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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA

    PROJETO, CONSTRUO E PR-OPERAO DE UMDESTILADOR DE TECNOLOGIA HBRIDA PARA

    APLICAO EM UMA MICRODESTILARIA

    TESE DE DOUTORADO

    FLVIO DIAS MAYER

    Porto Alegre, RS

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA

    PROJETO, CONSTRUO E PR-OPERAO DE UMDESTILADOR DE TECNOLOGIA HBRIDA PARA

    APLICAO EM UMA MICRODESTILARIA

    FLVIO DIAS MAYER

    Tese de Doutorado apresentada comorequisito parcial para obteno do ttulode Doutor em Engenharia.

    rea de concentrao: Fenmenos deTransporte e Operaes Unitrias.

    Orientadores:

    Prof Liliana Amaral Fris, D.Sc.

    Prof Nilson Romeu Marcilio, D.Sc.

    Coorientador:

    Prof Ronaldo Hoffmann, D.Sc.

    Porto Alegre, RS

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    ESCOLA DE ENGENHARIA

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUMICA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA QUMICA

    A Comisso Examinadora, abaixo assinada, aprova a Tese Projeto, construo epr-operao de um destilador de tecnologia hbrida para aplicao em uma

    microdestilaria, elaborada por Flvio Dias Mayer como requisito parcial para aobteno do grau de Doutor em Engenharia.

    Comisso Examinadora:

    ____________________________________

    Prof. Dr. Pedro Juarez MeloUFRGS

    _____________________________________Prof. Dr. Daniel Assumpo BertuolUFSM

    _____________________________________

    Prof. Dr. Gabriela Silveira da RosaUNIPAMPA

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    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer s pessoas e instituies que contriburam para a

    realizao desse trabalho.

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela infraestrutura e suporte

    ao meu doutoramento.

    Universidade Federal de Santa Maria, pela disponibilizao da

    infraestrutura necessria realizao dessa pesquisa.

    Ao Ministrio de Cincia, Tecnologia e Inovao, pelo financiamento da

    pesquisa.

    Aos Professores Liliana Amaral Feris, Nilson Romeu Marcilio e Ronaldo

    Hoffmann, pela orientao e amizade.

    Coordenadoria de Aperfeioamento de Pessoal Tcnico de Nvel Superior,

    pelo suporte financeiro.

    empresa Limana Poliservios, pela cooperao tcnica.

    Professora Paula Bettio Staudt, pelo suporte com a simulao do processo.

    Aos Professores Nina Paula Salau e Claiton Moro Franchi e aos Acadmicos

    Henrique Magnago e Andr Jaques Ramos, pelo auxlio na instalao do sistema de

    controle operacional do equipamento.

    Ao Engenheiro Qumico Eduardo Birnfeld, pelo auxlio nas anlises

    cromatogrficas.

    Vanessa Baldo, Joo Pedro e Henrique pelo valoroso auxlio do

    desenvolvimento experimental desse trabalho.

    empresa VR Tech Tecnologias Industriais, pela disponibilizao do

    software iiSE, utilizado nas simulaes.

    Aos amigos Roger, Manuela, Odivan, Michel, Paulo, Nicholas, Thiago e

    Daniel, com que compartilhei inmeros momentos de alegria nessa caminhada.

    Agradeo, sobretudo, aos meus pais, Frederico e Sandra, e minha irm,Slvia, pelo apoio incondicional, pacincia e confiana, a quem dedico esse trabalho.

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    Resumo

    Este trabalho teve por objetivo avaliar a destilao de misturas

    hidroalcolicas em um destilador piloto, constitudo em formato hbrido, possuindo

    pratos e recheio nas sees de esgotamento e retificao, respectivamente. O

    estudo se aplica ao caso da produo de etanol em pequena escala em

    microdestilarias, que carecem de rendimentos maiores na etapa de destilao. As

    etapas desenvolvidas nessa pesquisa compreenderam o levantamento de

    informaes tcnicas de microdestilarias, a simulao do processo de destilao, o

    estudo da influncia dos componentes do leo fsel na separao etanol-gua, o

    projeto, construo e pr-operao de um destilador piloto, alm do estudo de

    viabilidade econmica preliminar da tecnologia proposta. As simulaes foram

    realizadas no software iiSE (VRTech) e envolveram trs casos distintos quanto

    composio da alimentao e quanto aos equipamentos. Na anlise experimental da

    influncia do leo fsel, misturas de etanol (6,0 a 6,5 % em massa) e gua (93,0 a

    94 % em massa) contendo diferentes concentraes (zero a 0,5 % em massa) de 3-

    metil-1-butanol, 2-metilpropan-1-ol, propan-1-ol e propan-2-ol foram destilados em

    um destilador de bancada. O dimensionamento considerou diferentes correlaes

    empricas aplicadas para as sees de esgotamento e de retificao. A anlise de

    viabilidade econmica considerou o cenrio atual da produo de etanol em

    pequena escala e tambm avaliou a competitividade do etanol hidratado combustvel

    (EHC) produzido frente a variaes no preo da matria-prima e tambm na

    tecnologia de destilao. As simulaes realizadas demonstraram que aconcentrao mxima de EHC obtida em uma nica coluna de destilao, na

    presena de alcois superiores na alimentao, foi 91,5 % em massa, necessitando

    de uma elevada razo de refluxo (6,0). Assim, a obteno de EHC com

    concentrao acima de 92,5 % em massa, em conformidade com a legislao, s foi

    possvel utilizando-se duas colunas de destilao. Os resultados em refluxo total

    demonstraram a possibilidade de obteno de EHC acima de 92,5 % em massa. A

    concentrao desejada no foi obtida durante a operao contnua, mesmo naausncia dos alcois superiores. Todos os experimentos resultaram em elevada

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    perda de etanol no produto de fundo, decorrente de condies operacionais

    diferenciadas. Os resultados demonstram que h interferncia dos componentes do

    leo fsel na destilao, porm no comprometendo a separao etanol-gua. A

    anlise de viabilidade econmica mostrou a competitividade do EHC produzido em

    pequena escala e tambm que a nova tecnologia proposta favorece a reduo do

    custo final do EHC. Foi realizada a prova de conceito do destilador piloto, buscando-

    se a obteno de dados operacionais de acordo com os parmetros de qualidade

    previamente definidos. Os melhores resultados foram obtidos utilizando-se oito

    pratos e recheio do tipo IMTP, nas sees de esgotamento e retificao,

    respectivamente. Os resultados comprovaram a eficcia e a viabilidade tcnica do

    sistema de destilao proposto, alm de seu potencial de utilizao na produo deetanol em pequena escala.

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    Abstract

    This study aimed to evaluate distillation of ethanol-water mixtures in a pilot

    distiller set up on hybrid format, with trays and packing in striping and rectification

    sections, respectively. The study applies to the case of ethanol production on small

    scale, which demands higher yields on distillation operation. Steps developed in this

    study comprised a survey of technical information for small-scale ethanol production,

    the simulation of the distillation process, the study on influence of fusel oil

    components in ethanol-water separation, evaluation of correlations applied to design

    of distillation columns and design, construction, and pre-operation tests of a pilot

    distiller. Simulations were performed in iiSE software (VRTech) and involved three

    cases differentiated in relation to the composition of feed and equipment

    configuration. In experimental analysis of fusel oil influence, ethanol (from 6.0 to 6.5

    %w/w) and water (93.0 to 94 %w/w) containing different concentrations (zero to 0.5

    %w/w) 3-methyl-1-butanol, 2- methylpropan-1-ol, propan-1-ol and propan-2-ol were

    distilled in a bench distiller. Design considered different empirical correlations applied

    to striping and rectification sections. Economic feasibility analysis considered the

    current scenario of small scale ethanol production and evaluated the competitiveness

    of hydrous ethanol fuel (HEF) considering fluctuations in the feedstock price and two

    distillation technologies. Simulations showed that HEF maximum concentration

    obtained in a single distillation column in the presence of higher alcohols in the feed

    was 91.5 %w/w, requiring a high reflux ratio (6.0). Therefore, obtaining HEF

    concentration up to 92.5 %w/w in accordance with legislation, was possible onlyusing two distillation columns. Experimental results for total reflux demonstrated the

    possibility of obtaining HEF above 92.5% by mass. The desired concentration was

    not achieved during continuous operation, even in the absence of higher alcohols. All

    experiments resulted in high loss of ethanol in the bottom product, due to different

    operating conditions. Results demonstrate that there is no interference of fusel oil

    components to the point of preventing ethanol-water separation in accordance with

    legislation. Economic feasibility analysis showed the competitiveness of HEFproduced on small scale and also that the new proposed technology reduced the

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    final cost of the HEF. A proof of concept was performed to obtain operational data

    according to quality standards defined previously. Best results were obtained by

    using eight trays and IMTP packing in stripping and rectification sections,

    respectively. Results confirmed effectiveness and technical viability of the system

    proposed, in addition of its potential of being used in ethanol production on small

    scale.

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    PRODUO CIENTFICA ASSOCIADA AO

    TRABALHO

    Artigos publicados

    MAYER, F. D., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., BALDO, V., HOFFMANN. R. Review

    of Hydraulics Correlations for Sieve Trays without Downcomers. Industrial & Engineering

    Chemistry Research, v. 53, n. 20, p. 83238331, 21 maio 2014.

    MAYER, F. D., BALDO, V., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., HOFFMANN, R.

    Produo de etanol hidratado (EHC) em microdestilarias: anlise de custos e viabilidade

    econmica. In: XV Congresso Brasileiro de Energia, 2013, RIo de Janeiro. Segurana

    Energtica e Desenvolvimento Econmico, 2013. v. III. p. 1337-1351.

    MAYER, F. D., BALDO, V., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., HOFFMANN, R. Fator

    energtico como ferramenta para avaliao do desempenho de colunas de destilao de

    pequena escala. In: Simpsio Estadual de Agroenergia, 2012, Porto Alegre. Anais do

    Simpsio Estadual de Agroenergia, 2012.

