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    S E R E f l U T I - l S

    E SARUS

    I

    A

    LIVRARIAGARNIE

    R

    R IO D E J A N E I R O

    M

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    Ie ne fay riensans

    Gayet

    (Montaigne, Des livres)

    Ex Libris

    J o s M i n d l i n

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    SERENATAS E SARAUS

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    SERENATAS

    E S A R U S

    C OLLEC O D E A U TOS P OP U LA R ES,

    L U N D U S , R E C I T A T I V O S , M O D I N H A S , D U E T O S , S E R E N A T A S

    BA R C A R OLA S E OU TR A S TR OD U C ES BR A ZI LEI R A S

    A N TI GA S E MOD ER N A S

    Com uma explicativa dos assumptos de cada volume

    P O R

    MELLO MORAES FILHO

    I . TRADICIONAES

    BAILES PAST OR IS REISAD OS E CHEGANA LUNDUS

    E MODINHAS DE CALDAS BARBOSA

    H. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR

    7 1 - 7 3 ,

    RUA DO OUVIDOR, 71 -73 I 6 , RUK D E S SAINTS-PKRES, 6

    RIO DE JANEIRO ' PARIS

    1901

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    PREFACIO

    Ha bons trinfannos o fallecido e benemrito

    editorB .L. G arnier dera publicidade a

    Cantora

    Brasileira,

    livro destinado a re un ir as canes

    esparsas do tempo, essas variadas produces

    da musa nacional, que o povo cantava com

    musicas prprias , e que to deleitaveis torna

    ram as noites de ou tr 'ora , dan do um a feio

    especial s no ssas can tiga s e s nossas m elodias,

    que j se iam desqu itando dos antigos m oldes.

    Espraiando-se em eruditas reflexes sobre o

    motivo da s mo din ha s, o illustre historiador e

    poeta Joaquim Norberto de Souza e Silva, que

    prefaciara a referida obra, confirma o seu juizo

    favorvel a respeito do texto, registrando cita

    es de no menos notveis viajantes e crticos

    estrangeiros, nas quaes o applauso s modas

    brazileiras resalta de cada ph ras e, co nst i

    tuindo-se essas paginas preciosa documentao

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    VI PREFACIO

    do que haviam sido, na colnia, e no principio

    do sculo passado, os nossos cantares, to

    expressivos e meigos, modulados aqui e na

    metrpole.

    O successo da

    Cantora Brasileira

    no podia

    deix ar de ser com pensador, pois esse repositrio

    de modinhas contou mais de uma edio, no

    obstante os trechos lyricos serem os mesmos, e

    as incorreces avultadissimas.

    Co nservando , p orm , o que de caracterstico,

    popular e escolhido existe na velha Cantora,

    mudando o titulo, recorrendo tradio, e

    pondo quasi em dia esse livro, que j no cor

    responde ao impulso evolutivo do nosso

    folk-

    lore,

    o actual editor H. Garnier apresenta ao

    publico as

    Serenatas e Sarus,

    que nad a mais

    so do que, como dissemos, uma ampliao da

    citada

    Cantora Brasileira,

    por isso que figu

    ram em ambas as collectaneas, nem s as

    celebres m odinhas e lund us de Caldas B arbosa,

    porm ainda muitssimos recitativos, modinhas

    ei unds, que no cahiram em desuso entre

    ns, sendo at hoje repetidos com o antigo

    app lauso e ouvidos a de sho ras com verdadeiro -

    prazer.

    Este primeiro volume das

    Serenatas e

    Sarus

    divide-se em trez pa rtes : na prim eira ,

    encontram-se os bai les pastor is ; na segunda,

    reisados e chegana; e na terceira, as pro-

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    PREFACIO VII

    duces de Lereno, isto , do famoso mestio

    Caldas Barbosa. O presente volume, por con

    seguinte , exclusivamente consagrado a can-

    tares tradicionaes, producto quasi inteiro, ao

    menos nas duas primeiras partes , da musa

    popular e anonyma.

    Como j referimos no correr de nossas obras

    sobre assumptos do folk-lore p trio , os bailes

    pastoris nos vieram da metrpole, e so ainda

    no presente cantados , dansados e represen

    tados, notadamente na Bahia, onde poetas

    nossos opulentaram o valioso cabedal lyrico

    com innumeros outros bailes, respeitando o

    fundo tradicional, e intercalando novos perso

    nagens. As musicas, n 'essa provncia, foram

    especialmente escriptas por gr an de s m estres

    que associavam-se aos poetas, produzindo uns

    e outros magnficos

    Autos,

    em que as melo

    dias predo m inavam , em balando religiosa e

    profanamente os delicados poemas commemora-

    tivos das alviareiras festas do Natal.

    No perodo colonial, os bailes, ao que parece,

    pertenciam poesia verdadeiramente culta ,

    pois em muitos d'elles percebe-se calido o sopro

    de viva inspirao alentando certo capricho de

    frma, visivelmente alterada na tradio oral.

    Os trechos musicaes, entretanto, so na gene

    ralidade bellos, distinguindo-se em cada um

    harmonias caracters t icas de musica sacra de

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    VIII PREFACIO

    mistura com rhythmos populares, portuguezes

    e hespanhoes.

    Fazendo lembrar a poesia dos trovadores da

    edade mdia, recordando seus similares da

    musa provenal, os antigos bailes pastoris

    subordinam-se classificao de

    Mysterios,

    representados nas praas e nos claustros pelos

    Irmos cia Paixo,

    e que assignalaram as

    primitivas datas do theatro.

    E com Autos ou Mysterios, os m enestreis e

    trovadores andantes celebravam os folientos

    Nataes, indo levar a Jesus nascido, nos pre-

    sepes das lapinhas, as suas homenagens es

    pontneas, seus ardentes louvores, manifestados

    pela poesia e pelas dansas, acompanhados ao

    tom de harpas, citharas, flautas, rabecas e

    demais instrumentos.

    Aos trovadores portuguezes, por certo, que

    7

    como aos allemes, aos hespanhoes, aos fran-

    cezes, deve a poesia europa esse gnero de

    composies poticas, cabe esta modalidade

    deveras distincta do nosso

    Jblk-lore,

    signifi

    cando tal feio, de par com as xacaras,

    ronds e romanas, o que de legitimo e acen

    tuado nos ficou da poesia puramente bardica

    dos tempos coloniaes.

    As principaes l inhas

    d'esses Autos,

    os gran des

    traos d'esses poemas dramticos aos portu

    guezes pertence m , como sensivelmente dem ons-

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    PREFACIO IX

    tram o baile dos

    Marujos,

    o dos

    Mouros,

    o de

    Elmano,

    o do

    Meirinho,

    e t c , onde os perso

    nagens e themas so da intimidade lusa.

    No Brazil, entretanto, muitssimos foram os

    vates que continuaram a cultivar o gnero

    potico, numerosos foram os msicos que se

    inspiraram nos nativos trovares , particularmente

    na Bahia, antiga metrpole brazileira, e que no

    todo assimilava costumes e tradies directa-

    mente importados de alm-mar.

    pelo Natal ainda que os bailes pastoris so

    exhibidos na velha cidade, tornando sonoras e

    alegres vistosas e humildes salas, onde a tra

    dio, acatada pelo povo, reverencia os pre-

    sepes,

    em frente dos quaes, com rudimentares

    scenarios, desempenham-se os bailes, cujos

    interlocutores so, de preferencia, meninos e

    meninas, caracteristicamente vestidos, habil

    mente ensaiados, aos accordes de plangentes

    violes e violas, revoada harmoniosa de cas-

    tanholas e de pandeiros, melodia de flautas,

    e vrios instrumentos, que saturam os ares e

    as noites de sons que passam, de toadas bran

    das e prolongadas.

    N'esses sarus, a famlia sente-se a conforto

    e ditosa, e a f e a esperana transparecem

    dos semblantes serenos, e dos risos que bor

    bulham.

    No interior, no s daquella provncia, porm

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    * PREFACIO

    de quasi todo o norte, os reisados substituem os

    bailes, sendo aquelles como que uma conti

    nuao d'estes, porm a aco n'estes

    ltimos gyra interia em torno de uma

    figura, ou de um person agem , que d o nome

    ao reisado; so assim :

    o Z do Valle,

    o

    Bum ba-meu-boi, o Seu Antnio Geraldo,

    a

    Caiporinha, o Mestre Domingos,

    e duas

    dzias d'outros, que constituem representaes

    propriamente nossas, entremeiadas de coros,

    de solos, de fandangos, de sapatead os, e de

    varias frmas mestias, predominando absoluta

    a figura capital, muitas vezes a personificao

    de alguma celebridade local, como o

    Z do

    Valle, famigerado facnora dos sertes piau-

    hyenses.

    Em bailes e reisados consistindo os sar us do

    Natal nas moradias da ba burguezia e nas

    casas pobres das populaes nortistas, esses

    folguedos extremam-se at certo ponto de

    diversos outros, cuja movimentao exige

    espao amplo, tendo por theatro as praas das

    matrizes, os descampados, as ruas. Taes so as

    apparalosas cheganas que, semelhana dos

    ranchos de Reis com a competente

    burrinha,

    precisam do ar nocturno para avivar-lhes os

    fogos dos archotes ou dos fogaros, quando, em

    tradicionaes serenatas, descantam ao acaso, ou

    estacionam em frente s portas que se lhes

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    P R EF A C I O X I

    teem de abrir , ou em grupos de marujos, de

    christos ou de mouros, os folies, com proprie

    dade fantasiados, conduzem navios, velames e

    armas de guerra para as burlescas scenas de

    abordagem, para as exhibies ao vivo da

    no

    Catharineta, tirad a por m aru jos, tendo frente

    o com m andan te e o gageiro, que dialogam

    mais tarde em sentida melopa o episdio da

    no vinte e um annos perdida nas ond as

    verdes do mar.

    Producto hybrido da poesia lusa, as che

    ganas, que congraam as trez raas, no res

    guardam apenas a tradio medieval das lutas

    entre chris tos e sarracenos, porm abrigam

    ainda elementos visivelmente nossos, resul

    tando d'ahi o encanto da differenciao como

    objecto de estudo, como producto evolutivo.

    O eminente historiador litterario e crtico

    Sylvio Romro, incomparavel mestre de toda a

    sciencia do nosso

    folk-lore,

    colligindo em seus

    Cantos populares a chega na dos Marujos,

    esclarece antecipadamente o motivo no seu

    livro especial consagrado crtica d'essa natu

    reza de Autos, dando-nos a conhec er, no s a

    indole d'esse gnero de composies, mas ainda

    a physionomia dos factores que n'ellas teem

    collaborado.

    To es tranhas bambochatas , ass im adapta

    da s ao nosso meio festivo e cam pesino , an n ua l-

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    XII PREFACIO

    m ente se executam na s prov ncias do no rte, com

    variantes acen tuada s, com m anob ras m ais com

    plicadas, com entrecho e musicas que, pouco a

    pouco, as distanciam de suas nascentes, sem

    comtudo trahil-as nas frmas irreductiveis. E a

    chegana dos

    Marujos

    e a cheg ana dos

    Mouros confirmam as nossas pond eraes, no

    obstante j desfiguradas em sua esthetica geral.

    No comportando este livro demorado estudo

    sobre cada um a de su as partes , o que fica dito

    bastar para dar uma ida, embora pall ida,

    dos reisados e cheganas, restando-nos as

    modinhas e lundus de Caldas Barbosa, na

    terceira diviso do volume, a respeito de quem

    e das quaes rpidas consideraes somos

    levados a produzir.

