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    B.CEPPA, Curitiba, v. 17, n. 2, p. 211-228, jul./dez.1999

    EXTRAO DO LEO E RESINAS DE GENGIBRE ENCONTRADO NOLITORAL PARANAENSE(Zingiber offic inale Roscoe)

    ARION ZANDON FILHO *ANTONIO L. MURTA **

    Este trabalho descreve os processos utilizados paraa obteno do leo e da resina de gengibre,extrados do seu rizoma in natura e processado.Os ensaios foram efetuados com rizoma in natura,

    colhido, lavado e mantido sob refrigerao at omomento do uso e seco em estufa de ar forado atreduo da umidade a 10% (m/m) e finalmenteestocado sob refrigerao. Os processos deobteno do leo e resinas envolveram a extraocom solventes orgnicos, alm de extrao deleos volteis por arraste de vapor. Os resultadosmostraram que a melhor qualidade do leo obtidapelo processo de arraste de vapor, com tempo deextrao de 2 horas, e que a maior quantidade deresina obtida utilizando a propanona comosolvente e tempo de extrao de 3 horas.

    1 INTRODUO

    1.1 HISTRICO

    As plantas aromticas e seus sub-produtos tm atrado a ateno depesquisadores do mundo inteiro, por suas propriedades medicinais eorganolpticas (1,3, 34). O gengibre, por apresentar estas propriedades, jera conhecido e mencionado por Confncio (551-479 A.C.), pelo mdicogrego Dioscorides e pelo Alcoro. Na Europa, j era conhecido h mais de2.000 anos (25, 32). uma planta herbcea, da famlia das

    Zingiberceas, nativa da ndia (sia), podendo atingir at 1,20 m dealtura. No apresenta razes, e sim, numerosos rizomas, dos quais soextrados elementos resinosos, bastante aromticos e de gosto picante,motivo pelo qual empregado na preparao de condimentos, temperos,etc (14, 23, 25).

    * Professor, Faculdade de Cincias Exatas e Tecnolgicas, Universidade Tuiuti do Paran,Curitiba, PR, Brasil.

    ** Professor Aposentado da Universidade Federal do Paran.

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    A planta presta-se para a fabricao de produtos alimentcios e deperfumaria, como o caso do ginger ale, refrigerante muito consumido nos

    Estados Unidos da Amrica. O gengibre bastante conhecido no Brasilcomo ingrediente do famoso quento, muito apreciado durante as festasjuninas, de alguns produtos farmacuticos e de confeitaria (7).Especialmente na Bahia utilizado em pratos tradicionais, como ovatap, carur e efs (3, 31).

    Conhecem-se vrias espcies de gengibre, como por exemplo, o gengibredourado (Zingiber Chrisantum) e o gengibre-da-terra (Hedychyumgarderianum). No Brasil, acredita-se que o gengibre tenha sido introduzidopelos holandeses, pois na poca do domnio holands era grande apermuta e a introduo de plantas econmicas entre os dois pases,

    sabendo-se que, no ano de 1.587, a produo brasileira alcanou o volumede 4.000 toneladas (15, 25, 33, 34).

    Devido ao seu largo espectro de utilizao, a demanda do gengibre vemaumentando ao longo dos tempos, sendo que a utilizao do seu leo temse destacado consideravelmente neste contexto (15, 20, 21).

    No Quadro 1 so apresentados os valores, expressos em reais (r$),obtidos nas safras de 1994 a 1998 e declarados ao Banco Central do Brasil(37).

    QUADRO 1 - RESULTADO POR SAFRA EM REAIS DA PRODUONACIONAL DE GENGIBRE (PROAGRO)

    Safra 94/95 Safra 95/96 Safra 96/97 Safra 97/98

    906.133 4.933 3.951 2.494

    Fonte: Banco Central do Brasil DEORF / DIRAI (37).Valores desprezados os centavos.Considera-se como resultado a diferena entre o valor do adicional e o somatrio de coberturas ecustas periciais.