    Artigos aceitos para publicao

    MAYER, F. D., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., BALDO, V., STAUDT, P. B.,

    HOFFMANN. R. Influence of fusel oil components in the distillation of hydrous ethanol fuel

    (hef) in a bench column. Brazilian Journal of Chemical Engineering.

    MAYER, F. D., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., BALDO, V., HOFFMANN. R. Fusel oil

    influence in ethanol distillation. In: XX Congresso Brasileiro de Engenharia Qumica,

    2014, Florianpolis.

    Artigos submetidos

    MAYER, F. D., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., HOFFMANN. R. Why small-scale fuel

    ethanol production in Brazil does not take off? Renewable and Sustainable Energy

    Reviews.

    MAYER, F. D., FERIS, L. A., MARCILIO, N. R., HOFFMANN. R. Small-scaleproduction of hydrous ethanol fuel: Analysis of costs and economic feasibility. Biomass &Bioenergy.

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    Lista de Figuras

    Figura 1 - Consumo de etanol (anidro + hidratado) e gasolina pura no Brasil (em 103m3)... 37

    Figura 2 - Produo de acar e etanol hidratado e preos de exportao no Brasil, entre2002 e 2011........................................................................................................................................ 38

    Figura 3Fluxograma da produo de EHC em pequena escala a partir de cana-de-acarou sorgo sacarino............................................................................................................................... 45

    Figura 4Processo dos sistemas de destilao.......................................................................... 46

    Figura 5Destilador do tipo batelada............................................................................................ 47

    Figura 6Sistema de destilao contnuo.................................................................................... 49

    Figura 7Destilador de bancada em uma nica coluna............................................................. 67

    Figura 8Destilador contnuo para fracionamento de misturas hidroalcolicas..................... 73

    Figura 9Correlao de Fair para estimativa do ponto de inundao em pratos perfurados................................................................................................................................................................ 77

    Figura 10 - Correlao de Garcia e Fair para estimativa do ponto de inundao em pratos

    perfurados sem downcomer(espaamento de 610 mm e dimetro de furo de 12,7 mm)..... 78

    Figura 11Carta de interpolao CGQP modificada para a queda de presso. .................... 80

    Figura 12Fluxograma do processo de destilao em uma coluna simulado no softwareiiSE........................................................................................................................................................ 87

    Figura 13Fluxograma do processo de destilao em duas colunas com retirada lateral deleo fsel, simulado no software iiSE............................................................................................. 90

    Figura 14Comportamento da concentrao do produto destilado durante a operao em

    regime contnuo para as seis solues........................................................................................... 96

    Figura 15Comportamento da concentrao do produto de fundo durante a operao emregime contnuo para as seis solues........................................................................................... 97

    Figura 16Fluxograma operacional do destilador piloto.......................................................... 106

    Figura 17Planta do fluxograma do sistema piloto de destilao.......................................... 109

    Figura 18Detalhe das sees de esgotamento e retificao do destilador piloto............. 110

    Figura 19Projeto do prato perfurado sem downcomer.......................................................... 111

    Figura 20Destilador piloto instalado no Laboratrio do PPGEPro (TDtorre de destilao;C1, C2 e C3condensadores; TCtrocador de calor)............................................................ 113

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    Figura 21Estrutura de custos de produo de etanol em microdestilaria em funo docusto da matria-prima, para o destilador modelo tradicional.................................................. 119

    Figura 22Estrutura de custos de produo de etanol em microdestilaria em funo do

    custo da matria-prima, para o destilador modelo hbrido........................................................ 120

    Figura 23Imagem da interface do sistema supervisrio........................................................ 123

    Figura 24Perfil de temperatura ao longo do destilador piloto. .............................................. 131

    Figura 25 - Altura de espuma () medida na inundao em funo da capacidade () paratrs fraes reas perfuradas (19, 25 e 30%), dimetro da coluna de 25,4 mm e dimetro defuro de 6,35 mm, para o sistema heptano-metilcicloexano a 760mmHg)............................... 178

    Figura 26Queda de presso em leito recheado...................................................................... 187

    Figura 27Carta de interpolao CGQP para a queda de presso para anis Pall 1(plstico)............................................................................................................................................ 188

    Figura 28Eficincia caracterstica tpica de recheios randmicos....................................... 189

    Figura 29Correlao para predio da inundao e MCO para anis Pall 1................... 190

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    Lista de Tabelas

    Tabela 1Produo, consumo e preo ao consumidor do etanol para o Brasil e Rio Grandedo Sul................................................................................................................................................... 40

    Tabela 2Composio do preo do EHC..................................................................................... 42

    Tabela 3Escalas das destilarias de produo de etanol......................................................... 43

    Tabela 4Rendimentos (%) e produtividade industrial (Lt-1de cana-de-acar) demicrodestilarias instaladas no Rio Grande do Sul......................................................................... 51

    Tabela 5Produtividade industrial de microdestilarias............................................................... 52

    Tabela 6Dados operacionais de sistemas de destilao em pequena escala contnuos ebatelada (continua)............................................................................................................................ 55

    Tabela 7Variao do consumo de energia na destilao com base na alimentao com8,0% em volume de etanol e produto de topo com 95 % em volume de etanol. ..................... 57

    Tabela 8Composio de amostras de leo fsel (% em massa) provenientes dafermentao de caldo de cana-de-acar...................................................................................... 60

    Tabela 9Composio do mosto fermentado de cana-de-acar........................................... 61

    Tabela 10Propriedades fsico-qumicas dos principais componentes do leo fsel........... 64

    Tabela 11Parmetros da corrente de alimentao.................................................................. 69

    Tabela 12Composio da alimentao utilizada nas simulaes.......................................... 70

    Tabela 13Especificaes operacionais da destilao.............................................................. 71

    Tabela 14Concentrao de lcool superior para cada teste (93,5 % em massa de gua e6,0 % em massa de etanol).............................................................................................................. 74

    Tabela 15Consideraes tcnicas operacionais....................................................................... 82

    Tabela 16Resultados da Etapa 1 (Casos 1, 2 e 3) da simulao no software iiSE............ 88

    Tabela 17Resultado da Etapa 2 da simulao no software iiSE............................................ 91

    Tabela 18Caractersticas das retiradas laterais de leo fsel na coluna B para Etapa 2. . 92

    Tabela 19Composio das amostras de destilado obtidas em refluxo total........................ 94

    Tabela 20Concentrao mdia (% em massa) para seis testes em operao contnua

    (produtos de topo e fundo)................................................................................................................ 95

    Tabela 21Estimativa das vazes e concentraes para as correntes do destilador piloto99

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    Tabela 22Variveis operacionais do destilador piloto............................................................ 100

    Tabela 23Dados operacionais calculados para o destilador piloto...................................... 101

    Tabela 24Resultados do dimensionamento da seo de esgotamento............................. 102

    Tabela 25Caractersticas do recheio utilizado no dimensionamento do destilador piloto103

    Tabela 26Resultados do dimensionamento da seo de retificao.................................. 104

    Tabela 27Clculo da altura da seo de retificao.............................................................. 105

    Tabela 28Principais caractersticas construtivas do destilador piloto................................. 107

    Tabela 29Caractersticas dos pratos perfurados sem downcomer...................................... 108

    Tabela 30Preos (USDt-1

    ) e custos (USDL-1

    ) mnimo, mdio e mximo.......................... 114

    Tabela 31Investimentos em uma microdestilaria para os dois modelos de destilador..... 115

    Tabela 32Custos operacionais (COeM) e receitas dos coprodutos (CCo) considerando opreo mdio da matria-prima....................................................................................................... 117

    Tabela 33Indicadores de viabilidade econmica para os cenrios considerados............. 122

    Tabela 34Recheios randmicos testados na seo de retificao...................................... 125

    Tabela 35Dados de operao do destilador piloto, para os sistemas A e B...................... 126

    Tabela 36Consumo energtico na destilao, para os sistemas A e B.............................. 128

    Tabela 37 - Especificaes do EAC e do EHC........................................................................... 155

    Tabela 38Principais coprodutos do processamento da cana-de-acar e sorgo sacarino etcnicas para agregao de valor (continua)............................................................................... 165

    Tabela 39 - Relaes estequiomtricas da formao de etanol............................................... 168

    Tabela 40 - Rendimentos das etapas do processo de produo de EHC a partir da cana-de-

    acar................................................................................................................................................. 170

    Tabela 41Faixas de dimenso do prato dual flowe propriedades fsicas.......................... 180

    Tabela 42Lista de dispositivos que compe o sistema de destilao. ................................ 191

    Tabela 43Descrio e valor (em USD) dos equipamentos e servios de instalao de mamicrodestilaria com capacidade de 30 Lhora-1de EHC............................................................ 193

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    Lista de abreviaturas e siglas

    ANPAgncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis;

    ARTAcares redutores totais;

    ATRAcar total recupervel;

    B1, B2 e B3Bombas para movimentao de lquidos;

    Brix Escala numrica de ndice de refrao, utilizada indiretamente para a

    determinao da concentrao de slidos em soluo. Expressa a massa de

    slido em 100g de soluo;

    C1, C2 e C3Condensadores;

    CGQPCorrelao generalizada para a queda de presso;

    COFINSContribuio para o financiamento da seguridade social;

    EHCEtanol hidratado combustvel;

    FRIFractionation Research, Inc.;

    GL, grau Medida de concentrao que expressa a quantidade em mililitros de

    lcool absoluto contida em 100 mL de mistura hidroalcolica;

    HCCI Homogeneous charge compression ignition, variante de motor de CicloDiesel;

    HETPAltura equivalente ao prato terico;

    ICMSImposto sobre circulao de mercadorias e servios;

    INPM, grau Medida de concentrao de etanol, que expressa a concentrao

    mssica de etanol, mensurada a 20C;

    MOCMxima capacidade operacional;

    PASEPPrograma de Formao de Patrimnio do Servidor Pblico;PCIPoder calorfico inferior;

    PGRPreo de gasolina de referncia;

    PISPrograma de Integrao Social;

    PROALCOOLPrograma Nacional do lcool

    T1Tanque de alimentao;

