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Um dispensacionalista progressivo tratando de eclesiologia. Segundo ele, a igreja permanece na grande tribulação.

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A Igreja na Grande Tribulao

A Igreja na Grande TribulaoLucas Banzoli

SUMRIO

PREFCIO4INTRODUO6CAP.1 Os Pais da Igreja e o Pr-Tribulacionismo9CAP.2 Mateus 2424CAP.3 A Ressurreio dos Mortos32CAP.4 Deixados para Trs?41CAP.5 Te guardarei da provao que est por vir46CAP.6 A vinda de Jesus e a nossa reunio com ele55CAP.7 O que detm o anticristo?58CAP.8 Descontradizendo Contradies63CAP.9 A vinda de Jesus iminente?83CAP.10 A ltima trombeta91CAP.11 Tipologias Defeituosas95CAP.12 Refutaes Finais102CONSIDERAES FINAIS120

AVISO AOS PR-TRIBULACIONISTAS

Embora considere o pr-tribulacionismo um grande engano escatolgico (ou seja: uma heresia), no estou dizendo com isso que todo aquele que ensina isso um herege. Sei muito bem que escatologia um assunto profundamente complexo, e muitas vezes difcil de ser bem entendido, e, por essa mesma razo, considerado um tema secundrio da f, e no algo do qual dependa a salvao, que ataque algum ponto essencial da doutrina crist. Existem extraordinrios pregadores que creem no pr-tribulacionismo, assim como pastores que so amilenistas e ps-milenistas. Isso, por outro lado, no significa que a verdade bblica no deva ser dita, ou que ela no seja importante. Sua mensagem ser passada ao longo de todo este livro, e a importncia dessa mensagem tambm ser ressaltada. Cabe ao leitor tomar suas prprias concluses a respeito.

PREFCIO

No existe na Bblia nenhum assunto cujo estudo traga tantas surpresas como este. Tenho certeza que posso falar com segurana: No vai ser como muita gente pensa. Por outro lado, sabemos que a maioria acha fcil tambm dizer: O prximo evento a ocorrer o arrebatamento da Igreja!

O arrebatamento dos santos est diretamente relacionado ressurreio do ltimo dia. Os judeus e todos os cristos primitivos acreditavam fielmente quando a ressurreio deveria ocorrer: E a vontade do que me enviou esta: Que eu no perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no ltimo dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou esta: Que todo aquele que v o Filho, e cr nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no ltimo dia (Joo 6:39,40) Quem poderia esquecer as palavras de Marta a respeito de seu irmo Lzaro?

Disse-lhe Marta: Sei que ele h de ressurgir na ressurreio, no ltimo dia (Joo 11:24)

E aqui que encontramos o principal problema para os pr-tribulacionistas, que parecem no ter percebido o terrvel engano, o qual destri de vez toda veracidade da tradicional doutrina que garante um escape para a Igreja durante os dias da grande tribulao.

Caro leitor, observe que a vinda de Jesus ocorre em Apocalipse 19, com descries detalhadas nos versos 11 a 16, sendo que a ressurreio do ltimo dia, que a primeira ressurreio, descrita em conjunto com esta Vinda. Veja Apocalipse 20:3-5.

Um outro problema que o pr-tribulacionismo parece no ter prestado ateno no verso chave apresentado por eles, Apocalipse 3:10, que registra a promessa de Jesus em livrar Igreja da tribulao que viria sobre a terra. Passagens como esta, que supostamente indica o livramento da presena da ira, bem podem no significar isso ao serem consideradas dentro do pensamento que tal versculo foi escrito para uma igreja que naquele exato momento passava por uma hora de teste, a qual foi sustentada, ou guardada, mas no foi livrada da presena da tribulao. Esta igreja foi guardada da tribulao por haver sido preservada de seus maus efeitos, mas no no sentido de ter sido tirada da tribulao. Seria mais fcil dizer: A Igreja original, a qual recebeu a palavra, no foi arrebatada.

Este trabalho de Lucas Banzoli esclarecedor, envolvente e encorajador, que certamente levar voc leitor a repensar tudo que lhe ensinaram sobre os ltimos dias da Igreja na terra. Voc vai descobrir que a Igreja s ser retirada do palco de ao depois da Grande Tribulao. Os maiores dias que a Igreja viver ainda esto por vir.

Como eu disse no incio deste prefcio: No vai ser como muita gente pensa...

A. FRANCO INGLATERRA, REINO UNIDO 9 DE FEVEREIRO DE 2014

INTRODUO

Sou pr-tribulacionista porque no quero passar de jeito nenhum pela grande tribulao (Pr-Tribulacionista)

O dia parecia normal, como qualquer outro. Charlie saiu para passear logo cedo com o seu cachorro no parque da cidade, aproveitando o dia ensolarado. L ele v as crianas brincando, famlias reunidas em um piquenique, adultos fazendo caminhada sozinhos, alguns jovens aproveitando para pescar. De repente, Charlie percebe um forte estrondo, to grande que parecia que era de um avio caindo. No mesmo instante ele ouve gritos apavorados das mais diferentes pessoas no parque. Algumas delas no estavam mais onde estavam antes, haviam simplesmente desaparecido, apenas suas roupas continuavam no cho.

Apavorado, Charlie volta correndo para casa, liga a televiso e em todos os canais s se fala de uma coisa: o desaparecimento de milhes de indivduos, misteriosamente. Avies desgovernados caram por todo o mundo, causando a morte de milhares de pessoas. O mesmo ocorreu nas rodovias, onde carros desgovernados bateram em outros carros e causaram a morte de mais milhares. O pnico tomava conta das ruas e dos canais de televiso, as mes gritavam desesperadas por perderem seus filhos pequenos de quem cuidavam, as grvidas perderam seus bebs, professores alegam que metade da sala de aula desapareceu do nada.

O presidente, sem saber o que fazer, emitiu o toque de recolher alegando invaso extraterrestre. Nos plpitos das igrejas, um pastor que ensinava Os sete passos para a vitria e Como ter uma vida cheia de sucesso e prosperidade ficou atnito quando viu um tero de sua comunidade sumindo diante de seus olhos. No Congresso Nacional, em Braslia, onde pouco movimento se viu e ningum notou a falta de ningum, os parlamentares se reuniram em uma reunio de emergncia pautando quais seriam os rumos do pas dali em diante.

Isso parece um cenrio utpico de algum filme sensacionalista? No para os pr-tribulacionistas. No sculo XIX surgiu um pregador anglicano chamado John Nelson Darby (1800-1882), que ensinou algo jamais antes crido em dezoito sculos de Cristianismo: um rapto que ocorrer em uma volta secreta de Jesus. Dividindo a segunda vinda de Cristo em duas partes e a ressurreio dos mortos em trs partes, ele chegou extraordinria concluso de que os crentes no passaro pelos sete anos da grande tribulao, mas sero arrebatados antes, diferentemente dos no-cristos.

Essa nova tese, que contraria dezoito sculos de Cristianismo e que vai na contramo daquilo que criam todos os Pais da Igreja e todos os Reformadores, comeou a ganhar fora por uma razo bvia: ningum quer passar por uma grande tribulao. Por preferirem uma vida repleta de paz e segurana, optam por se agarrarem a uma iluso fantasiosa, ao invs de seguirem o realismo bblico.

Da mesma forma que a teologia da prosperidade e a confisso positiva ganharam fora no ltimo sculo na Igreja atravs das iluses materialistas de uma vida boa aqui na terra, que atrai muita gente muito ambiciosa em acumular tesouros terrenos (mas com quase nenhum conhecimento bblico), igualmente a iluso pr-tribulacionista se propagou fortemente pelo prprio carter cobioso do ser humano, que d asas para as fantasias antibblicas que oferecem uma vida longe de qualquer adversidade, sofrimento ou tribulao ainda mais de uma grande tribulao, como a Bblia diz!

