1 Introdução - DBD PUC RIO · planos concretos de ação; tudo isso como passagem indispensável...

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18 1 Introdução “A teoria em si (...) não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua transformação, mas para isso tem que sair de si mesma e, em primeiro lugar tem que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal transformação. Entre a teoria e a atividade prática transformadora se insere um trabalho de educação de consciências, de organização dos meios materiais e planos concretos de ação; tudo isso como passagem indispensável para desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida em que materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação.Adolfo Sánchez Vázquez (1968) 1.1 Contexto da pesquisa Um dos aspectos centrais que caracterizam a práxis 1 do design consiste em sua interdependência com as estruturas sociais, de tal modo que o design desde seu surgimento transforma o contexto socioeconômico e é transformado por ele, em um percurso dialógico de interações e processos, que serve à produção e reprodução da estrutura social. Frente à complexidade do cenário contemporâneo as teorias e as práticas em design têm percorrido novas esferas projetuais, ultrapassando as fronteiras tradicionais do projeto orientado ao produto, em busca de novos modelos de atuação com enfoque na melhoria dos fatores humanos, ambientais e econômicos. A partir das urgências socioambientais que tiveram ênfase nas últimas décadas do século XX , os debates sobre as potencialidades e responsabilidades do design obtiveram ampliação e destaque. Desde então, diversos processos, métodos e teorias tem sido desenvolvidos na área, a fim de reafirmar e consolidar 1 Ao termo práxis são atribuídas as significações de prática; ação concreta” e em filosofia “no aristotelismo, conjunto de atividades humanas autotélicas, cuja manifestação mais representativa é a política, e caracterizadas esp. por sua natureza concreta, em oposição à reflexão teórica ; e no marxismo, ação objetiva que, superando e concretizando a crítica social meramente teórica, permite ao ser humano construir a si mesmo e o seu mundo, de forma livre e autônoma, nos âmbitos cultural, político e econômico”. Partindo-se destas definições, nesta tese o sentido de práxis pressupõe a reflexão e a ação humana na transformação de si mesmo e das estruturas sociais, indo além do sentido de ação estrita com um fim em si mesma (HOUAISS, 2012).

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1 Introdução

“A teoria em si (...) não transforma o mundo. Pode contribuir para a sua

transformação, mas para isso tem que sair de si mesma e, em primeiro lugar tem

que ser assimilada pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, efetivos, tal

transformação. Entre a teoria e a atividade prática transformadora se insere um

trabalho de educação de consciências, de organização dos meios materiais e

planos concretos de ação; tudo isso como passagem indispensável para

desenvolver ações reais, efetivas. Nesse sentido, uma teoria é prática na medida

em que materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia

idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua

transformação.”

Adolfo Sánchez Vázquez (1968)

1.1 Contexto da pesquisa

Um dos aspectos centrais que caracterizam a práxis1 do design consiste em

sua interdependência com as estruturas sociais, de tal modo que o design desde

seu surgimento transforma o contexto socioeconômico e é transformado por ele,

em um percurso dialógico de interações e processos, que serve à produção e

reprodução da estrutura social. Frente à complexidade do cenário contemporâneo

as teorias e as práticas em design têm percorrido novas esferas projetuais,

ultrapassando as fronteiras tradicionais do projeto orientado ao produto, em busca

de novos modelos de atuação com enfoque na melhoria dos fatores humanos,

ambientais e econômicos.

A partir das urgências socioambientais – que tiveram ênfase nas últimas

décadas do século XX –, os debates sobre as potencialidades e responsabilidades

do design obtiveram ampliação e destaque. Desde então, diversos processos,

métodos e teorias tem sido desenvolvidos na área, a fim de reafirmar e consolidar

1 Ao termo práxis são atribuídas as significações de “prática; ação concreta” e em filosofia “no

aristotelismo, conjunto de atividades humanas autotélicas, cuja manifestação mais representativa é

a política, e caracterizadas esp. por sua natureza concreta, em oposição à reflexão teórica”; e “no

marxismo, ação objetiva que, superando e concretizando a crítica social meramente teórica,

permite ao ser humano construir a si mesmo e o seu mundo, de forma livre e autônoma, nos

âmbitos cultural, político e econômico”. Partindo-se destas definições, nesta tese o sentido de

práxis pressupõe a reflexão e a ação humana na transformação de si mesmo e das estruturas

sociais, indo além do sentido de ação estrita com um fim em si mesma (HOUAISS, 2012).

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um novo modo de abordagem para o projeto em design, baseado em valores mais

justos e equitativos.

