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EDUCAÇÃO FINANCEIRA: O PRIMEIRO PASSO PARA CONSUMO CONSCIENTE Bárbara Barbosa Cabral 1 RESUMO As facilidades do crédito e a redução da taxa de juros no Brasil, aumentaram o consumo de bens e serviços por parte das classes mais baixas da sociedade. Esse estímulo gerou um desequilíbrio financeiro das famílias. O acesso ao crédito é um fator positivo, que promove uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos, entretanto, precisa ser oferecido ao consumidor, juntamente com um programa de educação financeira, que estimule o consumo consciente e a sustentabilidade. A educação tem papel fundamental nesse processo, principalmente a financeira, que permite o desenvolvimento de habilidades nos indivíduos para que eles possam tomar decisões acertadas e conscientes, que os permitam fazer uma boa gestão de suas finanças pessoais, além de contribuir para o equilíbrio financeiro da sociedade através do consumo consciente. Palavras-chave: Taxa de juros. Educação Financeira. Consumo Consciente. ABSTRACT The Credit facilities and the reduction of interest rates in Brazil, increased consumption of goods and services by the lower classes of society. This stimulus generated a financial imbalance families. Access to credit is a positive factor that promotes an improved quality of life of individuals, however, needs to be offered to the consumer along with a financial education program that encourages responsible consumption and sustainability. Education has a fundamental role in this process, mainly financial, which allows the development of skills in individuals so they can make informed decisions and conscious that allow them to make a good management of your personal finances, as well as contributing to the financial stability of society through conscious consumption.The credit facilities and the reduction in interest rates in Brazil have increased the consumption of goods and services on the part of the lower classes of society. Keywords: Interest rates. Financial Education. Responsible Consuption. 1 Mestra em Desenvolvimento Regional e Urbano, pela UNIFACS, 2011, pós graduada em Metodologia do Ensino superior e Marketing estratégico pela Cenid Business School, 2001, graduada em Ciências Econômicas Pela UCSAL, 1996.

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EDUCAÇÃO FINANCEIRA: O PRIMEIRO PASSO PARA CONSUMO

CONSCIENTE

Bárbara Barbosa Cabral 1

RESUMO

As facilidades do crédito e a redução da taxa de juros no Brasil, aumentaram o consumo de

bens e serviços por parte das classes mais baixas da sociedade. Esse estímulo gerou um

desequilíbrio financeiro das famílias. O acesso ao crédito é um fator positivo, que promove

uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos, entretanto, precisa ser oferecido ao

consumidor, juntamente com um programa de educação financeira, que estimule o consumo

consciente e a sustentabilidade. A educação tem papel fundamental nesse processo,

principalmente a financeira, que permite o desenvolvimento de habilidades nos indivíduos

para que eles possam tomar decisões acertadas e conscientes, que os permitam fazer uma boa

gestão de suas finanças pessoais, além de contribuir para o equilíbrio financeiro da sociedade

através do consumo consciente.

Palavras-chave: Taxa de juros. Educação Financeira. Consumo Consciente.

ABSTRACT The Credit facilities and the reduction of interest rates in Brazil, increased consumption of

goods and services by the lower classes of society. This stimulus generated a financial

imbalance families. Access to credit is a positive factor that promotes an improved quality of

life of individuals, however, needs to be offered to the consumer along with a financial

education program that encourages responsible consumption and sustainability. Education has

a fundamental role in this process, mainly financial, which allows the development of skills in

individuals so they can make informed decisions and conscious that allow them to make a

good management of your personal finances, as well as contributing to the financial stability

of society through conscious consumption.The credit facilities and the reduction in interest

rates in Brazil have increased the consumption of goods and services on the part of the lower

classes of society.

Keywords: Interest rates. Financial Education. Responsible Consuption.

1 Mestra em Desenvolvimento Regional e Urbano, pela UNIFACS, 2011, pós graduada em Metodologia do

Ensino superior e Marketing estratégico pela Cenid Business School, 2001, graduada em Ciências Econômicas

Pela UCSAL, 1996.

