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  • 5. Sistema Mquina As caladas de Juiz de Fora

    5.1. Espao urbano e a centralidade das cidades

    A cidade o lugar onde os investimentos de capital so

    maiores, seja em atividades localizadas na cidade ou na produo da cidade e tambm o principal lugar dos conflitos sociais. O espao urbano simultaneamente fragmentado e articulado, cada uma de suas partes mantm relaes espaciais com as demais partes e com intensidade muito varivel, a articulao manifesta-se atravs das relaes espaciais envolvendo a circulao de decises e investimentos de capital, mais-valia, salrios, juros, rendas, envolvendo ainda a prtica do poder e da ideologia. Estas relaes espaciais so de natureza social, tendo como matriz a prpria sociedade de classes e seus processos. Integram, ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unindo-as em um conjunto articulado cujo ncleo de articulao tem sido, tradicionalmente, o centro da cidade (Corra, 2005).

    As condies regionais (planejamento) as distncias percorridas diariamente, a exposio a grandes densidades de pessoas e trfego, o contato com equipamentos urbanos, que colocam em risco o usurio e geram poluio e a disponibilidade de transportes coletivos, dependem, em grande medida, do planejamento urbano, mais especificamente do uso e ocupao que dado ao solo urbano (Del Rio,1990).

    Cabe ao planejamento urbano indicar local para o desenvolvimento de atividades e funes das aglomeraes urbanas, potencializando ou incentivando o surgimento de vocaes econmicas locais. Assim, estar determinada a localizao dos ambientes de produo e reproduo. A separao espacial entre esses ambientes e dentro deles, resultar na distncia que as pessoas tero que se deslocar de casa ao trabalho, ao comrcio, escola, ao hospital e ao lazer (Lamas, 2004).

    Durante o sculo XX houve uma notvel revoluo na tecnologia de transportes. Gradualmente, trilhos e depois caminhes, diminuram substancialmente o preo de transportar bens. Essas redues de custos eliminaram tambm as vantagens da localizao prxima aos recursos naturais, incluindo a gua e terras produtivas. Como resultado, as cidades construdas prximas aos locais de produo foram aos poucos substitudas por cidades perto dos

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    consumidores e do poder, com as conseqentes vantagens polticas. Conseqentemente, as cidades de 1900, onde se andava, foram substitudas pelas cidades de hoje, onde se dirige (Corra, 2005).

    5.2. Produo da cidade

    na rea central de um municpio que acontecem as

    relaes mais importantes entre seus usurios, o local onde acontecem s trocas e os contatos sociais entre as pessoas. O Brasil pode-se considerar um pas urbano, pois cerca de 92 % (Ministrio das Cidades, 2004) da populao brasileira vive em cidades, entretanto, viver nas cidades continua sendo um grande desafio para muitos e um grande transtorno para outros. Avaliando as funes existentes em uma cidade pode-se mencionar a importncia da moradia, dos ambientes de trabalho, das condies de lazer e recreao e, principalmente, as formas e condies de se unir todas estas funes atravs da circulao das pessoas e a calada o local mais comum para se perceber e desenvolver uma discusso de acessibilidade urbana.

    Deve ser avaliado o material utilizado na rea de passeio pblico, as transposies de um lado para outro da via pblica, as formas de travessia, a existncia, as configuraes e as locaes do mobilirio urbano, as condies dos modais, ou sejam, os txis e as vans, as formas de embarque/ desembarque, etc. importante que o conceito de acessibilidade esteja embutido no projeto inicial do parcelamento do solo urbano e, conseqentemente, na produo de novas vias pblicas. Desta maneira estar-se- contribuindo para o no aparecimento de novas barreiras na mobilidade urbana, permitindo que todas as pessoas tenham condies de locomoo naquele novo espao, com equiparao nas oportunidades oferecidas pela cidade.

    5.2.1. Via Pblica

    A via pblica identificada pela rea destinada

    circulao de pessoas e veculos, delimitada entre as testadas dos lotes lindeiros a ela, compreendendo as caladas, as pistas de veculos, os canteiros centrais. Um erro muito comum chamar a via pblica de rua. Rua uma das nomenclaturas possveis, para uma via, assim como avenida, alameda e demais elementos urbanos assemelhados (Ministrio das Cidades, 2004).