Esta categoria de projeto se encontra diretamente relacionada com modelos

mais integradores, orientados para a inovação e o desenvolvimento local e

fundamenta-se em arranjos efetivos entre os agentes e os recursos que constituem

um dado território2. Neste sentido, o design como prática social, pode contribuir

com a potencialização dos recursos materiais e imateriais, fortalecendo a

identidade, a cultura e evidenciando as qualidades locais e seus valores

intrínsecos. Partindo-se deste contexto reside o desafio de auxiliar no

desenvolvimento de benefícios efetivos e duráveis para os indivíduos e grupos

sociais em suas localidades. Assim, a perspectiva do design vem justamente

contribuir na tarefa de mediar a produção material e suas relações de produção e

consumo, tradição e inovação, qualidades do lugar e suas relações globais

(KRUCKEN, 2009:17).

Esta intencionalidade do design encontra correspondência com os principais

desígnios da inovação social3, que segundo Caulier-Grice et al (2012a:18,

tradução nossa) se situam na busca do desenvolvimento de ações que priorizem o

produto (satisfação das necessidades sociais), o processo (melhoria das relações e

das capacidades e a utilização dos bens e recursos de maneira inovadora) e as

dimensões de fortalecimento dos indivíduos (ampliação da autonomia e da

capacidade social para a ação).

A disseminação das inovações sociais como práticas efetivas permitiu a

integração de novas significações, a partir de sua incorporação por outras áreas e

disciplinas. Deste modo, sua associação com as estratégias em design orientadas à

regeneração do capital social, ambiental e econômico vem adquirindo crescente

importância nos horizontes teóricos e práticos do design.

De acordo com essas considerações o design e a inovação social se

caracterizam como intervenções análogas que buscam articular o processo de

criação de valor nas variadas dimensões do desenvolvimento local, buscando a

construção de ações que integrem a participação dos cidadãos na utilização dos

2 A noção de território apresenta sentidos variados que implicam em objetivos, resultados e pontos

de vista distintos, portanto este conceito será abordado de modo mais aprofundado no Capítulo 2. 3 As diferentes abordagens sobre inovação social existentes na literatura indicam a existência de

diversos recortes analíticos e ampla heterogeneidade de perspectivas e enfoques adotados nos

diferentes estudos sobre o tema, assim, estas abordagens serão apresentadas de modo mais

detalhado no Capítulo 4.

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espaços e dos recursos. Outro aspecto comum às inovações sociais e aos processos

em design orientados para o desenvolvimento local consiste na necessidade de um

envolvimento mais dinâmico e participativo dos indivíduos e grupos envolvidos, a

fim de assegurar que o processo de transformação se instaure de modo mais

eficiente e duradouro.

Esta relação mais integrada e paritária permite que todos os participantes se

identifiquem como coautores dos processos e dos resultados desenvolvidos (como

por exemplo: produtores, consumidores, fornecedores e demais stakeholders4 –

designers e não designers). Neste caso, o designer se destitui do papel de detentor

do conhecimento especializado e assume o papel de “conector”5 entre os diversos

saberes e a construção dialógica de conhecimento e habilidades dos indivíduos ou

grupos sociais.

Este reposicionamento que inclui um trabalho integrado e o apoio mútuo

fundamentado em relações horizontalizadas, que tendem a um relacionamento

igualitário (FIORENTINI, 2004), está de acordo com a visão sistêmica do projeto

em design, que aborda a ampliação dos processos participativos. Deste modo, para

que se estabeleça um novo enfoque entre o design e as inovações sociais, as

estratégias utilizadas necessitam ir além das esferas pragmáticas do projeto.

Outro importante fator a ser considerado nos processos de inovação social e

desenvolvimento local se refere às construções sociais estabelecidas pela soma das

ações dos indivíduos e sua integração às dimensões territoriais, por meio do

convívio e das ligações operativas e afetivas. Cabe destacar que estes recursos

intangíveis, quando associados à atividade econômica, representam um conjunto

de valores que passam a compor alternativas factíveis para a promoção do

desenvolvimento em determinada localidade.

Partindo desta integração entre os recursos materiais e imateriais, os artefatos

produzidos localmente se tornam expressões culturais portadoras de uma

correlação intrínseca com o território e com o grupo social que os gerou

(KRUCKEN, 2009).

