011953-1_COMPLETO
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S E R E f l U T I - l S
E SARUS
I
A
LIVRARIAGARNIE
R
R IO D E J A N E I R O
M
-
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Ie ne fay riensans
Gayet
(Montaigne, Des livres)
Ex Libris
J o s M i n d l i n
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SERENATAS E SARAUS
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SERENATAS
E S A R U S
C OLLEC O D E A U TOS P OP U LA R ES,
L U N D U S , R E C I T A T I V O S , M O D I N H A S , D U E T O S , S E R E N A T A S
BA R C A R OLA S E OU TR A S TR OD U C ES BR A ZI LEI R A S
A N TI GA S E MOD ER N A S
Com uma explicativa dos assumptos de cada volume
P O R
MELLO MORAES FILHO
I . TRADICIONAES
BAILES PAST OR IS REISAD OS E CHEGANA LUNDUS
E MODINHAS DE CALDAS BARBOSA
H. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR
7 1 - 7 3 ,
RUA DO OUVIDOR, 71 -73 I 6 , RUK D E S SAINTS-PKRES, 6
RIO DE JANEIRO ' PARIS
1901
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PREFACIO
Ha bons trinfannos o fallecido e benemrito
editorB .L. G arnier dera publicidade a
Cantora
Brasileira,
livro destinado a re un ir as canes
esparsas do tempo, essas variadas produces
da musa nacional, que o povo cantava com
musicas prprias , e que to deleitaveis torna
ram as noites de ou tr 'ora , dan do um a feio
especial s no ssas can tiga s e s nossas m elodias,
que j se iam desqu itando dos antigos m oldes.
Espraiando-se em eruditas reflexes sobre o
motivo da s mo din ha s, o illustre historiador e
poeta Joaquim Norberto de Souza e Silva, que
prefaciara a referida obra, confirma o seu juizo
favorvel a respeito do texto, registrando cita
es de no menos notveis viajantes e crticos
estrangeiros, nas quaes o applauso s modas
brazileiras resalta de cada ph ras e, co nst i
tuindo-se essas paginas preciosa documentao
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VI PREFACIO
do que haviam sido, na colnia, e no principio
do sculo passado, os nossos cantares, to
expressivos e meigos, modulados aqui e na
metrpole.
O successo da
Cantora Brasileira
no podia
deix ar de ser com pensador, pois esse repositrio
de modinhas contou mais de uma edio, no
obstante os trechos lyricos serem os mesmos, e
as incorreces avultadissimas.
Co nservando , p orm , o que de caracterstico,
popular e escolhido existe na velha Cantora,
mudando o titulo, recorrendo tradio, e
pondo quasi em dia esse livro, que j no cor
responde ao impulso evolutivo do nosso
folk-
lore,
o actual editor H. Garnier apresenta ao
publico as
Serenatas e Sarus,
que nad a mais
so do que, como dissemos, uma ampliao da
citada
Cantora Brasileira,
por isso que figu
ram em ambas as collectaneas, nem s as
celebres m odinhas e lund us de Caldas B arbosa,
porm ainda muitssimos recitativos, modinhas
ei unds, que no cahiram em desuso entre
ns, sendo at hoje repetidos com o antigo
app lauso e ouvidos a de sho ras com verdadeiro -
prazer.
Este primeiro volume das
Serenatas e
Sarus
divide-se em trez pa rtes : na prim eira ,
encontram-se os bai les pastor is ; na segunda,
reisados e chegana; e na terceira, as pro-
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PREFACIO VII
duces de Lereno, isto , do famoso mestio
Caldas Barbosa. O presente volume, por con
seguinte , exclusivamente consagrado a can-
tares tradicionaes, producto quasi inteiro, ao
menos nas duas primeiras partes , da musa
popular e anonyma.
Como j referimos no correr de nossas obras
sobre assumptos do folk-lore p trio , os bailes
pastoris nos vieram da metrpole, e so ainda
no presente cantados , dansados e represen
tados, notadamente na Bahia, onde poetas
nossos opulentaram o valioso cabedal lyrico
com innumeros outros bailes, respeitando o
fundo tradicional, e intercalando novos perso
nagens. As musicas, n 'essa provncia, foram
especialmente escriptas por gr an de s m estres
que associavam-se aos poetas, produzindo uns
e outros magnficos
Autos,
em que as melo
dias predo m inavam , em balando religiosa e
profanamente os delicados poemas commemora-
tivos das alviareiras festas do Natal.
No perodo colonial, os bailes, ao que parece,
pertenciam poesia verdadeiramente culta ,
pois em muitos d'elles percebe-se calido o sopro
de viva inspirao alentando certo capricho de
frma, visivelmente alterada na tradio oral.
Os trechos musicaes, entretanto, so na gene
ralidade bellos, distinguindo-se em cada um
harmonias caracters t icas de musica sacra de
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VIII PREFACIO
mistura com rhythmos populares, portuguezes
e hespanhoes.
Fazendo lembrar a poesia dos trovadores da
edade mdia, recordando seus similares da
musa provenal, os antigos bailes pastoris
subordinam-se classificao de
Mysterios,
representados nas praas e nos claustros pelos
Irmos cia Paixo,
e que assignalaram as
primitivas datas do theatro.
E com Autos ou Mysterios, os m enestreis e
trovadores andantes celebravam os folientos
Nataes, indo levar a Jesus nascido, nos pre-
sepes das lapinhas, as suas homenagens es
pontneas, seus ardentes louvores, manifestados
pela poesia e pelas dansas, acompanhados ao
tom de harpas, citharas, flautas, rabecas e
demais instrumentos.
Aos trovadores portuguezes, por certo, que
7
como aos allemes, aos hespanhoes, aos fran-
cezes, deve a poesia europa esse gnero de
composies poticas, cabe esta modalidade
deveras distincta do nosso
Jblk-lore,
signifi
cando tal feio, de par com as xacaras,
ronds e romanas, o que de legitimo e acen
tuado nos ficou da poesia puramente bardica
dos tempos coloniaes.
As principaes l inhas
d'esses Autos,
os gran des
traos d'esses poemas dramticos aos portu
guezes pertence m , como sensivelmente dem ons-
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PREFACIO IX
tram o baile dos
Marujos,
o dos
Mouros,
o de
Elmano,
o do
Meirinho,
e t c , onde os perso
nagens e themas so da intimidade lusa.
No Brazil, entretanto, muitssimos foram os
vates que continuaram a cultivar o gnero
potico, numerosos foram os msicos que se
inspiraram nos nativos trovares , particularmente
na Bahia, antiga metrpole brazileira, e que no
todo assimilava costumes e tradies directa-
mente importados de alm-mar.
pelo Natal ainda que os bailes pastoris so
exhibidos na velha cidade, tornando sonoras e
alegres vistosas e humildes salas, onde a tra
dio, acatada pelo povo, reverencia os pre-
sepes,
em frente dos quaes, com rudimentares
scenarios, desempenham-se os bailes, cujos
interlocutores so, de preferencia, meninos e
meninas, caracteristicamente vestidos, habil
mente ensaiados, aos accordes de plangentes
violes e violas, revoada harmoniosa de cas-
tanholas e de pandeiros, melodia de flautas,
e vrios instrumentos, que saturam os ares e
as noites de sons que passam, de toadas bran
das e prolongadas.
N'esses sarus, a famlia sente-se a conforto
e ditosa, e a f e a esperana transparecem
dos semblantes serenos, e dos risos que bor
bulham.
No interior, no s daquella provncia, porm
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* PREFACIO
de quasi todo o norte, os reisados substituem os
bailes, sendo aquelles como que uma conti
nuao d'estes, porm a aco n'estes
ltimos gyra interia em torno de uma
figura, ou de um person agem , que d o nome
ao reisado; so assim :
o Z do Valle,
o
Bum ba-meu-boi, o Seu Antnio Geraldo,
a
Caiporinha, o Mestre Domingos,
e duas
dzias d'outros, que constituem representaes
propriamente nossas, entremeiadas de coros,
de solos, de fandangos, de sapatead os, e de
varias frmas mestias, predominando absoluta
a figura capital, muitas vezes a personificao
de alguma celebridade local, como o
Z do
Valle, famigerado facnora dos sertes piau-
hyenses.
Em bailes e reisados consistindo os sar us do
Natal nas moradias da ba burguezia e nas
casas pobres das populaes nortistas, esses
folguedos extremam-se at certo ponto de
diversos outros, cuja movimentao exige
espao amplo, tendo por theatro as praas das
matrizes, os descampados, as ruas. Taes so as
apparalosas cheganas que, semelhana dos
ranchos de Reis com a competente
burrinha,
precisam do ar nocturno para avivar-lhes os
fogos dos archotes ou dos fogaros, quando, em
tradicionaes serenatas, descantam ao acaso, ou
estacionam em frente s portas que se lhes
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P R EF A C I O X I
teem de abrir , ou em grupos de marujos, de
christos ou de mouros, os folies, com proprie
dade fantasiados, conduzem navios, velames e
armas de guerra para as burlescas scenas de
abordagem, para as exhibies ao vivo da
no
Catharineta, tirad a por m aru jos, tendo frente
o com m andan te e o gageiro, que dialogam
mais tarde em sentida melopa o episdio da
no vinte e um annos perdida nas ond as
verdes do mar.
Producto hybrido da poesia lusa, as che
ganas, que congraam as trez raas, no res
guardam apenas a tradio medieval das lutas
entre chris tos e sarracenos, porm abrigam
ainda elementos visivelmente nossos, resul
tando d'ahi o encanto da differenciao como
objecto de estudo, como producto evolutivo.
O eminente historiador litterario e crtico
Sylvio Romro, incomparavel mestre de toda a
sciencia do nosso
folk-lore,
colligindo em seus
Cantos populares a chega na dos Marujos,
esclarece antecipadamente o motivo no seu
livro especial consagrado crtica d'essa natu
reza de Autos, dando-nos a conhec er, no s a
indole d'esse gnero de composies, mas ainda
a physionomia dos factores que n'ellas teem
collaborado.
To es tranhas bambochatas , ass im adapta
da s ao nosso meio festivo e cam pesino , an n ua l-
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XII PREFACIO
m ente se executam na s prov ncias do no rte, com
variantes acen tuada s, com m anob ras m ais com
plicadas, com entrecho e musicas que, pouco a
pouco, as distanciam de suas nascentes, sem
comtudo trahil-as nas frmas irreductiveis. E a
chegana dos
Marujos
e a cheg ana dos
Mouros confirmam as nossas pond eraes, no
obstante j desfiguradas em sua esthetica geral.
