Post on 09-Dec-2015
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A. "OBJETIVIDADE" D
O C
ON
HE
OM
EN
TO
NA CIÊNCIA SOCIAL E NA CIÊNCIA PO
LÍTICA
1 -
1904
A prim
eira pergunta que se deve fazer a uma revista de àênàas sociais e
de política social no mom
ento em que fica sob a responsabilidade de um
a nova redação, é, obviam
ente, a pergunta quanto às suas ''tendênàas". 2 Não podem
os nos negar a respondê-la e, pretendem
os aqui, dar uma resposta em
consonânàa
1 Sempre cpe, na prim
eira parte das considerações cpe se seguem, se falar explicitam
ente em
nome dos edira-es, oo cpando se delegar detenninadas tarefas ao Archiv for Sozialw
issenschaft und Sazia/politik (A
rq.llvo para a ciência social e política social) não tratar-se-á, naturalmente, de
opiniões partirulares do autor, mas de form
ulações cpe foram expressam
ente autorizadas pelos co-edira-es. A
responsabilidade da segunda parte recai, exclusivamente, sobre o autor, seja oo tocante
à forma, oo oo cpe diz respeito ao CX>I'lláldo.
O Arquivo jam
ais cairá no sectarisrrD de um
a determinada opinião dogm
ática, o cpe será as-segurado pela diversidade dos pontos de vista, não apenas dos seus colaboradoces, m
as também
dos seus editoces, m
esrrD oo que diz respeito a cpestões m
etodológicas. Naturalm
ente, certo con-senso com
referêrria a determinadas concepções básicas era um
pré-recpisito para se poder assumir
urna direção coletiva. Este consenso consiste, em particular, na apreciação do valor do conhecim
ento teórico a partir de pontos de vista "unilaterais", bem
como na exigência da form
ação de conceitos precisos e na rigorosa separação entre o "saber em
pírico" e os "juízos de valor'' -sem
, com isso,
se acreditar na existência de algo "essen:ialmente oovo".
A am
pliação da discussão (na segunda parte) e a freqüente repetição da mesm
a idéia servem
ao fim exclusivo de alcan;ar, através de tais considerações, o m
áximo de "com
preensibilidade geral". Em
função deste interesse, sacrificoo-se -esperam
os que não de maneira excessiva -
o rigor nas expressões, e, em
virtude do mesrrD
interesse, deixamos de lado a tentativa de apresentar um
a investigação sistem
ática para apresentar justaposições e exemplificações de alguns pontos de vista
metodológicos. Um
a abordagem sistem
ática implica a inclusão de um
a multiplicidade de proolem
as epistem
ológicos que, em parte, requerem
uma diSOJSSão em
um nível m
uito mais profundo. N
ão abocdam
os aqui, de maneira direta, cpestões de lógica, m
as apenas utilizamo-nos de alguns co-
nhecidos resultados da lógica moderna Tam
bem não pretendem
os solucionar problemas da lógica,
mas tão-som
ente ilustrar o seu significado para os especialistas. Quem
conhece os trabalhos dos lógicos m
odernos -serão m
encionados aqui apenas os nomes de W
mdelbant, Sim
mel, e, com
ênfase para os nossos fins, H
einrich Rickert -logo perceberá cpe, na sua essên::ia, são estas as
linhas de pensamento presentes em
nosso raciocínio. 2 Este ensaio foi. publicado no rrD
mento em
que a direção do Archiv for Sozialwissenschqft
und Sozialpolitik (ArqUivo para ciência social e política social) foi. entregue aos editores Werner
Sombart, M
ax Weber e Edgar Jaffé (rota de M
arianne Weber).
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com a nossa "nota intrcxlutória" segundo um
plano fundamental. Procedendo
desta maneira, se nas oferece a oportunidade de ilustrar, em
conformidade com
as diversas tendêndas, os trabalhos de pesquisa da "dênda social" na sua espe-dfiddade, que pode ter algum
a utilidade, senão para o espedalista, ao menos
para muitos leitores, m
esmo que se encontrem
um tanto afastados da prática
dentífica, para quem talvez se trate apenas de "coisas óbvias".
Foi explidtamente o propósito do A
rquiw, desde o seu surgim
ento, ao la-do da am
pliação do nosso saber sobre as "condições sociais de tcxlas os países", e, portanto, dos fatos da vida social, a fonnação do juízo sobre seus problem
as práticos, e, com
isso, -dentro das lim
itações que semelhante m
eta pode ser executada por estudiosas particulares -
a crítica da práxis sódo-política, in-clusive a da legislação. A
o mesm
o tempo, desde o inído, o A
rquiw defendeu
o ponto de vista de ser uma revista exclusivam
ente dentífica, trabalhando ex-clusivam
ente com as m
eios característicos da investigação dentífica. Destarte
surge indiscutivelmente um
a pergunta, qual seja: Com
o se haveria de condliar aquele fim
com esta lim
itação das meias; significaria tal fato que o A
rquiw
permitiria nas suas colunas a avaliação de regras e m
edidas sobre a legislação, a adm
inistração e propostas práticas? Quais poderiam
ser as normas para estes
juízas? Qual é a validade dos juízas de valor que um
determinado autor sugere
como estando corretas no que tange a projetos práticas? A
té que parte esta discussão fica no terreno das reflexões dentíficas, já que o elem
ento caracterís-tico do conhedm
ento dentífico consistiria na "validade" objetiva das resultados da pesquisa, que são tcxlas f>or "verdades"? A
presentaremos, em
primeiro lugar,
o nosso ponto de vista sobre esta questão, para, em seguida, abordar outra:
em que sentido há "verdades objetivam
ente válidas" na área das dêndas que se ocupam
da vida "cultural"? Esta pergunta não pode ser evitada tendo em
vista a contínua mudança e as acaloradas polêm
icas acerca das problemas apa-
rentemente elem
entares de nassa disdplina, do métcxlo de trabalho, da form
a-ção dos conceitos e da sua validade. N
ão queremos fornecer soluções m
as apontar problem
as, para conhecer aqueles aos quais nossa revista deve voltar sua atenção a fim
de cumprir suas tarefas atuais e futuras.
I.
Tcxlos sabemos que, com
o qualquer outra dênda que tenha por objeto as instituições e as processos da cultura hum
ana -com
exceção, talvez, da his-tória política -
também
a nassa partiu historicamente de perspectivas práticas.
