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3279 - Expressão Dramática, Corporal, Vocal e Verbal Formadora: 2.3. – FORMAÇÕES MODULARES CERTIFICADAS

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3279 - Expressão Dramática, Corporal,

Vocal e Verbal

Formadora:

Paula Rita da Silva Lourenço

(Novembro de 2011) 2.3.

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ÍNDICE

ÍNDICE........................................................................................................................................1

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................3

A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E O SER HUMANO...............................................................................4

EXPRESSÃO DRAMÁTICA............................................................................................................6

EXPRESSÃO DRAMÁTICA E O DESENVOLVIMENTO PESSOAL………………………………………………….7

Tipos de jogos dramáticos.....................................................................................................9

Jogos livres...................................................................................................................... 9

Jogos dirigidos..................................................................................................................9

Jogos de improvisação.....................................................................................................9

Jogos do faz-de-conta......................................................................................................9

Jogos de desenvolvimento da imaginação.......................................................................9

Jogos de desenvolvimento de habilidades físicas e vocais.............................................10

Jogos de desenvolvimento da expressão corporal.........................................................10

Jogos de mímica.............................................................................................................10

Dramatização de histórias .............................................................................................10

Representação com fantoches…………………………………………………………………………………….10

EXPRESSÃO DRAMÁTICA E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA................................13

A importância do jogo segundo Piaget ..................................................................................14

Jogo de exercício.............................................................................................................14

Jogo simbólico................................................................................................................15

Jogo de regras.................................................................................................................15

EXPRESSÃO DRAMÁTICA E A FUNÇÃO SIMBÓLICA…………………………………………………………………..17

Propostas de actividades para as diferentes fases de desenvolvimento……………………………….19

Crianças dos 0 aos 2/3 anos………………………………………………………………………………………….19

Crianças dos 3 aos 4 anos……………………………………………………………………………………………..19

Crianças dos 5 aos 6 anos……………………………………………………………………………………………...19

Crianças acima dos 6 anos…………………………………………………………………………………………….19

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O jogo dramático………………………………………………………………………………………………………………….20

Função simbólica e os seus elementos constituintes…………………………………………………………….20

EXPRESSÃO CORPORAL…………………………………………………………………………………………………………….21

EXPRESSÃO VOCAL E VERBAL…………………………………………………………………………………………………..25

Recursos vocais…………………………………………………………………………………………………………………….26

Anatomia do aparelho fonador…………………………………………………………………………………………….26

Cuidados a ter com a voz………………………………………………………………………………………………………27

Aquecimento vocal……………………………………………………………………………………………………………….27

Respiração……………………………………………………………..…………………………………………………………….28

Relaxamento………………………………………………………………………………………………………………………..29

Articulação……………………………………………………………………………………………………………………………29

Dicção……………………………………………………………………………………………………………………………….….30

CONCLUSÃO…………………………………………………………………………………………………………………………….32

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INTRODUÇÃO

As artes são elementos fundamentais para o desenvolvimento da expressão pessoal,

social e cultural do ser humano. São formas de saber que articulam imaginação, razão e

emoção. Elas atravessam as vidas das pessoas, trazendo novas perspectivas, formas e

densidades ao ambiente e à sociedade em que se vive.

A vivência artística permite a participação em desafios colectivos e pessoais que

contribuem para a construção da identidade pessoal e social, exprimem e encorpam a

identidade nacional, permitem o entendimento das tradições de outras culturas e são uma área

de eleição no âmbito da aprendizagem ao longo da vida.

As expressões, dramática, corporal, vocal e verbal são umas das áreas privilegiadas na

educação artística. Estas constituem-se como quatro vertentes expressivas indispensáveis à

formação integral do ser humano, que têm como finalidade a contribuição para o

desenvolvimento integral dos formandos, preparando-os para o exercício competente e

consciente da sua profissão.

O grande objectivo da elaboração deste Manual é tornar esses conhecimentos

acessíveis, isto é, contribuir seguramente para a divulgação de medidas que, uma vez postas

em prática, permita um percurso evolutivo por parte do formando, partindo do

desenvolvimento das suas próprias competências expressivas, em direcção ao domínio de

métodos e técnicas indispensáveis à sua acção como profissional.

Este Manual destina-se à comunidade em geral, a todos que pretendem: desenvolver

estratégias que conduzam a uma abordagem criativa e lúdica das práticas artísticas e que

estimulem a autonomia e interesse pela descoberta; desenvolver estratégias de integração das

várias expressões; desenvolver um repertório de actividades e técnicas que possa servir de base

para futuros progressos; e despertar a consciência para o valor estético no trabalho a

desenvolver com crianças.

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Este Manual deve ser utilizado sempre como apoio a toda a formação que é dada nas

sessões teórico-práticas, servindo assim de complemento à formação.

A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA E O SER HUMANO

Cada vez mais a educação deve ser motivadora de saberes, adaptados à civilização

actual, uma vez que são os pilares das competências do futuro e que permitem ao indivíduo

encontrar referências que o tornem autónomo e capaz de decidir quais os caminhos mais

ajustados a percorrer, orientando-o para projectos de desenvolvimento individual e colectivo.

Ao longo da vida, o ser humano explora diversas situações, de forma a actualizar,

aprofundar e enriquecer os seus conhecimentos e a adaptar-se ao mundo que se encontra em

mudanças permanentes.

É a partir do conceito de educação ao longo da vida, organizado por quatro

aprendizagens - aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver juntos e aprender a

ser - que a UNESCO (1996), através da Comissão Internacional sobre a Educação para o século

XXI, desafia a sociedade e os agentes educativos a repensar a escola enquanto espaço

certificador de conhecimento, mas também espaço de desenvolvimento de competências

sociais, de partilha de experiências e de reflexão de resultados

A escola deverá promover a criatividade, originalidade, iniciativa e sentido crítico que

potenciem a comunicação e permitam o entusiasmo pelas suas próprias actividades e lhes

facultem perspectivas face às suas opções pessoais e profissionais. Para tal, importa relevar as

actividades artísticas criativas no sistema de ensino, ao diversificar as suas aprendizagens e criar

modalidades e estratégias que impliquem os vários agentes sociais no processo educativo.