4 Stakeholder é um termo advindo do inglês que pode ser traduzido como: grupo de influência ou

grupo de interesse. Tem a finalidade de designar indivíduos, grupos ou instituições com interesse

legitimado nas ações e no desempenho de uma organização e suas ações podem atingir de forma

direto ou indireto, esta organização. De modo geral, compreende todos os envolvidos nos processo

temporários ou permanentes da organização (MITCHELL et al, 1997). 5 Mulgan et al (2007:5) definem os conectores como agentes que assumem o papel de integrar

indivíduos ou grupos, ideias, meios e recursos e atuar em favor de mudanças sociais significativas.

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Por outro lado, o inter-relacionamento estreito entre os coautores do projeto

se constitui em uma premissa fundamental do codesign6. Este fator também

representa uma das maiores lacunas e motivo de falha dos projetos que envolvem

a ação de designers em grupos produtivos ou cooperativas populares,

principalmente em grupos que possuem ligação identitária arraigada ao seu local

de origem. Nestes casos, a solução desenvolvida necessita congregar um sentido

de pertencimento atribuído pelo grupo.

Como nem sempre são desenvolvidos os aspectos fundamentais de

reconhecimento e autonomia, são muitos os exemplos de projetos que despendem

uma grande quantidade de tempo, recursos humanos e financeiros e perduram

somente enquanto a equipe de especialistas executa ações assistenciais e

continuadas em determinado grupo social. De acordo com essas considerações são

identificados alguns aspectos importantes para o fortalecimento teórico-prático

das ações em design, haja vista que o Governo Federal tem expandido o fomento

aos empreendimentos populares e às iniciativas em economia solidária, tendo em

vista a geração de emprego e renda e a ampliação das condições de

desenvolvimento local.

Para atender a essas demandas, iniciativas em design têm sido

desenvolvidas de modo mais frequente, buscando imprimir valor aos artefatos

produzidos, aproximar o produtor do mercado consumidor e impulsionar o

desenvolvimento das localidades e de seus habitantes. Algumas ações significativas

voltadas ao fortalecimento de cooperativas e grupos produtivos de pequeno porte

já podem ser observadas. De modo geral, estas iniciativas buscam desenvolver e

implantar estratégias em design fundamentadas na construção de novos vínculos

entre as pessoas, os processos e a utilização de recursos, a fim de gerar produtos e

serviços que possam sustentar as populações em seus territórios.

Nesta área tem se destacado as investigações práticas e teóricas

desenvolvidas por laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em design,

coligados a cursos de graduação e pós-graduação. Estas instituições têm buscado

desenvolver o conhecimento em design com a finalidade de propiciar

6 Codesign consiste em um processo de projeto que envolve a participação e colaboração de

diversos atores durante todo o processo de desenvolvimento de produtos ou serviços, seus

principais conceitos serão explicitados no Capítulo 4.

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diferenciação e competitividade aos artefatos produzidos em cooperativas

populares7 ou pequenos grupos produtivos locais.

O conjunto destes grupos produtivos formados a partir de modalidades

organizacionais diversas (como por exemplo: cooperativas, associações, grupos de

produção, comunidades de artesãos, clubes de troca, entre outros) é denominado

pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) de Empreendimentos Econômicos

Solidários (EES) (MTE/SENAES, 2006:11). Embora nem todos os grupos

estejam formalmente vinculados à economia solidária este termo foi incorporado

às políticas federais de apoio a estas iniciativas em meados da década de 2000,

quando se realizou um mapeamento nacional das iniciativas econômicas advindas

das esferas populares, que originou o Sistema Nacional de Informações em

Economia Solidária (SIES) (MTE/SENAES, 2006).

Na literatura são encontrados variados termos para denominar as

características econômicas e organizacionais dos setores periféricos da economia,

como por exemplo: “Economia Solidária”, “Economia Popular”, “Economia

Popular e Solidária”, “Socioeconomia Solidária”, “Terceiro Setor”, “Economia

Social” entre outros (FRANÇA FILHO, 2002:9-19). Tendo em vista que estes

empreendimentos não fazem parte do setor privado mercantil e tão pouco do setor

público estatal, suas diferentes denominações conceituais estão vinculadas a

diferentes discursos e seus respectivos contextos específicos de realidade, que se

constroem a partir de minúcias sociais, políticas e econômicas.

De modo geral, estas distintas designações buscam conceituar as iniciativas

advindas da sociedade civil – a partir das transformações econômicas ocorridas na

década de 1980 como uma resposta para a geração de emprego e renda – e a nova

geração de políticas públicas desenvolvidas pelo Estado, a partir da década de

1990, em prol do empreendedorismo popular e do provimento de microcrédito

(PEREIRA, 2011). Estas ações confluíram para o desenvolvimento de inúmeros

grupos produtivos que atuam nas esferas econômicas populares.