Os falsos profetas sempre do um jeito de driblarem o caminho do evangelho da cruz atravs de falsos ensinos, e o pr-tribulacionismo um deles. A frase do incio do captulo sou pr-tribulacionista porque no quero passar de jeito nenhum pela grande tribulao no foi uma inveno minha, mas foi retirada direto dos comentrios de diversos pr-tribulacionistas. Eles no creem no arrebatamento secreto por acharem que ele bblico, mas porque no querem crer que a Igreja passar por uma grande tribulao, porque no querem sofrer. Isso diametralmente oposto ao evangelho bblico, que sempre foi pautado pelo sofrimento, pelo martrio e por grandes tribulaes.[footnoteRef:2] [2: Para ler mais sobre isso, recomendo a leitura de meu livro: Chamados para crer e sofrer, onde o assunto do sofrimento cristo abordado com muito mais abrangncia.]

Neste livro retornaremos ao pensamento de dezoito sculos de Igreja, quando a heresia pr-tribulacionista ainda no era sequer imaginada por ningum. Veremos que na Igreja primitiva sequer havia debate sobre isso, porque ningum nem imaginava que essa doutrina (do arrebatamento pr-tribulacional) pudesse ser bblica. Por essa razo veremos que todos os Pais da Igreja que falaram sobre escatologia eram ps-tribulacionistas, e que este assunto era to bvio que nunca foi alvo de discusso ou debate entre os primeiros cristos. Hoje este assunto um dos mais divergentes na Igreja moderna e que mais divide opinies, mas naquela poca no havia discusso, havia unanimidade afinal, Darby s iria surgir dezoito sculos mais tarde!

Iremos fazer tambm uma ampla e aprofundada abordagem daquilo que a Bblia tem a nos dizer sobre isso, incluindo uma exegese de cada um dos versculos que so sempre usados pelos pr-tribulacionistas, que supostamente favorecem este ensino. A inteno no diminuir aqueles que so pr-tribulacionistas, mas de abrir os olhos para a verdade bblica, de restaurar os princpios que foram sendo abandonados na Igreja crist nos ltimos tempos.

Assim sendo, se voc pr-tribulacionista porque no quer passar pela grande tribulao, no adiantar nada ler este livro, melhor parar agora. Nada do que ser escrito aqui far voc querer passar por uma grande tribulao, apenas mostrar o que a Bblia tem a nos dizer quanto a isso. Mas se o leitor pr-tribulacionista que iniciar a leitura deste livro estiver com a mente aberta para seguir a verdade daquilo que as Escrituras mostram, e no em seguir as suas prprias vontades e desejos, no tenho a menor dvida de que se tornar ps-tribulacionista ao fim deste.

CAP.1 OS PAIS DA IGREJA E O PR-TRIBULACIONISMO

Ento toda criatura humana passar pela prova do fogo e muitos, escandalizados, perecero (Didaqu)

Antes de estudarmos aquilo que os Pais da Igreja tinham a nos dizer sobre arrebatamento, grande tribulao e volta de Jesus, ser necessrio analisarmos brevemente as vises mais comuns sobre o Apocalipse, sendo elas:

Pr-Tribulacionismo. Ensino criado por John Darby no sculo XIX, que disse que a Igreja ser arrebatada antes da tribulao em uma volta secreta de Jesus para buscar somente a Igreja e a levar ao Cu. Aqui na terra ficaro os mpios durante sete anos alguns deles acreditam que ficaro sem a presena do Esprito Santo, que ser tirado da terra e, ao fim deles, Jesus volta de novo, dessa vez de forma visvel, quando todo olho o ver. Para isso, eles precisam encaixar uma ressurreio pr-tribulacionista que ocorre antes da volta secreta de Jesus, e depois outras duas que ocorrero ao fim da grande tribulao.

Midi-Tribulacionismo. ainda mais recente que o pr-tribuacionismo, pois buscou conciliar ambos os pontos (pr e ps), se colocando entre eles. Para os midi-tribulacionistas, a Igreja ser arrebatada no meio dos sete anos de tribulao. Esse ponto de vista, porm, se equipara muito ao pr-tribulacionista, pois tambm ensina a existncia de trs ressurreies e de duas fases da segunda vinda de Cristo, uma secreta e outra visvel, com a diferena de que a vinda secreta ocorre no meio e no no incio da tribulao.

Ps-Tribulacionismo. a viso bblica, a que foi crida unanimemente por todos os primeiros cristos e por todos os Pais da Igreja durante sculos, e tambm por todos os Reformadores como Lutero e Calvino at a poca de Darby. Alguns pr-tribulacionistas no aceitam isso, mas simplesmente no conseguem oferecer sequer uma nica fonte documental de qualquer cristo que tenha vivido antes do sculo XIX e que tenha ensinado uma vinda secreta de Jesus antes da tribulao e um arrebatamento secreto da Igreja sem passar por ela. Essa viso simples: existe uma nica volta de Jesus, visvel e ao final da tribulao; tambm h somente duas ressurreies, que so as que Joo relatou em Apocalipse 20:4,5.

Para reforarmos o fato de que os primeiros cristos no criam no arrebatamento secreto da Igreja, iremos passar a estudar agora os escritos destes que so considerados Pais da Igreja, por terem sido aqueles que sucederam os apstolos e muitos dos quais conviveram de perto com eles. Comearemos estudando a Didaqu, conhecida como a Doutrina dos Doze Apstolos, que datada entre 70 90 d.C.

Didaqu (70 90 d.C)

Este provavelmente o mais importante documento ps-apostlico na histria da Igreja, pois datado de poca muito remota, ainda no sculo I, quando ainda alguns apstolos estavam vivos, e que resume em dezesseis captulos as crenas crists daquele tempo. O ltimo captulo o que desperta maior interesse nosso, pois o que trata especificamente sobre escatologia, sobre os acontecimentos dos ltimos dias. Ele diz:

De fato, nos ltimos dias se multiplicaro os falsos profetas e os corruptores, as ovelhas se transformaro em lobos e o amor se converter em dio. Aumentando a injustia, os homens se odiaro, se perseguiro e se trairo mutuamente. Ento o sedutor do mundo aparecer, como se fosse o Filho de Deus, e far sinais e prodgios. A terra ser entregue em suas mos e cometer crimes como jamais foram cometidos desde o comeo do mundo. Ento toda criatura humana passar pela prova de fogo e muitos, escandalizados, perecero. No entanto, aqueles que permanecerem firmes na f sero salvos por aquele que os outros amaldioam. Ento aparecero os sinais da verdade: primeiro, o sinal da abertura no cu; depois, o sinal do toque da trombeta; e, em terceiro, a ressurreio dos mortos. Sim, a ressurreio, mas no de todos, conforme foi dito: O Senhor vir e todos os santos estaro com ele. Ento o mundo assistir o Senhor chegando sobre as nuvens do cu[footnoteRef:3] [3: Didaqu, 16:3-6.]

O que a Didaqu diz nos trechos acima exatamente aquilo que os ps-tribulacionistas ensinam. Alm de ela no mencionar absolutamente nada de arrebatamento secreto, volta de Jesus ou ressurreio dos mortos antes da grande tribulao, ela ainda clara em afirmar que toda criatura humana passar pela prova do fogo, que, diante do contexto, no resta dvidas de que se trata da grande tribulao. Ela no diz que s os mpios passaro pela tribulao, mas toda criatura humana, sem mencionar nenhum arrebatamento da Igreja antes disso!

Como se isso no fosse suficientemente claro, ela ainda diz que aqueles que permanecerem firmes neste contexto da tribulao (prova do fogo) sero salvos ao fim dela, fazendo aluso ao que Jesus disse em Mateus 24:13 aquele que perseverar at o fim ser salvo. No o ensino de que o crente ser arrebatado antes de passar pela tribulao, mas sim de que ser salvo depois de perseverar at o fim na tribulao!

Mas o mais importante foi mesmo reservado para a ltima declarao do livro, onde a Didaqu sintetiza os ltimos acontecimentos: primeiro, o sinal da abertura no Cu, que se refere ao sinal da volta de Jesus (Mt.24:30), sendo seguido pelo toque da trombeta e pela ressurreio dos mortos. Essa ressurreio obviamente se refere a uma ressurreio ps-tribulacionista, pois est situada aps a volta visvel de Jesus. Ela nada fala sobre uma volta de Jesus ou sobre uma ressurreio que ocorra antes da tribulao, como os pr-tribulacionistas creem, o que seria da maior importncia para ter sido omitido.