    Do que completamente popular e anonymo

    s graciosas canes do lyrista fluminense, a

    transio fcil e natural. Significam ellas a

    consagrao da mo dinha brazileira na m etrpole,

    e no Brazil, nos primeiros decennios do sculo

    que findou.

    Domingos Caldas Barbosa, o valido de Jos

    de Vasconcellos e Sousa, mais tarde conde de

    Pombeiro, era um mestio filho de escrava

    negra de Angola, e, segundo a melhor verso,

    vira a luz da vida no Rio de Janeiro.

    Em luta com o preconceito de cr e de raa,

    conseguiu a custo seu pae fazel-o educar-se no

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    PREFACIO XIII

    collegio dos Jesutas, onde o repudiado mulato

    desenvolvera brilhantes aptides poticas, que

    opportunamente o incompatibilisaram com o

    ambiente social, visto como o seu dio de

    origem transparecia vehemente atravez das

    satyras que compunha e propagava.

    Movido pelas desaffeies que dia a dia accu-

    mulava , o capi to-genera l Gomes Fre ire de

    Andrade, para punil-o, ordenou que lhe sen

    tassem praa, seguindo o desfavorecido poeta

    como soldado em um regimento para a

    Colnia do Sacramento, onde permaneceu at a

    occupao d'esta pelos hespanhoes, em 1762.

    De volta, obtendo baixa, seu desolado proge-

    nitor enviou-o para Portugal, sendo ahi collo-

    cado,

    por influencia do conde de Pombeiro,

    que lhe estimava o talento e a poesia, na Casa

    da Supplicao.

    Distinguido por Bocage, Curvo Semedo e

    Jos Agostinho de Macedo, Caldas Barbosa,

    que j havia conquistado merecida fama, fora

    proclamado membro da Arcadia de Roma, sob

    o nome de Lereno Selinuntino com o qu al

    assignra suas Cantigas.

    E no reino, o mulato brazileiro expandia em

    abundante lyrismo, e repinicados de viola,

    os seus doces trovares, tornando-se nos aristo

    crticos sarus de Lisboa, e de seus pittorescos

    arrabaldes, a individualisao mais authentica

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    XIV PREFACIO

    do sentimentalismo e da graciosidade da alma

    brazileira, n'aquelles tempos em que as modi

    nhas haviam quasi emmudecido sob os cos da

    ptria portugueza, que se estrellavam de novo

    pa ra esc uta r o poeta exilado qu e carpia sereno

    as suas maguas, ou que se deliciava descan-

    tando em lundus os

    quindins brasileiros.

    Menestrel e bardo, Caldas Barbosa sus

    pendeu, em Portugal, a sua viola de Lereno ao

    derradeiro pilar do sculo xvm, e as viraes

    que sussurravam transportaram para o Brazil

    esses threnos, que to alegremente enfeitiaram

    as reunies selectas, e os festins do povo, nos

    primeiros lustros do sculo que surgira.

    E espreguiando-se nas escadarias de trevas

    d'aquelles crepsculos, erguiam-se risonhas as

    noites brazileiras, para aguardar os brilhos de

    radiantes auroras, aos arpejos de violes e

    sonidos de violas, que tangiam inspirados s

    melanclicas modinhas e aos faceiros lundus de

    Domingos Caldas Barbosa.

    MELLO MORAES FILHO.

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    PRIMEIRA PARTE

    BAILES PASTORIS

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    SERENATAS E SARUS

    B A I L E D A T E N T A I A O

    PERSONAGENS

    S A T A N A Z . A S E C A D O R A .

    A N J O . O P A S T O R J O V I X O ,

    A C I GA N A . O C A P I N E I R O .

    A P A S T O R A .

    '

    Opresepe acha-se eiiscenado para a representao

    '/'este baile e Jigura um bosque.)

    CORO.

    Can temos , an jo s , can temos

    A o sub l ime nasc imen to ;

    A o D eus Men ino saudemos ,

    D o co immenso po r t en to .

    Cantemos p ' i a nossa g lo r ia

    A ' M a r i a I m m a c u l a d a ,

    Xesse d ia de v ic tor ia

    Po r D eus a s i consag rada .

    Ao caro e casto esposo

    Vamos com gos to saudar ,

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    4 SERENATAS E SARUS

    Ao prazer e immenso gozo

    Que a todos nos veio dar.

    CIGANA, entra e canta.

    Minhas boni tas fazendas

    Para servir o f reguez ;

    Tenho seda , chi ta e rendas

    E bello fio escossez.

    Meu negocio

    Venho fazer,

    Minhas fazendas

    Venho vender .

    (Declama.)

    Andando por es tas ruas ,

    A fazenda a apregoar ,

    O meu negocio no fao,

    Po i s n ingum me que r chamar .

    No s eu vendo fazendas,

    Pois pelos traos da mo

    Eu sei ler a buena dicha,

    Com a maior exact ido.

    SATANAZ, entra com uma capa que lhe encobre

    a roupa, e declama.

    Quero ver tua sc iencia ,

    Quero ver o teu poder ;

    Ah i t ens a minha mo ,

    Podes as l inhas lhe ler .

    CIGANA, idem.

    Com todo gosto, senhor,

    Q ue ira es tend er sua m o ;

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    B A I L E S P A S T O R I S

    Pois quero pe los seus t raos

    T i r a r c e r t a a concluso .

    SATANAZ,

    estende a direita.

    A q u i tem, que m a i s des e j a?

    CIGANA,

    declama.

    A d i r e i t a ,

    no, meu

    s e n h o r

    A e s q u e r d a que lhe peo,

    P o i s a que tem v a l o r . . .

    SATANAZ,

    estende a mo esquerda.

    Ser com s e g u r a n a ,

    X o me q u e i r a i l l u d i r ;

    P o i s

    se da

    m e n t i r a u z a r ,

    D e mim nopde fug i r .

    CIGANA, vendo a mo.

    Pe los t r aos qu ' e l l a tem,

    2s

    o posso bem d i v u l g a r ;

    P o r m , por cer to s ig na l

    X o

    me

    pode i s e ng an ar ,

    Que so is a lgum d is farado

    P a r a a q u i me vir t e n t a r .

    SATANAZ,

    rino-se.

    A h ah ah g r a a tem

    Vosso modo de fa l la r ,

    Se

    no

    fo ra

    eu

    cava l le i ro

    D e v i a j cas t iga r ,

    P o r q u e uma tal ouzad ia

    2s"unca ouvi pronunciar .

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    S E R E N A T A S

    E

    SAHAirS

    CIGANA,

    declama.

    P e r d o ,

    por

    D e u s ,

    meu

    Senhor,

    X o

    era

    minha t eno

    Insul tar vossa pessoa ,

    Vos digo

    de

    corao.

    S AT ANAZ .

    Pois

    bem,

    de ixemos

    de

    par tes ,

    V ou

    a

    ques to abordar

    ;

    E u

    amo

    apezar

    de que,

    E u

    no

    podere i amar.

    E vs com tan to saber

    Que cu l t iva is

    a

    sciencia ,

    Ides -me ouvi r

    com

    a t teno

    E com toda a pacincia .

    A m ouma bel la pas tora

    Q ue a mim no tem amor,

    E

    s vs me

    podereis

    Pres ta r ass im

    um

    favor.

    CIGANA.

    Que favor, meu cavalleiro,

    P o d e re i eu lhe p r e s t a r ?

    E u s com m inh as fazendas

    E '

    que sei

    negociar .

    SATANAZ.

    F a z e r - lh e ver com cuidado

    Que exis te um cavalleiro,

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    B A I L E S P A S T O R I S

    Q ue p rocu ra possu i l - a

    E d a r - l h e m u i t o d i n h e i r o .

    E s t a p a s t o r a a m a a l g u m ,

    Q ue tu me descub r i r s ;

    P r o m e t t o , s e c o n s e g u i res,

    Tua fo r tuna fa rs .

    C I G A N A .

    M i n h a f o i t u n a , d i z e i s . . .

    Mais is to sonho, i l luso,

    L e m b r a r - s e d e s t a C i g a n a

    P ' ra sa lvar seu corao ,

    D a chamma que amor a t i a

    E m q u a l q u e r o c c a s i o . . .

    S A T A N A Z .

    Se acce i tas minha p ropos ta ,

    D i z e i j e sem ta rdar ;

    E e m p a g a , a d i a n t a d a ,

    Quei ra es ta bo lsa levar . . .

    C I G A N A .

    Podeis de mim j d i spor ,

    Es tou p rompta a obedece r ;

    E a pas to ra , p romet to ,

    A vossos ps se render.

    S A T A N A Z .

    P r e c i s o q u e m e g a r a n t a s

    T u a p a l a v r a c u m p r i r .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    26/311

    8 S E R E N A T A S E S A R U S

    CIGANA.

    Eu sou s incera , senhor ,

    A e l la no heide fugir

    SATANAZ.

    Pois bem, eu fico esperando

    Que cumpras o teu dever ;

    Quero a pas tora possuir

    Inda cont ra seu quere r .

    CIGANA.

    Ella para aqui se d ir ige .

    SATANAZ.

    E eu d'aqui me re t i ro .

    CIGANA.

    Podeis i r bem descanado,

    Pois a e l la j me a t i ro .

    SATANAZ.

    Que sejas feliz desejo,

    Sabere i recompensar- te .

    CIGANA.

    Em breve tu a te rs ,

    Es te p razer he ide dar - te .

    (Satanaz sahe.)

    Pastora a l t iva , eu espero

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    27/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    Pois um be l lo cava l le i ro

    Por esposo has de ter .

    (Sahe.)

    PASTORA,

    entra e canta.

    O m e u g a d o p a s t o r a n d o ,

    D esde que amanhece o d i a ,

    V ivo a l eg re e con ten te ,

    Com a g raa de Mar ia .

    E ass im ando,

    Sem me cansar ,

    Com o m eu reba nho

    P a r a p a s t a r .

    (Falia.)

    Antes de v i r p ' ra es te s i t io

    Com meu rebanho a pas t a r ,

    Um caval le i ro av is te i

    Q u e n o p e r t e n c e a o l o g a r

    V i n h a e m b u a d o e m u m a c a p a

    Que at o rosfo cobria,

    Pas sou po r mim e s a lvou -me

    D ando suave bom d ia .

    Eu fiquei de p atraz,

    E responder no ouse i ;

    Xa pos io em que es tava

    X a mesma me conse rve i .

    Po is a um desconhecido

    Eu no dev ia sa lvar ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    28/311

    10

    S E R E N A T A S

    I:

    SARUS

    P o d i a ser um ma lvado

    Q u e

    me

    v iesse ten ta r .

    CIGANA, entra e canta.

    Minhas boni tas fazendas ,

    P a ra s e rv i r

    ao

    freguez

    ;

    Tenho seda , chi ta

    e

    rendas

    E bello

    fio

    escossez.

    Meu negocio

    Venho fazer ,

    Minhas fazendas

    Venho vende r .

    (Falia.)

    D e u s vos sa lve , pas tor inha ,

    Com vosso gado a p a s t a r ;

    P A S T O R A .

    E a A'st a m b m , a m i g u i n h a ,

    Com a fazenda a mercar .

    CIGANA.

    D ig a -m e , l i n d a m e n in a ,

    ^so quer vossa sorte saber?.