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    A rua deve ser tratada como suporte de mltiplos usos. So nos espaos pblicos da cidade, nos passeios e nas praas que ocorrem as principais atividades dos pedestres. No convm questionar porque os pedestres esto ali ou caminham, mas saber que a cidade foi construda para as pessoas e que estas tm tido cada vez mais dificuldades em caminhar. As ruas so importantssimas. No se pode conceber uma cidade sem elas. Servem para ligar os diversos pontos de interesse particular ou pblico, conformando uma rede de canais livres e de propriedade coletiva Se no existissem, no haveria troca de espcie alguma, pois servem de suporte ao deslocamento de pessoas, veculos mercadorias, informaes. Territrios de ningum e de todo mundo, so o palco onde se desenvolvem os dramas e representaes da sociedade (Santos, 1988).

    Da Matta, apud Santos (1988), preocupa-se bastante com os significados da rua e da casa no Brasil. Na rua est o transitrio, o ambguo, o excitante e o perigoso. Na casa o estvel, a certeza da prpria identidade. As duas categorias no so estanques, porm h instantes de quebra do cotidiano em que a rua tratada como casa ou que a casa aberta como se fosse rua. A questo da rua, como desenh-la, prever sua ocupao e usos, bsica. preciso procurar uma reintegrao. A rua sai da oposio entre o dentro e o fora. o complemento lgico dos lotes que a ela se vinculam e dos quarteires por ela definidos. Quando se articula esses elementos surge o tecido urbano.

    A locao de mobilirio sem planejamento, a ampliao no autorizada sobre a calada, os diversos usurios de um mesmo espao com suas necessidades especficas, a inclinao transversal da mesma, a falta de rebaixamento de guias, a falta de manuteno so alguns dos problemas que se pode encontrar nos espaos urbanos onde h circulao de pessoas, impedindo o exerccio de cidadania.

    5.3. Morfologia Urbana

    A morfologia urbana estuda o tecido urbano e seus

    elementos construdos, formados atravs de sua evoluo, transformaes, inter-relaes e dos processos sociais que os geraram. Entende-se que a morfologia do ambiente construdo urbano conformada pelos elementos naturais, pelo traado urbano e a arquitetura das edificaes que emolduram os recintos urbanos (Del Rio,1990).

    O espao humanizado pblico constitui um ambiente global que s como tal pode ser compreendido. O homem vive numa continuidade ambiental, e as formas urbanas ou territoriais so constitudas pela composio de diferentes

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    unidades espaciais e elementos morfolgicos. A rua a menor unidade, ou poro de espao urbano. A relao que existe entre as fachadas e os seus pormenores construtivos, mobilirio urbano, pavimentos, letreiros, rvores etc, organizados entre si, definem a forma urbana. Na escala da rua, o observador consegue abarcar a unidade espacial no seu conjunto (Lamas, 2004).

    A paisagem urbana deve evocar para o usurio uma imagem legvel, estruturada, com identidade e significados. A falta ou excesso de elementos estruturais, como as vias, os marcos, os limites, os cruzamentos e os bairros afetam a leitura do espao e a construo, por parte do usurio, de um mapa mental, dificultando a sua orientao. As condies morfolgicas (os elementos arquitetnicos e urbansticos) associadas s culturais tambm afetam as formas de apropriao espacial do ambiente urbano, resultando nos fenmenos existenciais da territorialidade, privacidade, identidade e ambincia, o que pode favorecer ou dificultar o acesso e a satisfao de vivenciar e de usufruir um determinado espao. Um espao morfologicamente pobre e confuso significa que as estruturas de circulao tero que compensar, dentro de sua esfera de atuao, as deficincias de orientao, legibilidade e de ambincia. O que torna ainda mais importante sinalizao dos elementos e equipamentos urbanos, bem como a criao de espaos de vivncia ao longo da via e reforo nas suas qualidades paisagsticas (Baptista, 2003).

    Lynch (1999), classifica cinco tipos de elementos que compe as cidades: as vias, os limites, os bairros, os pontos nodais e os marcos, que podem ser assim definidos:

    Vias so os canais de circulao ao longo dos

    quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser ruas, alamedas, linhas de trnsito, canais, ferrovias.