Como o escopo desta investigação não comporta a análise histórica, política

e social destas iniciativas econômicas e de seus conceitos, para a finalidade desta

7 “O que diferencia as Cooperativas Populares de outras experiências de organização

socioeconômica cooperativista é fundamentalmente a situação de exclusão vivenciada por seus

associados, assim como a predominância de um modelo de gestão democrático e participativo,

mais voltado para o bem comum do que para o lucro.” (PORTAL DO COOPERATIVISMO

POPULAR, 2012).

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tese estes grupos produtivos serão considerados como “empreendimentos

econômicos solidários” e se constituem como parte da “economia solidária”,

desde que apresentem algumas das características que os qualifique como tal.

Optou-se pelo uso destes termos por serem mais frequentemente encontrados na

literatura consultada e por serem consensualmente adotados nas políticas públicas

federais.

A economia solidária é definida pelo Ministério do Trabalho e Emprego

como um conjunto de práticas econômicas e sociais de produção, distribuição,

consumo, poupança e crédito, que se apresenta como alternativa de geração de

trabalho e renda em favor da integração social e suas características principais

consistem na cooperação, autogestão, viabilidade econômica e solidariedade

(MTE/SENAES, 2013).

Entre os diferentes modelos de economias alternativas a abordagem da

economia solidária se mostrou mais compatível com o eixo norteador desta

investigação, pois seus princípios estruturantes se fundamentam nas relações

humanas solidárias e colaborativas e no desenvolvimento de modelos

diferenciados de produção e consumo. A partir desta constatação e da

identificação de pesquisas e práticas em design que vem sendo desenvolvidas

nesta área, verificou-se o potencial para a ampliação dos estudos sobre as

estratégias em design orientadas para as inovações sociais.

Mesmo com a relevância do tema e com o mérito das iniciativas em design

que apoiam o desenvolvimento de produtos e serviços nas esferas econômicas

populares, estas iniciativas ainda são pouco difundidas e propiciam benefícios

localizados. Uma das barreiras identificadas para a difusão destas práticas consiste

na dificuldade de entendimento e identificação das estratégias em design – com

enfoque no desenvolvimento de inovações sociais –, seu modo de implantação e

os resultados efetivos que podem ser atingidos nas diferentes situações e contextos

que compõem a realidade de cada uma das localidades brasileiras.

A relação entre o design e os empreendimentos econômicos solidários

também tem se apresentado como um grande desafio para os designers. Estes

profissionais enfrentam dificuldades para estabelecer as interconexões necessárias

ao planejamento e execução de um trabalho colaborativo em condições singulares e

desafiadoras, frente ao despreparo de sua formação acadêmica e profissional.

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Visando contribuir com estruturação de uma base de conhecimentos integrada

entre a teoria e a prática, aplicável à realidade nacional e acessível aos designers e

não designers que atuam nestes setores se destaca a seguinte questão de pesquisa:

Quais são as estratégias em design orientadas para a inovação social com enfoque

nas dimensões do desenvolvimento local e como são implantadas nas práticas

desenvolvidas pelos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em design?

Para responder a esta pergunta efetuou-se uma investigação teórica e

empírica a fim de compor um mapeamento das estratégias já utilizadas pelos

laboratórios em design, incluindo os diferentes modos de implantação, as

principais potencialidades e barreiras. Deste modo, o resultado final desta tese

consiste na identificação e organização de parâmetros que possibilitem a integração

de estratégias em design orientadas para a inovação social e para o desenvolvimento

local. A significação de “parâmetro” pode ser definida como preceito, padrão ou

variável passível de transformar, regulamentar ou adequar o sistema (HOUAISS;

VILLAR, 2001).

Sendo a finalidade desta investigação estabelecer referências que orientem o

processo de projeto, provendo uma maior compreensão sobre as possibilidades de

contribuição do design para a inovação social de acordo com as necessidades locais,

os parâmetros propostos podem ser compreendidos como orientação, ponto de

partida, propósito ou margem limítrofe.

Com base na observação dos diferentes métodos utilizados pelos

laboratórios que interpretam, congregam e consubstanciam os diferentes

conhecimentos e saberes, retornando para os empreendimentos de acordo com suas

necessidades e habilidades –, tem-se como um subproduto desta pesquisa, a

descrição detalhada dos procedimentos metodológicos empregados na análise das

estratégias utilizadas pelos referidos laboratórios.

