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    Nmero 164Agosto 2015

    Os Dez Mandamentos

    no podem

    sofrer mudana

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    Feliz escravo do vosso amor

    Santo Afonso ajoelhado diantedo Santssimo Sacramento -Catedral de Carlow (Irlanda)

    amor infinito do meu Deus, digno deamor infinito! Oh, como pudestes, meu

    Jesus, rebaixar-Vos tanto que, para entreter--Vos com os homens e unir-Vos aos seus cora-es, Vos humilhastes a ponto de Vos esconder-des sob as espcies do Po?

    Verbo Encarnado, excessivo fostes em hu-milhar-Vos porque extremoso sois em amar-

    -nos. Como poderei eu deixar de Vos amar detodo o corao e toda a alma, conhecendo tudoquanto fizestes para conquistar o meu amor?

    Amo-Vos deveras, e por isso anteponho ovosso agrado a qualquer satisfao, a qual-quer interesse meu. Meu prazer consiste emVos comprazer, meu Jesus, meu Deus, meuamor, meu tudo. Acendei em mim um grandedesejo de estar continuamente diante de Vs

    sacramentado, de Vos acolher e Vos fazer com-panhia. Como seria eu ingrato se no aceitas-se vosso to doce e amvel convite!

    Ah, Senhor! Aniquilai todos os meus afe-tos s coisas criadas. Quereis que s Vs, meuCriador, sejais o objeto de todos os meus suspi-ros, de todos os meus amores. Amo-Vos, ama-bilssima bondade do meu Deus. No procuro

    outro bem, a no ser Vs. No desejo conten-tar-me, mas contentar-Vos, e basta-me dar--Vos contentamento. Aceitai, meu Jesus, estebom desejo de um pecador que almeja amar--Vos. Ajudai-me com a vossa graa: fazei queeu, msero escravo do inferno, seja doravante

    feliz escravo do vosso amor.Santo Afonso Maria de Ligrio,

    Visitas ao Santssimo Sacramento, XXII

    AndreasFBorchert(C

    CSA-BY30)

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    O leproso agradecido

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24

    O encontro de dois olhares.

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .30

    Voc sabia...

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .38

    A palavra dos Pastores Reavivar a intimidadecom Jesus

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .36

    Aconteceu na Igreja eno mundo

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39

    Histria para crianas...Apenas gua com sal...

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46

    Os Santos decada dia

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .48

    Diminuto reflexoda Inocncia

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50

    Me de Cristo e da Igreja

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31

    Arautos no mundo

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26

    A liturgia do cotidiano

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .22

    So Joo Eudes Apstolo do Corao deJesus e Maria

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    Comentrio ao Evangelho Onde est o meu corao?

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

    A voz do Papa Apelo orao, f e ao testemunho

    . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

    gua, essa Palavra de Deus (Editorial) . . .5

    Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4

    SumriORevista mensal dos

    Associao privada internacional defiis de direito pontifcio

    Ano XIV, n 164, Agosto 2015

    ISSN 1982-3193

    Publicada por:Associao Arautos do Evangelho do Brasil

    CNPJ: 03.988.329/0001-09www.arautos.org.br

    Diretor Responsvel:Pe. Pedro Paulo de Figueiredo, EP

    Conselho de Redao:Ir. Guy Gabriel de Ridder, EP; Ir. Juliane

    Vasconcelos A. Campos, EP; Dic. Luis AlbertoBlanco Corts, EP; Ir. Mariana MorazzaniArriz, EP; Severiano Antonio de Oliveira

    AdministraoRua Bento Arruda, 89

    02460-100 - So Paulo - [email protected]

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    SERVIODEATENDIMENTOAOASSINANTE: (11) 2971-9050(NOSDIASTEIS, DE8 A17:00H)

    Montagem:Equipe de artes grficas dos Arautos do Evangelho

    Impresso e acabamento:Diviso Grfica da Editora Abril S/A.

    Av. Otaviano Alves de Lima, 4.400 - 02909-900 - SP

    A revista Arautos do Evangelho impressa em papel

    certificado FSC, produzido a partir de fontes responsveis

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    4 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    ESCREVEMOSLEITORES

    brao do Santo salesiano seria nodia 6 de maio. Certa de vossa com-preenso, agradeo a todos a cor-

    reo.Silvana Freire

    Delmiro Gouveia AL

    Nota da Redao: De fato, a me-mria de So Domingos Svio ce-lebrada no seio da comunidade sa-lesiana no dia 6 de maio, mas noCalendrio Romano Geral cons-ta no dia 9 de maro. A seo OsSantos de cada dia deve pautar-sepor este ltimo, por ser de aplica-

    o universal.TEOLOGIAAO

    ALCANCEDETODOS

    Agradeo-lhes muitssimo peloenvio da revista Arautos do Evan-gelho. Eu a leio devagar, para sa-bore-la mais e dar-me conta detudo o que se pode fazer por es-ta poro dos filhos de Deus. QueEle os abenoe, porque por meiodela nos embebemos mais de suaPalavra. Agradecimentos espe-ciais a Mons. Joo ScognamiglioCl Dias, EP, que pe sua teologiaao alcance de todos.

    Mara Julia ChavarraSan Jos Costa Rica

    PALAVRADEAPRENDIZADOEDEF

    Tudo o que traz esta Revista pa-ra ns palavra de aprendizado e de

    F. Gosto do Comentrio ao Evan-gelho, de Mons. Joo ScognamiglioCl Dias, das notcias da Igreja e daobra dos Arautos pelo mundo. Con-tinuem assim! Gosto tambm dosSantos de cada dia, sem falar da be-leza das capas, sempre muito bemelaboradas.

    Raimundo Catarino BarbosaConselheiro Lafaiete MG

    O PARASOPREVISTONOSEVANGELHOS

    No vou fazer nenhum elogio,mas somente uma descrio de fa-tos. Sou um leitor inveterado: leiodesde os oito anos de idade, e ho-je tenho 82 anos. Li os filsofos,desde os pr-socrticos at os con-temporneos, os grandes escritores

    de diversas pocas, romancistas emuitos mais...

    Nunca, na minha vida de leitor,li livros como estes: O indito sobreos Evangelhos, de Mons. Joo Scog-namiglio Cl Dias! Se todos do g-nero humano lessem e praticassemo que neles contido, o mundo se-ria j na Terra o Paraso previstonos Evangelhos.

    Que Deus abenoe os Arautos do

    Evangelho.Waldir Giusti

    So Paulo SP

    MOTIVAOPARAOSCRISTOSDEHOJE!

    Quero parabenizar o artigo daIr. Clara Isabel Morazzani Ar-riz, EP, publicado na edio pas-sada de maio de 2015: A serena eirreversvel vitria da F. Foi mui-

    to enriquecedor e contribuiu mui-to para conhecer mais a Histriada Igreja. fascinante o nasci-mento da Igreja e como os primei-ros cristos testemunhavam a Fdiante das adversidades. Que sir-va de motivao para os cristosde hoje!

    Gabriel TrindadeSo Paulo SP

    UMTRABALHOCOMTENACIDADECONTNUA

    Sou desde muitos anos leitor en-

    tusiasta de vossa e nossa revistaArautos do Evangelho, a qual ofe-rece artigos estupendos, bem comoilustraes de vossas atividades.Cabe destacar a presena de jovensautores, como o Pe. Millon Barrosde Almeida, que escreveu a mat-ria Misteriosa pr-f igura do Sacer-dote Eterno,para a edio de abrildeste ano. preciso acrescentarainda o bem que tendes feito paraajudar os fiis a crescerem sempre

    mais na f, na caridade e na assis-tncia aos mais necessitados. Agra-deo, novamente, por vosso traba-lho, feito com uma tenacidade con-tnua, para evangelizar mais e me-lhor a todos ns.

    Mario SoggiuVillaspeciosa Itlia

    ORAESPELOTRABALHODEEVANGELIZAO

    Estamos cada vez mais encanta-das com a leitura da revista Arautosdo Evangelho. Ela nos muito tilem nossa vida espiritual, pelo queagradecemos a fidelidade no seu en-vio. Queremos ajudar, com nossaspobres oraes, a essas santas almasem seu imenso campo de evangeli-zao e em seus projetos. Que Ma-ria os siga abenoando!

    Religiosas Dominicanas

    Convento da Santssima TrindadeBaza Espanha

    SODOMINGOSSVIO

    Conforme foi publicado na edi-o de nmero 159, de maro l-timo, na seo Os Santos de ca-da dia, o dia de So Domingos S-vio seria comemorado no dia 9 demaro de cada ano. Gostaria deinformar que a data certa da cele-

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    Agosto2015

    OsDezMandame

    ntos

    nopodem

    sofrermudana

    S

    Agosto 2015Arautos do Evangelho 5

    Editorial

    GUA, ESSAPALAVRADEDEUS

    endo talvez o elemento mais comum e simultaneamente o mais valioso do nosso entorno, a gua condio para qualquer forma de vida. E, na suainfinita sabedoria, Deus disps que ela cobrisse mais de setenta por cento da

    superfcie de nosso belo planeta, alm de constituir a maior parte da composiode qualquer ser vivo.

    Instrumento na mo do Altssimo vivifica pela chuva ou castiga pelasinundaes , serviu ela inmeras vezes ao longo da Histria para ensinar oshomens: salvou o povo judeu no Mar Vermelho, enquanto puniu os egpcios,e at hoje cura em Lourdes... Mas, sobretudo, a gua foi criada por Deus paranos falar de realidades sobrenaturais, pois toda criatura , pelo mais profun-do de seu ser, uma palavra que Deus pronuncia sobre Si mesmo.1

    Assim, no Batismo, a gua que lava o corpo significa e realiza a purificao

    da alma, e introduz uma nova vida, que nos era destinada desde o princpio, mascuja continuidade fora cortada pelo pecado original. Nossa participao na vi-da divina pela graa estabelece uma relao altssima com Deus, e nos possibilitaagir como Ele, com o fim de unir-nos a Ele pela inteligncia e pela vontade, bus-ca de aperfeioar em ns a imagem do Criador.

    * * *Para alcanar esta belssima meta deu-nos Ele, como guia perfeito, o Declogo.Hoje em dia, contudo, parece estar na moda questionar a atualidade dos

    Dez Mandamentos: ditados h tantos milnios, seriam eles ainda vlidos navida moderna, teatro de circunstncias to diferentes?

    Para responder a esta pergunta, cumpre considerar que os preceitos moraisforam dados ao homem como meio de este se relacionar com Deus, corres-pondendo a exigncias no circunstanciais, mas essenciais, porque inerentes natureza humana. Por isto, tambm, o Declogo atemporal, e disto deu Ja-v prova patente ao grav-lo, no num frgil papiro, e sim em pedra, sinal deperenidade; e o Verbo Encarnado ratificaria isto depois pessoalmente (cf. Lc16, 17; Mt 5, 17). Ademais, cuida Deus de imprimir esta Lei em cada almacriada: revoltar-se contra ela significa, portanto, alm de uma revolta contra oCriador, um atentado contra nossa prpria natureza.

    E quanto a adaptar a Lei divina aos costumes do tempo, cumpre tomar cuidadopara no merecer a censura feita por Cristo aos fariseus: Vs sabeis muito bem co-mo anular o Mandamento de Deus, a fim de guardar as vossas tradies (Mc 7, 9).Teimar em reformar o Declogo com base em conceitos humanos, enquanto afirma

    crer em Deus, uma doena do corao que pode levar morte... eterna!Assim como a essncia da gua no sofreu alterao alguma ao longo detantos milnios, e continua sendo imagem da perenidade das coisas, tambmo homem, nas suas caractersticas essenciais, permanece o mesmo desde o diade sua criao at hoje. Mas, sobretudo, Deus no mudou, por ser imutvel esempre esplendorosamente idntico a Si mesmo.

    Por que, ento, mudariam os Mandamentos?

    1BANDERA GONZLEZ, OP, Armando. Tratado de los ngeles. Introduccin a las cuestiones50a 64. In: SO TOMS DE AQUINO. Suma de Teologa. 4.ed. Madrid: BAC, 2001, v.I, p.492.