A nossa sociedade tem vindo a sofrer alterações socioculturais que implicam a

existência de novas atitudes por parte do sistema educativo. Esta nova realidade existente nas

escolas portuguesas, com base na heterogeneidade social e cultural, deve ser adaptada e

transformada de forma criativa e inovadora. Deste modo, cabe à Educação a missão de fazer

com que todos, sem excepção, façam frutificar os seus talentos e potencialidades criativas.

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Esse projecto deverá dar primazia a políticas educativas que impliquem a construção e

preparação do próprio indivíduo e do estabelecimento de relações entre os vários agentes

sociais, em todo o mundo.

Para que os indivíduos continuem a ser capazes de criar gerações aptas e versáteis face

à sociedade actual, convém oferecer às crianças e aos jovens todas as ocasiões possíveis de

descoberta e de experimentação - estética, artística, desportiva, científica, cultural e social.

O acesso democrático a uma educação básica com qualidade continua a ser um dos

grandes desafios presentes no século XXI, na medida em que ainda constitui-se como um

problema em todos países, até mesmo nas civilizações industrializadas. É a partir desta fase da

educação que os conteúdos devem desenvolver o gosto por aprender, a sede e alegria de

conhecer e, portanto, o desejo e as possibilidades de ter acesso, mais tarde, à educação ao

longo de toda a vida.

Nesta sociedade contemporânea, que se encontra em permanente mudança e que

promove a inovação a nível económico e social, deve dar relevância à diversidade de

personalidades, ao espírito crítico e de iniciativa, à imaginação, à criatividade e à autonomia,

para que cada indivíduo possua atributos essenciais para manifestar a sua liberdade humana e

não seja submetido a uma uniformização de comportamentos sociais. Digamos que este novo

século necessita desta variedade de competências e de personalidades para tornar cada ser

humano igualmente fundamental, em qualquer civilização e, por isso, a escola deverá estimular

e aproveitar, em benefício do desenvolvimento individual dos seus alunos, dos projectos

comuns de cooperação e de construção social interactiva.

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EXPRESSÃO DRAMÁTICA

Segundo a definição clássica, expressão significa “espremer, reproduzir, expor” por

outras palavras, exteriorizar do interior para o exterior. No caso da Expressão Dramática, trata-

se de expressar sentimentos e ideias, num contexto de jogo, através do uso da linguagem

dramática.

A expressão dramática é um dos recursos mais valiosos e completos de educação. É uma

área artística que abrange quase todos os aspectos importantes do desenvolvimento da

criança. É uma prática que põe em acção o desenvolvimento do indivíduo aferido na sua

totalidade, favorecendo, através de actividades lúdicas, o desenvolvimento de uma

aprendizagem global (cognitiva, afectiva, sensorial, motora e estética). Através dela incentiva-se

a criação e a observação; possibilitam-se variados meios de expressão; liberta-se sentimentos;

desenvolve-se hábitos, atitudes e habilidades; desenvolve-se a expressividade a partir da

capacidade de imaginação; aprende-se a improvisar, a usar a representação corporal,

brincando; e, através dela, incentiva-se a utilizar e a coordenar a actividade motora.

Na expressão dramática, o aluno (re)descobre a incontornabilidade do jogo dramático

nas relações interpessoais e de grupo, progredindo para formas de expressão para-teatrais

como os fantoches, as sombras e as máscaras e para o domínio dos códigos e convenções

teatrais.

As actividades dramáticas permitem que os alunos desenvolvam progressivamente as

possibilidades expressivas do corpo — unindo a intencionalidade do gesto e/ou a palavra, à

expressão, de um sentimento, ideia ou emoção. Nestas actividades, as crianças desenvolvem

acções ligadas a uma história ou a uma personagem que as colocam perante problemas a

resolver: problemas de observação, de equilíbrio, de controlo emocional, de afirmação

individual, de integração no grupo, de desenvolvimento de uma ideia e de progressão na acção.

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Pretende-se, fundamentalmente, que as crianças experimentem, através de diferentes

meios, expressar a sua sensibilidade e desenvolver o seu imaginário.

EXPRESSÃO DRAMÁTICA E O DESENVOLVIMENTO PESSOAL

Como já referido, o objectivo central da expressão dramática consiste no

desenvolvimento natural da criança, a partir de situações da experiência individual e colectiva,

trabalhadas a partir de jogos e improvisações.

Estas actividades devem ser progressivamente complementados por propostas que

contribuam para o desenvolvimento da capacidade de relação e comunicação com os outros.

No desenrolar das propostas ou projectos desenvolvidos em pequenos grupos, deve

haver espaço para a improvisação.

As crianças gostam de apresentar as suas criações aos companheiros e aos pais. Estes

momentos de partilha são, também, um enriquecimento da experiência pessoal e do grupo,

desde que mantenham o carácter de jogo lúdico e não se transformem em representações

estereotipadas.

Em interacção, as crianças irão desenvolvendo pequenas improvisações explorando,

globalmente, as suas possibilidades expressivas e utilizando-as para comunicar. A utilização

simultânea da dimensão verbal e gestual ganha, aqui, o seu pleno significado.

Sugestões de actividades I:

•Improvisar palavras, sons, atitudes, gestos e movimentos ligados a uma acção precisa:

em interacção com o outro e em pequeno grupo;

•Improvisar palavras, sons, atitudes, gestos e movimentos, constituindo sequências de

acções — situações recriadas ou imaginadas, a partir de: objectos um local uma acção

personagens um tema;

•Improvisar situações usando diferentes tipos de máscaras;

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•Utilizar diversos tipos de sombras (chinesas,…);

•Inventar, construir e utilizar adereços e cenários;

•Elaborar, previamente, em grupo, os vários momentos do desenvolvimento de uma

situação.