    Pode-se observar que as safras dos ltimos cinco anos mostram variaosignificativa e tendncia decrescente. No Estado do Paran o municpio deMorretes o principal produtor do rizoma de gengibre (Quadro 2).

    Apesar da produo apresentar decrscimo, o Brasil produz mais gengibredo que consome, exportando o excedente, em quantidades variadas epermanecendo entre os dez maiores exportadores do mundo.

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    QUADRO 2 - PRODUO AGRCOLA NO MUNICPIO DE MORRETES1995/96 (37)

    DISCRIMINAO QUANTIDADErea Total do Municpio de Morretes 66.270 haNmero Total de Produtores 1.161rea de Lavouras 1.875 haN Pequenos Produtores (at 50 ha) 45rea de Reflorestamento 750 haN Mdio Produtores (de 50.1 a 250 ha) 93rea de Pastagens 2.920 haN Grandes Produtores (acima de 250 ha) 23rea de Matas 54.655 ha

    Outras reas 6.070 haLavouras de gengibre (nmero de Produtores) 85rea Plantada de gengibre (ha) 140Rendimento Mdio de gengibre (Kg/ha) 20.000Produo Total de gengibre (t) 2.800% de rea plantada no Municpio 7,5

    No setor de exportao do leo de gengibre, o Brasil no conta comunidades industriais, nem tampouco que avaliem consideravelmente osdiferentes processos de extrao, seleo de matria-prima ou a

    caracterizao do leo produzido (33, 35).

    1.2 LEO

    O leo voltil de gengibre produzido por destilao ou por arraste devapor, do gengibre seco. Ao contrrio de outros leos essenciais, utilizadosna produo de perfumes, os quais so produzidos e imediatamente apsa colheita vo integrar a industrializao, o leo de gengibre largamenteproduzido por importadores do rizoma seco que, em alguns casos, nemsequer plantam o vegetal. Os aromas do gengibre seco e fresco (cru) so

    significativamente diferentes (3, 16, 35). A China e a ndia tm exportadoquantidades considerveis de leo, por serem identificados separadamenteno comrcio, enfatizando sua superioridade diante dos demais, por seremproduzidos no local da colheita (30, 36).

    A maior parte dos rizomas exportados pelos maiores produtores (China,ndia, Ceilo e outros) consumida pelas indstrias, especialmente nosEstados Unidos da Amrica, Inglaterra e Alemanha. Dependendo doprocesso de extrao, o rendimento do leo em relao ao rizoma secovaria, normalmente, de 1 a 2,5% (m/m). Seu aroma tambm varia emqualidade e intensidade. No Reino Unido por exemplo, quando utilizado

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    seletivamente, em bebidas, h preferncia pelo leo com distinto toque delimo (6,14,16,21,24). Este aroma parece ser, satisfatoriamente obtido,

    com o gengibre seco. Os preos variam conforme o emprego de cadaproduto (16, 19, 31).

    As caractersticas fsico-qumicas, no entanto, no conservam a qualidadedo aroma, podendo a mesma variedade apresentar diferentes aromas,desde que o processo de secagem no seja semelhante (11, 12, 14, 28,33).

    Os trabalhos na rea mostram melhor rendimento quando se usa omaterial in natura, sendo a melhor qualidade de leo obtida com ogengibre fresco cru e com o liofilizado (13). No entanto, estes dois

    procedimentos no so economicamente viveis, j que o gengibre frescoleva muitas horas na destilao e a liofilizao requer equipamentos muitoonerosos.

    A secagem do rizoma ao sol provoca perda do aroma suave de limo, aolongo do tempo. Os melhores resultados obtidos na secagem ocorreramem estufas, com fluxo de ar em contra corrente, na temperatura de 60 Cem carga na bandeja de 10 kg/m2(11).

    A literatura sugere que reduo em 90% da umidade obtida em 12 horas,resultando em leo de excelente qualidade, com leve aroma de limo,muito superior obtida com a secagem ao sol (6,11,12,14,16,29). Outroimportante aspecto a ser considerado na escolha da matria-prima aconcentrao de leo. Bons rendimentos tm sido creditados variedade"Rio de Janeiro", que apresenta concentrao mdia de 1,7% em relaoao rizoma (14). Algumas variedades e seus aromas caractersticos soapresentados no Quadro 3.