    Jesus discutecom os fariseus -Catedral de SaintGatien, Tours(Frana)

    Foto: Francisco Lecaros

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    Apelo orao,

    f e ao testemunho

    A

    6 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    A VOZDOPAPA

    Sente-se hoje necessidade de testemunhas corajosas, que no se

    envergonham do nome de Cristo, nem diante dos lees que rugem nem

    perante as potncias deste mundo.

    leitura tirada dos Atos dosApstolos fala-nos da pri-meira comunidade cris-t assediada pela perse-

    guio. Uma comunidade duramenteperseguida por Herodes, que man-dou matar espada Tiago [...] e man-dou tambm prender Pedro [...]. De-pois de o mandar prender, meteu-ona priso (12, 2-4).

    Mas no quero deter-me nas atro-zes, desumanas e inexplicveis perse-guies, infelizmente ainda hoje pre-sentes em tantas partes do mundo,muitas vezes sob o olhar e o silnciode todos. Prefiro hoje venerar a cora-gem dos Apstolos e da primeira co-munidade crist; a coragem de levaradiante a obra de evangelizao, semmedo da morte nem do martrio, nocontexto social dum imprio pago;venerar a sua vida crist, que parans, crentes de hoje, um forte apelo

    orao, f e ao testemunho.Um apelo orao

    A comunidade era uma Igrejaem orao: Enquanto Pedro esta-va encerrado na priso, a Igreja ora-va a Deus, instantemente, por ele(At 12, 5). E, pensando em Roma, ascatacumbas no eram lugares para es-capar das perseguies, mas principal-mente lugares de orao, para santifi-

    car o domingo e para elevar, do seioda terra, uma adorao a Deus quenunca esquece os seus filhos.

    A comunidade de Pedro e Pauloensina-nos que uma Igreja em ora-o uma Igreja de p, slida, emcaminho! Na verdade, um cristoque reza um cristo protegido,guardado e sustentado, mas sobre-tudo no est sozinho.

    E a primeira leitura continua:Diante da porta estavam sentine-las de guarda priso. De repenteapareceu o Anjo do Senhor e a mas-morra foi inundada de luz. O Anjodespertou Pedro, tocando-lhe no la-do [] e as correntes caram-lhe dasmos (12, 6-7).

    Pensamos porventura nas vezessem conta que o Senhor respondeu nossa orao enviando-nos um An-jo? Aquele Anjo que, inesperada-mente, vem ao nosso encontro para

    nos salvar de situaes difceis? Pa-ra nos arrancar das mos da morte edo maligno; para nos apontar o cami-nho perdido; para reacender em nsa chama da esperana; para nos fazeruma carcia; para consolar o nosso co-rao dilacerado; para nos despertardo sono existencial; ou simplesmentepara nos dizer: No ests sozinho.

    Quantos Anjos coloca Ele no nos-so caminho! Mas ns, dominados

    pelo medo ou pela incredulidade, ouento pela euforia, deixamo-los fo-ra da porta precisamente comoaconteceu a Pedro quando bateu porta da casa e uma serva chama-da Rode veio atender. Reconheceua voz de Pedro e com alegria, em vezde abrir, correu a anunciar que Pe-dro se encontrava em frente da por-ta (12, 13-14).

    Nenhuma comunidade crist po-de prosseguir sem o apoio da oraoperseverante! A orao que o en-contro com Deus, com Deus que ja-mais desilude; com o Deus fiel suapalavra; com Deus que no abando-na os seus filhos. Assim Jesus nospunha a questo: E Deus no fa-r justia aos seus eleitos, que a Eleclamam dia e noite? (Lc 18, 7). Naorao, o crente exprime a sua f, asua confiana, e Deus exprime a suaproximidade, inclusive atravs do

    dom dos Anjos, os seus mensageiros.Um apelo f

    Na segunda leitura, So Pauloescreve a Timteo: O Senhor, po-rm, esteve comigo e deu-me foras,a fim de que, por meu intermdio, oanncio [do Evangelho] fosse plena-mente proclamado []. Assim fuiarrebatado da boca do leo. O Se-nhor me livrar de todo o mal e me

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    Agosto 2015Arautos do Evangelho 7

    Todos os direitos sobre os documentos pontifcios esto reservados Libreria Editrice Vaticana.

    A verso original dos documentos reproduzidos nesta seo pode ser consultada em www.vatican.va

    levar a salvo para o seu Reinoceleste (II Tim 4, 17-18). Deusno tira os seus filhos do mun-do ou do mal, mas d-lhes a for-a para venc-los. S quem acre-dita pode verdadeiramente dizer:

    O Senhor meu pastor, nada mefalta (Sl 22/23, 1).Ao longo da Histria, quantas

    foras procuraram e procuram aniquilar a Igreja, tanto a par-tir do exterior como do interior,mas todas foram aniquiladas e aIgreja permanece viva e fecunda!

    Inexplicavelmente, permane-ce firme para poder como dizSo Paulo aclamar, a Ele, aglria pelos sculos dos scu-

    los (II Tm 4, 18).Tudo passa, s Deus resta. Na

    verdade, passaram reinos, povos,culturas, naes, ideologias, po-tncias, mas a Igreja, fundada so-bre Cristo, no obstante as inme-ras tempestades e os nossos muitospecados, permanece fiel ao depsi-to da F no servio, porque a Igre-ja no dos Papas, dos Bispos, dospadres e nem mesmo dos fiis; se unicamente de Cristo. S quemvive em Cristo promove e defendea Igreja com a santidade da vida, aexemplo de Pedro e Paulo.

    Em nome de Cristo, os crentesressuscitaram os mortos; curaram osenfermos; amaram os seus persegui-dores; demonstraram que no existeuma fora capaz de derrotar quempossui a fora da f!

    Um apelo ao testemunho

    Pedro e Paulo, como todos osApstolos de Cristo que na vida ter-rena fecundaram a Igreja com o seusangue, beberam o clice do Senhore tornaram-se os amigos de Deus.

    Em tom comovente, Paulo escre-ve a Timteo: Quanto a mim, j es-

    tou pronto para oferecer-me comosacrifcio; avizinha-se o tempo daminha libertao. Combati o bomcombate, terminei a corrida, per-maneci fiel. A partir de agora, j meaguarda a merecida coroa, que meentregar, naquele dia, o Senhor,justo Juiz; e no somente a mim,mas a todos os que anseiam pela suavinda (II Tm 4, 6-8).

    Uma Igreja ou um cristo semtestemunho estril; um morto quepensa estar vivo; uma rvore resse-quida que no d fruto; um poo se-co que no d gua! A Igreja venceuo mal, atravs do testemunho cora-joso, concreto e humilde dos seus fi-lhos. Venceu o mal, graas convicta

    proclamao de Pedro: Tu s Cristo,o Filho de Deus vivo, e promessaeterna de Jesus (cf. Mt 16, 13-18).

    Amados Arcebispos que, ho-je, recebestes o plio! Este o si-nal que representa a ovelha que opastor carrega aos seus ombros co-

    mo Cristo, Bom Pastor, sendo,pois, smbolo da vossa tarefa pas-toral; sinal litrgico da comu-nho que une a S de Pedro e oseu Sucessor aos Metropolitas e,atravs deles, aos outros Bispos

    do mundo (Bento XVI.Angelus,de 29/6/2005).Hoje, com o plio, quero con-

    fiar-vos este apelo orao, f eao testemunho.

    A Igreja quer-vos homens deorao, mestres de orao: que en-sinam ao povo que o Senhor vosconfiou que a libertao de todasas prises apenas obra de Deus efruto da orao; que Deus, no mo-mento oportuno, envia o seu Anjo

    para nos salvar das muitas escravi-des e das inmeras cadeias mun-danas. E sede vs tambm, para osmais necessitados, anjos e mensa-geiros da caridade!A Igreja quer-vos homens de f,

    mestres de f: que ensinem os fiisa no terem medo de tantos Hero-des que afligem com perseguies,com cruzes de todo o gnero. Ne-nhum Herodes capaz de apagar aluz da esperana, da f e da caridadedaquele que cr em Cristo!

    A Igreja quer-vos homens de tes-temunho: como dizia So Francis-co aos seus frades, pregai sempre oEvangelho e, se for necessrio, tam-bm com as palavras (cf.Fontes Fran-ciscanas, 43)! No h testemunhosem uma vida coerente! Hoje sen-te-se necessidade no tanto de mes-tres, mas de testemunhas corajosas,convictas e convincentes; testemu-

    nhas que no se envergonham donome de Cristo e da sua Cruz, nemdiante dos lees que rugem nem pe-rante as potncias deste mundo.

    Homilia na Solenidade dos SantosApstolos Pedro e Paulo, 29/6/2015

    Francisco d a bno com o evangeliriodurante a Missa de 29/6/2015

    Tudo passa, s Deus resta

    LOsservatoreRomano

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    8 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    Naquele tempo,1

    os fariseus e alguns mes-tres da Lei vieram de Jerusalm e se reuni-ram em torno de Jesus. 2 Eles viam que al-guns dos seus discpulos comiam o po comas mos impuras, isto , sem as terem lava-do. 3 Com efeito, os fariseus e todos os ju-deus s comem depois de lavar bem as mos,seguindo a tradio recebida dos antigos.4Ao voltar da praa, eles no comem semtomar banho. E seguem muitos outros cos-

    tumes que receberam por tradio: a manei-ra certa de lavar copos, jarras e vasilhas decobre. 5 Os fariseus e os mestres da Lei per-guntaram ento a Jesus: Por que os teusdiscpulos no seguem a tradio dos anti-gos, mas comem o po sem lavar as mos?6Jesus respondeu: Bem profetizou Isaas avosso respeito, hipcritas, como est escrito:

    Este povo Me honra com os lbios, mas seucorao est longe de Mim. 7 De nada adian-ta o culto que Me prestam, pois as doutrinasque ensinam so preceitos humanos. 8Vsabandonais o Mandamento de Deus para se-guir a tradio dos homens.14 Em seguida, Jesus chamou a multido pa-ra perto de Si e disse: Escutai todos e com-preendei: 15 o que torna impuro o homemno o que entra nele vindo de fora, mas o

    que sai do seu interior.21

    Pois de dentro docorao humano que saem as ms intenes,imoralidades, roubos, assassnios, 22 adult-rios, ambies desmedidas, maldades, frau-des, devassido, inveja, calnia, orgulho, fal-ta de juzo. 23 Todas estas coisas ms saem dedentro, e so elas que tornam impuro o ho-mem (Mc 7, 1-8.14-15.21-23).

    a EVANGELHOA

    Cristo discute com os fariseus - Biblioteca do Mosteiro de Yuso, San Milln de la Cogolla (Espanha)

    FranciscoLecaro

    s

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    Onde est

    o meu corao?

    Agosto 2015Arautos do Evangelho 9

    COMENTRIOAOEVANGELHO XXII DOMINGODOTEMPOCOMUM

    Face hipocrisia farisaica, o Divino Mestre demonstra

    que o homem no se define pelas exterioridades, mas sim

    pelas intenes do corao.

    I QUALOCOMPORTAMENTOALTURADAVIDADIVINA?

    Todos ns nascemos em pecado, como inimi-gos de Deus e objeto de sua ira (cf. Ef 2, 3), mas,chamados a obter a posse da viso beatfica, fo-mos ao lado dos Anjos elevados vida di-vina. Vida to superior simplesmente natural,que a graa pela qual dela participamos pertence ao sexto plano da criao, muito acimados minerais, dos vegetais, dos animais, dos ho-mens e at mesmo dos Anjos. o prprio Deusquem toma a iniciativa de introduzi-la em ns

    pelo milagre extraordinrio do Batismo que nosfaz filhos dEle. Quando o sacerdote derramagua sobre a nossa cabea e diz Eu te batizoem nome do Pai, e do Filho e do Esprito San-to, deixamos de ser meros animais racionaispara nos tornarmos entes divinos, com as virtu-des da f, esperana, caridade, prudncia, jus-tia, fortaleza, temperana, e todos os dons doEsprito Santo infundidos na alma.

