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10 . . .. " , . Insetos-praga da macieira: Reconhecendo os inimigos Parte 1: Grapholita molesta(Busk) - Lepidoptera: Tortricidae Por Cristiano João Arioli e Marcos BoUon A GraPholita molesta, popularmente conhecida por grafolita ou broca-dos- -ponteiros, é uma praga amplamente disseminada pelas regiões produtoras de maçã do Sul do Brasil. A espécie é origina- ria da Ásia e foi registrada pela primeira vez no Brasil em 1929, mais especificamente no estado do Rio Grande do Sul. Foi inicial- mente observada nos pomares de macieira em 1982, sendo que, em 1985, até 90% de frutos danificados pela praga foram regis- trados em alguns pomares de Santa Cata- rina, demonstrando sua rápida adaptação à cultura. O adulto da grafolita (Figura 1) é uma pequena mariposa de cerca de 12 mm de envergadura, de coloração grafite com algu- mas estrias de coloração branca. A cabeça e tórax, vistos de cima apresentam coloração escura. O abdome e pernas, vistos de baixo são de coloração branco-prateada. Visual- mente as diferenças existentes entre ma- chos e fêmeas são de dificil percepção. No geral, as fêmeas são maiores que os machos. A emergência dos adultos ocorre no período da manhã, porém os insetos apre- . . Fotos: Divu!ga o Figura L Adulto de grafolítaem ramo de macieira. 17:00 e 22:00h). O ciclo de vida dos adul- tos pode variar de 16 a 24 dias nas tempe- raturas entre 30 e 20°C, respectivamente. As fêmeas iniciam a postura um a três dias após o acasalamento. Sobrevivem em torno de 20 dias, nos quais podem ovipositar cer- ca de 300 ovos. Esses por sua vez são muito pequenos (cerca de 0,7mm de diâmetro). Apresentam a forma de discos, ligeiramen- te convexos e esbranquiçados. São postos isoladamente na face inferior de folhas, nas brotações, em ramos novos, em Burrknots e frutos. Após 4 dias da oviposição, eclodem as lagartas que, e~ três horas, são cap~zes Prejuízos aos produtores Atualmente, na região da Serra Catari- nense, essa praga causa perdas expressivas. Nos frutos, as lagartas penetram preferen- cialmente pela região do cálice, indo se alimentar na região entorno das sementes (Figura 3A). No ponto de penetração, as la- gartas depositam excrementos, o que facili- ta a identificação da sua presença (Figura 3B). O ataque em frutos acelera a matura- ção provocando a queda prematura. Frutos atacados apresentam galerias e tornam-se imprestáveis para comercialização. Já em viveiros e pomares novos, ao se alimentar nas brotações, impedem o crescimento normal das plantas e consequente forma- ção dos ramos. Em pomares adultos, o ata- que sobre as brotações não ocasiona perdas significativas. O acompanhamento da população de adultos nos pomares pode ser feito com armadilhas de feromônio sexual sintético. Essas devem ser instaladas nos pomares a partir de agosto, permanecendo lá até o final da colheita. A vistoria deve ser sema- Figura 3. Dano da grafolita em frutos de ma- cieira (A). Sintoma de ataque pela presença de excrementos no local de penetração (B). zados inseticidas organofosforados que são de ação neurotóxica, apresentando amplo espectro de ação. Muitos destes produtos são potenciais contaminantes do ambiente e favorecem o aparecimento de pragas se- cundárias, principalmente ácaros, como o ácaro vermelho europeu Panonychus ulmi. Nos últimos dez anos, devido às pressões impostas pelo mercado consumidor e con- sequentemente pelo sistema de produção integrada de maçã (PIM) , foram suprimi- dos muitos ingredientes ativos por apresen- tar carência e toxicidade elevada. Assim, novos inseticidas (mais seletivos a inimigos

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Insetos-praga da macieira:Reconhecendo os inimigosParte 1:Grapholita molesta(Busk) - Lepidoptera: Tortricidae

Por Cristiano João Arioli e Marcos BoUon

AGraPholita molesta, popularmenteconhecida por grafolita ou broca-dos--ponteiros, é uma praga amplamente

disseminada pelas regiões produtoras demaçã do Sul do Brasil. A espécie é origina-ria da Ásia e foi registrada pela primeira vezno Brasil em 1929, mais especificamenteno estado do Rio Grande do Sul. Foi inicial-mente observada nos pomares de macieiraem 1982, sendo que, em 1985, até 90% defrutos danificados pela praga foram regis-trados em alguns pomares de Santa Cata-rina, demonstrando sua rápida adaptação àcultura.