No comportando este livro demorado estudo
sobre cada um a de su as partes , o que fica dito
bastar para dar uma ida, embora pall ida,
dos reisados e cheganas, restando-nos as
modinhas e lundus de Caldas Barbosa, na
terceira diviso do volume, a respeito de quem
e das quaes rpidas consideraes somos
levados a produzir.
Do que completamente popular e anonymo
s graciosas canes do lyrista fluminense, a
transio fcil e natural. Significam ellas a
consagrao da mo dinha brazileira na m etrpole,
e no Brazil, nos primeiros decennios do sculo
que findou.
Domingos Caldas Barbosa, o valido de Jos
de Vasconcellos e Sousa, mais tarde conde de
Pombeiro, era um mestio filho de escrava
negra de Angola, e, segundo a melhor verso,
vira a luz da vida no Rio de Janeiro.
Em luta com o preconceito de cr e de raa,
conseguiu a custo seu pae fazel-o educar-se no
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PREFACIO XIII
collegio dos Jesutas, onde o repudiado mulato
desenvolvera brilhantes aptides poticas, que
opportunamente o incompatibilisaram com o
ambiente social, visto como o seu dio de
origem transparecia vehemente atravez das
satyras que compunha e propagava.
Movido pelas desaffeies que dia a dia accu-
mulava , o capi to-genera l Gomes Fre ire de
Andrade, para punil-o, ordenou que lhe sen
tassem praa, seguindo o desfavorecido poeta
como soldado em um regimento para a
Colnia do Sacramento, onde permaneceu at a
occupao d'esta pelos hespanhoes, em 1762.
De volta, obtendo baixa, seu desolado proge-
nitor enviou-o para Portugal, sendo ahi collo-
cado,
por influencia do conde de Pombeiro,
que lhe estimava o talento e a poesia, na Casa
da Supplicao.
Distinguido por Bocage, Curvo Semedo e
Jos Agostinho de Macedo, Caldas Barbosa,
que j havia conquistado merecida fama, fora
proclamado membro da Arcadia de Roma, sob
o nome de Lereno Selinuntino com o qu al
assignra suas Cantigas.
E no reino, o mulato brazileiro expandia em
abundante lyrismo, e repinicados de viola,
os seus doces trovares, tornando-se nos aristo
crticos sarus de Lisboa, e de seus pittorescos
arrabaldes, a individualisao mais authentica
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XIV PREFACIO
do sentimentalismo e da graciosidade da alma
brazileira, n'aquelles tempos em que as modi
nhas haviam quasi emmudecido sob os cos da
ptria portugueza, que se estrellavam de novo
pa ra esc uta r o poeta exilado qu e carpia sereno
as suas maguas, ou que se deliciava descan-
tando em lundus os
quindins brasileiros.
Menestrel e bardo, Caldas Barbosa sus
pendeu, em Portugal, a sua viola de Lereno ao
derradeiro pilar do sculo xvm, e as viraes
que sussurravam transportaram para o Brazil
esses threnos, que to alegremente enfeitiaram
as reunies selectas, e os festins do povo, nos
primeiros lustros do sculo que surgira.
E espreguiando-se nas escadarias de trevas
d'aquelles crepsculos, erguiam-se risonhas as
noites brazileiras, para aguardar os brilhos de
radiantes auroras, aos arpejos de violes e
sonidos de violas, que tangiam inspirados s
melanclicas modinhas e aos faceiros lundus de
Domingos Caldas Barbosa.
MELLO MORAES FILHO.
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PRIMEIRA PARTE
BAILES PASTORIS
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SERENATAS E SARUS
B A I L E D A T E N T A I A O
PERSONAGENS
S A T A N A Z . A S E C A D O R A .
A N J O . O P A S T O R J O V I X O ,
A C I GA N A . O C A P I N E I R O .
A P A S T O R A .
'
Opresepe acha-se eiiscenado para a representao
'/'este baile e Jigura um bosque.)
CORO.
Can temos , an jo s , can temos
A o sub l ime nasc imen to ;
A o D eus Men ino saudemos ,
D o co immenso po r t en to .
Cantemos p ' i a nossa g lo r ia
A ' M a r i a I m m a c u l a d a ,
Xesse d ia de v ic tor ia
Po r D eus a s i consag rada .
Ao caro e casto esposo
Vamos com gos to saudar ,
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4 SERENATAS E SARUS
Ao prazer e immenso gozo
Que a todos nos veio dar.
CIGANA, entra e canta.
Minhas boni tas fazendas
Para servir o f reguez ;
Tenho seda , chi ta e rendas
E bello fio escossez.
Meu negocio
Venho fazer,
Minhas fazendas
Venho vender .
(Declama.)
Andando por es tas ruas ,
A fazenda a apregoar ,
O meu negocio no fao,
Po i s n ingum me que r chamar .
No s eu vendo fazendas,
Pois pelos traos da mo
Eu sei ler a buena dicha,
Com a maior exact ido.
SATANAZ, entra com uma capa que lhe encobre
a roupa, e declama.
Quero ver tua sc iencia ,
Quero ver o teu poder ;
Ah i t ens a minha mo ,
Podes as l inhas lhe ler .
CIGANA, idem.
Com todo gosto, senhor,
Q ue ira es tend er sua m o ;
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B A I L E S P A S T O R I S
Pois quero pe los seus t raos
T i r a r c e r t a a concluso .
SATANAZ,
estende a direita.
A q u i tem, que m a i s des e j a?
CIGANA,
declama.
A d i r e i t a ,
no, meu
s e n h o r
A e s q u e r d a que lhe peo,
P o i s a que tem v a l o r . . .
SATANAZ,
estende a mo esquerda.
Ser com s e g u r a n a ,
X o me q u e i r a i l l u d i r ;
P o i s
se da
m e n t i r a u z a r ,
D e mim nopde fug i r .
CIGANA, vendo a mo.
Pe los t r aos qu ' e l l a tem,
2s
o posso bem d i v u l g a r ;
P o r m , por cer to s ig na l
X o
me
pode i s e ng an ar ,
Que so is a lgum d is farado
P a r a a q u i me vir t e n t a r .
SATANAZ,
rino-se.
A h ah ah g r a a tem
Vosso modo de fa l la r ,
Se
no
fo ra
eu
cava l le i ro
D e v i a j cas t iga r ,
P o r q u e uma tal ouzad ia
2s"unca ouvi pronunciar .
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S E R E N A T A S
E
SAHAirS
CIGANA,
declama.
P e r d o ,
por
D e u s ,
meu
Senhor,
X o
era
minha t eno
Insul tar vossa pessoa ,
Vos digo
de
corao.
S AT ANAZ .
Pois
bem,
de ixemos
de
par tes ,
V ou
a
ques to abordar
;
E u
amo
apezar
de que,
E u
no
podere i amar.
E vs com tan to saber
Que cu l t iva is
a
sciencia ,
Ides -me ouvi r
com
a t teno
E com toda a pacincia .
A m ouma bel la pas tora
Q ue a mim no tem amor,
E
s vs me
podereis
Pres ta r ass im
um
favor.
CIGANA.
Que favor, meu cavalleiro,
P o d e re i eu lhe p r e s t a r ?
E u s com m inh as fazendas
E '
que sei
negociar .
SATANAZ.
F a z e r - lh e ver com cuidado
Que exis te um cavalleiro,
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B A I L E S P A S T O R I S
Q ue p rocu ra possu i l - a
E d a r - l h e m u i t o d i n h e i r o .
E s t a p a s t o r a a m a a l g u m ,
Q ue tu me descub r i r s ;
P r o m e t t o , s e c o n s e g u i res,
Tua fo r tuna fa rs .
C I G A N A .
M i n h a f o i t u n a , d i z e i s . . .
Mais is to sonho, i l luso,
L e m b r a r - s e d e s t a C i g a n a
P ' ra sa lvar seu corao ,
D a chamma que amor a t i a
E m q u a l q u e r o c c a s i o . . .
S A T A N A Z .
Se acce i tas minha p ropos ta ,
D i z e i j e sem ta rdar ;
E e m p a g a , a d i a n t a d a ,
Quei ra es ta bo lsa levar . . .
C I G A N A .
Podeis de mim j d i spor ,
Es tou p rompta a obedece r ;
E a pas to ra , p romet to ,
A vossos ps se render.
S A T A N A Z .
P r e c i s o q u e m e g a r a n t a s
T u a p a l a v r a c u m p r i r .
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8 S E R E N A T A S E S A R U S
CIGANA.
Eu sou s incera , senhor ,
A e l la no heide fugir
SATANAZ.
Pois bem, eu fico esperando
Que cumpras o teu dever ;
Quero a pas tora possuir
Inda cont ra seu quere r .
CIGANA.
Ella para aqui se d ir ige .
SATANAZ.
E eu d'aqui me re t i ro .
CIGANA.
Podeis i r bem descanado,
Pois a e l la j me a t i ro .
SATANAZ.
Que sejas feliz desejo,
Sabere i recompensar- te .
CIGANA.
Em breve tu a te rs ,
Es te p razer he ide dar - te .
(Satanaz sahe.)
Pastora a l t iva , eu espero
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B A I L E S P A S T O R I S
Pois um be l lo cava l le i ro
Por esposo has de ter .
(Sahe.)
PASTORA,
entra e canta.
O m e u g a d o p a s t o r a n d o ,
D esde que amanhece o d i a ,
V ivo a l eg re e con ten te ,
Com a g raa de Mar ia .
E ass im ando,
Sem me cansar ,
Com o m eu reba nho
P a r a p a s t a r .
(Falia.)
Antes de v i r p ' ra es te s i t io
Com meu rebanho a pas t a r ,
Um caval le i ro av is te i
Q u e n o p e r t e n c e a o l o g a r
V i n h a e m b u a d o e m u m a c a p a
Que at o rosfo cobria,
Pas sou po r mim e s a lvou -me
D ando suave bom d ia .
Eu fiquei de p atraz,
E responder no ouse i ;
Xa pos io em que es tava
X a mesma me conse rve i .
Po is a um desconhecido
Eu no dev ia sa lvar ,
-
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28/311
10
S E R E N A T A S
I:
SARUS
P o d i a ser um ma lvado
Q u e
me
v iesse ten ta r .
CIGANA, entra e canta.
Minhas boni tas fazendas ,
P a ra s e rv i r
ao
freguez
;
Tenho seda , chi ta
e
rendas
E bello
fio
escossez.
Meu negocio
Venho fazer ,
Minhas fazendas
Venho vende r .
(Falia.)
D e u s vos sa lve , pas tor inha ,
Com vosso gado a p a s t a r ;
P A S T O R A .
E a A'st a m b m , a m i g u i n h a ,
Com a fazenda a mercar .
CIGANA.
D ig a -m e , l i n d a m e n in a ,
^so quer vossa sorte saber?.