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Introdução

A crescente facilidade de acesso ao crédito tem aumentado consideravelmente o nível

de endividamento das famílias brasileiras. O crédito facilitado atua como um mecanismo de

estímulo ao consumo de bens e serviços, principalmente por parte das classes mais baixas da

sociedade, que possuem uma demanda reprimida por conta da baixa renda.

As taxas de juros cobradas no país estão em um nível mais baixo se for considerada a

sua tendência histórica de taxas altas. Mas em relação a outros países emergentes, essas taxas

ainda são muito altas. Hausmann (2008), refere-se a alta na taxa de juros como uma

importante restrição ao desenvolvimento econômico do país. Portanto, é necessário entender

que fatores podem estimular a redução da taxa de juros de modo que o país possa convergir

para a taxa de juros das outras economias emergentes.

Dentre os argumentos que buscam explicar as taxas de juros historicamente altas no

país, pode-se citar a política fiscal e o baixo nível de poupança doméstica. Hausmann (2008),

argumenta que o Brasil tem um nível de poupança doméstica relativamente baixo e que essa é

a principal restrição ao crescimento do país e a razão para a alta na taxa de juros.

De acordo com Rossetti(1990), quanto maior a taxa de juros, mais dispostos estariam

os consumidores a poupar e menos dispostos a investir. Isso aumentaria as suas reservas e

reduziria o seu nível de endividamento. Essa atitude positiva, entretanto, estaria associada a

um consumo consciente e a um equilíbrio nos investimentos. A teoria clássica de

investimento e poupança, afirma que se a demanda por investimento excede a oferta de

poupança doméstica, a taxa de juros se eleva desequilibrando o mercado.

Nesse contexto, o aumento da poupança doméstica está diretamente relacionado ao

aumento da taxa de juros. Entretanto, a má distribuição de renda que atinge o país restringe as

possibilidades de reserva do consumidor. A redução dos juros por sua vez estimula a busca

por parte dos consumidores de baixa renda, por empréstimos pessoais para quitar dívidas e

adquirir bens e serviços. Essa busca por sua vez, termina mergulhando o consumidor em

dívidas que nunca conseguem ser pagas, gerando um ciclo vicioso de desequilíbrio financeiro.

O acesso ao crédito é um fator positivo, que promove uma melhora na qualidade de

vida dos indivíduos, através da aquisição da casa própria, o acesso à educação e a realização

de desejos pessoais. Esse acesso, entretanto, precisa ser oferecido ao consumidor, juntamente

com um programa de educação financeira, que estimule o consumo consciente e a

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sustentabilidade. A liberação sem direcionamento de demandas altamente reprimidas, como é

o caso do Brasil, gera uma forte probabilidade de descontrole financeiro, e o crédito passa de

fator positivo a aliado da formação de dívida pessoal, do pagamento de juros altos e do

aumento das desigualdades na distribuição da renda.

Reconhecendo esse fato, construiu-se esse estudo através de levantamento de dados

encontrados na literatura já existente. Foram realizadas pesquisas bibliográficas, onde foram

consultados livros, sites e artigos originais e de revisão sobre a educação financeira e sua

relação com o consumo consciente.

Buscou-se investigar a relação direta entre o consumo consciente e a sustentabilidade,

bem como o quanto a educação financeira ajuda o consumidor a reavaliar a aquisição de bens

e serviços e seus investimentos, evitando a formação de dívidas.

De acordo com pesquisa feita pelo IGBE (2009), 85% das famílias brasileiras tem

algum tipo de problema financeiro. Esses problemas não dizem respeito apenas à baixa renda,

mas também a problemas ligados à má administração dos recursos financeiros. Ao contrário

do que a maioria das pessoas pensa, os problemas financeiros não são exclusividade das

pessoas de baixa renda.

