige ;,. ri.:s'~~gcncia

das faD.t3.Sias arcaicas. E ncsse sentido que diz12ffiOS, dcsuc nossa ir::rodu<;;'io,que a cxistcncia de que pode f.:l]:lr um:'l filosofia hcrmcncutic3. pC:':'Ylanecescn"l;~rc um3 cx.::-:t~::c;a jntc:-p:-C:Lld~. t no t:-2.balho d~l i;-:tcrprc::l~~:: ::::·~C C:2

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ao dcseJo pcrccbica Duma arc;'Jcolagia do sujci,a, sua dc?cndcncia ao cspiritoperccbida em sua tclcologia, sua dependencia ao sagrado pcrcebida em suaescatologia. ti descnvolvcndo uma arqucologia, uma !etcologia e uma escato­lcgiaque a ref]cxao se suprime a si mesma como reflcxao.

Assim, a ontologia e a terra prometida para uma filosofia que comc9apcla linguagem e pcla reflcxao. Como Moiscs, porern, 0 sujeito fa]ante ercflctinte apenas pode percebc-la antes de morrer.

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ESTRUTURA E·HERMEN~UT.ICA·

o prcsente coI6quio tern por tema a herroeneutica e a tradi~ao. 'B sur­preendente q~e, aquilo que e posta em questao, em ambos os tituIos, e,eertamaneira de viver, de operar 0 tempo: tempo detransmissao. tempo de in­terpreta~ao.

Ora, somos eta opiniao - que permanece opiniao enquanto nao <for bemfundada - que essas duas temporalidades ap6iam-se uma sobre a outra, per­tencem-se mutuamente. Achamos que a interpre~o possui uma hist6tiae que esta hist6ria e urn segmento da propria tradi~ao. Nao lDterpretamosde parte alguma, mas para explicitar, prolongar e, assim, manter viva apropria tradit;ao na qual nos encontramos. e assirn que 0 tempo da inter­preta:;ao percence de certa forma ao tempo do. tradit;ao. Em compensat;ao,porem, a tradi:;ao, mesmo entendida como tr"lnsmissao de urn depositum,permanece tradit;io marta, se nao for a interpretat;ao continua desse depo­sito; t;ma "herar.;;a" nao 6 urn pacotc fechado que passarr.os de mao em maoscm. :lbri-lo, mas um tesouro de ond~ sacamos com as maos replctas e quercnOV<1:7l0S 1'13 o~)(:raq:i0 mesma de:. saca-lo. Toda tradi:;ao vivc grayas aintcrpreta9ao. e a este pre90 que ela dura, quer dizer, permanece viva.

Tod<>via, nao IS visivcl a pcrten~ mutua dcssas duas temporalidades:como a interpretayao se inscreve no tempo da tradic;ao? Par que a tradi~o

so vive no e pclo tempo da intcrpreta~ao?

Es~e:J i proCUIa de uma tcrccira tcmporalidadc, de um tempo pro­funelo, que ~(;ria iZ15Crito oa riqucza do scntido c que tornaria passive! 0 en­lrccruz~.n~cnto J=as Liuas tcmporalidadcs. Scria como que uma carga tcm~

peral, in:::i:;lmcntc lcvada pdo advcnto do scntido. Esta carga temporal tor:­naria pO:;~lvc1 .10 mesmo tempo a scdimcnt~o Dum depOsito e a explicitac;aonuma i;lterprcta:;ii.o. Em suma; tornaria possivcl a Iuta dessas duas tempo­ral;dadcs, uma que transmite, outra que renova.

r-.la.s ondc procurarmos este tempo do sentido? E, sobrctudo, comoalingi-lo?(/ Minha hipo'ese de trabalho e a de que esta carga temporal tern alga a\~~ com a constitui~o semantica daquilo que chamei, em minhas duas comu-

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Nao me parccc oportuno partir de 0 Pmsamento Selvagem, mas chegar3 dc. 0 Pensamcr;[o Sd"agem reflre~cnta a ultima cl;,p3 de urn processogr3dativo de generali7.at;ao. No inicio, 0 cstruturalismo naG prctendc ~ef~nirloch a constitui"ao do pensamento, mesmo no cstado sc!''':lgcm, mas dchmltarum grupo bern dcterminado de problemas possuinuo, sc pod cmos dizcr assim,afinidade para 0 Ira1amento estruturalista. 0 Pensamenlo Selvagem repre-

dcssc (cmpo esgotado; transforma-sc em hcran~a C em dcp6sito, ao mesmo ; "tempo que sc r:lcionaliu. Estc proccsso c patente quand? .se compara ~os 'io

grandes simbolos bcbr~icos do pccado as COl1stru<;ocs fantastlcas da gnose c, I ttambcm, da antil;oosc crista do pecado original, que n~o passa de um~ t .~resposta a goose, no mesrno nive! s.::maDLlco. !!~a_~radJ<rao se esgota a~o t~!1li~ologizar ~ srm_b5'lo;_~B.Q~a.tr.aYis da lllt~rpraa~ao, que so15e~ r(~.,,~!1~ ~"crtente dO_.~~~._P()_~g~t.1.dOao_tempo_oc_l,l':L0"'_~!cdaer, fazendo apcio,da . 'I ~'mitologia.ao.slmbolo..e..a..su.a...rcsetlla de senfJ~o. - !

~. . Mas 0 que cizermos de:se tempo fundador em rel~<;2..o ao duplo tempo l fda tradicao e da interprctac;ao? E, sobretudo, como atlDgl-lo? !OI

Esse estudo pretende propor uma via de acesso indireta, urn atalho: IIpartirei das no90es de sincronia e de diacronia oa escola est~tur~lista e~ esp:-cialmente, oa Antropologia EstrlJ.lural de Uvi-5trauss..Minha lD:en<;~~ nao Ie, absolutamente, a de opet a hermeneutica ~o estruturahsmo, ~. hl~tonctda~ - ! .de uma a diacroD..l a outra. estruturalismo pertence a Clencla. E nao lvejo atualmente enioque maiS'"rigoroso e mais fecundG que 0 estru~ralismo ! fnO nlvel de inteligcneia que ~ ~ seu. _A interpr.etayiio da s~b6Iica ?ao !Imerece ser chamada de hermeneutica senaa na medlda em que e urn segmen- I t'

to da compreensao de si mesmo e da compreensiio do ser. Fora desse trabalho . i fde apropria¥ao do sentido, ela nada e. ~esse ~entido,. a he~meneutic:a .e urna I f:disciplina filos6fica. Tanto 0 ~st~~ral~s~~~~a a dlstanclar, ~ O~Jctl~ar, .3 j ~scparar da cql'aC;ic pcssoal d? pcsqu~~~~or a cstrutura de uma mstltUl~ao, oe .urn mito, de um ri:o, quanta 0 pcnsamento hermencutico cmbrenha-se na-qUilo que pudemos Cllamar de "0 circ1!lo hcx~encUt!co"--docorripreender edo crcr, que 0 d~sqL!a1ifiCa c6ri16--cic~cia c 0 qllalific:l como pensamcl1to;.ncd;tan~c. PorlJ.::'~:', do ·IJ5. lug·;'-r para sc justapor dt.;~" O1:l'1drZlS de com-

. Drccn-da. Tr:;t~,·:,c, an:es, de cncadc~-13s como ° ObJctlvO c 0 cxistcnci31(exis;entiel) _ ou 0 e:zistenriaIJ e a berroencutica e uma fasc pria-<;ao lio scntido, uma ctaoa entre a reflexao a ~trata c_~ rcflcx.ao concreta;~a~~ticaeuma retomada, pela pensamento, do scntido em suspenson3 simbolica, s6 pode encontrar 0 trab;,lho da antropologia cstrutural comourn :lpnio, e 050 CC1mo uma cunha. S6 nos apropriamos daquilo qu~ antesIr~.:i:':.:~."'''::-:)O~ ~ d:s~5.~.:~a para considcra-lo. _r;. ~O!!.siJ:E~9ao ob;CH\'J., !~-\,<Jca a cfcjto~no5. c_o,,-ceilos de sincro~e~acronia,que prctc:mlo pralic:lr,-;;,; c~pC;.:in;:.:i de cC:HltIDra hcnneneutica, de~rnLlnlclili:Gciaingcn lla a_!J.P_~intcligencia amadurc;:ida, at~dadi~nada objd~i~~~

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nicaC5cs antcri.ores a cste mesilla col6qciot, osfmbDlo.... e que dcfini pelc podcrdo duplo scntldo. 0 simbolc, dizia, e assim constftUrdo do ponto de vistasemantieo que ele confere urn scntido mediante urn sentido; nelc, um se:'llidoprimaric1, literal, mundano, frcoilentemente fisico, remcte a um scntido figu­rado, cspiritual, frequentcmcntc existenciaI, ontologico, que de forma algumac dado fora dessa designacao indireta. 0 slrnbolo leva a pcmar, faz apeIo auma interpre~o, justamente porque ele diz mais q;;c nao diz e porque ja­mais terminou de levar a dizer. Meu problema, atualrocntc, code extrairo alcance temporal dessa analise semantica.. Entre 0 aerescimo de sentido

~) ~_car~~~~ral,deve haver uma rela<;ao essencial: e essa reia~~o essencial./'. que constitui 0 desafio da presente comunic~ao.

Ainda uma precisao: chamei este estudo de 0 tempo dos simbolos, e naode 0 tempo dos mitos. Como disse Dum estudo precedente, de forma algumao mito esgota a constitui<;ao semantica do simbolo. Quero lembrar aqui asprincipais raz6es pelas quais 0 mito deve estar subordinado ao simbolo.Em primeiro lugar, a mito e uma forma de relata: ele conta os aeontecimen­tos do inicio e do fim num tempo fundamental - naquele tempo; - estctempo de referencia acrescenta uma dimensao suplementar a historicidadede que csta encarregado 0 sentido simb6lico, devendo ser tratado como umproblema especifico. Par outro lado, 0 elo do mito com ° rita e com 0

coojunto das instituirrOes de uma sociedade particular 0 insere na trama sociale mascara, ate certo ponto, 0 potencial temporal dos s£mbolos que ele pocem jogo. Mostraremos mais .:ldi:::1tc <l. import~ncja d'~ssa d::'Lint;:io. A me\.!vcr, a f].;;]-50 social determinada do mito nao csgota a riqueza de sentiddo [undo simb61ico.J:lllC-.Dl!1ra.co:'~st~,1l;il.o...m.;.1lca poderi reutiJjz;lr. em ot:1rocontex10 SOCi2!. Enfim, 0 arraDjo jitcrario do mito implica wn inieio de ra­c~o:l21i7a<;5.o que Iimit.3. 0 r0~C!" (~:; ~~~~:fic2~::n (:0 fL:i":cc'1 Sin12J!~(:0. i{ct6r~c~~

c C'SpcculD.Cao ja come~am a fi"ar 0 fundo simboEco; nao h5. mito scm urninJcio de mito!ogia. Par todas cssas fazOcs - arranjo em forma de relato,ligac;ao com 0 rito e com uma fuD~ao social determinada, racionalizac;aomito!"gica, - 0 mite j:i nao se en contra mais no nlve! do fundo simb61icoc dcste tcmpo oculto que p:"ocuramos m:mifcstar. Quanto a mim, ja mostrcii"o, tOffi:lndo 0 exemplo da simb61ica do ffi:ll. P::lfCCCU-mc ~:.:c as slmho1('~

c:1';Ol:05_.':la confissao do m~l e:;::1o rcpartidm em Ires nivcis sif'r1ifiC;lnl,£5:n: ...cl. Si..l~lb6!lco primirio Ja sii)cir:\>.. do pec:lc!,:ua cu!ea: nfvcl mitico dm!~;;!f1<:C~ rC~[Qc'i de ueda ou de exllio; nivc! dos do matismos milolo~icos dboose c do"pceado on~lna. Pareccu-rnc. ao levar a cfcito csla dialetica dosimbo!o "':"':"&ascand;;;:~-;pcnas, c verdadc, nas tradis:6cs semiticas e beleni­t.:~':. q:.1C ..J. rcscr,ra de ~cnlido d05 simbolos p:im~rios era m:lis rica que ~

(!".: oir;:bo:os mIticos e, com maior razao, que a. d:lS mitologias racionalis­ta.>. Do simbolo ao milO e a mitc!og:a, i'~s:>r:'1CS de nm tempo oculto 11 urnlc~"p" cs[;o:ado. Parcce, entaD, que a tr;-,d i\;~o, na rncdida mesma em quedc-sec a rampa do simbo10 a mitologia dogmatica, situa-sc sobre 0 trajcto

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todos Os signos de uma Hngua formc.-n urn sistema: una lIngua, 56 ha dife­ren~3s" (Cours de ling1.1istiqllc gcncrale, p. 166).