Pois n"s fazendas vendo
Como
a
buena d icha
sei
le r . . .
PASTORA.
Ento , cu l t iva i s a sciencia
D e
ler nos
t raos
da
m o ? . . .
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B A I L E S P A S T O R I S 1 1
C I G A N A .
Se i a t ma i s , adv inho
Amores do corao .
P A S T O R A .
A m o r e s . . . I s t o n o c r e i o ,
Descobr i l -os bem qu izera ;
Po rm a tua s c i enc ia ,
Xo i r t o longe , espero .
C I G A N A .
D -me en to a sua mo ,
E ver como sei ler .
P A S T O R A .
Ahi tem, vamos a i s to ,
Q uero ve r vosso sabe r . . .
(Estende a mo, e a Cigana, depois de algum
tempo :)
CIGANA, declama.
Pelos t raos qu 'e l la t em
Eu d i re i com mui r azo
Q ue a be l l a pas to r inha
A ma a lgum de co rao .
P A S T O R A .
(A parte.)
El la o que d iz verdade ,
Po rm de ixemos pensa r ;
(Alto.)
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1"2 SER EN AT AS E SAR US
E acaso saber a quem
Meu co rao pde amar? . . .
C I G A N A .
Direi s im, j que quer
Este segredo saber ;
Lhe peo que no se zangue
D'aqui l lo que vou dizer .
P A S T O R A .
Zan ga r -m e . .. no t e n ha sus to .
Pico a t bem sa t is fe i ta ,
Em saber que ha no mundo
Uma sc iencia perfe i ta .
C I G A N A .
A men ina t em amores ,
Por Jovino, o pas tor ;
E elle, por sua vez,
A si no lhe traidor.
Porm ex is te um cava l le i ro
Que faria a fel ic idade,
Se a menina lhe amasse
Com s incero amor, sem maldade.
Tem fortuna , r icao,
Ama-a com mui to a rdor ;
O seu desejo um s :
Possui l -a por amor.
-
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BA I LES P A STOR I S
P A S T O R A .
13
Ter v is to pessoa ass im,
X o a t i n o ,
s i n g u l a r . . .
E como,sem conhece r -me ,
Me poder e l l e amar?
CIGANA,
continuando.
P o i s e n t o , m e n i n a , a l g u m
Q u e c u l t i v o u o amor ,
P r e c i s aver a pessoa
P a r a a m a l - a com a r d o r ? . . .
E u at lhe fel ici to
P o r to b o n i t a u n i o ,
D 'um caval le i ro r icao
D e s e j a r - l h edar a mo.
P A S T O R A .
M a i seu no o conheo,
E no posso a t i n a r
Tel-o v is to
uma s vez,
X em somen te pe lo o lha r .
CIGANA, lendo na mo.
Pe los t r aos , eu d ivu lgo
Tel -o a m e n i n a j v is to .
P A S T O R A .
S e r oh o m e m da c a p a . . .
A h e s p e r a Sim, isto
-
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1 4 S E R E N A T A S E S A R A I S
Pois nem o ros to lhe v i ,
El le ia todo embuado ;
E como pde um homem ass im
Ju lg ar -s e j ser amado ?
Demais , no amo ao d inhe i ro ,
Por Jov ino t enho amor ;
E l l e a m a -m e ig u a lm e n te
Com. sinceridade e calor.
Por isso seja quem fr
Que me venha dec la ra r ,
Eu recuso seu amor,
S quero Jov ino amar .
C I G A N A .
Perdo, eu s estou lendo
Os traos de sua mo ;
Xo tenho nisso in teresse ,
Xem entro em discusso.
S digo que a menina
Muito rica deve ser,
P ' ra re je i ta r um cava l le i ro
Que a fo r tuna vem t razer .
Eu quando na sua idade ,
Lhe ju ro no re je i ta r ;
Por s imples pas tor do monte ,
Cava l le iro s i n g u la r . . .
Porm, sou velha , no pres to ,
Po i s que a mim j n ingum ama ,
N in g u m q u e r v e lh a s a m a r .
-
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H A II . l .S
1'AslolUS
1>
P A S T O R A .
X em mesmo em sua p resena
Eu no me dec id i r i a ,
T roca l -o po r meu Jov ino
X unca d i s so cu ida r i a .
Po r t e r d inhe i ro somen te
Jov ino posse t ambm ;
Xo ser todo em moeda ,
Mas pe lo gado que tem.
C I G A N A .
P o i s b e m , m e n i n a , e u m e v o u
r
Xo posso aqui ficar ;
Vou meu negocio fazer ;
Vou as fazendas mercar .
Pense bem no que lhe d i sse ,
X o v e n h a a s e a r r e p e n d e r ;
Xo quero ser eu a causa,
Depois, de vosso sofrer.
SAHE, cantando.
Minhas bon i t a s f azendas ,
Para serv i r o f reguez ;
e t c , e tc .
P A S T O R A .
A cred i t a r no que d i zem
A s pa lav ras da c igana ,
Xo posso . . . no devo no . . .
Po i s e l l a t ambm se engana .
-
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34/311
1 6
SERENATAS E SARUS
Mas que vejo Um cavalleiro
Para aqui se dirigindo .. .
Tratemos de lhe escapar,
Tratemos de ir fugindo.
(Quando vae a sahir, Satanaz embarga-lhe
os passos.)
SATANAZ.
Desculpae minha ouzadia
De vosso passo impedir ;
Porm desejo faliar-lhe...
PASTORA.
Alguma cousa pedir?
SATANAZ.
Sim ? um pedido a fazer,
A vs, belleza sem pr ;
Para o meu amor a nascer
Eu venho agora implorar.
PASTORA.
Meu senhor.' no o conheo,
E no posso lhe responder ;
E meu gado est pastando,
Tenho medo de o perder.
SATANAZ.
Descance, que elle est
]\ 'a campina reunido ;
Algum se incumbio delle,
Que anda de amores rendido.
-
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BAILES PASTORIS 17
PASTORA
(A parte.)
O h m e u D e u s q u e t e n t a o
S A T A N A Z .
Dizei -me, be l la pas to ra ,
Que respos ta deve te r
Q ue m ta n t o j vos ado ra ?
P A S T O R A .
Sin to mu i to , meu senhor ,
Mais no lhe posso a t tender ;
Tenho meu gado no mon te ,
E no ta rda a ano i tecer .
S A T A N A Z .
Tudo dou , be l la pas to ra ,
Pa ra t e r o t eu amor ;
Ouro , sedas , pedrar ias ,
Que aos teus ps quero depor .
P A S T O R A .
Tudo vos ag radeo ,
P o r m o u t r o m e a m a ;
Por quem eu dou a v ida ,
E o meu pe i to s e i nnamma.
E i l - o , que chega , con ten te ,
P e l o c a m p o a p r o c u r a r
A sua be l la pas to ra ,
Como me usa chamar .
-
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18 SERENATAS E SARUS
SATANAZ
D a e - m e
s uma
esperana,
E j mefareis dito so .
P A S T O R A .
Ret i re - se ,
por
favor
Xo que i ra rouba r -me
o
gozo.
S A T A N A Z .
P o i sbem, eu me re t i ro ,
Porm cau te la , Pas tora ,
Q ue
o
vosso gozo
no
seja
Cousa pouco duradoura
:
E u v o u -m e sem esperana
S u p p o r t a r
a
v ida agora .
(Sahe.)
P A S T O R A .
Que d i r ia
o meu
Jov ino ,
Se esta conversa escutasse
?
(Entra Jovino.)
J O V I N O .
Ests aqu i be l la pas tora ...
J u l g a r a que no te achasse .
Corr i porm o n te s e valles
S para
te
p r o c u r a r
;
S depois
de bem
can ado ,
F i n a l m e n t e vim te achar .
-
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B A I L E S P A S T O R I S 1 &
P A S T O R A .
Com o meu gado em descano ,
G ozar a sombra aqu i v im .
J O V I N O .
E no tens medo do bosque ,
Sem es t a res ao p de mim? . . .
P A S T O R A . .
Medo e porque , meu Jov ino , .
Acaso eu ten ho in im igos ?
J O V I N O .
Xo isso, que s vezes,
Xem todos nos so amigos .
P A S T O R A .
X o encon t ras t e s a C igana
Com fazendas a merca r?
J O V I N O .
Eu v im pe lo lado oppos to ,
N o a pod ia encon t ra r .
P A S T O R A .
Pois aqui es teve, e me leu
O s t r aos da minha mo .
J O V I N O .
E o que encont rou de novo ,
X a sua le i tu r a en t o ?
-
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20 SERENATAS E SARUS
PASTORA
Primeiro teu nome d isse ,
E que te amava tambm ;
Enf im out ro cava l le i ro
F a l lo u -m e , o u v i m u i b e m .
Que t inha mui ta r iqueza ,
E por mim el le t inha amor ;
Apenas eu te confesso,
No conheo ta l senhor .
Depois que elle sahio,
Ia tambm a sah i r ;
Embargou-me e l l e a pas sagem,
E t ive aqui de o ouvir
Disse mi l ga lan te r ias ,
Que por mim sen t ia amor ;
Que presen tes me dar ia
E muitas j ias de valor .
A tudo fui insens vel ,
No lao eu no cahi ;
Q u a n d o , p o r m in h a v e n tu ra ,
Sinto teus passos all i .
E l le sahe prec ip i tado ,
Sem dar-se a conhecer ,
F a l l a n d o e m c ru a v in g a n a
Que breve vem exercer .
-
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B A I L E S P A S T O R I S
J O V I N O .
No temo, eu desaf io-o ,
X o se pde em mim v inga r ;
Q uem cava l l e i ro s e j u lga ,
P de o per igo a f ro n tar .
P A S T O R A .
Pois t emo por t i , Jov ino ,
Sua c rue l ameaa .
J O V I N O .
X o j u l g u e s q u e t e m p a v o r
Q uem com D eus sempre se ab raa .
ANJO, entra.
Cuidado , Jov ino , t ua v ida
Por Sa tanaz e s t ameaada ,
E l l e ve io aqu i pa ra t en t a r
A t u a P a s t o r a t o a m a d a .
Porm eu por t i ve lo no i te e d ia ,
E con ta s empre com minha p ro teco ,
S a t a n a z e m m i m t e m o i n i m i g o
Que no pode approvar sua t ra io .
Socega po is , Jov ino , tua amada
S a t i p romet te per tencer ;
P o r m a i s q u e S a t a n a z v e n h a t e n t a l - a ,
Eu farei o seu erro conhecer .
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22, SERENATAS E SAUAUS
JOVINO
Viso, ou sonho, que fallas ,
Sem qu e eu te possa v e r ? . . .