    T2Tanque para armazenamento de destilado;

    TCTrocador de calor;TDTorre de destilao;

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    TIRTaxa interna de retorno;

    TMATaxa mnima de atratividade;

    TRTorre de resfriamento;

    VPLValor presente lquido;

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    Lista de smbolos

    vazo de alimentao [kg.h-1];rea de borbulhamento da seo transversal da torre [m2];rea da seo transversal da coluna [m2];rea do furo [m2];

    rea interfacial efetiva por unidade de volume de lquido [m2.m-3];

    %concentrao de acares redutores totais presentes na cana-de-acar [ - ];

    vazo de produto de fundo [kg.h-1];coeficientes da equao (23) [ - ];coeficientes da equao (38) [ - ];

    coeficiente das equaes (53) e (54) [ - ];

    , , Fator de Souders e Brown;coeficientes da equao (53) [ - ];coeficientes da equao (54) [ - ];vazo volumtrica de vapor [m3s-1];dimetro do furo [m];

    dimetro da seo transversal da torre [m];vazo de produto de topo [kg.h-1];coeficiente de difuso molecular [m2s-1];Eficincia medida em baixo carregamento [ - ];Eficincia de ponto [ - ];ponto de mxima (pico) eficincia [ - ];Eficincia corrigida para o arraste de lquido no vapor [ - ];

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    Fator de capacidade, que a medida da energia cintica do vapor (= )[Pa-0,5];

    Fator de capacidade baseado na velocidade do furo, utilizado para correlacionar

    o ponto de carga (= /) [Pa-0,5];Parmetro de vazo [ - ];Nmero de Froude ( = /) [ - ];Nmero de Froud crtico [ - ];Nmero de Froud modificado [ - ];

    Frao de recuperao de etanol [ - ];

    Fator de segurana de inundao [ - ];acelerao da gravidade [ms-2];taxa de gs ou vapor [kg.h-1m-2];nmero de Galilei ( = /) [ - ];reteno de lquido (holdup) [cm];

    altura da espuma [cm];altura da torre ou seo da torre [m];ndice de eficincia da destilao [ - ];coeficiente de transferncia de massa [kmolm-2s-1];coeficiente de transferncia de massa [ms-1];

    coeficiente de prato seco proposto por McAllister et al. (1958) [ - ];

    massa molar [kgkmol-1];nmero de estgios de separao tericos [ - ];nmero de unidades de transferncia de massa [ - ];presso na distncia = 0em relao ao prato [Pa];presso abaixo do prato [Pa];

    Produtividade industrial [Lt-1de cana-de-acar];

    presso na distncia = em relao ao prato [Pa];

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    queda de presso seca (= /1 /2) [Pa];presso do vapor abaixo do prato [Pa];

    queda de presso no prato ou estgio [atm];queda de presso total [Pa];parmetro de capacidade [ - ];razo de refluxo [ - ];nmero de Schimidt (= /);fator de forma na inundao [ - ];gravidade especfica do lquido [ - ];nmero de Sherwood (= /) [ - ];tempo de residncia mdio [s];tempo de residncia definido pela equao (56) [s];velocidade superficial do lquido [ms-1];

    velocidade de inundao do lquido [ms-1];

    velocidade do lquido atravs do furo [ms-1];velocidade superficial do vapor [ms-1];,velocidade superficial do vapor de inundao [ms-1];velocidade de inundao do vapor [ms-1];velocidade do vapor atravs do furo [ms-1];

    velocidade do vapor atravs da frao do total de furos [ms-1

    ];

    frao do total de furos por onde passa vapor em qualquer instante [ - ];parmetro de vazo [ - ];Abscissa do diagrama de velocidade de inundao [ - ];nmero de Weber (= ,,/) [ - ];Ordenada do diagrama de velocidade de inundao [ - ];distncia do prato [cm];espaamento entre pratos [m];

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    Letras gregas

    amplitude das ondas formadas sobre o prato [ - ];fator de aerao [ - ];espessura do prato [m];viscosidade [kgm-1h-1];coeficiente de resistncia do prato seco [ - ];coeficiente de resistncia devido ao vapor (= 1 1 0,41,251 [ - ];coeficiente de resistncia devido ao lquido [ - ];coeficiente de resistncia devido tenso superficial [ - ];rendimento industrial [ - ];rendimento da destilao [ - ];viscosidade cinemtica [m2s-1];

    massa especfica [kgm-3];tenso superficial [kgh-2];frao de rea livre do prato [ - ];frao de rea livre para a passagem de lquido no prato [ - ];frao de rea livre para a passagem de vapor no prato [ - ];

    frao da rea transversal livre do prato ocupada por lquido [ - ];

    distribuio vertical da frao de vazios do vapor em relao ao nvel do prato;frao mdia de lquido em um prato (= /) [ - ];

    Subscrito

    lquido;

    vapor;arar;

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    inundao;furo;

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    Sumrio

    1. Introduo ............................................................................................................ 31

    1.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 34

    1.2 Objetivos Especficos .................................................................................................. 34

    2. Reviso Bibliogrfica .......................................................................................... 35

    2.1 Panorama da produo de etanol no Brasil e no Rio Grande do Sul ....................... 36

    2.2 Desafios tecnolgicos da produo de etanol em pequena escala ......................... 42

    2.2.1 Processo produtivo do lcool etlico hidratado combustvel ............................. 43

    2.2.1.1 Destilao .................................................................................................................................. 45

    2.2.2 Desafios tecnolgicos....................................................................................... 50

    2.2.2.1 Produtividade industrial ............................................................................................................. 51

    2.2.2.2 Consumo energtico ................................................................................................................. 53

    2.2.2.3 Aspectos construtivos e operacionalidade ................................................................................ 59

    2.2.2.4 Remoo do leo fsel na destilao do etanol ....................................................................... 59

    2.3 Processo de destilao ............................................................................................... 65

    2.3.1 Destilador hbrido aplicado produo de etanol em pequena escala ....................................... 66

    3. Materiais e Mtodos ............................................................................................ 69

    3.1 Simulao de destilao da mistura gua+etanol ..................................................... 69

    3.1.1 Etapa 1 - Coluna de destilao nica .......................................................................................... 70

    3.1.2 Etapa 2 - Colunas de destilao A e B ........................................................................................ 71

    3.2 Experimentos com leo fsel ..................................................................................... 72

    3.2.1 Materiais ....................................................................................................................................... 72

    3.2.2 Procedimento experimental.......................................................................................................... 73

    3.2.3 Procedimento analtico ................................................................................................................. 74

    3.2.2.1 Aparato ...................................................................................................................................... 75

    3.2.2.2 Reagentes ................................................................................................................................. 75

    3.2.2.3 Procedimento ............................................................................................................................ 75

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    3.3 Dimensionamento do destilador piloto ...................................................................... 76

    3.4 Montagem e instalao do destilador piloto .............................................................. 81

    3.5 Viabilidade econmica preliminar .............................................................................. 82

    3.5.1 Determinao de custos e receitas .............................................................................................. 83

    3.5.2 Anlise de viabilidade econmica preliminar ............................................................................... 84

    3.6 Prova de conceito do destilador piloto ...................................................................... 85

    4. Resultados e Discusso ..................................................................................... 87

    4.1 Simulao da destilao de etanol ............................................................................. 87

    4.2 Influncia do leo fsel ............................................................................................... 93

    4.3 Dimensionamento do destilador piloto ...................................................................... 98

    4.3.1 Consideraes sobre o dimensionamento ................................................................................... 99

    4.3.1.1 Seo de esgotamento ........................................................................................................... 101

    4.3.1.2 Seo de retificao ................................................................................................................ 103

    4.3.2 Fluxograma do sistema piloto de destilao .............................................................................. 105

    4.4 Construo e montagem do destilador piloto ......................................................... 106

    4.5 Anlise de viabilidade econmica preliminar .......................................................... 114

    4.5.1 Custos ........................................................................................................................................ 114

    4.5.2 Anlise de viabilidade econmica preliminar ............................................................................. 121

    4.6 Prova de conceito do destilador piloto .................................................................... 122

    4.6.1 Funcionalidade ........................................................................................................................... 122

    4.6.1.1 Ajuste fsico do destilador ....................................................................................................... 123

    4.6.1.2 Dados operacionais ................................................................................................................. 126

    4.6.2 Viabilidade Tcnica e potencial de uso ...................................................................................... 129

    5. Concluses ........................................................................................................ 133

    5.1 Simulao de destilao do sistema gua+etanol .................................................. 133

    5.2 Experimentos com leo fsel ................................................................................... 133

    5.3 Dimensionamento, montagem e instalao do destilador piloto ........................... 134

    5.4 Anlise de viabilidade econmica preliminar .......................................................... 134

    5.5 Prova de conceito ...................................................................................................... 134

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    5.6 Sugestes para trabalhos futuros ............................................................................ 135

    Referncias ............................................................................................................ 137

    Apndice ALegislao ...................................................................................... 153

    A.1 Licenciamento Ambiental ......................................................................................... 153

    A.2 Comercializao ........................................................................................................ 154

    Apndice BProdutividade Industrial ................................................................ 159

    B.1 Processo produtivo do etanol em pequena escala ................................................. 159

    B.1.1 Obteno de substrato para fermentao ................................................................................. 159

    B.1.2 Fermentao .............................................................................................................................. 161

    B.1.3 Destilao .................................................................................................................................. 163

    B.1.4 Coprodutos ................................................................................................................................ 163

    B.2 Rendimento Terico .................................................................................................. 167

    B.3 Produtividade Industrial ........................................................................................... 168

    Apndice CDispositivos de contato ................................................................ 171

    C.1 Pratos perfurados sem downcomer ......................................................................... 171

    C.1.1 Caractersticas hidrodinmicas dos pratos perfurados sem downcomer .................................. 173

    A) Altura da espuma ................................................................................................................ 173

    B) Queda de presso ............................................................................................................... 176

    C) Capacidade mxima ............................................................................................................ 179

    D) Eficincia do prato ............................................................................................................... 181

    C.2 Recheios .................................................................................................................... 185

    C.2.1 Caractersticas hidrodinmicas dos recheios randmicos ........................................................ 185

    A) Queda de presso ............................................................................................................... 186

    B) Eficincia ............................................................................................................................. 188

    C) Ponto de inundao e Mxima Capacidade Operacional (MCO) ....................................... 189

    Apndice DLista de materiais do destilador piloto ........................................ 191

    Apndice EEspecificao dos equipamentos e servios de umamicrodestilaria ....................................................................................................... 193

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    31

    1. Introduo

    O etanol hidratado combustvel (EHC), produzido a partir da cana-de-acar,

    apresenta-se como um substituto potencial gasolina. Pontos positivos envolvem o

    fato de o etanol ser renovvel, fazer uso da mesma infraestrutura logstica daquele

    combustvel fssil, podendo ser produzido localmente (ao contrrio do petrleo) e,

    em alguns casos, ser obtido de forma mais econmica.