Justino (100 - 165 d.C)

Em seu Dilogo com Trifo, Justino, que viveu na segunda era apostlica, deixou claro que os cristos passaro pela grande tribulao:

Dois adventos de Cristo tem sido anunciados: um, no qual Ele veio como sofredor, despido de sua glria, honra, e foi crucificado; mas a outra, na qual Ele vir do cu com glria, quando o homem da apostasia, que fala coisas altivas contra o Altssimo, se atrever a cometer iniquidades contra ns, cristos, contra ns que, conhecendo a religio atravs da lei e da palavra que saiu de Jerusalm pela obra dos apstolos de Jesus, nos refugiamos no Deus de Jac e no Deus de Israel (...) Agora evidente que ningum pode atemorizar ou subjugar a ns que temos crido em Jesus no mundo. Porque esse plano que atravs da perseguio, crucificados, e lanados s feras da terra, s chamas, e fogo, e todas as outras formas de tortura (...) porm, enquanto mais essas coisas acontecem, mais outros em grande nmero vm f e glorificam o nome de Deus atravs do nome de Jesus[footnoteRef:4] [4: Justino, Dilogo com Trifo, Cap.110.]

Alm de Justino mencionar apenas duas vindas de Cristo (uma h dois mil anos, sem glria; outra no futuro, com glria) sem fazer qualquer aluso a duas fases da segunda vinda de Cristo, inventadas por Darby, ele ainda afirma que o anticristo cometer iniquidades contra ns, os cristos, o que s pode significar que ns passaremos pela grande tribulao, que ns veremos o anticristo. E ele no estava se referindo a falsos cristos (pois falsos cristos nem so cristos de fato!), mas a cristos mesmo, tanto que ele coloca o pronome ns, incluindo ele prprio e os demais cristos aos quais ele escrevia e representava!

Esses cristos so descritos como sendo aqueles que se refugiam no Deus de Jac e no Deus de Israel. Os falsos cristos no se refugiam no Deus verdadeiro, eles apenas fingem adorar a Deus, mas seu corao est longe dEle. Justino claramente tinha em mente os cristos verdadeiros, como ele e como as pessoas a quem ele escrevia. por isso que ele diz que ns (cristos) passaremos pela perseguio, que ele descreve como sendo o lanamento s feras, o fogo e outras formas de tortura da poca. Ele no exclua os cristos da grande tribulao, ao contrrio, os inclua!

Irineu de Lyon (130 - 220 d.C)

Irineu de Lyon foi um dos mais importantes Pais da Igreja do segundo sculo e dedicou um captulo de sua obra mais famosa, chamada Contra as Heresias, para abordar os assuntos escatolgicos. E ele, como cristo, mostrou saber que a Igreja passar pela grande tribulao:

"Uma revelao mais clara ainda acerta dos ltimos tempos e dos dez reis, entre os quais ser dividido o imprio que agora domina, foi feita por Joo, o discpulo do Senhor, no Apocalipse. Explicando o que era os dez chifres vistos por Daniel, refere o que lhe foi dito: 'Os dez chifres que tu viste so dez reis que ainda no receberam o reino, mas que recebero o poder como reis, por uma hora, com a besta. Eles no tem seno um pensamento, o de homenagear a besta com a sua fora e o seu poder. Eles combatero contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencer, porque o Senhor dos senhores e o Rei dos reis'. Esta claro, portanto, que aquele que dever vir matar trs destes dez reis, que os outros se lhe submetero e que ele ser o oitavo entre eles. Eles destruiro Babilnia, reduzi-la-o a cinzas, daro o seu reino besta e perseguiro a Igreja mas, em seguida, sero destrudos pela vinda de nosso Senhor"[footnoteRef:5] [5: Irineu, Contra as Heresias, Livro V, 26:1.]

Fica claro, por este texto de Irineu, que a Igreja passar pela grande tribulao, pois os eventos que ele menciona fazem parte do perodo tribulacionista. Ele diz que a besta perseguir a Igreja, deixando ntido que a tribulao no ser apenas para os israelitas como creem os pr-tribulacionistas mas para a prpria Igreja, que sempre passou por tribulaes em sua histria, e no ser diferente no futuro.

Irineu tambm nos diz que ns, cristos, veremos o anticristo, e que, por essa razo, devemos esperar o cumprimento da profecia:

Porm, conhecendo o nmero exato declarado pela Escritura, que o de 666, devem esperar, em primeiro lugar, a diviso do reino em dez; logo, no momento seguinte, quando esses reis estejam governando e comeando a colocar seus assuntos em ordem e a desenvolverem seus reinos (deixem que eles saibam), para dar a conhecer aquele que vir reclamando o reino para si mesmo e atemorizar aquelas pessoas de quem temos falado, tendo um nome que consiste no nmero mencionado anteriormente, isso realmente a abominao da desolao (...) Ento mais acertado e menos danoso esperar o cumprimento da profecia do que ficar fazendo adivinhaes ou predies acerca dos possveis nomes que este anticristo possa ter, j que se pode encontrar muitos nomes que possam conter o nmero mencionado; e a mesma interrogao seguir sem resoluo (...) Porm, agora ele indica o nmero do nome, para que quando este homem venha possamos precaver-nos, estando alertas a respeito de quem ele [footnoteRef:6] [6: Irineu, Contra as Heresias, Livro V, Cap.30.]

Ele deixa claro que a Igreja estar na grande tribulao, pois diz que ela ver o anticristo e a abominao da desolao. Por isso ele diz que ns devemos nos precaver do anticristo, o que no faria qualquer sentido caso ele pensasse que a Igreja seria arrebatada antes da tribulao e nem sequer chegaria a conviver com o anticristo! Como podemos nos precaver do anticristo e ficar alertas a respeito dele se seremos arrebatados antes de ele comear a reinar na tribulao? evidente que Irineu era ps-tribulacionista, ele no tinha a menor ideia de um arrebatamento pr-tribulacional.

Por fim, ele diz que a ressurreio dos justos somente ocorrer depois do advento do anticristo, e no antes da tribulao, como dizem os pr-tribulacionistas:

"Todas estas profecias se referem, sem contestao, ressurreio dos justos, que se realizar depois do advento do Anticristo e da eliminao de todas as naes submetidas sua autoridade, quando os justos reinaro sobre a terra, aumentaro pela apario do Senhor e se acostumaro, por ele, a participar da glria do Pai e, com os santos anjos, participaro da vida, da comunho e da unidade espirituais, neste reino"[footnoteRef:7] [7: Irineu, Contra as Heresias, Livro V, 35:1.]

Os pr-tribulacionistas afirmam que a ressurreio dos justos ocorrer no ltimo dia da dispensao da graa, o que para eles se refere ao ltimo dia antes da tribulao apocalptica, antes do advento do anticristo e dos outros eventos da grande tribulao. Irineu, no entanto, afirma explicitamente o contrrio: a ressurreio dos justos ocorrer depois do advento do anticristo e de todos os eventos apocalpticos!

Hiplito de Roma (170 - 235 d.C)

Hiplito escreveu na passagem do segundo para o terceiro sculo d.C, descrito como sendo o maior telogo romano daquela poca e produziu um tratado que trata exclusivamente de escatologia, chamado: Tratado sobre Cristo e o Anticristo. Nele, Hiplito deixa claro por diversas vezes que os cristos passaro pela grande tribulao e que s sero arrebatados depois dela. Ele diz:

Mas como o tempo nos fora a considerarmos de imediato a questo proposta, e quanto ao que j foi dito na introduo em relao a glria de Deus, que seja suficiente, conveniente que tomemos as prprias Escrituras na mo, e por elas achemos o que significa e de que maneira se dar a vinda do anticristo; em que ocasio e em que tempo este mpio se revelar; de onde e de qual tribo ele sair; qual o seu nome; o que indica o seu nmero nas Escrituras; como ele obrar o erro entre os povos, reunindo-os dos confins da terra; como desencadear a tribulao e a perseguio contra os santos; como vai se auto glorificar como Deus; qual ser seu fim; como o repentino aparecimento do Senhor se mostrar no cu; como ser a consumao do mundo e o que deve ser o reino glorioso e celeste dos santos, quando reinarem juntos com Cristo, e qual a punio do malvado pelo fogo[footnoteRef:8] [8: Tratado sobre Cristo e o Anticristo, Cap.5.]