Accei to , em nome de Deus ,
O vires me proteger .
ANJO.
E quando o per igo te p rocure ,
Ou de Sa tanaz a sua ten tao ,
Bas ta s p ronunc ia re s o meu nome
E te rs immedia ta p ro teco .
JOVINO.
Vosso nome eu no conheo,
Como vs podere i chamar?
Dizei-me j , por favor,
Pa ra quando p rec i sa r .
A N JO .
"Gabrie l meu nome, no Empir io ,
De Deus sou submisso servidor ;
Combato pela v ir tude e pe la crena ,
Prote jo sem escrpulo s incero amor.
{Sahe.)
JOVINO.
Agora , meu caval le i ro ,
Que conquis taes a Pas tora ,
Podeis vir , eu no vos temo,
Com vossa voz tentadora.
-
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B A I L E S P A S T O R I S 2 3
P A S T O R A .
X o invoque i s Sa tanaz
P a r a v i n g a n a e x e r c e r ;
P o i s q u e s u a t y r a n n i a
Poder aqu i t r aze r .
CIGANA,
entra.
(Canta.)
Minhas bon i t a s f azendas ,
Para serv i r o f reguez ;
e t c , e t c
(Falia.)
A i n d a p o r c , p a s t o r a ? . . .
X o ides v er vosso ga do ?
J n a c a m p n i a n o a n d a ,
E l le es t todo espa lhado .
E se no me engana a memr ia ,
D ous ca rne i ro s v i mor re r
Al l i per to da esp lanada ,
Q uando v inha eu aqu i t e r .
Por isso, para este s i t io ,
Eu qu iz depressa chegar ,
Para dar -vos es ta nova ,
X o p ' r a v o s a t o r m e n t a r .
Vosso pas tor que aqui es t ,
E ' que l j deve i r
-
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2 4 SERENATAS E SARUS
O mais depressa possvel,
Para o gado reuni r
J O V I N O .
Dizes bem, nobre c igana ,
Vou d 'aqui j a correr,
Reun i l -o na campina ,
E todo jun to t razer .
(Sahe.)
C I G A N A .
Ento , pas tora , ve rdade
O que aqui eu vos disse,
Que caval le i ro r icao
A vossa mo vos pedisse?. .
P A S T O R A .
E' verdade, s im, facto,
Com effeito me pedio ;
Porm eu no acei te i
E elle d 'aqui fugio.
C I G A N A .
Mo agouro , minha be l la ,
Pois que e l le v ingador ;
E a sua vontade ex t rema
Aqui a t vos pde impor.
E depois, sendo to rico,
Vossa for tuna far ;
Ricas jias , bellas vestes ,
Tudo isso vos dar.
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B A I L E S P A S T O R I S
Em vez de v iver no campo,
Gosar l na c idade
Bel las fes tas e regalos ,
P rp r io s da sua idade .
P A S T O R A .
Em ouvi r vosso fa l la r
Me mos t raes in t e res sada ,
Que com o ta l cava l le i ro
Me veja to bem casada.
C I G A N A .
In te resse no possuo ,
S procuro o vosso bem ;
Que com vossa fe l ic idade
Eu sere i fe l iz t ambm.
O caval le i ro aqu i chega ,
T r a z o s e m b l a n t e a m u a d o ,
Vem buscar vossa espos ta
E m t e r m o s d e a p a i x o n a d o .
P A S T O R A .
V ou t r a t ando de fug i r .
(Vae a sahir e Satanaz embarga-lhe a
passagem.)
S A T A N A Z .
D 'aqu i no sah i r s ,
Has de ser minha por fo ra ,
D e mim j no fug i i s .
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2 0 SERENATAS
E
SARUS
Como ju lg asque se zombe,
D e
meu
immenso poder
? *
Xo sabes
que
tudo tenho,
Bas ta somente quere r?
PASTORA, fugindo-lhe.
Deixae-me, senhor , por D e u s . . .
Xo approve i tae a fraqueza
D e
uma
db i l pas tor inha ,
Q ue seu a m o r tem firmeza.
SATANAZ.
E ' s minha , embora por fora . . .
E u te heide convencer ;
X i n g u e m
eu
t emo
no
m u n d o ,
Q ue
me
possa escarnecer.
PASTORA.
Soccorro, meu Deus, soccorro
Vem, Jovino, soccorrer
A
tua
bel la pas tora ,
Q ue
de
susto
vae
morre r .
(Cahe desmaiada nos braos da Cigana, Sa
tanaz corre aagarral-a com o fim de fugir,
entra Jovino com um punhal e dirige-se
para Satanaz.)
JOVINO.
P ' ra t raz , senhor ,no queiraes
Assass ino me fazer ;
Se ousaes tocar-lhe no corpo,
A q u i vosfare i m orrer .
-
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B A I L E S P A S T O R I S
SATANAZ, rino-se.
I n s e n s a t o q u e j u l g a e s
Q u e t e m o d o t e u p u n h a l ;
De cer to no me conheces ,
P re t enc ioso r iva l .
(Atira a capa para longe.)
Ento v se me conheces ,
E vem com o t eu punha l
I m b e b e r n e s t e m e u p e i t o ,
Que no f icar s ignal .
J O V I N O .
Se res is te a es ta arma,
Com out ra he ide eu lu ta r .
(Mostra o cabo do punhal.)
Res is te agora , se queres ,
E v e m - m e a n o i v a r o u b a r
{Satanaz contorce-sc, d irigindo-se para a
Pastora em quem xac pondo a mo.)
A mim, G abr i e l , s a lvae -me ,
Mandae vossa p ro teco ,
Q ue Sa tanaz t o ma ldoso
Quer fe r i r meu corao .
A N J O ,
entra.
P a r a t r a z , t y i a n n o ,
Pa ra t r az , ma ld i to ;
-
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46/311
2 8 SERE NA TA S E SARUS
Deixa a pas tora ,
Pe lo Deus Bemdi to ,
S A T A N A Z .
Gabr ie l , an jo malvado ,
Que me rouba a inspirao ;
He i de v inga r -me de t i ,
Para t i s mald io .
G A B R I E L .
Xo se jas to petulante ,
Olha o symbolo de D eu s . . .
(Apresenta-lhe a cruz.)
Desafio-te e no temo,
Com este emblema dos cos.
(Satanaz contorce-se.)
S E G A D O R A E C A P I N E I R O .
(Entram.)
Mas que quadro , San to Deus ,
No me io de t an ta luz . . .
Logo hoje que nasc ido,
O l indo e caro Jesus .
Ns viemos a Belm,
Somente para o adora r ;
E nossos mesquinhos presentes
Viemos lhe offertar .
(Abre-se a cortina e apparece o presepe illu-
-
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47/311
BA ILES PASTORIS 2 9
recuando at a sahida ; o Anjo o acompa
nha com a cruz em punho, at desappare-
cerem.
A Pastora recobra os sentidos.)
JOVINO.
U ma no t i c i a t o be l l a
A l e g r i a v e m c a u s a r ,
Po i s j ru t i l an t e e s t r e l l a
Xo co comea a b r i lhar .
PASTORA.
Q ue ho r r ve l pesade l lo ,
P o r q u e e u a c a b o d e p a s s a r
U m t y r a n n o a q u i v e i o
P a r a m e u a m o r r o u b a r .
J O V I N O .
J per igo no ex is te
A Satanaz eu venci ,
Po i s ao A n jo G abr i e l
Em seu poder r eco r r i .
Agora vamos com gos to
Ao nasc imento ass i s t i r ,
Do l indo e be l lo Jesus
O g r a n d e d i a a p p l a u d i r .
TODOS,
cantam.
Louvores a D eus can temos
Em be l lo hymno de g lo r i a ,
-
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48/311
*)0 SER EN AT AS E SARUS
E a Virgem pura exal temos
Por es ta grande vic tor ia .
L A D A P A S T O R A E J O V I N O .
A este Deus soberano,
Ao nosso bello Jesus,
Implo ramos sua g raa
To refulgente de luz .
Louvores , e tc .
(Todos repetem.)
C A P I N E I R O E S E G A D O R A .
Unidos em doce amplexo,
Ante vossa Div indade ,
Im p lo ra m t a m b m a g ra a
E vossa l ibera l idade .
Louvores , e tc .
(Todos repetem.)
C I G A N A .
Queira meu Jesus nasc ido
Meus peccados perdoar ,
A c igana de joe lhos
Vem vossa graa implora r .
Louvores , e tc .
(Todo* repetem.)
(Formam o baile, cantando as seguintes
quadras.)
Com gr an de a leg r ia ,
-
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49/311
B A Il . r s PASTORIS 3 1
O s h y m n o s c a n t e m o s
Ao be l lo nascer .
Com g rande a l eg r i a
V a m o s n s m a r c h a r ,
E a g raa Div ina
V a m o s e x a l t a r .
Com g r an de a l eg r i a ,
Ao sacro Jos,
Saudemos fe l izes
Com bas t an te f .
Com g rande a l eg r i a
E em adorao ,
Xs nos re t i ramos
E m b o a u n i o .
-
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50/311
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51/311
BAILE DE QUATRO PASTORAS
E UM VELHO
SAHEM DUAS PASTORAS,
cantando;
V amos , s e r ranas , a l eg res ,
V amos , pas to ras , con ten tes
A d o r a r o D e u s M e n i n o ,
Supremo Senhor das gen tes .
VOLTA.
Xo f iquem n 'a lda
J a m a i s o s P a s t o r e s ,
V e n h a m v e r n a s c i d o
O Senhor dos Senhores .
F A I X A A l .
a
PASTORA.
Que vejo , cos soberanos ,
Q u e s i g n a e s m a r a v i l h o s o s
O sol , antes j de tempo,
Com ra io s t o luminosos
-
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52/311
3 4 S ER E N A TA S E S A R U S
Me lo d ia h a rm o n io s a
Escutam nossos ouvidos ,
Assim como dos cordeiros
Pelos curraes os ba l idos .
2 .
a
P A S T O R A .
Das casas todas abertas
Esto as portas , e os pastores
Todos e l les t ransportados
Do applausos e louvores.
SAHE
o VELHO e falia.
Minhas l indas pas to r inhas ,
To galantes , to s isudas ,
A estas horas , ssinhas,
Ora so mui to pe i tudas .
Xo temem fe rozes den tes
Destes lobos carnice iros ,
Que offendam seus corpinhos
Como offendem aos carneiros.
l .
a
P A S T O R A .
Esses mais do que as ovelhas
Mansos observare is ,
Nem inda desafiados
Seus dentes no temereis .
V E L H O .
Eu, pastora, caio n essa,
-
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53/311
B A I L E S P A S T O R I S
Animaes que so capazes
De todo o mundo asso lar ?
