12 tribulação e a esperança da igreja

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A TRIBULAÇÃO PREDITA E A ESPERANÇA PARA A IGREJA O Novo Testamento ensina que a Igreja, a despeito de esperar apostasia e tribulação, deveria olhar adiante para a bendita esperança do segundo aparecimento de Cristo. Ele retornará do céu com a glória divina para ressuscitar os que morreram Nele, para salvar os justos vivos e destruir o opressivo anticristo: ...aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação (Hebreus 9:28). Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, enfie nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4:16, 17. ...se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que,vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alivio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder (2 Tessalonicenses 1:6, 7. ...então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda (2 Tessalonicenses 2:8). Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória (1 Coríntios 15:51-54). De acordo com a escatologia dispensacionalista, a segunda vinda de Cristo deve ser dividida em dois eventos: o arrebatamento secreto da Igreja, que pode acontecer a qualquer momento, seguido por sete anos,

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A TRIBULAÇÃO PREDITA E A ESPERANÇA PARA A IGREJA

O Novo Testamento ensina que a Igreja, a despeito de esperar apostasia e tribulação, deveria olhar adiante para a bendita esperança do segundo aparecimento de Cristo. Ele retornará do céu com a glória divina para ressuscitar os que morreram Nele, para salvar os justos vivos e destruir o opressivo anticristo:

...aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação (Hebreus 9:28).

Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, enfie nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4:16, 17.

...se, de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que,vos atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alivio juntamente conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder (2 Tessalonicenses 1:6, 7.

...então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda (2 Tessalonicenses 2:8).

Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória (1 Coríntios 15:51-54).

De acordo com a escatologia dispensacionalista, a segunda vinda de Cristo deve ser dividida em dois eventos: o arrebatamento secreto da Igreja, que pode acontecer a qualquer momento, seguido por sete anos,

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejaao fim do qual ocorre a segunda vinda de Cristo para destruir o anticristo. Durante esses sete anos intermediários, a grande tribulação para o povo judeu (o Israel nacional) tomará lugar. No arrebatamento, antes dessa tribulação, Cristo vem apenas para os santos (ver João 14:3). Na gloriosa parousia ou epiphaneia (aparecimento), Cristo vem com os santos (ver 1 Tessalonicenses 3:13). Para encurtar, este é o programa de eventos ensinado pelos dispensacionalistas pré-tribulacionistas.

Se o programa não está baseado em uma exegese bíblica responsável, mas imposto sobre as Santas Escrituras por uma doutrina preconcebida da separação entre Israel e a Igreja, então uma comparação cuidadosa de Escritura com Escritura deveria estabelecer a verdadeira bendita esperança do povo de Cristo e sua relação com a tribulação final. Tão logo for determinado pela Bíblia que o "arrebatamento" e o "glorioso aparecimento" não são dois eventos separados, mas um único advento glorioso, a doutrina de um iminente arrebatamento pré-tribulacionista, demonstrar-se-á uma concepção defectiva e uma esperança mal orientada.

A Bendita Esperança da Igreja

O Novo Testamento emprega três termos gregos para descrever o segundo advento de Cristo: parousia (vinda), apocalypsis (revelação) e epiphaneia (aparecimento).

A parousia de Cristo é descrita em 1 Tessalonicenses 3:13; 4:15-17; 2 Tessalonicenses 2:8 e Mateus 24:27. Uma comparação dessas passagens torna claro uma coisa: a parousia de Cristo redundará não apenas no arrebatamento da Igreja e na ressurreição dos justos que então estiverem mortos, mas também na destruição do anticristo, o homem do pecado. Em 2 Tessalonicenses 2:8 Paulo fala da "manifestação de sua vinda'' (literalmente: "a epiphaneia de sua parousia"), assim apontando para a parousia como um evento dramático e glorioso. Esse glorioso aparecimento de Cristo é, para o apóstolo, a bendita esperança da Igreja:

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igreja"aguardando a bendita esperança e a manifestação [epiphaneia] da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tito 2:13). Cristo até mesmo comparou a Sua parousia ao aparecimento do relâmpago que sai do oriente e se mostra até no ocidente, enfatizando novamente um evento visível que será evidente a todas as pessoas (ver Mateus 24:27).

Nenhum traço secreto, invisível ou instantâneo de arrebatamento da Igreja será encontrado no Novo Testamento. Pelo contrário, 1 Tessalonicenses 4:15-17 sugere o próprio oposto: "palavra de ordem", "voz do arcanjo", "a trombeta de Deus", "os mortos em Cristo ressuscitarão" (ênfase acrescentada). Os santos vivos serão "tomados" (arrebatados) juntamente com os santos ressurretos para encontrar com o Senhor nos ares. Nenhuma palavra sobre segredo ou invisibilidade, ou mesmo acerca de arrebatamento instantâneo é encontrado aqui. Paulo, em 1 Coríntios 15, revela o mistério de que a Igreja será "transformada" da mortalidade para a imortalidade "num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta" (verso 52). É a transformação que será instantânea, de acordo com Paulo, não o arrebatamento da terra para os ares ou para o céu. A parousia de Cristo será o evento mais dramático que sacudirá a terra na história da humanidade – a salvação para todos os santos, em conjunto com o juízo do mundo impenitente e do anticristo – e ocorrerá por ocasião da última trombeta no tempo exato indicado por Deus (ver versos 51-55; Atos 1:6, 7).

A destruição dos ímpios perseguidores da Igreja de Cristo também tomará lugar no apocalypsis ou na revelação de Jesus Cristo em glória (ver 2 Tessalonicenses 1:6, 7). É através dessa revelação que a Igreja receberá alívio ou repouso de sua perseguição, não em algum "arrebatamento secreto" sete anos antes da gloriosa vinda de Cristo "quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder" (verso 7).