    Muitos pases tm se aperfeioado na produo de etanol para fins

    carburantes, notadamente os Estados Unidos e o Brasil, responsveis por mais de

    86% da produo mundial em 2010 (OAK RIDGE NATIONAL LABORATORY, 2011).

    Outras regies tambm pretendem ampliar a produo ou a participao dos

    biocombustveis em sua matriz energtica, como a Amrica Latina, Europa e sia

    (CHALMERS; ARCHER, 2011; JANSSEN; RUTZ, 2011; RAVINDRANATH et al.,

    2011; SORDA; BANSE; KEMFERT, 2010).

    A produo de EHC em pequena escala, que ainda apresenta-se pouco

    desenvolvida, desempenha um importante papel econmico e social no meio em

    que est inserida, pois ao mesmo tempo em que essa atividade pode tornar-se fonte

    geradora de renda, ela garante autossuficincia energtica ao produtor e regio.

    Essas duas caractersticas so as incentivadoras do desenvolvimento e adaptao

    da tecnologia de destilao para a pequena escala. Subsidiariamente, podem

    vislumbrar tambm a ampliao do leque de matria-prima para a produo de

    biocombustveis.

    O interesse por microdestilarias foi intensificado em momentos de escassez

    de derivados de petrleo (principalmente a gasolina), ou aumento em seus preosno mercado. Assim, tem-se observado desenvolvimento e implantao intermitentes

    desse modelo de produo de etanol sem que essa atividade tenha se firmado como

    alternativa produo de etanol em larga escala. Podem-se citar os perodos entre

    guerras, quando o governo brasileiro criou, em 1933, o Instituto do Acar e do

    lcool (IAA); 2 Guerra Mundial (1939-1945), com a escassez de gasolina; perodo

    ps-primeiro choque do petrleo (1975-1989), com a criao do Programa Nacional

    do lcool (PROLCOOL) e posterior crise de desabastecimento e extino do IAA,e; perodo atual (2002-presente), com incremento de aproximadamente 55 % na

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    32

    produo de etanol (EPE, 2013) em funo do aumento prximo a 62% nos preos

    internacionais do petrleo entre 2002 e 2010 (BRITISH PETROLEUM, 2011).

    No Brasil, o movimento em direo produo de etanol em pequena escala

    ganhou fora com o advento do PROLCOOL em 1975, lanado aps o primeiro

    choque do petrleo, ocorrido em 1973 (ITURRA, 2004). Este programa teve por

    objetivo principal fomentar a produo nacional de etanol de maneira a diminuir a

    dependncia nacional do petrleo importado.

    Nesse contexto, desenvolveram-se duas vertentes de atuao na produo

    de etanol em pequena escala, entre elas: 1) garantir a autossuficincia energtica do

    agricultor, sob o emblema fabrique seu prprio combustvel e aproveitamento dos

    subprodutos do processo para fabricao de rao animal ou combustvel slido

    (BROWN, 1979; CARLEY, 1980; CRUZ et al., 1980; HOFFMANN, 1985; SOLAR

    ENERGY RESEARCH INSTITUTE, 1982) e; 2) incluir os produtores de etanol em

    pequena escala no esforo em suprir a demanda nacional por combustveis lquidos

    (ITURRA, 2004).

    A primeira linha de atuao sempre foi a mais promissora, uma vez que o

    maior custo do etanol combustvel obtido por processo em pequena escala, devido

    s menores eficincias, seria compensado pela no incidncia de impostos sobre oautoconsumo. Alm disso, os autoprodutores de etanol teriam o no pagamento de

    frete como outra vantagem competitiva, pois, no Brasil, a produo de etanol est

    concentrada na regio sudeste do pas, fazendo com que o transporte para o Rio

    Grande do Sul e sua distribuio elevem o preo final do EHC em aproximadamente

    5 % (SULPETRO, 2012).

    A possibilidade de produo local de um combustvel lquido, para atender a

    demanda do maquinrio agrcola para outros cultivos, como no caso da soja, poderiaincentivar a autoproduo de etanol, conforme relatado por Dias et al. (1980). O

    empenho industrial nesse sentido resultou no aperfeioamento de tratores agrcolas

    com motores hbridos etanol-diesel (HANSEN et al., 2001; PIDOL et al., 2012;

    SAYIN, 2010).

    Nenhum desses dois modelos apresentou bons resultados, seja por

    empecilhos tecnolgicos, econmicos ou por excesso de restries legais para a

    comercializao do etanol, que afetaram diretamente a pequena escala.

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    33

    Dessa forma, no havendo nenhum incentivo especfico pequena escala,

    que a colocasse em p de igualdade com as grandes usinas, o modelo das

    microdestilarias segue por conta prpria, em lento desenvolvimento.

    Em recente estudo, Mayer et al. (2010) analisaram a produo de etanol em

    microdestilarias apresentando dados que corroboram a avaliao de ausncia de

    tecnologia eficiente aplicada pequena escala, com destaque para a destilao. Na

    destilao, os rendimentos deveriam situar-se em torno de 92%, porm, devido

    precariedade dos equipamentos - do ponto de vista de projeto e operacional, tais

    rendimentos no superam os 80 %.

    Alm do rendimento insatisfatrio, os processos analisados consomem mais

    energia do que a obtida a partir do combustvel produzido, decorrendo do fato de

    que a gerao de vapor responde por 31 % dos custos de produo de EHC

    (excetuando-se a matria-prima) e, desse valor, 50 % deve-se somente ao consumo

    de lenha (MAYER; HOFFMANN; JAHN, 2010). Ressalta-se que esses custos

    relacionam-se diretamente com a destilao.

    Quando se verificou um crescente nmero de microdestilarias instaladas no

    Rio Grande do Sul, esperava-se que tais equipamentos atendessem de forma

    eficiente as necessidades para as quais foram instalados. Entretanto, possvelafirmar que no existe, no mercado, nenhum equipamento de destilao em

    pequena escala que obtenha elevado ndice de recuperao de produto, com

    qualidade em conformidade com a legislao e que disponha de um rendimento

    energtico compatvel com um balano positivo de energia.

    A etapa de destilao apresenta-se como a mais promissora quanto a

    possibilidade de aumento de rendimento, por tratar-se de um processo que

    minimamente afetado pela reduo de escala. Dessa forma, prope-se odesenvolvimento de uma tecnologia de destilao que atenda pequena escala, de

    forma eficiente, do ponto de vista da recuperao e da garantia da qualidade do

    produto e de eficincia energtica.

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    34

    1.1 Objetivo Geral

    O objetivo geral desse trabalho foi projetar, construir e operar um destiladorde tecnologia hbrida adaptado s caractersticas de produo de EHC em pequena

    escala.

    1.2 Objetivos Especficos

    Os objetivos especficos foram:

    Estabelecer as condies operacionais do processo de destilao

    (vazes, temperaturas, regime operacional, etc.), com base em estudo

    detalhado de microdestilarias;

    Avaliar atravs de simulao e experimentalmente a influncia do leo

    fsel na destilao de etanol em coluna de bancada, visando

    obteno de parmetros operacionais que auxiliem no projeto do

    destilador piloto;

    Projetar e construir um destilador, em escala piloto, utilizando osparmetros obtidos no destilador em escala de laboratrio e que

    empregue um sistema misto (pratos e recheio), conforme avaliao

    prvia obtida por Mayer (2010);

    Realizar a prova de conceito do destilador piloto e avaliar seu

    desempenho, de maneira a permitir sua comparao com modelos

    utilizados no projeto de pratos perfurados sem downcomer;

    Avaliar, preliminarmente, o impacto da tecnologia proposta naviabilidade econmica das microdestilarias.

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    2. Reviso Bibliogrfica

    A produo de EHC em pequena escala, e suas qualidades, tem atrado a

    ateno de governos, produtores e pesquisadores desde a dcada de 1970, durante

    a implantao do Programa Nacional do lcool (PROALCOOL). Esse debate sempre

    foi pautado pelas qualidades superiores que a pequena escala possui em relao

    grande escala, como o perfil socialmente justo e ecologicamente correto das

    microdestilarias, alm da provvel viabilidade econmica, que justificaria, por si s,

    os investimentos e/ou os programas governamentais de incentivo ao setor.

    Em quase 40 anos de discusses a respeito da produo de etanol em

    pequena escala, pouco ou nada foi implementado alm de unidades de carter

    demonstrativo nos centros de pesquisa, principalmente. A maioria das unidades

    privadas para produo de etanol visou produo para o consumo prprio e

    aquelas que pretendiam a comercializao do produto no prosperaram. Isto

    contrasta com a grande escala, que atravs de incentivos governamentais,

    conseguiu se estabelecer como fornecedora de um combustvel competitivo com a

    gasolina, apesar dos problemas enfrentados nos ltimos anos.

    Pode-se atribuir diversos fatores para justificar a falta de xito da produo de

    etanol em pequena escala em relao grande escala, tais como: maiores custos

    da matria-prima e operacionais; restries legais quanto qualidade do EHC; carga

    tributria; questes de solo e clima, especialmente no Rio Grande do Sul; falta de

    conhecimento tcnico pelos produtores; e o menor rendimento industrial. possvel

    afirmar com certa margem de segurana que todos esses fatores esto relacionados

    e afluem para o ltimo deles, que o baixo rendimento industrial comparado grande escala, aliado s dificuldades tecnolgicas da escala reduzida.