    Limites so os elementos lineares no usados ou entendidos como vias pelo observador. So as fronteiras entre duas fases, quebras de continuidade lineares: praias, margens de rios, lagos, etc., cortes de ferrovias, espaos em construo, muros e paredes.

    Bairros so as regies mdias ou grandes de uma cidade, concebidos como dotados de extenso bidimencional.

    Pontos nodais so lugares estratgicos de uma cidade, podem ser junes, locais de interrupo do transporte, um cruzamento ou uma convergncia de vias, momentos de passagem de uma estrutura a outra.

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    Marcos so um tipo de referncia, um edifcio, uma loja, uma montanha, cpulas douradas, etc.

    Nenhum dos elementos acima existe isoladamente. Os

    bairros so estruturados com pontos nodais, definidos por limites, atravessados por vias e salpicados por marcos.

    Figura 16 - Kevin Lynch: imagem da cidade

    Fonte: Lynch, 1999 De acordo com Lamas (2004), os elementos da cidade

    so: O solo a partir do territrio existente e de sua

    topografia que se desenha ou constri a cidade. Os edifcios (o elemento mnimo) atravs dos

    edifcios que se constitui o espao urbano: a rua, a praa, o beco, a avenida etc.

    O lote (a parcela fundiria) o edifcio no pode ser desligado do lote ou superfcie de solo que ocupa. Construir uma cidade separar o domnio pblico do domnio privado.

    O quarteiro um contnuo de edifcios agrupados entre si em anel, ou sistema fechado e separado dos demais; o espao delimitado pelo cruzamento de trs ou mais vias e subdivisvel em parcelas de cadastro (lotes) para construo de edifcios.

    A fachada (o plano marginal) na cidade tradicional, a relao do edifcio com o espao urbano vai se dar pela fachada. So as fachadas que vo exprimir as caractersticas distributivas, o tipo edificado, as caractersticas e linguagem arquitetnica (o estilo, a expresso esttica, a poca), em suma, um conjunto de elementos que iro moldar a imagem da cidade. A partir do urbanismo moderno, o edifcio, e conseqentemente sua fachada, deixa de ocupar no

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    espao urbano a posio que detinha na cidade tradicional, passando a ser um objeto isolado em redor do qual existe espao livre. Desaparecem as empenas, e os lados passam a serem vistos e a pertencer imagem da cidade. Deixa de existir a fachada principal para a rua. Neste contexto, modifica-se fortemente a posio e a importncia da fachada na morfologia urbana.

    O logradouro constitui o espao privado do lote no ocupado por construo. Teve vrias utilizaes ao longo das pocas, desde horta ou quintal at oficina, garagem ou anexo.

    O traado (a rua) um dos elementos mais claramente identificveis tanto na forma de uma cidade como no seu design. Regula a disposio dos edifcios e quarteires, liga os vrios espaos e partes da cidade. A rua est diretamente ligada ao deslocamento e mobilidade de bens, pessoas e idias.

    A praa elemento morfolgico das cidades ocidentais e distinguiu-se de outros espaos, pela organizao espacial e intencionalidade de design. A praa o lugar intencional do encontro, da permanncia, dos acontecimentos, de prticas sociais, de manifestaes de vida urbana e comunitria. A praa um elemento de grande permanncia nas cidades.

    O monumento elemento morfolgico indivi-dualizado pela sua presena, configurao e posicionamento na cidade e pelo seu significado.

    A rvore e a vegetao do canteiro rvore, ao jardim de bairro ou o grande parque urbano, as estruturas verdes constituem tambm elementos identificveis na estrutura urbana. Desempenham funes precisas: so elementos de composio e do design urbano. Servem para organizar, definir e conter espaos.

    O mobilirio urbano elementos mveis que equipam a cidade: o banco, o chafariz, o cesto de lixo, os postes de luz, a sinalizao etc.

    Assim como Lynch (1999), Lamas (2004), esclarece

    que estes elementos so relacionados entre si. Na escala da rua, os elementos morfolgicos so: os edifcios, o traado e tambm a rvore ou a estrutura verde, design do solo e o mobilirio urbano. Na dimenso urbana, ou escala de bairro, so os traados e praas, os quarteires e monumentos, os jardins e reas verdes. Na dimenso territorial, ou escala urbana, os elementos morfolgicos se identificam com os bairros, as grandes infra-estruturas virias e as grandes zonas

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    verdes relacionadas com o suporte geogrfico e as estruturas fsicas da paisagem.