Ess2. ldeia-for.;a r..urnanda 0 segundo ~cma concernirtdo precisa.ment~ arcla~ao da diacronia com asincronia. Cera cfeito, 0 sist~~a das dlf.ercnc;ass6 surge sabre um eixo das 'cocxistcncias inteira:ncnte dlstlO.t~ ?o elXO' oassucessoes. Nasce assim uma lingUfstica S·'lCrOD1ca, como ClcnCla dos esta­dos em seus asp~ctos si~tematicos, distinta de uma ling~istica.di,a:ro~ica, oucicncias das evolus:5es, aplicada ao sistema. Como se ve, a blstona e SeClln­daria, e figura como altera~ao do sistema. Ademais, em lingUistica, essasaltera~oes sao menos inte1igfveis que os estados de sistema: "Jamais, escreveSaussure 0 sistema e modificado diretamente; em si mesmo, e imutavc1; so­mente c~rtos elementos sao aHerados sem atenc;ao a solidariedade que osliga ao tOdo" (ibid., p. 121). A bist6ria e mais respon~Y.eLpe1as desordensque pelas mudan.;as significantes."'"'"Saussure afinna com razao: "os fatos daserie sincronica sao rela~6es, os fatos da serie diacronica, acontecimentos nosistema". Par conseguinte, a lingiHstica e antes de tudo sincronica, e a dia­cronia s6 e inteligfvel enquanto comparas:ao dos estados de sistema antedorese posteriores; a diacronia e comparativa; nisto ela depende da sincronia~Finalmente, os acontecimentos 50 sao apreendidos qu::ndo r~alizados Dwnsistema, isto e, ainda recebendo dele um aspccto de regulandadc; 0 fatodiacronico c a inova~ao oriunda cia palc.vra (de um so, de alguns, poueoimpoLta), mas "tornada fato de ling~agcm" (p. 140).

o problema central de nossa reflexao consistira em saber atc onde 0

modclo !in"iiistico das rclac;6cs enlre sii1cro~ diacron~:1 pode nos guiar naCOrl:'D:,cc::sio C~ hiqo:-:cid:1cC riOrr:~ ~os sfmbolos. D:;':':;:;o;;:; 1o~()~ 0 ;:'0:::0>,-,.;~o S .r,; "It;·,,,iu·o ""~"(J'~ c,,'iverrYlQs Giant<: de uma verdadcira Ir:,di~:;C',......... ,.... t",;l ...... ~ 1.'0' -.,_LoL •• V - ~ .. ~.

iSLo C, de uma serie de retomadas interpretantcs que nao podem mais serconsideradas como a intcrve09ao da desordcm num estado de sistema.

Entendamo-nos bem: nao atnbuo ao estruturalismo, como alguns desellS crlticos, urna oposi~ao rura e simples entre diacronia e sincronia. A essercspcito, Uvi-5lrauss tern raziio de opor a sellS detratorcs (Antropologie

.cfruC!lIro!e, i'p. 101. 103) 0 ;randc artigo de Jakobso:1 sabrc os Prindpio"~

de Fonologia IIis!oriea. onde 0 ;'tutor dissocia cxpressamcnte sincronia e cs­talica. 0 Qlie jmnorta ~ a subordin3~:;o, nao a o~s:~_o.,.da_ diacronia a sin·crania. £--CS:;-s~bo"rdJn-a9~~qt;c~C:-~s~ituir.i problema na intcligc~~!:l ~crmc­~~. A diacronia so e significantc por sua rela9ao a sincronia, c niloo contrario.

Eis. porem, 0 tcrceiro principlo, que nao diz mcnos rcspcito ao nOSSO

problema da intcrprcta9ao c do tempo da interpretac;ao. Ele f~: cxtraldosobrctudo peIos fon61vgos, m,,5 ja esui presente na oposi9ao saussuriana entre -1lingua c palavra: as leis lingulsticas designam l'm nivc1 incooscicnte c, n~s.!c. Isentido, nao-reflexivo, nao-hist6rico do espirito. Esse inconsciente nao e 0 \

ioconsc~ente freudiano da pulsao, do desejo, em seu poder de simbolizac;ao; )

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scnta uma cspccie depassagcm limitrofe, o'c sistematiza~ao terminal que con­vida-nos dcmasiado facilmcnte a colocar como uma falsa alternativa a es­colha entre VarIOS modos de comprccnder, entre varias intcligibilidades. Eudissc que era, em, principio, a'lsurdo.' Para nao cairmos, de jato, na arma­dilha, prccisamos tratar 0 estruturalismo como uma exp1icas:ao em primeiroIugar lirnitada, em scguida, pouco a pouco ampliada, seguindo 0 fio condu­tor dos proprios problemas. A conscicncia de validade de um metodo jamaispade scr separada da conscicncia de sellS limites_ E para fazer justis:a a estemetoda e. sobrctudo. deixar-me instruir por ele, que 0 retomarei em seumovimcoto de extcnsao, a partir de urn nueleo indiscutivel, ao inves detoma-Io em seu cstadio terminal, para alem de certo ponto critieo onde,talvez, ele perea 0 sentido de seus limites.

I. 0 MODELO LlNGOlST1CO

Co11l0 se sabe, 0 eslruturalismo procede da aplicas:ao a antropologia e ascicncias humanas em geral, de urn modelo lingilistico. Na origem do estru­turalismo, vamos encontrar inicialmente Ferdinand de Saussure e seu CUTSO

de Lingiiistica Geral e, sobretudo, a orientas:ao profuari!ente_fono16gi.~ dalingulstica, com Troubetskoy, Jakobson e Martinet. Com des, assistimos aurn::. inversao das rcla~6cs entre ~istema e historia. Para 0 historicismo, com­precndcr e cncontrar a genese, ~_f~~a, anterior, '~ fC?_ntes, 0 scntido daevolu9ao. Com 0 estruturalismo, sao os aITanjos, as orgaDiza~6es sisteoaticasDum estado dado, que sao -intcIiglveis em primciro Iugar. Ferdinand de Saus­sure comc~;J. .:1 introduzir c~ta rc~T;a\~·l:'3. distlnguiilJo n.a linguagcm a l:;;gu~

c a paiavra_ Sc cntcndcmcs por lin~Ja 0 conjunto das convcn~6cs adotadaspor urn corpo social para permitir 0 exercfcio da linguagem entre os indi­viduos, c por 'palavra a pr6pria op~ao dos sujeitos faIant~, essa distin~ao

capital da acesso a tr~s regras cuja gencraliza~ao acompanharcmos, daqui apOlice, fora do dominio inicial da !.ingiiistica.

Em primciro lugar, a_td~~_m.~m3 de sistema." Separada dos suicitos fa­::,r.:c:" ~lii},;ua_s~_ <If'rescnta como urn sistema de signo:;... Ccrtamente.FerJ in:J.nd de Saussllre IlaO C urn fon610go. Suii·conccp<;:io do signa linguis­lim como reta<;5.o do signific.:ulte soooro e do significado conceiLual c muitomais scmantlca que fonol6gica. Niio obstante, 0 que lhe pareee constituiro objcto de urna ci~ncia lingUistica i 0 sistema dos signos, oriundo da deter­",.[nayao mlaua da c.adcia sonora do sigrdicante e da cadcia cc:::ceitua! dos:~nific:1do_ Nessa dctermina~o redproCa. -6-qui"conLi-ni.io "saoostermos,c~n,idcrados inclYidualmeotc, mas as distincia.sdlfcrenciais;-s1i.o -as-'difercn­<;;;,.~de-som-e-dc~sci1tido~ as refa~oes· de -tinS-com-os -outro'S, que constitucmo sistema do·s signos de -uma-lliig1ii:" 'Cornpreendc~sc; "entaO;-que cada ·signos'cja arbiL;ario;enqu.anto -rd~ iSolada de um sentido e de urn som. e que

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-Lmais..JJm jnC(:!D~cjcntc.-ka.nt..i.ano-4ucfreudiano. um inconscien~9.ri~1,combinatorio' c uma orJcm fin ita ou 0 finilismo da oHkm, mas de ~lfOrm.2-9.~nar;.Dig~ i;:;-c'o;';cicnte kantiuDO, mas. apenas par c~usa de

SUa organizm;ao, porquc sc trata muito mnis de urn sIstema ,categonal scmreferenda a um sujcito pensame. £. p~s_o~ue_.p~struturalismo,-enquant?filosofia. .dcscovolvC~~_JJm ~.tipo _dc-mtelectualismo fundamcnta1roente~.tl­reflexivo antiidcali~ta, a~tifen2ill£.11Q1Qgico; da mcsma form~, ~ste cspmtolm::o~D.IC'Ifoacscrartohom61ogo a. natureza; talvez ~Ic .a,te SCJa naturc~Voltaremos a isso com 0 Pensat"ento Selvagem. Todavla, Ja em 1956, refrindo-se a regra de economia na explicac;ao de Jakobson, Uvi-Strauss es-

" crevia: "A afirmac;ao de que a explicaC;ao mais cconomica tambcm e a que\ _ de todas as consideradas - mais se aproxima da vcrdade, repousa, emI ultima analise, sobre a identidade postulada das leis do mundo e das do~ pensamento" (Anthropologie structurale, p. 102).

~ Este 'terceiro prindpio nao nos concerne menos que 0 segundo. porqueinstitui entre 0 observador e 0 sistema uma rela<;ao que e em si mesma naohist6rica. Compreender nao significa retomar .£._sentid.o. I?iferenteme~~edaquilo quee afirmado por Schleiermacher em Hermeneutlk und Krltl.k(1928), por Dilthey em grande artigo Die Entstehung der Herme~eutl~(1900), por BuHmann em Das Problem der Hermeneutik (1950), p:oha"clrculo hermeneutico"; nao hi historicidade da rela9ao de compreensao. ':r;~@~_QbJ~tfy-;;, i~dep~lde·~t.edo obserya.dor~ ~ por isso que a antropologl3estrutural is ciencia e nao filosofia.

II. A TRANSPOSrc:Jl.O DO MODELO Ll'NGD1STICO£\1 A0<'TRO?OLOGIA ESTRlITURAL

Podemos seguir ess:! transposic;ao na obra de Uvi-Strauss, apoia!1do-n~~nos arti"os mctodolo"icos publieados na Antropologia Esrrutural. I>,·1:luss Ja

'" '" .dissera: "scm duvida, a sociologia sena bern mais avan9ada se tlvesse pro-cedido, em loeJa p:lrtc, imitando os linguistas" (Artigo de 1945, in Ar.thropo­logic strl,cruralc. p. 37). ~1as is a re.... oJur;:aa fcnologi,:;a em lingliistica c;veLtyj-StraU!.:i consider;:: CC!TIO a verJadeiro ponto de partIda: "Ela nao re:1O­vou apc!1:lS a~ perspeclivas !i..'1guisticas: uma transformayao ces~a ;"mplituJcn~o cst:i Em:I:lGJ. J. wna disciplina particular. A fanalogia n:;'o poJc deL);.a,de Jescmpenhar. per;>ole as cii:ncias sociais. 0 mesrno pape! renov:ldor quea fisica nuclear, por exemplo, dcscmpcnhou no con,junto OJ.:) cicncias eKatas.Em -1,1 .. consistc csta rcyoluyao, quando tratamO$ de encua-h em SU3S

implica;;oL"S mais gcrai~? 1? 0 ilustre mestre da fanalogia, N. Trot.:hI:tskoy,quem nos forncccra a rcsposta a esta questao. Num artiga-prograrn~ (AFonolonia crual. in Psychologie du larzgagc), cle reduz, em suma, 0 lDt:1odofonol6;;co a quatro proccdimcntos fundamer.tais: em p;i.;neiro lugar, a

fonologia passa do estudo dos fCDomenos lingiilsticos conscientes ao estudode ~ua ,i~fra-cstrlli~; ela serCcllsaa tiatar os termos co~()

cntidadcs indcpcndentes, tomaodo,:?O<;oo_trario, como base de sua analiseas rclaroes ':ntr~ o~ ter~os; introduz a 009ao de sisrema: "A fonologia utualoao sc limit... a dcc1arar que os fonemas sao scmpre mernbros de urn sistema.ela mostra sistemas fono16gicos concretos e tOrDa patente suz. cstrotur~";enfim, visa a descoberta de leis gerais, quer encootradas por indu~ao, quer"deduzidas logicamente, 0 que Ihes daum carater absofuto". Assim, petaprimcira vel., uma cieocia social consegue formular re1~c;5es necesswas. Tale 0 sentido desta ultima frase de Troubetskoy, ao passo que as regras pre­cedcntes mostram como a lingiilstica deve se arranjar para chegar a esteresultado" (Anthropologie structurale, pp. 39-40).

Os sistemas de parentesco forneceram a Uvi-Strauss 0 primeiro analogorigoroso dos sistemas fonol6gicos. Sao, com efeito, sistemas estabelecidosno es!agio inconsciente do espirito; ademais, sao sistemas nos quais ospares de oposiC;ao e, em geral, os elementos diferenciais sao os unicos signi­ficantes (pai-filho, tio materno e filho da irma, marido-mulher, iml1ia:irma):por conscguinte, 0 sistema nao se situa no nlvel dos termos, mas dos paJ;csde relar;ao (Estamos Iembrados da solur;ao elegante e eODvincente doproblema do tiomaterno: ibid, especialmente pp. 51-52 e 56-57). Finalmente,sao sistemas em que 0 peso da inteligibilidade esta do lado da sincronia:sao CQQstrufdos scm referencia a hist6ria, embora comportem uma dimensaodiacr6nica, pois as cstruturas de parcntcsco ligam uma seqiie:lcia degera~6cs2.

Ora, 0 que autoriza essa primcira transposi~ao do r.:odelo lic~iilstico?