    Na Liturgia do 22 Domingo do Tempo Co-mum encontramos estmulos, convites e escla-

    recimentos a respeito desta vida, para poder-mos merecer chegar sua plenitude, ao passardo tempo eternidade.

    A vida sobrenatural: dom do Pai das luzes

    Na segunda leitura (Tg 1, 17-18.21b-22.27)insiste So Tiago: Todo dom precioso e todaddiva perfeita vm do alto; descem do Pai dasluzes (1, 17a). No h ddiva mais perfeita doque esta vida sobrenatural! Trs so as criatu-ras que tm at certo ponto infinita dignida-de,1pois Deus no podia faz-las mais excelen-

    tes: Jesus Cristo Homem, Maria Santssima e aviso beatfica; e esta ltima j a possumos emgerme, neste mundo, atravs da graa.

    O Pai das luzes, no qual no h mudananem sombra de variao (Tg 1, 17b) porque o Ser Absoluto, de livre vontade nos geroupela Palavra da verdade, a fim de sermos comoque as primcias de suas criaturas (Tg 1, 18).Sim, Ele nos gerou para a vida divina atravs doseu Verbo, que Se encarnou para que todos te-nhamos vida em abundncia (cf. Jo 10, 10). Por

    Mons. Joo Scognamiglio Cl Dias, EP

    Pelo Batismodeixamos de

    ser merosanimais

    racionais paranos tornarmoentes divinos

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    10 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    isso nos cabe receber com humildade a Pala-vra de Deus, que capaz de salvar nossas almas(cf. Tg 1, 21b).

    Todavia continua So Tiago sedepraticantes da Palavra e no meros ouvintes, en-ganando-vos a vs mesmos (1, 22); isto , no

    basta conhecer a doutrina, preciso respeitar asleis da vida sobrenatural, aprendendo a nos com-portarmos de modo diferente, enfrentando asinclinaes que brotam em ns devido ao peca-do original, e vencendo-as para alcanar o pr-mio prometido. Nisto consiste a prova que to-dos atravessamos, ao longo de nossa passagempela Terra. Para mantermos a filiao divina indispensvel que desenvolvamos a vida da gra-a, cumprindo a Palavra. Para tal, adverte aindaSo Tiago, necessrio, no se deixar contami-nar pelo mundo (1, 27). O mundo, de fato, tem

    uma visualizao carente de sobrenatural.Por sua vez, o Salmo Responsorial muito elu-

    cidativo, ao perguntar: Senhor, quem morarem vossa casa e no vosso monte santo habitar?(Sl 14, 1a). Como se dissesse: quem ter convvioconvosco, Deus? Quem estar eternamente navossa companhia? Quem gozar de vossa prpriafelicidade? Quem Vos ver face a face? Quemparticipar de vossos bens? E prossegue o salmis-ta: aquele que caminha sem pecado e praticaa justia fielmente (Sl 14, 2), ou seja, aquele queama a santidade e a pe em prtica.

    Para entrar na Terra Prometida,Israel deve abraar o esprito sobrenatural

    Na primeira leitura (Dt 4, 1-2.6-8) encontra-mos Moiss depois de ter realizado grandes ma-

    ravilhas pelo poder de Deus. Ele livrara o povohebreu da escravido do Egito e, estendendo oseu cajado, dividira as guas do Mar Vermelhopara que os israelitas o cruzassem at o outrolado, a p enxuto (cf. Ex 14, 21-22). Em segui-da, ante a tremenda ameaa das tropas egpcias

    que chegaram para os prender e levar de volta porque o Fara se arrependera de os ter dei-xado partir , ele levantara novamente o seubrao e as guas se juntaram e deglutiram todoo exrcito inimigo (cf. Ex 14, 27-28).

    Seguiram-se quarenta anos no deserto, du-rante os quais Moiss tirou gua da pedra, Deusfez descer do cu o man e mandou vir codorni-zes sobre o acampamento dos israelitas para osalimentar (cf. Ex 17, 1-6; 16, 4-31), bem comooutros milagres estupendos. Quatro dcadas deeducao e aprendizagem para aquele povo, e

    tambm de castigo, por terem praticado o mal!Apesar dessas infidelidades, Deus no falta sua promessa; pelo contrrio, Ele a cumpre, en-tregando-lhes a Terra Prometida.

    Chegada a hora de ali entrar, trata-se de opovo retribuir o bem j recebido, assim comoaquele que ainda iria receber. No que consisteesta reciprocidade? Eis o ensinamento da lei-tura: em abraar o esprito sobrenatural e ob-servar a conduta moral e religiosa prescrita porDeus, com o intuito de estabelecer um relacio-namento entre Ele e o povo. Os decretos queo profeta transmite manifestam a superiorida-de da nao eleita pelo Senhor perante os po-vos (Dt 4, 6) e so, segundo a linguagem doprprio Moiss, justos (Dt 4, 8). Sim, porque,como indica So Paulo, esta Lei era um educa-

    necessrio,no se deixarcontaminarpelo mundo,pois o mundotem umavisualizaocarente desobrenatural

    GustavoKralj

    Jersey City vista da Upper Bay, com a Esttua da Liberdade em primeiro plano

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    dor para conduzir os hebreus at Nosso SenhorJesus Cristo e serem justificados pela f nEle(cf. Gal 3, 24).

    Sem a Lei de Deus no hparticipao na vida divina

    Ora, o verdadeiro esprito dos preceitos po-sitivos da Lei Mosaica estava sintetizado no De-clogo, explicitao do comportamento que de-vemos ter para sermos semelhantes ao Criador.Estas simples leis resumem, de modo excelen-te, no que consiste o exerccio da vida divina emnossas almas e nos torna adequados a ela.

    Sem a guarda dos Dez Mandamentos nose participa da vida de Deus, pois, a partir domomento em que cometido um pecado gra-ve, pela transgresso de qualquer deles, perde--se a graa santificante e a inabitao da San-

    tssima Trindade na alma, voltando esta a serescrava do demnio. O pecado mortal o in-ferno em potncia. , pois, como um desaba-mento instantneo de nossa vida sobrenatural,um verdadeiro suicdio da alma para a vida dagraa.2

    Mas a natureza humana profundamente l-gica: quando o homem, arrastado por suas msinclinaes, quer praticar o mal, antes mesmode perpetr-lo ele inventa uma racionalizaopara justificar seu ato. E, aos poucos, vai crian-do outra religio, com uma moral diversa, in-dependente da Lei de Deus. Esta a tendnciaque, sob a capa de fidelidade aos ensinamen-tos de Moiss, veremos retratada no Evangelhodeste domingo e desmascarada por Nosso Se-nhor Jesus Cristo.

    II DIVINIZARAMASLEISHUMANAS,EHUMANIZARAMASLEISDIVINAS

    Naquele tempo, 1 os fariseus e algunsmestres da Lei vieram de Jerusalm e se

    reuniram em torno de Jesus.O Evangelista So Marcos muito positi-

    vo, afirmativo e categrico. Enquanto discpulode So Pedro, e acompanhando-o amide, po-dia comprovar a maldade dos fariseus que, ali-s, j conhecia de sobra, porque tambm ele erajudeu. Por isso empenhou-se em transcrever asdiscusses de Jesus com eles, quer lhe tivessemsido contadas por So Pedro, quer as houvessetestemunhado. Na cena recolhida pela Liturgia

    de hoje, ele narra como os escribas e fariseus deJerusalm ou seja, aqueles que mais frequen-tavam o Templo foram at Nosso Senhor.No era para se encantarem com Ele que O se-guiam; vinham com o objetivo de estudar suasaes e encontrar alguma falha pela qual pudes-

    sem conden-Lo.Tradies humanas que desviavamda Lei de Deus2 Eles viam que alguns dos seus discpu-los comiam o po com as mos impu-ras, isto , sem as terem lavado. 3 Comefeito, os fariseus e todos os judeus scomem depois de lavar bem as mos, se-guindo a tradio recebida dos antigos.4Ao voltar da praa, eles no comem

    sem tomar banho. E seguem muitos ou-tros costumes que receberam por tradi-o: a maneira certa de lavar copos, jar-ras e vasilhas de cobre.

    Os escribas e fariseus eram extremamen-te minuciosos e detalhistas no cumprimento deuma srie de costumes antigos, chegando s ve-

    Os DezMandamentoresumem,de modoexcelente, noque consisteo exerccio da

    vida divinaem nossasalmas

    GustavoKralj

    Moiss com as Tbuas da LeiMonumento Imaculada, Praa de Espanha, Roma

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    zes a exageros ridculos. Estas normas, pre-ciso dizer, no faziam parte da Lei de Moiss,pois haviam sido transmitidas por tradio, mas,para eles, tinham valor de dogmas, superioresmesmo s da Revelao.

    O douto padre Bonsirven assim se estende

    sobre este ponto: A lei oral apresentada noincio como a cerca com a qual se circunda a To-r [a Lei de Moiss], para precisar aquilo quenela muito vago ou muito amplo, e asseguraruma observncia mais exata. Esta via, contudo,era muito perigosa: fora de se encher de no-vas prescries, a cerca acabava por tornar-sesufocante; [...] as novas precises, que sem ces-sar restringem o terreno onde era possvel mo-ver-se livremente, as dedues e assimilaesinfindas que ampliam as obrigaes e multipli-cam os interditos, submetendo ao preceito os

    mnimos objetos e introduzindo mincias que aLei no previa nem queria, no param de en-grossar e elevar a cerca, apertando e amarrandoo israelita numa profuso de mandamentos.3

    Em concreto, a origem das prescries depurificao remontava exigncia divina de queos israelitas no se misturassem com os povosidlatras, para no serem atrados por suas fal-sas religies (cf. Ex 34, 12-16). Aos poucos, to-davia, o que no princpio servira para exprimira santidade de Deus e de seu povo converteu--se num jugo insuportvel, e o que era um meiode proteo veio a ser um lao para as almas.4

    Uma errnea teologia

    Com efeito, os fariseus acabaram por inven-tar uma teologia de universo fechado, pelaqual dividiam a criao em duas grandes cate-gorias: a primeira era a das coisas puras, aque-las atinentes diretamente ao culto; a segunda,vastssima, abarcava as demais coisas, tidas poreles como impuras.5 Concepo absolutamen-te errada, pois implicava em afirmar que Deus

    houvesse criado s alguns seres que tivessem re-lao com Ele, e todo o resto fosse autnomo,sem qualquer vinculao com o Criador.6

    Por isso consideravam indispensveis asablues e os banhos aps o contato corpo-ral com tudo o que no fosse puro, pois, a seuver, o homem ficava manchado. Quem compa-recesse, pois, a um enterro e tocasse no defun-to, ou mesmo quem atravessasse um cemitrioe se encostasse num tmulo, estava obrigadoa se purificar.7Os copos, as vasilhas e as jarras

    eram lavados por fora, para no poluir as mosde quem os usasse.8Tal pormenor constitua umverdadeiro contrassenso, j que, por higiene,estes objetos deviam sobretudo ser limpos pordentro; mas o problema para eles cifrava-se napossibilidade de apanh-los sem risco de conta-

    minao.Sob certo aspecto se entende que eles cas-sem neste engano, j que o ponto de partida deseu raciocnio era vlido. De fato, enquanto osAnjos, puros espritos, no precisam ver, ou-vir, degustar, apalpar ou sentir os odores, por-que tm um conhecimento intuitivo, a criaturahumana, composta de corpo e alma, adquire oconhecimento atravs dos sentidos e, portanto,necessita de um smbolo exterior para chegar sconcluses e compreender bem as realidadesinteriores. Os prprios Sacramentos so consti-

    tudos de matriae formaa fim de serem maisacessveis nossa natureza. Amatriado Batis-mo, por exemplo, a gua utilizada semprepara limpar , de maneira que, ao ser derrama-da sobre a cabea do batizando, significa e reali-za a purificao completa da alma.