Em expressão dramática, a concretização das actividades é designada por “jogo

dramático” – na sua concepção os elementos voz, espaço, corpo, tempo, texto e situação

dramática, constituem a linguagem dramática. A utilização destes elementos permite a quem

joga, comunicar com os outros através de papéis, expressando as suas criações do mundo

interior, pela acção corporal e pela produção de uma ficção. O trabalho efectuado no jogo

dramático proporciona momentos de criação, cujos principais objectivos são a reflexão sobre as

emoções e a interpretação do mundo. Para se jogar não são necessários adereços ou cenários

especiais, já que um objecto do quotidiano pode assumir diversas funções. Sendo uma

actividade colectiva, o ritmo de cada um deve ser respeitado, assim como a disponibilidade

para jogar, uma vez que uma das características do jogo é a receptividade e a fruição, no

desempenho da actividade.

Sugestões de actividades II:

•Exercícios de conhecimento da voz (como respirar, projectar a voz, timbres de voz,

percepção da extensão vocal);

•Leitura expressiva, em voz alta;

•Exercícios de coordenação de formas (improvisação através de linguagem gestual e

corporal);

•Jogo Dramático (interpretação) – dramatização individual e colectiva;

•Jogos de Quebra-Gelo, Integração, Toque/Confiança, Criatividade, Concentração,

Relaxamento e Reflexão;

•Representação de personagens conhecidas e criadas Expressão de emoções através da

representação;

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•Criação de histórias.

Metodologia para Sugestões de Actividades I e II:

As actividades devem ser orientadas de modo a serem desenvolvidas por todos os

alunos, evitando-se, ao máximo, comportamentos passivos ou desinteressados, ou seja,

ausência de colaboração nas actividades, falta de atenção, entre outros, ou comportamentos

que coloquem em causa o bom funcionamento da sessão, nomeadamente, a perturbação.

A metodologia escolhida não pode ser centrada em ensinamentos, exposições orais,

mas em experiências práticas e vivências através de actividades lúdicas artísticas, ou seja, jogos

expressivos e criativos. O jogo deve ser um meio privilegiado nas sessões, de modo a fortalecer

o processo de conhecimento e de expressão.

Tipos de jogos dramáticos

•Jogos livres: Têm por objectivo funcionar como abordagem imediata para a motivação

e predisposição para a integração e para o trabalho de grupo;

•Jogos dirigidos: Como meio de superar as carências individuais, atrás referidas (e que

relembramos algumas: inibição, timidez, receio…), e do grupo;

•Jogos de improvisação: Mediante o estímulo à improvisação, os alunos são conduzidos

a explorar a imaginação, procurando uma resposta espontânea perante o inesperado e a

desenvolver a “habilidade” para obter soluções. No final de cada sessão, tenta-se promover

pequenos momentos de reflexão do grupo a respeito dos “caminhos” seguidos, dos problemas

surgidos e das oportunidades de melhoria.

•Jogos do faz-de-conta: São actividades que devem ser propostas diariamente. Para que

isso aconteça, o espaço da sala deve estar organizado por áreas que contemplam zonas para a

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criança brincar, imitando e reinventando os papéis sociais que observa no seu quotidiano.

Exemplos das brincadeiras de faz-de-conta: “família”, “médico”, “ bombeiros”, etc.

•Jogos de desenvolvimento da imaginação: As crianças, de olhos fechados, (ou

abertos), imaginam situações, lugares (exemplo: reproduzir o passeio ou a visita efectuada.

Como foram, o que viram, etc.)

•Jogos de desenvolvimento de habilidades físicas e vocais: para estimular as crianças a

representarem os movimentos e gestos dos personagens da história, ou de pessoas, animais ou

coisas que observam e vocalizarem os seus sons, ruídos ou vozes.

•Jogos de desenvolvimento da expressão corporal: Como por exemplo o jogo da

estátua, jogo da máscara muda, jogo de reflexos, etc.

•Jogos de mímica: Podem ser realizados com ou sem música. Por exemplo, a criança faz

a mímica de acções, como coser, martelar, pintar, etc. e as outras adivinham.

•Dramatização de histórias: É uma actividade que só deve ser realizada quando as

crianças já dominarem os jogos dramáticos mais simples e se realmente se mostrarem

interessadas em representar determinada história. As histórias escolhidas devem ser bem

simples, curtas, mas com muita acção e o(a) educador(a) deverá exercer a função de

orientador(a) de toda a actividade, começando por relembrar:

· o enredo da história;

· os factos mais importantes e a sua sequência;

· as personagens (suas características físicas e personalidades);

· o local (ou locais) onde se passa a história.

A seguir será necessário decidir quem serão as personagens. Outras crianças podem

transformar-se em objectos do cenário: árvores, flores, desde que tenham oportunidade de

aparecer também na história.

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Depois de tudo combinado, o(a) educador(a) inicia a narrativa, ao estimular os “artistas”

a criarem as suas falas, que ele (a) deve anotar num bloco. Com dois ou três ensaios, a peça

pode ser representada para os pais ou outros grupos, se esta for a vontade das crianças.

Deverá caber às crianças a preparação das “fantasias” e a criação dos cenários, o que as

levará a realizarem actividades de expressão plástica. Tudo pode ser feito por elas com papel,

lã, fitas, tintas, tesouras, etc.

• Representação com fantoches: É uma das modalidades do teatro infantil que

proporciona o prazer de dar vida e voz a animais e bonecos. Através de um fantoche pode ser

superada uma timidez que dificultava a comunicação. Podem ser expressos sentimentos antes

difíceis de exprimir, porque o fantoche passa a ser o foco da atenção, em vez da criança que o

manipula.

O processo criativo que envolve a manipulação de fantoches estimula o

desenvolvimento da linguagem e do pensamento e faz com que a criança aprenda a tomar

decisões, a expressar-se, para além de:

· canalizar a imaginação infantil;

· descarregar tensões emocionais;

· resolver conflitos de ordem afectivo - emocional;

· ampliar as experiências;

· ampliar o vocabulário;

· desenvolver a atenção, a observação, a imaginação, a percepção da relação entre

causa e efeito, a percepção do BEM e do MAL, de outros valores e o interesse por histórias e

teatro.

Quando os adultos manipulam os fantoches, têm nas mãos um recurso mágico de fácil

comunicação com a criança.

Tipos de fantoches:

. fantoche de saco de papel,

. fantoche de pano, meia ou massa;

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. fantoche de diferentes tipos de bonecos (boneco de dedo, boneco de vara, bonecos

de copos, objectos e elementos da natureza).