Essc;ocin.lmcnte isso: 0 proprio parentcsco e urn sisterr.3 de cornunicar;:ao.t a. c''';sc titulo oue c!c is cornparavcl i Hngun.: "0 ~i~tc,",a de fl3;entc~cnis um.::l. lin 'n. ' uageIIl universal, e outros meiossao e aC;30 podem Ser preferidos. Do ponto e VIsta do soci610go, isso

equiv;l]e a diur que, em presenr;a de uma cultura detcrminada, coloca-sesempre uma quesUo preliminar: sera que 0 sistema e sistematico? Talc;uest20. n.bsurda urimeira vista, sO 0 sena realmemc ~m relacao a J1ng~

pOlS J. !rng~ {; 0 sistema de significacaQ por exceiencia:.--ela nao }?Ode naos'lgil:":l=r. e 0 lodo de sua e.xistencia esti na signlficayao. Ao contra-rio, ':l.qucs:";o devc ser cxaminada com urn rigor crescente. a -.nedida ue nosafasl:l:Tlos C:l lln2U.l p~a encarar oulros slslemas., ue t<lmb m retcndcm aSigni1:=r;:io, mas CUJO valor IC ao permanece tario?U ~'~~JdlVO: organtLacao social. aOe, etc," (11 58,),

Esse tcxto r.os prop5e, pois, ordeoar os sistemas socIals por ordemdccr~~C<':nte, "mas com um rigor crcscente", a partir do sistema de signifi­c~a0 por exce!cncia, a lingua. Se 0 parentesco e 0 anaJogo mais proximo,e P'-"-iue l:, como a lingua, "urn sistema arbitrario de representa.<;Ocs, nao 0

dese!!.\'olvimento espontaneo de uma situa9ao de fato" (p- 61). Mas csta

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simb6lica. fazcndo sua primcira apari<;ao? Desdc que urn objcto sonora eandogia s6 aparece se a organlzamos a partir dos caractcres que fazem dela aprccndido como ofcreeendo urn valor imcdiato, ao mesmo tempo p~rallma ali;ln:;:a, e nao t:m:l modalidadc biologica: as rcgras do casamento aqucle que fala e pa.a aqucle que cscuta, adqui.e uma natmcz.a contra-"r{''pr~scnlam todas, cutros· tantos modos dcasscgurar a::i~eub"ao das ditoria, cllja l.clltraliza~ao s6 e passivel pela troca de valo~es c~~plemer:-r;-u:hc";-s no scio 'GO grupo -sodaC quer di;,cr;- de substituir urn sistema de tares a uu~ se reduz toda a vida social" (p. 71). Nao quer Isto dlzer que 0

rcla;:6c:i co;~~glif~eas, de ~;jiem bi~16gica, P~L,j[Il .si~t~~~~..:.c::eioI6gico cstrutur;lismo sO cntra em ccna sobre 0 fundo ji constituido "cla represen-dc-a"i{;;~;'~8~j(ssimc;;n~Tdcr;das: cSs~; rcgras fazcm do parcnteseo ta<;ao desdobrada., tambcm cIa resultante da fun~ao s~m~6lica"? Nao signifiea·:'~~Lt:.~p'ccie~ ~e_li.,gllag~rI1,.J.s~o_~,_ ~_n.!~opj~n~()_9l?'__op~r.~~§c.s_4~sti.l!a5!as._a. fazer-se ape10 <.. outra intcligcncia, visando· ao propno desdobramento, a~5eguLiirJ~~ll!.re os indivJPuos _e os gropos, urn. certo tipo de comunica<;ao: partir do qual ha troea? Nao seria a cienci~ ob!~tiva das tr~cas urn segmentoQ.~~__ a "mcns~g~m_':. __:;eja.. aqui .constituida pela~ ..~ulheres do grupo que abstrato na comprcensao total da fun<;ao sunbolIca que sena, em seu fu,ndo,circulam entre os dis, linhagc[l.5__ou JamHi~_u(e._.nao,_c.omo na propria compreensao semantica? Para 0 filosofo, a_ratio de ser do est~turalI.s:n0

linguagem, pelas palaYrasd~ grupo que circula~_~Etre ~~_!?~ivi~uos), em seria, pois, a de restituir essa compreensao plena, mas depolS de te~-lanada altera a identidade do fename-no-eOnsfdera9~u~.Q.Ld.Q.4u:asos" (p- 69). destituido. objetivado. revezado pela inteligencia estrutur~l. 0 f~do seman-

Todo 0 programa de 0 Pensamento Selvagem esta. contido aqui, e 0 tico assim mediatizado pela forma cstrutural, tomar-se-Ia acesslvel a umaproprio prindpio da generaliza<;ao ja esta posto. Limitar-me-ei a eitar 0 co~preensao roais indireta, mais segura.texto de 1945: "Somas levados, com efeito, a indagar se diversos aspectos Deixernos a ql":stao em suspenso (ate 0 final desse estuda) eo sigamosda vida social (ai cornpreendidos a arte e a religiao), ClljO estudo ji sabemos 0 fio das analogias e da generaliza<;ao.que pode valer-se de metodos c de no<;6es tornados da lingiifstica. nao No inicio, as generaliza~6es de Levi-Strauss sao bastante prudentd econsistem em fenomenos cuja natureza se assemelha a da linguagem. Como cercadas de precau<;ocs (ver, por exemplo, pp. 74-75). A analogia cstrutural ,poderia ser verificada essa hipotese? Quando limitamos 0 exame a uma entre os outros fenomcnos sociais e a linguagem, considerada em suaUnica sociedade. Oil quando 0 estendemos a varias, sera necessario conduzir ~strutura tonologica, c realmentc fiuito complexa. Em que sentido podemosa analise dos divcrsos aspectos da vida social bcm profundamente, para dfz~ sua "natureza coincide com a da linguagem" (p. 71)? Nilo seatingir urn Divcl onde se tome possivcl a passagem de um ao outro. Isto de\'e krner 0 equivoco quando os sigoos de troca nao sao elementos dosigniLca claborar uma espeeie de .c_odigo_ universal, capaz de cxprimir as discurso; assim, dir-sc-a que os homens l!.o.:am mulheres como troea_m.1J}~mJ!ns a~ cstruluras espccfficas provcnientes d: cada.-asp.edD. palavras: a formaJiz:I.<;ao que ressaltou a homologia .dc estrutura ,.nao

/'/ 0 emT) po> I"'<',C ccdi"o dcvcra ser legitimo para cada SIstema tom<:!do semenlc ~ [eg:tir::a, mas bas'::Tl~~_~~~arec.cdo@. As COlsas se co~pdcam. isoJbd2..m~~tc c para tnc.-~:::, qU~::l(~0 SC Ll ~r"C l.;':"ti~:'- v~· ~~_~~u~r:- con: a ~rtc e a- rc!j~i~o; ~qu:~ nao tcmos m~is ~pcn:ls ~Iuma cspecle deGs cm condicocs de s;:bc~ se ati:;g:"'-nos ou nao sua natureza mais profunda linguagem", como D~ caso das regras do casamento e dos sistemas deI ': se c n<; tl' - ounao e" > lidades do mesmo t" ., (p. 71). parentes~o, mas tambem urn discurso significante edif~cad~ sobre a ba:e da

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E justamente na idcja de c6digo, entendido no sentido de correspon- Iinguagcm, considerada como instrumento de comUn1ca~ao; a analogJa scdcncia forrnaJenire estrutums esPCCificad:is;portillito-;--n-o'~se~tid()de homo- deskca para a interior mesrna da linguagcm e versa doravante sobre alasia cstrutural, que sc-ZO;c~n"t~-a 0 csscncial -dessa intcligcncia das_ ~strutur;).s. cstruillra dcstc au daque!e discurso particubr comparado com a est...'"lltur:lSomentc csta compreensao di· fti;1~ao-sjinb6Ijcapodc--scr·dita-rigorosamentc ger:!] da !i"gua. Port;l.nta, :1:;0 .: certo a pri()~j que a rcb<;a~ entre ~;acronia

independentc do cbservador: ../\ linguagem C, pais, urn fenomeno social, e sincroniJ., viJida em lingiHstica geral, re]a de modo tao dorrunante aqu:: constitui urn objcto independeDtc do observador. c para 0 qual passu;· cstrutura dos discursos particulares. As coisas ditas n;lO tem neccssariamentcmos long~ series de cstatistic.1s~ (p. (5). Nosso problcf!:~_s~~5 0._d.e saher urna ar'luitetura scmclhante a da '.inguag:ffi, enquanto instr:um_~~t? univ~rsalcomo llm~ _inteligcncia objctiva que dccodi-fiea pode revczar-se COm uma do di7.<:r. Tudo 0 que sc pod.c aflrmar e que 0 mooelo ImgmstlCO onentajntdi~cncia hcrmcncu~ucaccirra:-lStoc:--que-rcto.-na· para si 0 scntiJo, ~uisa para as articula<;ocs si~ilares ~s suas., isto e,. para uma .16giea deBO me-.;mo Icmpo-qu7S"C2...-::Ipl;a-com 0 -i,cntido-quC(fcC'ifra. Uma-obser\:a:;~o oposi!l0cs c de corre~ocs, vale dlZer, enfun, para urn sIstema de difereoxas:de Uvi-Str:luss talvc<:. nos -dL: a piSii. --0-autor nota que "0 impulso original"' "Situando-se de urn ponto de vista mais tcOrico (u:vi-Slrauss acaba de(p. 70) de trocar mulhercs talvcz rcvele, por contra-reas:ao, sobre 0 modelo f~lar da linguagem cemo cc~di~ao diacr1bica. da cultu.a, cnquanto veiculalingikt:::o, <,Ige da origem de to<.i<:1 lingvi<gcm: "Como no caso das mulhcrcs, a instru<;ao ou a cduca~ao), a linguagem aparece tambcm como cODdi~ao

o impulso origina.l que obrigou Qs homens a "trocar" palavras nao devc scr da cultura, na medida em que esta ultima possui uma arquitetonica similarprocurado numa rcpr~enta<;5o d;:sdobrada, eia mesma resultante da fun<;ao

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t·~,-c-o-m-p-r-e-e""n=sa"'o=;=t:~,o~~"mo, dI", quo 0 ~~tU"II,mon;ooonh'"mais limitcs; nao e todo a pcnsamcnto que recal sob seu domlDlo, masum nlvel de pcns3mcnto, 0 nive! do pcnsamento selvagem. Nao obstan:c,o leitor que passa da Amropologia Estrutural a a _Pensamcnro Selv~gem,

fica surpreso com a mudan~a de front e de tom: nao se procede malS a03pOUCOS, do parcntesco a artc ou a rcligiao; e t~dO urn r;ivel ~e p:nsamento,cODsiderado globalmente, que se torna 0' obJeto _de mves~lga~o; e; e~se

proprio oivel de pensamento e tido pela fa~~~ nao do~estI~da do ~coensamento; nao ha sclvagcns opostos a C1Vlhzados, nao ba mentalJdade

primitiva, nem pensameoto dos selvagens; nao hi mais exotismo absoluto;para alem da "ilusiio totemica", .M ~pe?~ um_ pe?san;e~t~~<?!~~g<:.~;_~~;e.pensamento n~_m mes~o e an.!~!l0F ~oglca;..E};o~re-IoglcO. m,as ?.hoo:o-­logo do p_~n_s~~.~t9_.l§gi£.C!:;p..9.mologo. ~~~.~J:.l~~~_.fo.rte: suas C"assifl~~esramificadas, suas finas Domenclaturas sao 0 propno pensamento dassifica..torio, mas operando, como diz Uvi~t.~au~~.:m_ou_t:0 . ~_~e!_ ~trat~g.ico. 0

o .se_~iv~C9·PcD.Sam-eIlto~selvagem e 0 ?ensamento da o:dem, m,as e~p~Dsamento que nao,s-=-..£C_nsa. Neste ~artlcular, elc .respon~e bern as Condl·~6es do estruturalismo evocadas aClffia: ordem mcon:clente - ordem,cODcebida como sistema de diferen'Y3s, - ordem susceuvel de ser tratadaobjetivarnente, "independentemente d,=,-obsc~.ador". Por consegui~te, so ~~

intcligiveis os arra-njos Dum _niv~~iJ?c~?SClc!!.te. Cc:::;m:cndcr nao conslste.~r;-rctoma;:' -irltcniucscc scn:ido, c~n r~~ima=las_p~_ urn _ato rustorico dei~tcrp~cl~s:ao que se inscreveria num~_lra~iliao_co.n~~ua. A inteJigibi~id~~e

sc prcndc ao c6digo de transforma<;ocs.ql'c-as:cgu~a._ as corrcspond~!lc!as

e ::, hor,~ologia~ c;H,c a~r::'C1jo5 per'c;lccrl~o. a OlVC;S c:s!l:::os da .rcalr-dadcso~ial -( G-~Q;-n;7.2..:;~i,") C:~i~~~;~, r:0~ncncL:dl:;-~:'S c c~~~.ssifi.::';0,;~ Ui,.: a:11mais c depbntas,' ~itos cartes, etc.). Cardcterizdfci 0 m~todo com. uma ?alavra:

.,..., c uma opqao pcb sintaxe contra a scmantica. Esta escolha e perfe~tamente

/" legitima, na medida mesma em que e urn pa.ri_ roantido ,~om COerenCIa. Infe­lizmcnte. falta uma rcflexao sobre suas condllYOeS de v:lildade, sobre a pr~o

a sc pagar par esse tipo de cnmpreensao, em suma, uma refle~ao sobre asI;mil(;s que, no cntanro, aparcclJ. COr:l t requt:ncia nas oaras anteflorcs.