Uns lobos to desas t rados
Q ue devo ram as ove lhas ,
So capazes de roer -me
De deos ps a t s o ie lhas .
A n t e s u m a o v e l h a s i n h a
Ent re os meus b raos cab ida ,
Em logar dos vossos lobos
Me d mimosa inves t ida .
2 .
a
PASTORA.
Que inves t ida pde dar -vos
U m a i n n o c e n t e o v e l h i n h a ?
V E L H O .
Que seja assim como a vossa,
M i n h a l i n d a p a s t o r i n h a .
S A H E M D U A S P A S T O R A S , cantando.
Maninhas , vamos gos to sas
Ver o nosso Su inn io Bem,
Q u e n a s c e u e m u m P r e s e p e
X a L a p i n h a d e B e l m .
V O L T A .
V a m o s a B e l m
Com g rande con ten to ,
L o u v a r m o s a l e g r e s
E s t e X a s c i m e n t o ,
-
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54/311
36 SERENATAS E SARUS
VELHO
Quere is que vos acompanhe ,
Por ser c do meu agrado,
Eu me offereo rendido
Para ser vosso criado :
Eu tenho l no meu s i t io
Mui ta cous inha ga lan te ,
Para vos offerecer
Se me accei taes como amante .
F A L L A M A S D U A S P A S T O R A S .
Obrigado , senhor Velho ,
No se ja to cuidadoso,
An te s vamos adora r
O Sol Divino e mimoso.
V E L H O .
Agora es tou indeciso
Sobre a escolha das Pas toras :
A pr imeira bem formosa ,
A s e g u n d a u m d i a m a n te ,
A in d a m a i s l i n d a z in h a
Que meu ex t remo cons tan te .
Senhoras , pasmado es tou
Em ver como a na tureza
Se empenhou em vos fazer
To che ias de ta l be l leza
-
7/23/2019 011953-1_COMPLETO
55/311
B A I L E S P A S T O R I S
E no t razeis um f igo
F e i t o d e a l g u m c h i f r i n h o ,
D ' e s t e q u e v e m a p o n t a n d o
X a t e s t a de ca r ne i r inh o ?
T O D A S A S P A S T O R A S .
Para que t razer f igo ?
V E L H O .
P a r a p r e s e r v a r d o q u e b r a n t o
To fo r t e e a r renegado ,
Que em vs causar puder
O s o lhos de um namorado .
T O D A S .
X o me lho r , s enhor V e lho ,
V oc nas con tas pega r?
Xo queira se fazer bobo,
D e ixe - se de namora r .
V E L H O .
Quem fa l lou , po is , n ' i s to agora?
E u a i n d a s o u c h u l e n t o ,
E quando vejo cousas boas
F ico logo c iumen to .
Vocs vo para Belm,
E u t a m b m q u e r o s e g u i r ,
Fazendo meus r i s cos inhos
Para a s cade i ra s bu l i r .
-
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SERENATAS E SARUS
TODAS
Com summo gos to e p razer
V a m o s j pa ra Be lm,
A d o r a r o D e u s M e n in o
Q u e
todo nosso
Bem.
C A N T A M
A
M A R C H A .
Vamos todos mui contentes
A Jesus, f irme, adorar,
Po i s nasceu
em um
presepe
P a r a a todos nos salvar.
L A
DO
V E L H O .
N a d a t e n h o que pedir-vos
S e n ouma s cous inha ,
Q u e c a r n e do serto ,
R a p a d u r a com fa r inha .
L A
DA l .
a
E 2 .
a
P A S T O R A S .
Tiei Supremo
e
Creador ,
D e u s
de
i m m e n s a t e r n u r a ,
Accei tae nossos louvores
J e s u s , p a ra ns,v e n tu ra .
L A
DA 3 .
a
E 4 .
a
P A S T O R A S .
Com amor firme
e
cons tan te ,
E s t a s P a s to ra s
vos vem
Adorar , po is
que
nascen tes
-
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B A I L E S P A S T O R I S 3 9
C A N T A O V E L H O .
P a s t o r a s a m a n t e s ,
Com fervor rend ido ,
Pres t ae vosso amor
A Jesus nasc ido .
(Repetem, todos o mesmo.)
Seu bero enfe i temos
Com b ra n d a s florinhas;
Can temos , dansemos ,
L i n d a s p a s t o r i n h a s .
(Repetem todos o mesmo.)
Can temos , dansemos ,
Com grata fo l ia ,
A d o r e m o s J e s u s ,
E a V i rg em M ar ia .
(Repetem todos o mesmo.)
-
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B A I L E DO C A A D O R
SAHE o CAADOR e canta :
G i r a n d o comtodo em penh o ,
A n d o n ' e s t a s e r r a e s c u r a ;
Q u a n t o m a i s eu sou infel iz,
M a i s a v o n t a d e me apu ra .
C A N T A B A I L A N D O .
P o r m , no impor t a ,
Q u ' e u no ma te caa ;
Como
me
d iv i r to ,
N a d a
me
e m b a r a a .
F A L L A .
E ' m e l h o r d i v e r t i m e n t o
A n d a r no m a t to caando ,
D o que e s t a r m e t t i d o em casa
Em var i a s cousas cu idando .
I n d a que um h o m e m no m a t e ,
S e m p r e a c h o que comer,
-
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4 2 S E R E N A T A S E S A R U S
O mesmo que n^es te ins tante
Sem espera r v im a te r .
Eu que andava caando
Com pouca fe l ic idade ,
Pois que nem uma s perd iz
P u d e m a ta r n a v e rd a d e .
E n c o n t r e i d u a s m e n in a s
Mais fel izes do que eu,
Que ma ta ram sua caa ,
Que a sor te no me deu.
E n c o n t r a n d o -a s m e p e d i r a m
Que lhes ens inasse o caminho ,
P a ra i r e m B e l m
Vis i t a r o Deus Men ino .
Eu tambm pa ra l i a ,
E por nada ter que levar ,
Pedi as suas perdizes
Por p rmio de as ens inar .
P ro m p ta m e n te e l l a s m e d e ra m ,
Mas o pago que eu lhes dei?
Safe i-me mais que de pressa ,
E no caminho as de ixe i .
M a s ,
a h outras aqu i chegam ;
Se acaso t rouxerem caa ,
Sem paga rem o t r ibu to ,
-
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B A I L E S P A S T O R I S
7
i 3
vvHEir
DUAS PASTORAS,
cantando:
A h q u e m n o s d e r a, m a n i n h a ,
A c h a r m o s p a r a n o s s o b e m
Q uem nos ens ine o caminho
P a r a i r m o s a B e l m .
CANTAM,
bailando.
P o r m , j p e r d i d a s
M a n i n h a , e s t a m o s ;
E nem quem nos gu ie
X o e n c o n t r a m o s .
F A L L A O C A A D O R .
X o encon t ram, e s sa ba
Pois eu no es tou aqu i ,
Que j f iz con ta em gu iar -vos
A ssim qu e de lon ge as v i ?
M e d iga m , p ar a onde vo ?
l .
a
E 2 .
a
PASTORAS.
X s v a m o s p a r a B e l m ,
V is i t a r o D e us M en ino ,
Q u e n a s c e u n a t e r r a h u m a n a ,
Sendo El le t o d iv ino .
C A A D O R .
V e j a m q u e B e l m l o n g e ;
Mas se me derem a caa,
Vou bem depressa as gu iar ,
P o i s d e n a d a m e e m b a r a a
-
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4 4
S ER E N A TA S E S AR US
l .
a
P A S T O R A P A R A A 2 .
a
-
Que d iz , man inha , demos?
2 .
a
P A S T O R A P A R A A l .
a
.
Elle que perca o cu idado .
CAADOR.
Quando vocs no que i ram
Nada en to t emos t ra tado .
l .
a
E 2 .
a
PASTORAS.
E que remdio ns temos ,
Nes te lance em que es tamos?
Tomae, senhor , os pombinhos ,
Cumpra seu in ten to , e vamos .
CAADOR.
Acceito, bem sei por que,
E digo j de uma vez ,
No quero, pois , que vocs,
Me tenham por descor tez .
S A H E M A 3 .
a
E 4 .
a
P A S T O R A S , E F A L I A A ^ .
C est o caador,
Que as perdizes nos tomou.
4 .
a
P A S T O R A .
Agora nos paga r
O damno que nos causou .
> a
-
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BAILES PASTORIS
4 5
CAADOR.
Calem a boca , senhoras ,
N o me de i t em a pe rde r .
3 .
a
E 4 .
a
PASTORAS.
Quer que ca le a t ra io
Q ue
comnosco qu iz fazer?
l .
a
E 2 .
a
PASTORAS PARA A 3 .
a
E 4 .
a
.
Senhoras , vs t ambm ides
A ' B e l m c o m o n s v a m o s ?
3 .
a
E 4 .
a
PASTORAS.
S i m ,
senhoras , vamos todas
Pois que j bem per to es tamos .
l
a
E 2
a
PASTORAS PARA O CAADOR
Ento , s enhor caado r ,
H es t i t ua o que lhe demos ,
No queremos que nos ens ine ,
Po i s o caminho sabemos .
CAADOR.
Es ta ago ra a inda me lho r ,
J es tou ago niado ;
X o re s t i t uo ma i s nada ,
O que me deram, es t dado .
TODAS.
I s to e ra bom, la rgue os pombos ,
Q ue voc no ma tou nada ;
3.
-
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4 6 S E R E N A T A S E S A R U S
Quer ia da nossa caada . . .
Desta voc no re nada .
C A N T A M A l .
a
E 2 .
a
P A S T O R A S .
Se voc queria
Da nossa caada,
Descance seu pei to ,
Voc no re nada .
C A NT A M A 3 .
a
E 4 .
a
.
Se pa ra log ra r -nos
Se poz nes ta es trada ,
Em to grande d ia ,
Voc no re nada .
P R I M E I R A E S E G U N D A .
Sua m teno
J se v frus trada ;
Porque dos pombinhos
Voc no re nada.
T E R C E I R A E Q U A R T A .
Por isso fingiu-se
Nosso camarada ,
Para nos lograr ,
Voc no re nada.
P R I M E I R A E S E G U N D A .
Se fazer queria
Alguma t ra tada ,
Para nos roubar ,
Voc no re nada.
-
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B A I L E S P A S T O R I S 7
T E R C E I R A E Q U A R T A .
Esta nossa caa
J vae des t inada
P a r a o D e u s M e n i n o ;
Voc no re nada .
F A L L A O C A A D O R .
Suspendei vossos enfados ,
B as t a j t an to r igo r ;
Vejam que des ta des fe i ta
Eu no sou merecedor :
Se a vossa caa tomei
F o i p o r u m d i v e r t i m e n t o .