Conforme Massaro (2010), com a estabilização da economia e da moeda, as pessoas

estão se sentindo mais a vontade para gastar. E o comércio, por sua vez, aproveita para

oferecer mais créditos e aquecer o mercado.

Segundo Kiyosaki (2000), a educação financeira deveria ser ensinada às pessoas desde

os primeiros anos de vida. Considerando que muitos pais não têm conhecimento para passar

essas informações para os filhos, a educação financeira deveria ser matéria obrigatória nas

escolas, desde o ensino fundamental. Atualmente, algumas escolas já estão inserindo a

Educação Financeira na grade curricular, porém estas poucas iniciativas ainda são

insuficientes para prevenir um problema tão grande uma vez que muitos jovens já enfrentam

problemas com as dívidas.

As bases da educação financeira

De maneira tradicional, a educação financeira está vinculada ao acúmulo ou gasto

planejado do dinheiro. Este é colocado como um fator central sem discussões a cerca da sua

origem e aplicação, nem tampouco sobre as consequências que a poupança e o investimento

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podem gerar para o indivíduo, sua família e a sociedade A partir da preocupação com a

família e a sociedade, a educação financeira refere-se ao planejamento pela perspectiva do

consumo consciente, é através do consumo consciente que a educação financeira se conecta

ao desafio da sustentabilidade.

Para a Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico-OCDE (2005),

a Educação Financeira pode ser definida como o processo em que os indivíduos melhoram a

sua compreensão sobre produtos financeiros, seus conceitos e riscos, de maneira que, com

informação e recomendação claras possam desenvolver as habilidades e a confiança

necessárias para tomarem decisões fundamentadas e com segurança, melhorando seu bem-

estar financeiro.

Atualmente, o orçamento familiar está comprometido pelo impulso das famílias por

comprarem imediatamente o que querem, em detrimento da possibilidade de planejarem a

compra ao longo do tempo. Por isso, a administração do orçamento familiar deve partir de

uma consciência comum a cerca da perfeita utilização dos recursos disponíveis, além de ser

objetiva e estar clara para todos os membros da família.

Para Kiyosaki (2000), a educação financeira traz um padrão de vida desejável e

proporciona a sua manutenção. O que todos querem ser é abastados e isso exige conhecimento

sobre dinheiro: é o que se chama ‘inteligência financeira’. D’Aquino (2008) cita que é

importante que as crianças saibam o valor do dinheiro em relação ao trabalho, e que o

consumo deve vir após as necessidades básicas. Segundo a autora, as famílias desejam ter

cada vez mais dinheiro, mas dificilmente elas se propõem a ensinar seus filhos como tratá-lo

corretamente, consequentemente, não há educação financeira; não se aprende como ganhar,

poupar, gastar ou doar dinheiro.

Na realidade, não é quanto dinheiro se ganha que faz a diferença, mas quanto dinheiro

se guarda ou, ainda, quanto o dinheiro trabalha aumentando-o, e por quantas gerações ele se

manterá. Para isso exige-se planejamento, a base de toda a educação, que, segundo Tiba

(2002), deve ser iniciada na infância, pois as crianças que aprendem a administrar bem a

mesada tendem a ter, no futuro, melhor qualidade de vida do que aquelas que gastam mais do

que podem.

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O direito à educação infantil, de acordo com Hill (2009), vai de zero a seis anos de

idade e está explícito na Constituição Federal, no artigo 208, inciso IV, bem como na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que afirma que a ação de educação infantil é

complementar à da família e comunidade.

Esses aspectos legais evidenciam a participação e a responsabilidade dos pais na

educação dos filhos desde seu nascimento, e implica também em educação financeira. A

educação financeira, segundo Hill (2009), pode ser definida como a habilidade que os

indivíduos apresentam de fazer escolhas adequadas ao administrar suas finanças pessoais

durante o ciclo de sua vida.