    QUADRO 3 - PRODUO DE LEO E CARACTERSTICAS DO ODOR(21)

    VARIEDADE PRODUOLEO

    ODORES CARACTERSTICOS

    Austrlia 2,5 Aroma suave, ctrico, quente, verdeChina 2 , 5 Suave, aromtico, limolnicoCochinchina 1,5-2,5 Doce, quente, notao distinta de limoJamaica 1,0 Doce, quente, delicado

    No processo de destilao, aps a seleo do rizoma, efetiva-se aremoo do material contaminante e se processa a moagem. Obtm-sebom resultado na triturao do gengibre, seco e duro, se a moagem for

    efetuada em fatias, num moinho de disco. Na remoo das impurezas, os

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    cuidados devero ser redobrados para no danificar o vegetal e evitar ocontato com o solo, propiciando a reduo do leo pela oxidao dos

    volteis. Para a destilao a vapor, o equipamento utilizado deve evitar odesenvolvimento de odor caracterizado como "queimado", em vista daelevada quantidade de amido contida nos rizomas. So poucas asinformaes que relacionam o tempo de destilao com a qualidade doleo obtido, cujas variaes no tempo vo desde alguns minutos at 20/30horas. Sabe-se que ocorrem mudanas nos terpenides, especialmentenos lcoois e steres, durante a destilao, o que pode se constituir numproblema se a pretenso se obter um leo com verdadeiro aroma degengibre. Isto significa que a destilao da resina apresenta vantagem, emcomparao com a do rizoma, pela menor durao de tempo na destilaodo produto. No leo obtido neste processo, existe grande concentrao de

    sesquiterpenos, de alto ponto de ebulio, os quais so suscetveis oxidao e permutaes polimricas (5,6,18).

    Apesar das experincias efetuadas, at agora no existem substitutossintticos adequados que consigam reproduzir, integralmente, o aromanatural da planta (1,3).

    O extrato alcolico dos rizomas serve, em grande escala, para aromatizargasosas e outras bebidas. No campo farmacutico conhecido comoexcitante estomacal e carminativo. Muito antes de ser conhecido nasAmricas, os rabes o utilizavam como afrodisaco e expectorante (14,17).Sob sua epiderme ou casca, encontra-se um tecido constitudo pornumerosas glndulas de leo resinosas, o qual encerra a maior parte doprincpio ativo que a planta contm. Este leo essencial extrado a vapore fornece 2% a 3% de essncia, cujos componentes principais so ofenantreno e o canfeno com larga aplicao na indstria de perfumes.

    O presente trabalho descreve os processos utilizados para a obteno doleo e da resina de gengibre, extrados do seu rizoma in natura eprocessado.

    3 MATERIAL E MTODOS

    3.1 MATRIA-PRIMA

    Os rizomas empregados na extrao do leo de gengibre foram obtidos nomunicpio de Morretes, regio de Antonina, no litoral paranaense. Ogengibre foi plantado em abril e colhido em dezembro, sendo, a seguir,utilizado na realizao dos ensaios. O vegetal apresentava aparnciaagradvel, cor amarelada, poucas razes de cor branca, boa textura comconsistncia, no apresentando pores deterioradas ou qualquer outrotipo de doena.

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    3.2 PREPARO DO RIZOMA PARA ESTOCAGEM

    O processamento para obteno do leo de gengibre requer cuidadosespeciais no preparo para a conservao do rizoma, a fim de preservar suatextura e no alterar sua composio qumica.

    A matria-prima (rizoma) utilizada continha pequena quantidade de terraaderida a sua pele, a qual foi retirada com escova e lavagem em guacorrente, at que se obtivesse material limpo, sem contaminantes visveis,para o processo de extrao de leo. Este material foi estocado emcongelador e retirado somente no instante da utilizao, para no seperder os volteis por metabolizao, oxidao ou degradaes qumicas.