    Os casos de microdestilarias estudadas, todas elas implementadas nos

    ltimos 40 anos, revelam que o rendimento industrial da pequena escala no

    ultrapassa os 75% do rendimento da grande escala, que de aproximadamente

    82,0 Lt-1(MINISTRIO DA AGRICULTURA, 2012). Isto sem mencionar o consumo

    energtico, que pode afetar negativamente os resultados econmicos e ambientais

    desses empreendimentos.

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    A anlise de diversas fontes bibliogrficas revela que a tecnologia utilizada

    nas microdestilarias no sofreu modificaes nas ltimas quatro dcadas, enquanto

    que a grande escala obteve ganhos expressivos tanto na produtividade agrcola

    como industrial. Entre 1985 e 2000, o incremento na produtividade agrcola e na

    eficincia de converso de acar em etanol nas grandes usinas cresceram 33 % e

    14 %, respectivamente (MACEDO; NOGUEIRA, 2004).

    Assim, a viabilizao da produo de etanol em pequena escala passa pelo

    aumento dos rendimentos industriais, de modo que esse ser o enfoque desse

    estudo.

    2.1 Panorama da produo de etanol no Brasil e no

    Rio Grande do Sul

    O etanol1carburante constitui-se em um importante combustvel renovvel no

    Brasil. Ele utilizado hidratado, diretamente em motores, ou anidro,

    obrigatoriamente adicionado gasolina, em uma concentrao legalmente definidaentre 20 % e 25 % em volume. Na dcada de 1980 o etanol foi o combustvel mais

    utilizado em veculos de passeio, perdendo essa posio devido a uma crise de

    desabastecimento em 1989 e queda dos preos internacionais do petrleo

    (SORDA; BANSE; KEMFERT, 2010). Em fevereiro de 2008 ultrapassou novamente

    a gasolina, mas foi superado mais uma vez em 2010 (Figura 1).

    Entre 2008 e 2012, os veculos flex fuel licenciados no Brasil responderam,

    em mdia, a 85 % do total e somaram 15,3 milhes de unidades fabricadas desde2003, conforme a Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores

    (ANFAVEA, 2012). Estima-se que at 2015 atinjam 47 % da frota nacional de

    veculos leves (SORDA; BANSE; KEMFERT, 2010).

    1No Brasil, a Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis estabeleceu, atravs da Resoluo

    ANP n23 de 06/07/2010, as definies para o etanol utilizado como combustvel. De maneira a definir com

    exatido os termos empregados nesse trabalho, optou-se pelas seguintes significaes: etanol, como

    denominao genrica, correspondendo frao anidra e hidratada; etanol anidro, para designar o etanol

    anidro adicionado gasolina; etanol hidratado combustvel (EHC), para indicar o etanol hidratado, comconcentrao de 92,5 % em massa e; lcool combustvel super-hidratado, para nomear a mistura de etanol em

    concentraes menores que 92,5 % em massa.

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    37

    Figura 1 - Consumo de etanol (anidro + hidratado) e gasolina pura no Brasil

    (em 103m3).

    Fonte: elaborada pelo autor a partir de dados publicados em Empresa de Pesquisa

    Energtica (2013).

    A vantagem tecnolgica dos motores flex fuel resultou na flexibilizao no

    consumo dos combustveis lquidos (gasolina e etanol) e possibilitou aos

    consumidores escolher qual combustvel utilizar em funo do preo, escolhendo-se

    o etanol hidratado quando esse situar-se abaixo de 70 %2do valor da gasolina. Essa

    versatilidade dos motores resulta em uma mudana quase instantnea no consumo

    desses energticos, em funo dos preos relativos.

    Tendo em conta essa possibilidade de uso e o fato de que, no Brasil, o preo

    da gasolina mantm-se em um patamar estvel desde 2005o governo, atravs da

    estatal Petrobras, tem evitado repassar as flutuaes dos preos internacionais do

    petrleo ao mercado consumidor, atuando como tampo o preo do etanol torna-

    se prioritrio no que diz respeito sua utilizao.

    2Conforme os fabricantes de motoresflex fuel, 70% a relao entre o aproveitamento do etanol e da gasolina

    em um motor.

    0

    5000

    10000

    15000

    20000

    25000

    30000

    35000

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    2012

    Consumop

    arafinsenergticos(103m3)

    Etanol Anidro

    Etanol Hidratado

    Etanol total

    Gasolina

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    38

    No caso do Brasil, que produziu 27,7 milhes de m3 de etanol em 2010

    (CONAB, 2011), tem-se como principal matria-prima a cana-de-acar, com um

    sistema de produo centralizado em grande escala, em unidades que, geralmente,

    produzem concomitantemente acar, etanol e energia eltrica. Esse sistema torna

    fcil o direcionamento da produo para acar ou etanol, conforme os preos

    internacionais destes produtos. Assim, apesar de o etanol no ser uma commodity,

    no Brasil ele se comporta como tal, uma vez que sofre grande influncia dos preos

    do acar.

    neste ponto que surgem as interaes do comrcio internacional do acar

    com o modelo de produo de etanol no Brasil, uma vez que o etanol produzido a

    partir de cana-de-acar em destilarias autnomas ou anexas fabricao de

    acar. Isto torna o preo do etanol hidratado muito susceptvel cotao do acar

    no mercado internacional, conforme visto na Figura 2.

    Figura 2 - Produo de acar e etanol hidratado e preos de exportao no

    Brasil, entre 2002 e 2011.

    Fonte: Adaptado de Empresa de Pesquisa Energtica (2012); Ministrio da Agricultura,

    (2012a; 2012b).

    Na Figura 2 observa-se que existe uma tendncia entre o aumento de preo

    do acar para exportao e a quantidade de acar exportado. No Brasil, a relao

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    entre o rendimento da produo de acar e o de etanol superior a 2,0, a partir de

    uma mesma quantidade de cana-de-acar processada. Assim, desprezando-se os

    custos de produo de cada produto, pode-se inferir que o preo de venda do etanol

    deve ser o dobro em relao ao do acar. Entretanto, nos ltimos anos a relao

    tem-se mantido em 1,47, em mdia. Assim, mais rentvel direcionar a matria-

    prima para a produo de acar do que para lcool hidratado, encarecendo seu

    valor, diminuindo sua competitividade com a gasolina e, consequentemente,

    diminuindo seu consumo.

    inegvel a importncia que o modelo de produo de etanol em grande

    escala representa para o Pas, em termos econmicos e energticos, sendo

    responsvel por 2,35 % do PIB nacional, 3,6 milhes de empregos diretos e indiretos

    e no envolvimento de 72.000 agricultores (DIEESE, 2007), alm de responder por

    19,3 % de participao na oferta interna de energia primria brasileira em 2010

    (EPE, 2011). Alm disso, devem-se observar os ganhos ambientais da cultura

    bioenergtica da cana-de-acar e do sorgo sacarino, uma vez que a utilizao de

    etanol em substituio gasolina reduz as emisses de gases de efeito estufa em

    mais de 70 % (WALTER et al., 2010). Esse valor pode atingir mais de 100 % se

    forem computados crditos de emisses para coprodutos (incluindo eletricidade) naindstria da cana-de-acar (OCDE, 2008).

    Entretanto, deve-se ressaltar os impactos econmicos e sociais negativos da

    produo de EHC, como ocorrncias de subempregos no setor e a competio com

    a produo de alimentos (AZADI et al., 2012). O cultivo da cana-de-acar, como

    qualquer outra monocultura, apresenta desvantagens: concentrao de terras e de

    renda; xodo rural pela mecanizao da lavoura; riscos da dependncia de um nico

    cultivo; e presses ambientais sobre os ecossistemas, entre outros. Ainda, Corsini(1984) citou a sazonalidade da produo (seis meses, aproximadamente) e custos

    com transporte de matria-prima e de produto, por que uma grande extenso de

    terra necessria para suprir a destilaria, caractersticas ainda muito atuais.

    Por esses fatores, a produo sucroalcooleira em grande escala s

    apresenta viabilidade de implantao em regies com clima e relevo favorveis,

    como ocorre nas regies sudeste e centro-oeste do pas, especificamente nos

    estados de So Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Gois.

    Em regies com relevo acentuado ou onde h o predomnio de pequenas

    propriedades, com produo agrcola baseada na mo-de-obra familiar, o modelo de

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    produo em grande escala no pode e no deve ser aplicado. Nessas regies, em

    que o RS est incluso, deve-se buscar um outro modelo, com caractersticas

    especficas e que potencialize as qualidades da pequena escala, como o caso das

    microdestilarias.

    A Tabela 1 apresenta o volume de etanol produzido e consumido e o preo

    mdio ao consumidor no Brasil e no Rio Grande do Sul ao longo dos ltimos anos.

    Observa-se que o consumo de EHC no estado variou conforme o preo praticado no

    mercado, apresentando uma tendncia decrescente. A produo de EHC

    proveniente da nica destilaria instalada no RS, localizada em Porto Xavier,

    respondeu com 5,0% do consumo de EHC no RS. Ressalta-se que no foi

    considerado o consumo de etanol anidro adicionado gasolina na proporo de

    25% em volume, que em 2012 totalizou 703,5 mil m3. Assim, a demanda de etanol

    abastecida majoritariamente pela indstria sucroalcooleira tradicional, concentrada

    nas regies sudeste (especificamente em So Paulo) e Centro-Oeste.

    Tabela 1Produo, consumo e preo ao consumidor do etanol para o Brasil

    e Rio Grande do Sul.