Hiplito situa a reunio dos santos como um acontecimento no final da grande tribulao, aps a consumao do mundo, e no antes da tribulao. Para reforar esse pensamento, ele diz que o anticristo desencadear perseguio contra os santos, que em toda a sua obra se refere aos cristos. interessante notar que em momento nenhum de sua extensa obra que trata exclusivamente de escatologia ele faz qualquer aluso a uma volta secreta de Jesus e a um arrebatamento pr-tribulacional, algo que seria da maior importncia caso realmente existissem, e que no poderiam ficar de fora.

Ele tambm diz:

Sendo cheio de engano, e elevando-se contra os servos de Deus com o desejo de afligi-los e persegui-los pelo mundo por no darem glria a ele, o anticristo ordenar que todos ofeream incenso em todos os lugares, de maneira que, a ningum dentre os santos ser possvel comprar ou vender sem que primeiro sacrifiquem; este o significado da marca recebida na mo direita[footnoteRef:9] [9: Tratado sobre Cristo e o Anticristo, Cap.49.]

Com isso ele deixa claro que os servos de Deus, os santos, passaro pela grande tribulao. Ele no faz qualquer meno especial aos israelitas, como fazem os pr-tribulacionistas! Ao contrrio, ele identifica os santos e servos de Deus, que Joo cita no Apocalipse, como sendo a Igreja:

Sobre a tribulao da perseguio que deve cair sobre a Igreja por parte do adversrio, Joo tambm assim fala: E viu-se um grande sinal no cu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus ps, e uma coroa de doze estrelas sobre a cabea. E estava grvida, e com dores de parto, e gritava com nsias de dar luz[footnoteRef:10] [10: Tratado sobre Cristo e o Anticristo, Cap.60.]

Ele diz que a Igreja ser perseguida na grande tribulao e que ter que escapar de cidade e cidade e buscar esconderijo nos desertos e nos montes, por causa do anticristo:

O tirano [anticristo] deve reinar e perseguir a Igreja que escapa de cidade em cidade e busca esconderijo nos desertos entre os montes, possuindo nenhuma outra defesa seno as duas asas de uma grande guia, que significa a f em Cristo Jesus, que estendendo suas mos sobre esta rvore sagrada, abrindo as duas asas, a esquerda e a direita, chama todos os que nele acreditaram, cobrindo-os como uma galinha e seus pintinhos[footnoteRef:11] [11: Tratado sobre Cristo e o Anticristo, Cap.61.]

Efrm, o Srio (306 - 373 d.C)

Depois de todas as provas apresentadas que apontam unanimemente ao ps-tribulacionismo como a crena unnime dos pais apostlicos, os pr-tribulacionistas tiveram que pesquisar por dcadas os escritos de todos os Pais da Igreja para encontrarem uma brecha de uma declarao que favorecesse a sua tese.

De fato, o pr-tribulacionista Grant Jeffrey disse que ficou mais de uma dcada estudando os escritos patrsticos e outros documentos histricos da antiguidade para ver se achava qualquer declarao que favorecesse essa teoria moderna, para rebater a afirmao de que nunca, em momento nenhum da histria, algum sups um arrebatamento pr-tribuacional antes de John Darby, em pleno sculo XIX.

E, depois de mais de uma dcada procurando, ele achou um nico trecho de um nico autor e ainda por cima de forma isolada e descontextualizada. Trata-se de um texto recentemente descoberto e atribudo por alguns a Efrm da Sria, que diz que os santos e escolhidos sero reunidos antes da tribulao que h de vir, e sero levados ao Senhor para no verem a confuso que dominar o mundo por causa dos pecados.

Foi o suficiente para que alguns pr-tribulacionistas fizessem a festa por terem achado um nico trecho de um nico autor contradizendo toda a histria de sculos de Cristianismo apostlico unanimemente ps-tribulacionista. Mas h dois problemas com este texto: primeiro, ele provavelmente no foi escrito pelo prprio Efrm da Sria, mas por um pseudo-Efrm, ou seja, por um falsrio se querendo passar pelo verdadeiro Efrm! O verdadeiro do sculo IV, o falsrio do sculo XII.

Em segundo lugar, quando contextualizamos a passagem, vemos que nem mesmo aquele trecho escrito pelo falsrio serve para provar que algum alguma vez j creu no pr-tribulacionismo antes de Darby, pois o autor no entendia pelo termo tribulao aquilo que entendemos hoje (i.e, a grande tribulao apocalptica), mas estava fazendo uma referncia ao que Paulo diz em 2 Tessalonicenses 1:3-10, quando o apstolo fala da tribulao como sendo a paga (juzo) que sobrevir aos mpios aps a grande tribulao.

Em outras palavras, Efrm da Sria, ou o falsrio que se passou por ele nesta ocasio, era to ps-tribulacionista quanto qualquer outro autor de sua poca. Quando ele diz que os santos sero recolhidos antes da tribulao ele est apenas dizendo que os santos sero recolhidos antes do juzo (condenao) que Deus dar aos mpios, e isso se d depois do trmino da tribulao apocalptica. A confuso que dominar o mundo como consequencia do pecado a destruio desta terra para dar lugar aos novos cus e nova terra prometidos por Deus, tambm ao trmino da grande tribulao, e no antes dela.

Tudo isso fica mais claro quando mostramos tal declarao diante de seu devido contexto, que diz:

"Ns devemos compreender perfeitamente por isso, meus irmos, o que iminente ou pendente. Houve fomes e pestes, abalos violentos das naes e sinais, os quais foram previstos pelo Senhor, e foram cumpridos (consumados), e nada mais resta, exceto a vinda do inquo [o homem do pecado] na plenitude do reino romano. Por que estamos ocupados com os negcios do mundo, e nossa mentalidade nos desejos pecaminosos deste mundo ou nas preocupaes deste tempo? Portanto, por que no rejeitamos cada preocupao com as coisas terrenas e nos preparamos para o encontro com nosso Senhor Jesus Cristo, para que nos leve da confuso que oprime o mundo? Acredite-me, queridos irmos, porque a vinda do Senhor est prxima, acredite em mim, porque o fim do mundo est prximo, acreditem, porque o verdadeiro final dos tempos. Ou no iro crer a menos que vejam com seus prprios olhos? Vejam que esta frase no se compre em vocs como declara o profeta: Ai dos que desejam ver o dia do Senhor! Porque os santos e escolhidos sero reunidos antes da tribulao que h de vir, e sero levados ao o Senhor para no verem a confuso que dominar o mundo por causa dos pecados. E assim, meus queridos irmos, a dcima primeira hora, e o fim do mundo vem com a ceifa, e os anjos armados e preparados, com foices nas mos, esperando o imprio do Senhor

O contexto todo favorece a viso ps-tribulacionista, pois para Efrm, quando escreveu o texto, a vinda do Senhor e o fim do mundo estavam prximos e as os sinais j haviam se cumprido, exceto um, a vinda do anticristo. Esta afirmao jamais sairia da boca de um pr-tribulacionista, pois isto significaria que a vinda do homem do pecado iminente e um sinal que falta para a vinda do Senhor e do fim do mundo.[footnoteRef:12] [12: LIMA, Fernando Alves. Escatologia Primitiva Parte 5 Efraim, o Srio. Disponvel em: . Acesso em: 14/12/2013.]

Essa tribulao que o pseudo-Efrm se refere no a tribulao do Apocalipse, mas a tribulao do fim do mundo, quando o mundo ser atribulado pela presena do Senhor e os mpios sero destrudos no lago de fogo. O autor usa os termos a vinda do Senhor e o fim do mundo de forma intercambivel, em um paralelismo que demonstra que essa volta de Jesus era no fim do mundo, e no sete anos antes em um suposta volta secreta.