Paulo ensinava aos crentes em Corinto que eles deveriam aguardar ansiosamente "a revelação [apocalypsis] de nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Coríntios 1:7). Isso faz do glorioso apocalypsis ou revelação, a

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejabendita esperança da Igreja. Esse evento toma lugar "no Dia de nosso Senhor Jesus Cristo" (verso 8). Pedro também chama a esperança de salvação da Igreja, não um arrebatamento, mas uma revelação da glória de Jesus Cristo (ver 1 Pedro 1:7, 13; 4:13). Por isso, chegamos à conclusão de que o Novo Testamento não faz distinção entre a parousia, o apocalypsis e a epiphaneia de Jesus Cristo. Estes termos significam um único e indivisível advento de Cristo para trazer a salvação e a gloriosa imortalidade a todos os crentes e juízo aos ímpios perseguidores.

O vocabulário do Novo Testamento não admite a idéia de duas vindas ou duas fazes da vinda de Cristo, separadas por um período de sete anos de tribulação. Ele substancia apenas um aparecimento de Cristo em glória, a fim de resgatar a Igreja do anticristo no final da tribulação.1

A inspiração declara que Ele aparecerá uma "segunda vez" (Hebreus 9:28), não "duas vezes mais."

A Tribulação Profetizada para Israel e para a Igreja

De que maneira, então os dispensacionalistas chegaram à idéia do "arrebatamento secreto" a partir da Bíblia? Basicamente, isso é o resultado de uma hermenêutica fundamentada no literalismo preconcebido para "Israel". C. C. Ryrie explica: "A distinção entre Israel e a Igreja leva à crença de que esta será tomada da terra antes do começo da tribulação (a qual em um sentido mais amplo concerne a Israel)".2

Quando alguém pergunta porque o tempo de tribulação diz respeito apenas ao Israel literal ou aos judeus, e não à Igreja, J. F. Walvoord afirma que a grande tribulação é "um tempo de preparação para a restauração de Israel (Deut 4:29, 30; Jer 30:4-11)".3

Mas, qual a natureza desse tempo de preparação de acordo com Deuteronômio 4:29 e 30:1-10? Uma grande tribulação? Não! Esse é um tempo de buscar a Jeová de todo coração e com uma nova obediência aos Seus mandamentos! Moisés fez dessa preparação espiritual a condição explícita para o retorno à terra prometida e à teocracia restaurada quando

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A Tribulação Predita e a Esperança para a IgrejaIsrael estava em angústia por causa da diáspora. A garantia de que Deus sustentaria um remanescente fiel e espiritual durante o exílio babilônico, o tempo da tribulação de Jacó (ver Jeremias 30:7), não negou ou obscureceu o pré-requisito divino de um verdadeiro arrependimento antes que tal remanescente pudesse ser restaurado à terra de benção e prosperidade (ver Deuteronômio 30:1-10).

Um exame cuidadoso de Jeremias capítulo 30 e 31, revela a antologia bem conhecida das promessas de restauração das doze tribos do cativeiro assírio-babilônico. Essas passagens incluem a promessa do novo concerto de que Jeová proveria um novo espírito de obediência voluntária no coração de um Israel e de um Judá arrependidos (ver Jeremias 31:31-34, 18, 19; 30:9). Tal foi a natureza espiritual do tempo de preparação de Israel na tribulação sofrida em Babilônia antes de sua restauração. A Bíblia não apresenta um programa diferente para Israel hoje ou no futuro. Essas promessas divinas condicionais são imutáveis e irrevogáveis para Israel até o juízo [mal.

Então, por que alguns dos principais escritores dispensacionalistas inferem que a Igreja de Cristo não passará pela tribulação ou repressão final infligida pelo anticristo? Por que a Igreja não necessita desse tempo de preparação para a sua glorificação? Walvoord declara, "Nenhuma passagem do Novo Testamento sobre a tribulação menciona a Igreja (Mat. 24:15-30; 1 Tess. 1:9-10; 5:4-9; Ap. 4:19)".4 Não obstante, certamente todas essas passagens são inquestionavelmente dirigidas à Igreja de Cristo! O argumento do silêncio nada prova. R. H. Gundry apropriadamente responde:

A Igreja não é mencionada como tal em Marcos, Lucas, João, 2 Timóteo, Tito, 1 Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2 João ou em Judas e nem até o capítulo 16 de Romanos. A menos que estejamos preparados para relegar a Igreja, a qual compõe uma grande porção do NT, a um limbo de irrelevância, não podemos fazer da menção ou da omissão do termo "Igreja" um critério para determinar a aplicação de uma passagem aos santos da era presente.5

Além do mais, o Apocalipse de João mostra que uma incontável multidão de crentes no Senhor Jesus Cristo passarão e virão "da grande

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejatribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro" (Apocalipse 7:14). Esses "santos em tribulação" têm sofrido intensamente por causa de Cristo (Apocalipse 7;16, 17). Podemos assegurar que esses cristãos são apenas da raça judaica, quando João não faz diferença entre os santos e os cristãos em tribulação? Ele até mesmo afirma explicitamente que esses crentes vitoriosos vêm "de todas as nações, tribos, povos e línguas" (Apocalipse 7:9). Essa "grande tribulação" não se refere à ira punitiva de Deus sobre o impenitente, mas à feroz perseguição aos santos pelo anticristo e o falso profeta – resumindo, refere-se á ira de Satanás (ver Apoc. 12:17; 13:15-17; 14:12).

Jesus advertiu antecipadamente aos Seus seguidores que eles teriam aflições ou tribulação por Sua causa e que seriam até mesmo assassinados por causa do fanatismo religioso (ver João 16:2, 33). À igreja em Esmirna, o Cristo exaltado enviou esta consolação: "Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar cm prisão alguns dentre vós, para serdes postos á prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até á morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (Apocalipse 2:10; cf. 1:9; Atos 14:22; Romanos 5:3).