A apresentação de um relato pormenorizado busca promover a compreensão

da pluralidade de influências, bem como as particularidades das práticas realizadas

em campo, pois existem imensuráveis possibilidades de combinação entre as

unidades de análise que convergem e divergem em processos colaborativos,

valores, simbolismos, estruturas sociais, formação de redes e características

particulares de cada indivíduo ou grupo social.

Espera-se que a presente investigação, ao esquadrinhar e consolidar as

contribuições teórico-práticas contribua para congregar os pensamentos e ideias que

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perpassam o design, as inovações sociais e o desenvolvimento local visando

esclarecer questões que se encontram na intersecção dessas áreas e que ainda

suscitam dúvidas em profissionais, pesquisadores e estudantes de design.

1.2 Objetivos e hipótese

Com base no contexto de pesquisa supracitado o objetivo geral norteador

deste estudo consiste em:

- Estabelecer parâmetros que orientem o processo de projeto em

empreendimentos econômicos solidários, provendo recomendações para a

integração de estratégias em design orientadas para a inovação social de acordo com

as necessidades identificadas nas diferentes dimensões do desenvolvimento local.

Para atingir o objetivo geral, torna-se necessário atender os seguintes

objetivos específicos:

- Contextualizar o cenário de articulação e sustentação das ações e

experiências desenvolvidas por empreendimentos solidários nas dimensões do

desenvolvimento local;

- Investigar as estratégias em design orientadas para a inovação social em

contextos locais e seus principais aspectos promotores de sustentabilidade;

- Mapear e analisar os principais modos de abordagem teórico-práticos

formulados por laboratórios de pesquisa em design, bem como as principais

dificuldades, potencialidades e contribuições para as dimensões ambiental,

sociopolítica, simbólica e econômica do desenvolvimento local.

Considerando a questão e os objetivos de pesquisa apresentados, a hipótese

norteadora que atende ao problema de pesquisa corresponde ao seguinte enunciado:

As estratégias em design que integram as abordagens teórico-práticas implantadas

pelos laboratórios de pesquisa se caracterizam como inovações sociais e apresentam

contribuições para o desenvolvimento local em suas múltiplas dimensões,

propiciando o estabelecimento de parâmetros para as intervenções em design em

empreendimentos econômicos solidários.

Devido à contribuição original sugerida pela presente investigação, a tese

proposta pressupõe a validação plena dos critérios em design no contexto do

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projeto. Deste modo, é importante salientar que uma validação completa necessita

do uso continuado das estratégias por uma amostra significativa, composta por

diferentes atores em diferentes contextos, o que é inexequível perante a relação

entre o prazo e a complexidade do trabalho a ser empreendido. Assim, a

confirmação ou refutação dos objetivos propostos, provenientes do trabalho de

pesquisa desenvolvido em campo irão compor uma validação parcial e indicações

para uma melhor utilização dos parâmetros estabelecidos.

1.3 Relevância da pesquisa

A ampliação da competitividade em níveis mundiais e a liberalização das

economias nacionais tem ampliado a complexidade de interações e tensões entre o

global e o local. Deste modo, a busca por meios que minimizem as consequências

da globalização nas esferas locais compreende o desenvolvimento de soluções

para a melhoria das condições humanas nas esferas sociais, ambientais e

econômicas. Com base nestas urgências o fomento ao desenvolvimento local tem

adquirido cada vez mais relevância, pois abrange a ampliação do bem-estar

humano, a otimização dos sistemas de produção e a preservação dos ecossistemas,

entre outros importantes desafios que o norteiam.

No cenário nacional a busca por soluções em design como uma alternativa

possível para valorizar e fortalecer as potencialidades locais tem encontrado

terreno fértil, tanto no desenvolvimento de pesquisas quanto de práticas. Com o

reconhecimento da importância do design como fator estratégico para a

competitividade, o Governo Federal criou o Programa Brasileiro de Design (PBD)

em meados da década de 1990.

Esse programa tem fomentado a atuação de instituições governamentais e não

governamentais visando apoiar o desenvolvimento do segmento produtivo por meio

da inovação e do design, sobretudo nos setores mais oprimidos pela concorrência

dos mercados nacionais e internacionais. Também com foco na ampliação da

competitividade e na valorização do local se destacam as pesquisas e práticas

desenvolvidas pelos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em design, que

buscam potencializar o desenvolvimento produtivo de cooperativas populares ou

grupos produtivos de pequeno porte.