    Ora, os fariseus haviam exacerbado esta in-clinao natural do homem at o inconcebvel, eera inevitvel que hbitos estabelecidos de mo-do to arbitrrio, e no por amor a Deus, che-gassem ao absurdo. Para citar um deles, no tra-tado Yadaim, dedicado s mos, acha-se descritocomo efetuar o meticuloso ritual de sua purifi-cao, aps tocar indevidamente nas coisasimpuras. Note-se, entretanto, no se tratar deuma questo de mos sujas ou limpas, e sim demos legalmente impuras segundo os conceitosfarisaicos: As mos so puras ou impuras at aarticulao. Derrama-se a primeira gua at aarticulao e a segunda mais alm, voltando mo, puro. Se as duas ablues so feitas maisalm da articulao, retornando mo, im-puro. Se feita a primeira [abluo] sobre uma

    mo, e depois, mudando de inteno, sobre asduas mos, impuro. Se a primeira [abluo] sefaz sobre as duas [mos], e depois, mudando deinteno, sobre uma s, puro. Se uma mo es-t lavada e esfrega-se na outra, impuro. Se elase esfrega na cabea ou na parede, puro.9

    Jesus no obriga a preceitos humanos

    5 Os fariseus e os mestres da Lei pergun-taram ento a Jesus: Por que os teus

    Erainevitvelque hbitosestabelecidosde modo toarbitrrio,e no por

    amor a Deus,chegassemao absurdo

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    discpulos no seguem a tradio dosantigos, mas comem o po sem lavar asmos?

    curioso reparar como os escribas e fariseusno atacam o Divino Mestre de maneira direta,porque provavelmente Ele observava estas exi-gncias tradicionais, a fim de evitar murmura-es contra Si. Chegada a hora da refeio, la-vava as mos e cumpria o preceito, j que eracostume adquirido. Ao mesmo tempo, permitiaque outros neste caso, alguns dos Apstolos o rompessem, pois estas mincias e querelasconstituam uma espcie de lei terrena que Ele,certamente, criticava e a respeito da qual pro-movia um agere contra, para facilitar que seus

    discpulos, longe de se apegarem a normas hu-manas e de quererem transform-las em divi-nas, esquecendo-se de Deus, subissem, isto sim,das criaturas ao Criador.

    No obstante, em relao Lei entregue porEle mesmo a Moiss no Monte Sinai, Nosso Se-nhor no dava liberdade de seguir ou no, dadoser ela eterna. Os Dez Mandamentos no po-dem sofrer mudana alguma, so fixos e pere-nes, e tm de ser praticados at o fim do mundopor todos os homens e mulheres, sem adapta-

    es s convenincias do momento; quanto aosdemais preceitos da Lei Mosaica, Ele no veiopara os abolir, mas sim para lev-los perfei-o (Mt 5, 17). Foram superados porque de-pois que veio a f [em Jesus Cristo], j no de-pendemos de pedagogo (Gal 3, 25). o que

    explica Santo Irineu, com muita clareza: aque-les preceitos que acarretavam servido e eramapenas sinais foram revogados na liberdade doNovo Testamento. Enquanto os preceitos natu-rais prprios a quem livre, e que so comunsa todos, foram reforados e aumentados, dan-do aos homens, com largueza, o dom de conhe-cer a Deus como Pai por adoo, de am-Lo detodo corao e, sem desvios, de seguir seu Ver-bo.10E comenta ainda o mesmo Santo: As pa-lavras do Declogo [...] permanecem entre ns,expandidas e ampliadas, mas no anuladas por

    ocasio de sua vinda carnal.11

    O esprito do mundo6Jesus respondeu: Bem profetizou Isa-as a vosso respeito, hipcritas, como es-t escrito: Este povo Me honra com oslbios, mas seu corao est longe deMim. 7 De nada adianta o culto que Meprestam, pois as doutrinas que ensinamso preceitos humanos. 8Vs abando-

    nais o Mandamento de Deus para seguira tradio dos homens.

    A resposta de Jesus no significa uma repro-vao praxe de lavar as mos antes de comer.Isto tambm ns o fazemos hoje, por higiene,sem nos atermos a uma lei temporal que nos im-ponha modos de ser mundanos. Se, contudo,houvesse um decreto para assim proceder poramor a Deus, ele seria legtimo.

    Aqueles que amam o mundo como os fari-seus so levados a dar mais ateno aos prin-

    cpios do convvio social do que Lei de Deus,porque, na prtica, vivem como se Deus noexistisse. E, por vezes, certas leis humanas, con-trrias Lei divina, as observam com uma pre-ciso absoluta. Para estas pessoas o fim ltimoda vida se cumpre aqui na Terra e, no fim, a pa-ga que recebem se reduz ao conceito que os de-mais fizeram a seu respeito.

    Ns precisamos cuidar, em nosso cotidiano,de no dar mais importncia opinio dos ou-tros do que de Deus. Importa-nos, acima de

    Nosso Senhorno davaliberdade de

    seguir ou noa Lei entregu

    por Deus a

    Moiss, dadoser ela eterna

    A Transfigurao - Catedral da Transfigurao(Toronto) - Canad

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    tudo, seu juzo sobre ns! Imensamente sria sua Lei e transgredi-la acarreta consequn-cias terrveis. Quando algum infringe uma leide trnsito penalizado com uma multa; mas sepor infelicidade violar um Mandamento divino,pode ver as portas do Cu se fecharem diantede si e ir para o inferno por toda a eternidade!

    O horrvel defeito da hipocrisiaPor este motivo Jesus Se levantou contra os

    fariseus e os recriminou, aplicando-lhes a frasede Isaas: Este povo Me honra com os lbios,mas seu corao est longe de Mim. De nadaadianta o culto que Me prestam, pois as doutri-nas que ensinam so preceitos humanos. Ouseja, era meramente humano o empenho de-les em observar, de forma meticulosa, uma s-rie de regras externas. Apesar de assim agirempor uma suposta razo religiosa e louvarem o

    Senhor com os lbios, seu corao estava longedEle. Erravam, pois, ao praticar uma devoode aparncia, bastando-lhes aquelas abluespara ficarem satisfeitos e se julgarem livres dequalquer impureza, sem se preocuparem comos vcios que lhes manchavam a alma. Enquan-to no corao guardavam tudo aquilo que Jesusvai enumerar mais adiante ms intenes,imoralidades, roubos, assassnios, adultrios,ambies desmedidas, maldades, entre outros, eles sustentavam a ideia de que o interior

    do homem sobretudo se fosse fariseu desi mesmo era puro, e supunham encontrar nasexterioridades a tranquilidade de conscincia ea soluo para encobrir estas falhas de esprito.Por isso o principal ttulo que receberam do Sal-vador foi o de hipcritas!

    A hipocrisia um defeito horrvel mui-to mais comum do que pensamos! , pelo qualh uma dissociao entre os ditos e as atitudesde uma pessoa e aquilo que ela pensa ou dese-ja. O hipcrita se parece com o pai da menti-ra (Jo 8, 44), porque este justamente o modode ser do demnio: apresenta-se com palavrasatraentssimas, dando a impresso de querer fa-zer o bem, mas suas intenes so pssimas.

    Embora no constem no Evangelho des-te domingo, os versculos 9 a 13 tornam aindamais compreensvel este ensinamento do Divi-no Mestre: Na realidade, invalidais o Manda-

    mento de Deus para estabelecer a vossa tradi-o (Mc 7, 9). De fato, os fariseus chegarama transformar estas normas, que deveriam visaro sobrenatural, numa espcie de idolatria. Ar-rancaram os autnticos preceitos morais e cria-ram uma religio prpria, diferente da verda-deira, totalmente desprovida de cunho religiosoe separada de Deus, porque se apoiava em di-tames mundanos, determinados pela vida socialda poca. Divinizaram a lei humana; dessacrali-zaram e humanizaram a Lei divina!

    Este povoMe honra comos lbios, masseu coraoest longede Mim. De

    nada adiantao culto queMe prestam

    esquerda: Fariseus - Igreja de Betfag (Terra Santa); direita: Profeta Isaas - Igreja deSo Francisco a Ripa, Roma

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    Em seguida Jesus citou um exemplo (cf. Mc 7,10-13) para mostrar como faziam a distoroda Lei, esvaziando seu contedo e falsean-do os costumes que nela se baseavam: os fa-riseus, porque eram avarentos, recorriam aum estratagema, de maneira a poder guardar

    o dinheiro que, em funo do Quarto Man-damento do Declogo, todo filho tem a obri-gao de usar para assistir os pais na velhice,contribuindo para a subsistncia deles. Emvez de dar aos pais a quantia necessria paraseu sustento, os fariseus a consagravam comooferta a Deus e consideravam-se livres daque-le dever filial.

    Por meio de um enigma,Jesus chama as multides para Si14 Em seguida, Jesus chamou a multido

    para perto de Si e disse: Escutai todose compreendei: 15 o que torna impuro ohomem no o que entra nele vindo defora, mas o que sai do seu interior.

    Jesus chamou a multido para perto de Si,pois ela se tinha afastado e achava-se meio dis-

    persa. Decerto esta dissipao provinha de umaformao religiosa deficiente. Quantas vezes aspessoas se interessam mais por seus problemasconcretos, mesmo quando tm o prprio Salva-dor diante de si!

    Para atrair a ateno das turbas, Ele lhes

    lanou, muito ao estilo oriental, um quase queenigma: O que torna impuro o homem no o que entra nele vindo de fora, mas o que saido seu interior. de se supor que logo se le-vantou um vozerio, uma discusso para tentardescobrir qual o significado daquela frase. Noentanto, no a resolveram... S mais tarde, es-tando em casa, os discpulos O interrogaram arespeito da parbola, e Jesus lhes explicou aqui-lo que tambm eles no tinham compreendido(cf. Mc 7, 17-20).

    O homem se define por suas intenes21 Pois de dentro do corao huma-no que saem as ms intenes, imorali-dades, roubos, assassnios, 22 adultrios,ambies desmedidas, maldades, frau-des, devassido, inveja, calnia, orgulho,

    NossoSenhor vinhaquebrandoa teoria

    farisaica douniverso

    fechado

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    A impurezade alma: eiso pomo dadiscrdianestadiscussoentre o

    DivinoMestre e osfariseus

    Jesus discute com os fariseus - Catedral de Saint Gatien, Tours (Frana)

    falta de juzo. 23 Todas estas coisas mssaem de dentro, e so elas que tornamimpuro o homem.

    Nosso Senhor vinha quebrando a mencio-nada teoria farisaica do universo fechado,

    quando declarava puros todos os alimentos(Mc 7, 19), isto , que todas as criaturas soneutras. A matria assimilada pelo homem no impura; pelo contrrio, o homem que tornaboas ou ruins as coisas, segundo o uso que delasfaz. Por conseguinte, a fbrica de impurezasj existe dentro do corao de todo ser huma-no, porque foi concebido no pecado original esuas inclinaes so ms. Sem o auxlio da graaele um verdadeiro poo de misrias, um feitorde loucuras e de crimes, incapaz, por seu esfor-o pessoal, de se manter fiel prtica dos Man-

    damentos, de forma estvel.Esta corrupo depende, sobretudo, das su-

    as intenes, pois se, de um lado, possvel exe-cutar uma aoper sesanta tendo em mente umdesgnio perverso, de outro, pode acontecer quealgum se veja na contingncia de presenciarcenas pssimas e por elas no seja tisnado, umavez que no lhes d sua adeso. Esta a razopela qual no devemos nos perturbar quando,por exemplo, um pensamento desonesto, suge-rido pelo demnio, nos vem cabea; desde queo corao no consinta nele e o rejeite, fique-mos tranquilos...

    A impureza de alma: eis o pomo da discr-dia nesta discusso entre o Divino Mestre e os

    fariseus. Jesus demonstra quanto ridculo ima-ginar que pelo toque de algum objeto a almase macule. claro que se algum utiliza o cor-po para ofender a Deus adquire uma manchade alma; mas este ato partiu de um mau dese-jo da inteligncia e da vontade, potncias da al-

    ma, enquanto o corpo foi mero instrumento pa-ra fazer o que ilcito.