    AnoProduo de etanolanidro e hidratado

    (mil m3)

    Vendas de etanolhidratado pelas

    distribuidoras (mil m3)

    Preo mdio do EHC aoconsumidor (R$L-1)

    Brasil RSa Brasil RS Brasil RS

    2005 16.039,89 3,34 4.667,22 189,90 1,38 1,81

    2006 17.764,26 5,50 6.186,55 158,76 1,63 2,17

    2007 22.556,90 7,00 9.366,84 220,30 1,45 1,77

    2008 27.133,19 6,32 13.290,10 324,89 1,44 1,78

    2009 26.103,09 2,46 16.470,95 403,03 1,48 1,80

    2010 28.203,42 5,81 15.074,30 240,89 1,67 2,01

    2011 22.892,50 6,58 10.899,22 137,12 2,00 2,372012 23.540,06 1,67 9.850,18 115,22 1,94 2,40

    aSomente etanol hidratado.

    Fonte: ANP (2013).

    Segundo o Zoneamento Agroecolgico da Cana-de-Acar, o Rio Grande do

    Sul dispe de aproximadamente 1,3 milhes de hectares com aptido mdia e alta

    ao cultivo dessa matria-prima (EMBRAPA, 2009). Essas reas se caracterizam por

    um relevo acidentado ou com predomnio de pequenas propriedades, com produoagrcola baseada na mo de obra familiar.

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    Embora o modelo de produo em grande escala seja mais eficiente

    tecnicamente, ele no pode e no deve ser aplicado nessas regies, devendo-se

    buscar outro modelo, com caractersticas especficas e que potencialize as

    qualidades da pequena escala, como o caso das microdestilarias. Embora se

    registre uma nica destilaria de maior porte, a Cmara Temtica da Agroenergia da

    Secretaria de Agricultura, Pecuria e Agronegcio identificou a existncia de 30

    microdestilarias no Estado, visando a autoproduo, com possvel disponibilidade de

    excedente de produo (IRGA, 2012), o que indicaria a possibilidade de atender

    parte da demanda estadual.

    A venda de etanol combustvel no mercado regulamentada pela Agncia

    Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis (ANP), atravs das resolues

    n 07/2011 e n 43/2009 (ver Apndice A). A resoluo n 07/2011 estabelece as

    especificaes para o EHC que devem ser atendidas para que o produto seja

    direcionado ao mercado consumidor, o que pode inviabilizar as microdestilarias uma

    vez que a tecnologia de destilao disponvel pequena escala de certa forma

    rudimentar.

    J a resoluo n 43/2009, regulamenta a cadeia de agentes que atuam na

    comercializao de etanol: o produtor de etanol vende seu produto a uma empresadistribuidora que repassa o combustvel para os postos de combustveis, que por

    sua vez comercializam diretamente com o consumidor final. vedada a venda direta

    do produtor ao consumidor, o que encarece o produto final devido a custos com

    transporte muitas vezes a distribuidora situa-se longe do produtor, obrigando a

    viagem do etanol combustvel central distribuidora e o seu retorno regio em que

    foi produzido para ento ser comercializado e remunerao dos agentes

    envolvidos nessa cadeia.A Tabela 2 apresenta a composio do preo do etanol para o Brasil no ano

    de 2011, considerando o preo mdio por litro de R$ 2,22. Para o caso do etanol

    combustvel, a carga tributria incidente sobre a cadeia de comercializao

    superior a 30 %, com destaque para o ICMS (Imposto sobre Circulao de

    Mercadorias e Servios), que atinge 18,2 %. No Estado do Rio Grande do Sul a

    alquota de ICMS alcana 25 %. Recentemente o Governo Federal publicou a

    Medida Provisria n 613 (BRASIL, 2013), concedendo crdito presumido de

    PIS/PASEP e COFINS para os produtores de etanol, com o objetivo de zerar as

    alquotas desses impostos.

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    Analisando-se a Tabela 2, observa-se que a competitividade do EHC frente

    gasolina depende majoritariamente do custo e da margem de lucro do produtor uma

    vez que a alquota dos impostos estaduais e federais incidentes sobre o EHC e

    sobre a gasolina so similares.

    Tabela 2Composio do preo do EHC

    Item Percentagem

    Custo e margem de lucro do produtor 55,7%

    ICMS - substituio tarifria (posto de combustvel) 3,5%

    ICMS - distribuidor 2,0%

    PIS/COFINS - distribuidor 5,4%

    ICMS - produtor 18,2%

    PIS/COFINS - produtor 2,2%

    Margem de lucrodistribuidora e posto de

    combustvel13,0%

    Preo final (posto de combustvel) 100,0%

    Fonte: Rezende et al. (2011).

    Dessa forma, a eficincia do processo produtivo o fator que ir definir a

    capacidade de competio do EHC e, por consequncia, a viabilidade econmica

    das microdestilarias.

    2.2 Desafios tecnolgicos da produo de etanol em

    pequena escala

    A produo de etanol em pequena escala tem sido afetada pelos rendimentos

    insatisfatrios das etapas produtivas, especialmente na destilao. Alm disso, o

    elevado consumo energtico do processo tende a inviabilizar economicamente e

    ambientalmente a pequena escala, o que tem se refletido no pequeno nmero de

    microdestilarias instaladas no Brasil e no Rio Grande do Sul. Uma anlise do

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    processo e das suas caractersticas tecnolgicas apresentada neste item, com

    destaque para a destilao.

    2.2.1 Processo produtivo do lcool etlico hidratado combustvel

    As destilarias de etanol no apresentam uma classificao padronizada

    quanto escala de produo, como foi observado em uma busca bibliogrfica

    realizada sobre o assunto (BENGSTON, 1983; COLLURA; LUYBEN, 1988;

    DAIANOVA et al., 2012; HOFFMANN, 1985; ILLES; ISTVN, 2009; MENEZES,

    1980; OLESKOWICZ-POPIEL et al., 2012; PAUL, 1980; SOLAR ENERGY

    RESEARCH INSTITUTE, 1982; STAMPE et al., 1983; WONDER; SIMPSON, 1982).

    No Brasil, mais especificamente, existe uma diferenciao estabelecida

    informalmente a respeito da escala das unidades de produo, ou destilarias, como

    mostrado na Tabela 3. Esta distino foi reportada por Hoffmann (1985), porm no

    informa com segurana o nvel tecnolgico empregado, o desempenho industrial e a

    economicidade. Entretanto, esta diviso tem sido muito til para o estabelecimento

    de discusses a respeito desses e outros aspectos tais como a criao deempregos, investimentos e problemas ambientais.

    Tabela 3Escalas das destilarias de produo de etanol.

    Escala Produo (Ldia- )

    macro Maior do que 60.000

    mini entre 5.000 e 60.000

    micro Menor que 5.000Fonte: Hoffmann (1985).

    Alm dessa classificao, possvel diferenciar entre microdestilarias de

    acordo com o produto final (tipo de lcool produzido), matria-prima utilizada (cana-

    de-acar, sorgo sacarino, mandioca, etc.) ou regime operacional (contnuo ou

    descontnuo) (GEMENTE et al., 1982).

    Apesar da variabilidade de matrias-primas e de processos empregados e da

    escala de produo, pode-se dividir o processo de produo de etanol em quatro

    etapas, com maior ou menor envolvimento tecnolgico:

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    1. Preparo da matria-prima: inclui o recebimento da matria-prima,

    pesagem, lavagem e cominuio;

    2. Obteno do substrato para fermentao: essa etapa apresenta a

    maior variabilidade no processo produtivo. Para a cana-de-acar e

    sorgo sacarino ela abrange a moagem ou extrao de acares por

    difuso; para amilceas inclui hidrlise e sacarificao; para matrias-

    primas-celulsicas pode haver a separao da lignina para posterior

    hidrlise cida ou enzimtica da celulose;

    3. Fermentao: converso dos acares fermentescveis em etanol,

    obtendo-se vinho com concentrao entre 7 e 10 % em volume. Pode

    ocorrer alguma variao construtiva nas dornas de fermentao

    (agitadores, raspadores de fundo, etc), de acordo com a necessidade

    imposta pela matria-prima utilizada;

    4. Destilao: etapa em que ocorre a separao do etanol do vinho

    proveniente do fermentador, at uma concentrao mnima de etanol

    de 92,5 INPM3. Assim como na fermentao, pequenas modificaes

    podem se fazer necessrias de acordo com o tipo de matria-prima

    utilizada no processo.

    Essas quatro etapas esto presentes em qualquer destilaria que tenha por

    objetivo transformar uma determinada matria-prima em etanol combustvel. A

    influncia da escala de produo sobre o processo produtivo abrange o tamanho

    dos equipamentos utilizados e os rendimentos obtidos. A pequena escala faz uso de

    tecnologia menos sofisticada uma vez que existe uma relao direta entre escala de

    produo e rendimento do processo, o que j era afirmado por Hoffmann (1985).Alm dos quatro grandes setores citados (recepo de matria-prima,

    obteno de substrato para fermentao, fermentao e destilao), existem ainda

    as utilidades, que compreendem a gerao de vapor (includa no setor de

    destilao) e eletricidade. A Figura 3 apresenta o fluxograma do processo de

    produo de EHC em pequena escala.

    3Quantidade, em gramas, de lcool absoluto contida em 100 gramas de mistura hidroalcolica. Esse valor a

    mnima concentrao exigida pela Resoluo ANP N 07/2011. importante ressaltar que, para fins decomercializao, o lcool Etlico Hidratado Combustvel (EHC) deve enquadrar-se nas especificaes de outras

    14 caractersticas alm do teor de etanol, conforme essa mesma resoluo.

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    Figura 3 Fluxograma da produo de EHC em pequena escala a partir de

    cana-de-acar ou sorgo sacarino.

    Fonte: O autor (2014)

    Devido aos objetivos propostos para esse estudo, uma maior nfase ser

    apresentada ao processo de destilao. Uma descrio da tecnologia utilizada no

    preparo da matria-prima (cana-de-acar e sorgo sacarino) e na fermentao

    apresentada no Apndice B.