    Os rizomas foram preparados de duas maneiras: "in natura", inteiros elimpos, simplesmente embalados e conservados a -18 C e "in natura",secados inteiros em estufa com circulao de ar (Fanne, modelo 170), por8 horas, at a reduo de sua umidade para 10% e estocados -18 C.

    3.3 EXTRAO

    Quatro mtodos de extrao com solventes orgnicos distintos foramtestados com a finalidade de se obter a resina e o leo, alm da extraode leos volteis por arraste de vapor.

    3.3.1 Extrao com solventes orgnicos

    Os materiais empregados nesta tcnica foram:

    a) Solventes de grau p.a.-LCOOL ETLICO-N-HEXANO-ACETONA-TER ETLICO.

    b) Vidraria- Acessrios comuns em laboratrio (copo de bquer, proveta, dessecadore outros)- Extrator de Soxhlet, 250 mL, com juntas esmerilhadas e cnicas.

    c) Equipamentos- Manta aquecedora (Fisatom, modelo 52)- Balanas analticas (Mettler, modelos H6 e AE-50)- Estufa (Fanem de secagem, modelo 315 SE)- Cartuchos de extrao (33 x 94 mm)- Cronmetro (Cassio HS-10W)- Nitrognio super seco (White Martins).

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    As amostras do rizoma, "in natura" seco, foram retiradas do congelador eraladas, para obteno de partculas com dimetro mdio de 1 mm.

    Poucos minutos antes do processamento foram pesadas analiticamente,em cartuchos prprios para a extrao, com massa de, aproximadamente,15 gramas. O cartucho contendo o rizoma, ralado e pesado, foi tampadocom algodo e colocado no extrator. No balo de destilao, houve aadio de 200 mL de solvente, completando-se a montagem do sistema

    junto ao condensador. A temperatura de aquecimento da manta foi mantidaem torno de 200 C, proporcionando ciclo de refluxo entre 7 e 8 minutos,dependendo do ponto de ebulio do solvente. Em paralelo aoaquecimento, iniciou-se a refrigerao do condensador.

    O processo de extrao foi mantido durante 7 horas, contadas a partir do

    primeiro refluxo. O balo foi retirado do conjunto extrator e mantido emaquecimento na temperatura de 30 C, sob fluxo de nitrognio, paraevaporar todo o solvente. A diferena de peso no balo, obtida antes edepois da extrao, resultou no teor da resina extrada.

    3.3.2 Extrao por percolao simples e com vapor

    Na percolao simples a gua foi aquecida at a ebulio e aplicada noprocesso, em estado lquido.

    No mtodo de percolao com vapor, o vapor dgua foi passado por umacoluna contendo o material. A matria-prima utilizada foi o rizoma,previamente preparado. Nestas anlises foram utilizados os seguintesmateriais e equipamentos:

    a) Solvente- gua destilada.

    b) Vidraria- coluna com placa grossa filtrante (30 x 300 mm)- frasco de Kitasato (1000 mL)- junta conectante de 3 vias (ngulo de 75)- erlenmeyer (500 mL)- proveta- cpsulas de porcelana.

    c) Equipamentos- aquecedor eltrico (Prodicil, modelo 01)- balana analtica (Sartorius, mod. A-200 S)- termmetro (Incoterm-ASTM 9 C, faixa 5 a 110 C)- cronmetro (Cassio HS lO W)- banho-maria (Fanem).

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    Para o processamento de percolao simples foram colocadas 300 g deamostra na coluna (Figura 1), preenchendo 3/4 do seu volume.

    Adicionaram-se, ento, 300 mL de gua fervente e o lquido, percoladoatravs da massa, foi coletado por um erlenmeyer na sada da coluna.

    Na extrao com percolao de vapor, o vapor foi gerado em Kitasato epercolado atravs do material, condensando-se na sada da coluna etambm coletado por erlenmeyer. A Figura 2 mostra o aparato da extrao.

    Um termmetro instalado na junta de entrada da coluna indicou atemperatura.