    Pois n"s fazendas vendo

    Como

    a

    buena d icha

    sei

    le r . . .

    PASTORA.

    Ento , cu l t iva i s a sciencia

    D e

    ler nos

    t raos

    da

    m o ? . . .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    29/311

    B A I L E S P A S T O R I S 1 1

    C I G A N A .

    Se i a t ma i s , adv inho

    Amores do corao .

    P A S T O R A .

    A m o r e s . . . I s t o n o c r e i o ,

    Descobr i l -os bem qu izera ;

    Po rm a tua s c i enc ia ,

    Xo i r t o longe , espero .

    C I G A N A .

    D -me en to a sua mo ,

    E ver como sei ler .

    P A S T O R A .

    Ahi tem, vamos a i s to ,

    Q uero ve r vosso sabe r . . .

    (Estende a mo, e a Cigana, depois de algum

    tempo :)

    CIGANA, declama.

    Pelos t raos qu 'e l la t em

    Eu d i re i com mui r azo

    Q ue a be l l a pas to r inha

    A ma a lgum de co rao .

    P A S T O R A .

    (A parte.)

    El la o que d iz verdade ,

    Po rm de ixemos pensa r ;

    (Alto.)

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    30/311

    1"2 SER EN AT AS E SAR US

    E acaso saber a quem

    Meu co rao pde amar? . . .

    C I G A N A .

    Direi s im, j que quer

    Este segredo saber ;

    Lhe peo que no se zangue

    D'aqui l lo que vou dizer .

    P A S T O R A .

    Zan ga r -m e . .. no t e n ha sus to .

    Pico a t bem sa t is fe i ta ,

    Em saber que ha no mundo

    Uma sc iencia perfe i ta .

    C I G A N A .

    A men ina t em amores ,

    Por Jovino, o pas tor ;

    E elle, por sua vez,

    A si no lhe traidor.

    Porm ex is te um cava l le i ro

    Que faria a fel ic idade,

    Se a menina lhe amasse

    Com s incero amor, sem maldade.

    Tem fortuna , r icao,

    Ama-a com mui to a rdor ;

    O seu desejo um s :

    Possui l -a por amor.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    31/311

    BA I LES P A STOR I S

    P A S T O R A .

    13

    Ter v is to pessoa ass im,

    X o a t i n o ,

    s i n g u l a r . . .

    E como,sem conhece r -me ,

    Me poder e l l e amar?

    CIGANA,

    continuando.

    P o i s e n t o , m e n i n a , a l g u m

    Q u e c u l t i v o u o amor ,

    P r e c i s aver a pessoa

    P a r a a m a l - a com a r d o r ? . . .

    E u at lhe fel ici to

    P o r to b o n i t a u n i o ,

    D 'um caval le i ro r icao

    D e s e j a r - l h edar a mo.

    P A S T O R A .

    M a i seu no o conheo,

    E no posso a t i n a r

    Tel-o v is to

    uma s vez,

    X em somen te pe lo o lha r .

    CIGANA, lendo na mo.

    Pe los t r aos , eu d ivu lgo

    Tel -o a m e n i n a j v is to .

    P A S T O R A .

    S e r oh o m e m da c a p a . . .

    A h e s p e r a Sim, isto

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    32/311

    1 4 S E R E N A T A S E S A R A I S

    Pois nem o ros to lhe v i ,

    El le ia todo embuado ;

    E como pde um homem ass im

    Ju lg ar -s e j ser amado ?

    Demais , no amo ao d inhe i ro ,

    Por Jov ino t enho amor ;

    E l l e a m a -m e ig u a lm e n te

    Com. sinceridade e calor.

    Por isso seja quem fr

    Que me venha dec la ra r ,

    Eu recuso seu amor,

    S quero Jov ino amar .

    C I G A N A .

    Perdo, eu s estou lendo

    Os traos de sua mo ;

    Xo tenho nisso in teresse ,

    Xem entro em discusso.

    S digo que a menina

    Muito rica deve ser,

    P ' ra re je i ta r um cava l le i ro

    Que a fo r tuna vem t razer .

    Eu quando na sua idade ,

    Lhe ju ro no re je i ta r ;

    Por s imples pas tor do monte ,

    Cava l le iro s i n g u la r . . .

    Porm, sou velha , no pres to ,

    Po i s que a mim j n ingum ama ,

    N in g u m q u e r v e lh a s a m a r .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    H A II . l .S

    1'AslolUS

    1>

    P A S T O R A .

    X em mesmo em sua p resena

    Eu no me dec id i r i a ,

    T roca l -o po r meu Jov ino

    X unca d i s so cu ida r i a .

    Po r t e r d inhe i ro somen te

    Jov ino posse t ambm ;

    Xo ser todo em moeda ,

    Mas pe lo gado que tem.

    C I G A N A .

    P o i s b e m , m e n i n a , e u m e v o u

    r

    Xo posso aqui ficar ;

    Vou meu negocio fazer ;

    Vou as fazendas mercar .

    Pense bem no que lhe d i sse ,

    X o v e n h a a s e a r r e p e n d e r ;

    Xo quero ser eu a causa,

    Depois, de vosso sofrer.

    SAHE, cantando.

    Minhas bon i t a s f azendas ,

    Para serv i r o f reguez ;

    e t c , e tc .

    P A S T O R A .

    A cred i t a r no que d i zem

    A s pa lav ras da c igana ,

    Xo posso . . . no devo no . . .

    Po i s e l l a t ambm se engana .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    34/311

    1 6

    SERENATAS E SARUS

    Mas que vejo Um cavalleiro

    Para aqui se dirigindo .. .

    Tratemos de lhe escapar,

    Tratemos de ir fugindo.

    (Quando vae a sahir, Satanaz embarga-lhe

    os passos.)

    SATANAZ.

    Desculpae minha ouzadia

    De vosso passo impedir ;

    Porm desejo faliar-lhe...

    PASTORA.

    Alguma cousa pedir?

    SATANAZ.

    Sim ? um pedido a fazer,

    A vs, belleza sem pr ;

    Para o meu amor a nascer

    Eu venho agora implorar.

    PASTORA.

    Meu senhor.' no o conheo,

    E no posso lhe responder ;

    E meu gado est pastando,

    Tenho medo de o perder.

    SATANAZ.

    Descance, que elle est

    ]\ 'a campina reunido ;

    Algum se incumbio delle,

    Que anda de amores rendido.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    35/311

    BAILES PASTORIS 17

    PASTORA

    (A parte.)

    O h m e u D e u s q u e t e n t a o

    S A T A N A Z .

    Dizei -me, be l la pas to ra ,

    Que respos ta deve te r

    Q ue m ta n t o j vos ado ra ?

    P A S T O R A .

    Sin to mu i to , meu senhor ,

    Mais no lhe posso a t tender ;

    Tenho meu gado no mon te ,

    E no ta rda a ano i tecer .

    S A T A N A Z .

    Tudo dou , be l la pas to ra ,

    Pa ra t e r o t eu amor ;

    Ouro , sedas , pedrar ias ,

    Que aos teus ps quero depor .

    P A S T O R A .

    Tudo vos ag radeo ,

    P o r m o u t r o m e a m a ;

    Por quem eu dou a v ida ,

    E o meu pe i to s e i nnamma.

    E i l - o , que chega , con ten te ,

    P e l o c a m p o a p r o c u r a r

    A sua be l la pas to ra ,

    Como me usa chamar .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    36/311

    18 SERENATAS E SARUS

    SATANAZ

    D a e - m e

    s uma

    esperana,

    E j mefareis dito so .

    P A S T O R A .

    Ret i re - se ,

    por

    favor

    Xo que i ra rouba r -me

    o

    gozo.

    S A T A N A Z .

    P o i sbem, eu me re t i ro ,

    Porm cau te la , Pas tora ,

    Q ue

    o

    vosso gozo

    no

    seja

    Cousa pouco duradoura

    :

    E u v o u -m e sem esperana

    S u p p o r t a r

    a

    v ida agora .

    (Sahe.)

    P A S T O R A .

    Que d i r ia

    o meu

    Jov ino ,

    Se esta conversa escutasse

    ?

    (Entra Jovino.)

    J O V I N O .

    Ests aqu i be l la pas tora ...

    J u l g a r a que no te achasse .

    Corr i porm o n te s e valles

    S para

    te

    p r o c u r a r

    ;

    S depois

    de bem

    can ado ,

    F i n a l m e n t e vim te achar .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    37/311

    B A I L E S P A S T O R I S 1 &

    P A S T O R A .

    Com o meu gado em descano ,

    G ozar a sombra aqu i v im .

    J O V I N O .

    E no tens medo do bosque ,

    Sem es t a res ao p de mim? . . .

    P A S T O R A . .

    Medo e porque , meu Jov ino , .

    Acaso eu ten ho in im igos ?

    J O V I N O .

    Xo isso, que s vezes,

    Xem todos nos so amigos .

    P A S T O R A .

    X o encon t ras t e s a C igana

    Com fazendas a merca r?

    J O V I N O .

    Eu v im pe lo lado oppos to ,

    N o a pod ia encon t ra r .

    P A S T O R A .

    Pois aqui es teve, e me leu

    O s t r aos da minha mo .

    J O V I N O .

    E o que encont rou de novo ,

    X a sua le i tu r a en t o ?

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    20 SERENATAS E SARUS

    PASTORA

    Primeiro teu nome d isse ,

    E que te amava tambm ;

    Enf im out ro cava l le i ro

    F a l lo u -m e , o u v i m u i b e m .

    Que t inha mui ta r iqueza ,

    E por mim el le t inha amor ;

    Apenas eu te confesso,

    No conheo ta l senhor .

    Depois que elle sahio,

    Ia tambm a sah i r ;

    Embargou-me e l l e a pas sagem,

    E t ive aqui de o ouvir

    Disse mi l ga lan te r ias ,

    Que por mim sen t ia amor ;

    Que presen tes me dar ia

    E muitas j ias de valor .

    A tudo fui insens vel ,

    No lao eu no cahi ;

    Q u a n d o , p o r m in h a v e n tu ra ,

    Sinto teus passos all i .

    E l le sahe prec ip i tado ,

    Sem dar-se a conhecer ,

    F a l l a n d o e m c ru a v in g a n a

    Que breve vem exercer .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    39/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    J O V I N O .

    No temo, eu desaf io-o ,

    X o se pde em mim v inga r ;

    Q uem cava l l e i ro s e j u lga ,

    P de o per igo a f ro n tar .

    P A S T O R A .

    Pois t emo por t i , Jov ino ,

    Sua c rue l ameaa .

    J O V I N O .

    X o j u l g u e s q u e t e m p a v o r

    Q uem com D eus sempre se ab raa .

    ANJO, entra.

    Cuidado , Jov ino , t ua v ida

    Por Sa tanaz e s t ameaada ,

    E l l e ve io aqu i pa ra t en t a r

    A t u a P a s t o r a t o a m a d a .

    Porm eu por t i ve lo no i te e d ia ,

    E con ta s empre com minha p ro teco ,

    S a t a n a z e m m i m t e m o i n i m i g o

    Que no pode approvar sua t ra io .

    Socega po is , Jov ino , tua amada

    S a t i p romet te per tencer ;

    P o r m a i s q u e S a t a n a z v e n h a t e n t a l - a ,

    Eu farei o seu erro conhecer .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    40/311

    22, SERENATAS E SAUAUS

    JOVINO

    Viso, ou sonho, que fallas ,

    Sem qu e eu te possa v e r ? . . .