Formular juízas de valor sobre determ
inadas medidas do Estado com
referênda ã econom
ia política constituiu o seu fim im
ediato e, no inído, até o seu fim
único. Ela foi uma "técnica", no sentido de que tam
bém o são as disdplinas
clínicas das dêndas médicas. É sabido que esta posição foi se transform
ando lentam
ente, sem que, no entanto, se intrcxluzisse um
a divisão de principias en-tre o conhedm
ento daquilo "que é" e daquilo que "deve ser". Contrária a esta divisão foi a opitrião de que, de um
a parte, as processos econômicas seriam
regidos por leis naturais e, de outra, de que haveria um
principio bem deter-
minado da evolução das processas econôm
icas, e que, conseqüentemente, o
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"dever ser", ou coinddiria com o próprio ser na sua im
utabilidade -no pri-
meiro caso -
ou que o "dever ser" -no segundo caso -
Coinddiria com
aquilo que eternam
ente faz parte de um "devir". Com
o despertar do sentido histórico, passou a predom
inar na nassa dênda uma com
binação entre evolu-donism
o ético e relativismo histórico que procurava despojar das forças éticas
o seu caráter formal, e determ
iná-las com referênda ao seu conteúdo, intrcxlu-
zindo a totalidade das valores culturais no âmbito do "ético", e, além
disso, elevar a econom
ia política ã dignidade de uma "dênda ética" com
bases em-
píricas. Enquanto se atribuía ã totalidade de ideais culturais passíveis o título de "ético", esvaía-se a dignidade especifica do im
perativo moral, e, no entanto,
nada se lograva para a "objetividade" da validade daqueles ideais. Por ora, po-dem
os e devemos deixar de lado um
a discussão aprofundada sobre esta posi-ção: m
endonamas apenas de m
aneira simples o fato de que, ainda hoje, não
desapareceu a opinião impredsa -
mas, antes, continua a ser m
uito comum
entre as hom
ens de práxis -de que a econom
ia política deveria emitir juízos
de valor a partir de uma especifica
econômica".
Nossa revista, com
o representante de uma disdplina em
pírica, deve -gas-
taríamos de insistir nisso de antem
ão -rejeitar em
principio este ponto de vista, pois é nossa opinião de que jam
ais pode ser tarefa de uma dênda em
-pírica propordonar norm
as e ideais obrigatórios, das quais se passa derivar "re-ceitas" para a prática.
Porém, o que se depreende desta afinnação? Juízas de valor não deveriam
ser extraídas de m
aneira nenhuma da análise dentífica, devido ao fato de de-
rivarem, em
última instânda, de determ
inadas ideais, e de por isso terem ori-
gens "subjetivas". A práxis e o fim
de nossa revista desautorizará sempre se-
melhante afirm
ação. A crítica não se detém
em face dos juízas de valor. A
ques-tão é a seguinte: o que significa e o que se propõe a crítica dentífica das ideais e dos juízos de valor? Fsta questão m
erece considerações mais profundas.
Tcxla reflexão conceitual sobre as elementos últim
as da ação humana pre-
vista com sentido, prende-se, antes de tudo, ãs categorias de "fim
" e "meias".
Querem
os algo em concreto ou "em
virtude de seu próprio valor", ou, como
meio que está a serviço daquilo a que se aspira em
última instânda?. A
con-sideração dentífica pode ser subm
etida, incondidonalmente, a questão de se
determinadas m
eios são apropriadas para alcançar as objetivas pretendidas. Já que podem
os -dentro das lim
ites do nasso saber, diferindo de caso para caso -
estabelecer quais meios seriam
apropriados ou não aos determinadas fins
propostos, podemos tam
bém, seguindo este m
esmo procedim
ento, ponderar acerca da possibilidade de alcançar um
determinado fim
, considerando as res-pectivas m
eios disponíveis, e, a partir dela própria, criticar indiretamente a pro-
posta das fins, tendo em conta a situação historicam
ente dada, como sendo
prevista de sentido, ou, diferentemente, classificá-la com
o sendo sem sentido.
Podemos, além
disso, se a possibilidade de alcançar um fim
proposto parece com
o dada, comprovar e constatar as conseqüêndas que teria a aplicação do
meio requerido, e, tam
bém, do eventual lucro do fim
pretendido, levando em
consideração a interdependênda de todo o devir. Deste m
cxlo, oferecemos aos
atores a possibilidade de refletir sobre as conseqüêndas "não-intentadas", com-
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parando-as com as "intentadas", para responder à pergunta seguinte: qual é o
"custo" do alcance do fim desejado em
termo; da perda previsível da realização
de outros valores, ou em com
paração a ela? Supondo que, na grande maioria
dos casao, qualquer fim a que se aspire, neste sentido, "custa" algum
a coisa ou "pode custar algo", a auto-reflexão dos hom
ens que agem com
responsabi-lidade não pode presdndir da ponderação entre fins e conseqüêndas de de-term
inada ação. Paosibilitar isto é, exatamente, um
a das funções mais im
por-tantes da critica técnica que até agora foi objeto de nossas reflexões. M
as tomar
uma determ
inada decisão em função daquelas ponderações já não é m
ais tarefa possível para a dênda. Ela é própria do hom
em da ação: ele pondera e escolhe,
entre os valores em questão, aqueles que estão de acordo com
sua própria consdênda e sua cosm
ovisão pessoal. A dênda pode propordonar-lhe a cons-
dênda de que toda a ação, e também
,· de modo natural, conform
e com as dr-
cunstândas, a "não-ação" implicam
, no que tange às suas conseqüêndas, uma
tomada de posição a favor de determ
inada; valores, e, deste modo, em
regra geral, "contra outra; valores" -
fato que, hoje em dia, é fadlm
ente esqueddo. D
ecidir-se por uma opção é exclusivam
ente "assunto pessoal". Entretanto, no que diz respeito a esta opção, podem
os oferecer algo a mais:
o conhedmento do significado daquilo que é o "objeto" da aspiração. Podem
os ensinar a alguém
o conhecimento da; fins que esse alguém
procura, e entre a; quais faz um
a seleção, num prim
eiro mom
ento, por meio da indicação e
conexão lógica das idéias qne talvez possam estar na base do fim
concreto. Pois, um
a das tarefas essendais de qualquer dênda da vida cultural dos homens
é, realmente, desde o inído, a apresentação clara e transparente de suas idéias,
para compreendê-las e para saber o porquê de se ter lutado por elas. Este pro-
cedimento, a nosso ver, não ultrapassa os lim
ites de uma dênda que pretende
elaborar "uma ordenação conceitual da realidade em
pírica", nem ao m
eia; que servem
a esta interpretação de valores espirituais que são apenas "induções", no sentido corrente deste term
o. Não obstante, pelo m
ena; em parte, esta tarefa
permanece fora da; quadros típicos da econom
ia política, entendida como dis-
ciplina espedalizada dentro da divisão costumeira das dêndas. Trata-se de
questões próprias da filaoofia sodal. Mas, devido à força histórica das idéias
que foi grande, e que ainda continua sendo importante para o desenvolvim
ento da vida sodal, a naosa revista não pode ab;ter-se de abordar estas questões que, indiscutivelm
ente, fazem parte de suas preocupações essendais.