Para escapar da interpretação natural e normal dos santos como a Igreja de Cristo em Apocalipse 6-20, as palavras do céu a João em Apocalipse 4:1, "Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas", são interpretadas como ensinando o arrebatamento da Igreja da terra para o céu. Mas tal exegese forçada é rejeitada até mesmo por alguns escritores dispensacionalistas, tais como R. H. Gundry Ele sustenta que a exegese literal requer que aquelas palavras sejam aplicadas ao próprio João, o Revelador, e que a frase "depois destas coisas" (meta tauta) se refere à seqüência na experiência pessoal de João ao receber uma nova visão. Depois de sua visão na terra, ele é chamado para ter uma nova visão no céu. Não há nenhuma referência a uma sucessão de tempos ou dispensações no cumprimento dessas visões.6

Por isso, concluímos que a Igreja sob Cristo será submetida a ardentes tribulações, mas será vitoriosa e subsistirá à grande tribulação

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejafinal do anticristo (ver 1 Tessalonicenses 3:3; 1 João 2:18; 4:3; (Mateus 16:18). Paulo escreve que a Igreja está destinada a essas provas (ver 1 Tessalonicenses 3:3), mas adiciona que "Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Tessalonicenses 5:9). Conseqüentemente, precisamos distinguir entre a tribulação ocasionada pela perseguição do anticristo e a ira punitiva de Deus designada para o mundo impenitente.

Durante as sete pragas de Apocalipse 16, a Igreja na terra recebe a promessa de Cristo de proteção divina, assim como o antigo Israel gozou a proteção de Deus quando Ele atacou o Egito com as dez pragas (ver Apocalipse 3:10, 11; 14:20; 16:15; Êxodo 11:7). A Igreja de Cristo sofrerá perseguição durante a tribulação final infligida pela "Babilônia" anticristã, mas ela não sofrerá a ira divina. Essa ira será derramada do céu sobre a ímpia Babilônia durante a crise final, enquanto o povo de Deus estiver sendo protegido e resgatado pelo glorioso segundo advento de Cristo (ver Apocalipse 16; 18:14; 19:11-21). O Apocalipse não menciona nenhum arrebatamento da Igreja pré-tribulacionista, mas ao contrário disso, apresenta uma segunda vinda de Cristo exclusivamente pós-tribulacionista.

Esta conclusão é confirmada em outras passagens apocalípticas do Novo Testamento por Cristo e Paulo que retratam a inegável ordem da grande tribulação, primeiro para a igreja, seguida pela sua libertação no glorioso aparecimento de Cristo. Uma parousia pré-tribulacionista ou arrebatamento secreto da Igreja, não constitui o ensino do Novo Testamento (nem explícita e nem implicitamente), mas é baseada, ao contrário, na doutrina preconcebida de uma separação entre os israelitas e os cristãos. Daí, a separação forçada sobre os textos por causa da doutrina.

Qualquer separação básica entre os povos do velho e do novo concerto, tem validade apenas se houver uma separação bíblica entre Jeová e Cristo, entre o Redentor de Israel e o Redentor da Igreja. Contudo, Cristo reivindicou enfaticamente ser o Pastor de ambos os

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejarebanhos, que veio para ajuntar tanto os judeus quanto os gentios em um rebanho, com um destino - a nova Jerusalém (ver João 10:14-16; Apocalipse 21).

A Promessa de Cristo de Proteção na Tribulação

Cristo nunca prometeu a Sua Igreja um arrebatamento pré-tribulacionista deste mundo. Pelo contrário, em Sua súplica ao Pai Ele disse, "Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal" (João 17:15). É claro o contraste entre um arrebatamento "do mundo" e a proteção "do mal" dentro do mundo. Cristo explicitamente rejeita qualquer pensamento de um arrebatamento, secreto ou público que remova Sua Igreja da terra enquanto permitindo que o mundo continue a sua existência apenas com os ímpios. Ele requer algo mais: Deus os protegerá do [terein ek, "guardar", "proteger do'] mal. Jesus explicou a necessidade do poder protetor de Deus: "Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome" (verso 11). O poder mantenedor ou protetor de Deus é necessário porque a Igreja existe na esfera do maligno. Em Apocalipse 3:10, Cristo promete à Igreja de Filadélfia: "Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra."

R. H. Gundry comenta visivelmente acerca desses textos, tanto em João quanto em Apocalipse: 'A implicação evidente é que se eles se ausentam do mundo com o Senhor, guardá-los não seria necessário. Da mesma maneira, se a Igreja se ausentasse da hora da provação, guarda-Ia não seria necessário".7

J. F. Walvoord discorda. Ele argumenta: "A idéia do grego [terein ek] é 'guardar de', não 'guardar em', assim à igreja de Filadélfia é prometido livramento antes que venha a hora [da provação]".8 Contudo, este apelo ao significado do grego é refutado pelo uso que Jesus faz do

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejamesmo verbo grego em João 17:15, onde Ele coloca esta expressão ("guardar de") em total contraste com a idéia de remover a Igreja do mundo. Ao invés disso, Cristo promete proteção que resulta em um resgate vitorioso através do poder mantenedor de Deus. Em relação á grande e incontável multidão perante o trono de Deus, um dos anciãos falando a João, declara, "São estes os que vêm da grande tribulação" (Apocalipse 7:14). A ênfase não está no período de tribulação, mas na emergência dos santos da referida tribulação.

Dizer, como faz Walvoord, que as promessas de Cristo em Apocalipse 3:10 indicam um arrebatamento da Igreja antes da hora ou tempo de tribulação, é alterar a ênfase de Cristo quanto à experiência da Igreja durante aquele tempo para o próprio período de tribulação. Porém, tal distinção racionalista fracassa em perceber o idioma no qual uma "hora" se refere não a mera passagem do tempo, mas a uma proeminente experiência ou prova (ver João 2:4; 7:30; 8:20; 12:23, 27; 13:1).9

Cristo promete guardar a igreja de Filadélfia da hora escatológica da provação. Se isso indica um arrebatamento da Igreja pré-tribulacioinista para fora do mundo, por que então as promessas divinas similares ao antigo Israel concernente ao exílio babilônico não indicavam um arrebatamento pré-tribulacionista da provação babilônica? "É tempo de angústia pata Jacó; ele, porém, será livre dela" (Jeremias 30:7). Este texto promete meramente livramento do tempo de angústia de Jacó depois de Israel ter ido para o exílio. Nem Apocalipse 3:10 requer um arrebatamento pré-tribulacionista para a igreja de Filadélfia, mas oferece proteção divina durante o tempo de probante tribulação e perseguição.