Sugestões para o(a) educador(a):

• Fornecer diferentes tipos de materiais e adereços que as crianças poderão usar para

as brincadeiras de representação de papéis e faz-de-conta. Poderão fazer os seus próprios

adereços – máscaras, chapéus, etc. e ainda os bilhetes, para a peça.

• Apoiar a brincadeira do faz-de-conta que munda de sítio para sítio. É comum a

brincadeira do faz-de-conta começar na “área da casa”. É frequente, as crianças, depois de

iniciarem as suas brincadeiras, precisarem de locais adicionais para “irem à escola”, “irem à

loja”, etc.

• Observar e ouvir com atenção os elementos da brincadeira do faz-de-conta (as

crianças fazem de conta que são outra pessoa, animais ou personagens de ficção; usam um

objecto como se fosse outro).

• Participar em brincadeiras do faz-de-conta com respeito, atendendo às “deixas” das

crianças. Depois de ter observado e ouvido a brincadeira e compreendido tanto quanto possível

o seu conteúdo e linhas gerais, poderá juntar-se-lhes, porque as crianças convidam-no(a)

certamente, a participar, podendo apoiar e até enriquecer a brincadeira seguindo o tema e o

conteúdo definido pelas crianças . Assim, poderá dar sugestões, respeitando as respostas das

crianças.

É importante que o(a) educador(a) dê tempo e dinamize contactos e experiências com o

exterior para que a Brincadeira do faz-de-conta das crianças desabroche e se desenvolva.

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EXPRESSÃO DRAMÁTICA E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA

"O Homem não é completo senão quando joga" (Schiller)

Piaget advogou uma prática pedagógica e educacional construtivista e libertadora, na

qual a criança constrói o conhecimento a partir da sua relação e na experiência realizada com o

meio, através da observação, manipulação e interacção com os objectos, pessoas e com o

mundo que edifica, à medida que elabora as suas hipóteses e constrói o seu conhecimento

sobre tudo o que a rodeia. Quando a criança sustenta as suas hipóteses, cria algo no seu mundo

interior, que vai modificar em maior ou menor grau a estrutura já existente.

Na experiência artística a criança conhece e constrói-se enquanto um ser integral, face a

um mundo repleto de significados e valores, com o qual se relaciona por meio de todos os seus

sentidos, sentimentos e razão.

Piaget defende que o ensino deve centrar-se na actividade da criança, em que esta deve

agir e envolver-se activamente nas várias experiências com que se defronta, para que a partir

de um processo de construção possa realizar aprendizagens significativas e estimular o seu

envolvimento nos processos de descoberta, com base na sua espontaneidade e motivação,

provenientes de um desejo interior.

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É essencial a realização de um trabalho pedagógico e educacional com actividades

lúdicas, onde estão presentes as áreas artísticas como a Expressão Dramática, para que possa

contribuir de forma expressiva para o desenvolvimento das habilidades mentais dos alunos,

sobretudo subsidiar, através da relação corpo e movimento, uma melhor qualidade de vida,

bem como a fixação de aspectos importantes das áreas afectivo-emocional e cognitiva em sala

de aula.

A utilização das práticas artísticas promove o desenvolvimento dos processos psíquicos,

dos movimentos, contemplando o domínio do corpo e da linguagem, bem como a

aprendizagem de conteúdos, não só de áreas específicas mas também das que satisfazem as

situações vividas no quotidiano.

Quanto ao educador, cabe-lhe a organização dos espaços de modo a permitir a

realização de actividades que exijam mobilidade e expansão de movimentos. O mesmo deve ter

em atenção o nível etário e as capacidades dos seus alunos para seleccionar e deixar à

disposição materiais adequados e motivadores, de forma a favorecer elementos que

contribuam para a criatividade das crianças. Deve estar atento às alterações que surgirão em

função do grau de desenvolvimento da criança, tendo em conta o conhecimento das

características psicofísicas das crianças na idade em que se encontram, com vista a reflectir

sobre quais as actividades que as mesmas podem desenvolver. Deve alimentar o imaginário das

crianças, com vista a que as actividades sejam mais enriquecedoras, ao mesmo tempo que se

tornam mais complexas.

As pesquisas de Piaget, no domínio da psicologia da criança, sugeriram um

desenvolvimento progressivo do conhecimento, através dos diferentes estádios, que

denominou: sensório-motor, pré-operatório, operações concretas e operações formais.

Os fundamentos da teoria de Piaget assentam na ideia de que:

• Cada estádio constitui uma sequência estável e definida no processo de crescimento;

•Quando uma criança atravessa uma destas etapas numa área do conhecimento, está,

necessariamente, no mesmo estádio nas outras áreas;

•A criança só alcança uma fase quando domina as operações lógicas da fase anterior, de

modo a que o pensamento se desenvolva progressivamente rumo à complexidade e equilíbrio.

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A importância do jogo segundo Piaget:

Para Piaget, o jogo é essencial na vida da criança, pois prevalece a assimilação de novas

informações e a sua acomodação às estruturas mentais da mesma.

No jogo, a criança apropria-se daquilo que percebe da realidade. Este autor defende que

o jogo não é determinante nas alterações das estruturas, mas pode transformar a realidade.

Piaget classifica os jogos segundo a sua evolução, em três grandes estruturas: jogos de

exercício, simbólicos e de regras.

Jogo de exercício: A principal característica deste estágio consiste na obtenção da

satisfação das suas necessidades. Com a ampliação dos esquemas, a criança torna-se cada vez

mais consciente das suas potencialidades, colocando em acção um conjunto de práticas, sem

modificar as estruturas, onde as acções são dirigidas somente para atingir o seu maior objectivo

que é o prazer.

Como exemplo, o bebé mama não apenas para sobreviver, mas porque descobre o

prazer de mamar, à medida que satisfaz a sua fome. É isso que o faz chupar a chupeta, mesmo

que não saia alimento nenhum, esse exercício dá-lhe um enorme prazer.