T O D A S .
E t ambm de nos log ra r ,
V o c t i n h a g r a n d e i n t e n t o .
C A A D OR .
Ora, po is , se me de ixassem,
Com gosto i r ia levando ;
Mas , como no consen t i r am,
Men inas , eu e s t ava b r incando .
T O D A S .
Vejam l que ta l e l le ,
Este era o seu des t ino ;
Pois saiba que a nossa caa
V ae de mimo a D eus Men ino .
-
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48 SERENATAS E SARUS
CAADOR
Eu por saber d'isso mesmo
No quiz frus trar vosso in tento ;
Pois quero applaudir com gosto
Es te San to Nasc imen to .
Mas como nada possuo,
Minh/a lma lhe offer tare i :
O meu corao amante
Com vontade lhe dare i .
T O D A S .
Pois ento, sem mais demora ,
Como nul lo o seu in tento ,
Vamos applaudi r com gos to
Es te San to Nasc imen to .
CAADOR.
Vamos com mui ta a leg r ia
Formando um ba i l e a famado ,
Que por baile das caadoras
Ficar appe l l idado .
Eu p r ime i ro can ta re i ,
Depois vs me acompanhando ,
I remos en to con ten te s
P a r a B e l m c a m i n h a n d o .
C A N T A M A M A R C H A .
Pas tor inhas e pas tores
-
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BAILES PASTORIS 4 9
V amos v r um D eus Men ino ,
Q ue nasceu p ' r a nos so bem.
CANTA O CAADOR.
Demos louvores
Com todo agrado
A o D eus Men ino ,
V e r b o E n c a r n a d o .
CANTAM A l .
a
E 2 .
a
PASTORAS.
Estas las e perd izes ,
A c c e i t a e , V e r b o E n c a r n a d o ;
Pois , para vos offertar
J a s t i nha des t inado .
CANTA O CAADOR.
Demos louvores
Com todo agrado
A o D eus Men ino ,
V e r b o E n c a r n a d o .
CANTAM l .
a
E 2 .
a
PASTORAS.
A cce i t ae , meu D eus Men ino ,
A caada que fizemos ;
Acce i tae por vosso amor ,
P o i s ,
Senhor , nada ma i s t emos .
Demos louvores
Com todo agrado
A o D eus Men ino ,
V e r b o E n c a r n a d o .
-
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SERENATAS E SARUS
CANTA O CAADOR
Acce i tae , meu Deus Men ino
Meu s ince ro co rao ;
Accei tae por vosso amor,
Minha f i rme adorao.
Demos louvores
Com todo agrado
Ao Deus Men ino ,
V e r b o E n c a r n a d o .
-
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69/311
B A I L E
D O S M A R U J O S
CANTAM TODOS, dentro.
F e r r a , f e r r a ,
V a m o s c i m a ;
O h q u e t u g a g e i ro g r a n d e ,
O h l se avis tas terra .
F e r r a , f e r r a ,
V a m o s c i m a ;
F e r r a m o s o p a n n o ,
Sa l tamos te r ra .
S A H E M
os
M A R U J O S , cantando:
V amos , Pas to res Maru jos ,
C a m i n h a n d o p a r a B e l m ,
V amos ve r J e sus nasc ido ,
N osso In fan te , nos so Bem.
A m e s m a n o s s a j o r n a d a
E l l e
n o s
queira
a juda r ,
-
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70/311
SERENATAS E SARUS
A vender nossas fazendas ,
Para termos que offer tar .
J no tenho mais d inhe i ro ,
Nem tenho dez r is de meu;
Pa ra bebe r na t ave rna
A in d a a lg u m t e n h o e u .
Sa l tmos do mar te r ra
Em c ima de um ba r r i l :
As ondas do mar so tantas
Que nos t rouxe ram aqu i .
Louvar vamos depressa
Ao nosso Jesus Menino ;
J que E l le nasceu
No mundo, sendo Div ino .
Depressa , j sem demora
Vamos logo caminhando ,
Pa ra na nossa jo rnada
I rmos con ten te s b r incando .
F A L L A O 1 . M A R U J O .
A i, a i , senhor pa t ro ,
Temos chegado Be lm :
Levo paio, e um petisco
Do bel lo lombo aadi to ,
Que par t ido em pedaos
Chega para es te ranch i to :
Hoje no i te de Xata l ,
-
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-
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72/311
SERENATAS E SARUS
Com contento e alegria ,
Para
adora rmos
a
Jesus,
F i l h o d a V i rg e m Ma r i a
P o r t a n t o , m e u s companheiros,
N o h a j a aqui mais demora;
Vamos depressa louvar
A' Jesus e Nossa Senhora.
o.
M A R U J O .
Este o nosso gosto,
E po r isso a q u i viemos ;
E j que es tamos juntos
Xosso bai le entoaremos.
Ba i lando com hones t idade ,
Sem haver entre ns pejo :
Por nossa l ivre vontade
E' o que temos desejo.
l .
a
S A L O I A .
E ns , manas , sem demora ,
Ba i le vamos en toar :
Cantemos com a legr ia
A quem nos veio salvar.
2 .
a
S A L O I A .
Eu por mim j p rompta es tou ,
Para a Jesus i r louvar ;
Pois meu corao s deseja
-
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73/311
B A I L E S P A S T O R I S
3 .
a
S A L O I A .
Eu tambm com af fe io ,
A ve r o In fan te mimoso ,
Meu corao s aspira ,
A E l l e - se r ex t remoso .
C O M E A O B A I L E .
C o m m u i t a h o n e s t i d a d e
V amos a J esus louvar ;
Po is ho je aqu i v iemos
P ' ra con ten tes o ado ra r .
P o i s n ' e s t a g r u t a n a s c e u
Quem nos ve io sa lvar ;
E por isso com alegria
Ba i l e vamos en toa r .
C o m m u i t a h u m i l h a o
Rendemos aqu i l ouvores ,
P o r n a s c e r h o j e n o m u n d o
O Rei , Senhor dos senhores .
L A D O P A T R O .
M e u J e s u s , m e u s u m m o B e m ,
S vos peo fe l ic idade
P ' r a que nas ondas do mar
N a v e g u e m i n h a v o n t a d e .
L A D O 1 . M A R U J O .
Com con ten to e a l eg r i a
Vos rendo aqu i mi l louvores ,
-
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SERENATAS E SARUS
Para q ue das tempestades
Abatais os seus furores.
L A D A l .
a
SALOIA.
Estas bellas hortalias
Aqui vos trago viosas,
Para as minhas expresses
Serem a vs amorosas.
L A D O 2 . M A R U J O .
Eu, meu Jesus Menino ,
Vos louvo humildemente ,
Para que com pannos cheios
Eu navegue mui con ten te .
L A D A 2 .
a
SALOIA.
Nada tenho que t razer -vos
Seno o meu corao,
Pois"vos am a a rden tem en te
Com a mais v iva paixo.
L A D O 3 . M A R U J O .
S quero com vento popa
N a v e g a r s a u d a v e lm e n te ,
P ' r a quando sa l t a r em te r ra
Vir ve r toda es ta gen te .
L A D A 3 .
a
S A L O I A .
Aqui j pe ran te Vs
Quero louvores render ,
Pa ra que na E te rna Glo r ia
-
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75/311
-
7/23/2019 011953-1_COMPLETO
76/311
-
7/23/2019 011953-1_COMPLETO
77/311
B A I L E D O S M O U R O S
CANTAM
D E N T R O .
Q ue no i t e t o ven tu rosa ,
Grato prazer nos figura,
Pa rece que a mesma no i t e
Insp i ra l e i s ma i s pu ra .
SAHE DURINDO, cantando
:
L dos montes , onde v ivo .
V e n h o c o m g r a n d e c u i d a d o ,
A dora r um D eus nasc ido ,
C o r d e i r i n h o I m m a c u l a d o .
VOLTA.
Todos con ten tes
V e n h a m a d o r a r ,
A Jesus que nasceu
Para nos s a lva r . (Vae-sc.)
SAHEM QUATRO PASTORAS
6 Cantam.
J v i emos , companhe i ra s ,
Todas jun tas de jo rnada ,
-
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0 0 SERENATA S E SARUS
Devemos descanar ,
Aqui fazemos parada .
VOLTA.
Por Dur indo esperemos
Todas conten tes ,
E faremos festejos
Mui d i l igen te s .
(Cantam as pastoras sentadas, tendo as
cabeas inclinadas sobre os peitos.)
At onde es tendo a v is ta
No posso ver meu pastor,
Pa ra i rmos Be lm
A Jesus render louvor .
P A L L A A l .
a
P A S T O R A .
Maninhas , ns todas qua t ro
Havemos aqui espera r
At que Dur indo chegue ,
Pa ra nos acompanha r .
F A L L A A 2 .
a
P A S T O R A .
Sem que Dur indo no chegue
No me hei de separar ;
Quero esperar por e l le
Para a Jesus i r louvar .
F A LL A A 3 .
a
PASTORA.
E m q u a n to D u r in d o c h e g a ,
Vamos um pouco can ta r :
Espe remos po r Dur indo
-
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79/311
B A I L E S P A S T O R I S 6 1
F A L L A A 4 .
a
P A S T O R A .
A gora que e s t amos jun tas ,
D evemos , po i s , e spe ra r ;
Po i s eu c re io que D ur indo
N o h a d e m u i t o t a r d a r .
C A N T A M T O D A S .
A t onde e s t endo a v i s t a
No posso ver meu pas to r ,
P a r a i r m o s B e l m
A Jesus r ender l ouvor .
(Sahem quatro mouros, e cada um apodera-se
de uma pastora; as vo prendendo e
dizendo.)
L e v a n t a e - v o s , g e n t i s n y m p h a s , o h P a s t o r a s ,
Dos laos que amor e Morpheu vos tem prend ido ,
Po is a l iberdade que t inhe is t agora
Em poder de ns ou t ros a t ens perd ido .
F A L L A M A S P A S T O R A S .
Onde nos levaes , senhores ,
C o m t a n t a r i g o r i d a d e ?
F A L L A M O S M O U R O S .
A le i do Gro Rei , nosso Senhor , manda ,
Que devemos mos t ra r nosso va lor ;
Po i s t endo de faze r t an t a s emprezas
E ' jus to mos t ra r nossas p roezas .
(Tomam as cestas e levam s Pastoras.)
-
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80/311
02 SERENATAS E SARUS
SAHE DURINDO,
cantando
L d o s m o n t e s , o n d e v i v o ,
V e n h o c o m g r a n d e c u i d a d o
A d o r a r u m D e u s n a s c i d o ,
C o r d e i r i n h o I m m a c u l a d o
T o d o s c o n t e n t e s
V e n h a a d o r a r ,
A J e s u s , q u e n a s c e u
P a r a n o s s a l v a r .