A Parusia Pós-tribulacionista de Cristo em Mateus 24

Um dos principais dogmas do dispensacionalismo é a doutrina da iminência do arrebatamento secreto e da vinda de Cristo, "isto é, ela pode acontecer em qualquer dia, a qualquer momento".10 Gundry explica

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejade maneira mais completa: "Pelo senso comum, iminência significa que, tanto quanto saibamos, nenhum evento predito irá necessariamente proceder a vinda de Cristo. O conceito incorpora três elementos essenciais: surpresa, imprevisto ou incalculabilidade e uma possibilidade de ocorrência a qualquer momento". 11

Obviamente, tal doutrina da iminência cria uma tensão insuportável com admoestações para vigiar os sinais apocalípticos que anunciam a aproximação do dia do Senhor. Walvoord até mesmo nos coloca perante o dilema de esperar pela vinda de Cristo pré-tribulacionista ou "pelos sinais". Ele declara: "A exortação para esperar 'o glorioso aparecimento de Cristo para os Seus' (Tito 2:13) perde o seu significado se a tribulação deve intervir primeiro. Os crentes nesse caso deveriam esperar pelos sinais."12 A idéia de iminência a qualquer momento parece ser incompatível com a crença em uma vinda de Cristo pós-tribulacionista.

Contudo, uma atitude expectante em relação ao retorno do Senhor está em completa harmonia com as admoestações bíblicas para observar os sinais indicados. Lucas, escrevendo para a Igreja gentílica, transmite a predição de Cristo de eventos futuros desde a queda de Jerusalém até o Seu retorno, incluindo sinais no sol, na lua e nas estrelas, bem como condições caóticas e tribulação em todo o mundo (ver Lucas 21). Cristo conclui: "Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Lucas 21:28). Ele adverte a Igreja que ela deve esperar pela Sua vinda enquanto observa os sinais preditos e experimenta aflição. Tais sinais não se harmonizam com a doutrina da iminência, mas estimulam uma atitude de expectativa quanto a parousia de Cristo depois da tribulação.

Pode parecer uma surpresa para muitos aprender que, exceto os versos 40 e 41, os dispensacionalistas aplicam todo o discurso profético de Jesus em Mateus 24 ao Israel nacional e não á Igreja cristã! Walvoord afirma, "Os remanescentes piedosos da tribulação são retratados como israelitas, não membros da Igreja."13 Contudo, os israelitas crentes em Cristo tornam-se parte da Igreja através do batismo

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejana Sua morte. A fim de eliminar a força dessa conclusão, o dispensacionalismo simplesmente declara todo o capitulo aplicável apenas aos judeus. Dessa forma, segundo esta visão, "este evangelho do reino" (verso 14) se refere à restauração do reino nacional de Davi; a tribulação dos santos (versos 15-22), aplica-se apenas aos crentes judeus. Conseqüentemente, o arrebatamento do eleito na parousia de Cristo (verso 31) envolve apenas os israelitas crentes. O contexto de Mateus 24, não obstante, claramente indica que Cristo dirigiu o Seu discurso profético aos Seus apóstolos que são inquestionavelmente representantes de Sua Igreja e não do Israel nacional. Por conseguinte, todo o discurso de Mateus 24, relaciona-se com a igreja, e os santos na tribulação predita ali, pertencem à Igreja da qual os apóstolos foram as primeiras testemunhas. Isso é confirmado pelo fato de que tanto Marcos quanto Lucas repetem o discurso de Cristo para a Igreja gentílica (Marcos 13; Lucas 21). O "evangelho do reino" é exatamente aquele que Paulo pregou tanto aos gentios quanto aos judeus (ver Atos 20:25; 28:23, 31; Colossenses 1:13).

A perspectiva profética de Cristo de eventos futuros em Mateus 24 não contém um arrebatamento pré-tribulacionista da Igreja. Pelo contrário, o ajuntamento dos eleitos pelos anjos de Deus na parousia de Cristo, ao som da trombeta (verso 31), é inequivocamente o arrebatamento da igreja e vem depois da tribulação. O texto, "E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos", refere-se tanto aos judeus quanto aos gentios cristãos na Igreja evangélica que será congregada na segunda vinda de Cristo, depois da tribulação precedente (Mateus 24:31; cf. Lucas 21:28). O termo geral "eleito" não está restrito aos judeus (ver 1 Pedro 1:1; 2:9). E notável que o dispensacionalismo quer aplicar Mateus 24 exclusivamente ao Israel nacional e ainda destacar os versos 40 e 41 como aplicáveis ao arrebatamento da Igreja. Mas se as expressões desses versos forem associadas, "um será tomado", pelo arrebatamento da Igreja (que tem apoio lingüístico em João 14:1-3, onde a raiz do verbo

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejaparalambanein é a mesma daquela que é usada em Mateus 24:40, 41), esse arrebatamento é ainda descrito em ligação com o arrebatamento dos eleitos (versos 31). Em outras palavras, ele se refere à parousia de Cristo pós-tribulacionista. Por isso, concordamos com a conclusão de G. E. Ladd, "O arrebatamento da Igreja antes da Tribulação é uma pressuposição; ele não foi ensinado no Discurso do Monte das Oliveiras".14

Como Cristo Aplica a "Abominação" Predita em Daniel 9?

As palavras de Cristo em Mateus 24:15-30 predizem uma perseguição religiosa dos judeus no moderno Estado de Israel dentro de sete anos depois que a Igreja for arrebatada da terra para o céu? Os dispensacionalistas dizem que sim, apontando para as referências do Salvador ao "abominável da desolação" e á "grande tribulação".15 De acordo com A. J. MacClain, Cristo colocou o "assolador" que causa "abominações" (de Daniel 9:27) no futuro, no fim do tempo, "pouco antes de Sua segunda vinda em glória" (Mateus 24:29, 30).16

J. F. Walvoord concorda que em Mateus 24:15-22, Jesus "tinha em mente a predição do clímax da septuagésima semana ou setenta setes de anos preditos para Israel em Daniel 9:27".17 E uma nota sobre Mateus 24:15-20 na New Scofield Reference Bible fala de "uma futura crise em Jerusalém depois da manifestação da 'abominação".18

As palavras de Jesus em Mateus 24 realmente se referem a uma futura tribulação dos judeus, depois que a Igreja houver sido arrebatada para o céu? Essa posição pode ser sustentada por uma exegese objetiva? A exegese dispensacionalista de Mateus 24 é um exemplo chocante de um futurismo dogmático que nega a função contemporânea dos Evangelhos Sinóticos – Mateus, Marcos e Lucas. O discurso profético de Jesus é relatado por todos três e por isso deveria ser estudado à luz dos três relatos.