Para uma abordagem
dentífica da; juíza> de valor não é sufidente apenas com
preender e reviver ao fins pretendidos e a; ideais que estão no seu fun-dam
ento, mas tam
bém e, adm
a de tudo, ensinar a "avaliá-la;" criticamente. Esta
critica, no entanto, só pode ter caráter dialético; isto significa que só pode con-sistir num
a avaliação lógico-formal do m
aterial que se apresenta nos juíza> de valor e nas idéias historicam
ente dadas, e num exam
e da; ideais, no que diz respeito ao postulado da ausênda de um
a contradição interna do desejado. En-quanto se propõe a este fim
, ela pode propordonar ao hom
em que quer a
consdênda da; últimos axiom
as, que estão na base do conteúdo do seu querer, a consdênda dos critério; últim
os de valor que se constituem de m
aneira in-consdente o ponto de partida -
dao quais, para ser conseqüente, deveria partir. Realm
ente, chegar à consdênda destes critério; últimos que se m
anifestam nos
110
juíza; de valor concretos é o máxim
o que ela pode fazer sem entrar no terreno
Se ? sujeito que emite juíza; de valor deve professar estes cri-
tenao ulttmao, tsso e um
problema pessoal, um
a questão de sua vontade e de sua consciência; não tem
nada a ver com o conhedm
ento empírico.
;-;ma dênda em
pírica ensinar a ninguém
o que deve fazer; só lhe e dado -
em certas arcunstandas -
o que quer fazer. É verdade que no setor das naosas atividades dentíficas, continuadam
ente são introduzidos m
enta; da caomovisão pessoal, bem
como na argum
entação científica. Eles sem-
pre causam problem
as, fazendo com que nó; atribuam
os pesao diferentes na elaboração de sim
ples relações causais entre fatos, na medida em
que 0 resul-aum
enta ou diminui a possibilidade da realização de nossas idéias pesso-
ats. No que tange a este fato, é óbvio que tam
bém aao editores e colaboradores
de naosa revista "nada que é humano lhes será estranho". M
as há muito ca-
minho a ser percorrido entre este reconhedm
ento das fraquezas humanas e a
crença numa dênda "ética" da econom
ia política, que poderia extrair do seu m
aterial ideais ou normas concretas por m
eio da aplicação de imperativos éticos
de valor universal. Sem dúvida, é verdade que exatam
ente aqueles elementos
mais
da "personalidade", ou seja, ao última; e suprem
os juízos de valor, que determ
mam
a nossa ação e conferem sentido e significado à naosa vida
são percebida; por nós como sendo objetivam
ente válida>. Podemos
la; apenas quando eles se apresentam com
o válida;, dependentes ou derivados dos nossa; juíza> de valor, de naosa vida, e, portanto, quando se desenvolvem
em
oposição aa; obstáculos. Sem dúvida, a dignidade de um
a "personalidade" reside no fato de que, para ela, existem
valores aos quais a sua própria vida diz respeito, m
esmo se estes -
em casao bem
particulares -residem
exclu-sivam
ente dentro da esfera da própria individualidade, do "viver plenamente"
ao interesses para ao quais se exige a validade enquanto valores, constitui para ela, exatam
ente, a idéia à qual ela se refere. Seja como for, som
ente a partir do pressuposto da fé em
valores tem sentido a intenção de defender certos
valores publicamente. Porém
emitir um
juízo sobre a validade de tais valores é assunto da fé, e talvez tam
bém seja tarefa de um
a consideração e interpre-tação especulativa da vida e do m
undo, no tocante ao seu sentido m
as cer-
, ,
tamente, não é tarefa de um
a dênda empírica, no sentido com
o nós a enten-dem
os. Com
referência a esta distinção, -o que é a opinião de m
uita; -não possui peso decisivo o fato, em
piricamente constatável, de aqueles últim
os firts variarem
muito e terem
sido questionada; historicamente. O
utrossim, o co-
nhecimento das proposições m
ais seguras do nosso conhecimento teórico -
o das dêndas naturais exatas e o da m
atemática -
é da m
esma m
aneira da
, ,
forma do refinam
ento e do aguçamento da consdênda; é apenas um
produto da cultura. Q
uando pensamos especificam
ente acerca dos problemas práticos
da política econômica e sodal (no sentido com
umente entendido deste term
o), percebem
os, com clareza, que há num
eraoas, e até mesm
o infinitas questões práticas particulares, para cuja análise, de com
um acordo, se com
eça a partir de certa; fins que parecem
óbvia; -com
o, por exemplo, a ajuda previdencial,
as tarefas concretas da saúde pública, o socorro aos pobres, as medidas tais
111
como inspeção das fábricas, a; tribunais industriais, oo atestada> de trabalho e
outras normas legais para a proteção doo operária> -
com referência a estas
questões, pelo mena> aparentem
ente, só são analisada; a> meios para se con-
seguir dinheiro. E, mesm
o se confundíssemo; -
coisa que a ciência nunca de-veria fazer im
punemente -
a aparência do óbvio com a verdade, e se quisés-
semos ver a; conflito; ao; quais, de im
ediato, conduz a tentativa da realização prática na form
a de questões puramente técnicas -
o que, pelo menos em
m
uita> casa>, seria errôneo -deveriam
a; constatar, sem dúvida, que tam
bém
esta aparência do caráter óbvio da; critérios que regulam a> valores desapare-
cem logo quando, a partir da; problem
as concretos do serviço de assistência e bem
-estar, mudam
o; de nível, para analisar questões gerais da política eco-nôm
ica e sodal. O que caracteriza o caráter político-sod.d de um
problema
consiste, precisamente, no fato de não se poder resolver a questão com
base em
meras considerações técnicas, a partir de fins preestabelecida> e de a> cri-
tério; reguladores de valor poderem e deverem
ser postas em discussão, pois
o problema faz parte de questões gerais de cultura. É opinião geral que há