    FIGURA 1 - EXTRATOR DE PERCOLAO SIMPLES

    FIGURA 2 - EXTRATOR DE PERCOLAO VAPOR

    As diferenas nos pesos do material revelaram os rendimentos mssicosdas matrias extradas.

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    3.3.3 Extrao de leo por arraste de vapor

    O mtodo consiste em aquecer o material (rizoma) e a gua juntos, numrecipiente conectado ao separador de fases ao condensador. O leo porser voltil evaporado da massa slida e condensa-se, separando-se dolquido por densidade. Este procedimento de extrao de leos essenciais descrito mais detalhadamente pela AOAC, mtodos n 30.020, 30.021 e30.025 (2).

    Para execuo do processo foram utilizados:

    a) Solvente- gua destilada.

    b) Vidraria- conjunto extrator (Figura 3)- extrator para leos essenciais, segundo a AOAC- balo de destilao (1000 mL)- condensador Friedrichs, com junta inferior.

    FIGURA 3 EXTRATOR DE LEO

    c) Equipamentos

    - manta de aquecimento (Fisaton, modelo 102)- balana analtica (Sartorius, mod. A-200-S).

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    Em anlises consecutivas, com o mesmo tempo de durao e em datasseqenciais foram realizadas extraes de leo, com a finalidade de

    avaliar as mudanas decorrentes em sua composio, pela permannciado material em contato com o calor. Os tempos fixados foram 2h, 4h,6h,12h, 24h e 48 horas.

    O leo obtido foi seco em coluna com sulfato de sdio anidro e levado paraarmazenamento a -18 C em congelador. O frasco de armazenamento,constitudo de polietileno, foi recoberto com papel alumnio para nopermitir o contato do leo com a luz. Para amenizar oxidaes, manteve-sefluxo de nitrognio dentro do frasco, antes de fech-lo.

    3.4 ENSAIOS DE CARACTERIZAO DA MATRIA-PRIMAOs reagentes e equipamentos utilizados nas determinaes decaracterizao da matria-prima atenderam os mtodos padronizados peloInstituto Adolfo Lutz (IAL) e pela AOAC (2, 26).

    3.4.1 Composio bsica do vegetal (2, 26, 27)

    - Lipdios (mtodo 4.10/IAL)

    - Fibras (mtodo 4.15/IAL)

    - Protenas (mtodo 2.055/AOAC)

    - Acares (redutores em glicose - mtodo 4.13.2/IAL e no redutores emsacarose - mtodo 4.13.3/IAL)

    - Cinzas (mtodo 3.004/AOAC)

    - Umidade (mtodo 7.007/AOAC).

    3. 5 ENSAIOS DE CARACTERIZAO DO LEO (2, 26)

    3.5.1 Densidade

    Para determinar a densidade do leo foi utilizado o mtodo 28.006 daAOAC.

    3.5.2 ndicederefrao

    Utilizou-se o mtodo 28.009/AOAC, com refratmetro Zeiss Opton(Germany - Nr. 123.625).

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    3.5.3 Umidade

    Para determinao da umidade, os ensaios foram realizados com oequipamento "Aquatest IV - Fotovolt, pelo mtodo Karl Fischer.

    3.5.4 Ensaiosespectromtricos

    3.5.4.1 Espectrometriano infravermelho

    Os ensaios de espectrometria no infravermelho foram realizados emequipamento Beckmann, em filme lquido, com janelas de cloreto de sdio.

    3.5.4.2 Espectrometria de massas

    Utilizou-se detetor de massas, acoplado em cromatgrafo HP 5890, paraidentificar os componentes de cada grupo. O mtodo baseia-se nafragmentao inica das molculas componentes do leo mediante feixede eltrons. Um dispositivo eletrnico registra o resultado, sob a forma defragmentos inicos positivos. O espectro de massas, assim obtido, permiteidentificar, pelo estudo dos fragmentos, os componentes do leo.

    3.6 LIMPEZA NO MATERIAL UTILIZADO

    Toda a vidraria e demais acessrios de laboratrio utilizados nas anlisesforam cuidadosamente limpos com auxlio do detergente Extran (Merck).Aps a lavagem o material foi enxaguado, no mnimo 3 vezes, com guadestilada.