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A Tribulação Predita e a Esperança para a IgrejaContudo, o dispensacionalismo exclui Lucas de sua interpretação

do discurso que Cristo fez no Olivete, porque o relato de Lucas não favorece a sua exegese do "abominável da desolação". Muitos estudantes do Novo Testamento consideram a narrativa de Lucas como historicamente mais completa do que os primeiros dois Evangelhos. Lucas é o primeiro em extensão e mais completo.

A New Scofield Reference Bible chega a ponto de declarar que as palavras de Jesus em Lucas 21:20-24 – o inegável paralelo de Mateus 24;15-22 – predizem o próprio oposto do que o que Ele diz no relato de Mateus"

A passagem em Lucas se refere em termos expressos à destruição de Jerusalém que foi cumprida por Tito em 70 A.D.; a passagem em Mateus alude a uma crise futura em Jerusalém depois da manifestação da 'abominação'...No primeiro caso, Jerusalém foi destruída.19

Tal dualismo é o resultado de uma exegese que rompe a unidade orgânica dos Evangelhos Sinóticos a fim de manter um conceito dogmático. R. H. Gundry reconhece que é irresponsável impor uma aplicação judaica ao Evangelho de Mateus – ao invés de á igreja – ou relacionar Mateus 24 a uma futura dispensação, depois que a Igreja houver sido arrebatada da terra.20 Ele declara: "O discurso do Olivete aparece substancialmente na mesma forma em Marcos e de alguma maneira, de forma alterada em Lucas. Conseqüentemente, ele pode ainda se relacionar à Igreja destes evangelhos."21 Além do mais, Cristo dirigiu o discurso aos Seus apóstolos que representavam a Igreja, evidentemente, ao invés da nação judaica.

Todos os três evangelistas sinóticos relatam a advertência de Cristo de que antes do aparecimento da abominação em Jerusalém, os cristãos palestinos deveriam experimentar as provações de falsos cristos, de guerras e rumores de guerras, de fomes e terremotos (ver Mateus 24:4-8; Marcos 13:5-8; Lucas 21:8-11). Estas predições se tornaram realidades históricas entre 35 A.D. e 55 A.D.22 Embora Cristo tenha enfatizado, "tudo isto é o princípio das dores" (Mateus 24:8; cf. Marcos 13:8).

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A Tribulação Predita e a Esperança para a IgrejaCristo então mencionou uma segunda espécie de provação:

perseguição tanto pelos judeus quanto pelos gentios, traição pelos parentes e ódio por parte de todos por causa de Seu nome (ver Mateus 24:9-14; Marcos 13:9-13; Lucas 21:12-19). Bo Reicke faz um relato detalhado do cumprimento de todos essas provas antes da destruição de Jerusalém em 70 A.D. e declara, "A situação pressuposta por Mateus corresponde ao que é conhecido acerca do Cristianismo na Palestina entre o ano 50 A.D. e 64".23 E em todas essas sublevações Paulo afirmou que o evangelho "foi pregado a toda criatura debaixo do céu" (Colossenses 1:23). Esses fatos nos permitem concluir que Mateus 24:1-14 e seus paralelos em Marcos 13:1-13 e Lucas 21:5-19 encontraram um cumprimento literal nos anos entre a morte de Cristo e a destruição de Jerusalém.24

Então, qual era o propósito de Cristo ao dar todos esses sinais, como "o princípio das dores"? Foi para advertir os Seus discípulos contra os falsos profetas que declarariam, "O tempo está próximo"! (Lucas 21:8; NVI). Ele alertou aos Seus próprios discípulos quanto à verdade de que o Seu segundo advento não ocorreria logo: "mas o fim não será logo" (Lucas 21:9). Quando as legiões romanas sitiaram a Jerusalém, os judeus zelotes ficaram inflamados pelas predições do resgate apocalíptico e mantiveram sua resistência com a falsa expectativa de que Deus livraria a cidade de maneira sobrenatural, como havia feito no tempo do rei Ezequias (701 A.C).25 Contra esses falsos profetas Cristo advertiu aos Seus discípulos para não esperarem o Seu retorno em glória por ocasião da destruição de Jerusalém. Quando eles vissem a abominação da desolação no lugar santo, compreenderiam este fato como o sinal para fugir imediatamente da cidade e da Judéia. Não deveriam esperar que Deus livrasse a Jerusalém como os profetas Joel (capítulo 3), Daniel (12:1) e Zacarias (capítulos 12 e 14) haviam antevisto. A razão era clara: essas profecias apocalípticas pressupunham um remanescente fiel de Israel no Monte Sião. Mas nesse tempo, o remanescente fiel era o rebanho messiânico que foi chamado para sair da

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejacidade condenada. Jerusalém seria destruída de acordo com a profecia de Daniel 9:26, 27, porque a cidade havia rejeitado o Messias como o Seu Deus do concerto. Em Mateus 24, Jesus aponta especificamente para a profecia de Daniel sobre a ruína de Jerusalém:

Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes...Orai para que a vossa fuga não se dê no inverno, nem no sábado; porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais (Mateus 24:15-21).

Aqui não há nenhuma perspectiva pata o livramento de Jerusalém "pela intervenção divina, como reivindica a Scofield Bible. Exatamente o oposto: o remanescente fiel deve fugir de Jerusalém e da Judéia quando virem o invasor abominável entrando na terra de Israel. Fugir por quê? Porque o desolador romano funcionou como o vingador decretado por Deus sobre a cidade e o templo, devido à rejeição do Messias e dos Seus apóstolos (ver Daniel 9:26, 27 e Lucas 21:22).

Uma comparação minuciosa do contexto paralelo nos Evangelhos Sinóticos confirma essa conclusão além de qualquer dúvida. O relato de Marcos da advertência de Jesus , diz:

Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes... Orai para que isso não suceda no inverno. Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá (Marcos 13:14-19).