    III ESTEJAMOSLBIOSDEACORDOCOMOCORAO!

    Deus nos deu uma Lei eterna que gravou emnossa alma; no Sinai nos entregou esta Lei es-crita em tbuas de pedra e, por fim, a manifes-tou ainda visvel e viva no prprio Nosso SenhorJesus Cristo, o Verbo de Deus que Se fez carnee habitou entre ns, para dar testemunho da

    verdade (Jo 18, 37), de modo que todos a co-nhecssemos perfeitamente.

    Entretanto, a partir do momento em queAdo e Eva desprezaram esta Lei, no Parasoe, na hora da prova, no optaram pela virtude,deixando-se levar pelas atraes do demnio aponto de cometerem o pecado, a tendncia dohomem esquecer a Palavra e a Lei.

    Ora, Deus quer de ns uma aceitao plenada Lei imutvel e sempiterna, sendo pratican-tes da Palavra e no meros ouvintes (Tg 1, 22);Ele deseja que nosso ntimo esteja inteiramentede acordo com os lbios. Estes devem pronun-ciar aquilo que transborda do corao, confor-me afirmou Nosso Senhor: A boca fala daqui-

    lo de que o corao est cheio(Lc 6, 45). bem verdade quens temos de traduzir em pala-vras, em atitudes, em gestos, emdecorao de ambientes, em ce-rimonial e na prpria pessoa, adoutrina que recebemos comoherana. Mas para no cairmos

    no equvoco farisaico, precisoprimeiro progredir na vida espi-ritual, transformar a alma e al-canar a mxima unio de viase de cogitaes com Nosso Se-nhor Jesus Cristo; o resto vir co-mo consequncia! Ele quem,por sua graa, h de tornar pu-ro o nosso interior, para que de-le saia a bondade e brotem obrasde justia.

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    Se notivermosmeios de dara Deus uma

    boa ddiva,ofereamosa Ele o que

    possumoscom todaa alma...

    Coroao de Nossa Senhora - Museu Castellvecchio, Verona (Itlia)

    Se no tivermos meios de dar a Deus umaboa ddiva, altura de nossos anseios, ofere-amos a Ele o pouco que possumos, animados,porm, de excelente inteno, com toda a al-ma... Ser como o bolo da viva elogiada porJesus no Evangelho (cf. Mc 12, 41-44): ela lan-ou s duas moedinhas, quando, no fundo, que-ria entregar o seu corao!

    Como meu interior?

    A Liturgia deste 22 Domingo do Tempo Co-mum resume-se no seguinte problema: onde es-t o meu corao? Ser que meus lbios louvama Deus, mas o interior est fora da Lei? Quan-

    tas vezes prefiro estar em consonncia com omundo e em oposio a Nosso Senhor? Eu co-loco Deus no centro de minha vida ou me po-nho a mim mesmo?

    Todas as nossas aes se correlacionam comnosso destino eterno e com nossa vocao so-brenatural; por isso somos convidados a ser n-tegros diante de Deus, amando-O, respeitandosuas Leis com elevao de esprito, fervorososem relao prtica da santidade. Peamos aMaria Santssima que nos obtenha graas extra-ordinrias para que nossos coraes sejam cha-mejantes e os lbios transbordem do que cantae proclama o corao!

    1SO TOMS DE AQUINO. Su-

    ma Teolgica. I, q.25, a.6, ad 4.2ROYO MARN, OP, Antonio. Te-

    ologa de la perfeccin cristiana.Madrid: BAC, 2006, p.286.

    3BONSIRVEN, SJ, Joseph.Le ju-dasme palestinien au temps de J-sus-Christ. 2.ed. Paris: GabrielBeauchesne, 1934, t.I, p.265-267.

    4TUYA, OP, Manuel de; SALGUE-RO, OP, Jos.Introduccin a laBiblia. Madrid: BAC, 1967, v.II,p.508.

    5Cf. KELIM. M 17, 14. In: BON-

    SIRVEN, SJ, Joseph (Ed.). Tex-tes rabbiniques des deux premierssicles chrtiens. Roma: PontificioIstituto Biblico, 1955, p.665.

    6Cf. SO TOMS DE AQUINO,op. cit., q.103, a.5.

    7Cf. OHALOT. M 1-3. In: BONSIR-VEN, Textes rabbiniques des deuxpremiers sicles chrtiens, op. cit.,p.672-674.

    8Cf. BERAKHOT. Y 12a; HAGI-G. M 3, 1; ZEBAHIM. B 11,

    7-8; KELIM. M 25, 6-9. In: BON-

    SIRVEN, Textes rabbiniques desdeux premiers sicles chrtiens, op.cit., p.107; 283; 573; 668.

    9YADAIM. M 2, 3. In: BONSIR-VEN, Textes rabbiniques des deuxpremiers sicles chrtiens, op. cit.,p.707.

    10SANTO IRINEU DE LYON.Ad-versus Hreses. L.IV, c.16, n.5:MG 7, 1018.

    11Idem, n.4.

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    P

    Apstolo do Corao

    de Jesus e Maria

    18 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    SOJOOEUDES

    Apoiado em bases teolgicas e estreitos vnculos msticos com Cristo e

    Maria, esteve na vanguarda da devoo a seus dois amveis Coraes

    como um s, em unidade de esprito, de sentimento e afeio.

    aris viveu dias de apo-geu durante o reinado deLus XIV. Convergia na-quele ento para a Fran-

    a, num ininterrupto desfile cujopalco principal era o Palcio de Ver-sailles, toda espcie de manifestaesdo poderio francs no campo das ar-tes, das cincias, das letras e das con-quistas militares, compondo uma p-gina notvel nos anais desta nao.

    Entretanto, ao lado de tantostriunfos avanava silenciosamenteuma grave crise religiosa, prpria adesviar os espritos do cumprimen-to dos preceitos cristos e atra-lospara ideais cada vez mais distantesdos pregados pelo Divino Redentor.Era a diminuio de fervor que, nosculo seguinte, acabaria determi-nando os trgicos episdios da Re-voluo Francesa.

    No seio da deslumbrante Cida-de Luz, onde tudo era charme, bri-lho e requinte, nem todos se mos-travam indiferentes a esta realidademais profunda. Movidos pela graa,muitos homens de valor e influn-cia, aos quais coube um papel deci-sivo no desenrolar dos fatos da po-ca, aperceberam-se da gravidade domomento e se dedicaram com ar-dor luta por um elevado objetivo:colocar Deus no centro daquela so-ciedade, como o verdadeiro Senhordas almas.

    Irmanados por estes anseios elesformaram, sob o impulso de cer-to sacerdote chamado Pedro deBrulle, um numeroso grupo de

    eclesisticos provenientes de vriasregies do pas, empenhados todosem progredir nas vias da santidade.A l ista dos integrantes deste crcu-lo extensa, mas podemos enume-rar aqui alguns de seus expoentes:So Francisco de Sales, So Vicen-te de Paulo, Carlos de Condren,Joo Tiago Olier e aquele que ce-lebrado pela Igreja a 19 de agosto:So Joo Eudes.

    Ir. Carmela Werner Ferreira, EP

    Na deslumbrante Cidade Luz, nem todos se mostravam indiferentesa esta realidade

    O Cardeal Pedro de Brulle, por Philippe de Champaigne; So Francisco deSales - Santa Gruta de Manresa (Espanha); So Vicente de Paulo - Igreja

    de So Vicente, Cracvia (Polnia)

    Reproduo

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    Agosto 2015Arautos do Evangelho 19

    Membro eminente daescola francesa de espiritualidade

    Era na residncia de madameBrbara Acarie que se realizavamos encontros do grupo. Digna re-presentante das melhores tradies

    e qualidades da nobreza parisiense,ela abria as portas de sua mansoa cada semana para receber os cl-rigos, vrios membros da aristocra-cia e leigos desejosos de um maioraprofundamento em temas catli-cos, sobretudo teolgicos, bem co-mo de uma entrega mais profunda orao e meditao.

    Neste ambiente marcado pelo ar-dor religioso formou-se um corpo deelite, hoje conhecido como a escola

    francesa de espiritualidade. Curio-samente, muitos dos que ali marca-vam presena pertenciam a diversascongregaes religiosas e possuamformao heterognea. Essas dife-renas, porm, eram superadas pelacaridade de todos e constituam, in-clusive, um fator de enriquecimento.

    O padre Joo Eudes era um sa-cerdote vindo da Normandia aindanos anos da juventude para integrara Congregao do Oratrio, recm--fundada por Brulle. Dedicado pre-gador de misses populares, ele tam-bm se distinguia naquele crculopor uma palavra fcil e penetrante,por seu conhecimento doutrinrioprofundo e por traos msticos que ouniam com vnculos estreitos a Cris-to e sua Me Santssima.

    As multides por ele converti-das testemunhavam o calor de suapregao. E quando falava ao sele-

    to conjunto do Palacete Acarie, re-petia com a mesma fora persuasi-va admoestaes como esta: Tudoquanto se relaciona com a divindadede Jesus, com sua santa humanida-de, com os estados e mistrios desua vida maravilhosa, no tempo e naeternidade, se reveste de um car-ter de grandeza e de uma dignida-de infinita, que sobrepujam nossacompreenso humanamente limita-

    da []. O Juzo Universal que o Fi-lho de Deus pronunciar no fim dostempos no ter outro fim seno ode tributar, mediante a tremendajustia de Nosso Senhor, uma su-prema homenagem a todos os seus

    mistrios, proclamando, perante to-da a humanidade, quanto esta fezou omitiu na meditao e amor aosmistrios de Cristo, ao longo de to-dos os sculos e em todos os lugaresdo universo.1

    Escolhido para o servio da Igreja

    Nascido em 14 de novembro de1601 no vilarejo de Ri, prximo aArgentan, Joo Eudes foi uma res-posta da Providncia s splicas de

    seus pais. Acabrunhados pela pers-pectiva de no terem filhos, peregri-naram a um santurio mariano paraimplorar esta graa e ali consagra-ram de antemo a Nossa Senhora ofruto de sua unio. Em pouco tem-po nascia-lhes o menino, que apres-saram em conduzir fonte batismal.

    A famlia pde comprovar, logonos anos da infncia, como o ofe-recimento fora de fato aceito: per-cebia-se a olhos vistos a vocao re-ligiosa da criana. Ainda pequenono poupava esforos para comun-gar com assiduidade, contrariando atendncia jansenista ento reinante,como ele mesmo o atesta: Estandonuma parquia onde muito poucaspessoas comungavam fora da Ps-coa, comecei por volta dos 12 anos aconhecer a Deus, por uma graa es-pecial de sua divina bondade, e a co-mungar todos os meses, aps ter fei-

    to uma Confisso geral. Foi na festade Pentecostes que Ele me conce-deu a graa de fazer a Primeira Co-munho. [...] Pouco tempo depois,Ele me deu tambm a graa de Lheconsagrar meu corpo pelo voto decastidade.2

    Inscrito por seu pai no colgio je-suta de Caen, revelou-se ali um alu-no de raras qualidades o de-voto Eudes,3 como gostavam de

    cham-lo. Estudou depois teologiacom mximo proveito na universida-de desta mesma cidade normanda.Aos 19 anos ouviu em seu interior ochamado vida eclesistica, e rece-beu do Bispo diocesano a tonsura eas ordens menores.

    Sua vocao, todavia, estava porflorescer. Foi no contato com osmembros do recm-fundado Orat-rio de Brulle que Joo Eudes sen-tiu-se interpelado pela graa a darum passo decisivo: tomar parte na-

    quela nova famlia espiritual, dedi-cada a honrar o mistrio do sacerd-cio de Jesus Cristo. Impressionadopelo exemplo de vida dos clrigosque a integravam, ele se apresentous portas do convento para pedir ad-misso e seu pedido foi favoravel-mente acolhido pelo superior da co-munidade de Caen, o padre Aquilesde Harlay-Sancy, que escreveu deimediato ao padre Brulle.4

    Os resultados de sua pregaopodiam ser medidos pela afluncia

    do pblico

    Pregao de So Joo Eudes - Catedralde So Jos, San Jos (Estados Unidos)

    Daderot(C

    C-0)

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    20 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    Vocao missionria

    Com passo resoluto este jovemde 22 anos ingressa na Congrega-o do Oratrio, de onde envia-do pouco depois para o noviciado deParis. Sua ordenao sacerdotal te-

    ria lugar apenas dois anos mais tar-de; contudo, j no ms seguinte elerealizaria a primeira misso.