Ele tambm faz aluso ao fim do mundo que vem com a ceifa, que uma referncia a Mateus 13:36-43 e a Apocalipse 14:14-20, ambos os textos ps-tribulacionistas, que retratam acontecimentos que ocorrero aps a grande tribulao, e no antes dela. Portanto, Efrm no cria que os santos sero arrebatados antes ou no meio da tribulao, mas depois dela, assim como todos os outros Pais da Igreja. Ele estava fazendo uma referncia tribulao que Paulo se refere em 2 Tessalonicenses 1:3-10, que no a tribulao apocalptica, mas o juzo no fim do mundo:

Se de fato justo diante de Deus que d em paga tribulao aos que vos atribulam, e a vs, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o cu com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando vingana dos que no conhecem a Deus e dos que no obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecero eterna destruio, ante a face do Senhor e a glria do seu poder, quando vier para ser glorificado nos seus santos, e para se fazer admirvel naquele dia em todos os que crem (porquanto o nosso testemunho foi crido entre vs) (2 Tessalonicenses 1:3-10)

A tribulao que Paulo e Efrm se referem o castigo da destruio eterna (morte final) que os mpios sofrero, aps o trmino da tribulao apocalptica na volta de Jesus. Eles s sofrero este castigo aps o juzo, que ocorre depois da grande tribulao, e no antes. Sendo assim, a crena do pseudo-Efraim em nada divergia de todos os outros escritores antigos: ele tambm cria que os crentes passaro pela tribulao, mas sabia que sero arrebatados ao fim dela para no terem que sofrer o dano da condenao no fim do mundo, que ir atribular os mpios.

Concluso

Muitos outros escritos de outros Pais da Igreja poderiam ser expostos, mas esses j nos ajudam a demonstrar de forma inequvoca que o pensamento unnime dos primeiros cristos era realmente de um arrebatamento ps-tribulacional. Nenhum deles jamais mencionou uma suposta vinda secreta de Jesus, nem uma ressurreio antes da tribulao final, nem um arrebatamento secreto. Todos os Pais que abordaram os temas escatolgicos disseram explicitamente o contrrio, conservando a doutrina ortodoxa de que a Igreja passar pela grande tribulao.

Alguns ainda poderiam alegar que talvez fosse possvel que os outros Pais da Igreja, que nunca escreveram nada sobre escatologia, cressem em um arrebatamento pr-tribulacional. Esse um argumento do silncio, visto que todos aqueles que de fato escreveram eram ps-tribulacionistas. Alm disso, se havia algum bispo, telogo, presbtero ou pastor na igreja primitiva que cresse em um arrebatamento pr-tribulacional, ele obviamente no hesitaria em escrever refutando todos aqueles que to constantemente diziam o contrrio.

J vimos que Irineu, Justino, Hiplito, Efrm e a Didaqu eram todos ps-tribulacionistas. Se existisse algum que pensava o contrrio na poca deles, por que no escreveu nada refutando a teologia ps-tribulacionista deles? Eles no refutaram nada porque no tinham nada a discordar. Todos os outros tambm eram ps-tribulacionistas! Isso demonstra que naquela poca havia um parecer unnime de que o arrebatamento era ps-tribulacional, pois, se o assunto dividisse opinies, esperaramos ver vrios debates sobre este tema entre os primeiros cristos, o que nunca aconteceu.

Nos dias de hoje totalmente comum vermos debates acalorados entre pr e ps-tribulacionistas, porque estamos no sculo XXI e essa doutrina j foi inventada no sculo XIX. Mas em momento nenhum dos primeiros dezoito sculos da Igreja houve qualquer debate sobre este tema em toda a histria, porque nunca ningum havia proposto uma teoria contrria ps-tribulacionista.

Os Pais da Igreja discordavam em muitos assuntos entre eles, havia muita discusso e debate sobre muitos temas, muitas vezes precisando at de conclios para resolverem a questo, mas nunca houve sequer uma nica divergncia sobre o arrebatamento, porque todos criam que a Igreja passaria pela grande tribulao!

Diante de tudo isso, apenas resta aos pr-tribulacionistas desacreditarem em todos os Pais da Igreja que escreveram sobre o assunto e tambm desacreditarem em todos os Reformadores e em todos os cristos que viveram durante dezoito sculos, pois estariam todos unanimemente errados! Eles apelam para a Sola Scriptura para alegarem que devemos rejeitar os escritos dos Pais da Igreja porque somente a Bblia cannica e a nossa nica regra de f e prtica.

De fato, somente a Bblia a nossa regra de f, mas ser que isso significa que devemos desacreditar por completo no parecer unnime de todos os Pais da Igreja? Obviamente no. Isso porque esses Pais da Igreja apenas conservaram e passaram adiante aquilo que ouviram dos prprios apstolos, isto , dos que escreveram a Bblia. Muitos deles foram mais que meros telogos eles foram testemunhas oculares dos apstolos.

A Didaqu, por exemplo, foi escrita entre 70-90 d.C, em uma poca em que o apstolo Joo ainda estava vivo, pois ele s foi martirizado em 103 d.C. E ela prega explicitamente o ps-tribulacionismo. impossvel que os cristos tivessem se desviado doutrinariamente dentro de to pouco tempo e de forma to radical, ao ponto de no deixar nenhum vestgio da verdadeira doutrina nas dcadas que se seguiram.

Se a Didaqu estivesse errada, seria o prprio Joo que corrigira aqueles que a escreveram, se que o prprio Joo no participou daquela compilao. Homens como Justino, por exemplo, viveram no incio do segundo sculo, conviveram com Policarpo que foi discpulo de Joo, impossvel que no tivessem conservado e registrado a verdadeira doutrina.

Para ilustrar a situao, pense em um pai procurando o filho que ficou desaparecido depois que saiu da escola. Diante disso, qual seria a primeira reao deste pai? Obviamente ele iria escola perguntar aos alunos e professores se eles sabiam do paradeiro do seu filho, pois saberia que se ele foi a algum lugar pode ter avisado algum deles. Ento, se todos os alunos unanimemente respondem que esse filho foi ao cinema que fica no shopping da cidade, esse pai saber que seu filho foi ao cinema e para l que ele vai se dirigir. Ele no ir duvidar da veracidade da informao passada por todos os colegas e professores.

Algo semelhante ocorre quando tratamos dos escritos dos primeiros Pais da Igreja, do primeiro sculo at meados do segundo. Estamos falando de pessoas que conviveram de perto com os apstolos, que foram doutrinados por algum deles ou que viveram pessoalmente com discpulos dos apstolos, na segunda gerao apostlica. Estamos falando de pessoas que sabem o que os apstolos originalmente ensinaram, pois os apstolos transmitiram a doutrina a eles, algo totalmente diferente de John Darby, que nasceu em pleno sculo XIX e que nunca viu nenhum apstolo pessoalmente e nem foi discipulado por nenhum bispo que conviveu com um apstolo!

Dito em termos simples, Daby inventou uma nova doutrina, enquanto os Pais da Igreja apenas conservaram a verdadeira doutrina. Confiar em Darby em vez de confiar no que disseram os Pais da Igreja o mesmo que aquele pai ir consultar outros alunos de outra escola que em nada tem a ver com o seu filho, e que do uma informao totalmente diferente sobre algum que nunca viram na vida, contrariando aqueles que estiveram pessoalmente com ele. No algo sensato e muito menos racional. Mas o que os pr-tribulacionistas fazem.