O Evangelho de Lucas explica de maneira mais elaborada para Teófilo (1:3) a versão de Marcos da profecia de Cristo:

Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito... Porque haverá grande aflição na terra e ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles (Lucas 21:20-24).

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A Tribulação Predita e a Esperança para a IgrejaParece impossível interpretar a descrição de Lucas como se

referindo a qualquer outra coisa a não ser a destruição de Jerusalém, que logo se tornou realidade histórica em 70 A.D. Mesmo a New Scofield Reference Bible admite isso, como temos visto. Embora, as inegáveis passagens paralelas em Mateus 24:15vv e Marcos 13:14vv (todas as três passagens sinóticas começam com "Quando, pois, virdes...") são explicadas pelos dispensacionalistas como se referindo a uma dispensação diferente e futura quando a Igreja não estará mais na terra. Realmente, a Scofield Bible encontra dois diferentes cercos de Jerusalém nas mesmas palavras do discurso de Cristo no Monte das Oliveiras!

Dois cercos de Jerusalém estão em vista no discurso do Olivete, um cumprido em 70 A.D., e o outro ainda para se cumprir no fim do mundo... As referências em Mateus 24:15-28 e Marcos 13:14-26 devem ser o cerco final, quando a cidade será tomada pelos inimigos, mas libertada pelo retorno do Senhor à terra (Ap. 19:11-21; Zac. 14:2-4).26

Aparentemente tal interpretação das palavras de Cristo é guiada, não por uma exegese que leva em consideração o contexto dos Evangelhos Sinóticos, mas por um futurismo preconcebido que força um sistema de dispensacionalismo às palavras de Cristo. Essa interpretação está dizendo que Marcos e Mateus não escreveram nada acerca da iminente desolação de Jerusalém que tomou lugar em 70 A.D., enquanto Lucas não escreveu nada a respeito da abominação e da tribulação "final" que o anticristo tem em estoque para os judeus "finamente re-ajuntados". Por que então, Lucas que segue em grande medida o relato de Marcos, ignora completamente tal tribulação horrível para os judeus do futuro? Por que ele focaliza exclusivamente a desolação iminente de Jerusalém por Tito e a conseqüente diáspora dos judeus naquele tempo como o cumprimento total da punição divina de Jerusalém (ver Lucas 21:22; cf. Deuteronômio 28:44-59; Daniel 9:26, 27)? Por que Cristo, no Seu discurso do Olivete, dá instruções idênticas acerca da abominação da desolação aos Seus apóstolos para a Igreja? Os exércitos de Roma invadindo a "terra santa" podiam ser vistos por todos na Judéia (ver Mateus 24:15, 16; Marcos 13:14). Tanto Mateus quanto Marcos falam,

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejanão meramente de uma "abominação" vindoura, mas de uma abominação da desolação. Lucas explica aos seus leitores, na maioria gentios, que essa horrível desolação viria a Jerusalém com destruidores exércitos pagãos (ver Lucas 21:20).

Se os três Evangelhos Sinóticos descrevem um e o mesmo evento em relação a Jerusalém – a aproximação da desolação da cidade e do santuário – então Cristo colocou o cumprimento de Daniel 9:26, 27 em 70 A.D., dentro de Sua própria geração (cf. Mateus 24:34; 23:36; Lucas 21:32, 22). A enfática declaração de Lucas de que a destruição de Jerusalém (por Tito em 70 A.D.) foi "para se cumprir tudo o que está escrito" (ucas 21:22) é a confirmação seladora de que a "septuagésima semana" de Daniel cumpriu-se completamente pela missão de Cristo a Israel e pela terrível destruição de Jerusalém pelos romanos.27

G. G. Cohen tem argumentado que a "abominação da desolação" predita não se cumpriu em 70 A.D., porque a "história não revela nenhuma ação pelo general romano Tito que possa ser identificada como a abominação da desolação de Mateus 24:15 ou 2 Tessalonicenses 2:3, 4".28

Mas F. F. Bruce relata que

...quando a área do templo foi tomada pelos romanos e o próprio santuário ainda estava queimando, os soldados trouxeram os seus estandartes legionários para dentro do recinto sagrado, erigiram-nos do lado oposto ar) portão oriental e ofereceram-lhes sacrifícios ali, aclamando a Tito como imperator (comandante ,vitorioso), à medida que prosseguiam...A oferta de tal sacrifício na corte do Templo foi o supremo insulto ao Deus de Israel.29

Compreendido dessa forma, o Salvador substancia o fato de que as Setenta Semanas de Daniel terminam, não numa perseguição dos últimos dias pós Igreja aos judeus em Israel, mas com a rejeição de Cristo e suas conseqüências para Jerusalém.30

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A Tribulação Predita e a Esperança para a IgrejaA Resposta de Paulo à Expectativa da Iminência

Uma confirmação dupla do arrebatamento pós-tribulacionista pode ser encontrada nas palavras de Paulo descrevendo a parousia de Cristo como acompanhada pela "voz do arcanjo, e...a trombeta de Deus" (1 Tessalonicenses 4:16). O único arcanjo mencionado pelo nome na Bíblia é Miguel (Judas 9), que está associado, em Daniel 12:1, 2 com a ressurreição dos santos depois do tempo de angústia ou da tribulação final. Walvoord está suficientemente impressionado com esse testemunho de livramento e ressurreição pós-tribulacionista dos santos do Velho Testamento (cf. Isaías 25:8; 26:14-21) que ele admite "o fato de que a ressurreição dos santos do Velho Testamento acontece após a tribulação."31 Ele se sente compelido, contudo, a divorciar completamente essa ressurreição da trasladação e ressurreição da Igreja, porque "os santos do Velho Testamento nunca são descritos pela frase 'em Cristo".32