O adulto da grafolita (Figura 1) é umapequena mariposa de cerca de 12 mm deenvergadura, de coloração grafite com algu-mas estrias de coloração branca. A cabeça etórax, vistos de cima apresentam coloraçãoescura. O abdome e pernas, vistos de baixosão de coloração branco-prateada. Visual-mente as diferenças existentes entre ma-chos e fêmeas são de dificil percepção. Nogeral, as fêmeas são maiores que os machos.

A emergência dos adultos ocorre noperíodo da manhã, porém os insetos apre-

. .

Fotos: Divu!ga o

Figura LAdulto de grafolítaem ramo de macieira.

17:00 e 22:00h). O ciclo de vida dos adul-tos pode variar de 16 a 24 dias nas tempe-raturas entre 30 e 20°C, respectivamente.As fêmeas iniciam a postura um a três diasapós o acasalamento. Sobrevivem em tornode 20 dias, nos quais podem ovipositar cer-ca de 300 ovos. Esses por sua vez são muitopequenos (cerca de 0,7mm de diâmetro).Apresentam a forma de discos, ligeiramen-te convexos e esbranquiçados. São postosisoladamente na face inferior de folhas, nasbrotações, em ramos novos, em Burrknotse frutos. Após 4 dias da oviposição, eclodemas lagartas que, e~ três horas, são cap~zes

Prejuízos aos produtoresAtualmente, na região da Serra Catari-

nense, essa praga causa perdas expressivas.Nos frutos, as lagartas penetram preferen-cialmente pela região do cálice, indo sealimentar na região entorno das sementes(Figura 3A). No ponto de penetração, as la-gartas depositam excrementos, o que facili-ta a identificação da sua presença (Figura3B). O ataque em frutos acelera a matura-ção provocando a queda prematura. Frutosatacados apresentam galerias e tornam-seimprestáveis para comercialização. Já emviveiros e pomares novos, ao se alimentarnas brotações, impedem o crescimentonormal das plantas e consequente forma-ção dos ramos. Em pomares adultos, o ata-que sobre as brotações não ocasiona perdassignificativas.

O acompanhamento da população deadultos nos pomares pode ser feito comarmadilhas de feromônio sexual sintético.Essas devem ser instaladas nos pomaresa partir de agosto, permanecendo lá até ofinal da colheita. A vistoria deve ser sema-

Figura 3. Dano da grafolita em frutos de ma-cieira (A). Sintoma de ataque pela presença deexcrementos no local de penetração (B).

zados inseticidas organofosforados que sãode ação neurotóxica, apresentando amploespectro de ação. Muitos destes produtossão potenciais contaminantes do ambientee favorecem o aparecimento de pragas se-cundárias, principalmente ácaros, como oácaro vermelho europeu Panonychus ulmi.Nos últimos dez anos, devido às pressõesimpostas pelo mercado consumidor e con-sequentemente pelo sistema de produçãointegrada de maçã (PIM) , foram suprimi-dos muitos ingredientes ativos por apresen-tar carência e toxicidade elevada. Assim,novos inseticidas (mais seletivos a inimigos

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sentam hábitos de mígração, alimentação,acasalamento e postura ao fim do dia (entre

FasesAs lagartas passam por cinco instares.

Do nascimento até o terceiro instar sãobranco-acizentadas com cabeça preta ecom o passar do tempo (4° e 5° instar)adquirem coloração branco-rosada comcabeça marrom, momento em que atin-gem de 12 a 14 mm de comprimento(Figura 2). Essa fase dura cerca de 14dias a 25°C. Próximo do período pupal(período de metamorfose), onde as lagar-tas se transformam em mariposas, essasdeslocam-se dos locais de alimentaçãopara locais protegidos, onde constroem acâmara pupal. Em pomar de maçã, essascâmaras são construídas entre ás folhas,nos frutos, nos Burrlrnots, nas fendasformadas do tronco ou no próprio solo.Nessa fase, o inseto é facilmente dissemi-nado para outros pomares, principalmen-te quando se encontra próximo à base dopedúnculo dos frutos ou em caixas detransporte (Bins) , onde dificilmente é