    Ouamo-lo narrar as razes queo levaram a abraar desde cedo estacausa, que seria a de toda a sua vida:Algo deplorvel at s lgrimas desangue ver que, dentre o to gran-de nmero de homens que povoama Terra, que foram batizados e, emconsequncia, admitidos na condi-o de filhos de Deus, membros de

    Jesus Cristo e templos vivos do Es-prito Santo, portanto obrigados a le-var uma vida conforme a estas divinasqualidades, muito mais numerososso os que vivem como animais, co-mo pagos e at mesmo como dem-nios; quase no h quem se comportecomo verdadeiro cristo.5

    Os perodos transcorridos na gla-morosa capital contrastavam com orduo exerccio do ministrio nas re-gies onde a populao catlica vi-via abandonada. Por isso, So JooEudes exclamava com justa indig-nao: Que fazem em Paris tan-tos doutores e tantos bacharis,enquanto as almas perecem aos mi-lhares por falta de quem lhes esten-da a mo para tir-las da perdio epreserv-las do fogo eterno? Decer-to, creia-me, eu iria a Paris gritar naSorbonne e nas outras faculdades:Fogo! Fogo! O fogo do inferno in-

    cendeia todo o universo! Vinde, se-nhores doutores, vinde, senhoresbacharis, vinde, senhores padres,vinde todos, senhores eclesisticos,vinde ajudar a apag-lo!.6

    Os resultados de sua pregaopodiam ser medidos pela aflunciado pblico, que no raras vezes acor-ria aos milhares s praas das cate-drais. Os nmeros correspondiamno somente assistncia, como

    tambm ao de Sacramentos admi-nistrados: de partir o corao depiedade ver um grande nmero des-ta pobre gente vinda de trs ou qua-tro lugares, apesar dos maus cami-nhos, pedir, entre lgrimas, para seratendida em Confisso, e que per-manece de seis a oito dias sem po-der ser atendida, dormindo noitenos prticos e nos mercados, qual-quer que seja o tempo.7

    Calcula-se que nas longas dca-das dedicadas a esta forma espec-fica de apostolado, So Joo Eudesorganizou cerca de 110 misses, queduravam normalmente vrios me-

    ses e abrangiam vastos territrios.Nem sequer o rei Lus XIV e a rai-nha Ana dustria deixaram de serbeneficiados por seus ensinamen-tos, pois o Santo realizou uma con-corrida pregao em Versailles, naqual recriminou com termos severosa m conduta dos soberanos. Reco-nhecendo-se merecedores daquelaspalavras, ambos passaram a dedicar--lhe uma alta estima e a favorec-lo

    sempre que se apresentava algumaocasio.

    Aurora da devoo aoSagrado Corao de Jesus

    Nesse contexto de fecunda ati-

    vidade pastoral, verificou So JooEudes os estragos feitos pela here-sia jansenista, ento em plena ex-panso. Os adeptos desta corren-te nefasta, que fingiam possuir umaelevada espiritualidade, levavam aspessoas a duvidar da misericrdia deDeus, na errada crena de estaremexcludos do nmero dos eleitos. As-sim, incontveis catlicos abandona-vam a prtica da F, por desesperoda salvao.

    Firmemente convencido do con-trrio, logo se ps ele a campo pa-ra reverter este quadro. Sua atuaomissionria tinha o claro propsi-to de aproximar do amor divino asalmas arrependidas e infundir-lhesa certeza de nunca serem abando-nadas por Deus, mesmo carregadasde graves culpas. Fiel a um chama-do interior que o movia a pregar es-ta bondade, o santo sacerdote notardou em relacionar a caridade in-finita de Cristo com o seu Coraohumano-divino, rgo no qual habi-ta toda a plenitude da divindade.

    Com efeito, So Joo Eudes oprimeiro telogo que tratou do objetoprprio da devoo ao Corao de Je-sus, afirma Lebrun.8 Transbordantede entusiasmo, proclama o Santo: OCorao augusto de Jesus uma For-nalha de Amor que espalha seu fo-go e suas chamas por todos os lados,

    no Cu, na Terra e em todo o univer-so. [...] Todas as criaturas existentesna Terra, mesmo as insensveis, ina-nimadas e irracionais, experimentamos incrveis efeitos da bondade destemagnfico Corao.9

    E para fixar na mente dos fiis es-ta doutrina, ele comps uma Missae Ofcio em honra ao Sagrado Co-rao de Jesus, cujos textos ates-tam at hoje a uno, a piedade e a

    Todas as criaturas existentesna Terra experimentam os efeitos

    da bondade deste Corao

    Vitral da Igreja de So Pedro,Dourdain (Frana)

    GO69(CCby-sa3.0)

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    Agosto 2015Arautos do Evangelho 21

    pureza de doutrina de seu autor.Graas a So Joo Eudes, o DivinoCorao foi honrado oficialmen-te pela primeira vez na Histria daIgreja, o que lhe valeu o ttulo deautor do culto litrgico aos Sa-

    grados Coraes de Jesus e Ma-ria,10outorgado por Leo XIII, eo de pai, doutor e apstolo11des-te mesmo culto, conferido por SoPio X ao beatific-lo. Quando asrevelaes a Santa Margarida Ma-ria Alacoque ocorreram em Paray--le-Monial, no ano de 1675, haviaj um povo preparado para corres-ponder ao seu apelo de amor.

    O Corao de Jesus e Maria

    A um passo to ousado, logo seseguiram duras reprovaes porparte daqueles que no queriam re-conhecer neste culto o sopro do Es-prito Santo. Sem titubear, o Santolhes deu uma rplica sagaz: Se estadevoo objetada pela novidade, euresponderei que a novidade muitoperniciosa nas coisas da F, mas mui-to boa nas coisas da piedade.12

    Convicto de que esta nova devo-o tinha sua origem num desgnioprovidencial, So Joo Eudes mos-trou, por argumentos teolgicos,que o Corao de Jesus e o de Ma-ria no tm diferenas entre si, masconstituem, pela unio existente en-tre ambos, um s e mesmo Corao.Jamais tivemos, no entanto, a inten-o de separar duas coisas que Deusuniu to estreitamente, como so oCorao augustssimo do Filho deDeus e o de sua Bem-Aventurada

    Me: pelo contrrio, nosso propsito

    foi sempre, desde os primrdios denossa congregao, de contemplar ehonrar estes dois amveis Coraescomo um mesmo Corao, em uni-dade de esprito, de sentimento e deafeio, como est manifestamen-te expresso na saudao que faze-mos todos os dias ao Divino Cora-o de Jesus e Maria, bem como naorao e em vrias partes do Ofcioe da Missa que celebramos na festado Sagrado Corao de Maria Vir-gem.13

    Duas novas congregaespara a Igreja

    Seus 78 anos de vida foram uma

    constante lio de perseverana, sem

    esmorecer na luta contra os inimi-gos da Igreja vidos de arrebatar asovelhas do redil de Cristo; uma do-ao de si at o ltimo alento, pe-lo bem das almas. Sinal de ser estaentrega uma oferenda grata a Deus

    foi a misso realizada na idade de70 anos, na qual gozou de energiassobre-humanas: Deus me deu tan-ta fora nesta misso, que eu pre-guei quase todos os dias, durantedoze semanas, a uma enorme as-sembleia reunida na catedral, como mesmo vigor que possua na ida-de de 30 anos. por isto que tomeia resoluo de empregar neste tra-balho o resto de minha vida.14

    O maior de todos os emba-

    tes foi sua sada do Oratrio ao qual estava ligado por laos deprofunda afeio , a fim de fun-dar duas novas famlias religio-sas para a Santa Igreja: a Congre-gao de Jesus e Maria, em 1643,

    voltada formao do clero e a per-petuar as misses paroquiais; e oRefgio de Nossa Senhora da Cari-dade, em 1651, destinado a socorrermulheres em situao de risco.

    Deus lhe havia reservado tam-bm esta coroa: estabelecer umadescendncia espiritual empenha-da em glorific-Lo segundo o caris-ma que norteou sua existncia. Ho-je, decorridos mais de trs sculosda morte de So Joo Eudes, seus fi-lhos e filhas fazem ecoar, atravs demeritrias obras de evangelizaoao redor do mundo, um brado queele repetia a todo instante e que re-sume o ideal que animou este gigan-

    te da F: Viva Jesus e Maria!.15

    Nosso propsito foi sempre decontemplar e honrar estes dois amveis

    Coraes como um mesmo Corao

    Retrato do Santo disponibilizado peloseudistas em sua pgina web

    www.eudistes.org

    1SO JOO EUDES. Obras.Vida y reino de Jess enlas almas cristianas.Bogo-t: San Juan Eudes, 1956,p.181-182.

    2GEORGES, CJM, mile.Saint Jean Eudes. Paris:Lethielleux, 1925, p.7.

    3Idem, p.9.

    4Idem, p.12.5AMOURIAUX, CJM,

    Jean-Michel; MILCENT,CJM, Paul. Saint JeanEudes, par ses crits. Paris:Mdiaspaul, 2001, p.81.

    6Idem, p.83.7Idem, p.84.

    8LEBRUN, CJM, Charles.La spiritualit de Saint JeanEudes. Versailles: Liberius,1933, p.44.

    9AMOURIAUX; MILCENT,op. cit., p.148.

    10LEO XIII.Decreto do he-rosmo das virtudes de SoJoo Eudes, de 8/1/1903.

    11SO PIO X. Carta apostlicade beatificao de So JooEudes, de 11/4/1909.

    12AMOURIAUX; MILCENT,op. cit., p.151.

    13Idem, p.150.14Idem, p.93.15Idem, p.108.

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    C

    A liturgia do cotidiano

    22 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    Quando os gestos cotidianos adquirem numa famlia o

    valor de orao e se tornam um hbito, consolida-se nessa

    igreja domstica um ambiente de tranquilidade e paz.

    om razo se considera a

    Liturgia, explica o Con-clio, como o exerccioda funo sacerdotal de

    Cristo. Nela, os sinais sensveis sig-nificam e, cada um sua maneira,realizam a santificao dos homens;nela, o Corpo Mstico de Jesus Cris-to cabea e membros presta aDeus o culto pblico integral.1

    Podemos, pois, definir a Liturgiacomo a forma em que a Igrejamanifesta seu louvor a Deus e faz osfiis participarem desse louvor.

    Estado e religio no mundo antigo

    A noo que hoje temos de Litur-gia parte do conceito expressado napalavra grega , que signifi-cavaservio pblico.

    Ora, na Grcia clssica, comoem todos os povos da Antiguida-de, o senso do sobrenatural estavaarraigado na vida a ponto de prati-

    camente no existir atividade coti-diana desvinculada da religio. Es-tado e religio estavam de tal modounidos, que era impossvel no so-mente ter ideia de um conflito en-tre eles, mas at mesmo distingui--los um do outro,2 escreve Fustelde Coulanges. Assim, por exemplo,para concluir um tratado de paz,era necessrio realizar uma cerim-nia religiosa.3

    Difcil imaginar nos nossos to

    secularizados dias a que ponto reli-gio e vida cotidiana se confundiamnaqueles tempos. Consciente ousubconscientemente, o homem con-temporneo separa seus deveres re-ligiosos das atividades dirias. Atpara grande nmero de catlicos, aprtica religiosa se converte em epi-sdio pontual e isolado.