Este argumento literalista é insustentável porque Paulo dirige muitas de suas epístolas aos santos, a típica descrição veterotestamentária do povo do concerto divino (cf. l Pedro 2:2), e considera, também, os santos do Velho Testamento como sendo crentes no Messias ou Cristo (ver 1 Coríntios 10:1-4; cf. Hebreus 11: 24-26). A deliberada declaração de Paulo aos Tessalonicenses de que na ocasião do arrebatamento da igreja a voz do Arcanjo (o Defensor de Israel) soará, é uma confirmação suficientemente clara de que a ressurreição dos santos tanto do Velho quanto do Novo Testamento ocorrerá simultaneamente como apenas uma ressurreição (ver João 5:28, 29). Walvoord chama esse argumento de "prova não conclusiva", porém, o que mais Paulo quer dizer ao declarar que a voz do Defensor de Israel, o Arcanjo, será ouvida no arrebatamento e ressurreição da Igreja de Cristo? A declaração adicional de Paulo em 1 Tessalonicenses 4:16 de que "a trombeta de Deus" soará naquela ocasião é um apoio adicional à mesma idéia. Isaías predisse que "se tocará uma grande trombeta'' (Isaías 27:13) no final do exílio ou

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejatribulação de Israel e "Naquele dia...vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um" (verso 12). Esta profecia será gloriosamente cumprida, sugere Paulo, na dramática parousia de Cristo e no arrebatamento de Sua Igreja.

Walvoord também reivindica que 2 Tessalonicenses 2:1-12 "não apóia o pós-tribulacionismo", porque Paulo estava apenas "demonstrando que o Dia do Senhor predito ainda estava no futuro", e que os cristãos tessalonicenses não deveriam se preocupar "que as suas perseguições presentes foram antecipadas daquele período (o Dia do Senhor)".33

Contudo, uma verificação detalhada na passagem bíblica e no seu contexto, revela que muito mais está envolvido. Paulo escreve explicitamente para corrigir um falso ensino (aparentemente estabelecido sob o próprio nome de Paulo) de que o Dia do Senhor já havia começado ou no mínimo era tão iminente que poderia ocorrer a qualquer momento. Essa idéia havia alarmado alguns e lhes conduzido a parar o seu trabalho cotidiano para se tornarem um peso aos outros (ver cap. 3:6-15). Paulo corrige esse engano da vinda do Dia do Senhor ou parousia a qualquer momento, lembrando à Igreja de seu ensino oral a respeito dos sinais precedentes de significação profética que deve se desenvolver na história antes que o Dia do Senhor aconteça (cap. 2:3-5). Ele torna claro que "à vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo" não apenas a Igreja será 'reunida' a Ele (verso 1), mas também o homem do pecado (anticristo) será destruído pela "manifestação de sua vinda" (verso 8). Isso implica claramente uma vinda de Cristo pós-tribulacionista para a Sua igreja!

Essa conclusão está em perfeita harmonia com o testemunho conclusivo contra a vinda de Cristo em duas fases encontrada em 2 Tessalonicenses 1:5-10, embora o dispensacionalismo ensine que a Igreja será secretamente ajuntada a Cristo sete anos antes do anticristo ser destruído pela parousia de Cristo. As observações esclarecedoras de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 refutam, efetivamente qualquer arrebatamento secreto. A ocasião de nosso ajuntamento a Cristo, ele diz, também envolverá simultaneamente a destruição do anticristo perseguidor.

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A Tribulação Predita e a Esperança para a IgrejaOs esforços dos escritores dispensacionalistas para escapar dos

óbvios ensinos de Paulo são curiosos. Alguns criam uma distinção artificial entre "o dia de Cristo" (que eles aplicam ao arrebatamento) e "o dia do Senhor" (em sua visão, a tribulação subseqüente para Israel e o julgamento de Deus). Mas, como pode o Dia do Senhor incluir a tribulação pelo anticristo quando Paulo declara que o homem do pecado trará a sua apostasia antes do Dia do Senhor?34 ''Que ninguém vos engane de forma alguma; por que esse dia não virá, a menos que a rebelião [apostasia] venha primeiro [protos], e o homem do pecado seja revelado" (2 Tessalonicenses 2:3; RSV).

Todos aceitam a conclusão de que esse iníquo é o anticristo apocalíptico que causará a grande tribulação para os santos de Deus pela sua auto deificação dentro do templo de Deus (verso 4). Essa apostasia não é uma mensagem exclusiva para os judeus, mas é vitalmente relevante para os cristãos! Estes deveriam conhecer o anticristo, para que não fossem confundidos por uma iminência equivocada da parousia. Então vigiarão e verão a aproximação do dia de antemão e estarão prontos para "o Dia do Senhor."

Evidentemente, os tessalonicenses haveriam compreendido desde a primeira epístola de Paulo que seriam arrebatados antes da tribulação (cap. 4:13-18). Gundry declara, "Os tessalonicenses erroneamente concluíram que a vinda de Cristo estava no futuro imediato, como a resultante cessação do trabalho, excitação fanática e desordem".35 A resposta de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é uma refutação de tal doutrina da iminência. A tribulação apocalíptica deve vir primeiro, antes da parousia e do arrebatamento.

Um outro esforço para evitar o advento de Cristo pós-tribulacionista é uma exegese forçada do termo apostasia em 2 Tessalonicenses 2:3, para denotar não a apostasia ou rebelião do anticristo, mas a partida ou arrebatamento da Igreja da terra antes que surjam o anticristo e a sua tribulação. O simples fato, contudo, é que o termo apostasia no Novo Testamento e na Septuaginta é usado exclusivamente para a deserção

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejareligiosa, um afastamento da fé.36 Ele nunca se refere à partida da Igreja da terra. Em 2 Tessalonicenses 2:3 ele é corretamente traduzido como "a rebelião'' tanto na Revised Standard Version quanto na New International Version. O artigo definido "a" antes de "rebelião" aponta para uma apostasia bem conhecida, acerca da qual Paulo havia informado anteriormente aos Tessalonicenses (verso 5) e que de agora explica mais detalhadamente nos versos seguintes, especialmente os versos 4, 9 e 10. A apostasia apocalíptica, diz Paulo, será um afastamento deliberado da fé apostólica, uma rebelião contra Deus conduzida pelo anticristo. Este é o tempo de grande tribulação para o povo de Deus. Paulo orienta a Igreja para vigiar o desenvolvimento dessa apostasia, de maneira que a parousia ou o Dia do Senhor, não a surpreenda como um ladrão (1 Tessalonicenses 5:1-6).