disputas entre diferentes "interesses de classe", mas tam
bém entre casm
ovisões -
admitindo, entretanto, que seja verdade que a opção, por parte do indivíduo
de determinada casm
ovisão depende, entre outras fatores, e com elevado grau
de certeza, da afmidade que ela tem
com o seu "interesse de classe" e acei-
tando provisoriamente
conceito como unívoco. U
ma coisa, sem
dúvida, '
' é certa, em
qualquer circunstância: quanto mais "universal" for o problem
a em
questão, isto é, quanto mais am
plo for o seu significado cultural, quanto menos
for passível dar uma !espasta extraída do m
aterial do conhecimento em
pírico, tanto m
aior será o papel das axiomas últim
as e pessoais da fé e das idéias éticas. É sim
plesmente um
ato ingênuo, mesm
o que ele seja compartilhado por
certos especialistas, acreditar que é necessário, para a ciência social prática, esta-belecer, sobretudo, ''um
principio", demonstrado cientificam
ente como válido,
a partir do qual, em seguida, podem
ser deduzidas, de maneira unívoca, as
normas para a solução de problem
as práticas singulares. Por mais que, na ciên-
cia sodal, sejam necessárias explicações "de principias" sobre problem
as práti-cas, isto é, a referência a juízos de valor que se introduzem
de maneira não-
refletida, com referência ao conteúdo das idéias, e por m
ais que a nossa revista se proponha dedicar-se de m
aneira particular a tais explicações, certamente não
poderá ser sua tarefa -e, de m
aneira geral, de nenhuma ciência em
pírica -determ
inar um denom
inador comum
prático para as nossas problemas na form
a de idéias últim
as e universalmente válidas; um
a tal determinação não apenas
seria praticamente im
possível, como tam
bém não teria nenhum
sentido. Por m
ais que fosse possível interpretar o fundamento e o m
ooo de obrigatoriedade dos im
perativas éticoo, é certo que, a partir destes imperativas, enquanto nor-
mas para a ação das individuas condicionadas concretam
ente, é impossível de-
duzir, de maneira unívoca, conteúdos culturais que sejam
obrigatórias, e tanto m
enos quanto mais forem
abrangentes as conteúdos em questão. Som
ente as religiões positivas -
ou, para ser mais predso, as seitas ligadas por um
dogma
-podem
conferir ao conteúdo de valores culturais a dignidade de um m
anda-
112
:nento. ético válid?. D
eixando de lado religiões, as ideais tndivtduo pretende realtzar e oo deveres éticas que deve cum
prir tem
uma digrudade fundam
entalmente diferente. O
destino de uma época cul-
tural que da á:vore do
é ter de saber que podemoo
falar a respetto do sentido do devtr do mundo, não a partir do resultado de
uma investigação, por m
ais perfeita e acabada que seja, mas a partir de nós
próprias que temoo de ser capazes de criar este sentido. Tem
os de admitir que
"casmovisões" nunca podem
ser o resultado de um avanço do conhecim
ento em
pírico, e que, portanto, as ideais suprema; que nas m
ovem com
a máxim
a força passível, existem, em
t<Xias as épocas, na forma de um
a luta com ootras
ideais que são, para outras pessrns, tão sagradas como o são para nós as nossas.
Apenas um
sincretismo otim
ista, que às vezes surge do relativismo histó-
rico-evolutivo, é capaz de equivocar-se teoricamente acerca da extrem
a serie-dade deste estado de coisas, oo de evitar, na prática, as suas conseqüências. É óbvio que, em
casas particulares, pode ser até mesm
o um dever para o político
prático, querer conciliar opiniões opostas, ou tomar partido de um
a delas. Mas
isto não tem nada a ver com
a "objetividade" científica. A "linha m
édia" de m
ooo nenhum acerta a verdade científica m
ais do que as ideais das partida; extrem
as, que sejam de direita ou de esquerda. N
ada prejudicoo mais o inte-
resse da ciência do que não se querer ver as fatos incômooas e as realidades
da vida na sua dureza. O A
rquiw lutará incondicionalm
ente contra a grave ilu-são que acredita ser passível, por m
eio da síntese entre opiniões partidárias, ou seguindo um
a linha diagonal entre elas, obter efetivamente norm
as práticas de validade científica. Esta opinião, na realidade, já que pretenderia encobrir de m
aneira relativista seus próprias critérios de valor, são mais perigosas para
uma investigação im
parcial do que a velha e ingênua fé doo partidas que acre-ditam
na "demonstrabilidade" das seus dogm
as. A capacidade e diferença entre
conhecer e julgar, e o cumprim
ento, tanto do dever científico de ver a verdade doo fatos, com
o do dever prático de aderir aoo próprias ideais, é, realmente,
aquilo com que buscam
os nas familiarizar cada vez m
ais.
É certo que existe -e é isso que nas interessa -
, em qualquer época,
uma diferença intransponível, quando um
a argumentação se dirige ao nosso
sentimento e à capacidade que tem
as de nas entusiasmar por objetivas prática;
concretas e por formas e conteúdos culturais, ou quando se dirige à nossa cons-
ciência, no caso em que se trata da validade de certas norm
as éticas, ou, por ftm
, quando se dirige à nossa capacidade e necessidade de ordenar conceitual-m
ente a realidade empírica, de um
a maneira que insiste na pretensão de vali-
dade da verdade empírica. E esta afirm
ação continua correta mesm
o quando, com
o mastrarem
oo, aqueles ''valores" suprema; do interesse prático têm
impor-
tância decisiva, pois sempre a terão, no que diz respeito à orientação que a
atividade ordenadora do pensamento introduz, em
cada um das casas, no setor
das ciências da cultura. É certo que -e continuará a sê-lo -
se uma dem
ons-tração científica, m
etooologicamente correta no setor das ciências sociais, pre-
113
tende ter alcançado o seu fim, tem
de ser aceita como sendo correta.