    Accei to , em nome de Deus ,

    O vires me proteger .

    ANJO.

    E quando o per igo te p rocure ,

    Ou de Sa tanaz a sua ten tao ,

    Bas ta s p ronunc ia re s o meu nome

    E te rs immedia ta p ro teco .

    JOVINO.

    Vosso nome eu no conheo,

    Como vs podere i chamar?

    Dizei-me j , por favor,

    Pa ra quando p rec i sa r .

    A N JO .

    "Gabrie l meu nome, no Empir io ,

    De Deus sou submisso servidor ;

    Combato pela v ir tude e pe la crena ,

    Prote jo sem escrpulo s incero amor.

    {Sahe.)

    JOVINO.

    Agora , meu caval le i ro ,

    Que conquis taes a Pas tora ,

    Podeis vir , eu no vos temo,

    Com vossa voz tentadora.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    41/311

    B A I L E S P A S T O R I S 2 3

    P A S T O R A .

    X o invoque i s Sa tanaz

    P a r a v i n g a n a e x e r c e r ;

    P o i s q u e s u a t y r a n n i a

    Poder aqu i t r aze r .

    CIGANA,

    entra.

    (Canta.)

    Minhas bon i t a s f azendas ,

    Para serv i r o f reguez ;

    e t c , e t c

    (Falia.)

    A i n d a p o r c , p a s t o r a ? . . .

    X o ides v er vosso ga do ?

    J n a c a m p n i a n o a n d a ,

    E l le es t todo espa lhado .

    E se no me engana a memr ia ,

    D ous ca rne i ro s v i mor re r

    Al l i per to da esp lanada ,

    Q uando v inha eu aqu i t e r .

    Por isso, para este s i t io ,

    Eu qu iz depressa chegar ,

    Para dar -vos es ta nova ,

    X o p ' r a v o s a t o r m e n t a r .

    Vosso pas tor que aqui es t ,

    E ' que l j deve i r

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    42/311

    2 4 SERENATAS E SARUS

    O mais depressa possvel,

    Para o gado reuni r

    J O V I N O .

    Dizes bem, nobre c igana ,

    Vou d 'aqui j a correr,

    Reun i l -o na campina ,

    E todo jun to t razer .

    (Sahe.)

    C I G A N A .

    Ento , pas tora , ve rdade

    O que aqui eu vos disse,

    Que caval le i ro r icao

    A vossa mo vos pedisse?. .

    P A S T O R A .

    E' verdade, s im, facto,

    Com effeito me pedio ;

    Porm eu no acei te i

    E elle d 'aqui fugio.

    C I G A N A .

    Mo agouro , minha be l la ,

    Pois que e l le v ingador ;

    E a sua vontade ex t rema

    Aqui a t vos pde impor.

    E depois, sendo to rico,

    Vossa for tuna far ;

    Ricas jias , bellas vestes ,

    Tudo isso vos dar.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    43/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    Em vez de v iver no campo,

    Gosar l na c idade

    Bel las fes tas e regalos ,

    P rp r io s da sua idade .

    P A S T O R A .

    Em ouvi r vosso fa l la r

    Me mos t raes in t e res sada ,

    Que com o ta l cava l le i ro

    Me veja to bem casada.

    C I G A N A .

    In te resse no possuo ,

    S procuro o vosso bem ;

    Que com vossa fe l ic idade

    Eu sere i fe l iz t ambm.

    O caval le i ro aqu i chega ,

    T r a z o s e m b l a n t e a m u a d o ,

    Vem buscar vossa espos ta

    E m t e r m o s d e a p a i x o n a d o .

    P A S T O R A .

    V ou t r a t ando de fug i r .

    (Vae a sahir e Satanaz embarga-lhe a

    passagem.)

    S A T A N A Z .

    D 'aqu i no sah i r s ,

    Has de ser minha por fo ra ,

    D e mim j no fug i i s .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    44/311

    2 0 SERENATAS

    E

    SARUS

    Como ju lg asque se zombe,

    D e

    meu

    immenso poder

    ? *

    Xo sabes

    que

    tudo tenho,

    Bas ta somente quere r?

    PASTORA, fugindo-lhe.

    Deixae-me, senhor , por D e u s . . .

    Xo approve i tae a fraqueza

    D e

    uma

    db i l pas tor inha ,

    Q ue seu a m o r tem firmeza.

    SATANAZ.

    E ' s minha , embora por fora . . .

    E u te heide convencer ;

    X i n g u e m

    eu

    t emo

    no

    m u n d o ,

    Q ue

    me

    possa escarnecer.

    PASTORA.

    Soccorro, meu Deus, soccorro

    Vem, Jovino, soccorrer

    A

    tua

    bel la pas tora ,

    Q ue

    de

    susto

    vae

    morre r .

    (Cahe desmaiada nos braos da Cigana, Sa

    tanaz corre aagarral-a com o fim de fugir,

    entra Jovino com um punhal e dirige-se

    para Satanaz.)

    JOVINO.

    P ' ra t raz , senhor ,no queiraes

    Assass ino me fazer ;

    Se ousaes tocar-lhe no corpo,

    A q u i vosfare i m orrer .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    45/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    SATANAZ, rino-se.

    I n s e n s a t o q u e j u l g a e s

    Q u e t e m o d o t e u p u n h a l ;

    De cer to no me conheces ,

    P re t enc ioso r iva l .

    (Atira a capa para longe.)

    Ento v se me conheces ,

    E vem com o t eu punha l

    I m b e b e r n e s t e m e u p e i t o ,

    Que no f icar s ignal .

    J O V I N O .

    Se res is te a es ta arma,

    Com out ra he ide eu lu ta r .

    (Mostra o cabo do punhal.)

    Res is te agora , se queres ,

    E v e m - m e a n o i v a r o u b a r

    {Satanaz contorce-sc, d irigindo-se para a

    Pastora em quem xac pondo a mo.)

    A mim, G abr i e l , s a lvae -me ,

    Mandae vossa p ro teco ,

    Q ue Sa tanaz t o ma ldoso

    Quer fe r i r meu corao .

    A N J O ,

    entra.

    P a r a t r a z , t y i a n n o ,

    Pa ra t r az , ma ld i to ;

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    2 8 SERE NA TA S E SARUS

    Deixa a pas tora ,

    Pe lo Deus Bemdi to ,

    S A T A N A Z .

    Gabr ie l , an jo malvado ,

    Que me rouba a inspirao ;

    He i de v inga r -me de t i ,

    Para t i s mald io .

    G A B R I E L .

    Xo se jas to petulante ,

    Olha o symbolo de D eu s . . .

    (Apresenta-lhe a cruz.)

    Desafio-te e no temo,

    Com este emblema dos cos.

    (Satanaz contorce-se.)

    S E G A D O R A E C A P I N E I R O .

    (Entram.)

    Mas que quadro , San to Deus ,

    No me io de t an ta luz . . .

    Logo hoje que nasc ido,

    O l indo e caro Jesus .

    Ns viemos a Belm,

    Somente para o adora r ;

    E nossos mesquinhos presentes

    Viemos lhe offertar .

    (Abre-se a cortina e apparece o presepe illu-

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    47/311

    BA ILES PASTORIS 2 9

    recuando at a sahida ; o Anjo o acompa

    nha com a cruz em punho, at desappare-

    cerem.

    A Pastora recobra os sentidos.)

    JOVINO.

    U ma no t i c i a t o be l l a

    A l e g r i a v e m c a u s a r ,

    Po i s j ru t i l an t e e s t r e l l a

    Xo co comea a b r i lhar .

    PASTORA.

    Q ue ho r r ve l pesade l lo ,

    P o r q u e e u a c a b o d e p a s s a r

    U m t y r a n n o a q u i v e i o

    P a r a m e u a m o r r o u b a r .

    J O V I N O .

    J per igo no ex is te

    A Satanaz eu venci ,

    Po i s ao A n jo G abr i e l

    Em seu poder r eco r r i .

    Agora vamos com gos to

    Ao nasc imento ass i s t i r ,

    Do l indo e be l lo Jesus

    O g r a n d e d i a a p p l a u d i r .

    TODOS,

    cantam.

    Louvores a D eus can temos

    Em be l lo hymno de g lo r i a ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    *)0 SER EN AT AS E SARUS

    E a Virgem pura exal temos

    Por es ta grande vic tor ia .

    L A D A P A S T O R A E J O V I N O .

    A este Deus soberano,

    Ao nosso bello Jesus,

    Implo ramos sua g raa

    To refulgente de luz .

    Louvores , e tc .

    (Todos repetem.)

    C A P I N E I R O E S E G A D O R A .

    Unidos em doce amplexo,

    Ante vossa Div indade ,

    Im p lo ra m t a m b m a g ra a

    E vossa l ibera l idade .

    Louvores , e tc .

    (Todos repetem.)

    C I G A N A .

    Queira meu Jesus nasc ido

    Meus peccados perdoar ,

    A c igana de joe lhos

    Vem vossa graa implora r .

    Louvores , e tc .

    (Todo* repetem.)

    (Formam o baile, cantando as seguintes

    quadras.)

    Com gr an de a leg r ia ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    B A Il . r s PASTORIS 3 1

    O s h y m n o s c a n t e m o s

    Ao be l lo nascer .

    Com g rande a l eg r i a

    V a m o s n s m a r c h a r ,

    E a g raa Div ina

    V a m o s e x a l t a r .

    Com g r an de a l eg r i a ,

    Ao sacro Jos,

    Saudemos fe l izes

    Com bas t an te f .

    Com g rande a l eg r i a

    E em adorao ,

    Xs nos re t i ramos

    E m b o a u n i o .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    BAILE DE QUATRO PASTORAS

    E UM VELHO

    SAHEM DUAS PASTORAS,

    cantando;

    V amos , s e r ranas , a l eg res ,

    V amos , pas to ras , con ten tes

    A d o r a r o D e u s M e n i n o ,

    Supremo Senhor das gen tes .

    VOLTA.

    Xo f iquem n 'a lda

    J a m a i s o s P a s t o r e s ,

    V e n h a m v e r n a s c i d o

    O Senhor dos Senhores .

    F A I X A A l .

    a

    PASTORA.

    Que vejo , cos soberanos ,

    Q u e s i g n a e s m a r a v i l h o s o s

    O sol , antes j de tempo,

    Com ra io s t o luminosos

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    3 4 S ER E N A TA S E S A R U S

    Me lo d ia h a rm o n io s a

    Escutam nossos ouvidos ,

    Assim como dos cordeiros

    Pelos curraes os ba l idos .

    2 .

    a

    P A S T O R A .

    Das casas todas abertas

    Esto as portas , e os pastores

    Todos e l les t ransportados

    Do applausos e louvores.

    SAHE

    o VELHO e falia.

    Minhas l indas pas to r inhas ,

    To galantes , to s isudas ,

    A estas horas , ssinhas,

    Ora so mui to pe i tudas .

    Xo temem fe rozes den tes

    Destes lobos carnice iros ,

    Que offendam seus corpinhos

    Como offendem aos carneiros.

    l .

    a

    P A S T O R A .

    Esses mais do que as ovelhas

    Mansos observare is ,

    Nem inda desafiados

    Seus dentes no temereis .

    V E L H O .

    Eu, pastora, caio n essa,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    B A I L E S P A S T O R I S

    Animaes que so capazes

    De todo o mundo asso lar ?