    5.4. Forma das cidades e Desenho Urbano

    No passado, plano e projeto, cidade e edifcios, eram

    peas de um mesmo sistema. Os arquitetos e os gestores ou administradores no faziam a separao entre o plano e o projeto, entre a rua, o prdio e o bairro. Todos os elementos concorriam na definio da cidade e eram igualmente qualificados. O desenho arquitetnico era um instrumento de definio da cidade. Tudo era arquitetura. A separao entre o urbanismo e a arquitetura surge no sculo XX, com o desenvolvimento do urbanismo moderno e a sua complexidade disciplinar, com o alargamento do seu campo de interveno a todo o territrio e com a diviso social do trabalho entre o urbanista e o arquiteto (Lamas, 2004).

    O problema gerado por esta caracterizao nos leva a refletir sobre a prtica da arquitetura nos diferentes nveis de produo do espao, num processo encadeado a vrios nveis: desenho urbano e desenho de edifcios no so mais que dois momentos de uma mesma disciplina a arquitetura intervindo em diferentes momentos e com distintos processos, mas com um nico instrumento fundamental: o desenho. E ser especificado por um especialista o arquiteto que pode intervir a diferentes nveis e dimenses espaciais, mas com um objetivo comum: o domnio da forma do territrio e da cidade como estruturas fsicas. Porque so nessas estruturas fsicas que vivem os cidados e a estrutura fsica o que resta das cidades na sua evoluo e transformao no tempo (Lamas, 2004).

    Na segunda metade do sculo XX, o acelerado processo de crescimento da populao urbana no mundo, nos pases industrializados e nos subdesenvolvidos, tornou incontrolvel o desenvolvimento de novas estruturas urbanas, o planejamento urbano e regional tentou estabelecer padres bsicos de organizao do territrio pelo Estado central ou pelos governos municipais. Na Amrica Latina, o reflexo dos modelos do Primeiro Mundo incidiu negativamente nas grandes capitais, com a destruio do centro histrico tradicional, a expanso descontrolada dos subrbios - pobres e ricos - os condomnios fechados ou as ocupaes irregulares dos assentamentos precrios da populao de baixa renda, a prioridade do transporte privado sobre o pblico, o consumismo desenfreado, a segregao social, funcional e formal dos espaos pblicos e privados, o abandono das tradies locais e a continuidade da malha urbana. A partir dos anos 1980, muda a dinmica do

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    desenvolvimento urbano, em particular na Amrica Latina. As intervenes do poder central do Estado sobre o territrio so reduzidas; o planejamento como proposta abstrata e geral entra em crise, e os governos municipais assumem a liderana das iniciativas das transformaes nas cidades, resgatando tanto a participao de arquitetos e urbanistas locais de prestgio quanto dos cidados. A imagem da cidade no mais representada pelos planos com manchas coloridas elaborados pelos escritrios tcnicos da burocracia estatal, mas pelas vises de stios concretos com espaos e formas objetivas surgidas com a evoluo histrica, cujo problema deve ser resolvido com solues inovadoras e pontuais, identificadas com os desejos e aspiraes dos habitantes e usurios da rea ou do bairro (Lamas, 2004).

    5.5. Desenho Urbano de Juiz de Fora

    5.5.1. Histria: No traado das ruas, a cidade se organiza

    A origem da cidade de Juiz de Fora, remonta ao

    perodo de expanso da minerao, particularmente a partir de 1709, quando da construo do Caminho Novo, na margem esquerda do rio Paraibuna, a pedido do rei de Portugal, para dar passagem a burros de carga com ouro e diamantes da provncia de Minas Gerais para o Porto do Rio de Janeiro. Com o objetivo de incentivar o povoamento na regio, o governo imperial distribuiu sesmarias para nobres e sditos. Com a partilha das terras do tenente Antonio Dias Tostes entre seus doze filhos, toda a regio que hoje constitui o centro da cidade foi dividida em doze faixas paralelas, transversais atual Avenida Rio Branco - na poca, Estrada Nova (Miranda, 1990).