por um chinês. Sendo m
ais preciso: deve aspirar, em
caso, esta
meta, m
esmo quando, talvez, não possa ser alcançada deV
Ido a m
aterial. Isto também
significa que a análise lógica de um ideal, com
ao seu conteúdo, aos seus axiom
as últimos e à indicação das consequenaas
que sua execução acarretará nos setores lógicos. e práticos, também
deve ter validade para um
chinês, se é que pode ser constderado como alcançado. M
as este m
esmo chinês talvez possa não ter a "sensibilidade" necessária aos nossos
imperativos éticos, enquanto rejeita -
pelo menos, m
uitas proce-
derá -o ideal e os julgam
entos concretos dele derivados, pots diSSo afeta o valor dentífico daquelas análises conceituais. A
nossa revista, de modo nenhum
ignorará as tentativas que sem
pre, e de maneira inevitável,
repetem, de de-
terminar univocam
ente o sentido da vida cultural. Pelo contrano, elas pertencem
ou constituem os m
ais importantes produtos desta m
esma vida cultural, e, em
certas drcunstândas, podem
ser uma força m
otriz das mais im
portantes. Por isso, acom
panharemos sem
pre com cuidado o percurso das análises da "filosofia
soda!". Porém, ainda m
ais: não compartilham
os, de modo nenhum
, do precon-ceito de que as reflexões sobre a vida cultural, que pr:tendem
.interpretar me-
tafisicamente 0 m
undo, indo portanto, além da ordenaçao concettual dos dados
empíricos, não poderiam
, por causa desta sua contribuir;
_al-gum
a forma, para o conhe<;im
ento. Em
possa esta contnbuiçao,
isso é uma problem
a da teoria do conheamento, CUJa
pa:a as nossas finalidades podem
os e devemos deixar de lado. N
o que diz ao
trabalho, queremos deixar bem
claro o seguinte: uma r.evista de aenaas soctats,
no sentido em que ná> a entendem
os, deve, na medtda em
que ser
dentífica, ser um lugar onde se busca a verdade do m
odo que um
-para lançar m
ão do nosso exemplo novam
ente -deva reconhecer a vahdade
de um certo ordenam
ento conceptual da realidade empírica.
Certamente, os editores não podem
, de uma vez por todas, proibir a si
próprios e aos seus colaboradores que os ideais
sustentam, in-
clusive os seus juízos de valor. Mas a parttr disso nascem
dots trnportantes de-veres. Em
primeiro lugar, o dever de tanto o_ autor .. com
_o c:' t.erem
a clara consdênda em
cada mom
ento, da questao de quats sao os cntenos em
-pregados para
a realidade, e para obter -partindo destes critérios -
0 juízo de valor. Defendem
os este procedimento em
vez de nos enganarmos
acerca do conflito entre os ideais, e de pretender "oferecer um pouco a cada
um"
como acontece com
demasiada freqüênda, devido a um
a estranha con-de valores da m
ais diversa espécie. Se este dever é ob;ervado estrita-m
ente, o posidonamento prático, em
função do puro interesse dentífico, dar resultados não só prejudidais, m
as até mesm
o diretamente de grande un-
lidade. na crítica dentífica de propostas legislativas e de outras propostas prá-ticas, a eluddação dos m
otivos do legislador e dos ideais do publidsta criti.cad? não pode m
uitas vezes, ser feita em todo o seu alcance em
outra forma tntut-
tivamente' com
preensível que não a da confrontação dos critérios axiológicos,
114
. ';
que estão na sua base, justamente com
os outros critérios, e, por certo e adma
de tudo, também
com os próprios. Cada valoração de um
a vontade alheia só pode ser um
a crítica a partir da própria "cosmovisão", num
combate ao ideal
alheio com base no ideal da própria pessoa. Portanto, se, no caso particular,
o axioma do valor últim
o, que está na base de uma vontade prática, deve ser
não somente com
provado e analisado dentificamente, m
as também
apresentado nas suas relações com
outros axiomas de valores, é inevitável um
a crítica "po-sitiva", que se faça por m
eio da exposição da conexão recíproca destas últimas.
Por isso, nas colunas da revista, se tratará -especificam
ente no tratamento
das leis -ao lado da dênda soda! -
que é o ordenamento conceitual dos
fatos -inevitavelm
ente, também
da política soda! -que é a exposição de
ideais. Mas não pretendem
os de modo nenhum
apresentar tais polêmicas com
o "dênda", e em
pregaremos os nossos m
elhores esforços em precaver-nos de não
confundir as coisas. De todo m
odo, não será mais a "dênda" quem
fala, neste caso, e, em
conseqüênda disso, existe um segundo im
perativo fundamental,
qual seja, o da impardalidade dentífica, que consiste no seguinte. em
tais casos, é necessário indicar aos leitores -
e digamos novam
ente a ná> mesm
os -em
que m
omento cessa a fala do pesquisador e com
eça a fala do homem
que está sujeito a intenções e a vontades, em
que mom
ento os argumentos se dirigem
ao intelecto, e em
qual se dirigem ao sentim
ento. A perm
anente confusão entre a eluddação dentífica dos fatos e a reflexão valorativa é um
a das características m
ais difundidas em nossas disdplinas, e tam
bém um
a das mais prejudidais.
Contra esta confusão, dirigem-se predsam
ente as considerações anteriores e, de m
aneira nenhuma, contra a introm
issão dos próprios ideais. A descaracterização
e a "objetividade" dentífica não têm nada em
comum
O nosso A
rquiw, pelo
menos de acordo com
os seus propósitos, jamais foi, e nunca deverá ser, um
lugar onde se polem
iza contra determinados políticos que têm
uma política so-
da! bem deftnida e, m
enos ainda, um lugar onde se faz proselitism
o em favor
ou contra determinados ideais sociais e políticos. Para tanto, existem
outros ór-gãos. O
que caracterizou a revista foi, e, sem dúvida, será, no futuro, no que
depender dos editores, conseguir a colaboração do trabalho dentífico dos opo-nentes políticos m
ais encarniçados que se encontrarem ao redor. A
té este mo-
mento, o A
rquiw não foi um
órgão "socialista", nem será futuram
ente um órgão
"burguês". Ninguém
será excluído do círculo de seus colaboradores, se ele con-tinuar no terreno da discussão dentífica. A
revista não pode ser uma arena na
qual existem "respostas", "réplicas" e "tréplicas", tam
pouco deve proteger os seus colaboradores, e, m
enos ainda, os seus editores quando, por acaso, estes são expostos à m
ais severa crítica, baseada em fatos dentificam
ente compro-
vados. Quem
não suporta este procedimento, ou quem
se encontra na situação de não querer colaborar nessas condições com
pessoas que estão a serviço de um
ideal que não o seu, ou seja, a serviço do ideal do conhedmento dentíftco,
pode, sem problem
a nenhum, ficar à parte de nossa revista.