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Estas ações, de modo geral visam articular o conjunto de saberes e

habilidades dos grupos sociais com as estratégias em design, o que propicia novas

oportunidades para viabilizar o potencial humano, econômico e produtivo destes

grupos. Com o conjunto de ações de fomento desenvolvido nas instâncias federais

e civis para o fortalecimento das associações e cooperativas de base solidária,

estes empreendimentos econômicos têm se multiplicado em todas as regiões do

território nacional. O levantamento consolidado pelo Sistema Nacional de

Informações em Economia Solidária (SIES) em 2006 identificou 14.954

empreendimentos econômicos solidários em 2.274 municípios, o que representa

41% dos municípios brasileiros (MTE/SENAES, 2006:15). No Gráfico 1 a seguir,

é possível visualizar a distribuição territorial destes empreendimentos nas

respectivas regiões geográficas brasileiras.

Gráfico 1 – Distribuição dos EES nas regiões brasileiras

Fonte: Adaptado de MTE/SENAES (2006:15)

Verifica-se que há uma maior concentração dos EES na região Nordeste,

que concentra 44% do total dos empreendimentos. O percentual restante, que

corresponde a 56% e se encontra distribuído da seguinte maneira: 13% na região

Norte, 14% na região Sudeste, 17% na região Sul e 12% na região Centro-Oeste.

Esta expansão das atividades empreendedoras nas camadas populares sinaliza a

importância de ações que intensifiquem o apoio ao desenvolvimento social e

econômico nas diferentes regiões do território nacional.

As formas de organização destes grupos produtivos são bastante

diversificadas, sendo que 11% se configuram como cooperativas, 33% se

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caracterizam pela ausência de registro formal e 54% assumem o perfil de

associação.

Gráfico 2 – Formas de organização dos EES no Brasil

Fonte: MTE/SENAES (2006:19)

Como os empreendimentos econômicos solidários reúnem diversas

categorias organizacionais, as cooperativas populares, os grupos produtivos de

pequeno porte e os grupos de artesãos frequentemente se incluem no rol destes

grupos produtivos, pois apresentam características da economia solidária,

congregando pessoas para a realização de objetivos sociais e econômicos comuns.

As atividades desenvolvidas pelos empreendimentos rurais e urbanos

também integram uma grande diversidade de produtos e serviços. A partir do

levantamento realizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 2006, estas

atividades foram agrupadas em categorias classificadas por afinidade

(MTE/SENAES, 2006:35). Segundo esta pesquisa os produtos mais citados se

enquadram na produção agropecuária, extrativismo e pesca (42%), produção e

serviços de alimentos e bebidas (18,3%) e produção de artefatos artesanais

(13,9%), conforme demonstrado no Gráfico 3.

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Gráfico 3 – Distribuição dos produtos por tipo de atividade desenvolvida pelos EES

Fonte: Adaptado de MTE/SENAES (2006:35)

No setor econômico solidário a construção conjunta da oferta e da demanda

é um traço marcante, considerando que a elaboração de produtos e serviços está

vinculada à existência de necessidades comuns, a fim de prover soluções para as

problemáticas identificadas em determinada localidade. Deste modo, o grande

potencial produtivo identificado nestes grupos pode ser potencializado pela

ampliação da cadeia de valor dos produtos e serviços ofertados, sendo que este

fator pode ser alcançado de modos distintos, inclusive por meio do design

(BARROSO NETO, 1999).

A necessidade de ampliar o potencial humano, produtivo e econômico dos

setores locais tem se destacado como um grande desafio para as economias

emergentes. Em contrapartida, tem ocorrido uma ampliação da demanda e uma

predisposição dos consumidores em investir valores monetários mais elevados,

em produtos ou serviços que apresentem benefícios sociais ou ambientais.

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É importante sinalizar que o aumento do consumo de produtos orgânicos é

um exemplo deste fato. De acordo com a estimativa realizada pelo Instituto

Biodinâmico (IBD)8, o consumo de orgânicos tem atraído cerca de 30% da

população brasileira (HARKALY, 2012). A ampliação do consumo e da produção

de alimentos orgânicos reflete a mudança de hábitos dos consumidores e

consequentemente fomenta o desenvolvimento local, pois aproximadamente 85%

dos produtos são gerados por organizações familiares de agricultores.

Os benefícios socioambientais vão além dos benefícios à saúde humana,

pois a exclusão total do uso de fertilizantes químicos na produção de alimentos

minimiza os riscos à saúde dos produtores rurais, além de evitar maiores danos ao

ambiente. Esses benefícios agregam um maior valor ao produto, pois aproximam

produtores e consumidores ao ofertar alimentos saudáveis e de qualidade, com

preços justos. Também geram alternativas de diversificação produtiva para

famílias oriundas da agricultura convencional e fortalecem os elos entre a

produção e o consumo local, pois o produtor passa a propiciar ao consumidor uma

maior confiabilidade e garantia de origem.