    Figura 17 - Mapa de Juiz de Fora, 1844 A organizao do espao urbano na rea do povoamento recm-surgido na

    margem direita do rio Paraibuna. Fonte: Arquivo Histrico da Prefeitura de Juiz de Fora, 2006

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    Figura 18 - Mapa de Juiz de Fora, 1883 Ponte da Leopoldina, o rio Paraibuna, a Fazenda do Juiz de Fora e trechos do

    Caminho Novo Fonte: Arquivo Histrico da Prefeitura de Juiz de Fora, 2006

    Figura 19 - Mapa de Juiz de Fora, 1936, detalhe Fonte: Arquivo Histrico da Prefeitura de Juiz de Fora, 2006

    O processo de ocupao da atual regio central foi

    intensificado a partir da construo da Estrada do Paraibuna por Henrique Halfeld, na dcada de 1830, a transferncia do povoado circunvizinho ao stio do Juiz de Fora (atual bairro do Vitorino Braga), para vrzea entre o rio Paraibuna e o Morro do Imperador, provocou a constituio da regio central principal, com o lento estabelecimento de trs pontos referenciais principais relativos estrutura de poder vigente: o atual Parque Halfeld e seus arredores, onde se localizavam as instituies ligadas administrao, o largo da Igreja

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    Matriz e a praa da Estao. Em torno desse ncleo se assentaria posteriormente o centro comercial e industrial bsico da cidade (Miranda, 1990).

    No transcorreu muito tempo entre a dinamizao do ncleo urbano ao lado da expanso cafeeira e a definio de um status urbano. To logo fossem resolvidos os problemas ligados ao equacionamento de uma estrutura administrativa e policial consubstanciadas com a construo do Frum e da cadeia Pblica, o povoado podia ser elevado a Vila e finalmente a cidade, o que aconteceu em 22 de julho de 1856. Para comemorar o fato, o vereador Alves Garcia props que se tomassem vrias providencias, entre elas a abertura de cinco novas ruas rua do Cano (atual Sampaio), Califrnia (atual Halfeld), Imperial ou Imperatriz (atual Marechal Deodoro), Santo Antnio e rua Formosa ou rua do Comrcio (atual Batista de Oliveira).

    Aps o deslocamento do povoado inicial, da fazenda do Juiz de Fora situada na margem esquerda do Paraibuna hoje bairros Vitorino Braga e Costa Carvalho, antigo Botanagu - para a Vrzea na margem direita, esboou-se a, aps a construo da Estrada Nova um ncleo de expanso definitivo e que daria lugar a toda rea central que, futuramente seria marcada, pela maior concentrao populacional, maior grau de inverso em servios pblicos, maior valorizao dos terrenos e que, portanto, no sculo XX passou a ter como marca registrada de um crescimento vertical marcante. Foi nesta rea central que a elite agrria residente na cidade optou pela definio de um centro de poder estabelecido sob a trilogia Igreja/ reparties Pblicas/ Praa Central. Ao mesmo tempo fixaram-se na rea central, profissionais liberais e comerciantes, o que garantiu uma tradio mercantil em termos de uso do espao presente at os dias de hoje (Miranda, 1990).

    Figura 20 Mapa areo de Juiz de Fora

    Fonte: PJF, 2004.

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    5.5.2. A forma do territrio

    Inserido no complexo serrano da Zona da Mata

    mineira, encravado nos contrafortes da Mantiqueira Setentrional, o municpio de Juiz de Fora, apresenta um relevo fortemente dissecado que varia de ondulado a montanhoso, geralmente mostrando elevaes com topos arredondados, vertentes convexas e cncavo-convexas, terminando em vales planos de larguras variadas. O permetro urbano pode ser enquadrado em dois grandes domnios geolgicos: ao norte, os terrenos ocupados pelo Gnaisse Piedade e ao sul, pelas rochas antigas do Complexo Juiz de Fora. Esses compartimentos geolgicos referem-se a unidades de grande extenso, formadas por uma variedade de rochas metamrficas, coerentes, duras e resistentes; destacam-se ainda por serem muito antigas e por terem sido submetidas a intensos dobramentos, falhamentos e fraturamentos. Condicionado dessa forma, pelos agentes morfognicos predominantes na regio, a ocupao do espao urbano de Juiz de Fora, desenvolveu-se inicialmente nas vrzeas do rio Paraibuna e, na medida de seu adensamento, foi ocupando os vales secundrios formados pelos afluentes desse rio. Hoje, j os tendo ocupado em quase sua totalidade cresce em suas vertentes, em muitas vezes de forma desordenada, acarretando profundas alteraes no espao urbano (PJF, acessado em 2006).