Porém, infelizm
ente, com esta últim
a afirmação -
e não queremos nos
enganar sobre isto -dissem
os muito m
ais do que, talvez, possa parecer, num
primeiro m
omento. A
ntes de mais nada, com
o já mendonam
os anteriormente,
115
a pa>Sibilidade de colaborar políticos nw
n ter-reno neutro -
socialmente entendido, ou no ruvel das 1detas -
tem as suas
limitações psicológicas em
todas as partes, mas, sobretudo, nas condições so-
dais atuais da Alem
anha. Isso em si deveria ser com
batido, já que é wn sinal
da estreiteza fanática e do atraso em m
atéria de cultura política. E mais ainda:
este mom
ento adquire, para uma revista com
o a nossa, gravidade dedsiva, de-vido ao fato de, no âm
bito das dêndas, o impulso para o tratam
ento de pro-blem
as dentíficos advir, como regra geral, de "questionam
entos práticos", de m
odo que o mero reconhedm
ento da existênda de wn problem
a dentífico está em
estreita união "pessoal" com a respectiva e bem
determinada vontade hu-
mana. Por causa disso, nas colunas de um
a revista que nasceu sob a influênda de um
interesse geral por um problem
a concreto, normalm
ente deveriam se
reunir como colaboradores hom
ens que voltam o seu interesse pessoal a este
problema, pois estes considerariam
que certas circunstândas concretas estão em
contradição com os ideais em
que acreditam e que estariam
ameaçados. A
afi-nidade com
estes ideais reunirá, sem dúvida, este círculo de colaboradores, e
permitirá o recrutam
ento de outros "novos", fato que conferirá à revista, pelo m
enos no que diz respeito ao tratamento de problem
as político-sociais práticos, um
determinado "caráter", com
as inevitáveis conseqüêndas que sempre estarão
presentes tocia vez que homens com
sensibilidade procuram colaborar uns com
os outros, e cuja posição ''valorativa" não pode, obviam
ente, ser sufocada, nem
no caso de se tratar de um trabalho puram
ente teórico; homens que, aliás, se
manifestam
também
-e com
total legitimidade -
na critica de projetos e de m
edidas práticas, obviamente, dentre os pré-requisitos já m
endonados. O Ar-
quíw apareceu, sem
dúvida, numa época em
que determinados problem
as prá-ticos ocupavam
o primeiro plano das discussões nas dêndas, no que tange à
"questão dos operários", entendendo-se esta expressão num sentido bastante
tradidonal. Essas personalidades, para quem a revista buscará abordar a ques-
tão, estavam ligadas a suprem
os e decisivos ideais de valor, e, além disso, se
tomaram
seus colaboradores normais, passando a ser representantes e partidá-
rios de uma concepção de cultura que foi caracterizada -
não de wn m
odo totalm
ente idêntico mas, pelo m
enos, semelhante -
por estas mesm
as idéias de valor. Todos sabem
que esta revista rejeitou, de maneira explídta, toda e
qualquer "tendênda". Certam
ente possuía, no entanto, este determinado "cará-
ter", no sentido já aludido, apesar de sua limitação às discussões dentíficas e
do convite expresso aos "partidários de todas as posições políticas". Este caráter foi criado pelo círculo dos seus colaboradores regulares. Tratava-se, de um
a ma-
neira geral, de homens que, por m
ais que divergissem eventualm
ente em outros
setores, tinham por escopo a defesa da saúde física das m
assas operárias, e a sua crescente partidpação nos bens m
ateriais e nos bens espirituais da nossa cultura, para os quais, sem
dúvida, estavam convictos de que o m
eio mais apro-
priado seria o aumento da intervenção do Estado nas esferas dos interesses m
a-teriais com
o concomitante desenvolvim
ento posterior da ordem estatal e juri-
dica existente. E mais ainda: qualquer que fosse a sua opinião sobre a form
a da ordem
social no futuro remoto, defenderam
todos o ponto de vista de que,
116
para o mom
ento, seria certo o desenvolvimento do sistem
a capitalista, não por-que lhes parecesse, em
comparação com
formas m
ais antigas, o mais apropria-
do, mas por considerarem
que o capitalismo seria quase inevitável na prática,
e por pensarem que a tentativa de com
andar uma luta fundam
ental contra ele não significaria um
melhoram
ento, mas, antes, um
obstáculo à ascensão da clas-se operária à luz da cultura. N
as condições atualmente existentes na A
lemanha
-as quais não necessitam
aqui de um tratam
ento detalhado -isto era, e ainda
é, inevitável. Na realidade, este procedim
ento redundou no benefído da mais
ampla partidpação nas disciplinas dentíficas, contribuição que dá form
a à re-vista -
nas condições atuais -constitui um
dos títulos que justificam, exata-
mente, a sua existênda.
Não há dúvida de que o desenvolvim
ento de um "caráter", no sentido m
en-donado, pode constituir, no caso de um
a revista dentífica, um perigo para a
impardalidade do trabalho dentífico, e de fato significaria, fosse a seleção dos
colaboradores deliberadamente pardal. N
este caso, a formação daquele "caráter"
equivaleria a uma "tendênda". O
s editores têm plena consdênda da responsa-
bilidade que este estado de coisas lhes impõe. ,Eles não pretendem
modificar
deliberadamente o caráter do A
rquíw, nem
consetvá-lo de maneira artifidal,
por meio da restrição prem
editada do círculo dos seus colaboradores e espe-dalistas que sustentam
determinadas opiniões. A
ceitam-no com
o algo dado, e confiam
no seu "posterior" desenvolvimento. Q
ual será a configuração no fu-turo, e com
o serão as transformações em
conseqüênda da inevitável ampliação
do círculo dos nossos colaboradores, isso é algo que dependerá, em prim
eiro lugar, do caráter daquelas personalidades que, com
intenção de colocar-se a serviço do trabalho dentífico, entram
nesse círculo e começam
a se familiarizar
com ele -
continuam a se fam
iliarizar com ele -
e com as páginas da m
esma
revista. Mas dependerá tam
bém da am
pliação dos problemas, cuja indagação
é o objetivo da revista. C
om esta observação chegam
os ao problema que até agora não foi devi-
damente abordado, qual seja, o da lim
itação objetiva da nossa área de pesquisa. M
as não é possível respondê-lo sem levar em
consideração a natureza do fim
cognitivo da dênda soda!. Até agora, enquanto fizem
os uma distinção "de prin-
cípio" entre "juízos de valor" e "conhedmento em
pírico", pressupomos a exis-
tênda de um tipo de conhedm
ento incondidonalmente válido, isto é, o orde-
namento conceitual da realidade em
pírica na área das dêndas sociais. Agora,
este pressuposto se transforma num
problema, pois deveriam
os discutir o pas-sível significado da "validade" objetiva a que pretendem
os chegar nesta nossa área de saber. A
creditamos que este problem
a realmente existe, que não foi
criado artifidalmente, que é algo que não pode escapar a alguém
que ob>erva o com
bate que se trava ao redor de "métodos", de "conceitos básicos" e de
"pressupostos", bem com
o a contínua mudança dos "pontos de vista" e a cons-
tante "re-definição" dos "conceitos" utilizados, e a quem observa o abism
o, apa-rentem
ente intransponível, que separa a abordagem teórica da abordagem
his-tórica, chegando a tal ponto que, certa vez, um
examinando em
Viena, a la-
mentar-se, queixava-se de que haveria "duas econom
ias polfticas". O que sig-
nifica, aqui, "objetividade"? Esta é a única questão que pretendemos exam
inar nas considerações que se seguem
117
li
A revista 1 sem
pre abordou toda> a; objeta; de sua análise como sendo
de natureza sócio-econômica. Em
bora não seja esse o mom
ento para dedicar-m
o-na; a determinações de conceitos e delim
itações de ciências, impõe-se um
esclarecim
ento sumário acerca do sentido de tudo isso.