Para Kiyosaki (2000), a mesada faz parte do processo educativo e exemplos práticos,

como o que os pais realizam diariamente em suas vidas, podem ajudar a formar a

personalidade financeira, mas o que se verifica na atualidade é um contingente de jovens

analfabetos financeiros, sem o conhecimento de como o dinheiro funciona. Como

consequência, muitos estão totalmente despreparados para enfrentar o mundo financeiro, que

atualmente dá mais ênfase ao consumo, à despesa, do que à poupança.

Como cita D’Aquino (2008), torna-se dever dos pais desenvolver a consciência

financeira dos filhos, e seria satisfatório se as escolas complementassem esse

desenvolvimento. O processo de educação financeira é longo, de aproximadamente vinte

anos, e depende de ensinamentos e coerência. Uma das razões pelas quais os ricos ficam mais

ricos e os pobres mais pobres, conforme pesquisa de Kiyosaki (2000), é que grande parte da

classe média luta constantemente com as dívidas e o assunto dinheiro muitas vezes não é

ensinado nem em casa nem na escola, que se concentra nas habilidades acadêmicas e

profissionais, mas não nas habilidades financeiras.

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A figura 1 demonstra o ciclo de vida de uma pessoa relacionada ao aspecto financeiro

Figura 1 – ciclo de vida de uma pessoa

Fonte: Clark (2004)

A Figura 1 mostra que o maior consumo do indivíduo está entre vinte e sessenta e

cinco anos, tendo seu pico por volta dos quarenta e dois anos. De acordo com Clark (2004),

falta de conhecimentos básicos é prejudicial para um bom planejamento dos gastos ou para

evitar a decisão errada de investir ou de tomar um empréstimo. Assim, quanto mais cedo se

aprende a trabalhar com o dinheiro, melhor.

D’Aquino (2008) menciona que sempre haverá uma situação de escolhas envolvida

em cada ato de consumo, porque a população não foi educada para perceber o uso do dinheiro

como resultado das escolhas que faz, ou a considerar o que deixou de ganhar quando fez uma

opção. O modo como cada um lida com o dinheiro, em larga extensão, foi construído até por

volta da idade de seis anos.

Para Aquino (2008),enquanto a vontade é passageira, o desejo se sustenta ao longo do

tempo. Então, um jeito interessante de distinguir vontade e desejo, do ponto de vista do

consumo infantil, é deixar que a criança espere algum tempo para ganhar o que pede. O

$

Renda

+++++++++++++

Consumo

Nascimento Morte

16ª 20-25ª 60-65a

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importante é educá-la para aprender a esperar pela realização dos desejos. Nesse mesmo

sentido, marcar datas para o recebimento dos presentes permite que a criança tenha tempo

para receber e fortalecer seus desejos.

Assim, o ato de educar financeiramente é o ponto de partida para criar indivíduos

conscientes da importância do dinheiro para a sua vida. É importante ensinar a crianças a

comprar itens de forma planejada, a fazer escolhas que lhe proporcione um melhor

investimento de sua renda. A criança deve estar organizada e comprometida com a sua

estabilidade financeira, para que o seu consumo seja cada vez mais consciente e que a partir

da sua organização possa ser percebido que as ações individuais ao longo do tempo irão se

expandir para a sociedade gerando um bem estar comum.

Planejamento e consumo consciente

A análise da educação financeira e da sua relação com o consumo consciente, coloca

em evidência um ponto em comum entre estes estudos que a questão da escassez. Em toda

forma de utilização do dinheiro, seja ela de uso individual (dinheiro e crédito),ou de uso

coletivo (recursos naturais e sociais), estamos tratando do uso de recursos limitados.

De acordo com Rossetti(1990), As necessidades dos seres humanos são ilimitadas,

enquanto os recursos são escassos, cabendo a economia a difícil tarefa de estabelecer a

perfeita alocação entre ambos. Partindo-se desse pressuposto, o consumo exagerado, sem

consciência ou preocupação com a sustentabilidade, ao longo do tempo, irá exaurir os

recursos naturais. Essa mesma teoria pode ser aplicada à utilização dos recursos financeiros.