QU:L.'1to a mim, surprccndc-me que tados os cxcmp!os :ejarn to~ad~stk uma area geograEca, q'Jc foi a do assim chamado J,2tc,-ywmp, e Jamalsdo pcnsamcnto scmilico, prc-hclcnico au indo-curopcu. E pcrgunto-me 0

(juc implica essa limitas;ao injcial do matcrial ctnogrifico e humano. Naos'c confcriu 0 autor a parte dcmasiado facil. ligando a SOrle do pcnsamentosclva"cm a uma area cultural - justameotc a da "i1usao totcmica", - onde

~ ; f .os arranjos importam mais que os contcudos, onde 0 pensamento c e etl-vamente bricolage, operando sobre urn m;J.tcrial hetc.0clito, sabre eSCOIIl­

bros de scntido? Ora, jarnais, neste livro, foi colocada a que-stao da unid~e

do pensamcnt0 mitico. A gcncraliza.;ao a todo pcnsamento sclvagem e belacomo adquirida. Ora, perguoto-me se 0 fundo mitico sabre 0 qual estamos

_ .. _- --,--....-:_--;-.-- .---- ~""'":""-.----------;------....;;.

a da Iinguagcm. Ambas se cdificam por mcio d~ opOSlgoes c corre1a9oes,isla e, de relaq6es !6gicas. Ta.nto que se pode considCrafaling1.i-a-gc,mcomt>urn al~ccfce destmada a feceber as estruturas par vczcs mais complcxas,porern, do rncsmo tipo que as was, que correspo~dem a cultura - ~carada

sob difercntes aspectos" (ibid., p. 79). Canluao, Levi-5tr:::uss cleve cO:J.cordarque a correla~ao entre cultura e ~~~~ nao e SUTlc~~~Cm~_!}.~~...iusti(ic~Qa

-£:10 pa2cl ).JIUY.:<;rSl1Ld~_Jil}gt!a~".;.l1L..!!.a culiura;-' Ere proprio recorre a urntcrceiro tenno para fundar 0 paralelisrno entre as modalidades estruturaisda- linguagem e da cultura: "Nao nos lcmbramo~ suficientemente de que alingua e a cullura scjam duas modalidades paralclas de uma alividade maisfundamental: pooso, aqui, neste bospede presente entre nos, se bern queninguem se tenha lembrado de convida-lo aoS nossos debates: o=espfritohumana" (p. 81). Esse terceiro, assim evocado. suscita graves problemas.A . .

porque 0 espirito compreende a esplrito, nao somente por analogia deestrutura, mas por retamada e continua~ao dos discllrsos particulares. Ora,nada garante que esta inteligcncia depende dos mcsmos principios que osda fonologia. Portanto, 0 empreendimento estruturalista me pareee perfei­tamente legitimo e ao abrigo de tada edtica. enqllanto preservar a cons­cicncia de suas condic;6es de validade e, por eonseguinie, de seus limites.Vma coisa e certa, em toda hip6tese: a correlac;ao deve ser proeurada, nao"entre linguagem e atitlldes, mas entre express6es homogencas, ja formali­7-adas, dae~da cstrutura social" (p. 82). Com estacondi~o, mas somcntc com csta condlc;ao~abre--;e 0 camiD.l'1o a umaantropologia eoneebida como uma teoria geral das rcla~6es, e a analise dassociedadcs ern func;iio dos caractcrcs diferenciais, pr6prios aos sistcwas dercia.;6es que as dcfincm" (p_ 110).

Meu proh!cm2 sc r~cc:~-:::. c:::::'o: qual ~ 0 lu;;;.(r de llma "tcorla gerald?s rela<;6es" numa teoria gcral do scntido3 ? Quando sc trata de arte e derdigilio, 0 que compreendemos quando comprecndemos a cstrutura? E comoa inteligencia da estrutura introduz a inteligencia da hermeneutica voltadapara uma rctomada das intenc;6es significantes?

n aqui que nosso problema do tempo pode fornecer uma boa pedr::!de toque. $eguircmos 0 d~tino da. rc!~:<:;ao entre diacron ia e sincrO:1 la :lcslatr.msposi<;ao do modelo lingUistico e 0 confrontaTemos com aquila que,por outro Iado, podemos saber da historicid:!de do sentido no caso de:o;imboios para os quais dispomos de boas seqUcncias temporals.

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implantados - fundo semitico (egipcio, babi16nico, aramaico, hebreu),fundo proto-hclcnico, fundo indo-curopcu - presta-sc tao faeilmente amesma -opera~ao; au antes, insisto neste ponto, scguramcnte .5e presta a cla,mas presta-se sem m!1is? Nos exemplos de 0 PCIlSamef1(O Selvag ~m, ainsignific5.ncia dos contcudos c a exuberancia dos arranjos pareccm-me cens~

tituir urn cxcmplo extrema, muito mais que um~ forma canonica. Acontcceque uma parte da civilizas:ao, aquela justamente de que nao procede nossaci~'iliza\;ao, presta-se melhor que qualquer outra a aplicas:ao do metoda~strutural transposto da lingtiistica. Mas isto nao prava que a inteligcncia dasestruturas seja igualmente esclareccdora alhures c, sobrctudo, que seja taoauto-suficiente assim. Falei, aeima, do pres:o a pagar: cste pres:o - ainsignifid.neia dos contcudos - nao e urn prcs:o alto com os totcmismos,como e grande a contrapartida, a saber, a alta significas:ao dos arranjos.o pensamento dos totemistas, me parece, e justamente aqucle que apresentamaior afinidade com 0 estruturalismo. 0 que me pergunto e se seu exemploC. ,. exemplar, au se nao eexcepcional4•

Ora, talvez haja outro polo do pe~samento mltieo em que a argani­zas:ao sintatica e mais fraea, a jun~ao com 0 rito menos acentuada, aliga~ao com as classifica96es sociais menos tenue e, em que, ao eontrario,a riqueza scmantica possibilita retomadas hist6ricas indefinidas em contextossociais mais variaveis. Para esse outro polo do pensamcnto mitico, de quedarei daqui a pouco alguns exemplos tornados do mundo hebraieo, talvez aintcligcncia cstruturaI scja menos importantc, em tedo caso mcnos cxclusiva,e exija rnais manifestamente ser articulada sobre uma intcligcncia henne­nbtica que sc apJiea a intcrprctar as proprios contcudos, a fim de prolon';2rSU:i vida e de incorporar sua cficacia a rd1t.:xao filosOfica.

£ ;J.qui (Jue tomrtrcl por p~Jra de tOC;UG a q lies: ao do ;cm po que dcsc,,­c.Jdcounossa meditas:ao: 0 Pensamcnto Selvagcm tira todas as conse­qUcncias dos conceitos lingUfsticos de siccronia e de diacronia, e extrai dcIesuma concc~o de conjunto d:l.S relac;oes entre estrutura c acontecimento:

:-A qucsllio ,; a de saber se ~ta rcla~io pcrmanecc jd~ntica em todo afront do pcnsamento mi[ico. " --_____.- 'L

Uvi-Strauss 5C conter,!:! em rctom;,r uma paiavra de DO:ls: "D:riamC'sque os univenos mito16gicos sao destmados a SCfl:m desmantc1ados dcsdeque sao farm ados, para que noyos universos n~am de seus fra~mento~"

(ibid., p. 31) (esta p;J)avra ja scrvira de epigrafe a urn dos artigos reeo­lhides na Anlhropolop,ie sfrucluralc, p. 227). :£? esta rcla<;:ao inversa entre asolida sincroniea c a fragilidadc diacronica dos univerws mi!o!ogicos qu<:Uvi-Strauss clucida pcl:l compara<;:ao do brico/age.

o brico:cur, difcrenlementc do engenheiro, opera ..:omum matcrial qu~

nao produziu em vj:>[a lio usc atu:lI, mas com urn repertorio iimitaJo ebcter6clito que 0 constnngc a lrabalhar, como se diz, com meios prccario~.Este .. repert6rio e constituldo dos residuos de constru~es e de destrui~5es

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antcriores; representa 0 estado contingcntc da instrumentalidade em detcr­m~nado momento. 0 bricolcur opera com signos ja usados, que descmpenh:l.ffio papd de prc-constrangimento rc1ativamente as ~.ovas recr,;:!nizz;5es. Comoa bricolage,o mito "se dirige a uma coles:ao de residuos de obrz5 humanas,ista e, a urn subconjunto da cultura" (p. 29). Em termos de acontccimentoc de cstrutura, de diacronia e de sineronia, 0 pensamento mItica cl~boraestrutura com reslduos ou escombros de acontecimentas; 2.0 construir seuspalacios com os c$combros do discurso social anterior, fornece um modeloinverso ao da ciencia, que da forma de acontccimento novo a suas estru·turas: "0 pensamento mftieo, este bricolcur, elabora estruturas agcndandoelementos, ou antes, residuos de aeontecimentos, enquanto que a eiencia,"em marcha" peIo simples fato de instaurar-se, eria, sob forma de aeontc­cimentos, seus meios e seus resultados, gra~as a5 estruturas que fabrica semtrcgua e que sao suas hip6teses e suas teorias" (p. 33).

Certamente, Levi-Strauss s6 opae mito e eicncia para aproxima-los,porque, diz ele, "ambas as demarches sao igualmentc validas": ·wO pensa­menta mitieo nao e somente' 0 pnsioneiro de acontecimentos e de expe­ricneias que ele disp5e e redispoe incansave1mente para descobrir odes umscntido; tambcm e libertador, pelo protesto que eleva contra 0 nao-sentido;com 0 qual a eieneia se resignara, inicialmente, a transigir" (p. 33). Aeon­teee:, porern, que a se::1tido csta do lado do ;).rran;o 2.tu.:l, d:: s:::~;o;:i::L tpo~ issa que cssas so:icdadcs sao t':;o vulncravcis <J() :JCOr.:CC1::J.C'.O. Comoem linguistica, 0 acontccimento desempenha 0 paye! de :lmc:lS::l. em todoC<J';(J, de ineumooo, e semprc. de simples -trrrcrfercneia co,;::::;::;.:o (:c.ssim.os :,am~\,:'nos dcmograficos - gucrras, epidcmias - ~~C J.::cr.:r.. a ordcmc~~~::'-":';!~'c:~!:~): ··i\S cst:t:t:.ri"'::S s;nc:-J.~ic~s das s:s!C-:71'::'':; .:.!::G:; ~-:::~:::~-::-.~:: (s50)cxtrcm<lmente vulncraveis aos efcitos da diacronia" (p. 90). A Uis:abilidadcdn mito torna-se, assim, urn sinal do primado cIa sineronia. E: po:- isso queo pretenso totemismo e uma gramatica dcstinada a dctericrar-se ern le:tico"(p. 307) ... "como u;n palacio tr:lnsport:Jdo por urn rio. :I c!:l5~ific:l950

tcnde a se desmantclar e SU2S partes sc agcnciam en trc si de forma difc­re~ [e c;ue a pretcndi da pcl0 arquirc! 0, soh 0 feito das COITcnt~s e ~as aguasmortas, do; obstJculos c dos cstrcitos. Por ca!1sc:..n.lintc~'1o tot~a.......a.

flln~ao__ prima_!p!=.!'itavelmcnte sobre a ~l~'~;~-O prob:em~- q!..:~ de n;ioCCS'>QU de colocar aosteomos-C"o-d~ rclayao entre a cs::-ulur", e a acontcci­menta. E a grande Ii95:0 do. totcmismo 6 que a -forma da estru:Clra, porVeles, pode sobrcviver, quando a propria cstrutura sucumbe no 2~nteci·

m'~n,o" Cp. 307). . .

A pr6pria hist6ria mltica esta a servi~o Jcssa luta da estrutura contrao c.contcC'imento, e repre5cnta um esfor90 das sociedades Fa!":'! anul?'" a ul;1ioperturbadora dos fatores historicos; representa uma tatica de anula<;aodo historico, de amortecimento do acontecimental; assim, ao iazer dahist6ria e de seu modclo intemporal reflexos rcciprocos, ao colocar 0

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c urn querigma, 0 an6ncio da gcsta de Jave, constitulda' por umfeixe de acontecimcnlos. Trata-sc de urna Heilgeschichte. A primcira seqUen­cia e fornceida em seguida: liberta~ao do Egilo, passagcm do Mar Vermeiho,reve1a~ao do Sinai. erranciano deserto, realiza~'10 da promcssa da Terra,etc. 0 segundo polo organizador se estabelece em torno do tcma do Ungidode Israel c da. missao davldica. _Enrirn, instaura-seum tercciro p610 desentido, depois da cati;strofe: a destrui~ao ai aparece como acontecimentofundamental, aberto a alteroativa nao reso1vida da promessa e da amea~a.

o metoda de compreensao aplid.vel a este feixe acontecimental CODsiste emrestituir 0 trabalho intelectual, oriundo dessa f6 hist6rica e desdobradonwn contexta confessional, freqiientemente hfnico, sempre cultural. Gerhardvon Rad diz muho bem: "Enquanto a hist6ria critica tende a reencontraro minimo verificavel". "uma pintura querigmatica tende para um m.iximoteo16gico", Ora, foi justamente urn trabalho intelectuaI que presidiu a estaelabora~lio das tradi~oes e culminou no que agora chamamos de a Escritura.Gerhard von Rad mostra como, a partir de uma confissao m1n4na, consti­tuiu-se urn espa<;0 de gravitac;ao para tradi90es esparsas, pertencendo a fontesdiferentes, tr2.nsmitidas por gropos. das tribos ou dos distintos dis. Assim,a Saga de Abraao, a de Jac6. a de Jose, pertencendo a ciclos originariament~

diferentes. foram de ceria forma aspiradas e tragadas pe10 Dueleo primitivoc1a confissao de fe celebrando a ac;ao hist6rica de Jave. Como se ve, podemos[alar aqui de urn primado da historia. e isto em mUltiplos sentidos. NuI:i.primcire scntido, urn senlido fundador, pais toda~ as rclac;Oes de Jave comIsrael sao significadas por e em aconte_c;iweotos sem nenbum trac;o deteologia espcculati";:J. - mas tambcm nos dais outres scntidos de que falax-osno inicio. 0 trabalhc teo!6gico sobre esses acontccimcntos e realmente :lIT.2.

hi~tori;;. crJcnau:::.. u:na tradi~5.o interprctai1te. A rcintcrprctac;ao, para c;::.<.l"

gcraqao, do fundo de tradi<;oes, confere a esta compreensao da Imt6ria urncarater historico, e suscita um deseuvolvimento que possui uma unidade.significante impassivel deser projetada-num-sistema. Estamos diante de u-::~

interprcta<;ao historica do hist6rico. 0 fato mesmo de as fc::~cs serem justa­pastas, as pJ.rclhas man~idas, as conlradi<;:6cs ';s~;::!c:1ad:!s, possui urn sentidoprOlc:nc:v: :l lradit;ao se cor:; .... ~ :. ~i m·srr.;c ?Ol adic;:oes, e sao tais adic;:6csque constituem urn.:.: Jialetica tcol6gica.