Todos a; fenômenos que, no sentido m
ais amplo, designam
os por "sócio-econôm
icos" vinculam-se ao fato básico de a nossa existência fisica, assim
como
a satisfação das nossas necessidades mais ideais, depararem
-se por todos a; la-dos com
a limitação quantitativa e com
a insuficiência qualitativa dos meios
externos, que demandam
a previsão planejada e o trabalho, a luta frente a na-tureza e a assodação com
os homens. Por sua vez, o caráter de fenôm
eno "só-do-econôm
ico" de um processo não é algo que lhe seja "objetivam
ente" ine-rente. Pelo contrário, ele está condicionado pela orientação do nosso interesse de conhecim
ento e essa orientação define-se em conform
idade com o signifi-
cado cultural que atribuímos ao evento em
questão, em cada caso particular.
Sempre que um
processo da vida cultural se vincula direta ou indiretamente
àquele fato básico, através dos elementos da sua especificidade, nos quais re-
pousa, para nós, o seu significado próprio, ele contém, ou pelo m
ena; pode conter conform
e o caso, um problem
a de ciência soda!; ou seja, envolve uma
tarefa para uma disciplina que tom
a como objetivo elucidar o alcance do fato
básico apontado. Entre a; problem
as econômico-sodais podem
o; estabelecer distinções. Te-m
os, em prim
eiro lugar, eventos e complexa; e, deles, norm
as, instituições etc., cujo significado cultural reside, para nós, basicam
ente no seu aspecto econô-m
ico. Por exemplo, acontedm
entos da vida bancária e da bolsa, que desde logo nos interessam
essencialmente deste ponto de vista; norm
almente, m
as não ex-clusivam
ente, isso acontece quando se trata de instituições que foram criadas,
ou que são utilizadas consdentemente para fins econôm
icos. Estes objeta; do nosso conhecim
ento podem ser cham
ada>, em sentido restrito, de processos
ou instituições "econômicas". A
esses acrescentam-se outros, com
o, por exem-
plo, acontedmenta> da vida religia;a que não na; interessam
, ou que, pelo m
enos, não nos interessam em
primeiro lugar, do ângulo do seu significado
econômico e em
nome dele, m
as que, em determ
inadas, circunstâncias, podem
adquirir um significado econôm
ico desse ponto de vista, considerando-se que deles resultam
determinada; efeito; que nos interessam
em um
a perspectiva econôm
ica. São, portanto, fenômeno; "econom
icamente relevantes". E, por fim
, entre os fenôm
eno; que não são "econômicos", segundo o sentido que lhes
atribuímo;, encontram
-se outra> cuja; efeitos econômica; pouco ou nenhum
interesse oferecem
para nós, como, exem
plo, a orientação do gosto artístico de um
a determinada época. N
o entanto, tais fenômeno; revelam
, em determ
inados aspecto; significativos de seu caráter, um
a influência mais ou m
enos intensa de m
otivos econômica>. Em
nosso caso, talvez, por meio da com
posição sopa! do público interessado em
arte, são fenômenos econom
icamente condicionada>.
Assim
, o complexo de relações hum
anas, por exemplo, norm
as e condições
1 Trata-se da Revista Archiv für Sozia/vi.sseuschqft (A
rquivo para a Ciênda Social e Política
Social).
118
normativam
ente determinadas que designam
os por "Estado" é um fenôm
eno "econôm
ico" no que diz respeito às finanças públicas. Na m
edida em que in-
tervém na vida econôm
ica por vias legislativas, ou por qualquer outro modo
-m
esmo nos casa; em
que o seu comportam
ento é determinado consciente-
mente por pontos de vista com
pletamente diferentes dos econôm
ica; -é "eco-
nomicam
ente relevante". Finalmente, na m
edida em que a sua conduta e o seu
caráter são determinados por m
otivos econômica;, tam
bém em
outras relações, que não as "econôm
icas", é "economicam
ente condicionado". Compreende-se,
portanto, que, por um lado, o âm
bito das manifestações econôm
icas é fluido e não pode ser delim
itado com rigor e, por outro, que os aspectos "econôm
ica;" de um
fenômeno não são apenas "econom
icamente condicionados", nem
ape-nas "econom
icamente eficazes", e que um
fenômeno só conserva a sua quali-
dade de "econômico" na estrita m
edida em que o nosso interesse está exclu-
sivamente centrado no seu significado para a luta m
aterial pela existência. A
na;sa revista, tal como a ciência econôm
ico-soda! a partir de Marx e
Ra>cher, não se preocupou apenas com os fenôm
eno; "econômicos", m
as tam-
bém com
a; "economicam
ente condicionada;" e "economicam
ente relevantes". N
aturalmente, o âm
bito destes objeta; -que varia conform
e a orientação do nosso interesse em
cada caso -abrange a totalidade dos processa; culturais.