    5.5.3. Evoluo urbana

    Juiz de Fora, cidade plo da Zona da Mata Mineira teve

    incio de sua ocupao no Vale do Rio Paraibuna, no perodo de expanso cafeeira. Nesse perodo ocorreu uma acelerao no processo de urbanizao, pois associado s atividades mercantis, desenvolve-se a atividade industrial, predominantemente ligada produo de bens de consumo no durveis, sobretudo txteis, alimentcias e vesturios. De 1892 a 1915, a cidade moderniza-se, definindo-se o arruamento do ncleo central e vrios projetos imobilirios so implementados. O rpido crescimento comercial e mercantil e o afluxo populacional geraram uma demanda especfica pela implementao de um setor moderno de servios de consumo coletivo (Miranda,1990).

    No incio do sculo XX, Juiz de Fora se apresenta com um mercado amplo e diversificado. Entre 1915 e 1920 o crescimento demogrfico superior a 100%. Entre 1916 e 1930, a cidade passa por um processo de modernizao, ampliao da malha urbana e de embelezamento dos espaos

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    pblicos. A cidade expande-se para locais at ento considerados perifricos e, assim, lentamente estabelecem-se novas reas de ocupao. Intensificam-se as obras de calamentos, aterros e arruamentos, que se estendem pelo fundo do vale principal e pelos afluentes do rio Paraibuna. Nestas circunstncias a populao passa a ocupar as encostas e os vales secundrios que mais tarde se uniram ao ncleo central (Miranda,1990).

    No perodo da Segunda Guerra Mundial e mesmo os anos seguintes at a dcada de 60, o processo de industrializao de Juiz de Fora sofre uma estagnao culminando com o fechamento de vrias industrias txteis tradicionais. Entretanto, ao final da dcada de 60 adentrando pelos anos 70 novas industrias so implantadas na cidade com trs configuraes distintas do processo anterior de industrializao: a instalao de industrias distantes do centro da cidade; o surgimento de novos ramos industriais destacando-se o metalrgico o farmacutico e o alimentcio; grande participao de capital estrangeiro nas suas instalaes. Outro fator que influenciou no crescimento urbano neste perodo foram os investimentos em polticas habitacionais, que valorizaram vrias reas perifricas devido expanso da infra-estrutura e servios. Estes programas de polticas habitacionais estimularam tambm a verticalizao da cidade e assim a formao dos canyons urbanos. As grandes industriais txteis que datam do final do sculo XIX e incio do XX instalaram-se prximo ao centro possibilitando o adensamento da populao em torno da rea central. Mais recentemente a expanso de industrias de malhas de pequeno porte, tambm optaram pela instalao junto ao centro, a fim de facilitar o comrcio varejista (Miranda, 1990).

    Com o declnio da industria txtil, a cidade passa a ser sustentada pela indstria metal-mecnica como a Siderrgica Mendes Jnior hoje Belgo Juiz de Fora e a Companhia Paraibuna de Metais (Grupo Votorantin), fazendo do setor siderrgico o principal responsvel pelo desempenho industrial. Desta maneira retomado o ritmo de crescimento da populao na rea urbana de Juiz de Fora sendo que entre as dcadas de 1940 a 2000 a populao quadruplicada.

    Conforme o que permite a legislao em vigor, Lei Municipal no 6.910/86, que ressalta sobre o ordenamento do uso e ocupao do solo, h o adensamento de mltiplas atividades na rea central, o que lhe acarreta inclusive, intenso fluxo de veculos. O processo de industrializao na dcada de 90 se intensifica com a chegada de novas industrias, principalmente de capital estrangeiro como a Mercedes Benz Automveis que atraiu migrantes da microrregio e de outras partes do pas, acarretando uma reorganizao da infra-estrutura urbana.