CAP.2 MATEUS 24

Se aqueles dias no fossem abreviados, ningum sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias sero abreviados(Mateus 24:22)

O captulo em que o prprio Senhor Jesus trata exclusivamente sobre os assuntos relacionados grande tribulao o de Mateus 24. Assim sendo, se ele cria em um arrebatamento secreto pr-tribulacional, ali estava a oportunidade perfeita para ele mostrar isso a todos. Certamente ele citaria sua vinda secreta, o arrebatamento e depois diria que seus discpulos no passariam por nada daquilo, mas somente os incrdulos. Mas o que ele disse foi exatamente o contrrio do que querem os dispensacionalistas:

Mateus 243 Tendo Jesus se assentado no monte das Oliveiras, os discpulos dirigiram-se a ele em particular e disseram: "Dize-nos, quando acontecero essas coisas? E qual ser o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?4 Jesus respondeu: "Cuidado, que ningum os engane.5 Pois muitos viro em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo! e enganaro a muitos.6 Vocs ouviro falar de guerras e rumores de guerras, mas no tenham medo. necessrio que tais coisas aconteam, mas ainda no o fim.7 Nao se levantar contra nao, e reino contra reino. Haver fomes e terremotos em vrios lugares.8 Tudo isso ser o incio das dores.9 "Ento eles os entregaro para serem perseguidos e condenados morte, e vocs sero odiados por todas as naes por minha causa.10 Naquele tempo muitos ficaro escandalizados, trairo e odiaro uns aos outros,11 e numerosos falsos profetas surgiro e enganaro a muitos.12 Devido ao aumento da maldade, o amor de muitos esfriar,13 mas aquele que perseverar at o fim ser salvo.14 E este evangelho do Reino ser pregado em todo o mundo como testemunho a todas as naes, e ento vir o fim.15 "Assim, quando vocs virem o sacrilgio terrvel, do qual falou o profeta Daniel, no lugar santo quem l, entenda 16 ento, os que estiverem na Judia fujam para os montes.17 Quem estiver no telhado de sua casa no desa para tirar dela coisa alguma.18 Quem estiver no campo no volte para pegar seu manto.19 Como sero terrveis aqueles dias para as grvidas e para as que estiverem amamentando!20 Orem para que a fuga de vocs no acontea no inverno nem no sbado.21 Porque haver ento grande tribulao, como nunca houve desde o princpio do mundo at agora, nem jamais haver.22 Se aqueles dias no fossem abreviados, ningum sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias sero abreviados.23 Se, ento, algum lhes disser: Vejam, aqui est o Cristo! ou: Ali est ele! , no acreditem.24 Pois aparecero falsos cristos e falsos profetas que realizaro grandes sinais e maravilhas para, se possvel, enganar at os eleitos.25 Vejam que eu os avisei antecipadamente.26 "Assim, se algum lhes disser: Ele est l, no deserto!, no saiam; ou: Ali est ele, dentro da casa!, no acreditem.27 Porque assim como o relmpago sai do Oriente e se mostra no Ocidente, assim ser a vinda do Filho do homem.28 Onde houver um cadver, a se ajuntaro os abutres.29 "Imediatamente aps a tribulao daqueles dias o sol escurecer, e a lua no dar a sua luz; as estrelas cairo do cu, e os poderes celestes sero abalados.30 "Ento aparecer no cu o sinal do Filho do homem, e todas as naes da terra se lamentaro e vero o Filho do homem vindo nas nuvens do cu com poder e grande glria.31 E ele enviar os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reuniro os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos cus.32 "Aprendam a lio da figueira: quando seus ramos se renovam e suas folhas comeam a brotar, vocs sabem que o vero est prximo.33 Assim tambm, quando virem todas estas coisas, saibam que ele est prximo, s portas.

Ao invs de ele dizer que eles seriam arrebatados para no verem nada daquilo que aconteceria na grande tribulao, ele diz exatamente o contrrio: que eles seriam entregues para serem perseguidos e condenados morte (v.9). Alm disso, Jesus no isenta nem seus prprios discpulos dos acontecimentos que marcariam a tribulao apocalptica. Ele diz que eles veriam o sacrilgio terrvel (v.15), que eles teriam que fugir para os montes (v.16), e diz:

Orem para que a fuga de vocs no acontea no inverno nem no sbado (v.19)

Note que ele no disse que os que teriam que fugir seriam os mundanos, que no tem comprometimento com Deus e que por isso seriam deixados aqui na terra sofrendo. Ao contrrio: ele fala da fuga de vocs, isto , dos seus discpulos, pois todo o discurso era uma resposta pergunta dos apstolos (v.1). Em seguida, ele diz que, se aqueles dias no fossem abreviados, ningum sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias sero abreviados (v.22). Isso prova indiscutivelmente que os eleitos estaro na grande tribulao. Se eles j estivessem seguros no Cu, tal verso no faria sentido algum!

Mas, se os discpulos de Cristo (cristos) passaro por toda a grande tribulao, ento quando haver a volta de Jesus e o arrebatamento? Isso Jesus responde tambm, naqueles mesmos versos. Ele diz que a Sua volta ocorreria imediatamente aps a tribulao daqueles dias (v.29), e no imediatamente antes, como creem os pr-tribulacionistas! E s depois de todas as naes verem o Filho do homem descendo nas nuvens do Cu com grande poder e glria que ele enviar os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reuniro os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos cus (v.31).

Portanto, o arrebatamento dos santos somente ocorrer depois, e no antes da tribulao! Seus discpulos teriam que fugir para os montes, veriam o sacrilgio terrvel do anticristo, muitos seriam perseguidos e condenados morte, e saberiam quando Jesus voltaria depois que vissem todas aquelas coisas (v.33), o que s pode significar que os cristos estaro aqui na terra observando de perto tudo o que acontecer na grande tribulao.

Como os dispensacionalistas respondem a to fortes provas inequvocas de um arrebatamento ps-tribulacional?

A maioria deles afirma que todos estes acontecimentos acima no sucedero aos discpulos de Jesus (cristos), mas apenas aos israelitas. Eles dizem que os discpulos, nesse contexto, no eram uma tipologia da Igreja, mas de Israel. Isso um disparate sem precedentes, pois os discpulos foram chamados cristos (At.11:26). A prpria Bblia deixa claro que os discpulos, acima de tudo, foram reconhecidos como cristos, como a Igreja de Cristo. No mais faziam parte do antigo Israel, que havia se separado do pacto, mas da Nova Aliana, daqueles que creem em Cristo.Em ltima hiptese, os discpulos ali representavam tanto os cristos quanto os israelitas, pois eles eram ambos. E esses israelitas referem-se aos israelitas que creem em Cristo, e no qualquer israelita, visto que se tratava dos discpulos de Jesus, que criam nele. Sendo assim, a passagem se refere a pessoas justas, que creem em Cristo, que so discpulos dele, que ganharam o nome de cristos, que no tiveram parte com a crucificao de Cristo. No tem nada a ver com uma tipologia dos israelitas incrdulos que no creram em Cristo, mas exatamente o contrrio: dos discpulos dEle que criam nEle!

Uma coisa totalmente diferente seria, por exemplo, se Jesus estivesse dirigindo aquilo aos fariseus, que no criam nele, que eram incrdulos, que seriam mesmo deixados para trs, segundo a teologia dispensacionalista. Mas Jesus no estava falando com os fariseus ou com os incrdulos, que no foram citados nem sequer uma nica vez em todo o contexto. Desde o comeo o relato claro em mostrar que Cristo estava dizendo aquilo aos seus discpulos (Mt.24:1), e que eles (e no os incrdulos dentre os israelitas) veriam e passariam por tudo aquilo!

Os pr-tribulacionistas, no desespero em oferecerem alguma resposta s provas to claras de que os cristos estaro na grande tribulao, esquecem-se de que, com a morte e ressurreio de Jesus, j no existe uma separao entre os israelitas que se convertem e os gentios que se convertem, pois todos so um s, com o nome de cristos. Foi por isso que Paulo disse que Jesus quebrou o muro de inimizade (diviso) que havia entre ambos, por ocasio da sua morte:

Naquela poca vocs estavam sem Cristo, separados da comunidade de Israel, sendo estrangeiros quanto s alianas da promessa, sem esperana e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vocs, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo. Pois ele a nossa paz, o qual de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade (Efsios 2:12-14)

Em Cristo Jesus j no h diviso entre israelitas que creem em Cristo e gentios que creem em Jesus, pois ambos so um s, que so chamados de cristos. Paulo enfatiza essa mesma verdade escrevendo aos glatas:

Todos vocs so filhos de Deus mediante a f em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram. No h judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos so um em Cristo Jesus. E, se vocs so de Cristo, so descendncia de Abrao e herdeiros segundo a promessa (Glatas 3:26-29)

O que os dispensacionalistas fazem separar de novo os israelitas cristos dos gentios cristos. Jesus quebrou a barreira entre eles, mas os pr-tribulacionistas querem recolocar essa barreira, dividir os dois como se fossem duas coisas distintas. Jesus fez dos dois um s, mas eles, para salvarem a heresia do arrebatamento pr-tribulacional, insistem em considerar cada um como sendo um grupo em separado!