O jogo de exercício é essencialmente sensório-motor. Aparece até, mais ou menos, aos

dois anos de idade. Este jogo estará presente em todos os estágios da nossa vida, inclusive a

fase adulta, pois o prazer deve estar sempre presente em tudo que fazemos.

Jogo simbólico: Segundo Piaget, estes jogos fazem parte da fase pré-operatória (dos

dois aos sete anos de idade), onde a criança, além do prazer, começa a utilizar a simbologia. O

jogo simbólico permite-lhe a aquisição de uma linguagem própria, construída a partir de

símbolos/imagens mentais, cuja mutação decorre consoante as suas necessidades, e permite a

sua adaptação ao mundo dos adultos e à complexidade das regras e relações já existentes.

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Como exemplo, a criança tem a possibilidade de vivenciar aspectos da realidade, muitas

vezes difícil de elaborar: a chegada de um irmãozinho, a mudança de escola ou situações boas

como ser um super-homem, imitar a mãe ou o pai.

Jogo de regras: De acordo com Piaget, este jogo acontece a partir dos sete anos de

idade, no período operatório concreto. A criança aprende a lidar com as delimitações no espaço

e no tempo, o que pode e o que não pode fazer. Ao invés do símbolo, a regra pressupõe

relações sociais, porque a regra é imposta pelo grupo e a sua falta, significa ficar de fora do

jogo. Como exemplo, lidar com perdas e ganhos, estratégias de acção, tomadas de decisão,

análise dos erros, replanificar as jogadas em função dos movimentos dos outros. Deixa de haver

um chefe e passa a haver uma lei: a regra. É ela que promove a coesão do grupo que apenas

existe com uma finalidade: a realização de um determinado jogo.

Cada estádio do desenvolvimento descrito por Piaget tem uma sequência que depende

da evolução da criança, do nascimento até ao final da vida.

Uma fase interliga-se com a outra de forma que o final de uma se confunda com o

começo de outra.

A evolução começa com a fase puramente reflexiva, passando pela assimilação, pelo

simbolismo até chegar à acomodação.

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EXPRESSÃO DRAMÁTICA E A FUNÇÃO SIMBÓLICA

Nas actividades de expressão dramática a criança descobre-se a si mesma e descobre

formas de se relacionar com os outros; o que implica aprender a lidar com situações sociais. O

jogo simbólico é, assim, uma actividade muito importante.

O "fazer-de-conta" permite vivenciar experiências.

É igualmente importante que se disponibilizem objectos variados e possíveis de ser

explorados livremente. As situações recriadas podem ser muito diferentes:

- uma viagem

- uma festa de aniversário

- um almoço especial

- uma ida às compras

- uma conversa telefónica

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- ir ao médico

- ir ao cabeleireiro

O educador deve: apresentar sugestões que ampliam as propostas das crianças. Estas

actividades são igualmente importantes no desenvolvimento da linguagem oral, na aquisição

de vocabulário, na melhoria da articulação das palavras e na construção de frases.

O educador deve proporcionar às crianças as condições para elas poderem desenvolver

todos os aspectos da sua personalidade, nomeadamente nos campos social, intelectual, físico e

emocional, não obstante a consciência de que existem ritmos diferentes de desenvolvimento

em cada criança que importa respeitar.

A criança entre os 2 e os 3 anos encontra-se num período pré-conceitual em que

começa a encarar os estímulos como representativos de objectos. Começa a desenvolver-se a

função simbólica, que será a base para a aquisição da linguagem. É hoje conhecida a

importância que a primeira infância tem no correcto desenvolvimento da criança

A brincadeira tem sempre duas funções: uma função lúdica, na qual a criança encontra

prazer ao brincar, e uma função educativa, através da qual a brincadeira ensina alguma coisa,

ajuda a desenvolver o conhecimento da criança e a sua apreensão do mundo. Para ser auxiliar

da aprendizagem, precisa de conciliar a função lúdica e educativa, sabendo que o facto de

brincar não anula totalmente a dimensão educativa, nem esta se deve converter na única razão

de utilizar o jogo na escola. Tudo isto põe ao educador a responsabilidade da planificação e

selecção das actividades na escola.

Como proceder?

Pelo menos, quatro critérios devem ser levados em conta:

- Em primeiro lugar, o valor experimental do jogo, isto é, o que ele permite à criança

desenvolver como experiência, como manipulação;

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- Em segundo lugar, o valor da estruturação, contribuição para a construção e

estruturação da personalidade da criança;

- Em terceiro lugar, o valor da relação; de que maneira a brincadeira permite à criança

relacionar-se com os outros e com o meio ambiente;

- Em quarto lugar, o valor lúdico como tal: que prazer, alegrias e emoções a brincadeira

vai causar às crianças que brincam.

A estes critérios deve-se acrescentar a adequação da actividade lúdica aos gostos, à

capacidade das crianças que, por sua vez, devem ser conciliadas com as aprendizagens que se

desejam concretizar.

Dentro de uma metodologia da utilização pedagógica convém respeitar o nível de

desenvolvimento da criança.

Propostas de actividades para as diferentes fases de desenvolvimento:

Crianças dos 0 aos 2/3 anos

- Brincadeiras, que promovam o desenvolvimento do jogo simbólico;

- Exploração do seu próprio corpo com fim à comunicação através de gestos, sons,

movimentos e expressões faciais.

Crianças de 3 aos 4 anos

- Brincadeiras que exploram actividades de equilíbrio do corpo como subir, correr,

transportar objectos, etc;

- Exploração activa do meio ambiente, descoberta da novidade e do mundo exterior;

- Exploração das brincadeiras de imitação e iniciação das actividades de socialização;

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- Intensificação de actividades de grafismo e colagem;

- Jogos do "porquê", para atender à necessidade da curiosidade da criança.

Crianças de 5 aos 6 anos

- Exploração de jogos para enriquecer o vocabulário;

- Exploração do imaginário: contar e inventar histórias; improvisação e teatro infantil;

- Jogos de desenvolvimento da memória;

- Brincadeiras de observação de detalhes;

- Actividades de criação de hábitos de respeito às regras;

- Jogos colectivos de intensificação de atitudes e de integração, visando a adaptação da

criança à realidade.