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    LEGENDA

    PERMETRO URBANO

    REA OCUPADA AT 1883

    1884 a 1955

    1956 a 1963

    1964 a 1975

    1976 a 1980

    1981 a 1990

    Figura 21 Evoluo da malha urbana de 1882 a 1998 Fonte: PJF, 2004

    LEGENDA

    REAS URBANIZADAS - 1998

    UCA - UNIDADE DE CONSERVAO AMBIENTAL

    PERMETRO URBANO

    RODOVIAS FEDERAIS E ESTADUAIS

    EIXOS PRINCIPAIS EXISTENTES

    Figura 22 Evoluo da malha urbana de 1882 a 1998 Fonte: PJF, 2004

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    5.5.4. Diviso por Centros Regionais

    Quadro 02 - Centros RegionaisRegio Bairros

    NORTE

    Barbosa Lage Barreira do Triunfo Benfica Carlos Chagas Cermica Esplanada Francisco Bernadino Industrial Jardim Natal Jquei Clube Monte Castelo Nova Era Remonta Represa Santa Cruz So Dimas

    NORDESTE

    Eldorado Granjas Betnea Jardim Bom Clima Mariano Procpio Muumge da Grama Santa Therezinha Vale dos Bandeirantes

    LESTE

    Bair Bonfim Botangua Centenrio Cesrio Alvim Graja Linhares Manoel Honrio Meggliolrio/N. Sra. Aparecida Progresso Santa Rita So Benedito So Bernardo Vitorino Braga

    CENTRO

    Alto dos Passos Boa Vista Bom Pastor Centro Costa Carvalho Dom Bosco Fbrica Grambery Jardim Glria Jardim Paineiras Jardim Santa Helena Morro da Glria Mundo Novo Santa Catarina Santa Ceclia So Mateus Vale do Ip Vila Ozanan

    SUDESTE

    Baro do Retiro Floresta Nossa Sra. de Lourdes Poo Rico Santo Antnio Vila Furtado de Menezes Vila Ideal Vila Olavo Costa

    SUL

    Bomba de Fogo Cascatinha Graminha Ipiranga Sagrado Corao de Jesus Salvaterra Santa Efignia Santa Luzia So Geraldo Teixeiras

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    OESTE

    Aeroporto Borboleta Cruzeiro Santo Antnio Martelos Morro do Imperador Nova Califrnia Novo Horizonte So Pedro

    Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Humano, 2000; SPGE - Secretaria de Planejamento e Gesto Estratgica; Centro de Pesquisas Sociais / Anurio 2004 Nota: Este quadro segue orientaes da Reforma Administrativa de 2001,em que as regies de planejamento passaram de 12 para 7 urbanas , de acordo com os sete Centros Regionais

    Figura 23 Evoluo da malha urbana de 1882 a 1998 Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Humano, 2000; SPGE - Secretaria de Planejamento e Gesto Estratgica; Centro de Pesquisas Sociais / Anurio 2004

    Figura 24 Vetores de Crescimento

    Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Humano, 2000; SPGE - Secretaria de Planejamento e Gesto Estratgica; Centro de Pesquisas Sociais / Anurio 2004

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    Como se pode comparar com o mapa da evoluo

    urbana os vetores de crescimento esto direcionados para fora do ncleo central do municpio.

    Figura 25 Vista da cidade de Juiz de Fora do alto do Morro do Cristo

    Mostra os elementos morfolgicos, a especulao sobre o solo urbano no centro da cidade e a estrutura dos lotes que geram as formas edificadas. Fonte: Lunardi, 2006

    5.5.5. Objeto de estudo: situao atual das caladas de Juiz de Fora

    Figura 26 Desnvel entre os pisos das caladas.

    Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 27 Entrada de garagens.

    Alteram o nvel das caladas. Fonte: Lunardi, 2006

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    Figura 28 Ausncia de

    rampas de acesso Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 29 Lixo Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 30 Comrcio

    informal ocupa a calada Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 31 Falta de manutenoFonte: Lunardi, 2006

    Figura 32 Desnvel

    transversal acentuado Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 33 Degraus. Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 34 M conservao Fonte: Lunardi, 2006

    Figura 35 M conservao Fonte: Lunardi, 2006

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