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    No Quadro 4 constam os rendimentos de extrao com diversos solventes,em extrator de Soxhlet.

    Pode-se observar que h grande diferena nos rendimentos de extraoem Soxhlet quando as condies so alteradas. Isto justifica as diferenasencontradas entre estes resultados e os apresentados na literatura, queno especificam as condies operacionais do processo.

    O rendimento obtido para o extrato cetnico (11.08%) foi 53,4% superiorao encontrado na literatura (Quadro 5), enquanto os resultados para oextrato etreo no foram significativos (3,0%). LAWRENCE (21) obteverendimentos de 7,2% (v/m) empregando acetona e 6,9% (v/m) para olcool, sempre utilizando o rizoma seco como ponto de partida para o

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    processo. Neste trabalho os ensaios foram realizados com o rizoma midoe como o solvente e a resina so solveis em gua, acrscimo na

    concentrao, devido a diluio do extrato, justificaria as diferenas noresultado.

    QUADRO 4 - EXTRAO POR SOLVENTES ORGNICOS

    S0LVENTE(100 mL) MATRIA-PRIMA

    CONDIES DEEXTRAO

    RENDIMENTOS% m/m

    lcool : gua80:20

    "in natura"ralada

    Massa = 19 gTempo = 7h

    Temperatura na manta de

    aquecimento = 180C

    2,2

    n-Hexano "in natura"ralada

    Massa = 15 gTempo = 7h

    Temperatura na manta deaquecimento = 95 C

    0,36

    n-Hexano "in natura"ralada

    Massa = 15 gTempo = 3h

    Temperatura na manta deaquecimento = 95 C

    0,32

    Acetona "in natura"ralada

    Massa = 10 gTempo = 4h

    Temperatura na manta de

    aquecimento = 95 C

    2 , 2

    Acetona seco emacerado

    Massa = 10 gTempo = 3h

    Temperatura na manta deaquecimento = 95 C

    11,08

    ter Etlic0 seco emacerado

    Massa =10 gTempo = 4h

    Temperatura na manta deaquecimento = 60 oC

    3, 0

    Obs.: Resultados de rendimento em extrato seco.

    Uma das desvantagens na aplicao de solventes orgnicos que estesextraem alm dos componentes aromticos, outras substncias como:matria graxa, cidos orgnicos, acares oligossacardios, matriacolorida e outros (4,5).

    No presente trabalho, as temperaturas de extrao no superaram 180 Cpara no possibilitar a degradao do gingerol em shogaol e gingerona,como sugerem CHU-CHIN CHEN e CHI-TANG HO (8, 9, 10).

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    QUADRO 5 RENDIMENTO DE EXTRATOS ORGNICOS

    Autor Extrato Cetnico Extrato EtreoLAWRENCE (21) 7,2% *

    LEVERINGTON (22) 4,5% 4,2%

    GOVINDARAJAN (14) 6,9% 3,3%

    *no indica resultado

    As resinas obtidas apresentaram-se viscosas e de cor marrom-amarelada.

    O n-Hexano, por ser apolar, apresentou resultados muito inferiores aos dosoutros solventes, porm compatveis com aqueles indicados porLAWRENCE (21). Segundo este autor o n-Hexano um bom solvente paraa obteno de leos essenciais, porm como no extrai substnciaspolares, apresenta baixos rendimentos.

    O material seco e macerado, quando extrado com ter etlico, apresentourendimentos condizentes com os da literatura, o que no sucedeu com aextrao pela acetona, que resultou em ndices superiores aos indicados .

    Para a extrao com gua, as condies de trabalho e resultados foram:

    - Extrato aquoso seco: 2,3% m/m- Matria-prima : "in natura" ralada- Massa : 15 g- Tempo de extrao : 7 horas- Temperatura na manta de aquecimento : 280 C.