Crianças acima dos 6 anos

- Jogos de concentração, precisão, de resistência e perseverança;

- Brincadeiras de grupo e de desafio;

- Jogos de aperfeiçoamento de habilidades;

- Jogos de classificação e organização;

- “Jogo de exercício”;

- “Jogo de regras”, onde estão inseridos os jogos tradicionais;

- “Jogo simbólico”;

- Jogos dramáticos.

O jogo dramático

É forma de expressão do real e do imaginário, ganha assim estatuto privilegiado na

formação da criança no que respeita ao desenvolvimento de parâmetros psico-motores e sócio-

afectivos. Não se sujeita a balizas comportamentais demasiado rígidas, o que flexibiliza e facilita

o mundo da fantasia sem esperar em troca compensações, nem recear insucessos provocados

por reforços positivos ou negativos e evitando aspectos competitivos ou de mero treino de

outro tipo de jogos.

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A actividade de jogo dramático descrito não resulta de regras, não resulta da vontade de

produzir uma obra nem de nenhuma expressão estética determinada. Antes resulta da vontade

da criança em exprimir os seus sentimentos, emoções e interesses face a uma realidade que

deseja viver e reviver através da acção, bem como o desejo de compreensão de todo esse

mundo.

Mas a criança, neste processo de jogo dramático, deseja comunicar com o outro o que

sente. Para sua afirmação e para exteriorização do Eu, tem necessidade que outro jogue

também.

Importa ainda referir que esta actividade necessita de uma matriz planificadora;

necessita igualmente de uma observação sistematizada e de intervenção.

O jogo dramático atinge o seu expoente máximo no Jardim de Infância.

Função Simbólica e os seus elementos constituintes:

Imitação Diferida – de comportamentos;

Jogo do faz-de-conta – a criança vive a situação como ela quer;

Desenho - A imitação gráfica é feita como a criança pensa que o mundo é;

Imagem mental - componente da acção (imitação interiorizada);

Linguagem verbal - Capacidade de utilizar signos para representar o significado do

objecto em si; Ainda tem necessidade de fazer um grande esforço de acomodação;

Componente lúdica: a criança tende a brincar com as palavras quando as aprende.

EXPRESSÃO CORPORAL

Chaplin, um mestre da linguagem corporal

Charles Chaplin nasceu em Londres, no ano de 1889 e iniciou

a sua carreira como mimo. Actores do cinema mudo, como Chaplin,

foram os pioneiros das técnicas de linguagem corporal. A sua

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personagem mais famosa foi The Trump (“O Vagabundo”). Um

mestre da expressão corporal, Chaplin até hoje faz-nos rir e chorar

com suas expressões marcantes.

Assista a alguns dos grandes momentos deste artista singular, no Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=xoKbDNY0Zwg

http://www.youtube.com/watch?v=IJOuoyoMhj8&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=1mYtNMDFyXQ&feature=related

A linguagem corporal inclui:

- expressão facial;

- movimentos do corpo e gestos (pernas, braços, mãos, cabeça e busto);

- postura;

- contacto visual;

- tom de voz e velocidade da fala;

- aparência.

Toda a população, de uma forma geral, deveriam realizar uma abordagem ao nível da

Expressão Corporal, de forma a contribuir para um desenvolvimento físico e mental mais

harmonioso (trabalhando a atenção, coordenação, imaginação, comunicação, conhecimento do

corpo, etc.).

O corpo é significado e expressão, o que imprime vida ao movimento. É inegável que

pelo movimento o homem exteriorizará os seus sentimentos, uma vez que o ritmo está contido

em tudo, e cada movimento que o homem executa no espaço, expressa o seu ritmo, de

maneira pessoal e criativa.

A Expressão Corporal desempenha um papel de extrema importância para o

desenvolvimento integral da criança.

Com esta actividade, os alunos são encorajados a realizar movimentos com o seu corpo,

utilizando uma linguagem corporal muito própria. Esta permite a realização de uma grande

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diversidade de exercícios como: equilíbrios, saltos, posturas, passos, etc. Aperfeiçoa técnicas

corporais básicas, como: saltar, puxar, correr, rolar, trepar, parar, etc.

A esta possibilidade de realizar um amplo número de movimentos, junta-se a

capacidade de expressão do corpo, ou seja, através dos exercícios o aluno pode comunicar

(expressando as suas emoções e sentimentos).

Para além disso, através dos sons (efectuados com ritmos vocais, batimentos de mãos,

etc.) e da música (como suporte da Expressão Corporal) a criança pode utilizar o corpo para

representar ideias e personagens.

A Expressão Corporal deve ser trabalhada em grupo, através da realização de exercícios

de carácter individual, a pares, três a três e pequenos grupos, tendo em atenção as capacidades

dos alunos e as suas “limitações”.

É de salientar, que para além de contribuir para uma elevação geral das capacidades e

habilidades motoras do aluno, auxilia o seu a desenvolver a cooperação, auto-estima, etc.

A música aliada ao movimento desempenha um papel fundamental ao nível do

equilíbrio e desenvolvimento do ser humano, contribuindo para o seu bem-estar.

Desta forma, podemos concluir que a Expressão Corporal é uma actividade que devido

às suas características, pode ser praticada com poucos recursos e em qualquer local (ao ar livre

ou em recinto fechado).

As actividades de exploração do corpo, da voz, do espaço e de objectos, são momentos

de enriquecimento das experiências que as crianças, espontaneamente, concretizam nos seus

jogos. Permitem um maior controlo e desenvolvimento na utilização das suas capacidades de

expressão/comunicação. Ao brincarem a ser seres imaginários, terão oportunidade, através das

diferentes vivências, de se (re)conhecerem melhor e também melhor conhecerem “o outro”.

Para isto, vão contribuir várias acções, desde as diferentes formas e atitudes corporais,

ao sentido da pessoalidade dos movimentos, à exploração das diferentes possibilidades vocais,

à utilização e adaptação dos espaços, à transformação imaginária e ao relacionamento com os

objectos.

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As actividades corporais devem ter uma sequência temporal, isto é, a criança deve

seguir uma determinada ordem para realizar os jogos:

- momento inicial/aquecimento/ritual de entrada;

- desenvolvimento;

- momento final/relaxamento.