Figura 2. Lagarta de grafolita em quinto instar

de perfurar a epiderme e penetrar nos fru-tos de maçã.

percebida a sua presença.No início do inverno, com a redução

do dia para menos de 14 horas de luz, aslagartas de grafolita ao invés de comple-tarem o ciclo normal, (transformando-seem pupa) , entram em diapausa. Essafase nada mais é do que uma forma deresistência ao stress causado pelo frio etambém pela falta de alimento. Ao finaldo inverno, com o aumento da tempera-tura e também das horas de luz, as lagar-tas voltam a fase normal, transformando--se em pupa. Em aproximadamente deza 20 dias, emergem os adultos. Dada aexistência de diapausa durante o ciclo hi-bernal, torna possível a ocorrência de flu-tuação populacional (períodos de grandee de pequena presença de adultos) entrea primavera e o verão, que vão se sobre-pondo a medida que avança o período dematuração e colheita dos frutos.

É nos momentos de grande presençade adultos em que os produtores devemintervir com a utilização de inseticidaspois é nesse momento em que ocorrema maior presença dos estágios mais sensí-veis aos produtos (Tabela 1).

Os surtos da mariposa-oriental pro-vavelmente se originam nas própriasáreas dos pomares e a dispersão ocorresomente entre pomares. Isto porque nãose conhecem hospedeiros alternativos navegetação nativa.

nal, quando se faz a contagem e a remoçãodas mariposas capturadas. A cápsula de fe-romônio (atrativo) deve ser substituída emno máximo 60 dias.

O nível de controle da mariposa-orien-tal em pomares de macieira já em produ-ção é de 20 mariposas/armadilha/semana.Na prática, nem sempre é fácil estabeleceras épocas ideais de pulverização de insetici-das, principalmente quando os níveis popu-lacionais ficam muito próximos do nível decontrole, mas que, no entanto, não atingemo valor estabelecido em algumas semanas.Nessa situação, recomenda-se intervir cominseticidas quanto se verificar um acúmulode capturas de 30 adultos ou 50% acimado nível de controle estabelecido. Aquelesfruticultores que possuem um banco dedados com o histórico de capturas tambémdevem utilizar essa informação como au-xílio na definição do melhor momento deintervenção.

O comportamento da praga deve serobservado em cada pomar a fim de verifi-car a necessidade de antecipar ou retardaro controle em função das característicasespecíficas de cada local. Em viveiros demudas e pomares recém--implantados, o monito-ramento e controle damariposa-oriental devemser mais criteriosos, pelorisco de atraso no desen-volvimento das plantas.

A utilização de inse-ticidas ainda é a estraté-gia predominante para ocontrole da grafolita nacultura da maçã no Bra-sil. Para tanto, são utilí-

naturais e polinizadores e menos tóxicos aoambiente) foram registrados para o contro-le desta praga (Tabela 1). Outra modalidadede controle da grafolita é pelo uso da técni-ca de interrupção de acasalamento (TIA),popularmente conhecida por confusão se-xual. Nesse caso, o feromônio é utilizadopara impregnar o ar do pomar com o "per-fume" das fêmeas, de tal forma que os ma-chos não encontram mais as parceiras parao acasalamento. Sem acasalamento não hápostura e em conseqüência, não surgem la-gartas para provocar danos. Sua utilizaçãoem áreas amplas e repetidamente ao longodos anos também reduz gradativamente apopulação da praga nos pomares. Essa fer-ramenta, integrada com novos inseticidas,viabilizou um manejo mais eficaz da pragacom menor agressão do ambiente uma vezque esta permitindo a diminuição do usode inseticidas organofosforados.

Tabela 1 - Inseticidas registrados no MAPAe permitidos na Produção Integrada de

Maçãs (PIM) para o controle de Grapholitamolesta na cultura da macieira no Brasil.

Ingrediente AtivoNome

Classe ToxicológicaComercial

Acatamlprido Mospilan IV

8acillus thuringlensis DipelWG 11

Carbaril Sevin 480 SC 11

Clorantraniliprole Altacor 11I

Espinetoram Delegate 11I

Etofenproxi Trebon 100 EC 11I

Fenitrotiona Sumithion 500 CE 11

Fosmete Imadan 250 WP 111

Novalurom Rimon Supra IV

Piriproxifem Trger 100 EC I