    Uns lobos to desas t rados

    Q ue devo ram as ove lhas ,

    So capazes de roer -me

    De deos ps a t s o ie lhas .

    A n t e s u m a o v e l h a s i n h a

    Ent re os meus b raos cab ida ,

    Em logar dos vossos lobos

    Me d mimosa inves t ida .

    2 .

    a

    PASTORA.

    Que inves t ida pde dar -vos

    U m a i n n o c e n t e o v e l h i n h a ?

    V E L H O .

    Que seja assim como a vossa,

    M i n h a l i n d a p a s t o r i n h a .

    S A H E M D U A S P A S T O R A S , cantando.

    Maninhas , vamos gos to sas

    Ver o nosso Su inn io Bem,

    Q u e n a s c e u e m u m P r e s e p e

    X a L a p i n h a d e B e l m .

    V O L T A .

    V a m o s a B e l m

    Com g rande con ten to ,

    L o u v a r m o s a l e g r e s

    E s t e X a s c i m e n t o ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    36 SERENATAS E SARUS

    VELHO

    Quere is que vos acompanhe ,

    Por ser c do meu agrado,

    Eu me offereo rendido

    Para ser vosso criado :

    Eu tenho l no meu s i t io

    Mui ta cous inha ga lan te ,

    Para vos offerecer

    Se me accei taes como amante .

    F A L L A M A S D U A S P A S T O R A S .

    Obrigado , senhor Velho ,

    No se ja to cuidadoso,

    An te s vamos adora r

    O Sol Divino e mimoso.

    V E L H O .

    Agora es tou indeciso

    Sobre a escolha das Pas toras :

    A pr imeira bem formosa ,

    A s e g u n d a u m d i a m a n te ,

    A in d a m a i s l i n d a z in h a

    Que meu ex t remo cons tan te .

    Senhoras , pasmado es tou

    Em ver como a na tureza

    Se empenhou em vos fazer

    To che ias de ta l be l leza

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    55/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    E no t razeis um f igo

    F e i t o d e a l g u m c h i f r i n h o ,

    D ' e s t e q u e v e m a p o n t a n d o

    X a t e s t a de ca r ne i r inh o ?

    T O D A S A S P A S T O R A S .

    Para que t razer f igo ?

    V E L H O .

    P a r a p r e s e r v a r d o q u e b r a n t o

    To fo r t e e a r renegado ,

    Que em vs causar puder

    O s o lhos de um namorado .

    T O D A S .

    X o me lho r , s enhor V e lho ,

    V oc nas con tas pega r?

    Xo queira se fazer bobo,

    D e ixe - se de namora r .

    V E L H O .

    Quem fa l lou , po is , n ' i s to agora?

    E u a i n d a s o u c h u l e n t o ,

    E quando vejo cousas boas

    F ico logo c iumen to .

    Vocs vo para Belm,

    E u t a m b m q u e r o s e g u i r ,

    Fazendo meus r i s cos inhos

    Para a s cade i ra s bu l i r .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    SERENATAS E SARUS

    TODAS

    Com summo gos to e p razer

    V a m o s j pa ra Be lm,

    A d o r a r o D e u s M e n in o

    Q u e

    todo nosso

    Bem.

    C A N T A M

    A

    M A R C H A .

    Vamos todos mui contentes

    A Jesus, f irme, adorar,

    Po i s nasceu

    em um

    presepe

    P a r a a todos nos salvar.

    L A

    DO

    V E L H O .

    N a d a t e n h o que pedir-vos

    S e n ouma s cous inha ,

    Q u e c a r n e do serto ,

    R a p a d u r a com fa r inha .

    L A

    DA l .

    a

    E 2 .

    a

    P A S T O R A S .

    Tiei Supremo

    e

    Creador ,

    D e u s

    de

    i m m e n s a t e r n u r a ,

    Accei tae nossos louvores

    J e s u s , p a ra ns,v e n tu ra .

    L A

    DA 3 .

    a

    E 4 .

    a

    P A S T O R A S .

    Com amor firme

    e

    cons tan te ,

    E s t a s P a s to ra s

    vos vem

    Adorar , po is

    que

    nascen tes

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    B A I L E S P A S T O R I S 3 9

    C A N T A O V E L H O .

    P a s t o r a s a m a n t e s ,

    Com fervor rend ido ,

    Pres t ae vosso amor

    A Jesus nasc ido .

    (Repetem, todos o mesmo.)

    Seu bero enfe i temos

    Com b ra n d a s florinhas;

    Can temos , dansemos ,

    L i n d a s p a s t o r i n h a s .

    (Repetem todos o mesmo.)

    Can temos , dansemos ,

    Com grata fo l ia ,

    A d o r e m o s J e s u s ,

    E a V i rg em M ar ia .

    (Repetem todos o mesmo.)

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    B A I L E DO C A A D O R

    SAHE o CAADOR e canta :

    G i r a n d o comtodo em penh o ,

    A n d o n ' e s t a s e r r a e s c u r a ;

    Q u a n t o m a i s eu sou infel iz,

    M a i s a v o n t a d e me apu ra .

    C A N T A B A I L A N D O .

    P o r m , no impor t a ,

    Q u ' e u no ma te caa ;

    Como

    me

    d iv i r to ,

    N a d a

    me

    e m b a r a a .

    F A L L A .

    E ' m e l h o r d i v e r t i m e n t o

    A n d a r no m a t to caando ,

    D o que e s t a r m e t t i d o em casa

    Em var i a s cousas cu idando .

    I n d a que um h o m e m no m a t e ,

    S e m p r e a c h o que comer,

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    4 2 S E R E N A T A S E S A R U S

    O mesmo que n^es te ins tante

    Sem espera r v im a te r .

    Eu que andava caando

    Com pouca fe l ic idade ,

    Pois que nem uma s perd iz

    P u d e m a ta r n a v e rd a d e .

    E n c o n t r e i d u a s m e n in a s

    Mais fel izes do que eu,

    Que ma ta ram sua caa ,

    Que a sor te no me deu.

    E n c o n t r a n d o -a s m e p e d i r a m

    Que lhes ens inasse o caminho ,

    P a ra i r e m B e l m

    Vis i t a r o Deus Men ino .

    Eu tambm pa ra l i a ,

    E por nada ter que levar ,

    Pedi as suas perdizes

    Por p rmio de as ens inar .

    P ro m p ta m e n te e l l a s m e d e ra m ,

    Mas o pago que eu lhes dei?

    Safe i-me mais que de pressa ,

    E no caminho as de ixe i .

    M a s ,

    a h outras aqu i chegam ;

    Se acaso t rouxerem caa ,

    Sem paga rem o t r ibu to ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    61/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    7

    i 3

    vvHEir

    DUAS PASTORAS,

    cantando:

    A h q u e m n o s d e r a, m a n i n h a ,

    A c h a r m o s p a r a n o s s o b e m

    Q uem nos ens ine o caminho

    P a r a i r m o s a B e l m .

    CANTAM,

    bailando.

    P o r m , j p e r d i d a s

    M a n i n h a , e s t a m o s ;

    E nem quem nos gu ie

    X o e n c o n t r a m o s .

    F A L L A O C A A D O R .

    X o encon t ram, e s sa ba

    Pois eu no es tou aqu i ,

    Que j f iz con ta em gu iar -vos

    A ssim qu e de lon ge as v i ?

    M e d iga m , p ar a onde vo ?

    l .

    a

    E 2 .

    a

    PASTORAS.

    X s v a m o s p a r a B e l m ,

    V is i t a r o D e us M en ino ,

    Q u e n a s c e u n a t e r r a h u m a n a ,

    Sendo El le t o d iv ino .

    C A A D O R .

    V e j a m q u e B e l m l o n g e ;

    Mas se me derem a caa,

    Vou bem depressa as gu iar ,

    P o i s d e n a d a m e e m b a r a a

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    62/311

    4 4

    S ER E N A TA S E S AR US

    l .

    a

    P A S T O R A P A R A A 2 .

    a

    -

    Que d iz , man inha , demos?

    2 .

    a

    P A S T O R A P A R A A l .

    a

    .

    Elle que perca o cu idado .

    CAADOR.

    Quando vocs no que i ram

    Nada en to t emos t ra tado .

    l .

    a

    E 2 .

    a

    PASTORAS.

    E que remdio ns temos ,

    Nes te lance em que es tamos?

    Tomae, senhor , os pombinhos ,

    Cumpra seu in ten to , e vamos .

    CAADOR.

    Acceito, bem sei por que,

    E digo j de uma vez ,

    No quero, pois , que vocs,

    Me tenham por descor tez .

    S A H E M A 3 .

    a

    E 4 .

    a

    P A S T O R A S , E F A L I A A ^ .

    C est o caador,

    Que as perdizes nos tomou.

    4 .

    a

    P A S T O R A .

    Agora nos paga r

    O damno que nos causou .

    > a

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    63/311

    BAILES PASTORIS

    4 5

    CAADOR.

    Calem a boca , senhoras ,

    N o me de i t em a pe rde r .

    3 .

    a

    E 4 .

    a

    PASTORAS.

    Quer que ca le a t ra io

    Q ue

    comnosco qu iz fazer?

    l .

    a

    E 2 .

    a

    PASTORAS PARA A 3 .

    a

    E 4 .

    a

    .

    Senhoras , vs t ambm ides

    A ' B e l m c o m o n s v a m o s ?

    3 .

    a

    E 4 .

    a

    PASTORAS.

    S i m ,

    senhoras , vamos todas

    Pois que j bem per to es tamos .

    l

    a

    E 2

    a

    PASTORAS PARA O CAADOR

    Ento , s enhor caado r ,

    H es t i t ua o que lhe demos ,

    No queremos que nos ens ine ,

    Po i s o caminho sabemos .

    CAADOR.

    Es ta ago ra a inda me lho r ,

    J es tou ago niado ;

    X o re s t i t uo ma i s nada ,

    O que me deram, es t dado .

    TODAS.

    I s to e ra bom, la rgue os pombos ,

    Q ue voc no ma tou nada ;

    3.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    4 6 S E R E N A T A S E S A R U S

    Quer ia da nossa caada . . .

    Desta voc no re nada .

    C A N T A M A l .

    a

    E 2 .

    a

    P A S T O R A S .

    Se voc queria

    Da nossa caada,

    Descance seu pei to ,

    Voc no re nada .

    C A NT A M A 3 .

    a

    E 4 .

    a

    .

    Se pa ra log ra r -nos

    Se poz nes ta es trada ,

    Em to grande d ia ,

    Voc no re nada .

    P R I M E I R A E S E G U N D A .

    Sua m teno

    J se v frus trada ;

    Porque dos pombinhos

    Voc no re nada.

    T E R C E I R A E Q U A R T A .

    Por isso fingiu-se

    Nosso camarada ,

    Para nos lograr ,

    Voc no re nada.

    P R I M E I R A E S E G U N D A .

    Se fazer queria

    Alguma t ra tada ,

    Para nos roubar ,

    Voc no re nada.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    65/311

    B A I L E S P A S T O R I S 7

    T E R C E I R A E Q U A R T A .

    Esta nossa caa

    J vae des t inada

    P a r a o D e u s M e n i n o ;

    Voc no re nada .

    F A L L A O C A A D O R .

    Suspendei vossos enfados ,

    B as t a j t an to r igo r ;

    Vejam que des ta des fe i ta

    Eu no sou merecedor :

    Se a vossa caa tomei

    F o i p o r u m d i v e r t i m e n t o .