    Liturgia com maiscula,liturgia com minscula

    Fazem parte fundamental daLiturgia os gestos, atitudes, vesti-mentas e objetos utilizados nas ce-lebraes. Cada um deles tem umpapel especfico dentro da finali-dade de ser sinal visvel da comu-nho entre Deus e os homens pormeio de Cristo.4

    Podemos, porm, falar tambmde uma liturgia da vida cotidiana,com l minsculo, na qual se in-

    serem gestos e atitudes que, semterem carter religioso, so entre-tanto realizados visando elevar aalma a Deus. Nada mais natural seconsideramos que o Batismo nostransforma em uma raa escolhi-da, um sacerdcio rgio, uma na-o santa, um povo adquirido pa-ra Deus (I Pd 2, 9) e torna quemo recebe templo do Esprito San-to (I Cor 6, 19).

    A dignidade de filhos de Deus

    convida-nos a liturgizar o dia a diaseguindo o conselho do Apstolo:Portanto, quer comais quer bebais,ou faais qualquer outra coisa, fazeitudo para a glria de Deus (I Cor10, 31). Nossas palavras, tons, ati-tudes, postura, compostura e formade vestir devem respeitar essa digni-dade em todo momento, mesmo naintimidade, pois, afinal, no somostemplos do Esprito Santo apenasaos domingos na hora da Missa...

    Importncia da intenonos atos humanos

    Esse princpio se aplica at smenores aes do nosso dia a dia.Assim, vesti r-se e pentear-se comcuidado e compostura desejandorefletir a nossa dignidade de cris-tos torna-se um ato meritrio sobo ponto de vista moral. E o mes-mo se poderia dizer de algo to

    comum como lavar as mos, quan-do isto feito unido ao desejo depurificar-nos tambm de qualquermcula que possa haver no nossoesprito.

    Exemplo insupervel da impor-tncia da inteno nos atos cotidia-nos nos d Nossa Senhora. Em to-dos os instantes de sua vida, Elaprocurou adorar a Deus de modoperfeito, a ponto de o menor dos

    Pe. Antonio Jako Ilija, EP

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    Agosto 2015Arautos do Evangelho 23

    seus gestos ter mais mrito diantedo Criador do que os sofrimentosde um mrtir. Ela deu mais glriaa Deus com a menor de suas aes,por exemplo, trabalhando na rocade fiar ou fazendo um ponto com

    uma agulha, do que So Lourenona grelha com seu cruel martrio5 explica um dos mais clebres ma-rilogos, So Lus Maria Grignionde Montfort.

    Podemos imaginar Nossa Se-nhora, na suavssima solido da ca-sa de Nazar, preparando uma re-feio para o Menino Jesus e SoJos, espera da chegada deles dotrabalho. Ou Maria Santssima per-guntando a So Jos, durante uma

    ausncia do Filho, que prato maisLhe agradaria para o jantar. E as-sim por diante, poderamos conjec-turar uma prodigiosa sequncia deatos maravilhosos que na sua sim-plicidade domstica poderiam termais uno que as mais solenes ce-rimnias.

    Impregnar os gestos cotidianosde religio

    No seio de um lar catlico, osbons costumes e o esmero nos ges-tos cotidianos podem recriar uma at-mosfera impregnada do bom odor da

    Sagrada Famlia de Nazar. s ve-zes dizer bom-dia ou boa-tardecom a inteno de manifestar o nos-so amor pelo outro, suficiente paraaproxim-lo mais de Deus. Quandoo lar pervadido por uma conste-lao de atitudes como estas, vai seconsolidando um como que cerimo-nial nico, peculiar a cada famlia,que no seu conjunto termina consti-tuindo uma liturgia prpria ao queo Conclio e So Joo Paulo II cha-

    mavam de igreja domstica.6O desempenho dos afazeres coti-

    dianos seguindo um ritual invisvel,cujo elemento mais importante aimpostao sobrenatural com quetodas as atividades so feitas, cons-titui sem dvida um ato de carterreligioso. Quando os gestos cotidia-

    nos adquirem deste modo numa fa-mlia o valor de orao e se tornamum hbito, consolida-se nessa igre-ja domstica um ambiente de tran-quilidade e paz, marcado pela cari-dade crist.

    Desenvolve-se assim nela um esp-rito peculiar, nico e to impregna-do de religio que, quando a famliavai para a igreja, a noo preponde-rante que ela tem no de que elaest saindo de casa para ir igreja,7mas de uma respeitosa e harmnicacontinuidade. Ao retornar da igre-ja, a famlia mais ela mesma, mas tambm mais catlica do que antes departir.8

    E quando chegar o momento

    supremo de um dos seus membrosreceber a ltima bno a cami-nho do Cu, acontece a definiti-va, respeitosa e solene transio:do lar terreno, igreja gloriosae perfeita na qual a mais bela e su-blime das liturgias se desenvolvesem cessar.

    1CONCLIO VATICANO II. Sacrosanc-tum Concilium, n.7.

    2FUSTEL DE COULANGES, NumaDenys.La cit antique. Paris: Flamma-rion, 1984, p.194.

    3Idem, p.245.4CCE 1071.5SO LUS MARIA GRIGNION DE

    MONTFORT. Trait de la vraie dvotion la Sainte Vierge, n.222.

    6SO JOO PAULO II.Familiaris consor-tio, n.21.

    7CORRA DE OLIVEIRA, Plinio.Pales-tra. So Paulo, 31 jan. 1986.

    8Idem, ibidem.

    O desempenho dosafazeres cotidianoscom impostao

    sobrenatural,constitui semdvida um ato decarter religioso

    Costureiras trabalhando, por JooMarques de Oliveira - Museu Nacional de

    Soares dos Reis, PortoFrancisco

    Lecaros

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    O leproso agradecido

    S

    24 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    Difcil ao homem suportar qualquer sofrimento. Por isso,

    agradecer a cura comum. Haver, contudo, quem louve a

    Deus pela doena?

    empre foi a lepra consideradaum paradigma de infelicida-de em razo de suas terrveis edramticas consequncias fsi-

    cas e sociais. Por isso, causaram pro-funda impresso as curas dessa doen-a feitas pelo Divino Mestre ao longode sua pregao.

    No entanto, a sade devolvida aesses infelizes simbolizava uma curaainda mais preciosa: a da alma. Semdvida, a sofreguido dos leprosos procura da sade era superada pelodivino desejo de lhes propiciar a sal-vao eterna.

    Na conhecida cura dos dez lepro-sos em que apenas um, o samarita-no, retornou para agradecer a Jesus,o Divino Mestre indagou-lhe: Ondeesto os outros nove? (Lc 17, 17).De fato, todos foram miraculados.Contudo, somente um deles alcan-ou a verdadeira sade: vendo seu

    corpo limpo, voltou, transbordan-te de gratido, aos ps da Fonte daVida e, por isso, foi o nico a ouvira alentadora sentena: Levanta-te evai, tua f te salvou (Lc 17, 19).

    Visitando um leprosriodo sculo XX

    Dois mil anos se passaram, e ain-da hoje possvel encontrar atitudesde gratido belas como essa, e at,

    por certos aspectos, mais impressio-nantes

    Uma dupla de Arautos do Evan-gelho visitava, precisamente, um le-prosrio prximo a Belm do Pa-r. Apesar de a medicina contar naatualidade com a vacina contra a le-pra, descoberta em 1987 pelo vene-zuelano Jacinto Convit Garca, nofoi possvel at o presente debelarpor completo essa enfermidade.

    L estavam os missionriosacompanhando uma bela imagem

    de Nossa Senhora de Ftima, dis-postos a semear nos coraes desva-

    lidos a mensagem de esperana le-gada por Cristo aos seus discpulos.Percorreram as instalaes do hos-pital tomados de notvel sentimentode compaixo diante do atroz sofri-mento daqueles homens transfor-mados em chagas vivas. Jaziam elesem seu leito de dor, exilados do con-vvio social naquela nova e peque-na Molokai, e nossos missionrios sesentiam outros Damio de Veuster.

    Pe. Antnio Guerra de Oliveira Jnior, EP

    O leproso agradecido - Biblioteca do Mosteiro de Yuso,San Milln de la Cogolla (Espanha)

    Ainda hoje possvel encontrar atitudes de gratido belas como essa

    FranciscoLecaros

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    Orao do paraquedista

    Agosto 2015Arautos do Evangelho 25

    Deus muito bom!Quando julgavam tudo ter vis-

    to, ainda lhes faltava a mais bela li-o de conformidade com os miste-riosos desgnios da Providncia. Aenfermeira que os acompanhava fez

    questo de parar para explicar-lhesquem os aguardava no ltimo quar-to do corredor: Trata-se de um ca-so de lepra precoce. O enfermo queaqui se encontra teve de abandonar oseu pequeno mundo infantil quandomal comeava a ter uso da razo, pa-ra se enclausurar nas paredes de umleprosrio e ver o seu corpo desin-tegrar-se ao longo de quase setentaanos: j perdeu as pernas, faltam-lheas mos, quase no lhe resta nariz,

    no tem nenhum dente, ouve com di-ficuldade e mal enxerga. Seria difcilacreditar na existncia de um homemassim, caso ambos os religio-sos no o tivessem visto.

    Adalcio! Adalcio! Nos-sa Senhora veio para visit--lo!, exclamou a enfermeira,falando ao ouvido do pacien-te, a fim de acord-lo do seuadormecimento quase con-tnuo. O leproso entreabriuos olhos, deparando-se, emmeio s brumas da semice-gueira, com uma cena quese lhe afigurava como desci-da do Cu. Os dois mission-rios, ento, lhe dirigiam pa-lavras de consolo, quandoforam interrompidos pela vozlenta e entrecortada de Ada-lcio: Deus bom Deus bom Deus muito bom!.

    Ficaram os arautos sem ter oque dizer diante dessa subli-me reao.

    Um hino dedicado aosamigos da Cruz

    Se tivssemos a oportuni-dade de percorrer as cidadesmodernas narrando este fa-to, talvez muitos pensariam:Esse homem tinha o direito

    de reclamar de Deus!. Entretanto,no foi esta a atitude de Adalcio.Ele , precisamente, o leproso queno foi curado, mas agradece e lou-va a Deus, e com mais de 70 anos deidade pratica ato to heroico de lou-

    vor pelo fato de existir.Adalcio terminou os seus dias acarregar sobre o corpo a cruz da le-pra. E tudo leva a crer que a almadeste pobre Lzaro do Par, que emvida suportou com resignao a tra-gdia, foi reunir-se no Cu com to-dos os Bem-aventurados e receberde volta o corpo, no mais macera-do e leproso, mas ntegro e lumino-so, no derradeiro dia da ressurreioda carne.

    Mas, afinal de contas, o que agra-decia Adalcio? Exatamente no sesabe. Porm, a frase Deus muito

    bom! nos recorda a pungente ora-o composta por um paraquedis-ta francs, Andr Zirnheld, s vs-peras da Segunda Guerra Mundial,letra que mais tarde foi adaptadaa fim de se tornar um dos hinos da

    cole Militaire Interarmes.Parece um hino dedicado aos ami-gos da Cruz, tal como os descreve SoLus Maria Grignion de Montfort.1Aessas nobres almas bem se aplica a di-vina promessa de Jesus: Aquele quequiser salvar a sua vida, perd-la-;mas aquele que tiver sacrificado a suavida por minha causa, recobr-la-(Mt 16, 25)!

    1Este Santo francs, como se sabe, autordaLettre circulaire aux amis de la Croix(Carta circular aos amigos da Cruz).

    Dirijo-me a Vs, meu Deus,

    Pois Vs dais o que no se pode obter por si.

    Dai-me, meu Deus, o que Vos resta.

    Dai-me aquilo que ningum Vos pede.No Vos peo o repouso,

    Nem o sucesso, nem mesmo a sade.

    Tantos Vos pedem isto, meu Deus,

    Que j no Vos deve sobrar para dar!

    Dai-me, meu Deus, o que Vos resta.

    Dai-me aquilo que todos recusam.

    Quero a insegurana e a inquietao,

    Quero a tormenta e a luta.

    Dai-me isso, meu Deus, defnitivamente.

    Dai-me a certeza de que ser a minha parte

    para sempre,

    Pois nem sempre terei a coragem de pedi-lo.