FALLA DURINDO.
O n d e e s t o m i n h a s p a s t o r a s ?
E u a q u i j n o a s v e j o ;
A c a s o s e e s c o n d e r i a m
P o r a l g u m m o t i v o o u p e j o ?
CANTAM DENTRO AS PASTORAS.
C o m o c a p t i v a s , s e n h o r ,
V i v e m o s s e m l i b e r d a d e ,
E m p o d e r d e u n s t y r a n n o s
Q u e d e p r e z a m a c h r i s t a n d a d e .
DURINDO.
Q u e v o z e s e u o u o l o n g e
O c a n t o m u i t o s e n t i d o :
S o m i n h a s b e l l a s p a s t o r a s
Q u e e s t o e m t r a b a l h o s m e t t i d a s .
CANTAM DENTRO AS PASTORAS.
C o m o c a p t i v a s , s e n h o r ,
-
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81/311
BAILES PASTORIS 6 3
E m p o d e r d e u n s t y r a n n o s
Q ue desp rezam a Chr i s t andade .
DURINDO.
Que ouo, so e l las mesmas: ,
D e ixa re i mon tes e va l l e s ,
Correre i desesperado
Para l iv ra l -as dos males :
Po r s e r ra s e despenhados
I re i j a s p rocu ra r ,
Pa ra com gos to ao Men ino
I r e m c o n t e n t e s l o u v a r . (Vae-se.)
DURINDO PARA AS PASTORAS,
que voltam.
Que fazem, be l las Pas to ras ,
Q u e m a q u i a s c o n d u z i u?
AS PASTORAS.
X s es t vamos ado rmec idas ,
Q uando v i e ram os ty rannos ;
N o s p r e n d e r a m c o m c o r r e n t e s
Como feros , deshumanos .
SOLTA DURINDO AS PASTORAS,
C diz
.*
Promet to , f de pas to r ,
De todos aqu i t razer
Presos em umas co r ren tes
Ao Menino offerecer .
A p e z a r d a m i n h a m o r t e
Hei de a f sempre exa l ta r ,
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BAILES PASTORIS 6 5
H o m e m
que com sua voz
Faz tremer
t o d o o i n f e r n o
os MOUROS.
J que por adorao ,
F a r e m o s m o u r i s c a A l d a ,
E um perfe i to pos t i lho .
(Executam os Mouros uma marcha fazendo
venia ao Presepe, e depois juntam-se todos,
e Durindo baila com as Pastoras, e vo-se,
indo os Mouros sempre atraz.)
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B A I L E D A A G U A R D E N T E
SAHE
o
GUIA,
cantando
:
Q u e pr ad os t o florescentes
X e s t e d i a d e p r a z e r
V inde j , oh Camponezes ,
A Jesus louvor r ender .
VOLTA.
E u
que ro bebe r
B e b i d a h u m a n a ,
Po is es t em uso
A be l la cayana .
FALLA O GUIA.
No se deve escurecer ,
N em se deve ma i s nega r ,
Que es te modo de beber
Es t pe la gen te boa :
B e m
q u e
a
m i n h a p e s s o a
Tambm
en t re no louvado ,
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6 8 S ER EN A TA S
E
SARUS
Se os m a is no tm gostado,
Fao
o que meu
gosto pede,
Nem todo aquel le
que beb(\
Se pde chamar chumbado.
SAHEM DUAS PASTORAS, cantando :
N o se encon t ra uma choupana ,
P a r a
a
gente conviver ,
N'es tes deser tos
no ha
Que comer ,nem que beber.
VOL T A.
Se aqui encont ra rmos
Alguma beb ida ,
I remos conten tes
Da nossa vida.
FALLAA l
a
PASTORA PARAOGUIA
Voc com esta garrafa
N 'e s te caminho en t re t ido ,
D e i x aver se leva dentro
Algum codrio sor t ido.
2 .
a
P A S T O R A .
Senhor , de ixever a prova
Des ta beb ida exce l len te
;
Suado no bebo vinho,
0 m e lh o r
agua rden te .
G U I A .
No duv ido
de lhe dar,
Mas quero beber p r imeiro
:
-
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BAILES PASTORIS 6 9
No posso vender f iado,
Po i s cus tou o meu d inhe i ro .
o G U I A bebe e diz:
L vae a p rova .
l .
a
PASTORA, bebendo :
O h q u e b e b i d a t o s a n t a
2 .
a
PASTORA, bebendo:
E ' gos to sa a g i r impana .
O
GULA,
recebe a garrafa e diz :
E ' fo r t e a minha cayana .
SAHEM DUAS PASTORAS,
cantando:.
N ossas man inhas j fo ram,
Que nos serv i ram de gu ia ,
V amos ve r s e encon t ramos
P a r a n o s s a c o m p a n h i a .
VOLTA.
X s ago ra , manas ,
V amos t o suadas ,
Po i s ha mu i to s d i a s
N o bebemos nada .
F A LL A A 3 .
a
PASTORA.
A g o r a s i m , m i n h a m a n a ,
T en ho a v i agem venc ida ;
P e r g u n t e q u e l l e s e n h o r ,
S e v e n d e a l g u m a b e b i d a ?
-
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B A I L E S P A S T O R I S 7 1
C A N T A M A S Q U A T R O P A S T O R A S .
Q uem n ' e s t a ra
N o b e b e a g u a r d e n t e ,
Xo tem bom gos to ,
No conviven te .
(Repetem todos o mesmo.)
C A N T A O G U I A .
A be l l a cayana
S e m p r e a p p l a u d i d a ,
Para as gen tes boas
E ' s an ta beb ida .
(Repetem todos o mesmo.)
C A N T A M A S P A S T O R A S .
Q uem n ' e s t a ra
N o b e b e a g u a r d e n t e ,
X o t em bom gos to ,
X o conv iven te .
(Repetem todos o mesmo
e ficam todos bbados.)
T O D A S A S P A S T O R A S .
Voc, senhor conviven te ,
N o sabemos seu des t ino ;
V oc vae pa ra Be lm
A d o r a r o D e u s M e n i n o
G U I A .
Veja como es to vocs
D a cay ana t o tom adas ;
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7 2 S E R E N A T A S E S A R U S
Vocs no vm o presepe :
Como es to embr iagadas
T O D A S A S P A S T O R A S .
J que chegamos a ver
Nascido o Infante Mess ias ,
Demos graas, e louvores
Com prazer e alegria .
A sade deste gosto
Bebamos ma is agua rden te ,
Para j de uma vez
Ficarmos mui conviven tes .
G U I A .
Deixemos de br incade i ras ,
Vocs j esto ch up ad as ;
No bebam mais a cayana,
Seno ficam descaradas.
T O D A S A S P A S T O R A S .
Est bem, vamos agora
Ao Sol Div ino adora r ;
Deixemos, pois , a cayana,
Para em casa se chupar .
T O D O S .
Agora s im, satisfeitos ,
Com firme amor e contento,
Adoremos mui humi ldes
O Sagrado Nasc imento .
-
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BAILES PASTORIS 7 3
LA DO GUIA.
M e u M e n i n o , t o m a e c o n t a
D es te pas to rz inho chupado ,
D epo i s que a Be lm chegou
X o se l embra ma i s de nada .
LA DA l .
a
E 2 .
a
PASTORAS.
M e u M e n i n o p e q u e n i n o ,
Eu es tou mu i to me l l ada ;
Mas , com Vossa a l ta p resena ,
N o me l embro ma i s de nada .
L A D A 3 .
a
E 4 .
a
PASTORAS.
Eu no de ixo de es ta r
Com a cabea mui pesada ,
M a s ,
vista do que vejo,
N o m e l e m b r o m a i s d e n a d a .
CANTA O GUIA.
Louvores , app lausos ,
A o D eus Men ino ,
H u m i l d e s r e n d e m o s ,
Que o So l Div ino .
L i n d a s c a n t i l e n a s ,
Amor casto e f ino,
A m a n t e s r e n d e m o s
A o D e u s M e n i n o .
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B A I L E
DO
M E I R I N H O
SAHE A l.
a
PASTORA e canta
As f lores mimosas
D e m u i t o s p r i m o r e s .
C A N T A
O
S O L D A D O .
V e n h a c, m e n i n a ,
Se ja meus amores .
F A L L A
O
S O L D A D O .
A d o r a d a s e n h o r a ,
E u
que com
b a l a s a r d e n t e s
das
m eu s o lhos ,
E m p r e g a n d o nas t r i n c h e i r a s do teu pei to ,
Communica r dese joo ques i n t o n e s t e p e it o :
M a s ,
p a r a em tudo ficar bem sat isfei to,
E u , q u e r o m p e n d o
o
ba ta lh o dos te u s affectos ,
M a r c h a n d o em c o l u m n a dosteu s car inh os
Dese jo que agora tenhas dde um coi tadinho. . .
P A S T O R A .
M e u s e n h o r ,no preciso
Q ue com umapobre pas to ra
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7 6 S E R E N A T A S E S A R U S
Rompa tan tos embaraos ,
Pois que nisso sou uma to la ;
Eu s o que quero vr
Se por aqu i querem chegar ,
Alguns moos ch iban t inhos
Que queiram f lores comprar .
S O L D A D O .
Pois ,
menina, so flores
Que voc es t vendendo?
Olha que be l lo tope
J comprar es tou querendo.
Pois met tendo nes te pe i to
Hei de ficar florecido :
O h
que bello
es tou bon i to
Sempre sou mui des t imido .
P A S T O R A .
Camarada, deite as flores onde achou,
No v no pei to as mettendo,
Se quizer servir-se dellas ,
Venha o d inhe i ro correndo .
S O L D A D O .
Pois ,
men ina , p re tendes
De m im receber d inh e i ro ?
Olha que deste effeito
Te nh o m ui t o de l ige i ro ;
Se quizer em paga disso
Alguns affectos corujos,
Algumas pa ixes banda lhas ,
In d a b e m : m a s d in h e i ro ? . . .
-
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P .A I LE S P A S T O R I S 7 7
N o o t en ho p a ra lhe da r ,
E se t ivesse, com voc ia gastar.
P A S T O R A .
Camarada dei te as f lores
O n d e v o s m i n c a c h o u ;
Promet to que de sua v i s t a
De repen te j me vou .
S O L D A D O .
Se quizer as suas flores
H a d e p r i m e i r o c a n t a r
U m d u e t i n h o d e a m o r ,
Q u e l h e q u e r o a c o m p a n h a r .
P A S T O R A .