A concluso lgica do relato de Mateus 24 que, se Jesus estava falando com os seus discpulos e esses discpulos eram crentes nele j no importa se esses discpulos eram israelitas ou gentios, porque Cristo fez destes dois um s, conhecidos como cristos. Ou seja: o que est em jogo no se eles eram israelitas ou gentios, pois tanto gentios que creem em Cristo quanto judeus que creem em Cristo fazem parte de um s Corpo: a Igreja.

Afinal de contas, de qual outra forma Jesus poderia ter deixado mais claro que os cristos passariam pela grande tribulao seno respondendo dessa forma aos prprios cristos da poca? No havia outros cristos na poca alm dos seus discpulos; logo, se Cristo queria dizer que os cristos passariam pela tribulao teria que dizer isso aos seus discpulos, que foi o que ele fez. Mais uma vez temos que ressaltar que o fato de esses discpulos tambm serem israelitas no muda nada, porque Cristo j derrubou o muro que dividia um do outro e fez dos dois povos um s a Igreja. Portanto, Igreja que Jesus se referia, e no aos incrdulos.

Alm disso, se aquilo que Jesus disse deve se aplicar apenas aos israelitas incrdulos e no aos cristos, ento devemos entender tambm que tudo o que Jesus disse enquanto esteve entre ns deve valer apenas para os israelitas incrdulos, seguindo a mesma lgica empregada pelos dispensacionalistas em Mateus 24.

Se algum pr-tribulacionista quiser ser honesto e sincero consigo mesmo, teria que reconsiderar todos os evangelhos luz de sua defeituosa interpretao de Mateus 24, identificado todos os discursos de Jesus (incluindo o sermo do monte) como sendo algo vlido somente para os israelitas e para nenhum cristo gentio, pois exatamente isso o que eles fazem com o discurso de Cristo em Mateus 24!

Ora, mas isso uma bobagem, diria um pr-tribulacionista. O que Jesus pregou vlido para os cristos de hoje, mesmo se originalmente tenha sido dito aos israelitas, porque os israelitas crentes daquela poca eram a Igreja de hoje, junto aos gentios que creram. Pois exatamente essa mesma lgica que deve ser tambm aplicada a Mateus 24, o que os dispensacionalistas s no fazem porque sabem que isso arruinaria toda a tese fantasiosa do arrebatamento pr-tribulacional que eles creem.

E, falando em arrebatamento pr-tribulacional, no interessante que Jesus tenha apenas feito meno a um arrebatamento depois da tribulao (v.31), e no a algum que ocorreria antes dela? Para os dispensacionalistas, o arrebatamento est situado antes da tribulao; j para Jesus, o nico arrebatamento mencionado ocorre depois da tribulao! Compare, por exemplo, este texto de Mateus 24:30-31 com o de 1 Tessalonicenses 4:16-17, que fala do arrebatamento da Igreja:

Mateus 24:30-31

Ento aparecer no cu o sinal do Filho do homem, e todas as naes da terra se lamentaro e vero o Filho do homem vindo nas nuvens do cu com poder e grande glria. E ele enviar os seus anjos com grande som de trombeta, e estes reuniro os seus eleitos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos cus (Mateus 24:30,31)

1 Tessalonicenses 4:16-17

Porque o Senhor mesmo descer do cu com grande brado, voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitaro primeiro. Depois ns, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4:16-17)

Os dois textos falam dos eleitos sendo reunidos/arrebatados, ambos citam Jesus vindo nas nuvens, ambos fazem meno ao som de trombeta, ambos fazem meno aos anjos. Qualquer pessoa minimamente sensata consegue perceber o bvio: trata-se do mesmo evento, e no de dois eventos distintos. Ambos os textos retratam a volta de Jesus ao fim da tribulao, porque a diviso entre duas fases criada por Darby no bblica.

Portanto, se o evento descrito em 1 Tessalonicenses 4:16-17 (sobre o arrebatamento) o mesmo descrito em Mateus 24:30-31 como todas as evidncias textuais nos mostram que e o que ocorre em Mateus 24:30-31 claramente situado por Cristo como sendo ps-tribulacional, ento bvio que o arrebatamento da Igreja, citado em 1 Tessalonicenses 4:16-17, tambm ps-tribulacional.

E o que dizer da suposta vinda secreta pr-tribulacional de Jesus? outra coisa que ele se esqueceu ao longo de todo o discurso de Mateus 24. Ele nada fala sobre ele vindo secretamente aos Seus antes da tribulao iniciar, mas faz questo de mencionar a Sua volta gloriosa depois da tribulao.

Ou seja: nada daquilo que os pr-tribulacionistas imaginam citado por Jesus. Ele simplesmente deixa de fora tudo aquilo que o mais importante na teologia dispensacionalista. Ele no cita nenhuma vinda secreta antes da tribulao, nem arrebatamento algum antes disso. So fbulas inventadas por Darby e cridas de p junto pelos seus seguidores, mas nunca afirmadas por Jesus em momento algum.

digno de nota que Cristo faz questo de mencionar estes acontecimentos vinda secreta e arrebatamento no fim da tribulao, e no antes dela. Isso seria muito estranho caso ele cresse que estes eventos ocorreriam tanto antes como depois, pois o mais lgico seria de ele ter citado Sua vinda secreta e Sua vinda gloriosa, o arrebatamento pr-tribulacional e o arrebatamento dos deixados para trs. Mas ele cita apenas o ps, porque o pr uma inveno de Darby, no um ensinamento bblico.

Tudo isso nos mostra que Jesus nunca foi um pr-tribulacionista, pois, alm de mostrar o tempo inteiro que a Igreja estaria na grande tribulao, ainda faz questo de omitir os pontos fundamentais do pr-tribuacionismo e ressaltar que tanto a Sua volta como o arrebatamento s ocorrero depois de toda a tribulao.

CAP.3 A RESSURREIO DOS MORTOS

E reviveram, e reinaram com Cristo durante mil anos... esta a primeira ressurreio (Apocalipse 20:4,5)

Provavelmente a prova mais forte de que o arrebatamento da Igreja ps-tribulacional o texto de 1 Tessalonicenses 4:16-17, em que Paulo diz:

Porque o mesmo Senhor descer do cu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitaro primeiro. Depois ns, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4:16-17)

Note a ordem: primeiro vem a ressurreio, e depois vem o arrebatamento. Ento, para descobrirmos se o arrebatamento pr ou ps-tribulacional muito simples: basta vermos se a ressurreio pr ou ps-tribulacional! E para sabermos quando que essa ressurreio acontece, o prprio Senhor Jesus que responde:

Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no ltimo dia (Joo 6:54)

Porquanto a vontade daquele que me enviou esta: Que todo aquele que v o Filho, e cr nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no ltimo dia (Joo 6:40)

Ningum pode vir a mim, se o Pai que me enviou o no trouxer; e eu o ressuscitarei no ltimo dia (Joo 6:44)

E a vontade do Pai que me enviou esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no ltimo dia (Joo 6:39)

Disse-lhe Marta: Eu sei que h de ressuscitar na ressurreio do ltimo dia (Joo 11:24)

Perceberam quantas vezes Jesus faz questo de repetir insistentemente que a ressurreio s ocorrer no ltimo dia? Ao que parece, este era um fato bem concreto. Isso nos leva facilmente concluso de que a ressurreio no acontece sete anos antes do ltimo dia, mas somente no ltimo dia! E, se essa ressurreio ps-tribulacionista, ento lgico que o arrebatamento da Igreja tambm , j que, como vimos, o arrebatamento ocorrer depois da ressurreio, e no antes.

Como John Darby tentou se safar dessa to forte evidncia contrria ao dispensacionalismo? Por incrvel que parea, ele disse que este ltimo dia no o dia da volta visvel de Jesus nem do fim do mundo, mas o ltimo dia da dispensao da graa, para conseguir situar essa ressurreio antes da grande tribulao. Para isso, ele foi obrigado a argumentar que o ltimo dia no o ltimo dia, mas o ltimo em que algum poder ser salvo, quando a graa ainda estar disponvel.