Or:<, C intcrt:ssante noLar que foi pOl' esle trabalho de reinterpreta;:5.CIoe SU.1S pr0prias tradi<;6cs que Israel se conferiu uma identidade que c,em si rnesm:J., historica: a· critica mostra que provavelmentc nao houvcunidadc de Israel antes do reagrupamento dC's cl~s numa especie de anfic­,junia posterior a instala<;ao. Foi intcrpretando historicamente sua historia.claborando-a como uma tradi<;-av viva, que Israel se projetou no passadocomo urn unico povo a quem aconteceu, como a uma tot.alidarle indivisiycl..a liberta<;ao do Egito, a revelac;ao do Sinai, a aventura do deserto e 0 damda Terra Prametida. 0 Un.ico principio tcol6gico para 0 qual tende todo 0

IV. LThITTES DO ESTRUTURALISMO?

ancestral fora da bist6ria, e ao fazcr da hist6ria uma COplU do ancestral, a"diacronia, de cerra fo:rna domcsticada, cob.bora com a sincronia scm 0

risco de surgirem entre clas noyos conflitos" (p. 313). Ainda e a funt;aodo ritual articular estc passado fora do tempo" com 0 ritmo da vida e dascsta;;6es, c com 0 encadcafficnto das gcra<;5es. Os ritos "sc pronunclam sabrea diacronia, mas 0 fazem ainda em tcrmos de sincronia, pois 0 ~'.mplcs

fato de celebra-Ios equivale a converter 0 passade em prescntc" (p. 315).B nesta perspeetiva que Levi-Strauss interpreta os "churinga" - esscs

objetes de pedra au de madeira au esses amuletos representando 0 corpodo ancestral - como a atesta<;ao do "ser diacronico da diacronia no seioda pr6pria sincronia" (p. 315). Descobre neles 0 mesmo sabor de histori­cidade que em nossos arquivos: ser encamada da acontecimentalidade his­t6ria pura reve1ada no corac;ao do pensam~nto c1assificat6rio. Desta f~rmaa pr6pria historicidade mftica se ve inserida no tTabalbo da racionalidade;"Os pavos ditos primitivos souberam elaborar metodas racionais para inserir,sob seu duplo aspecto de contingencia 16gica e de turbulencia afetiva am:acionali.dade n~ racion~d~de. Portanto, os sistemas classificat6rios per­IDltem a mtegra9ao da hist6na,' mesmo e sobretudo a que se poderia crerrcbelde ao sistema" (p. 323).

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'I~~Ia... ·:.r..··';I.o..•• ~ .,.

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b±j~1 ! Foi de prop6si:o que segui a scrie das transposi90eS, na obra de Levi-'.'. Str:;uss. do modelo Ilnglifstico :lIe 5ua ultima generaliza<;ao em 0 Pensa.f.-;" i mento Scl~'agem. A cc::sci,:ncia de validade de urn metoda, dizia no inicio,:o.~--,~ ..~ ~ C i:;sci1:trti~.·cl da consc:~Dc~~ tic .:::::;us E:nitcs. T~is li~itcs me p3.rcccm sc:-k·~·l...:.'!...-:-: ~ de dais upos: de urn bdo, Cicio que a passagem ao pensamento selvagem c~§:! f~ita em favor de urn excmplo demasiado favoravcl que talvez seja cxcep-

: J;4·f clOnal; do outro, a passagem de uma cicncia estrutural a uma filosofia cstru-

IE.·.. j.·.~.'! turalista p:lrece·me poueo satisfat6ria c mesmo poueo coerente. Em ultima

.;~~ r instlincia, C$sas duas passagens, ao acumular seus deitos, conferem ao livre

'. ~...::4.'...:.1 urn orater p:nticu!ar, scdutor e provocanle, que 0 distingue dos prcccdentc~.~ V":'" 1! 0 C!:ernplo modelo? Perguntava·me aeima. Ao mesmo tempo que

I I...~...~.. i 0 P~nmmauo Sdvag~m de Uvi·Str~uss. cu lia 0 extruordirdrjo l:~Ta de~I G:rba.rd VOn Rzd cc:1s:lgraco a Tcologia das Tradit;Ocs hist6ricas de Israel,

I :i!.c;: prtmelro volume de um;1 Tcologia do Antigo Testamento (Muniquc, 1957).j ,,"".'":~ . EocontraIuo-nDS, aqui, diante de uma concc~ao tcol6r:ica CX<!::,:acnte ioversa

;;..7" . a do totemismo. e que, por ser invcrs:l. su.::;e:c urn; rclar-~o inversa entr..::~., d' ~

~~-L':'. .}~::,:_o_~~•.7..:~nCJo.nia. e caleca de moJo rnais urgcnle 0 problema da re1a~;;:o::S:':':::.: .:;t~ !.nte.ll geoe12 e-.'nllurai e inteligencia hermeneutica.If . 0.,"0 " d~"',':o p.~ • 'omp"m,'o do n'kko d, "ntido do Anti,o

.;; ~ . . r~tam~~to~ N~o~ s~o nomenclaturas, classifica~es, mas acontecimeotos fun-t ~ :~~ ..~~ore:~:;~e n?s .::~ltamos a teologia do Hexateuco, 0 conteudo significante

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c;ldeia d~s rcintcrpretd~fic~ rnhinicas e cristol6gicas. aparccc imcdi:ltamcntcque CSS3S retamadas repre$ent8m 0 contrario do bricolagc. Nao podcmosmais falar de utiliza\(30 dos restos em estruturas cuj;), sintaxc impo~tavamais que a semantica, nus da utiliza\(ao de urn acrescimo, 0 qual ordena,como urn) d029aa primeira de sentido, as intcnc;:oes relificadoras de car~tcrpropria:ncntc teo16gico e filos6fico que se aplicam sabre, este fundo slmb6-'lico. Nessas seqiiencias ordcnadas a partir de um feue de acantecimentossignifieantcs, e 0 acresdmo inicial de sentido que motiva tradic;:ao e inter­pretar;ao. E por isso que devemos falar, neste caso. de regula9ao semanticapelo conteudo e naa somente de regula<;ao estrutural, como no caso dototemisma. A explicac;:ao estruturalista triunfa na sincronia ("a sistema edado na sinZr'!':1I~_-:.-;'/':_ii."~~.~ee-sE~~~gi:,p. 89LJ, £o~- est!1-~~~ ,.cI~e-eta­esta a yO,n,tade cam ~~ ~ocied~de_s..e~ que a sincronia e for~e e a diacroniaperturbadora, como em lingUistica.

Sci muito bern que 0 estruturalismo nao esm desguamecido diante desseproblema, e admito que, Use a orienta~ao estrutural rcsiste :to choque,dispoe, a cada aoalo, de varios meios para restabclecer urn slstcma, se naoidentico ao sistema anterior, pelo menoS! formalmente do mesmo tipo".Encontramos em la Pensee sauvage exemplos de tal persisH~ncja ou preser­vac;:ao do sistema: "Supanda-se urn momento inicial (cuja n~ao c intcira­mente teorica) em que 0 conjunto dos sistemas tenha sido exatamcntciljustildo. l'<~c' conjunto rc~;i6 a tad:!. mudan<;,a 2fc~~'1do inicialmcntc um:l.de SU:lS p riC'S como unn maquina a feedback: su~j\.:gad;), (nos dois senti­<los do tC~f'~0) por sua harmonia anterior, -el'::!' orientara 0 6rg5.0 desregulado'le) ~~'illi"',, cc tIm equilibria q<le sera, pclo mcno<. ',):T! c'olrromisso ent,c" (":','0 ;,r::"o <.: ;l dcsC'~Jcm introduzida de fora" (:r'i,'f. p. 9'2). Assim,:> rC'.:":l!l:~~·:i.,' l'strun:r:l! cst;/. mUlto mais perto do ~,,;:ome;1o de incrcia qued:J reinterpreta<;50 viva que nos parece caracterizar a verdadeira tradir;ao.t porque a rcgula<;,ao semaraica procede do excessa do potencial de sentido'sabre sell usa c sua funyao na interior do sistema dado na sincronia, q::eo tempo Deullo uos simbolos pode ser pvrtador da durla hisloricidade datr:"J!<.::io ql:C tr;,mS:TI!le e scdimcnta a interprc:~~;jo. ~ da interprcta<;:io quec:r;lrdC:lll c rc:nova a tradi,,;iQ,

S~ n()'~a hipvlcse e vcrdadeira, persistcnci:.c d:;s c5truluras e sobrc­,L'\crmin,,<;::f' oos conteC:cos seriam duas condi<;ocs disli:11:J.~ da di:.ccronia_l'odenlOs no, per!'untar sc nao C a combina~:io, em graus difcn:ntcs e talvezem propon;:ocs inYcr~, dciSa.s duas condi<;6es gerais. que possibilita a socic­dades particulares - segundo uma abscrva<;5:o do proprio Levi-Strauss ­"Ldaborarem urn esquema unico perrnitindo-Ihes integrar 0 ponto de vista dacstrulura e c do :J.contccimcnto" (p. 95). ~1Js cssa ;r:tc,;r:lq5(;, q:.::zr:Co e feit3.como dissemos acima, sabre 0 m'Jde1o de uma mj-quina a feedback. naopassa justamente de urn ~'compromisso entre a estado antigo e a desordemintroduzida de fara" (p. 92). A tradi~ao prometida a durac;:aa c capaz de

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~_ g.' -~ ·~~,~X':: ';e~~~mento d~ Israel e entao: havia Israel, 0 povo de Deus, que semprc age~,_ t/ 1 CO~O uma unldade e que Deus trata como urna tlnido.dc. ?\1as csta icJcntidJ.dc

, if.'. e jinseparavc1 de uma busca ilimitada de um sentido da. historia c na. ~j b~t.6ria:· "B Israel, sobre 0 qual as aprcsenta<;ocs da historia do Antigo

f"'i' restamento tanto tern a dizcr, que :C:lstitui 0 objcto da fc e 0 objcto deL, ; uma hist6ria construfda pcla fe" (ibid., p. 118).

~ , ! Encadciam-sc, assim, as tres historiciclades: ap6s ados acontecimentoslEi ,. ;fundadores, ou tempo oculto - ap6s a da interpreta9ao viva pclos escritorcs~~ i sag~ados, ~ue ~o~stitui a tradiflio. - eis agora a historicidade da compre-tii~' " ensao, a hlstoncldade da hermeneutica. Gerhard von Rad utiliza 0 terma

i Entfaltung, "desdobramento", para designar a tarefa de uma teolagia doj Antigo Testamento que r~peita ° triplice caniter hist6rico da heilige Ges­t chichte ~~vel das. ac.ontecimentos fundadores), das Ueberlieferungen (rnvel

i das u:ad:~es constitulDte~)t enfim, da identidade de Israel (nfvel da tradi~aoconstltqtda). Esta teologla deve respeitar a preeminCDcia do acontecimento

I sobre 0 sistema: "0 pensamento hebraico e pensado nas tradi~5es hist6ricas'I sua ~reocupa~~a prin~i~al esta. na combi.na~ao adequada das tradi~6es e e~~ t ' :.ua mte.rpreta~ao teologlca; neste pracesso, 0 reagrupamento hist6rico sempre~. i 1 predomlDa sabre 0 reagrupamento inte1ectual e teologico" (p. 116). Gerhard

~.',.'_'§_:,_,:,.,.< I i von Rad pade concluir seu capitulo rnetodol6gico nesses termos: "Seria11. I fatal. p:u:a ,n.ossa compreensao do testemunho de Israel, se 0 organizassemas!7~;; i desde 0 lillC10 sobre a base de categorias teol6gicas que, embora correntes["'f l entre nos, nada tern a ver com ~s c~:cgor;:ls baseadas nas quais brael sebbi i autarizou a ordenar seu proprio pcnsamenta teoI6gico". Par isso "reeontar"tJ ! - ~'iedererzahlen - pcrm:lnecc a m::.:s kgitl.nn form:l do discu~so sabre 0~''':: Antlgo ~csta~lent.o. 0 Entjaltur.(} do he,meneuta is a r.:peti~ao Jc EntjallUr;gi- ,_-. oi que prCSIGIU a clJ.:or2.~~o dz:s t!"~di~6:-s ::0 :~::.CO ~~f~:~i:o.

IS'? I :. 0 que rcsulla disso p2ra 2.S rcbcces entre diacronia c sm'croni','a':' "rna

".. r.f1 , 1COl5a me surpreendeu com os grandes· simbolos do pensamento hebraico'-'que

'.,:'." -, 1pUdc estudar na Simb61ica do Mal e com os mitos - o~ da cria~ao e d3...... G:.Jcda, por ex I cli!'• .