O consumo desenfreado de bens e serviços estimula o aumento do preço dos produtos, que

por sua vez elevam o nível de inflação, desvalorizam a renda pessoal disponível e lançam os

consumidores aos empréstimos pessoais, aos cartões de crédito, a utilização de limites de

cheque especial, que no final desse ciclo terão um grande desequilíbrio financeiro.

Para o Ministério do Meio Ambiente, o consumo consciente é uma contribuição

voluntária, cotidiana e solidária do cidadão para garantir a sustentabilidade da vida no planeta.

É ampliar os impactos positivos e diminuir os negativos causados pelo consumo dos cidadãos

no meio ambiente, na economia e nas relações sociais. O Programa das Nações Unidas para o

Meio Ambiente (PNUMA), por exemplo, indica que a utilização de bens e serviços precisa

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cumprir com necessidades básicas e proporcionar melhor qualidade de vida. Ao mesmo

tempo, o produto ou serviço deve minimizar o uso de recursos naturais, materiais tóxicos,

diminuir a emissão de poluentes e a geração de resíduos.

De acordo com o Ministério do Meio ambiente, o consumidor consciente por sua vez

é aquele que leva em conta, ao escolher os produtos que compra, o meio ambiente, a saúde

humana e animal, as relações justas de trabalho, além de questões como preço e marca. Por

meio de cada ato de consumo, o consumidor consciente busca o equilíbrio entre a sua

satisfação pessoal e a sustentabilidade, maximizando as consequências positivas e

minimizando as negativas de suas escolhas de consumo, não só para si mesmo, mas também

para as relações sociais, a economia e a natureza.

Desse modo, o consumo consciente está diretamente associado ao planejamento, uma

vez que este analisa todas as variáveis envolvidas em um processo e direciona o indivíduo a

partir de suas metas para objetivos que lhe tragam um melhor retorno e mantenham os

processos em equilíbrio. De acordo com Zadnowcz (2000), planejamento significa traçar

metas, elaborar planos direcionados a peculiaridades do projeto que se almeja pôr em prática.

Já as finanças são um método de administração dos recursos disponíveis, encaixando-se no

meio empresarial ou particular, discutindo a distribuição e aplicação dos recursos, seja ele um

salário de específica pessoa ou faturamento de uma organização. Ao juntar os dois conceitos

entende-se que o planejamento financeiro é o ato de estabelecer o modo pelo qual os objetivos

financeiros podem ser alcançados.

O planejamento financeiro, de acordo com Santos (1984), significa ordenar a vida

financeira de tal maneira que permita ao indivíduo ter reservas para os imprevistos e

sistematicamente construir um patrimônio, seja ele financeiro ou imobiliário, que garanta

fontes de renda suficientes para propiciar uma vida tranquila e confortável.

Assim, segundo Santos (1984), ter um orçamento escrito e formalmente organizado é

uma condição necessária para se ter um planejamento financeiro satisfatório. Muitas pessoas

chegam a elaborar um orçamento, mas desistem ao verificar que ele não funciona a contento.

Um bom planejamento financeiro pessoal começa pela criação de um orçamento pessoal

confiável, o que significa previsões com um satisfatório grau de precisão.

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Para algumas pessoas, as previsões mais incertas são as de renda. Entre elas se destaca

aquela cuja renda é formada principalmente por comissões ou bônus. Nesses casos, Santos

(1984) menciona que o melhor a fazer é trabalhar com três hipóteses de renda anual: a

provável, a otimista e a pessimista. Assim, as despesas obrigatórias ficariam atreladas à

previsão pessimista. Um valor mais elevado de gastos seria realizado caso se confirmasse a

previsão provável ou a otimista.