Finalmente, alguns dispensacionalistas insistem que o misterioso Detentor do anticristo (ver 2 Tessalonicenses 2:6) deve ser o Espírito Santo trabalhado através da Igreja. Assim, o Detentor sendo "afastado" (verso 7) indicaria o arrebatamento da Igreja para fora do mundo antes que o anticristo traga a sua tribulação sobre a terra. Mas, R. H. Gundry mostrou convincentemente que essa exegese dispensacionalista não tem fundamento nem no contexto imediato e nem no Novo Testamento como um todo. Mesmo que o Espírito Santo seja finalmente retirado de um mundo impenitente e ímpio, isso não prova que a Igreja de Custo será retirada da terra para o céu "com um passo retrógrado à economia do Velho Testamento".37

É certamente uma "pressuposição fanática'', como J. Wilmot diz, para a escatologia dispensacionalista afirmar que na ausência do Espírito Santo e da Igreja, e dentro dos "sete" anos de reinado do anticristo, "uma grande multidão que ninguém pode enumerar" dentre todas as nações, será convertida a Cristo! A escatologia de Paulo em 1 e 2 Tessalonicenses coloca tanto o glorioso arrebatamento da Igreja quanto a destruição simultânea do anticristo na dramática parousia (ver especialmente, 2 Tessalonicenses 2:1, 8). Este é o ensino de Paulo de

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igrejauma parousia e arrebatamento pós-tribulacionista, baseado no esboço de Cristo dos eventos pertencentes à dispensação cristã de Mateus 24.38

Se os cristãos confiarem nos ensinos de que serão arrebatados para o céu antes da perseguição do anticristo, como se prepararão para o vindouro teste final de fé? O perigo do pré-tribulacionismo é que ele instila no coração do povo de Deus uma falsa esperança e assim fracassa em preparar a Igreja para a sua crise final.

Referências Bibliográficas1. Ver G. E. Ladd, The Blessed Hope (Grand Rapids, Mich.: Wm B.

Eerdmans Pub. Co., 1960), capítulo 3, para um estudo mais detalhado. O teólogo dispensacional Charles F Baker, em A Dispensational Theology, 2a ed., admite após sua análise de três palavras para a segunda vinda, "Devemos concluir que a distinção entre a segunda vida de Cristo no tempo do arrebatamento e Sua vinda à Terra não podem ser estabelecidas simplesmente pelo aplicação das palavras usadas" (p. 616).

2. Ryde, Dispensacionalism Today, p. 159. Cf. Walvoord, The Rapture Question, p 192, "Somente o pretribulacionista distingue claramente entre Israel e a igreja e seus respectivos programas."

3 Walvoord, The Rapture Question, p. 193.4. Ibid.5. R. H. Gundry, The Church and the Tribulation (Grand Rapids,

Mich.: Zondervan, 1973), p. 78.6. Ver Ibid., p. 64-66.7. Ibid, p. 58.8. Walvoord, The Rapture Question, p 70.9. Gundry., The Rapture Question, p. 60.10. Walvoord, The Return of the Lord, p. 80

11. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 29. Ver capítulo 3 "Expectativa e iminência," para uma resposta excelente à doutrina dispensacional da iminência.

12 Walvoord, The Rapture Question, pp. 195, 196.13. Ibid , p 195.

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igreja14 Ladd, The Blessed Hope, p. 73.15 Walvoord, The Return of the Lord, capítulo 5.16. McClain, Daniel's Prophecy of the 70 Weeks, p. 40.17. Walvoord, Israel in Prophecy, p. 109.18 NSRB, p. 1034.19. Ibid.20. Gundry, The Church and the Tribulation, capítulo 9, "The Olivet

Discourse."21. Ibid, p. 130.22. Ver detalhes com referências históricas, com B. Reicke, "Synoptic

Prophecies on the Destruction of Jerusalem," em Studies in New Testament and Early Christian Literature (monografias em honra de A. P. Wikgren), ed. D. E. Aune (Leiden E. J. Brill, 1972), pp. 121-134; especialmente 130.

23. Ibid., p 133.24. Ver também o SDABC em Mateus 24:2-14, vol. 5, pp. 497, 49825. Josephus, Wars V15.2, apresenta que "um grande número de falsos

profetas . . . anunciara a eles (povo) que eles deveriam esperar pela libertação de Deus.'' Isto causou o massacre de seis mil mulheres e crianças no pátio do templo". cf. Strack-Billerbeck Kommentar zum NT (München: Beck, 1922) 4/2:1003.

26. NSRB. p. 1114 (em Lucas 21:20).27. Josephus escreve que 1,1 milhão de judeus pereceram e 97.000

foram vendidos como escravos. Ele conclui: "De acordo com a multidão que pereceram nesse lugar excedeu todas as destruições que ambos homens ou Deus trouxeram sobre a tenra " (Wars, VI 9A).

28. G.G Cohen, "Is the Abomination of Desolation Past?" Moody Monthly, April 1975, pp. 31, 34.

29. Bruce, Israel and the Nations, pp. 31, 34. 30. Ver meu comentário de Marcos 13 e Mateus 24 no periódico do

mês de março na Revista Ministry.31. Walvoord, The Rapture Question, p. 154.32. Ibid.33. Ibid., pp. 164, 165.

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A Tribulação Predita e a Esperança para a Igreja34. R. H. Gundry, em The Church and the Tribulation, pp. 96-99,

mostra conclusivamente que as variações "dia de Cristo" e "dia do Senhor" não tem diferença de significado técnico. Ver, por exemplo, 1 Coríntios 5:5.

35 Ibid., p. 121.36. E I. Carver, When Jesus Comes Again (Philipsburg, N. J.:

Presbyterian and the Reformed Publishing Co., 1979), p. 271. Para um estudo mais detalhado, ver Gundry, The Church and the Tribulation, pp. 114-118.

37. Gundry, The Church and the Tribulation, p. 128; ver discussão detalhada nas pp. 122-128.

38. Ver G. H. Waterman. "The Sources of Paul's Teaching on the Second Coming of Christian in 1 and 2 Thessalonians," JETS 18:2 (Spring 1975):105-113 Ele conclui, "As palavras de Jesus como relatadas por Mateus foram a fonte para os ensinos de Paulo."

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