A linguagem corporal é uma forma significativa e complexa de interacção, pois envolve

os mais diversos estados emocionais: amor, medo, tristeza, ódio, etc. Tem contribuído com as

práticas pedagógicas, pois propõe-se a fins educativos pelo emprego do movimento, da

liberdade da expressão e do simbólico.

É então relevante que o educador conheça caminhos que possibilite a exploração das

diversas formas de comunicação corporal da criança, sem deixar de lado a individualidade, a

história e a cultura de cada um.

A linguagem corporal constitui-se como um elemento mediador da aprendizagem e do

desenvolvimento humano. A educação pela expressão é parte fundamental desse processo

especialmente na educação infantil.

Sugestões de actividades corporais:

- Exploração da mobilidade e imobilidade;

- Criação e exploração de movimentos corporais;

- Exercícios de expressão corporal (equilíbrio, leveza, exactidão, rapidez dos reflexos, senso de

ritmo, mobilidade/imobilidade).

● “Afinal, estamos aqui para jogar...” - Travessia imaginária.

A turma deve estar organizada em jogadores e público.

Os jogadores devem posicionar-se de um lado da área de jogo. Devem atravessar esta área

como se estivessem a:

- andar sobre pregos;

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- pisar no gelo;

- andar sobre nuvens;

- caminhar sobre a água;

- escorregar na neve;

- andar sobre o fogo;

- etc.

Os jogadores devem deixar que todo o seu corpo sinta/viva o que há no chão. No final,

perguntar-lhes como se sentiram ao pisar os diferentes lugares, qual a sua expressão

relativamente ao corpo no seu todo, etc.

EXPRESSÃO VOCAL E VERBAL

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A voz é um som produzido pelo homem que o identifica quanto à sua idade, sexo, raça,

nível sociocultural, características de personalidade e de estado emocional. Revela a nossa

identidade, não existindo nenhuma voz igual a outra no mundo.

A voz, associada aos gestos, às expressões corporais, à postura e à fala compõe um

instrumento poderoso da comunicação humana.

A nossa voz é produzida pela vibração das cordas vocais, som que é modificado nos

ajustes que ocorrem à sua passagem pelas cavidades de ressonância (laringe, faringe, boca,

nariz), onde é ampliado e modificado.

A voz muda ao longo da vida, acompanhando nosso desempenho biopsicossocial. Por

inúmeros factores, incorporamos formas inadequadas de a produzir e consequentemente a

produção da fala, pronunciando mal as palavras e utilizando muletas verbais que acabam por se

transformar em obstáculos às nossas comunicações.

As pessoas que falam em público devem ter certos cuidados para preservar a saúde

vocal. Muita gente não sabe como a voz é produzida no nosso corpo e o que pode fazer para

torná-la melhor. Cuidar da voz significa conhecê-la e usá-la bem; é respeitar o equilíbrio entre o

ar que sai do corpo e a força muscular exercida pelas cordas vocais; é tirar da voz o melhor

rendimento com o mínimo de esforço.

O Homem é o único ser a expressar-se através da fala, em que são enunciadas as

palavras, expressos sentimentos/emoções e transmitidos ideias/opiniões. Por isso, é

considerada como um elemento que pode facilitar ou dificultar a interacção.

Recursos vocais

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Ao que se refere à enunciação de palavras, damos o nome de expressão verbal. Para tal,

é necessário ter em conta a presença dos seguintes recursos vocais:

DICÇÃOForma como o locutor articula foneticamente a fala. A dicção denota a

pronúncia clara e precisa na correcta entoação das palavras de uma Língua.

TOMModo ou atitude para falar; Cada uma das diferenças verificadas nas vozes ou

nos sons.

TIMBRE

Característica sonora que permite fazer distinção de diversos instrumentos ou

vozes de locutores, mesmo quando o som é produzido exactamente com o

mesmo volume e intensidade.

PRONÚNCIA É a forma como é realizada a entoação de uma palavra.

INTENSIDADE Propriedade ou característica do som; força, amplitude dos sons.

ENTOAÇÃOVariações do tom de voz do locutor, através da acentuação ou pausa, na

expressão correcta de palavras ou frases durante a produção da fala.

ARTICULAÇÃOA articulação da voz é o processo através do qual o locutor molda os sons vocais

realizados pelos lábios, língua, palato mole e palato duro, dentes e alvéolos.

Anatomia do aparelho fonador

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Cuidados a ter com a voz

As pessoas devem ter certos cuidados para preservar a saúde vocal. Muita gente não

sabe como a voz é produzida no nosso corpo e o que pode fazer para torná-la melhor. Cuidar

da voz significa conhecê-la e usá-la bem. Para tal, deve ter em consideração as seguintes

recomendações:

- Fale com vigor, entusiasmo e muita presença;

- Articule correctamente as palavras mas não exagere nos movimentos do rosto e

músculos da face;

- Fale sem esforço mas para ser ouvido por toda a plateia;

- Evite falar muito baixo ou muito alto, muito depressa ou devagar;

- Expresse-se com objectividade e clareza;

- Seja sincero e convicto no que diz;

- Desperte o interesse da plateia com bons argumentos, bom vocabulário;

- Não tenha medo do silêncio, das pausas. São recursos importantes para enfatizar o

assunto e dar espaço à plateia, para reflectir. A pausa não é ausência de texto. Serve

para valorizar o que veio antes e preparar o locutor para o que virá a seguir;

- Varie o ritmo da sua apresentação.

Aquecimento vocal

A voz é a grande ferramenta para a comunicação verbal, mas quando usada de forma

inadequada, pode trazer prejuízos na qualidade do trabalho e problemas de saúde. Para cuidar

da sua voz e comunicar correcta e adequadamente, deverá realizar o aquecimento vocal. Este

consiste no uso de técnicas conducentes à preservação e à resistência da voz do locutor.

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O primeiro cuidado que se deve tomar para que a voz adquira a qualidade desejada

consiste em respirar correctamente. Uma respiração adequada é fundamental para quem usa a

palavra. A perda do fôlego acarreta a diminuição do volume da voz, tornando ininteligível aos

ouvintes o que diz o locutor.