As questões relativas à qualidade e à origem dos produtos têm sido

consideradas cada vez mais importantes pelo consumidor. O estudo realizado pela

Macroplan – sobre as mudanças no perfil do consumo no Brasil nos próximos

vinte anos – vem confirmar esta tendência (VENTURA, 2013). O referido estudo

identificou que os consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes

quanto à qualidade dos produtos e serviços adquiridos, o que inclui a valorização

crescente da certificação e da rastreabilidade. Estas exigências ultrapassam as

funções estéticas e de uso, já consideradas imprescindíveis e sinalizam para a

necessidade de prover acesso à informação sobre os processos produtivos, bem

como sobre a história, a identidade, a aplicação, a localização e a procedência dos

produtos e serviços ofertados.

A indicação deste novo caminho abre espaços para a atuação do design nos

segmentos locais, de modo a contribuir com a mediação entre os processos

produtivos e de consumo, os saberes tradicionais e a necessidade de inovação, a

valorização da identidade local e as possibilidades de diferenciação. Neste

sentido, o design pode contribuir a partir de diversas perspectivas, que abrangem

8 O IBD é uma das instituições certificadoras de produtos orgânicos no Brasil (HARKALY, 2012).

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desde o fortalecimento da identidade local até a ampliação da qualidade dos

produtos e serviços, a otimização da comunicação e o suporte ao desenvolvimento

de cadeias de valor (KRUCKEN, 2009:18).

De acordo com os pressupostos apresentados, a implantação de estratégias

em design orientadas para a inovação social com enfoque no desenvolvimento

local se apresenta como uma das possibilidades para promover benefícios às

cooperativas e grupos produtivos, que atuam nas esferas econômicas populares e

solidárias. Estas interações sociais permitem o desenvolvimento das conexões

necessárias entre os diferentes saberes e habilidades, a fim de gerar novas

soluções para a produção de bens, serviços e informações (KRUCKEN, 2009).

Os aspectos apresentados são algumas das questões que justificam a

realização deste estudo, visando contribuir com a construção de um corpo de

conhecimentos advindo das pesquisas teóricas e empíricas em design orientadas à

inovação e ao desenvolvimento local e implantadas em diferentes regiões

brasileiras. A consolidação desta pesquisa tem a finalidade de ampliar o acesso

aos temas abordados, tanto para os setores econômicos solidários quanto para as

áreas do design que priorizam as práticas sociais como elemento constituinte da

ampliação do valor e do desenvolvimento de soluções diferenciadas e inovadoras.

1.4 Delimitação do tema de pesquisa

As inovações sociais compreendem diversas modalidades de ação e de

modo geral abrangem estratégias, conceitos e métodos que podem integrar

distintos atores e áreas sociais (BARTHOLO, 2008). Apresentam um vasto campo

de possibilidades, podendo contemplar diversas áreas como, por exemplo:

trabalho, lazer, saúde, educação entre outros setores que necessitam de melhorias.

A presente pesquisa é delimitada pela investigação das abordagens em inovação

social orientadas para o desenvolvimento local em suas diferentes dimensões:

ambiental, sociopolítica, simbólica e econômica, explicitadas de modo mais

detalhado no Capítulo 2. Deste modo, o objeto de estudo desta tese se limita à

identificação e análise das interações teóricas e empíricas no desenvolvimento das

estratégias em design e sua implantação em casos reais, buscando mapear e

analisar os principais modos de abordagem teórico-práticos formulados pelos

laboratórios de pesquisa em design (Figura 1).

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Figura 1 – Delimitação do objeto de estudo da tese

Fonte: Autoria própria

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A pesquisa de campo fundamenta-se na realização de entrevistas e na

análise de conteúdo dos relatos científicos oriundos das práticas efetuadas pelos

laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em design. Este estudo analisa uma

amostra de três casos, tendo em vista o posicionamento dos mesmos no universo

relevante da pesquisa e a exequibilidade da investigação, mediante o prazo e os

objetivos propostos. O corpus empírico desta investigação se delimita a análise

dos laboratórios em design existentes em território nacional, pois tem a finalidade

de contribuir para a compreensão das distintas realidades encontradas nas

diferentes regiões geográficas brasileiras.