    T O D A S .

    E t ambm de nos log ra r ,

    V o c t i n h a g r a n d e i n t e n t o .

    C A A D OR .

    Ora, po is , se me de ixassem,

    Com gosto i r ia levando ;

    Mas , como no consen t i r am,

    Men inas , eu e s t ava b r incando .

    T O D A S .

    Vejam l que ta l e l le ,

    Este era o seu des t ino ;

    Pois saiba que a nossa caa

    V ae de mimo a D eus Men ino .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    48 SERENATAS E SARUS

    CAADOR

    Eu por saber d'isso mesmo

    No quiz frus trar vosso in tento ;

    Pois quero applaudir com gosto

    Es te San to Nasc imen to .

    Mas como nada possuo,

    Minh/a lma lhe offer tare i :

    O meu corao amante

    Com vontade lhe dare i .

    T O D A S .

    Pois ento, sem mais demora ,

    Como nul lo o seu in tento ,

    Vamos applaudi r com gos to

    Es te San to Nasc imen to .

    CAADOR.

    Vamos com mui ta a leg r ia

    Formando um ba i l e a famado ,

    Que por baile das caadoras

    Ficar appe l l idado .

    Eu p r ime i ro can ta re i ,

    Depois vs me acompanhando ,

    I remos en to con ten te s

    P a r a B e l m c a m i n h a n d o .

    C A N T A M A M A R C H A .

    Pas tor inhas e pas tores

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    67/311

    BAILES PASTORIS 4 9

    V amos v r um D eus Men ino ,

    Q ue nasceu p ' r a nos so bem.

    CANTA O CAADOR.

    Demos louvores

    Com todo agrado

    A o D eus Men ino ,

    V e r b o E n c a r n a d o .

    CANTAM A l .

    a

    E 2 .

    a

    PASTORAS.

    Estas las e perd izes ,

    A c c e i t a e , V e r b o E n c a r n a d o ;

    Pois , para vos offertar

    J a s t i nha des t inado .

    CANTA O CAADOR.

    Demos louvores

    Com todo agrado

    A o D eus Men ino ,

    V e r b o E n c a r n a d o .

    CANTAM l .

    a

    E 2 .

    a

    PASTORAS.

    A cce i t ae , meu D eus Men ino ,

    A caada que fizemos ;

    Acce i tae por vosso amor ,

    P o i s ,

    Senhor , nada ma i s t emos .

    Demos louvores

    Com todo agrado

    A o D eus Men ino ,

    V e r b o E n c a r n a d o .

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    SERENATAS E SARUS

    CANTA O CAADOR

    Acce i tae , meu Deus Men ino

    Meu s ince ro co rao ;

    Accei tae por vosso amor,

    Minha f i rme adorao.

    Demos louvores

    Com todo agrado

    Ao Deus Men ino ,

    V e r b o E n c a r n a d o .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    B A I L E

    D O S M A R U J O S

    CANTAM TODOS, dentro.

    F e r r a , f e r r a ,

    V a m o s c i m a ;

    O h q u e t u g a g e i ro g r a n d e ,

    O h l se avis tas terra .

    F e r r a , f e r r a ,

    V a m o s c i m a ;

    F e r r a m o s o p a n n o ,

    Sa l tamos te r ra .

    S A H E M

    os

    M A R U J O S , cantando:

    V amos , Pas to res Maru jos ,

    C a m i n h a n d o p a r a B e l m ,

    V amos ve r J e sus nasc ido ,

    N osso In fan te , nos so Bem.

    A m e s m a n o s s a j o r n a d a

    E l l e

    n o s

    queira

    a juda r ,

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    SERENATAS E SARUS

    A vender nossas fazendas ,

    Para termos que offer tar .

    J no tenho mais d inhe i ro ,

    Nem tenho dez r is de meu;

    Pa ra bebe r na t ave rna

    A in d a a lg u m t e n h o e u .

    Sa l tmos do mar te r ra

    Em c ima de um ba r r i l :

    As ondas do mar so tantas

    Que nos t rouxe ram aqu i .

    Louvar vamos depressa

    Ao nosso Jesus Menino ;

    J que E l le nasceu

    No mundo, sendo Div ino .

    Depressa , j sem demora

    Vamos logo caminhando ,

    Pa ra na nossa jo rnada

    I rmos con ten te s b r incando .

    F A L L A O 1 . M A R U J O .

    A i, a i , senhor pa t ro ,

    Temos chegado Be lm :

    Levo paio, e um petisco

    Do bel lo lombo aadi to ,

    Que par t ido em pedaos

    Chega para es te ranch i to :

    Hoje no i te de Xata l ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    SERENATAS E SARUS

    Com contento e alegria ,

    Para

    adora rmos

    a

    Jesus,

    F i l h o d a V i rg e m Ma r i a

    P o r t a n t o , m e u s companheiros,

    N o h a j a aqui mais demora;

    Vamos depressa louvar

    A' Jesus e Nossa Senhora.

    o.

    M A R U J O .

    Este o nosso gosto,

    E po r isso a q u i viemos ;

    E j que es tamos juntos

    Xosso bai le entoaremos.

    Ba i lando com hones t idade ,

    Sem haver entre ns pejo :

    Por nossa l ivre vontade

    E' o que temos desejo.

    l .

    a

    S A L O I A .

    E ns , manas , sem demora ,

    Ba i le vamos en toar :

    Cantemos com a legr ia

    A quem nos veio salvar.

    2 .

    a

    S A L O I A .

    Eu por mim j p rompta es tou ,

    Para a Jesus i r louvar ;

    Pois meu corao s deseja

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    73/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    3 .

    a

    S A L O I A .

    Eu tambm com af fe io ,

    A ve r o In fan te mimoso ,

    Meu corao s aspira ,

    A E l l e - se r ex t remoso .

    C O M E A O B A I L E .

    C o m m u i t a h o n e s t i d a d e

    V amos a J esus louvar ;

    Po is ho je aqu i v iemos

    P ' ra con ten tes o ado ra r .

    P o i s n ' e s t a g r u t a n a s c e u

    Quem nos ve io sa lvar ;

    E por isso com alegria

    Ba i l e vamos en toa r .

    C o m m u i t a h u m i l h a o

    Rendemos aqu i l ouvores ,

    P o r n a s c e r h o j e n o m u n d o

    O Rei , Senhor dos senhores .

    L A D O P A T R O .

    M e u J e s u s , m e u s u m m o B e m ,

    S vos peo fe l ic idade

    P ' r a que nas ondas do mar

    N a v e g u e m i n h a v o n t a d e .

    L A D O 1 . M A R U J O .

    Com con ten to e a l eg r i a

    Vos rendo aqu i mi l louvores ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    74/311

    SERENATAS E SARUS

    Para q ue das tempestades

    Abatais os seus furores.

    L A D A l .

    a

    SALOIA.

    Estas bellas hortalias

    Aqui vos trago viosas,

    Para as minhas expresses

    Serem a vs amorosas.

    L A D O 2 . M A R U J O .

    Eu, meu Jesus Menino ,

    Vos louvo humildemente ,

    Para que com pannos cheios

    Eu navegue mui con ten te .

    L A D A 2 .

    a

    SALOIA.

    Nada tenho que t razer -vos

    Seno o meu corao,

    Pois"vos am a a rden tem en te

    Com a mais v iva paixo.

    L A D O 3 . M A R U J O .

    S quero com vento popa

    N a v e g a r s a u d a v e lm e n te ,

    P ' r a quando sa l t a r em te r ra

    Vir ve r toda es ta gen te .

    L A D A 3 .

    a

    S A L O I A .

    Aqui j pe ran te Vs

    Quero louvores render ,

    Pa ra que na E te rna Glo r ia

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    77/311

    B A I L E D O S M O U R O S

    CANTAM

    D E N T R O .

    Q ue no i t e t o ven tu rosa ,

    Grato prazer nos figura,

    Pa rece que a mesma no i t e

    Insp i ra l e i s ma i s pu ra .

    SAHE DURINDO, cantando

    :

    L dos montes , onde v ivo .

    V e n h o c o m g r a n d e c u i d a d o ,

    A dora r um D eus nasc ido ,

    C o r d e i r i n h o I m m a c u l a d o .

    VOLTA.

    Todos con ten tes

    V e n h a m a d o r a r ,

    A Jesus que nasceu

    Para nos s a lva r . (Vae-sc.)

    SAHEM QUATRO PASTORAS

    6 Cantam.

    J v i emos , companhe i ra s ,

    Todas jun tas de jo rnada ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    78/311

    0 0 SERENATA S E SARUS

    Devemos descanar ,

    Aqui fazemos parada .

    VOLTA.

    Por Dur indo esperemos

    Todas conten tes ,

    E faremos festejos

    Mui d i l igen te s .

    (Cantam as pastoras sentadas, tendo as

    cabeas inclinadas sobre os peitos.)

    At onde es tendo a v is ta

    No posso ver meu pastor,

    Pa ra i rmos Be lm

    A Jesus render louvor .

    P A L L A A l .

    a

    P A S T O R A .

    Maninhas , ns todas qua t ro

    Havemos aqui espera r

    At que Dur indo chegue ,

    Pa ra nos acompanha r .

    F A L L A A 2 .

    a

    P A S T O R A .

    Sem que Dur indo no chegue

    No me hei de separar ;

    Quero esperar por e l le

    Para a Jesus i r louvar .

    F A LL A A 3 .

    a

    PASTORA.

    E m q u a n to D u r in d o c h e g a ,

    Vamos um pouco can ta r :

    Espe remos po r Dur indo

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    79/311

    B A I L E S P A S T O R I S 6 1

    F A L L A A 4 .

    a

    P A S T O R A .

    A gora que e s t amos jun tas ,

    D evemos , po i s , e spe ra r ;

    Po i s eu c re io que D ur indo

    N o h a d e m u i t o t a r d a r .

    C A N T A M T O D A S .

    A t onde e s t endo a v i s t a

    No posso ver meu pas to r ,

    P a r a i r m o s B e l m

    A Jesus r ender l ouvor .

    (Sahem quatro mouros, e cada um apodera-se

    de uma pastora; as vo prendendo e

    dizendo.)

    L e v a n t a e - v o s , g e n t i s n y m p h a s , o h P a s t o r a s ,

    Dos laos que amor e Morpheu vos tem prend ido ,

    Po is a l iberdade que t inhe is t agora

    Em poder de ns ou t ros a t ens perd ido .

    F A L L A M A S P A S T O R A S .

    Onde nos levaes , senhores ,

    C o m t a n t a r i g o r i d a d e ?

    F A L L A M O S M O U R O S .

    A le i do Gro Rei , nosso Senhor , manda ,

    Que devemos mos t ra r nosso va lor ;

    Po i s t endo de faze r t an t a s emprezas

    E ' jus to mos t ra r nossas p roezas .

    (Tomam as cestas e levam s Pastoras.)

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    02 SERENATAS E SARUS

    SAHE DURINDO,

    cantando

    L d o s m o n t e s , o n d e v i v o ,

    V e n h o c o m g r a n d e c u i d a d o

    A d o r a r u m D e u s n a s c i d o ,

    C o r d e i r i n h o I m m a c u l a d o

    T o d o s c o n t e n t e s

    V e n h a a d o r a r ,

    A J e s u s , q u e n a s c e u

    P a r a n o s s a l v a r .

    FALLA DURINDO.