Meu senhor , no se i can tar ,
Deixe-me por v ida sua ,
Deixe j as minhas f lores
Que eu p romet to no ser sua .
S O L D A D O .
Tome l as suas flores,
V e j a q u e e s t a v a b r i n c a n d o ;
No pense que as quer ia ,
Po is es tava cha laando .
No prec i sa se enfadar ,
S e j a m i n h a e t e r n a m e n t e ,
Q ue eu lhe p romet to s e r
Sempre f i rme e obediente .
-
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7S SERENATAS E SAUUS
PASTORA
Obr igada , meu senhor.
SAHE
A
2.
a
PASTORA
e
canta
:
As be l las f ruc t inhas
F az bom pa ladar .
C ANT A
O
E S T U D A N T E .
V e n h a c m e n in a ,
Q ue as quero comprar .
F A L L A O E S T U D A N T E .
Adorada senhora , o a lphabe to do teu peito
Unindo-se aos vo lumes de m i n h ' a l m a ,
F az
que com a
U n iv e r s id a d e
do teu
corpo
Viva abrazada em duas chammas .
E u que revendo os l ivros das razes,
Segundo a confuso do teu querer ,
A c h e i
na
prosdia
dos
teus olhos
U m a m o rque no posso entender.
P A S T O R A .
Se com prosas, senh or Esco lastico,
E '
que me
p re tend e apanh a r ,
Peo que se desmag ine ,
E me deixe negociar :
Pois foi pa ra o que vim,
E
no
para conversar .
E S T U D A N T E .
Pois , m e n i n a , no se inf lamme,
No fuja do meu que re r;
-
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BAILES PASTORIS 7 9
V eja que e s tou p rompto
Para em tudo a obedecer .
A s f ruc t a s que e s t s vendendo
Compra l -a s t odas j que ro ;
Deixe-me ver o bom gos to ,
E pelo preo, eu espero .
PASTORA.
A s m i n h a s r i c a s m a s
So doces , e mui to bel las ;
As uvas tambm so doces ,
O l h e a q u i b e m p a r a e l l a s
As mas a t rs por dous ,
E ' po r quan to e s tou vendendo :
Veja se lhe fazem conta
E v en ha o d inh e i ro co r rendo .
E S T U D A N T E .
S i m s e n h o r a , m u i t o b e m ,
D e i x e p r o v a l - a s p r i m e i r o ;
Se fo rem do meu agrado ,
D are i en t o o d inhe i ro .
PASTORA.
Prova l -a s no sou eu to l a
Para que em ta l cousa ca ia :
V ao te r re i ro do Pao
Com out ra t i ra r a l fa ia .
S A H E A R E G A T E I R A
C Canta
.*
Os bellos gorazes,
Eu es tou vendendo :
-
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8 0 S E R E N A T A S E S A R U S
C A N T A O M E I R I N n O .
Bel la Rega te i ra ,
Por t i es tou morrendo.
F A L L A O M E T R I N H O .
Bel l i s s ima senhora ,
O praso da notificao dos teus colloquios,
E ' p rovada causa dos que ixumes ;
Eis-me sentenciado como ro
Dos teus affectos, mimos e cimes.
F A L L A A R E G A T E I R A .
Meu senhor , de jus t ia nada en tendo;
Nunca pape i s p rocu re i ;
E penso que a lguns recados
Tambm nunca os leve i :
E ass im v-se andando,
No me venhas empa ta r ,
Deixe-me com os meus peixes
Hoje aqui negociar .
M E I R I N H O .
A mim no ds aud inc ia ,
Desconheces meu poder?
No sabes que tenho ordem
H o je a q u i p a ra p r e n d e r?
R E G A T E I R A .
P r e n d e r - m e
V - s e d ' a q u i m a n d r i o ;
-
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BAILES PASTORIS 8 1
V ve r a lguma to l a ,
Q ue voc lhe pas se a mo :
D i g a - m e , p o r q u e r a z o
Q uer -me voc p render ;
Se pe los seus car inhos . . .
No os quero receber .
MEIRINHO.
E pouco c r ime?
SAHE A
PA D E IRA e canta :
Eu, como padei ra ,
Pes e s tou vendendo :
CANTA O MARUJO.
T r a b a l h o s , m e u b e m ,
Por t i estou soffrendo.
FALLA O
MARUJO.
A i
a i q u e r id a p r e n d a
Mal de i te i o o i tan te nos teus o lhos ,
E n a t u a g r a m m a t i c a b e l l e z a ,
Lance i mo pe las ensa las ,
Subi com grande des t reza .
FALLA A PADEIRA.
O ' l , s enhor navegan te ,
Suas supp l i cas no en tendo :
Se quer comprar os meus pes ,
J , com gos to , vou vendendo .
5.
-
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102/311
84 S E R E N A T A S E SARUS
E S T U D A N T E .
P e l a m e n i n a das fructas
H e i de p a g a r - lh e o t r a b a lh o;
Escusado pois prendel-a ,
E dar-se- to grande abalo .
SOLDADO.
P e l a m e n i n a das flores
No pago , nem t e n h o t e n o ;
N e m o senhor official
N ' e l l a ha de pr a mo.
M E I R I N H O .
I s t o
por
v a l e n t i a ?
SOLDADO.
E' porque muito confio
N e s t a sua b izarr ia .
M A R U J O .
C sobre este
meu
bote
Voc no ha de embarcar ,
Q u a n d ono, no espinhao
A faca lhe hei de cravar .
M E I R I N H O .
Pois com a rmas proh ib idas
Me que r agora a taca r?
MARUJO.
C comigono sei :
-
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103/311
BA ILES PASTORIS 8 5
M E I R I N H O .
P o i s c o m a m i n h a R e g a t e a r a
E u m e h e i d e d e s p i c a r ;
E l l a ha de s e r a p r ime i ra ,
Que cadeia hei de levar :
J que t o va l en tona ,
E n o m e q u e r p o r a m a n t e ,
O ra venha pa ra a cada ,
J e j , nes t e i n s t an te .
R E G A T E I R A .
Senhor o f f ic ia l , t an ta ty rann ia
P r e t e n d e c o m i g o u s a r ?
M E I R I N H O .
Usare i , e he i de usar .
l .
a
PASTORA.
Senhor , eu lhe peo . . .
M E I R I N H O .
N a d a , n a d a , v e n h a v i n d o .
2 .
a
PASTORA.
S e n h o r , p o r q u e m
M E I R I N H O .
N o en tendo de conversa .
4 .
a
PASTORA.
Senhor,
a t t e n d a .
-
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104/311
8 0 S E R E N A T A S E S A R U S
M E I R I N H O .
De suppl icas no entendo.
E S T U D A N T E .
Agora supplico eu :
Tenha d e compaixo.
M E I R I N H O .
Ora venha t ambm,
Senhor meu, para a pr iso.
C A N T A A R E G A T E I R A .
Des ta pobre Rega te i ra
Senhor , tende compaixo .
C A N T A O M E I R I N H O .
Executo ; sou mandado :
Venha j para a pr iso.
C A N T A M T O D O S .
Perdoae dae-lhes sol tura ,
N o ten ha s m o corao ;
P rome t temos v ingadores
Que ellas presas no vo, no.
C A N T A O M E I R I N H O .
Ho de vir , e ho de vir .
CANTAM TODOS.
N o , no vo, no.
-
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105/311
BAILES PASTORIS 8 7
C A N T A O M E I R I N H O .
Sim, s im, s im.
FALLA O SOLDADO.
Cons ide ro -me em campanha ,
Com os in imigos em f ren te :
Hei de mos t ra r o que posso ,
E o q u e t e n h o d e v a l e n t e ;
B o m b a s e g r a n a d a s
Se acaso t ivesse p resen te ,
Tudo desp resa r i a ho je
P e l o m e u b r a o p o t e n t e .
Com as minhas mos va lo rosas
H e i de aqu i j a t aca r ,
P r o m e t t o q u e n i n g u m ,
A pr i so ha de parar .
ESTUDANTE.
M e u s l i v r o s , m i n h a G r a m m a t i c a ,
E m f i m m e u P h e d r o e P r o s d i a ,
N o m i n a t i v o s d o X o v o M e t h o d o
M o s t r a r e i a q u i , m o s t r a r e i
Mui t a s cousas que eu se i ;
Que cousa mui to cer ta :
Quid coget, fidem laudemus,
Et solet meum gaudere.
M A R U J O .
F a r e i b o r d o p o r d a v a n t e
Ca lando bem o t r aqu te ,
-
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106/311
8 8 SEREN ATA S F, SARUS
Irei a foges de proa
J de faca, ou de cacete;
Quando no, o espinhao
Lhe he i de p r em ax inha ;
Lhe sacudirei j do corpo
Tudo quan to fo r mor r inha .
O M E I R I N H O P A R A O M A R U J O .
Todo este seu poder
J no me faz confuso ;
Maior poder tenho eu,
Com es ta vara na mo :
No sabe que nes te ba irro
Tambm mando , e t enho o rdem
Para prendel-os a todos
Se com igo fizerem deso rdem ?
SOLDADO.
P re n d e r- m e ora , e ssa boa,
Passe d 'aqui , v br incar ;
Onde se v iu um Meir inho
P r e n d e r a u m m i l i t a r
E S T U D A N T E .
E a mim tambm o mesmo,
Quem lhe deu ta l l ibe rdade ,
D e p re n d e r u m E s tu d a n te ,
Q u e c u r s a a U n iv e r s id a d e
M A R U J O .
O senhor official
Comigo no faz far inha ,
-
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107/311
B A I L E S P A S T O R I S
8 9
Seno
j lhe
sahe
do
corpo
T u d o q u a n t o for m o r r i n h a .
o MEIRINHO, para o Marujo.
Cale a boca , senhor gar ru lho ,
Q u e j noposso a t u ra r ,
Seno com es ta vara
Os ossos
lhe hei de
q u e b r a r .
T O D O S .
Oque d izes , insolente?
MEIRINHO.
D i g o , e obro d i l igen te .
C A N T A M T O D O S .
E s t e M e i r i n h o a t r e v i d o
A q u i h o j e ha de acabar .
C A N T A O M E I R I N H O .
P o i s eu come s t a va ra
Os ossoshei de q u e b r a r .
C A N T A M T O D O S .
P i e d a d e , p i e d a d e ;
T e n h a de ns compa ixo .
F A L L A O M E I R I N H O .
E m l o u v o r do D e u s M e n i n o ,
Es t o l i v res da p r i so .
SAHE o VELHO e canta :
P a s t o r i n h a s b e l l a s ,
Q u e l i n d odia,
-
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108/311
9 0
S E R E N A T A S
E
S A R U S
Com alegri