Quanto às despesas, se há um orçamento detalhado e disciplina na sua execução, não

haveria, na maioria dos casos, porque haver surpresas nos valores realizados, entretanto

Santos (1984) destaca que muitas pessoas se deparam com o fato de as despesas projetadas

serem sempre superadas. Isso acontece, geralmente, por que o orçamento de despesas foi

elaborado de modo incompleto. Esse desequilíbrio por sua vez, gera um efeito em cadeia, a

partir do momento em que reconhecemos viver em um mundo sistêmico e interdependente,

onde os efeitos das ações de cada indivíduo afetam todo o conjunto e, por meio desse,

retornam ao próprio indivíduo. Nesse contexto, a noção de interdependência geraria no

indivíduo o estímulo ao consumo consciente. Esse protagonismo por sua vez, é o caminho

pelo qual cada consumidor consegue perceber o poder da sua decisão cotidiana e passa a

tomá-las de modo consciente para a construção de uma sociedade economicamente

desenvolvida e mais igualitária.

O desenvolvimento econômico, que segundo Hewlett (1981) é usualmente definido

como um aumento significativo na renda real per capita de uma nação, tem como propósito a

obtenção de melhor alimentação, saúde, educação, melhores condições de vida e uma gama

cada vez mais ampla de oportunidades de trabalho e de lazer para as pessoas desta nação. Em

essência, desenvolvimento significa a transformação das estruturas econômicas da sociedade,

a fim de se atingir um novo nível de capacidade produtiva, e isso requer níveis sem

precedentes de poupança e de investimento.

Conclusão

A facilidade de obter crédito no Brasil, principalmente para os consumidores de baixa

renda, cresce a cada ano, mas esse fato não torna as pessoas mais ricas, ao contrário aumenta

a inadimplência no país e o empobrecimento da sociedade. A causa dessa instabilidade

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financeira deve-se à necessidade do indivíduo do consumo imediato e sem planejamento e da

sua dificuldade de fazer contas.

O consumo de bens e serviços é essencial para o crescimento do país. O retorno do

dinheiro às empresas a partir do pagamento realizado com os salários recebidos pelas famílias

faz com que o país cresça e se desenvolva. Esse consumo entretanto precisa ser consciente,

pois a inadimplência, por sua vez, atrasa o crescimento à medida que impede que os

fornecedores invistam na geração de novos bens e serviços.

As compras mais conscientes, os investimentos apropriados e o bom aproveitamento

do crédito melhoram a qualidade de vida. A partir dessas ações a situação financeira familiar

progride e gera um efeito em cadeia de cesso à educação, à saúde e a moradia. A estabilidade

e o progresso financeiro melhoram a produtividade das pessoas por estarem mais satisfeitas.

Todos esses aspectos conduzem ao crescimento e ao desenvolvimento do país.

Uma vez mais a educação financeira pode ser definida como um conjunto de medidas

que objetivam criar e transmitir informações financeiras aos indivíduos, a fim de lhes

proporcionar a capacidade de distinguir as principais vantagens e os principais riscos de suas

escolhas, dando-lhes a percepção de que seu bem-estar financeiro influencia no bem-estar

econômico da sociedade.

Concluiu-se, portanto, que a educação financeira aprendida desde a infância fornece o

conhecimento necessário para que no futuro os indivíduos obtenham não apenas o equilíbrio

do orçamento familiar, mas também recursos que proporcionem sua independência financeira.

Quanto antes for aprendido a praticar os ensinamentos financeiros, mais as pessoas terão

subsídios para analisar racionalmente os seus recursos.

Adotar o consumo consciente e evitar atitudes que gerem situações de risco em

investimentos, empréstimos e outras transações financeiras no seu dia a dia, impedirá que no

futuro isso possa comprometer a sua vida pessoal ou o equilíbrio da sociedade, haja visto que

o sistema econômico gera entre as famílias e as empresas um ciclo onde as atitudes

financeiras individuais positivas ou negativas terminam por atingir toda a sociedade.

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REFERÊNCIAS

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