    O n d e e s t o m i n h a s p a s t o r a s ?

    E u a q u i j n o a s v e j o ;

    A c a s o s e e s c o n d e r i a m

    P o r a l g u m m o t i v o o u p e j o ?

    CANTAM DENTRO AS PASTORAS.

    C o m o c a p t i v a s , s e n h o r ,

    V i v e m o s s e m l i b e r d a d e ,

    E m p o d e r d e u n s t y r a n n o s

    Q u e d e p r e z a m a c h r i s t a n d a d e .

    DURINDO.

    Q u e v o z e s e u o u o l o n g e

    O c a n t o m u i t o s e n t i d o :

    S o m i n h a s b e l l a s p a s t o r a s

    Q u e e s t o e m t r a b a l h o s m e t t i d a s .

    CANTAM DENTRO AS PASTORAS.

    C o m o c a p t i v a s , s e n h o r ,

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    BAILES PASTORIS 6 3

    E m p o d e r d e u n s t y r a n n o s

    Q ue desp rezam a Chr i s t andade .

    DURINDO.

    Que ouo, so e l las mesmas: ,

    D e ixa re i mon tes e va l l e s ,

    Correre i desesperado

    Para l iv ra l -as dos males :

    Po r s e r ra s e despenhados

    I re i j a s p rocu ra r ,

    Pa ra com gos to ao Men ino

    I r e m c o n t e n t e s l o u v a r . (Vae-se.)

    DURINDO PARA AS PASTORAS,

    que voltam.

    Que fazem, be l las Pas to ras ,

    Q u e m a q u i a s c o n d u z i u?

    AS PASTORAS.

    X s es t vamos ado rmec idas ,

    Q uando v i e ram os ty rannos ;

    N o s p r e n d e r a m c o m c o r r e n t e s

    Como feros , deshumanos .

    SOLTA DURINDO AS PASTORAS,

    C diz

    .*

    Promet to , f de pas to r ,

    De todos aqu i t razer

    Presos em umas co r ren tes

    Ao Menino offerecer .

    A p e z a r d a m i n h a m o r t e

    Hei de a f sempre exa l ta r ,

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    82/311

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    83/311

    BAILES PASTORIS 6 5

    H o m e m

    que com sua voz

    Faz tremer

    t o d o o i n f e r n o

    os MOUROS.

    J que por adorao ,

    F a r e m o s m o u r i s c a A l d a ,

    E um perfe i to pos t i lho .

    (Executam os Mouros uma marcha fazendo

    venia ao Presepe, e depois juntam-se todos,

    e Durindo baila com as Pastoras, e vo-se,

    indo os Mouros sempre atraz.)

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    85/311

    B A I L E D A A G U A R D E N T E

    SAHE

    o

    GUIA,

    cantando

    :

    Q u e pr ad os t o florescentes

    X e s t e d i a d e p r a z e r

    V inde j , oh Camponezes ,

    A Jesus louvor r ender .

    VOLTA.

    E u

    que ro bebe r

    B e b i d a h u m a n a ,

    Po is es t em uso

    A be l la cayana .

    FALLA O GUIA.

    No se deve escurecer ,

    N em se deve ma i s nega r ,

    Que es te modo de beber

    Es t pe la gen te boa :

    B e m

    q u e

    a

    m i n h a p e s s o a

    Tambm

    en t re no louvado ,

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    6 8 S ER EN A TA S

    E

    SARUS

    Se os m a is no tm gostado,

    Fao

    o que meu

    gosto pede,

    Nem todo aquel le

    que beb(\

    Se pde chamar chumbado.

    SAHEM DUAS PASTORAS, cantando :

    N o se encon t ra uma choupana ,

    P a r a

    a

    gente conviver ,

    N'es tes deser tos

    no ha

    Que comer ,nem que beber.

    VOL T A.

    Se aqui encont ra rmos

    Alguma beb ida ,

    I remos conten tes

    Da nossa vida.

    FALLAA l

    a

    PASTORA PARAOGUIA

    Voc com esta garrafa

    N 'e s te caminho en t re t ido ,

    D e i x aver se leva dentro

    Algum codrio sor t ido.

    2 .

    a

    P A S T O R A .

    Senhor , de ixever a prova

    Des ta beb ida exce l len te

    ;

    Suado no bebo vinho,

    0 m e lh o r

    agua rden te .

    G U I A .

    No duv ido

    de lhe dar,

    Mas quero beber p r imeiro

    :

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    87/311

    BAILES PASTORIS 6 9

    No posso vender f iado,

    Po i s cus tou o meu d inhe i ro .

    o G U I A bebe e diz:

    L vae a p rova .

    l .

    a

    PASTORA, bebendo :

    O h q u e b e b i d a t o s a n t a

    2 .

    a

    PASTORA, bebendo:

    E ' gos to sa a g i r impana .

    O

    GULA,

    recebe a garrafa e diz :

    E ' fo r t e a minha cayana .

    SAHEM DUAS PASTORAS,

    cantando:.

    N ossas man inhas j fo ram,

    Que nos serv i ram de gu ia ,

    V amos ve r s e encon t ramos

    P a r a n o s s a c o m p a n h i a .

    VOLTA.

    X s ago ra , manas ,

    V amos t o suadas ,

    Po i s ha mu i to s d i a s

    N o bebemos nada .

    F A LL A A 3 .

    a

    PASTORA.

    A g o r a s i m , m i n h a m a n a ,

    T en ho a v i agem venc ida ;

    P e r g u n t e q u e l l e s e n h o r ,

    S e v e n d e a l g u m a b e b i d a ?

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    B A I L E S P A S T O R I S 7 1

    C A N T A M A S Q U A T R O P A S T O R A S .

    Q uem n ' e s t a ra

    N o b e b e a g u a r d e n t e ,

    Xo tem bom gos to ,

    No conviven te .

    (Repetem todos o mesmo.)

    C A N T A O G U I A .

    A be l l a cayana

    S e m p r e a p p l a u d i d a ,

    Para as gen tes boas

    E ' s an ta beb ida .

    (Repetem todos o mesmo.)

    C A N T A M A S P A S T O R A S .

    Q uem n ' e s t a ra

    N o b e b e a g u a r d e n t e ,

    X o t em bom gos to ,

    X o conv iven te .

    (Repetem todos o mesmo

    e ficam todos bbados.)

    T O D A S A S P A S T O R A S .

    Voc, senhor conviven te ,

    N o sabemos seu des t ino ;

    V oc vae pa ra Be lm

    A d o r a r o D e u s M e n i n o

    G U I A .

    Veja como es to vocs

    D a cay ana t o tom adas ;

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    90/311

    7 2 S E R E N A T A S E S A R U S

    Vocs no vm o presepe :

    Como es to embr iagadas

    T O D A S A S P A S T O R A S .

    J que chegamos a ver

    Nascido o Infante Mess ias ,

    Demos graas, e louvores

    Com prazer e alegria .

    A sade deste gosto

    Bebamos ma is agua rden te ,

    Para j de uma vez

    Ficarmos mui conviven tes .

    G U I A .

    Deixemos de br incade i ras ,

    Vocs j esto ch up ad as ;

    No bebam mais a cayana,

    Seno ficam descaradas.

    T O D A S A S P A S T O R A S .

    Est bem, vamos agora

    Ao Sol Div ino adora r ;

    Deixemos, pois , a cayana,

    Para em casa se chupar .

    T O D O S .

    Agora s im, satisfeitos ,

    Com firme amor e contento,

    Adoremos mui humi ldes

    O Sagrado Nasc imento .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    BAILES PASTORIS 7 3

    LA DO GUIA.

    M e u M e n i n o , t o m a e c o n t a

    D es te pas to rz inho chupado ,

    D epo i s que a Be lm chegou

    X o se l embra ma i s de nada .

    LA DA l .

    a

    E 2 .

    a

    PASTORAS.

    M e u M e n i n o p e q u e n i n o ,

    Eu es tou mu i to me l l ada ;

    Mas , com Vossa a l ta p resena ,

    N o me l embro ma i s de nada .

    L A D A 3 .

    a

    E 4 .

    a

    PASTORAS.

    Eu no de ixo de es ta r

    Com a cabea mui pesada ,

    M a s ,

    vista do que vejo,

    N o m e l e m b r o m a i s d e n a d a .

    CANTA O GUIA.

    Louvores , app lausos ,

    A o D eus Men ino ,

    H u m i l d e s r e n d e m o s ,

    Que o So l Div ino .

    L i n d a s c a n t i l e n a s ,

    Amor casto e f ino,

    A m a n t e s r e n d e m o s

    A o D e u s M e n i n o .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    B A I L E

    DO

    M E I R I N H O

    SAHE A l.

    a

    PASTORA e canta

    As f lores mimosas

    D e m u i t o s p r i m o r e s .

    C A N T A

    O

    S O L D A D O .

    V e n h a c, m e n i n a ,

    Se ja meus amores .

    F A L L A

    O

    S O L D A D O .

    A d o r a d a s e n h o r a ,

    E u

    que com

    b a l a s a r d e n t e s

    das

    m eu s o lhos ,

    E m p r e g a n d o nas t r i n c h e i r a s do teu pei to ,

    Communica r dese joo ques i n t o n e s t e p e it o :

    M a s ,

    p a r a em tudo ficar bem sat isfei to,

    E u , q u e r o m p e n d o

    o

    ba ta lh o dos te u s affectos ,

    M a r c h a n d o em c o l u m n a dosteu s car inh os

    Dese jo que agora tenhas dde um coi tadinho. . .

    P A S T O R A .

    M e u s e n h o r ,no preciso

    Q ue com umapobre pas to ra

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    7 6 S E R E N A T A S E S A R U S

    Rompa tan tos embaraos ,

    Pois que nisso sou uma to la ;

    Eu s o que quero vr

    Se por aqu i querem chegar ,

    Alguns moos ch iban t inhos

    Que queiram f lores comprar .

    S O L D A D O .

    Pois ,

    menina, so flores

    Que voc es t vendendo?

    Olha que be l lo tope

    J comprar es tou querendo.

    Pois met tendo nes te pe i to

    Hei de ficar florecido :

    O h

    que bello

    es tou bon i to

    Sempre sou mui des t imido .

    P A S T O R A .

    Camarada, deite as flores onde achou,

    No v no pei to as mettendo,

    Se quizer servir-se dellas ,

    Venha o d inhe i ro correndo .

    S O L D A D O .

    Pois ,

    men ina , p re tendes

    De m im receber d inh e i ro ?

    Olha que deste effeito

    Te nh o m ui t o de l ige i ro ;

    Se quizer em paga disso

    Alguns affectos corujos,

    Algumas pa ixes banda lhas ,

    In d a b e m : m a s d in h e i ro ? . . .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    P .A I LE S P A S T O R I S 7 7

    N o o t en ho p a ra lhe da r ,

    E se t ivesse, com voc ia gastar.

    P A S T O R A .

    Camarada dei te as f lores

    O n d e v o s m i n c a c h o u ;

    Promet to que de sua v i s t a

    De repen te j me vou .

    S O L D A D O .

    Se quizer as suas flores

    H a d e p r i m e i r o c a n t a r

    U m d u e t i n h o d e a m o r ,

    Q u e l h e q u e r o a c o m p a n h a r .

    P A S T O R A .

    Meu senhor , no se i can tar ,

    Deixe-me por v ida sua ,

    Deixe j as minhas f lores

    Que eu p romet to no ser sua .