    2.2.1.1 Destilao

    A destilao a operao de transferncia de massa mais utilizada na

    indstria qumica (CALDAS et al., 2007). Esta operao ocorre devido diferena de

    volatilidade existente entre os componentes da mistura, promovido pelo

    fornecimento de calor ao sistema aliado aos dispositivos de contato que promovem a

    separao dos componentes (CALDAS et al., 2007). Esse processo pode apresentardiferentes caractersticas de acordo com a necessidade ou condies operacionais,

    conforme mostra a Figura 4. As principais diferenciaes referem-se ao regime

    operacional, ao dispositivo de contato e ao sistema de aquecimento.

    Existem dois tipos de regime operacional: batelada ou contnuo. A destilao

    em batelada - menos sofisticada que a destilao contnua - comumente

    empregada quando a composio dos materiais a serem separados varia

    amplamente, quando a separao no ocorre de maneira frequente ou quando osmateriais a serem separados so produzidos em pequenas quantidades

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    (FLODMAN; TIMM, 2012; KISTER, 1992). Comparando-se o trabalho de Bengtson

    (1983) com a situao atual observa-se que no ocorreram grandes modificaes

    tecnolgicas nos ltimos 30 anos, excetuando-se as novas estratgias de

    processamento em batelada (FLODMAN; TIMM, 2012; MODLA; LANG, 2008; PENG

    et al., 2007).

    Figura 4Processo dos sistemas de destilao.

    Processo de

    destilao

    Batelada Contnua

    Recheio Pratos

    Regimeoperacional

    Dispositivodecontato

    Sistemadeaquecimento

    Fogo

    direto

    Injeo

    de vapor

    Trocador

    de calor Eltrico

    Fonte: O autor (2014)

    A Figura 5 mostra o leiaute de um destilador batelada, compreendendo o

    refervedor, a coluna de destilao, o deflegmador utilizado para controlar a vazo

    de vapor de etanol que ser direcionado ao condensador, e o condensador,

    responsvel pela condensao dos vapores hidroalcolicos e separao dos

    compostos de menor ponto de ebulio (aldedos, steres e cetonas). Na destilao

    intermitente, a alimentao carregada no refervedor e o etanol no vinho

    esgotado pelo aquecimento, evaporao e, finalmente, condensao dos vapores

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    hidroalcolicos. Aps a destilao, o resduo ou vinhaa descarregado e uma nova

    carga realizada.

    Figura 5Destilador do tipo batelada.

    Condensador

    Deflegmador

    Refervedor

    Etanol

    hidratado

    Refluxo

    Entrada

    de vapor

    Fonte: Adaptado de Michel Junior (2010).

    A destilao batelada apresenta alguns problemas inerentes sua natureza

    dinmica, dificultando seu controle e otimizao (FLODMAN; TIMM, 2012). Assim,

    tem sido difcil obter EHC a partir de destilao em batelada de acordo com os

    padres de qualidade, especialmente quanto concentrao de etanol no produto

    de topo. Alm disso, outra varivel de importncia no processo a produtividade

    (litros de etanol por batelada), na medida em que se deseja obter o maior volume de

    etanol e a maior concentrao possveis.

    Usualmente, a dinmica do processo batelada implica na retificao atravs

    da utilizao da razo de refluxo constante ou varivel (KISTER, 1992). Se for

    utilizada razo de refluxo constante, ter inicialmente uma maior concentrao de

    etanol no produto de topo, mas que ir decair ao longo do tempo. Nesse caso, ao

    final do processo, ser possvel obter elevada recuperao do produto leve (etanol),

    porm de menor concentrao mdia. Alvarez et al. (2012) e Coelho et al. (2012)

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    apresentam resultados que comprovam o decrscimo exponencial da concentrao

    de etanol no produto de topo durante a destilao em batelada com refluxo

    constante. Coelho et al. (2012) informam que quanto maior a razo de refluxo, maior

    ser a concentrao inicial do produto destilado e maior ser o tempo necessrio

    para a destilao devido menor produo horria.

    Se a razo de refluxo for continuamente ajustada ao longo do processo de

    destilao ser possvel obter uma concentrao constante para o produto de topo,

    mantendo-se a taxa de vaporizao (razo L/V) constante ou mantendo-se a vazo

    de destilado constante (LOPES; SONG, 2010). Ao final da destilao, o produto de

    topo coletado ter maior concentrao, mas a recuperao ser menor. Lopes e

    Song (2010) informam que, para os casos por eles analisados, a destilao com

    refluxo varivel (mantendo-se a taxa de vaporizao constante) mais econmica

    que aquela com refluxo constante. Assim, na medida em que crucial obter-se um

    produto de topo que atenda ao padro de qualidade, deve-se utilizar a estratgia

    operacional de renunciar produtividade e economia de energia em virtude do uso

    de razo de refluxo varivel, o que tambm incorre em elevadas perdas de etanol no

    produto de fundo. Isto sugere a utilizao do regime batelada em casos muito

    especficos, como o atendimento ao consumo prprio de etanol combustvel.Maiores informaes sobre esse regime operacional podem ser encontradas em

    Bengston (1983), que apresenta dados operacionais para cinco destiladores

    batelada com diferentes capacidades.

    Um destilador contnuo constitudo de uma ou duas torres onde se processa

    a separao do etanol. A maioria dos destiladores contnuos para a produo de

    etanol possui duas torres, uma de esgotamento e outra de retificao, chamadas de

    coluna A e coluna B, respectivamente (Figura 6). Esse sistema deriva dosdestiladores empregados em grande escala. A coluna A, que recebe a alimentao,

    faz uma separao inicial, produzindo na parte superior uma flegma (mistura

    hidroalcolica com concentrao de etanol entre 40 e 50% em volume), e um

    produto de fundo, praticamente isento de etanol (concentrao menor que 0,5% em

    volume). O flegma produzido na coluna A conduzido para a poro intermediria

    da coluna B, onde os vapores ali produzidos ascendem em contato contracorrente

    com o lquido refluxado, resultando no aumento gradual da concentrao alcolica

    dos vapores que chegam ao topo da coluna.

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    Nos pratos superiores da coluna B obtm-se o produto destilado com a

    concentrao desejada (prxima a 96% em volume) e no fundo dessa torre retira-se

    o lquido residual, com baixa concentrao de etanol e leos, chamado de gua de

    lutter (DIAS et al., 2009; RASOVSKY, 1979; SNCHEZ; CARDONA, 2012). O

    fornecimento de calor para o esgotamento e retificao realizado nas bases das

    colunas A e B.

    Figura 6Sistema de destilao contnuo.

    Etanol hidratado

    Alimentao

    A

    BFlegma

    Vinhaa

    Fonte: O autor (2014)

    importante ressaltar que o sistema em duas colunas o utilizado nasdestilarias de grande escala para a produo de EHC. O sistema de destilao

    divide-se, visualmente, em duas colunas, embora se tenha, fisicamente, cinco

    colunas. Sobrepostas a coluna A existem as colunas A1 onde o flegma

    produzido, e Donde se extrai lcool de segunda (rico em aldedos). Juntamente

    coluna B tem-se a coluna B1, ambas constituindo a torre de retificao, conforme

    apresentado e discutido em Dias et al. (2009).

    A destilao em regime contnuo apresenta uma srie de vantagens em

    relao batelada, como a elevada concentrao do destilado, pequena perda de

    etanol no produto de fundo (vinhoto), elevada produtividade e menor consumo

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    energtico. Entretanto, um destilador contnuo no permite flexibilidade operacional,

    exigindo um rigoroso planejamento da operao da microdestilaria a fim de que se

    disponibilize a esta etapa material fermentado em quantidade suficiente para atender

    a demanda do processo.

    Os rendimentos da destilao em colunas de operao contnua variam de 92

    a 96% (MAYER; HOFFMANN; HOFFMANN, 2013; SECRETARIA DE INDSTRIA E

    COMRCIO, 1984). Schettert (2012) relatou rendimentos entre 80 e 95% em funo

    de mudanas na concentrao de etanol na alimentao de um destilador com nica

    coluna, que variou entre 5 e 9% em volume.

    2.2.2 Desafios tecnolgicos

    O aumento da eficincia do processo, a produtividade e o baixo consumo

    energtico so os desafios tecnolgicos a serem enfrentados pela produo de

    etanol em pequena escala. A escala de produo define a tecnologia utilizada no

    processo uma vez que estas duas relacionam-se com a viabilidade econmica do

    investimento. Como regra geral, as tecnologias que conduzem aos maiores

    rendimentos so as que apresentam maiores investimentos e/ou custos

    operacionais (mo de obra, insumos, energia, etc.). Assim o caso, por exemplo, do

    difusor na extrao de acares, da fermentao contnua na converso do

    substrato em etanol ou do uso de membranas na concentrao do etanol.

    Cabe ressaltar que o rendimento de um terno de moenda ou de um

    fermentador em batelada no depende da escala e, por isso, esses equipamentos,

    que so as tecnologias atualmente utilizadas, esto no limite superior de eficincia.

    Atualmente tecnologias mais eficientes que estas resultam em custos proibitivos, ouseja, o ganho em rendimento no suficiente para cobrir os custos envolvidos.

    Em relao destilao, ocorre certa diferena na anlise escala versus

    rendimento, uma vez que, teoricamente, o rendimento da destilao elevado e

    independe da escala de produo.

    A diferenciao entre os rendimentos das trs etapas de produo de etanol

    em pequena escala apresentada no item 2.2.2.1 Produtividade Industrial.

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    51

    2.2.2.1 Produtividade industrial

    A produtividade industrial das microdestilarias resultante dos rendimentos

    das etapas de obteno de substrato, fermentao e destilao. Em relatrio de

    avaliao de microdestilarias instaladas no Rio Grande do Sul, elaborado pela

    Universidade Federal de Santa Maria (MAYER; JAHN; BISOGNIN, 2010) foram

    detalhados os processos produtivos de microdestilarias pertencentes Cooperativa

    Mista de Produo, Industrializao e Comercializao de Biocombustveis do Brasil

    Ltda, com sede em Palmeira das Misses (RS), instaladas nos municpios de Seberi

    e Vista Alegre. A Tabela 4 apresenta os valores de rendimento e produtividade

    industrial para os trs casos analisados.