,~.~j., ''''''' em? 0 - e lcados sab,c a pnmcira c<lIDada simb61ica: esses~ _ ,~slm~los e cs~cs mitos nao esgata..'7l SCl!S sentidos em arr:lnjos ham610gos dc

2.rraoJ05 so~[a)s. Estou mcsmo cOrlver.c;''':o do contr~~:o. D:£o quc 0 metodon1 \ ,cstrutural Dao csgota scu scntido, porque scu scntido ,: uma rescrva de seolielo

i~':.';;'_'.'#.;.~-'.'.'.,ltI.~ , ;rranta para a r~tiH~~ao em Oulras cstruluras. Paderao me dizcr: c justa.f1.; .m~ntc esta Teutlllu~o que constitui 0 bricula;:;e. Dc forma alguma: a

cbncoll!"l!! 0p"ra com esco- b . b' I •¥...i" '. <>. m ros, no ncu.age, c a cstrutura que salva 0 aCOD-teclmenlo: 0 e:;C0x.n?TO desempcnha ° papcl de prc-<cnstr:mgimento, de men-

;,. - :'l ,_agem prc.-transmlluja· possui • ; .~ . I ' ' ,. .. __ 'I " , ...ThrCla t:c urn pre-sIgnificado: a reutlhzarao

I;.'lt"t.:t_ Ides slffibolos blblicos r ~ .,.~! ' , ~ . em no~sa ",rca cultural rcpousJ, pela contrano, sobre, uma nqueza sem=tlca sobrc UI:l ,. - - "

~,!'j I .,. • . acrCSClmo 00 SignifIcado que passibilita';;;",c ...~~. i novas mter:Preta~ocs. Se coosidcramos dcstc ponto 'ue Vl.'la .. ,-'- ' "dii I s a SequencIa---_~_ -~r::tm:- .I"'_~ "Iato. b-b'Oni,,,, do d,uvio. polo diluvio bihlio<> • po"

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No modelo querigmitlco, scm duvid~ a explica;:ao cstrutural e escla~recedora como tr~Dtarci mostrar para concluir. Mas cia represcnt:J. umacam ada 'cxprcssiv~ de segundo grau, subordinllda ao acre:cimo de, sentidodo fundo simb6lico: assim, 0 mito adfunico e segundo relat~vamcnte a c1abo­ra~iio das exprcss6cs simb6licas ~o pure e do impuro, .da ~rraneia. e doexilio, constitufdas ao alvei da experiencia cultural e penlten:lal; ~ n~u~za

. desse fundo simbolico s6 aparece na diacroniaj 0 ponto de vista slDcro~ICO

s6 atinge, pois, do mito, sua func;ao social atual, mais ciu ~~~os comparavelao operador totemieo, que ha pouco assegurava a convertJbllt~ade das .me,?­sagens pertinentes a cada nlveI da vida de cultura. e gar~ntta a ~~dla~aoentre natureza e cultura. Sem d{ivida. 0 estruturaltsmo aloda e valtdo (equase tudo resta a fazer para comprovar sua fecundidade em .nossas a~~asculturais; a esle respeito, e bastante promissor 0 exemplo do mlto de ~dl~na Anthropologie structurale, pp. 235-243). Mas enquanto .a expltca~aoestrutural parece mais ou menos sem vestigio qu.ando a sincronta ~r~dorr:lnasobre a diacronia, eia fomeee apenas uma especle de esqueleto, cUJO caraterabstrato e manifesto, quando se trata de urn conteudo sobredeterminado,que nao cessa de fazer pensar e que s6 se ~xplicita n_a cODtinua;a_o dasretomadas que !he conferem ao mesmo tempo mterprcta<;ao e renovas:ao.

Gostaria de dizer agora algumas palavras sobre a segunda passagemem ultima inst5.ncia. cvocada mais aeima, de uma ci~;-:cia es,rutur:ll a urn:>filosofia estruturalista. Quanto mais a antropologia cstrutural ;TIC parececonyinccnte, cnquanto se comprcendc a si ?1<:.:~ma C('ir-O a cxtcns.'.iO,...ctapapor ct<lpa. de uma explicac,:iio bern sucedida, inicia:;:~cn!c (:[";1 l:,,~ubllca... " J''Z ~. 's ' .. ~·Jn·"'" 0 n",1dcpo's rr"C s's'Cr:1~S d'" p~rcn'c,:o en.lm, c~ a \<;. ,,,c1,, .h,,· u~_ .'·c·.

das ~fi;i~~d~'s-c~~ 0 ~o;elo ;i."1gi,i·[stico, em todas as ;.Jrm:::s cia v:j:~ SGci:Ji.

tanto mais ela me-parece suspeita quando se erige cm filos()fia. ~o meucntender. uma ordem--.posta.-eoIDO-inconsciente nao pode scr senao umactara ahstratamente separada de uma intcligcncia dc. s.l po:, ::i. A or~~~,cm si, C ° pensamento no exterior dele mesmo. Scm duvlda, nao <: prOlhluosonh:lrmos que urn cJia possamos transferir sobre can0cs pcrfurJdos. toda aducumcnl:l~5.o disponivel a respeito das sociedades ;,u,a :.': I:!:las. c: ";(:l11on,­

lrar, com a ajuda de urn computaJor, que 0 conju~;w de sU:!.S c'trutur:tsctno.ccorromicas, sociais e religiosas, asscmc1hc-sc a um VaSI,) gruro Jctramform:l~6cs" (p. 117). Nao, "nao c proibido" termos esse so!"!ho. Con­t:J.nto que 0 pcnsamcnto nao' se alicne na obje.tivid~;jc desses c6Jig~s.. ~ca dccodifica~ao nao c a et3pa objetiva da decifra~ao e csla urn cPISOdlOe.xistenticl _ au existential! - da compreensao de si c do ser, 0 penS3mcntoestrutural permanccc urn pcnsamento que nao se pens:l. E~ contr<lpartiJa.dcpcnde de uma filosofia reflexiva comprc.endcr.sc " ,I m<=sr;;:;, C.Ji.,.u

hermeneutica, a fim de criar a estrutura de acolhida para U::J,3 antr(lP.ologl.;!cstrutural. A esse respcito, a fuo<;;5.o da hermeneutica ~ a de fazer comcu.lIra compreensiio do outro - e de seus signos em multiplas culturas com

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reinearnar"~e em cstruturas difcrcntes depcndc mais, me p:\fcce, da sobre­dctermina<;;30 dos conteudos que da pc.-sisteneia das cstruturas.

Esta diseussao nos ]eYJJ...JLQ,ucstion<l,u....s.uficicncia do modelo lingU:stieoc 0 aJeance do subrnodclo ctnologico tornado de -;~'[;'o do sistema deGcrlOmtn<l\iocs e dc cIas~llIeas:ocs corrtumcnlc cnamaao de totcmieo. Essesubmodclo ctnol6gleo possui, com 0 precedente, uma refa<;;iio de eonvenienciaprivilcgiada: c a mesma cxigcncia de distancia difcrencial que as habita. 0que 0 estruturalismo extrai, de ambas as partes, "sao c6digos..apto:i.-avcicularem mensageoLh:a.n5PP.r!f.Y.~s_~!!l._..~~~~_ ~.e_ outrqs__c_o4igQ.L!=..Jl.cxpnmrrem em seu sist~mll......QL61?dQ._~_p1~.Q.:S.a~s..r~ebidas.. pelo .c:a.lla,Ldec argos aifereote~:';' (p. 101). Mas se e verdade, como confessa por vezesi'auro--r,que, "mesmo no estado de vestigio, tuda 0 que poderia evocar 0

totemismo parece surpreendentemente ausente da area das grandcs civiliza-U. <;;5es da Europa e da Asia" (p. 308), temos' 0 direito, sob pena de cainnosij..... Duma "ilusao totemica" de novo tipo, de identificar, com 0 pensamento~it selvagem em geral, um tipo que 56 e exemplar porque possui uma posi~ao

iiii" extrema Duma cadeia de tipos miticos, que tambem seria preciso compreender1l~; I por sua Dutra e~tremidade? De born grado pensaria que, na historia da

n,~..,·.,·l humanidade, a sobreviveocia excepcional do querigma judaico, em sellS~ . contextos socio-culturais indefinidamente renovados, representa 0 outro polo,~.~~ t::>mbcm ele exemplar, porquc extremo, do pcnsamcnto mitiCD.

£~.": ! Nesta cadeia de tipos, assim recuperados par seus dois polos, a tempo-~J i rolidadc - a da tradi~fio e a d:l intcrprcta\(ao - pcssui urn cariter difcrente,r". ..~:; 1 segundo a sincronia prcdo[";1i~1C sabre :1 diocron:.::l, ou 0 contrJ.rio: r:uma,~.: l' ~ c;~trc:1~id~(;c, :l do ~:pa ~u:~·:-::~~:...(.), tC.:""::l'':;S U~:l tcm;:'0;2.Ed:J.~~~·':: {rJ'::·:E·J.d~:.. q'llC:

t.:•..;,."~.",,., j verifica ':Jastantc bem a formula de Boas: "diriamos que os universos mito-i~ 16gicos sao destinados a ser desmantelados logo que sc formam, para que;~ novos universos n~ de seus fragmentos" (citado na p. 31). Na outra~ ~ c:':tremidade, a do tipo querigmitico, e uma tempora!idadc rcgulada pclaij;'} ~ rl'tomada continua do sentido numa tradi,;ao intcrprctante.~.;.~.,.<' , Sc 6 assi:n., sera que oodcmos continuar ~ [ajar de mito scm corrermosf"'* i () risco de equivoco? Podc"mC's concordar que, no modelo totcmico, once as~ ~ c~:ru!uras importam mais que os contcudos, ~~it;- tcnde a idcntificar-sct~ J~ c~:,m urn "o['era<..lor", com-urn -"C3dig~;;-r~~I~~~"~__um_ sistema de tr;~~f~!:

f~ . ~~~~~~'!l_~t§traus~ _0 j~fin,:; "0 sistema mi~ieo e_as ..!:.~prcsc!1-~ ! It:lilJ'CS que de leva a efci!o scrvem, poi:;, para cs~bclecer rela<;6cs de~:. ~ hOffio!ogia entre as condiioesnaturalS c-as c'co'di~0cs sociais ou~ maist;;;I i ex:ltamentc, para definir uma lei de equi';~en~ia-e~ltr~ contr~tC$ significa-l!SI! • ti\'o: ~uc se s~tuam em virios planas gcogrifico, meteorol6gico, zool6gico,

1'-":'5

1; hbotar:!C~'- teC!llC:O'_' cco:,omico, social, ritu:ll, religiOSO" filosofico" CP,' 123).

A func;ao do DlItO, aSSI!Il c:xposta em termos de estrutura, aparcee na sincro-.. -:~ . nia; "::~:":s?lid~_. ~incronica ~ 0 inverso - da fragi·lid-a."de diacr6nica-q~-;­

'"... ':Jembrava a' f6rmula de Boas.,.., ~ ~ .. -=-.:-~._=- .._~~- ~~ ~.~---~_.-.:

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Todavia. em Qutros momentos, 0 aulor nos convida a "reconhecec,10 sistema das cspecies naiurais e DO dos objclos manufaturados, dois con­iuntos mediadoresie que se serve 0 horoem para supeI'aI' a oposic;ao entre.natuI'czac cultura-~,~ensa-Ios=~mototalidadc·~{p. 169). Sustcnta que as-:struturas sao anteriores as pra,ticas. mas concorda que a praxis e anteri~ras estruturas. PoTtanto. estas se reve1am superestrutui'<o~ dessa praxis que,para Uvi-Strauss e Sartre, "constitui para as cicndas do homem a totali­t:ade fundamental" (p. 173 5). Ha. por conseguinte, em 0 Pensame1'to'ie!vagcm, stem do esboc;a de urn transcendentalisrno scm sujeito, a esboc;oje 'uma filosofia em que a estrutura descmpenha a papel de mediador,intercalada "entre praxis e pnllicas" (p. 173). Mas ele nia pode se deteraqui. sob pena de conceder a Sartre tudo 0 que lhe recusou, recusando-lhesociologizar 0 Cogito (p. 330). Esta sequencia: praxis-estrutura-pra:ica.s,permite, pelo menos, que se seja estruturalista em etnalogia e marxista emfilosofia. Mas que marxismo?

Hi., realmente. em 0 Pensamento Se/vagem, 0 esb~o de uma filosofiabastante diferente, em que a ordem e a ordem das coisas e coisa; uma medi­ta~ao sobre a D~ao de "especie" leva naturalmente a isso: a especie ­a das classifica~6es de vegetais e de animais - nao possui uma "objetivi­dade presumid:J.·'? "A diversidadc das espccies fomece ao J:.omcm a maisintuitiva imagcm de que elc dispoc, e conslitui a mais Cire~3. manifestai;aoque conscgue percebcr da descontinuidade ultima do real: ela e a expressiosensivcl de uma codifiC:l<;ao objctiva" (p. 13.D.: Com cfeito, 0 priviicgio ciar'lo<;:5.o de cspceic code "fornceer urn modo de aprccn,jo scr:slvcl oc u:na.combinatoria objetivamcme dada oa natureza e que a atividade do cspirito,bern como a _pr6p!i~_ vi~a .s()~ial, apenas tomam-Ihe~de' em~m':stimo paraaplica-Io a criayao.de. nov~taxinomias" (p,_l~l),

Talvez a simples considera~o eta nOyao de estrutura ~os irnpc~a deuitrapassar uma "reciprocidade de perspectivas em que 0 homcm c 0 mundorctletem urn no oulro" (p. 294).(Ao quc parecc, C entao que, por urncc>up de force :njustifiQdo que, ap6s tcr levado 0 con!rapcso do lado doprimado Ja praxis <obre as media<;6es estruturais, parnffio-lo no outro pOlo edccbramos que "0 objdivo ultimo das ciencias bumanas nao code cc~s[i.

wir 0 homcm, mas 0 de dissolve-Io ..., (de) reintegrar a'cultura nanatureza c, final mente. a vida no conjunto de suas condi~oes psicoqufmicas"j(pp. 326-327). "Como tambcm 0 espirito euma coisa, 0 funcionamcnto dessacoisa nos instrui sobre a natureza das coisas: ate mesma a refle;l:.ao puraresume-sc numa interioriza~ do cosmos" (p. 328, nota), As ultimaspaginas do livro deixam cutender que e do lade "de urn universo da infor­ma:;:ao, onde novamente reinam as leis do pensamento sc!vagcm" (p. 354),que se deveria procurar 0 princlpio de urn funcionamento do esp[rito comocoisa.