    Dai-me, Senhor, o que vos resta,

    Dai-me aquilo que os outros no querem,

    Mas dai-me tambm a coragem,

    A fora, e a f!

    Pois s Vs podeis dar

    O que no se pode obter por si.

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    H

    Com as crianas, enfermos e ancios

    26 Arautos do EvangelhoAgosto 2015

    Cecchignola Maruggio

    vrios anos que as Misses Marianas fazem parteda rotina dos Arautos do Evangelho na Itlia. Ape-

    nas no ms de maio elas foram realizadas nas Parquiasde So Joo Batista, em Poggio Bustone, regio do L-cio; Santo Anselmo de Cecchignola, Roma; Maria San-tssima Assunta, de Frattamaggiore, provncia de N-poles; e Santssima Natividade da Virgem Maria, emMaruggio, Puglia.

    Em Cecchignola, o proco, Pe. Daniele Del Pr, co-mentou durante o rosrio processional, do qual participa-ram 2 mil pessoas: Nunca vi tanta gente nesta parquiaacompanhando uma procisso!. Algumas das Celebra-es Eucarsticas que tiveram lugar nessa parquia fo-ram presidias pelo Bispo Auxiliar Emrito de Roma, Dom

    Paolo Schiavon, e pelo Secretrio Adjunto do SupremoTribunal da Assinatura Apostlica, Dom Giuseppe Sciacca.

    Da Misso Mariana realizada em Frattamaggiore ca-be destacar as Missas presididas por Dom Salvatore Gio-vanni Rinaldi, Bispo Emrito de Acerra; Dom MarioMilano, Bispo Emrito de Aversa; Dom Angelo Spinillo,Bispo de Aversa; e Dom Alessandro Plotti, Bispo Emri-to da Arquidiocese de Pisa.

    Em Maruggio muitos se aproximaram do Sacramen-to da Penitncia. Uma senhora declarou emocionada: Aminha vida mudou, nunca mais vou ser a mesma.

    Em todos esses lugares foram tambm realizadas aesevangelizadoras especialmente destinadas s crianas,enfermos e ancios, como veremos nas fotos a seguir.

    Fotos:CristianLuis/PlinioSavio

    Frattamaggi

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    Roma - Sagrado CoraoMaruggio

    Roma - Calasanz

    Catequese para as crianas A visita de Nossa Senhora a uma escola d ensejo a que os missionrios faamanimadas catequeses, durante as quais contam episdios da vida dos Santos e fazem sentir aos mais jovens oquanto eles so amados por Jesus e sua Me Santssima. Em alguns lugares, como em Maruggio, no Sul do Pas,os alunos de ensino fundamental se reuniram na igreja, antes do incio das aulas, para dar um Bom dia a NossaSenhora. Em Roma os alunos do Instituo das Pequenas Escravas do Sagrado Corao e do Instituto So Jos deCalasanz receberam com calor e devoo a Imagem Peregrina. E em Frattamaggiore, Npoles, participaram comentusiasmo nas atividades organizadas pelos missionrios.

    Frattamaggiore

    Visita aos enfermos Durante as MissesMarianas o perodo matutino reservado para visitas aos

    ancios ou enfermos, quese encontram impedidosde ir venerar a imagemna igreja. Um sacerdotearauto, e muitas vezestambm o prpio proco,acompanham essas visitas,pois so comuns os pedidosde bnos, confisses oupara receber a Uno dosEnfermos.Maruggio

    F o t o s : C r i s t i a n L u i s / P l i n i o S a v i o

    Poggio Bustone

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    Canad Os Arautos do Evangelho de Schomberg (Ontario) tomaram parte nos atos litrgicos com que aParquia Saint Patrick comemorou a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo. A procisso com o SantssimoSacramento percorreu os amplos jardins que circundam o templo.

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    Moambique Alm de participar da procisso arquidiocesana presidida pelo Nncio Apostlico, Dom EdgarPea Parra (foto 1), os Arautos comemoraram a Solenidade de Corpus Christi com uma Missa celebrada pelo Pe.Alessandro Schurig, EP, na Casa dos Arautos em Maputo (foto 4). Recentemente ordenado em So Paulo peloNncio Apostlico no Brasil, Dom Giovanni dAniello, este sacerdote se encontra como missionrio no Pas juntocom o Dic. Diego Faustino, EP, tambm brasileiro. A seguir houve procisso pelas redondezas (fotos 2 e 3).

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    Aniversrio do Oratrio A celebrao do Primeiro Sbado na Catedral da S revestiu-se em junho de especialsolenidade por estar sendo comemorado o 15 aniversrio do Apostolado do Oratrio do Imaculado Corao de

    Maria. Centenas de Coordenadores participaram da Missa levando os respectivos oratrios.

    Corpus Christi Em Recife, os Arautos tiveram a honra de portar o plio na procisso presidida pelo ArcebispoMetropolitano, Dom Antnio Fernando Saburido (esquerda). E em Cuiab, participaram da procisso que percorreu

    o centro da cidade, durante a qual o Santssimo foi conduzido por Dom Milton Antnio dos Santos, SDB.

    Consagraes a Nossa Senhora Mais de 60 pessoas se consagraram solenemente a Nossa Senhora durante aSanta Missa celebrada em Recife pelo Pe. Clio Casale, EP (esquerda). Em Montes Claros (MG), foram 160 os quefizeram sua consagrao em cerimnia presidida pelo Pe. Wagner Morato, EP, na igreja de So Sebastio (direita).

    StywartAndreyAlmeidaDures

    Fotos:DavidDoming

    ues

    MarcosSette

    LeonardoResende

    Le

    onardoResende

    Algumas das incontveis realizaes no Brasil

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    O encontro de

    dois olhares...

    A

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    Um espetculo carregado de

    significado e de to grandiosos

    sentimentos que cala fundo no

    mago das almas.

    comunicao humana, aocontrrio do que s vezesaparenta, no est restritaapenas expresso verbal.

    O homem se relaciona com o mun-do exterior inclusive com os demaisseres humanos atravs de todos osseus sentidos, pelas mais diversas ma-nifestaes. No entanto, entre os sen-tidos externos um deles superior aosdemais: a viso.

    Muito se pode dizer com umolhar!... Com razo afirmava umasapiencialssima senhora que, de-pois do servio de Deus, viver estar juntos, olhar-se e querer-sebem. Quo profundo e verdadei-

    ro ensinamento encerra esta frase,pois mediante uma troca de olharesas almas se comunicam de manei-ra inefvel, transmitindo emoes esentimentos que no est ao nossoalcance exprimir com palavras.

    Apliquemos esta ideia troca dedois olhares augustos, nos momen-tos mais simblicos da Histria dahumanidade: o olhar de Maria San-tssima que pousa nos divinos olhos

    de Jesus, seu Filho, no caminho doCalvrio, e, posteriormente, na apa-rio de Nosso Senhor ressuscitado sua Me.

    Dois encontros carregados designificado e to grandiosos sen-timentos que, quando contempla-dos, ultrapassam as compreensesintelectivas e sensitivas. De ma-neira quase incompreensvel, talespetculo cala fundo no magodas almas, elevando-as aos pata-mares da sublimidade.

    O primeiro cruzar destes santospares de olhos, durante a Paixo,continha o auge da dor de um Deusque, por amor, tornou-Se criatu-

    ra para, com a sua Morte, resgatara criao, dando-lhe a Vida; conti-nha o auge da consternao do Ho-mem-Deus que, vendo Maria tran-sida de amargura, sabia ser a causado sofrimento daquela criaturaeleita, a mais perfeita dentre todas,a nica que no mereceria sofrer;ademais, continha o olhar doloridode uma Me zelosa e extremoss-sima, considerando o padecimen-

    to inenarrvel de seu Divino Filho.Ambos os olhares, imveis e silen-ciosos, porm, to eloquentes emsua amorosa dor!

    No segundo momento, contu-do, que contraste com a primeirasituao! Quanto jbilo havia natroca dos olhares de Nosso Senhorressuscitado e Maria Santssima!Olhares gaudiosos que se interpe-netravam e festejavam a derrota damorte, o triunfo da Vida e a glriada Ressurreio!

    Embora to distintos, os dois en-contros revelam uma nota comum,um selo que imprime o sentimentoque os coroa: a participao mtua

    da extenso, da plenitude e do au-ge de um amor desmedido. Pode--se afirmar, com segurana, que osolhares destas duas ocasies abar-cam a humanidade inteira e reper-cutem pelos sculos, num conviteininterrupto aos homens, para quese lancem no corajoso enfrentamen-to da dor por amor queles quepor ns sofreram! , cujo fim cul-minar na glria eterna.

    Diana Compasso de Arajo

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    Me de Cristo e da Igreja

    C

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    Como a melhor de todas as mes, Maria cuida de cada um de

    ns, v as dificuldades pelas quais atravessamos e intercede

    diante do trono de Deus at por quem no bom filho...

    omovente ver a alegria deuma me segurando seu fi-lhinho pela mo enquantocomea a dar os primeiros

    passos. Esse andar ainda inseguromarca o incio de uma nova etapa navida da frgil criana que at entovivera no colo protetor da genitora.

    Cenas assim se passaram desdeo incio dos tempos e sempre conti-nuaro a acontecer. Mas entre Nos-sa Senhora e o Menino Jesus, ver-dadeiro Deus e verdadeiro Homem,resultam especialmente comoven-tes e cheias de significado. Quo be-la no seria a fisionomia de Maria

    Santssima segurando a mozinhade seu adorvel Filho e vendo-O ca-minhar tranquilo, tendo como apoioa escolhida para ser a Me de Deus!

    Nessa primeira fase da vida terre-na do Redentor no deixava, entre-tanto, de estar de algum modo pre-sente o futuro trgico e glorioso queculminaria no cruento sacrifcio doCalvrio, seguido da triunfal Res-surreio, conforme o anncio doprofeta Isaas: Apresentei as costasaos que me queriam bater, ofereci oqueixo aos que me queriam arran-car a barba e nem desviei o rosto dosinsultos e dos escarros. O Senhor

    Deus o meu aliado por isso jamaisficarei derrotado, fico de rosto im-passvel, duro como pedra, porquesei que no vou me sentir um fracas-sado (Is 50, 6-7).

    Nossa Senhora acompanhou to-da essa trajetria, consentindo sem-pre da maneira mais perfeita poss-vel na realizao da vontade divina arespeito de Jesus.

    Entregues ao amparo

    maternal dElaMesmo quando o filho se torna

    adulto, no arrefece na boa genito-ra o esprito protetor que a leva a

    Thiago de Oliveira Geraldo

    Cenas assim sepassaram desde oincio dos tempos,

    mas entre NossaSenhora e o MeninoJesus resultam cheiasde significado

    Sagrada Famlia, por FranciscoSalzillo - Igreja So Tiago Maior,

    Orihuela (Espanha)CarlosAguirre

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    zelar continuamente por sua fe-licidade. No poderia agir de ou-tra forma a melhor de todas asmes, sempre em estreita uniocom seu Divino Filho, tanto nasalegrias quanto nas perplexida-

    des e tristezas pelas quais Elepassou, at no momento do su-premo holocausto: Junto Cruzde Jesus estavam de p sua Me,a irm de sua Me, Maria, mu-lher de Clofas, e Maria Madale-na (Jo 19, 25).

    Nesse episdio sublime daPaixo, Nosso Senhor nos deixouo legado de valor incomensur-vel: Quando Jesus viu sua Me eperto dEla o discpulo que ama-

    va, disse sua Me: Mulher, eisa teu filho. Depois disse ao dis-cpulo: Eis a tua Me. E dessahora em diante o discpulo A re-cebeu como sua (Jo 19, 26-27).

    Na pessoa de So Joo, fomostodos entregues ao amparo ma-ternal de Maria Santssima. Nossaatitude diante desse dom de Deus,portanto, deve ser como a do Disc-pulo Amado: receb-La como nossaverdadeira Me e sermos de fato fi-lhos em relao a Ela.

    Exorta-nos a este respeito umconceituado autor de vida espiri-tual: Amemos Maria, veneremo--La, como So Joo A amou e