    Tabela 4 Rendimentos (%) e produtividade industrial (Lt-1de cana-de-acar) de

    microdestilarias instaladas no Rio Grande do Sul

    EtapasRendimentos (%)

    Tecnologia AS Tecnologia AV Tecnologia B

    Extrao 79,1 65,0 65,0

    Fermentao 85,0 84,6 84,6

    Destilao 77,5 57,0 70,3

    Perdas de etanol no vinhoto (%)a 17,76 10,81 20,82

    Graduao alcolica (GL) 84,00 80,00 90,13

    Produtividade Industrial (Lt-1de cana) 59,83 34,87 39,87a Perdas calculadas em relao quantidade de etanol presente no vinho alimentado no

    destilador.

    Fonte: Dados obtidos em Mayer, Jahn e Bisognin (2010).

    As trs microdestilarias avaliadas possuem sistema de extrao de caldo por

    um terno de moenda e sistema de fermentao em batelada. Os destiladores

    possuem regime de operao contnuo, com capacidade nominal de produo de

    etanol combustvel de 25 Lh-1, para os destiladores de Seberi e Vista Alegre (AS e

    AV, respectivamente), e 12 Lh-1, para o destilador de Vista Alegre (B), conforme

    informado pelos fabricantes.

    A partir dos dados apresentados na Tabela 4 possvel verificar que os

    rendimentos das etapas de obteno de substrato e fermentao esto de acordocom os valores mximos esperados, conforme exposto no Apndice B. Em relao

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    destilao, verifica-se um rendimento muito baixo (entre 57,0 e 77,5 %) em

    comparao com o valor mnimo esperado (92,0 %). Esse baixo rendimento torna-se

    evidente quando se avaliam as perdas de etanol no vinhoto, que atingiu 20,82 % no

    destilador de Vista Alegre (B). Alm disso, a graduao alcolica obtida por tais

    destiladores ficou aqum dos 95,1 % em volume exigidos para sua comercializao

    (conforme Resoluo ANP n 07, de 09 de fevereiro de 2011). A Tabela 5 apresenta

    valores de produtividade industrial encontrados na literatura para doze

    microdestilarias.

    Tabela 5Produtividade industrial de microdestilarias.

    Fonte

    Produo

    de etanol

    (Lh-1)

    Matria-prima ATR (%)a

    Produtividade industrial (Lt-

    de material-prima)

    Real Padronizado

    Iturra (2004)

    70,0 Cana-de-acar 14,5 55,2 53,3

    100,0 Cana-de-acar 14,5 57,0 55,0

    200,0 Cana-de-acar 13,5 59,5 61,7

    Mayer et al.

    (2008)

    21,6

    Cana-de-acar

    19,5 59,83 42,2

    11,4 19,5 34,87 25,0

    6,5 19,5 39,87 28,6

    Hulett (1981) 100,0 Cana-de-acar - 50,0 50,0

    Gemente et al.

    (1982)

    100,0

    Cana-de-acar 13,5

    44,50 46,1

    100,0 51,92 53,8

    100,0 59,33 61,5

    200,0 59,33 61,5

    Weschenfelder

    (2011)42,0 Sorgo sacarino 10,6 48,85 64,5

    aAcares redutores totais. Valores em % ou gramas de ART por 100 g de caldo.bValores padronizados para 14% ATR na matria-prima.

    Fonte: O autor (2014)

    A partir dos dados da Tabela 5 possvel observar que os valores de

    produtividade industrial no ultrapassam 65 Lt

    -1

    de cana-de-acar padronizada,enquanto a mdia nacional da produtividade industrial de 82,0 Lt -1 de cana-de-

    acar, considerando uma concentrao de acares totais recuperveis (ATR) de

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    14% (MINISTRIO DA AGRICULTURA, 2012). O Apndice B apresenta uma

    descrio detalhada sobre o clculo da produtividade industrial.

    Os dados das Tabelas 4 e 5 revelam que o maior potencial para melhoria no

    incremento do rendimento das microdestilarias encontra-se na etapa de destilao,

    uma vez que os rendimentos das etapas de extrao e fermentao esto prximos

    de valores mximos possveis. O aumento do rendimento na etapa de destilao

    tem grande impacto na produtividade industrial, motivo que justifica especial

    ateno.

    2.2.2.2 Consumo energtico

    O consumo energtico um aspecto relevante na anlise de microdestilarias,

    pois impacta significativamente em sua viabilidade econmica. De todas as etapas

    industriais, a destilao a que responde pelo maior consumo energtico. Alm

    disso, o apelo ambiental que esse sistema de produo possui pode ser ofuscado se

    no houver um balano energtico satisfatrio para o processo.

    Tecnologias sofisticadas e de maior rendimento trmico, como a destilaodiabtica (DE KOEIJER; RIVERO, 2003), destilao com membrana (BONYADI;

    CHUNG, 2007), colunas de destilao com paredes divididas e colunas de

    destilao com integrao trmica interna - Internally Heat Integrated Distillation

    Column(HIDiC) (OLUJI et al., 2009)ou pervaporao extrativa (THONGSUKMAK;

    SIRKAR, 2009), so exemplos de desenvolvimentos que ainda no so utilizados na

    pequena escala pelo custo proibitivo e complexidade operacional.

    Na maioria dos casos, a fonte energtica para provimento de calor aoprocesso s microdestilarias so combustveis slidos de baixo custo e renovveis,

    como os subprodutos do processo (bagao de cana-de-acar), lenha ou outro

    resduo agroindustrial, como nos trs primeiros sistemas de aquecimento citados na

    Figura 4. O aproveitamento dessas fontes de energia de produo local se alia ao

    propsito de sustentabilidade energtica desses sistemas rurais, propsito que

    diversas experincias procuraram demonstrar em relao ao consumo de energia

    necessrio na produo de etanol em pequena escala.

    A Tabela 6 apresenta dados operacionais de doze destiladores em batelada e

    contnuos, de onde foi possvel calcular o consumo especfico de energia na

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    destilao. Os dados apresentados demonstram a variabilidade dos sistemas de

    aquecimento empregados na destilao em microdestilaria, bem como o

    combustvel utilizado no fornecimento de energia ao processo.

    De um modo geral, o consumo energtico na destilao foi maior para os

    destiladores em batelada, o que era esperado. Os consumos especficos de energia

    mostrados pelos destiladores 10 e 11 excedem o consumo de alguns destiladores

    batelada, possivelmente por falhas de projeto (razo de refluxo muito elevada).

    Bengston (1983) apresenta estimativas de consumo de energia para sistemas em

    pequena escala batelada e contnuo de 13,65 e 7,96 MJL-1 de etanol anidro

    equivalente, respectivamente.

    Comparando-se o consumo de energia dos sistemas de destilao em

    pequena escala e o apresentado por uma destilaria de grande escala igual a 4,89

    MJL-1 de etanol anidro equivalente (SALLA et al., 2009) pode-se afirmar que

    existe grande potencial para reduo desse consumo, principalmente para os

    sistemas em regime contnuo. Essa reduo pode ocorrer de diversas maneiras:

    pelo aumento da concentrao da alimentao at 13 % em volume de

    etanol. Concentrao acima de 13 % em volume resulta em pequena

    reduo nos custos energticos (COLLURA; LUYBEN, 1988; STAMPEet al., 1983), alm de comprometer a fermentao pela toxicidade do

    etanol para boa parte das cepas de leveduras (WALKER, 1998);

    pela reduo na concentrao do destilado (ver Tabela 8);

    pela integrao energtica, aproveitando-se o calor residual das

    correntes de sada (condensado e vinhoto) para o pr-aquecimento da

    alimentao;

    pela utilizao de tecnologias no tradicionais, como recompresso devapor (COLLURA; LUYBEN, 1988; DIAS et al., 2011; FICARELLA;

    LAFORGIA, 1999; FONYO; MIZSEY, 1994) e alimentao dividida

    (split feed) (COLLURA; LUYBEN, 1988);

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    Tabela 6Dados operacionais de sistemas de destilao em pequena escala contnuos e batelada (continua).

    DestiladorRegime

    operacional

    Dispositivo

    de contato

    Sistema de

    aquecimentoCombustvel

    Concentrao

    da

    alimentao

    Concentrao

    do produto de

    topo

    ProdutividadeConsumo

    energticob

    Fonte

    % em volume % em volumeL.h-1

    (l/bateladaa)

    MJ.L- de

    etanol anidro

    equivalentec

    1 Batelada - Vapord Lenha - 94,00 -e 41,36(CORTEZ; LORA;

    GMEZ, 2008)

    2 BateladaPrato com

    borbulhadores

    Sistema de

    fluido trmicoLenha 7,3 70,00 12,3 (41) 82,50

    (MAYER et al.,

    2008)

    3

    Batelada

    Recheio

    (prolas de

    vidro)

    Fogo direto

    Lenha 12 85,00 11,2 (28) 21,45

    (NOGUEIRA, 2008)4

    Bagao de

    cana-de-

    acar

    29g 89,00 11,72 (85) 17,74h

    5 Batelada

    Recheio

    (anis de

    taquara-

    bambu)

    Fogo direto Lenha 6,0 a 8,0 92,00 12,0 (12) 114,40 (HOFFMANN, 1985)

    6

    Contnuo - Injeo devapor

    Carvomineral

    7,0

    -

    51 5,00

    (STAMPE et al.,1983)

    7 10,0 76 3,80

    8 13,0 98 3,20

    9 ContnuoPrato com

    borbulhadoresVapor Lenha 10,5 84,00 21,6 13,68

    (MAYER et al.,

    2008)

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    Tabela 6Dados operacionais de sistemas de destilao contnuos e batelada (continuao).

    10

    Contnuo

    Prato com

    borbulhadores

    Vapor

    (trocador de

    calor)

    Lenha 9,18 80,00 11,43 67,22

    11

    Prato

    perfurado

    sem

    downcomer

    Injeo de

    vaporLenha 9,81 90,13 6,54 80,15

    12 Contnuo

    Prato

    perfurado

    sem

    downcomer

    Injeo de

    vaporLenha 9,50 95,40 42,0 13,31

    (WES