Essa costura ou remendo feito por Darby para consertar as contradies bvias de sua teoria possui diversos erros ainda mais graves, em primeiro lugar porque no haveria qualquer lgica ou coerncia em deixar o mundo viver sete anos sofrendo grande tribulao sem a menor possibilidade de algum ser salvo neste perodo, sem poder ser alcanado pela graa. Para superar este ponto, muitos deles argumentam que o Esprito Santo ser tirado desta terra, algo absurdo para no dizer ridculo, pois o Esprito Santo Deus e onipresente, ele no pode e nem vai ser tirado em momento nenhum.

Alm disso, se o ltimo dia da dispensao da graa ocorrer sete anos antes do fim da grande tribulao, ento como que os israelitas podero se converter e serem salvos, como eles mesmos creem? E como entender as passagens bblicas que mostram claramente os santos e os servos de Deus no meio da grande tribulao, como os textos de Apocalipse 14:12 e 13:7?

Sabemos que sem a dispensao da graa no existiria sequer um nico cristo no mundo, pois apenas a graa de Deus que nos sustenta e que nos livra do pecado e do diabo. Ento, se a dispensao da graa chegar ao fim sete anos antes do final da tribulao e h santos e servos de Deus em meio tribulao, isso significa que eles chegaram l sozinhos, sem estarem ali por meio da graa, sem estarem sustentados pela graa dispensada por Ele. Isso hertico, blasfmico e um absurdo que possa ser admitido por qualquer um que se considere cristo.

Se h servos de Deus e santos na tribulao (Ap.7:3; 14:12; 13:7) porque a graa de Deus ainda est sendo dispensada, pois sem ela eles nem sequer existiriam, a no ser que o ser humano possa salvar a si mesmo. Logo, no h a possibilidade deste ltimo dia se referir ao ltimo dia da dispensao da graa como sendo sete anos antes da grande tribulao, pois a graa continuar sendo dispensada a todos os seres humanos que a aceitarem e continuar existindo enquanto existir pelo menos um nico homem de Deus nesta terra, e vemos no Apocalipse que haver homens de Deus na tribulao.

A prova mais forte de que este ltimo dia que Jesus se referia est realmente relacionado ao dia final, ao fim da grande tribulao, volta visvel de Jesus, e no sete anos antes de tudo isso, est no fato de que ele usou este mesmo termo como sendo o dia do Juzo dos homens mpios:

Quem me rejeitar a mim, e no receber as minhas palavras, j tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o h de julgar no ltimo dia (Joo 12:48)

Portanto, para Jesus este ltimo dia era o dia do Juzo. Isso remete necessariamente ao final da grande tribulao, pois os prprios pr-tribulacionistas admitem que o juzo s ocorrer depois da tribulao, e no antes dela. Note que esse julgamento estabelecido no texto faz referncia aos mpios, pois diz respeito ao que no recebeu as palavras de Jesus e o rejeitava. Ora, sabemos em Apocalipse 20:11-15 que o julgamento dos mpios s ocorrer depois da grande tribulao, no grande trono branco. Nenhum pr-tribulacionista discorda disso.

Sendo assim, se para Jesus esse ltimo dia (que o dia da ressurreio) refere-se tambm ao dia do juzo dos mpios, e esse dia do juzo dos mpios ser depois da tribulao, ento a ressurreio tambm depois da tribulao. E Paulo diz que o arrebatamento acontece depois da ressurreio (1Ts.4:16,17), o que s nos leva a crer que o arrebatamento ps-tribulacional.

Outro fato que confirma tudo isso Joo ter mencionado explicitamente que a ressurreio s ocorrer ao trmino de todas as tribulaes apocalpticas, j no captulo 20, nos versos 4 e 5, em que ele diz:

E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que no adoraram a besta, nem a sua imagem, e no receberam o sinal em suas testas nem em suas mos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos. Mas os outros mortos no reviveram, at que os mil anos se acabaram. Esta a primeira ressurreio (Apocalipse 20:4-5)

Essa ressurreio que Joo narra no uma ressurreio pr-tribulacional, porque s ocorre depois do trmino de toda a grande tribulao, j em pleno captulo 20, prximo do trmino do livro, aps descrever todos os acontecimentos tribulacionais. Portanto, o Apocalipse de Joo tambm uma fonte de confirmao do fato de que a ressurreio de que Paulo falava s ocorrer depois da tribulao (sendo que o arrebatamento s ocorre depois da ressurreio).

No desespero em conseguirem conciliar o fato de que o arrebatamento posterior ressurreio e essa ressurreio Joo diz que somente ocorrer depois da tribulao, Darby argumentou que a ressurreio de que Paulo falava nada tinha a ver com a ressurreio que Joo descreve nos versos acima, mas diz respeito a uma suposta ressurreio pr-tribulacional que no foi narrada por Joo! No pr-tribulacionismo sempre assim: a verdade est sempre oculta, omitida, desconhecida.

Para eles, Joo deixou de narrar uma ressurreio pr-tribulacionista que incluiria a ressurreio de todos os santos do AT e do NT at o incio da tribulao o que seria da maior importncia e que obviamente no teria sido omitido por ele caso realmente existisse. A ressurreio um dos pontos mais altos da f crist, sempre foi um fundamento bsico da f, sempre fez parte da essncia e dos alicerces do Cristianismo, no teria sido omitida por Joo caso realmente existisse uma antes da tribulao!

Darby conseguiu o feito extraordinrio de inventar uma ressurreio misteriosa que no foi revelada nem ao apstolo Joo na escrita do Apocalipse! Isso que revelao! O que Joo se esqueceu, Darby lembrou! Os dispensacionalistas encaixam uma ressurreio pr-tribuacional no porque ela esteja na Bblia, mas porque ela necessria para dar coeso s suas teses. Essa a razo de eles inclurem uma vinda secreta de Jesus antes da tribulao to secreta ao ponto de que nem Joo a descobriu e uma ressurreio tambm antes dela.

Os pr-tribulacionistas se baseiam em um texto de Paulo aos corntios para dizerem que a ressurreio dividida em trs partes, uma que seria a primcia, outra a colheita e a outra os rabiscos da colheita, ignorando o fato de que o texto bblico nada fala sobre esses tais rabiscos inventados pelos dispensacionalistas, ele apenas fala da primcia (Cristo) e da colheita (ressurreio geral dos mortos):

Porque, assim como todos morrem em Ado, assim tambm todos sero vivificados em Cristo. Mas cada um por sua ordem: Cristo as primcias, depois os que so de Cristo, na sua vinda (1 Corntios 15:22-23)

Como vemos, Joo no era o nico a omitir um fato importante dentro da teologia pr-tribulacionista, pois Paulo era outro que quando fazia meno ressurreio em nada fazia qualquer aluso s teorias deles. Alegar que existiro rabiscos da ressurreio porque no antigo Israel existiam rabiscos da colheita amputar a exegese, aleijar e hermenutica e dar um tiro nas regras mais bsicas da interpretao bblica, em primeiro lugar porque quem afirma isso demonstra desconhecer as fases da colheita do AT, de onde provm essa analogia. Sobre isso, Gyordano Montenegro diz:

A colheita se baseia em duas, e apenas duas fases: as primcias e a colheita propriamente dita. As primcias eram levadas a Deus (xodo 23:19), ficando a colheita para o dono da terra. Os chamados rabiscos no eram parte da colheita; na realidade era proibido ao dono da terra colher os rabiscos (Levtico 19:9,10; cf. Jeremias 49:9), os quais eram deixados para o pobre e o estrangeiro. Os rabiscos no eram parte da colheita; eram o que sobrava dela, jamais se integrando colheita. O dono da terra jamais os recolhia em seu celeiro. Assim sendo, pura arbitrariedade considerar os rabiscos como parte da colheita. Mera eisegese[footnoteRef:13] [13: MONTENEGRO, Gyordano Brasilino. Rabiscos imaginrios do pr-tribulacionismo. Disponvel em: . Acesso em: