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    Evidncia, Arax, v. 7, n. 7, p. 251-266, 2011

    A tcnica do questionriona pesquisa educacional

    Prof. Galdino Chaer

    Prof. Rafael Rosa Pereira Diniz

    Prof. Dr. Elisa Antnia Ribeiro

    Resumo - O presente trabalho almeja discutir o emprego do questionrio enquanto tcnica de coleta dedados, recorrentemente empregada nas pesquisas que envolvem o levantamento de uma grandequantidade de dados, como tambm o seu emprego nas pesquisas de cunho qualitativo. Aqui, decidiu-se pelo recorte espacial de estudo dessa tcnica, especificamente, orientado para trabalhos de conclusode curso de graduandos dos cursos tecnolgicos de instituio de ensino superior privada. Este trabalhopretende demonstrar a importncia da pesquisa na construo do conhecimento e destacar a urgncia dese socializar e divulgar o conhecimento cientfico entre os discentes de nvel superior como forma deconhecer, participar e intervir na realidade. Soma-se a isso, a partir da identificao percebida pelosautores quando da orientao de trabalhos de concluso de curso, a necessidade de apontar a relevnciada escolha adequada da tcnica de coleta de dados para o alcance dos resultados esperados. Pretende,ainda, mostrar que o questionrio uma tcnica bastante vivel e pertinente para ser empregada quandose trata de problemas cujos objetos de pesquisa correspondem a questes de cunho emprico, envolvendoopinio, percepo, posicionamento e preferncias dos pesquisados. Neste sentido, busca-se destacar aforma pela qual so construdas as perguntas do questionrio, atentando-se para o contedo, nmeroe ordem das questes, uma vez que as perguntas so as responsveis pelo alcance das respostas aodesenvolvimento dos trabalhos. Este estudo fundamenta-se nos autores que tratam da temtica,tendo como principais fontes de pesquisa os autores: GIL (1999), RICHARDSON (1999), MARCONE(1999), MALHOTRA (2006), MATALLO (2000), GIL (1996) e RIBEIRO (2008).

    Palavras-chave: tcnica, coleta de dados, questionrio, pesquisa, ensino superior.

    1. A pesquisa no ensino superior

    O ensino superior, como notrio, deve representar a ruptura do poucodesenvolvimento da pesquisa no ensino.

    Os alunos que ingressam nas universidades vm de uma realidade em que no ho to necessrio estmulo construo do conhecimento. Pelo contrrio, at o ensinomdio, o estudante brasileiro , via de regra, treinado para memorizar e repetir frmulasque, se devidamente apreendidas, sero sua chance de aprovao no exame vestibular, oque adviria ideologia de dominao, autoritria, que predomina na escola do mundocapitalista.

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    Surge, ento, aps o ingresso no Ensino Superior, a reviravolta da realidade. Oaluno, at ento mero ator, encenando aquilo que lhe era determinado, precisa passar a sertambm autor de sua histria acadmica, participando da elaborao do conhecimento.

    Assim, fundamental a quebra de paradigmas: a sada da cmoda posio deexpectador/repetidor, e a assuno da postura que ser a chave para a construo doconhecimento. O aluno, ento, passar a ser pesquisador.

    intuitivo que a transformao no ser fcil. Assumir o papel autnomo, toessencial ao estudante, ser complexo, pesado e haver inmeras dificuldades a seremrompidas.

    Em iluminada passagem, Viega-Neto (2002) ressalta a dificuldade que o prpriodocente tem com as mudanas de paradigmas.

    Todos ns, que hoje exercemos a docncia ou a pesquisa em Educao, tivemosuma formao intelectual e profissional em moldes iluministas. Uma dasconsequncias disso que talvez no estejamos suficientemente aptos paraenfrentar, nem mesmo na vida privada, as rpidas e profundas mudanasculturais, sociais, econmicas e polticas em que nos achamos mergulhados. (p.23)

    A pesquisa ser o caminho para a construo desse necessrio perfil do estudante.Mas, para conseguir, de forma to abrupta, desempenhar o papel de pesquisador, implica,certamente, em conhecer o que pesquisa, quais mtodos e tcnicas esto disposio equal ser o mais adequado para a atuao.

    Este trabalho tentar expor aos alunos do Ensino Superior de instituio privada,voltados para pesquisas sociais, o uso do questionrio como tcnica de pesquisa,principalmente na elaborao de seus trabalhos de concluso de curso (TCC).

    Antes, contudo, em breves linhas, bom mostrar o que vem a ser a pesquisasocial.

    2. Pesquisa social

    O termo cincia, ao ser lido ou dito, naturalmente relacionado s cincias naturaise fsicas. Consequentemente, ao se tratar de pesquisa, trata-se de pesquisa voltada para osestudos e descobertas de tais cincias.

    sabido que as cincias sociais no gozam do mesmo prestgio conferido s

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    cincias fsicas. Assim inicia Gil (1999, p. 21) o tpico que trata das peculiaridades dacincia social.

    O fato que o ttulo de cincia tem sido, ao longo do tempo, destinado s cinciasfsicas e biolgicas, que seriam tratadas com experimentos que permitiriam detectar deforma devidamente quantificada e ordenada.

    Lado outro, as cincias sociais, que tratam de eventos do ser humano, no possuemfcil prestgio, pois seriam cercadas de subjetividade e imprevisibilidade.

    H os que dizem que as cincias sociais sequer seriam cincia, com argumentos queforam agrupados por Gil (1999, p. 22), em quatro itens:

    a) Os fenmenos humanos no ocorrem de acordo com uma ordem semelhante observada no universo fsico, o que torna impossvel a sua previsibilidade.b) As cincias humanas lidam com entidades que no so passveis dequantificao, o que torna difcil a comunicao dos resultados obtidos em suasinvestigaes.c) Os pesquisadores sociais, por serem humanos, trazem para as suasinvestigaes certas normas implcitas acerca do bem e do mal e do certo e doerrado, prejudicando os resultados de suas pesquisas.d) A cincia se vale fundamentalmente de mtodo experimental, que exige, entreoutras coisas, o controle das variveis que podero interferir no fenmenoestudado. Os fenmenos sociais, por outro lado, envolvem uma variedade togrande de fatores, que tornam invivel, na maioria dos casos, a realizao de umapesquisa rigidamente experimental.

    Fica evidente a resistncia apresentada contra as cincias sociais.Se h resistncia s cincias sociais, certamente h tambm resistncia ao

    reconhecimento da pesquisa social como fonte de conhecimento.Ao rebater as crticas acima expostas, o autor que as compilou no buscou

    contradiz-las. Tratou, sim, de demonstrar que as cincias naturais possuem as mesmasfragilidades.

    Conclui, sobre tal aspecto, que (...) as possibilidades de experimentao nas cinciasnaturais tm sido muitas vezes negligenciadas. (p.24).

    O que parece necessrio, ento, para uma devida apresentao das cincias sociaiscomo tal, a sua correta estruturao como cincia, com aplicao de mtodos cientficoselaborados e bem trabalhados. Gil (1999) tambm destaca, oportunamente, que

    A cincia tem como objetivo fundamental chegar verdade dos fatos. Nestesentido, no se distingue de outras formas de conhecimento. O que torna,

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    porm, o conhecimento cientfico distinto dos demais que tem comocaracterstica fundamental a sua verificabilidade (p.26).

    Ento, se a cincia a busca da veracidade dos fatos de forma verificvel,fundamental para ela a pesquisa.

    Mostra-se, pois, de vital importncia para as cincias sociais a pesquisa social.Respaldando essa afirmativa, tem-se em Marconi e Lakatos que a pesquisa tem importnciafundamental no campo das cincias sociais, principalmente na obteno de solues paraproblemas coletivos (p.18).

    A pesquisa social definida por Gil (1999) como

    (...) o processo formal e sistemtico de desenvolvimento do mtodo cientfico.O objetivo fundamental da pesquisa descobrir respostas para problemasmediante o emprego de procedimentos cientficos.A partir dessa conceituao, pode-se, portanto, definir pesquisa social como oprocesso que, utilizando a metodologia cientfica, permite a obteno de novosconhecimentos no campo da realidade social. (p.42).

    Continuando, lembra Gil que (...) o conceito de pesquisa aqui adotado aplica-ses investigaes realizadas no mbito das mais diversas cincias sociais, incluindo Sociologia,Antropologia, Cincia Poltica, Psicologia, Economia, etc..

    Reconhecendo que cada pesquisa social ter um objetivo especfico, apresentadauma classificao de tais pesquisas em trs nveis: pesquisas exploratrias, pesquisas descritivase pesquisas explicativas.

    As pesquisas exploratrias serviriam, em apertada sntese, para um primeiroconhecimento de temas e fatos menos estudados e menos conhecidos. Seria uma etapainicial para um posterior aprofundamento temtico.

    Pesquisas descritivas servem para encontrar e descrever caractersticas de certapopulao. Gil explica que so inmeros os estudos que podem ser classificados sob estettulo e uma de suas caractersticas mais significativas est na utilizao de tcnicaspadronizadas de coletas de dados. (p.44).

    As pesquisas explicativas seriam as mais complexas, e tentariam encontrar fatoresque favorecem a ocorrncia de fenmenos e se valeriam basilarmente do mtodoexperimental.

    Para qualquer que seja o nvel de pesquisa ou sua finalidade, necessrio um preparopara a sua realizao. A pesquisa deve ser planejada.

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    Marconi e Lakatos esquematizam o planejamento em a) preparao da pesquisa;b) fases da pesquisa e c) execuo da pesquisa.

    Os trs itens acima so subdivididos, cada um, em diversos subitens. Aqui, contudo,restringir-se- anlise de a) especificao dos objetivos, enquadrado na preparao dapesquisa; b) seleo de mtodos e tcnicas, insculpida nas fases da pesquisa e c) coleta dedados, j posicionada na execuo da pesquisa.

    A especificao dos objetivos traz a resposta inicial ao motivo pelo qual se pretendepesquisar.

    No caso da delimitao do presente trabalho (a elaborao de TCC em cursostecnolgicos), o objetivo ser, por exemplo, conhecer o comportamento de determinadogrupo de consumidores, com o intuito de melhor orientar o planejamento de marketing doplano de negcios.

    Encontrada tal resposta, partir o pesquisador para a pesquisa propriamente dita.Nela, ele dever selecionar os mtodos e tcnicas que pretende utilizar. A escolha, segundoMarconi e Lakatos, depender dos vrios fatores relacionados com a pesquisa, ou seja, anatureza dos fenmenos, o objeto da pesquisa, os recursos financeiros, a equipe humana eoutros elementos que possam surgir no campo da investigao. (p.33).

    Por fim, partir o pesquisador para a execuo da pesquisa, que abordar, entreoutros, a coleta dos dados. Aqui, ser dado incio aplicao das tcnicas selecionadas.

    Salientando que so vrios os procedimentos de coletas, Marconi e Lakatosdestacam que so, em linhas gerais,

    a) Coleta documental.b) Observao.c) Entrevista.d) Questionrio.e) Formulrio.f) Medidas de opinies e atitudes.g) Tcnicas mercadolgicas.h) Testes.i) Sociometria.j) Anlise de contedo.k) Histria de vida.

    A seguir, ser tratada a pesquisa no TCC, o que servir de abertura para abordara escolha da tcnica, que ser vista de forma mais detalhada em captulo prprio.

    3. Pesquisa no TCC pesquisa quantitativa e pesquisa qualitativa

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    Traar um paralelo aprofundado sobre o desenvolvimento das abordagensquantitativas e qualitativas em pesquisa no Ensino Superior seria tarefa exaustiva e complexa,e exigiria mais que um breve estudo para o seu devido aprofundamento.

    No entanto, existem diversas bibliografias que tratam desta dicotomia entre pesquisaqualitativa e quantitativa, o que tem norteado a pesquisa cientfica no decorrer de suahistria. Segundo Queiroz (2006), tais correntes se caracterizam por duas vises centraisque aliceram as definies metodolgicas da pesquisa em cincias humanas nos ltimostempos. So elas: a viso realista/objetivista (quantitativa) e a viso idealista/subjetivista(qualitativa).

    Estas vises geram muitas divergncias.A viso realista/objetivista considera que somente as pesquisas baseadas na

    observao de dados da experincia e que utilizam instrumentos de mensurao sofisticadospodem ser consideradas cientficas e, por isso, afirmam que os mtodos qualitativos nooriginam resultados confiveis. Por outra parte, a viso idealista/subjetivista sustenta que apesquisa quantitativa no produz resultados vlidos, j que os pesquisadores quantitativosno se colocam no lugar do sujeito pesquisado.

    De fato, Cipolla & De Lillo (1996) apud Serapioni, (2000), as classifica como duasperspectivas aparentemente incompatveis, mas ambas esto relacionadas s mesmasquestes: Quais as condies que permitem ao pesquisador ter acesso realidade social?Quais critrios possibilitam estabelecer se os procedimentos e as regras interpretativas soadequados para representar os processos de construo do sentido dos atores?

    Oliveira (2000) apud Queiroz (2006), menciona que a oposio excludente entremtodos quantitativos (experimental e objetivo) e mtodos qualitativos (racional e subjetivo)remonta ao fim da Idade Mdia. No entanto, a busca pela compreenso do homem e suasubjetividade fez com que os pesquisadores buscassem desenvolver novos procedimentosque os possibilitassem estudos mais significativos.

    A partir do final da dcada de 1960, muitos cientistas sociais e pesquisadores tmtrabalhado para superar esta contraposio, sem renunciar a evidenciar as caractersticas eas contribuies de cada abordagem. (Serapioni, 2000).

    Segundo Cannav (1989) apud Serapioni, (2000), a contraposio metodolgicaentre as abordagens qualitativa e quantitativa abstrata, na medida em que no considera asseguintes categorias de anlise: a orientao ao problema e as finalidades da pesquisa.

    Isso quer dizer que ambas as abordagens no so corretas ou incorretas ouapropriadas ou inapropriadas at que sejam aplicadas a um problema especfico e avaliadasde acordo com tal.

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    A partir da anlise da tabela abaixo, podemos perceber que no h contradio,em termos metodolgicos, assim como no h continuidade, entre pesquisa quantitativa equalitativa. Ambas possuem natureza, objetivos e aplicaes distintas. A investigaoquantitativa proporciona melhor viso e compreenso do contexto do problema, enquantoa pesquisa quantitativa procura quantificar os dados e, normalmente, aplica alguma formade anlise estatstica (Malhotra, 2006).

    Fonte: (Malhotra, 2006)

    Dessa forma, com base na Tabela 1, Malhotra (2006) conceitua pesquisa qualitativacomo uma metodologia de pesquisa no-estruturada e exploratria, baseada em pequenasamostras que proporcionam percepes e compreenso do contexto do problema. J apesquisa quantitativa uma metodologia (...) que procura quantificar os dados e, geralmente,aplica alguma forma de anlise estatstica. (Malhotra, 2006).

    Santos Filho (2001) apud Queiroz (2006) afirma que pesquisadores tmreconhecido que a complementaridade existe e fundamental, tendo em vista os vrios edistintos desideratos da pesquisa em cincias humanas, cujos propsitos no podem seralcanados por uma nica abordagem metodolgica.

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    preciso, portanto, de acordo com Gunther (2006), que aquele que busca aconstruo do conhecimento, atravs da pesquisa, utilize formas complementares, e noisoladas, de utilizao da pesquisa quantitativa e qualitativa, sem se prender a um ou outromtodo, adequando-os para soluo do seu problema de pesquisa.

    Com efeito, a partir dessa viso, percebe-se que as duas abordagens, qualitativa equantitativa, vistas at certo tempo como antagnicas, podem apresentar um resultadomais considervel e significativo, se utilizadas na pesquisa de um mesmo problema.

    Aceita esta complementaridade entre as duas abordagens, necessrio identificaras melhores maneiras de se incorpor-las ao escopo da pesquisa. A pesquisa quantitativapoder ser utilizada quando se parte de objetos de estudo sobre os quais j se possuiconhecimentos suficientes sobre o tema. Ao contrrio de temas sobre os quais ainda nose tem desenvolvido conhecimento adequado, terico e conceitual, onde devem serutilizados os mtodos qualitativos, que auxiliam na construo do objeto estudado.

    4. A escolha da tcnica para pesquisa para o TCC

    Conforme anteriormente apontado, a escolha da tcnica de pesquisa estumbilicalmente ligada natureza da pesquisa a ser desenvolvida.

    Marconi e Lakatos informam que tanto os mtodos quanto as tcnicas devemadequar-se ao problema a ser estudado, s hipteses levantadas e que se queria confirmar,e ao tipo de informantes com que se vai entrar em contato (p.33).

    A escolha da tcnica de pesquisa , na verdade, a escolha no da nica, mas, sim,da principal tcnica a ser utilizada, pois sempre mais de uma tcnica ser necessria notranscurso do trabalho a ser desenvolvido.

    Os TCC dos alunos dos cursos tecnolgicos sero desenvolvidos tendo em vistaa estruturao de certa rea de algum empreendimento comercial, quer tratando de marketing,quer de gesto comercial, quer de recursos humanos.

    O TCC ter duas principais etapas: a etapa final a proposta de interveno noempreendimento, com vista a aprimorar o desempenho de determinada rea. A primeira,ento, naturalmente, a anlise do empreendimento, a anlise da adequao de suaestruturao s exigncias do mercado.

    A se encontra a primeira necessidade de escolha da tcnica de pesquisa: fazer oestudo prvio da realidade na qual se intervir.

    Tal estudo ser realizado atravs da coleta de dados, de informaes a respeitodos empreendimentos comerciais escolhidos.

    Assim, ser fundamental, para tais trabalhos, a escolha de uma tcnica adequada

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    coleta de dados pretendidos. Somente a partir da que se poder fazer a anlise de comointervir, de o que alterar na estrutura empresarial.

    Para tanto, Ribeiro (2008, p. 13), traz a colocao na tabela abaixo, que comparatcnicas de coleta de dados, destacando seus pontos fortes e fracos:

    Trazidas, pois, ainda que superficialmente, a conhecimento do leitor as citadastcnicas de coleta de dados e feito um resumido comparativo entre elas, passar o trabalho,no tpico seguinte, a tratar do questionrio propriamente dito.

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    5. O questionrio em questes de cunho emprico

    Entre as diversas tcnicas de coletas de dados, sendo que as mais relevantes foramtratadas no quadro do tpico anterior, ser o questionrio aqui abordado de forma maisdetalhada.

    O questionrio, segundo Gil (1999, p.128), pode ser definido como a tcnica deinvestigao composta por um nmero mais ou menos elevado de questes apresentadaspor escrito s pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opinies, crenas, sentimentos,interesses, expectativas, situaes vivenciadas etc..

    Assim, nas questes de cunho emprico, o questionrio uma tcnica que servirpara coletar as informaes da realidade, tanto do empreendimento quanto do mercadoque o cerca, e que sero basilares na construo do TCC.

    O mesmo autor supracitado (p. 128/129) apresenta as seguintes vantagens doquestionrio sobre as demais tcnicas de coleta de dados:

    a) possibilita atingir grande nmero de pessoas, mesmo que estejam dispersasnuma rea geogrfica muito extensa, j que o questionrio pode ser enviadopelo correio;b) implica menores gastos com pessoal, posto que o questionrio no exige otreinamento dos pesquisadores;c) garante o anonimato das respostas;d) permite que as pessoas o respondam no momento em que julgarem maisconveniente;e) no expe os pesquisadores influncia das opinies e do aspecto pessoal doentrevistado.

    Lado outro, ele aponta pontos negativos da tcnica em anlise:

    a) exclui as pessoas que no sabem ler e escrever, o que, em certas circunstncias,conduz a graves deformaes nos resultados da investigao;b) impede o auxlio ao informante quando este no entende corretamente asinstrues ou perguntas;c) impede o conhecimento das circunstncias em que foi respondido, o quepode ser importante na avaliao da qualidade das respostas;d) no oferece a garantia de que a maioria das pessoas devolvam-no devidamentepreenchido, o que pode implicar a significativa diminuio da representatividadeda amostra;e) envolve, geralmente, nmero relativamente pequeno de perguntas, porque sabido que questionrios muito extensos apresentam alta probabilidade de no

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    serem respondidos;f) proporciona resultados bastante crticos em relao objetividade, pois ositens podem ter significados diferentes para cada sujeito pesquisado.

    Num olhar talvez tendencioso escolha do questionrio, parece que os pontosfracos trazidos devem servir no para desestimular o uso de tal tcnica, mas, sim, paramelhor direcionar a conduo dela, tanto na escolha de questes, como de universo dospesquisados.

    Um ponto de extremada relevncia, entre os aspectos positivos, , sem dvida, obaixo custo do questionrio, j que os seus utilizadores so pblico que j tem significativasdespesas com os estudos e certamente no poderiam arcar com quantias elevadas paradesenvolvimento de suas pesquisas. Neste aspecto financeiro, ento, o questionrio seriaum democratizador da pesquisa.

    J foi dito que a pergunta at mais importante que a resposta. Tendo isto emmente, deve-se voltar especial ateno construo das perguntas que comporo oquestionrio, pois delas que se conseguir, ou no, obter os corretos dados para a confecodo TCC.

    Antes de expor as tcnicas de confeco das perguntas faz-se citao de trecho emque Marconi e Lakatos (1999, p. 100) destacam que

    junto com o questionrio deve-se enviar uma nota ou carta explicando a naturezada pesquisa, sua importncia e a necessidade de obter respostas, tentandodespertar o interesse do recebedor para que ele preencha e devolva o questionriodentro de um prazo razovel.

    O que parece algo dispensvel pode ser a dica prtica a trazer maior envolvimentodos participantes. Poder ser a chave para o sucesso do trabalho de coleta.

    Outra dica trazida pelos mesmos autores, que, em mdia, 25% dos questionriosentregues devolvido respondido. Esta mais uma informao prtica importante, quetraz, desde j, a necessidade de escolha de uma amostragem mais volumosa, para que osretornos no sejam insignificantes, em termos de amostragem.

    Selltiz (1965, p. 281, apud Marconi e Lakatos), aponta fatores influentes no retornodos questionrios:

    o patrocinador, a forma atraente, a extenso, o tipo de carta que o acompanha,solicitando colaborao; as facilidades para seu preenchimento e sua devoluo

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    pelo correio; motivos apresentados para a resposta e tipo de classe de pessoas aquem enviado o questionrio.

    So, assim, detalhes importantes para a operacionalizao da tcnica de coleta dedados.

    Demonstradas estas questes, passar o trabalho anlise da confeco das questes.Inicialmente, as perguntas podem ser classificadas em perguntas abertas e em

    perguntas fechadas.As perguntas abertas so aquelas que permitem liberdade ilimitada de respostas

    ao informante. Nelas poder ser utilizada linguagem prpria do respondente. Elas trazema vantagem de no haver influncia das respostas pr-estabelecidas pelo pesquisador, poiso informante escrever aquilo que lhe vier mente.

    Um dificultador das perguntas abertas tambm encontrado no fato de haverliberdade de escrita: o informante ter que ter habilidade de escrita, de formatao e deconstruo do raciocnio.

    J as perguntas fechadas traro alternativas especficas para que o informante escolhauma delas. Tm como aspecto negativo a limitao das possibilidades de respostas,restringindo, pois, as possibilidades de manifestao do interrogado.

    Elas podero ser de mltipla escolha ou apenas dicotmicas (trazendo apenasduas opes, a exemplo de: sim ou no; favorvel ou contrrio).

    O questionrio poder, ainda, ter questes dependentes: dependo da respostadada a uma questo, o investigado passar a responder uma ou outra pergunta, havendoperguntas que apenas sero respondidas se uma anterior tiver determinada resposta.

    Como dito inicialmente, o questionrio pode buscar resposta a diversos aspectosda realidade. As perguntas, assim, podero ter, segundo ensina Gil (1999, p.132), contedosobre fatos, atitudes, comportamentos, sentimentos, padres de ao, comportamentopresente ou passado, entre outros.

    Um mesmo questionrio poder abordar diversos desses pontos.Singularmente importante o momento de formulao das questes. Gil (1999)

    destaca o seguinte:

    a) as perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa;b) deve-se levar em considerao o sistema de preferncia do interrogado, bemcomo o seu nvel de informao;c) a pergunta deve possibilitar uma nica interpretao;

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    d) a pergunta no deve sugerir respostas;e) as perguntas devem referir-se a uma nica ideia de cada vez.

    Nota-se, assim, que a confeco do questionrio j um exerccio mental grandee importante, que eleva a prpria capacitao intelectual do aluno que est a preparar oTCC.

    Outro aspecto a ser observado a quantidade de questes. O pesquisador deverformular questes em nmero suficiente para ter acesso s respostas para as perguntasformuladas, mas tambm em nmero que no seja grande a ponto de desestimular aparticipao do investigado.

    Ainda, deve ser observada a ordem das questes, de forma que uma questo ternecessariamente conexo com a anterior.

    Por fim, e no menos importante, e nem apresentado na ordem natural, recomendvel que, antes de aplicar o questionrio, o pesquisador realize um pr-teste, queser efetivado atravs da aplicao de alguns questionrios (10 a 20), de forma a, com asrespostas deste pequeno universo, perceber se as perguntas foram formuladas com sucesso.

    Essa foi, ento, a base que se pretendeu demonstrar do questionrio.

    6. Concluses

    possvel entender a mudana na postura do estudante em relao aoconhecimento, passando, como exposto, de mero ator encenando aquilo que lhe eradeterminado, a autor de sua histria acadmica. Como parte fundamental nessa transioest a pesquisa, nos seus diversos ramos do conhecimento. Para tanto, o aluno depara comdificuldades, como a escolha do mtodo de coleta de dados, passo vital para o sucesso doobjetivo. Tentamos, atravs do que foi evidenciado, apresentar ao leitor, de forma clara eobjetiva, um desses mtodos: o questionrio, para torn-lo mais prximo e palpvel peloaluno do ensino superior. Mtodo este, que, se usado de forma correta, um poderosoinstrumento na obteno de informaes, tendo um custo razovel, garantindo o anonimatoe, sendo de fcil manejo na padronizao dos dados, garante uniformidade. Fica claro,ento, ser este um modelo de fcil aplicao, simples, barato, e plenamente hbil a possibilitarao aluno desenvolver suas pesquisas e alcanar o to almejado e fundamental status depesquisador.

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    Evidncia, Arax, v. 7, n. 7, p. 251-266, 2011

    Acesso em 19 nov. 2009.

    VEIGA-NETO, Alfredo. Olhares. In: COSTA, Marisa. V. (Org.). Caminhos investigativos: novosolhares na pesquisa em educao. Rio de Janeiro. DP&A, 2002. p. 23-38.

    The technique of the questionnaire

    in educational research

    Abstract - This paper aims to discuss about the use of the questionnaire as a data collection technique,frequently employed in research involving the collection of a large amount of data but also its use inqualitative research. In this research proposal is decided by the spatial area of study of this technique,specifically oriented work of completion of undergraduate courses technological institution of highereducation facilities. This paper aims to demonstrate the importance of research in the construction ofknowledge and highlight the urgent need to socialize and disseminate scientific knowledge amongstudents of higher education as way to know, participate and intervene in reality. Added to this, fromthe identification by the authors when the perceived direction of work completion, the need to pointout the importance of choosing the proper technique for collecting data to achieve the desired results.It also attempts to show that the questionnaire is a very feasible and appropriate technique to beemployed when dealing with problems which research subjects are matters of empirical nature, involvingbelief, perception, positioning and preferences of respondents. This research proposal aims to emphasizethe way they are constructed each of the questions, paying attention to the contents, number and orderof questions, since questions are responsible for the range of responses to the development of thework. This study is based on the authors dealing with the issue, the main sources of research theauthors GIL (1999), Richardson (1999), Marconi (1999), Malhotra (2006), Matallo (2000), GIL (1996)and Ribeiro (2008).

    Keywords: technical, data collection, questionnaire, research, higher education.

  • 266

    Evidncia, Arax, v. 7, n. 7, p. 251-266, 2011

    * Prof. Galdino Chaer

    Currculo - http://lattes.cnpq.br/4666342418350147

    Endereo eletrnico: [email protected]

    * Prof. Rafael Rosa Pereira Diniz

    Currculo - http://lattes.cnpq.br/9522814707445619

    Endereo eletrnico: [email protected]

    * Prof. Dr. Elisa Antnia Ribeiro

    Currculo - http://lattes.cnpq.br/7055406502602381

    Endereo eletrnico: [email protected]