Respiração

A respiração é o principal mecanismo biológico na produção da voz. Os pulmões

produzem o ar, indispensável à produção do som vocal. As duas fases para o fenómeno da

respiração são as seguintes:

1) Inspiração - Entrada do ar para os pulmões, através das fossas nasais (o nariz);

2) Expiração - Saída do ar dos pulmões. Enquanto o ar sai dos pulmões, as cordas vocais

vibram, emitindo sons. A boca e as fossas nasais agem como caixas-de-ressonância.

Vamos aprender a respirar:

Antes de mais, deverá ter uma postura corporal adequada, propícia à emissão de voz,

para a qual existem regras e técnicas próprias. Por norma, e dependendo do tipo de voz, o

corpo deve ter uma forma erecta, tendo em atenção a boa colocação da cabeça, pescoço e

tronco.

- Inspire suavemente pelo nariz, direccione o ar para a região torácica inferior.

- Encha a região superior do tórax de ar (sem elevar os ombros) e faça uma pequena

pausa de 3 segundos.

- Expire pela boca, relaxando o tórax.

Nota: Pode fazer o mesmo exercício alterando a região superior do tórax para a do

abdómen.

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Relaxamento

Vamos aprender exercícios de relaxamento:

Cabeça - Com os olhos fechados, comece por massajar a cabeça com as pontas dos

dedos (lavar a cabeça), ao mesmo tempo elimine todo e qualquer pensamento. Massaje

todo o rosto (amassar o rosto).

Pescoço - Deitar a cabeça sobre um ombro. Depois, lentamente, deite-a sobre o outro

ombro.

Fazer o desenho de meia-lua com a cabeça.

Ombros - Gire um ombro de frente para trás. Faça este movimento 3 vezes.

Faça o mesmo movimento com o outro ombro. Em seguida faça-o com os dois ombros

ao mesmo tempo.

Articulação

Vamos trabalhar a articulação:

Faça movimentos mastigatórios (imaginando ter aproximadamente 5 pastilhas

elásticas).

Provoque um bocejo, produzindo juntamente um som bem relaxado.

Inspire pelo nariz, solte o ar vibrando os lábios, e em seguida produza “uai”.

Estale a língua.

Faça beicinho alternado com um sorriso de boca fechada.

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Os trava-línguas são óptimos recursos para trabalhar a dicção.

Deve produzi-los de forma tranquila e articulada:

“Xuxa, a Sacha fez xixi no chão da sala.

Três pratos de trigo para três tigres tristes.

A aranha arranha a rã, a rã arranha a aranha.

Nem a aranha arranha a rã, nem a rã arranha a aranha.”

“Larga a tia, largatixa!

Lagartixa, larga a tia!

Só no dia que sua tia

Chamar largatixa

De lagartixa”

Dicção

Agora, vamos trabalhar a dicção:

Varie as inflexões das frases seguintes, de acordo com o sentimento sugerido:

Orgulho……………………Quem manda aqui sou eu!

Cólera………………………Sai da minha frente!

Reflexão…………………..Vamos ter calma...

Excitação………………….Vamos depressa!

Calma………………………Tem tempo, já vou...

Alvoroço…………………..Incêndio! Fujam rápido!

Tranquilidade…………..Isso é um boato...

Alívio……………………….Graças a Deus!

Amor……………………….Quero-te muito, amor!

Alegria…………………….Como estou contente!

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Comando…………………Silêncio!

Pedido……………………..Por favor, silêncio.

Admiração……………….Que maravilha!

Inconsciência…………..O que está feito, está feito.

Ameaça…………………..Se não estudar, será reprovado!

Derrota……………………Perdemos.

Regras gerais para uma boa dicção/pronúncia:

- As palavras devem ser pronunciadas em todas as suas sílabas;

- Observar os sons que têm mais dificuldade em pronunciar, para exercita-los com mais

frequência;

- Exercitar periodicamente a pronúncia, a partir de exercícios de pronúncia.

A voz é a forma mais comum de comunicação, sendo da maior importância nas relações

sociais e na vida profissional. Só usando a voz de uma forma correcta e tendo cuidados com a

sua utilização é possível manter uma ‘voz saudável’ durante toda a vida.

Devemos cuidar da nossa voz porque ela é um sinal de saúde. Se ela não está bem pode

indicar que a estamos a usar demasiado ou de uma forma errada. Assim, devemos ter alguns

cuidados para manter a voz sempre bonita, limpa e saudável, prevenindo deste modo as

alterações e doenças vocais. Devemos ‘ouvir a nossa voz’, ou melhor, ‘ouvir o que a nossa voz

nos quer dizer’.

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CONCLUSÃO

O ensino artístico proporciona uma oportunidade inigualável de expressão individual, de

aprofundamento e incentivo à criatividade, pelo que o indivíduo tem a possibilidade de

experimentar, conhecer os seus limites, fragilidades e potencialidades. Expressa-se e reinventa-

se. Reforça e constrói a sua auto-estima, criatividade e imaginação.

Através da expressão dramática, corporal, vocal e verbal o indivíduo exprime

sentimentos, ideias e emoções. Não há comunicação sem expressão.

A grande vantagem, destas expressões, é a possibilidade que em si encerra de utilizar

componentes de várias artes, enriquecendo, portanto, a aprendizagem e a experimentação.

Implica um trabalho sobre o corpo, a voz, o pensamento / imaginação, o espaço físico, os

objectos e os sentimentos/emoções. Para além disto, pressupõem a construção de sinais e

discursos (verbais ou não), que visam a comunicação e o trabalho em grupo, e enquadram o

indivíduo na sua relação com o Mundo e com a Sociedade.

A experiência destas expressões com tudo o que a elas estão associadas, poder-se-á

revelar de uma importância crucial no processo de autoconhecimento, de equilíbrio emocional

e psicológico e de respeito pelo outro.

Falamos, portanto, de um espaço e de uma unidade formativa que se dedica ao

desenvolvimento equilibrado da personalidade da pessoa, visando, assim, uma educação total.

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