    Citando Natarajan, LAWRENCE (21) apresentou resultados para ogengibre indiano (19,6% m/m de extrato aquoso seco) que diferemsignificativamente daqueles apresentados neste trabalho. Possivelmente

    esta diferena relaciona-se ao sistema de extrao e separaoempregada pelo autor, que no descreve a tcnica e as frmulas declculo em seu artigo.

    Os mtodos de extrao testados, por percolao com gua, resultaramem extratos muito diludos, de cor marrom escura e odor caracterstico dorizoma. A eliminao da gua, necessria para a obteno do extrato puro,foi demorada (cerca de 8 horas), pois a temperatura no pode exceder80 C. Acima deste valor, o material junto parede do frasco podecarbonizar, provocando degradao do gingerol e alteraes significativasno aroma.

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    O processo de obteno do extrato por percolao "a quente" inferior aoobtido por extrao de vapor, segundo LAWRENCE (21). Tal fato foi

    constatado, pois o registro da literatura de 15% e o deste trabalhoapontou 13%, enquanto a extrao por percolao a vapor apresentou52% m/m.

    Segundo a AOAC (2) a utilizao de arraste de vapor resulta na obtenode leo muito aromtico, de cor amarela cristalina. Dos procedimentos deextrao testados, este foi o nico em que o leo se separou nitidamente,da gua. Os resultados obtidos neste processo foram:

    - Massa de matria-prima: 300 g- Teor mdio do leo (extrado em base seca de matria-prima): 2,49%,

    com coeficiente de variao entre os resultados de 10,11%- Umidade da matria-prima: 85,48%, com coeficiente de variao entreos resultados de 2,5%

    - Temperatura da manta de aquecimento: 185 C.- Tempos de extrao: 2, 4, 6, 12, 24 e 48 h.

    A temperatura na manta de aquecimento foi controlada, de modo a nopermitir que o material, dentro do balo de extrao e em contato com aparede do frasco, no carbonizasse, resultando num odor caracterstico deacar queimado.

    A quantidade de leo extrada foi indicada pela coluna graduada doseparador de fases e registrada antes da secagem. O procedimento desecagem do leo resultou na perda de 5% v/v do volume total percoladopela coluna. Ensaios cromatogrficos realizados com o leo, com ou semprocesso de secagem, apresentaram os mesmos resultados na suacomposio, comprovando que o sulfato de sdio anidro inerte a esteleo, no causando interferncia detectvel em sua composio e tambmno aroma. No Quadro 6 constam os resultados encontrados na extrao doleo do gengibre mido.

    QUADRO 6 - RENDIMENTO DO LEO EM % V/M

    MATERIAL TEMPERATURA(C)

    TEMPO(h)

    LEO(% V/M)

    98 2 2,37Rizoma in natura 98 4 2,5O300 gramas 98 6 2,53

    98 12 2,6198 24 2,6298 48 2,65

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    5 CONCLUSO

    A otimizao do processo de extrao do leo de gengibre empregadoneste trabalho produziu resultados superiores aos da literatura.

    Os resultados mostraram que a melhor qualidade do leo obtida peloprocesso de arraste de vapor, com tempo de extrao de 2 horas, e que amaior quantidade de resina obtida utilizando a propanona como solventee tempo de extrao de 3 horas.

    O gengibre do litoral do Paran ainda ficou caracterizado peladeterminao das suas constantes fsicas, pelo espectro no infravermelhoe identificao provvel de vrios componentes de seu leo por

    cromatografia em fase gasosa e espectrometria de massas.

    Abstract

    The present work describes the processes used for the obtention of ginger oil and resin,extracted from its rhizome and processed. The analysis were conducted with naturalrhizome, harvested, washed and mantained by refrigeration until the moment of use anddried in an air stove until it reaches moisture content of 10% (m/m) and finally stored byrefrigeration. The obtention processes of oil involved the extraction with organic solvents,to achieve the resins and oil, and steam stripping for oil. The results showed that the bestquality of the oil is achieved by the steam stripping process, with 2 hours of extraction andthat the higher quantity of resin is obtained by the use of propanone as solvent and

    extraction time of 3 hours.

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