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'" compreensiio do si e do sCr. A objctividade cstrutural pode, entao,aparcccr COITIO urn momento abstrato - e validarnente abstrato - da apro­pria<;8o c do conhecimento pela qual a reflcxao abstra13 se torna reflexaoconcret:1- Em ultima instancia, cssa apropria9ao e esse conhecimento consis­lirillm numa rccapitula<;ao total de todos os conleudos significantes numsaber de si e do scr, como lentou Hegel, Duma logica que seria ados con­teudos, nao a das sintaxes. e. evidente que nao podemos produzir seoaafwgmentos, sabidamente parciais, dessa el(cgese de si e do ser. Contudo,a intcligcncia estrutmal nao c menos parcial em seu estagio atual; adcmais ,cla e abstrata, no sentido em que nao procede de uma' recapitula9ao dosignificado, mas em que s6 atinge seu "nivel 16gico" "pOT empobrecimentosemantico" (p. 140).

Por falta dessa estrutura de acolhida, que pessoalmente concebo comoarticulaC;ao mutua da reflexao e da hermeneutica, a filosofia estruturalistame parece condenada a oscilar entre vanos esbO\ios de filosofias. Dir-se-iapor vezes urn kaotismo Sem sujeito transcendental, ate mesmo urn fOffDa­lismo absoluto, que fundaria a correlac;ao da natureza e da cullura. Essafilosofia e motivada pela eonsidera~ao da dualidade dos "modclos vcrda­deiros da diversidadc caner-cIa: 0 primeiro, no plano da natureza, codadive:-sidadc das cspecies; 0 0;,11ro, no plano da cullura, c forneddo pelndiversid::.dc d<ls fun<;6cs" (p. 164). 0 pri.'1clpio das transformac;6cs pode,entao, ser proeurado Duma combinatoria, numa orccm fioita ou DtL-:l

finitis:no da crC:cm. mais fu;:odarr:cntal que eada um dos modc1os, Tudo 0

q u . 6 d:' ~ , "t 1 • •• .'c ," ua c.cCl!0S'Ja !nCOilsclcnll: que, embor:: hist6rie:l, CSC<1r~ C"!11rk -

t:.tmc:)~ c :,. histur,a human:l" (p. 333) vai ncste scntido, Essa filosofi;:: seriaa absoiutiz3<;ao do modclo lingi.iistico, daodo continuidade a sua gradativagencraliz.a<;ao. ":\ !fogua, decIara 0 autor, nao reside, nem n~ razao ~mali­

tica das antiga~ gramiticas. nem na dial5tica constitufda da lingi.ifsticaestruturaJ, nem t.:lmpouco na dialctica constituintc da praxis individual eon­front::J:: com " rr:itico-incrtc, pois todas as tr~s a s\.lpocm, ;\ l:n"iifstic2.coloca-;lOs diante tic urn ser dialetico c tot;J!izante. mas exterior (ou in-faior)?1 comcicnci:! c i ventaCe:. Toezlizzu;5.o na" ref]cxiva, .1 Ilngu:J. cum:! T:J.zaoh llm:!na qu~ h:m sU:J.s raz.6c~ e que 0 homcm nao conhccc" (334), :'1as 0

que (; a lingu:!. ~cn:io uma abstra<;ao do ser falante? Objeta-se, aq'.li, que"seu .discurw jam'lis resultou nem t2mpouco rcsultara. de uma to:aEzac;;ioc~n~,c:(;n [c tbs leis lingUi~ticas" (p. 334). Retrucaremos a res posta que nie~ao leis Ii nzUisticas que procuramos totalizar para :lOS co:nprcendcr a nos~esm0" m~s 0 senlido das palawas, relativamentc ao qual :l.S leis lingLifsli=sao a medla~:Jo imtrumcntal p:ifa sempre ioconscicnte. Procuro compre­ender-me retomando 0 scntido das palavras de. todos os homens. I:. nesteplano 5uc 0 tempo oculto se torna historicidade da tradi~o e da inter­P!eta~o.

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ao esquema explicativo, no qual a sincroriia constitui sistema e em -·ue a_::­diacronia constitui problem. crvarel os lermes de historieidad~.....:-~­

historiciqadc _dg. __tradi!;~() _ ~_Jlj~_tor:~cidade.__.da__ !!J~crpr~Ja.~a() __-::-:_p!l-~~l12da~:.';.eornprecnsao t~!l.cIQ coI!s~icQ~ill,:j_rn-plfcit~_ou· explici_~?-!D.~n_te,__~_~~ ~o, -~minho -cta: compreerisao.--fiIosOfica de-si e-d~·-ser.-Neste~entido,omito·ae~

tdipo depende clil compreens30 1Iermeneutiea quando e compreendido-erctomado - ji par urn S6focles - a titulo de -primeira solic~ao desentido, em vista de uma meditayao sobre 0 reconbecimento de si, -sobrea luta pela verdade e pelo "saber tra-gico".

2. A articulacao dessas duas inteligencias coloca roais problemas quesua distin~ao. A questlio e demasiado nova para que possamos ir aJem depropositos explorat6rios. A expli~ao estrutural. perguntar.::mos iniciaJ·mente, pede ser separada de tada compreensao hermeneutica? Sem dU~eia 0 pode tanto mais quanto a fuo.,;:ao do mito esgot~-se no estabelecI­mento de rela~oes de homologia entre contrastes significativos, situados erft.vanos pIanos da natureza e da cultura. Mas entao, seri que a compreensaohermeneutica DaO se refugi.ou na propria constitu~ao do campo semaoticoonde se exercem as rel~es de homologia? Estamos lembrados da importanteobserv~o de Uvi-Strauss concernente a "represen~ao desdobrada resul­tando da fun~ao simb6lica fazcndo sua primeira apari~ao". A "naturezal;ontr::.ditOria" desse signa s6 podcria ser neutrafizada, diTIa ele, "par esta trocade valores comp1cmcntarcs, a que toda a vida social se reduz" (Anthropo­[O"ie structurale, p. 71). Vejo nessa obscrvz9ao a iodica9ao de urn caminhoo . •

~ ser scguido, em vista de uma articula9aO que de forma alguma sena um.c::!ctismo entre hermeneutic::. c estruturCl!i::ffiO. Entcndo que 0 desdobra­mento de que se trata--aqui C 0- que-eugendra a fungao do signo cm geral,e nae 0 duplo sentido do sfmbolo, tal como 0 entendemos. Mas 0 que ~

verdadeiro do signo__eIn_s.c.u_sentido. PriInario.----ainda· 6 pmis- verdadeiro· doduplo sentido dos sfmbolos. A inteHgeoeia desse d1lplo sentido, inteligenciaesscncialffiente berr:L1encutica, sempre e pressuposta peIa inteligencia das"trocas de va!o:cs complcmentares" lcvada a efeito pelo cstruturalismo.Lm e;.;.ame cuidadoso de 0 Pensamento Selvagem sugere quo podemosscmpre procurar, baseando-nos em homologias de estrutura, analogias semin­tic:i..'i que tornam comparaveis os difercntcs niveis de realidade euja conver­!ibilidade e assegurada pelo "cOdigo"_ 0 "c6digo" sUpOe uma correspondCocia,urn:> afinidadc de conteudos, vale dizer; uma cifray306• Assim, na interpre­t:1;;;;O dos ritos da ca~a as aguias, entre os Hidatsa (ibid., pp. 66-72). aconstituic;ao do par alLO--baixo, a partir do qual sao formadas todas asdistaocias c a distancia maxima cntr~ 0 ca9ador e sua ca~a, s6 forneeeuma tipologia mltica sob a eondi9ao de uma intelige.ncia implicita dasobrecarga de sentido do alto e do baix.o. Estou de acordo que, nos sistemasaqui cstudados, esta afinidade dos eonteudos e de certa forma residual;

V. HERM:EN£UTICA E ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL

P2.ra conduir, vou retomar a questao inicia!: em que as considera90esestruturais constituem atualmente a ctapa necessaria de toda inleligenciahennencutica? Mais gcralmcnte, como se articu!am hermeneutiea_ ~_~st~_­

turalismo?

Tais sao as iilosofi~s estruluralislas entre as quais a clcncia cstruturald~:pcnnile que se escolha[Sera que DaO rcspeilarfamos igllalmcnlC 0 cnsinoda liogi.iistica. sc considerassemos a lingua c todas as media~Qcs ~ que s:~c

de modelo como 0 inconscicnle instrumental mediante 0 qual urn sUJCJtofalante se :;-opOe_8.comprecndcr 0 scr, os ~ercs ~ cle mcsrrro? ;r

1. Gostaria inicialmente de dissipar urn mal-entendido que a discussaoanterior pode alimentar. Ao sugcrir que os tipos miticos formam uma cadciacujo tipo "totemico" seria apenas uma extremidade e 0 lipo "qucrigmatico"a outra extremidadc, pare~o ler voItado a minha dedara9ao inicial, segundoa qual a antropologia estrutural P. uma disciP!~~cj~ntifica_e-A...helJl1encutica

urn:! disciplina filos6fiea; ·N~;;--e nad~ disso. Distinguir dois submodelos,oao significa dizer que urn dcpende apenas do estruturalismo e que 0 outroseria dirctamente me~ecedor de uma hcrmencutica nao cstrutural; significadizcr SOffi\:nte que 0 SUbr.lOdclo totcmico toleTa melhor uma explieac;aoes,~~al ~~rma.n.CCc scm-rddug,-_~p-orque. c.,_ ~ntre tc:>.~os as tlPOS

-ITi7[icos, aquc1e que tern mais aficic!:lJc com 0 maJdo linguistico inicial,:lO-_p:!.Ssorql?c~_-~o tipo qucrjgm~tico, a CXr:i~9fio es(rutuf21 -~ q~~~1 ~li5s,

IJ;.[ maioria dos cases, pcrmanece por ser c!aborada - remete mo.is manifcs­lamente a outra inteligcncia do sentido. Mas as duas maneiras de compre­cnder nao sao especies, opostas .no mcsmo iJ.lvel, no interior do genera corownda compreensao. E por isso que nao requerem nenhum ecletismo metodo­logico_ Portanto, antes de lcnlar algumas observal;oes explorat6rias conccr­nindo sua articulac;ao, prclendo ressalt.:u pela UltL-na vcz seu desoivc1amento.A c;-:.plica?o c:&truturaJ versa: 1) sobre urn sistema inconsciente; 2) que ecomtituido por djferenxas~~~~i~~rdi~~~(as-_sige1fi~~is};-~Lindcpendcntemcntc do o~ervadorI A intcrprctal;ao de urn seotido transmitidocomistc; 1) na rctornada cooseiente;i)QeuITl"funuo_ s~~llcO s~~edc~

terminaJo; 3) por urn in~erpretc qu_c se situa n0f!.l.~~_c~ scmanti=oque aauilo que compn::cndt:__c,_assim, DO "circulo beflI!en~t,!~ic;:o".

- .E por -isSo que as duas maoeiras de fner surgir 0 tcmpo nao seen~niranl ~~_ mesmo Dive!; foi ~penas por uma prcocupac;ao didaticaprovis6ria__qu~ falamos de prioridade da diacrecia sobre a sincronia. Paradizer a _vetdide, devemos reservar as expres:s5es de diacronia e de sincrenia

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talidade simb6lica" (cap. VII), na origem cia "tcolof:ia simb61ica" (cap. VIII).Ora, 0 que faz manlerel1l,se juntos os aspectos multiplos c cxuberantcs dessaHlcntalidade? Ess:J.s pessoas do sccul0 XII "nao confundiaffi, diz 0 imtor, nemos pIanos nemos objetos, mas sc bcneficiavam, ncsscs diversosplanos, de,urn denominador COllum no jogo sutil das analogias, segundoamisteriosa­rela~ao do mundo flsieo e do mundo sagrado" (ibid., p. 160)[ Esse problemado "deoominador comum" e ine1utive1, se levarmos em conta que urn sfm- .bolo separado nao possui sentido; ou antes, urn simbolo separado possui de4

mais senlido; a polissemia e sua lei: "0 fogo aqucce, iiumina, purifica, quei­rna, regenera, eonsome; signifiea tanto a concupisccncia qua;lto 0 EspiritoSanto" (p. 184).)-£ numa eeQD_omia. de_c_onjlJnto que_.os va\Qg~~_d.ifer~l;l£i_ai~se manifestam e que a polissemi~_~~ .reJ'rime. Foi nesta procura de uma"coerencia mistica daeconomia" (p. 184) que os simbolistas da IdadeMedi",se empenharam. Na natureza, tudo e simbolo. scm duvida, mas para urnbomem da Idadc Media, a natureza so fala quando ;::.·..:iaoa par uma .tipo­logia hist6riea, institUlda 00 eonfronto dco Liuis Testarnentos. 0 "espelho".(speculum) cia natureza so se tOrTia "livro" em contato com 0 Livro, isto e,'com urna exco;esc institufda numa comunidade regulada. Assim, 0 simbo10'so ::;:j,-;"aliza numa ~~?no~ia~".?Yn:.a.disp~~a!io,nUr:!!_':.. ord.o:. Foi com estacondi~ao que Hugo de Saint-Victor pode defini·lo assim: "symbolum estcollatio, id cot coap/olio, visibilium formarwn ad dcmons,rationem rei invi­sibilis proposi/amm". Que cssa "demonstra9ao" seja incompatlve1 com umalogica das proposiNcs, que supoe conceitos definidos (isto e, envoltos porU:l1 co;1torno iloclo01a! C U:1iVOC0), portanto. r:0.~Jcsque slgnificam algo .por­(i~!C ~:·2ni::'-:::::1 !i.'l ~~ c~~::.~!. i:,lu !l:1o constj(uI_~l1~i r.()S~O ['~·obl~ma. 0 queconstitui probkma c que c somcnte numa eco!"10mia de conjunto que essacollatio et coaplalio pode eomprcender-se como re!a95.0 e pretender ao nive!de demonstratio. Vou ao cncontro, qui, cia tese (je Edmond Ortigues emI: Diseours et fe Srmbofe: "Urn mesma tcrmo_p.9sk ser im:Htinario se 0 con- <.