    S O L D A D O .

    Tome l as suas flores,

    V e j a q u e e s t a v a b r i n c a n d o ;

    No pense que as quer ia ,

    Po is es tava cha laando .

    No prec i sa se enfadar ,

    S e j a m i n h a e t e r n a m e n t e ,

    Q ue eu lhe p romet to s e r

    Sempre f i rme e obediente .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    96/311

    7S SERENATAS E SAUUS

    PASTORA

    Obr igada , meu senhor.

    SAHE

    A

    2.

    a

    PASTORA

    e

    canta

    :

    As be l las f ruc t inhas

    F az bom pa ladar .

    C ANT A

    O

    E S T U D A N T E .

    V e n h a c m e n in a ,

    Q ue as quero comprar .

    F A L L A O E S T U D A N T E .

    Adorada senhora , o a lphabe to do teu peito

    Unindo-se aos vo lumes de m i n h ' a l m a ,

    F az

    que com a

    U n iv e r s id a d e

    do teu

    corpo

    Viva abrazada em duas chammas .

    E u que revendo os l ivros das razes,

    Segundo a confuso do teu querer ,

    A c h e i

    na

    prosdia

    dos

    teus olhos

    U m a m o rque no posso entender.

    P A S T O R A .

    Se com prosas, senh or Esco lastico,

    E '

    que me

    p re tend e apanh a r ,

    Peo que se desmag ine ,

    E me deixe negociar :

    Pois foi pa ra o que vim,

    E

    no

    para conversar .

    E S T U D A N T E .

    Pois , m e n i n a , no se inf lamme,

    No fuja do meu que re r;

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    97/311

    BAILES PASTORIS 7 9

    V eja que e s tou p rompto

    Para em tudo a obedecer .

    A s f ruc t a s que e s t s vendendo

    Compra l -a s t odas j que ro ;

    Deixe-me ver o bom gos to ,

    E pelo preo, eu espero .

    PASTORA.

    A s m i n h a s r i c a s m a s

    So doces , e mui to bel las ;

    As uvas tambm so doces ,

    O l h e a q u i b e m p a r a e l l a s

    As mas a t rs por dous ,

    E ' po r quan to e s tou vendendo :

    Veja se lhe fazem conta

    E v en ha o d inh e i ro co r rendo .

    E S T U D A N T E .

    S i m s e n h o r a , m u i t o b e m ,

    D e i x e p r o v a l - a s p r i m e i r o ;

    Se fo rem do meu agrado ,

    D are i en t o o d inhe i ro .

    PASTORA.

    Prova l -a s no sou eu to l a

    Para que em ta l cousa ca ia :

    V ao te r re i ro do Pao

    Com out ra t i ra r a l fa ia .

    S A H E A R E G A T E I R A

    C Canta

    .*

    Os bellos gorazes,

    Eu es tou vendendo :

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

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    8 0 S E R E N A T A S E S A R U S

    C A N T A O M E I R I N n O .

    Bel la Rega te i ra ,

    Por t i es tou morrendo.

    F A L L A O M E T R I N H O .

    Bel l i s s ima senhora ,

    O praso da notificao dos teus colloquios,

    E ' p rovada causa dos que ixumes ;

    Eis-me sentenciado como ro

    Dos teus affectos, mimos e cimes.

    F A L L A A R E G A T E I R A .

    Meu senhor , de jus t ia nada en tendo;

    Nunca pape i s p rocu re i ;

    E penso que a lguns recados

    Tambm nunca os leve i :

    E ass im v-se andando,

    No me venhas empa ta r ,

    Deixe-me com os meus peixes

    Hoje aqui negociar .

    M E I R I N H O .

    A mim no ds aud inc ia ,

    Desconheces meu poder?

    No sabes que tenho ordem

    H o je a q u i p a ra p r e n d e r?

    R E G A T E I R A .

    P r e n d e r - m e

    V - s e d ' a q u i m a n d r i o ;

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    99/311

    BAILES PASTORIS 8 1

    V ve r a lguma to l a ,

    Q ue voc lhe pas se a mo :

    D i g a - m e , p o r q u e r a z o

    Q uer -me voc p render ;

    Se pe los seus car inhos . . .

    No os quero receber .

    MEIRINHO.

    E pouco c r ime?

    SAHE A

    PA D E IRA e canta :

    Eu, como padei ra ,

    Pes e s tou vendendo :

    CANTA O MARUJO.

    T r a b a l h o s , m e u b e m ,

    Por t i estou soffrendo.

    FALLA O

    MARUJO.

    A i

    a i q u e r id a p r e n d a

    Mal de i te i o o i tan te nos teus o lhos ,

    E n a t u a g r a m m a t i c a b e l l e z a ,

    Lance i mo pe las ensa las ,

    Subi com grande des t reza .

    FALLA A PADEIRA.

    O ' l , s enhor navegan te ,

    Suas supp l i cas no en tendo :

    Se quer comprar os meus pes ,

    J , com gos to , vou vendendo .

    5.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    100/311

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    101/311

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    102/311

    84 S E R E N A T A S E SARUS

    E S T U D A N T E .

    P e l a m e n i n a das fructas

    H e i de p a g a r - lh e o t r a b a lh o;

    Escusado pois prendel-a ,

    E dar-se- to grande abalo .

    SOLDADO.

    P e l a m e n i n a das flores

    No pago , nem t e n h o t e n o ;

    N e m o senhor official

    N ' e l l a ha de pr a mo.

    M E I R I N H O .

    I s t o

    por

    v a l e n t i a ?

    SOLDADO.

    E' porque muito confio

    N e s t a sua b izarr ia .

    M A R U J O .

    C sobre este

    meu

    bote

    Voc no ha de embarcar ,

    Q u a n d ono, no espinhao

    A faca lhe hei de cravar .

    M E I R I N H O .

    Pois com a rmas proh ib idas

    Me que r agora a taca r?

    MARUJO.

    C comigono sei :

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    103/311

    BA ILES PASTORIS 8 5

    M E I R I N H O .

    P o i s c o m a m i n h a R e g a t e a r a

    E u m e h e i d e d e s p i c a r ;

    E l l a ha de s e r a p r ime i ra ,

    Que cadeia hei de levar :

    J que t o va l en tona ,

    E n o m e q u e r p o r a m a n t e ,

    O ra venha pa ra a cada ,

    J e j , nes t e i n s t an te .

    R E G A T E I R A .

    Senhor o f f ic ia l , t an ta ty rann ia

    P r e t e n d e c o m i g o u s a r ?

    M E I R I N H O .

    Usare i , e he i de usar .

    l .

    a

    PASTORA.

    Senhor , eu lhe peo . . .

    M E I R I N H O .

    N a d a , n a d a , v e n h a v i n d o .

    2 .

    a

    PASTORA.

    S e n h o r , p o r q u e m

    M E I R I N H O .

    N o en tendo de conversa .

    4 .

    a

    PASTORA.

    Senhor,

    a t t e n d a .

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    104/311

    8 0 S E R E N A T A S E S A R U S

    M E I R I N H O .

    De suppl icas no entendo.

    E S T U D A N T E .

    Agora supplico eu :

    Tenha d e compaixo.

    M E I R I N H O .

    Ora venha t ambm,

    Senhor meu, para a pr iso.

    C A N T A A R E G A T E I R A .

    Des ta pobre Rega te i ra

    Senhor , tende compaixo .

    C A N T A O M E I R I N H O .

    Executo ; sou mandado :

    Venha j para a pr iso.

    C A N T A M T O D O S .

    Perdoae dae-lhes sol tura ,

    N o ten ha s m o corao ;

    P rome t temos v ingadores

    Que ellas presas no vo, no.

    C A N T A O M E I R I N H O .

    Ho de vir , e ho de vir .

    CANTAM TODOS.

    N o , no vo, no.

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    105/311

    BAILES PASTORIS 8 7

    C A N T A O M E I R I N H O .

    Sim, s im, s im.

    FALLA O SOLDADO.

    Cons ide ro -me em campanha ,

    Com os in imigos em f ren te :

    Hei de mos t ra r o que posso ,

    E o q u e t e n h o d e v a l e n t e ;

    B o m b a s e g r a n a d a s

    Se acaso t ivesse p resen te ,

    Tudo desp resa r i a ho je

    P e l o m e u b r a o p o t e n t e .

    Com as minhas mos va lo rosas

    H e i de aqu i j a t aca r ,

    P r o m e t t o q u e n i n g u m ,

    A pr i so ha de parar .

    ESTUDANTE.

    M e u s l i v r o s , m i n h a G r a m m a t i c a ,

    E m f i m m e u P h e d r o e P r o s d i a ,

    N o m i n a t i v o s d o X o v o M e t h o d o

    M o s t r a r e i a q u i , m o s t r a r e i

    Mui t a s cousas que eu se i ;

    Que cousa mui to cer ta :

    Quid coget, fidem laudemus,

    Et solet meum gaudere.

    M A R U J O .

    F a r e i b o r d o p o r d a v a n t e

    Ca lando bem o t r aqu te ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    106/311

    8 8 SEREN ATA S F, SARUS

    Irei a foges de proa

    J de faca, ou de cacete;

    Quando no, o espinhao

    Lhe he i de p r em ax inha ;

    Lhe sacudirei j do corpo

    Tudo quan to fo r mor r inha .

    O M E I R I N H O P A R A O M A R U J O .

    Todo este seu poder

    J no me faz confuso ;

    Maior poder tenho eu,

    Com es ta vara na mo :

    No sabe que nes te ba irro

    Tambm mando , e t enho o rdem

    Para prendel-os a todos

    Se com igo fizerem deso rdem ?

    SOLDADO.

    P re n d e r- m e ora , e ssa boa,

    Passe d 'aqui , v br incar ;

    Onde se v iu um Meir inho

    P r e n d e r a u m m i l i t a r

    E S T U D A N T E .

    E a mim tambm o mesmo,

    Quem lhe deu ta l l ibe rdade ,

    D e p re n d e r u m E s tu d a n te ,

    Q u e c u r s a a U n iv e r s id a d e

    M A R U J O .

    O senhor official

    Comigo no faz far inha ,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    107/311

    B A I L E S P A S T O R I S

    8 9

    Seno

    j lhe

    sahe

    do

    corpo

    T u d o q u a n t o for m o r r i n h a .

    o MEIRINHO, para o Marujo.

    Cale a boca , senhor gar ru lho ,

    Q u e j noposso a t u ra r ,

    Seno com es ta vara

    Os ossos

    lhe hei de

    q u e b r a r .

    T O D O S .

    Oque d izes , insolente?

    MEIRINHO.

    D i g o , e obro d i l igen te .

    C A N T A M T O D O S .

    E s t e M e i r i n h o a t r e v i d o

    A q u i h o j e ha de acabar .

    C A N T A O M E I R I N H O .

    P o i s eu come s t a va ra

    Os ossoshei de q u e b r a r .

    C A N T A M T O D O S .

    P i e d a d e , p i e d a d e ;

    T e n h a de ns compa ixo .

    F A L L A O M E I R I N H O .

    E m l o u v o r do D e u s M e n i n o ,

    Es t o l i v res da p r i so .

    SAHE o VELHO e canta :

    P a s t o r i n h a s b e l l a s ,

    Q u e l i n d odia,

  • 7/23/2019 011953-1_COMPLETO

    108/311

    9 0

    S E R E N A T A S

    E

    S A R U S

    Com alegri