Ressalta-se que a intenção dessa investigação consiste em evidenciar as

particularidades, desafios e potencialidades que possam existir nas diferentes

perspectivas teóricas e empíricas, que levam à construção de diferentes modos de

implantação das estratégias em design. Deste modo, o enfoque da análise

realizada não se restringe à realização de um diagnóstico comparativo em seu

sentido estrito.

A partir da análise realizada, torna-se possível estabelecer um panorama das

estratégias existentes para inserção do design como articulador de inovações

sociais nos empreendimentos econômicos dos setores populares e solidários,

atuando nas diferentes dimensões do desenvolvimento local (ambiental,

sociopolítica, simbólica e econômica).

1.5 Estrutura da pesquisa

Visando um melhor entendimento das etapas que compõem esta pesquisa, a

seguir é realizada uma descrição detalhada da estrutura do trabalho:

- Capítulo 1 > Introdução: nesta seção são contextualizados e explicitados

de modo preliminar os conceitos que orientam a pesquisa e o tema proposto. É

efetuada a definição do problema e dos objetivos de pesquisa, sua delimitação e

relevância.

- Capítulo 2 > Desenvolvimento local e economia solidária: este capítulo

busca estabelecer os fundamentos sobre as diferentes dimensões (ambiental,

sociopolítica, simbólica e econômica) do desenvolvimento local. Em seguida é

estabelecido um olhar mais aprofundado sobre as ideias e práticas que permeiam o

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campo da economia solidária no Brasil, visando identificar suas principais

convergências com o desenvolvimento local.

A Figura 2 apresenta as interconexões entre os temas de pesquisa e sua

aplicação nos capítulos que abordam a revisão de literatura e o desenvolvimento

da pesquisa de campo.

Figura 2 – Interconexões entre os temas de pesquisa

Fonte: Autoria própria

- Capítulo 3 > Parâmetros de sustentabilidade para as ações e experiências

solidárias: neste capítulo são investigados os parâmetros de sustentabilidade das

ações e experiências desenvolvidas por empreendimentos econômicos solidários,

visando compreender o modo de articulação e autossustentação destes

empreendimentos nas diferentes dimensões do desenvolvimento local. Nesta

seção é realizado um estudo piloto baseado na descrição de caso de dois grupos

produtivos que atuam sob os preceitos solidários, sendo eles: Rede Justa Trama e

Rede Ecovida de Agroecologia. Este estudo piloto tem a finalidade de identificar

as principais estratégias empíricas utilizadas pelos grupos e o modo como são

implantadas na prática.

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- Capítulo 4 > Interconexões entre design e inovação social nas dimensões

do desenvolvimento local: neste capítulo são investigados os horizontes do design

como prática social na contemporaneidade segundo uma perspectiva sistêmica. Na

sequência são examinados os conceitos de inovação social orientados para o

desenvolvimento local, seus elementos centrais, características e principais modos

de abordagem. A partir das possibilidades de convergência entre o design, as

inovações sociais e o desenvolvimento local busca-se identificar as principais

estratégias existentes nas esferas teóricas.

- Capítulo 5 > Pesquisa de campo: opções metodológicas: este capítulo

apresenta as opções metodológicas selecionadas para o desenvolvimento da

pesquisa de campo. São apresentados de modo detalhado: a estrutura da pesquisa,

o método de análise de conteúdo e os procedimentos para a validação do estudo.

- Capítulo 6 > Apresentação dos resultados da pesquisa de campo: com a

finalidade de identificar e analisar o corpo de conhecimento empírico, esta etapa

apresenta os resultados das visitas e entrevistas realizadas com os coordenadores

dos laboratórios analisados. O enfoque principal de análise baseia-se na

identificação das especificidades de cada contexto e nas principais intersecções

entre a teoria e a prática.

- Capítulo 7: Parâmetros para o projeto em design orientados para a

inovação social e para o desenvolvimento local: neste capítulo é desenvolvida a

análise de conteúdo dos relatos científicos dos laboratórios de design. A partir da

análise de conteúdo e da identificação das principais estratégias em design são

elaborados os parâmetros para processos de projeto orientados para o

desenvolvimento de inovações sociais nas dimensões ambiental, sociopolítica,

simbólica e econômica do local.

- Capítulo 8 > Conclusões: este capítulo apresenta as conclusões de pesquisa

como resposta aos objetivos expostos no início desta investigação, também são

apresentadas considerações sobre o método, suas principais possibilidades e

limitações. A partir dos resultados obtidos efetua-se uma reflexão sobre as

interconexões entre os saberes teóricos e empíricos que permeiam a prática do

design. Conforme os resultados apresentados e as necessidades detectadas são

efetuadas sugestões para abordagens em pesquisas futuras.

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