sldcI~mo~~t~oJutam~Il1~,,-tJT!.~olLc~~e_o s~mpreendemos como valor dife4

renci..a1'-30r~el;)tiv,?_~~outros _termos que -° limilam rcciprocamente" (ibid:.p. 194). "Quando nos aproximamos '-da imagin3~50-material, a fun~1io dife­rencial diminui. tenJcmos para equiva!C:neias; qu:~ndo nos aproximamos doselementos formadores da socicdaJe, a fun<;:ao difcrcncial aumcnta, tendemospara va!cncias distintivas" (p. 197). A esle rcspcito, 0 lapidario e 0 bestiarioda Jdadc Media cstao muito pert~ da imagcm; c justamente por isso quedes vfio ao encontro, par scu pulo imaginativo, de l1m fundo imagistieo in­difcrcnciaJo, yuc taJltO pode Ser crctense quanto assirio e que parcce alter4

nadamente ex.ubcrante em suas varia~6es e estercolipado em sua conccp<;ao.Mas s" cste lapiJario e cstc bcstiario pcrtencem a mesma a1egoria que a exe­gcse alegorizante e que a cspeculal;ao sobre os signos e os simbolos, eporque 0

potencial ilimitado de sig'lifica-;:ao das imagcns c ciifercnciado par esses exer­cicios de linguagem constituidos precisamefitc pcb cxegcse. :a entao uma

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.. ""'-'~'-_~--O_._ "1": • ~'.h'~~---'-""-"--~'r .Iresidual, mas nae 1mb. ~ por 1s50 que a Jntel~gcncia estrutural sempre se

faz aeop'pan1?~r_d~ urn grau de intcligcncia bermencutica, 'mesmo que est£t:la.9 scji' ...!£IJ-l.;J,tiza.da. Urn bOrn excmplo a scr discutido e ~ da bomologia.entre reg;as de casamento e proibi~6cs alimentares (pr. 129·143). A analogi~entre comer e casar, entre jejum e eastidade, constitui uma rcla~5:o meta­foriea anterior a opera~ao de tral\~.fonna~ao. Tampouco, oeste caso, evcrdade, 0 estruturalismo eoeontra-se desguarnecido: tambem e ele quefala de metafora (p. 140), mas para formaliza-la em conjun~5.o porcomplementariedade. Nao obstante, ocorre que a apreensao da similitudeprecede aqui a formaliza~ao e a funda; e justamente por i5S0 que devemosredum esta similitude para ressaltar a homologia de estrutura: "0 elo entreas duas nao e casual, mas metaforico. Rela!rao sexual e tela~ao alimentarsao imed.iatamente pensadas em similitude, meSilla hoje em dia... Masqual e a razao do fato e de sua universalidade? Ainda aqui, atingimos 0

Divel logico por empobreeimento semantico: 0 menor denominador comumda unilio dos sexos e da unHio do eomedor e do comido e que ambasoperam uma conjun~ao por complementariedade" (p. 140). 1:: sempre aopr~o de tal empobreeimento sema-ntieo que e obtida a "subordina~1io 16gicada semelhan~a ao contraste" (p. 141). A psicanaJise, aqui, retomando 0mesmo problema, seguira, ao contrario, ° fio dos investimentos analogieos etamara partido por uma scmaotica dos conteudos, c nao por uma sintaxe do:,

. 7aITanJos.

50,

3. A articula~ao da interpreta9Eo de ~';"'~~. q.-lsiJiica sobre a expli­c::.~ao cstwtural, deve agora ser :'·!l~aJa ::0 outro sC:ltido; dcixei entenderc'::sdc c ;nicio que c.:, "C:1 2l'_,:,:mcn!c 0 dcsvio ncccssiirio, a cl~pa d~

obictjvid~~.:. .c;cntifica, sabre 0 trajeto da retomada do scntido. Nao ha~:",'~~lda do se~.tj.~9,_dirci Duma formula. simetrica e inversa d-a-pr~~c-'

s1SDJ_<:, sem ul1Lmfuimo. Q.Lcompre~nsaq_d~Le..S.!LUtU!~S~ Por que? Retomemosa cxemplo do simbolismo judaico-cristiio, nao mais, desta. vez, em suaorigem, mas em seu pODto extremo de desenvolvimento, isto C, nwn pontoem que cle ffianifcsta ao mesmo tempo sua maier exubcriocia, ate mesmo suamaior intemperan~a, e tambcm s~m mais alta organiz.a<;:ao, neste secuJo XIItao nco em e:tplora~6es em todos os scntidos, de quc 0 padre Chenu nosfomcceu urn quadro magistral em sua Tncqlogie du XU" siecle (pp. 155-210).Estc simbolismo sc cxprime ao mesmo tempo na Questa do Graal DOS lapi.darios e bestiarios des p6rticos c capitcis, na exegese alegorizante'da Escri.tur~ no rito e nas espccula<;:6cs sabre a liturgia e 0 sacramento, nas medi,t~ sobre 0 signum agoslianiano c 0 symbolon dionisiano, sebre a anafogiae a anagoge que deles proccdem. Entre 0 imagciro de pedra c toda alitcra'tura dasA.Ilegorjae e <.las Dislincriancs (css:s repertorios das arquitcturas de

'. sentido, "enxertados nas palavros e voc:ibulos da Escritura). cireula uma ULli­'-, dade de.inten~o que con~titui 0 que 0 proprio autor chama de wna "men-

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~ _"! tipologia da hisl6ria, exercida no contexto da comunidadc ec1csial, em liga­~iio Comum cuHo,tlEIi ritual, elc., qucsubstitui a simb6lica naturista poli~

marfa e estanca suas loucas pl'olifera~6cs. f:. intcrpretando relatos, decifl'an~i i; uu uma Iicilgcscilichte, que a excgeta fomcee ao irnagciro urn princlpio dc, i escolha nas cxubc:rancias do imaginario. Deve-se dizcr, enlaO, que a _sirn:.~ i b61,ica .!!~~!:cside nC~_~-'!..1laguele __sj~~o!Q,_ll1e..nos .ait,';Ja _~f.!l seurcpcrt6rio11 ' abstrato; tal rC'pert6ri9-§~@_scmm~_.dcrnasiado_ pobrc, porque__ ~ao __ sernprc

in,-", I .as mesrnas Im~gens E~~olta~;_s~rnP!(Ulcrn_;;~iad.o__ric9, por~u~...f<i_Q.~2J!la

s.is9ifi~_em POle.P..s:JE__~o~~_ ~s outras. A simb61ica se sit~~ntcs, entre osslmbolos, como reta£ao e economia de se.!!JYOOQD.amcnto... Esse regime da

t:,' simb61ica em parte alguma e mais manifesto--que em cristandade, onde 0

a simbolismo natural s6 e ao rnesmo tempo fomecido e ordenado na luz de~'• um Verba, s6 e explicitado num Recitativo. Nao M simbolismo natural,; nem alegorismo abstrato ou maralizante (este sendo scmpre a contrapar-i J tida daqucle, nao somente sua revanche, mas seu froto, tanto 0 slmbolo con-I;- •II ! some sua base flsica, sensivel, visfvel), sem tipologia historica. A simb61icaJI reside, entao, neste jogo regulado do simbolismo natural, do alegorismo abs-••i trato e da tipologia historiea: sinais da natureza, figuras das virtudes, atosf; do Cristo. interprctam-sc mutuamcnte nesta dialetica, que se descnvolve emt - toda criatura, do espelho e do livro.,. ~"~' Essas considera~5es constituem a cxata contrapartida das observa~6es

i:

',1 precedcntes: naD hi anilis_~_sstruJllE~J,_Q.i~lar~..c~s._~lOm _Lnt_~lig~nci~ __~~rme-~ neutica da transfercD.cjll,~--M:)1tido~(scm "metifora", scm translatia) , seml: I esta doacao indireta de sentido gue institui 0 campo semantico, a, par1ir-d~~ Ii quat podem ser disccmidas homologias estru!.U}:_l).i~__ Na linguagem de nossosE simbotistas medievais -linguagem oriunda de Agostinho e de Dionisio, eg i apropriada· a~ exigencias de urn objcto transcendente - 0 que e primeiro e

,

,a transl~. a transferencia do visivel ao invisivel pelo artificio de uma, -- -- i imagemtomada de emprestimo das realidades seDsiveis; 9 q.ue e primeiro e a, ~- i --constitui£io semantica em forma de "semelhante-dissemelhante". oa raiz dos• I' SImbol.os au dos figurativos. -X l;;rtir daf, pode-ser- elaborada abstratamente

: , __ uma smtaxe dos arranjo5 de signos em mUltiplos nIveis.

t1'~ If ~ contra~artida, parem, tambem nao hi intcligencia hermeneutiea( sent 0 intermedlO de uma econcmi~UI1]~..JITill:m,_n.aLquais...JLsimb6lica

~~_ I s~gnifica. Tomados em si mesmos, os simbolos sao am~ados por sua oscila­[':j \ ~o entre 0 empastarnento no imaginativo au a evapor~ao DO alegcrismo;U \ sua oiqueza. sua cxuberancia, sua polisscmia eXpOem os simbolos ingenuoS a;.:::; \ intempcrz:::s:a e a cOIT,.,1ac':~cia. a qu~ S2.nto Agostinho, ji chamava, nc~_~~:_i_= - 1- De Dodi :r.a chri::!iar._, de ''':crbo;um translatorum ambiguitates" (Cht:nu,

op. cit., p. 171), 0 que chamamos pura e simplcsmentc de cquivocidade, emr~ comparayao com a cxig~ncia d:: unjyocidade do pcnsamcnto 16gico, faz com~~---~ -

d.--:-:-~

que ~simQ.QIQ~s(Lsimbolizem_c~:mjuntos~que limi!3m e, 3rticul~In suas signi­ficali_~..s=-- " . - . -

;~ Por conscguintc, .~. comprec~~a9~_<!.~_S__~~~r:utu.ras_!1a(?· _Le_x~_criC?r a uma~~cnsao que tcria__P9_t:..E!:l:J.LP~~~~r!i.r....d!-?s simbo!~s;_~la~(~h_ok'~gt _dia 0 .in~cmlediario__ necessario. entr~_,aingenuidade~sim!:J.6Jic_a_~_~_inte:_ligcncia bcndcncutica.

b com estc prop6sito que dcixa a ultima palavra ao estruturalista, quegostaria de tcrminar-.zfim de que a aten~ao e a espcra permanc~am abcrtasu seu credito. -

NOTAS

I Hermeneutica c Rcflexao I e II, ct. a partir das pp. 242 c 266.2 Actropologia estfutural, p. 57: "0 parentesco n50 e urn fcnomeno es­

tatieo, s6 existe para perpetuar·se. Nao pensamos, aqui, DO deseio de perpctuar ara<;a, mas no fato que, na maio:ma dos sistemas de parentesco. 0 desequilibrioinidal que se produz, em dete:rminada ger8.9ao, entre ° que cede uma mulliere 0 que a recebe. 56 plXle estabilizar~ pelas contrapresta<;Oes tomando lug;arnas gera<;5es ulleriores. Ate mesmo a mais elementsr estrutura de parentescoexisto 5imultaneamente nll. ordem sincronica e ell. ordcm diacronica." Devemosrelacionar essa obs.erva~ com a que fazfamoo, acima, a prop6sito da diacroniaem tingiiistica estruturaI.

3 Uvi-Strauss poOe aeeitar essa questao, pois. ete mesmo a coloca de modoexcelente: "Minha hip6tese de trabalho cao rcclama, pois, uma posi<;ao inter­mediaria: certas correla<;6es sao provavelmecte dricCrni,eis entre ccrtos aspectose em certos nfYeis; trata-se, para c(,s, de descobrir quais sao ess.es aspectos eonde so encontram esses nfveis" (p. 91). Numa resposta a Haudricourt 0 Graoai,Uvi-5trauss parece concordar que baja uma zona de vaJidade 6tima para uroateona geral da comunica<;ao: "A partir de hoje, essa tentativa torna-sc p6ssi':vcl,em trts niveis. Porquo as regras do parentesco e do casameoto serve~ para asse­gurar a com~o das mulheres entre os grupos, como as regras econ6micasservem para garantir a comuni~ao des ben.s e dos servi<;os: e, as· r.egras -lin­gWsticas. a com~o das meosagons" (I'. 95). Deve-se llotar. igualmente,as precau¢es do antor contra os exce~ cia metalingii\stica amdricana Wr 83­84, 97).

4 A prop6sito, encontramos algumas alusOes em la PensltJ sauvage: "Poo­cas civiliz:a<;-6es parcceram ter cultivado 0 gosto, tanto quanto a australiana,pcla erudi~o, pela cspccula<;ao 0 por aquilo que POl' vezes aparece como urndaodismo intelectua1, tao estranho quanto 'PQSSa parecer a expressiio quandoa aplicamos a homens cujo nlve! de vida material era tao rudimentar,.. Se,durante sC:cnloo au miIenios, a Austriilia viveu fecbada 30bre si mesma; e se,nesse muooo fecbado, grassaram as especular;6es e as discuss5es; eniim, se asinfluencias da moda, aI, quase scmpre foram determinantes, pode-se compreenderc:~e se tenha co::stitufdo u!.Ila espccie Ge estilo socio16gico e filos6fico comUrn,n;o exc1uindo varia<;5es metodicarnente procuradas, dentre as <juais, ate rrrsmoas mais insignificantes eram tomadas e COlIlenladas, num intuito favoravel ouhostil" (pp. 118-119). E, mais no fim do liv.-o: "Portanto, ha uma espb;::iedo anti.,patia fundamental entre a hist6ria e os sistemas de cl~ica~ao. Talvez

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