Os m
otivos especificamente econôm
icos -isto é, aqueles que, devido a suas
particularidades significativas para nós, estão ligados a este fato básico-atuam
sem
pre onde a satisfação de uma necessidade, por m
ais imaterial que seja, en-
volva a utilização de meios lim
itados. O seu ím
peto contribui, assim, em
todo lugar, para determ
inar e transformar não só a form
a da satisfação, mas tam
bém
o conteúdo das necessidades culturais, mesm
o as do tipo mais íntim
o. A in-
fluência indireta das relações sodais, das instituições e da; agrupamento; hu-
manos, subm
etida; à pressão de interesses "materiais", estende-se (m
uitas vezes de m
aneira indireta) por todos os domínio; da cultura, sem
exceção, até mesm
o nos m
ais delicada; matizes do sentim
ento religioso e estético. Tanto os acon-tedm
enta; da vida cotidiana como os fenôm
eno; "históricos" da alta política, tanto os fenôm
eno; coletivos ou de massa com
o as ações "individuais" da; esta-distas, ou as realizações literárias e artísticas, sofrem
a sua influência: são, por-tanto, econom
icamente "condicionada;". Por outro lado, o conjunto de todos
a; fenômeno; e condições de existência de um
a cultura historicamente dada
influi na configuração de existência de uma cultura historicam
ente dada, na con-figuração das necessidades m
ateriais, no modo de satisfazê-las, na form
ação dos grupo; de interesses m
ateriais, na natureza dos seus meios de poder, e, por
essa via, na natureza do curso do "desenvolvimento econôm
ico", tornando-se assim
, "economicam
ente relevantes". Na medida em
que na>sa ciência, por m
eio da regressão causal, atribui causas individuais -de caráter econôm
ico ou não -
a fenômenos culturais econôm
icos, ela está buscando um conheci-
mento "histórico". Na m
edida em que persegue um
elemento específico dos
fenômenos culturais -
neste caso, o elemento econôm
ico-através dos m
ais variada; com
plexa> culturais, no intuito de distinguir o seu significado cultural, ela está a buscar um
a interpretação histórica a partir de um ponto de vista espe-
cífico. Oferece, assim
, uma im
agem pardal, um
trabalho preliminar, para o co-
nhedmento histórico com
pleto da cultura.
119
Embora nem
sempre em
toda> os casos em que estão em
jogo mom
entos econôm
ico-sociais, como conseqüências de causas, exista um
problema econô-
mico-social -
pois este apenas surge quando o significado de tais mom
entos é problem
ático e só pode ser comprovado precisam
ente com a aplicação dos
métoda> da ciência econôm
ico-social -, o alcance do cam
po de trabalho do m
odo de consideração sócio-econômico não deixa de ser quase ilim
itado. C
om w
na deliberada autolimitação, a nossa revista sem
pre renunciou ao cultivo de um
a série de donúnia> específica; muito im
portantes da nossa dis-ciplina, tais com
o a economia descritiva, a história da econom
ia, stricto sensu, e a estatística. D
a mesm
a forma, deixou para outra> órgãa> o estudo dos pro-
blemas técnico-financeira> e técnico-econôm
icos da formação do m
ercado e dos preços, na m
oderna economia de troca. A
revista tem m
antido como cam
po de trabalho o significado atual e o desenvolvim
ento histórico de determinadas
constelações de interesse e de conflitos, nascidos na economia da> m
odernos países civilizados, com
base no papel preponderante que o capital deles de-sem
penhou em sua busca de valorização. N
isso, ela não se limitou aos proble-
mas práticos e do desenvolvim
ento histórico da chamada "questão social" em
sentido estrito, tais com
o as relações entre a moderna classe dos assalariados
e a ordem existente. Indubitavelm
ente, o aprofundamento científico do crescen-
te interesse que este problema teve em
na;so país no decorrer da década de 1800 fez com
que essa (asse wna das suas tarefas essenciais. N
o entanto, na m
edida em que o estudo prático das condições operárias se converteu, tam
bém
entre nós, em objeto constante da legislação e da discussão pública, o centro
de gravidade do trabalho científico foi obrigado a deslocar-se, no sentido de estabelecer as relações m
ais universais de que estes problemas fazem
parte. As-sim
, teve de desembocar na tarefa de analisar toda> os problem
as culturais mo-
derna>, criados pela natureza particular dos fundamentos econôm
icos da nossa cultura e, portanto, dela espeáfica>. Por isso, a revista logo se preocupou com
as m
ais diversas condições de vida, em parte "econom
icamente relevantes", em
parte "econom
icamente condicionadas", das classes das m
odernas nações civi-lizadas, bem
como com
examinar, de um
ponto de vista histórico, estatístico e teórico, as relações entre elas. Por isso, não farem
os agora outra coisa senão deduzir as conseqüências desta atitude, ao afirm
armos que o cam
po de trabalho característico da nossa revista é o da pesquisa científica do significado cultural geral da estrutura sócio-econôm
ica da vida social humana, e das suas form
as históricas de organização. É precisam
ente isto, e nada mais que isso, o que
queremos dizer ao dar à nossa revista o nom
e de Archiv für Sozialwissenschaft
(Arquivo para C
iência Social). Este nome abrange aqui o estudo histórico e teó-
rico dos mesm
os problemas cuja solução prática constitui o objeto da "política
social", no sentido lato da palavra. Procedendo desta maneira, fazem
os uso do direito de utilizar a expressão "social" no significado determ
inado pelos pro-blem
as concretos da atualidade. Quando se dá o nom
e de "ciências culturais" às disciplinas que estudam
a; acontecimentos da vida hum
ana a partir do seu significado cultural, a "ciência social", então, tal com
o ná> a entendemos aqui,
pertence a esta categoria. Em breve, verem
a> que conseqüências de prinápio daí decorrem
120
Não há dúvida de que acentuar o aspecto econôm
ico-social da vida cultural im
plica uma delim
itação muito sensível da; na;sos tem
as. Argum
entar sobre que o ponto de vista econôm
ico ou, como se dizer de m
aneira imprecisa,
"materialista", a partir do qual consideram
a; a vida cultural, revela-se como sen-
do algo "parcial". Isso é verdade, e essa parcialidade é intencional. A convicção
de que a tarefa do trabalho científico consiste em curar esta parcialidade da
perspectiva econômica m
ediante a sua ampliação, até se chegar a um
a ciência geral do social, tem
desde logo o defeito de o ponto de vista do "social" -isto é, o das relações sociais entre os hom
ens -possuir precisão suficiente
apenas para delimitar problem
as científicos quando estes são provida> de algum
predicado especial que determine o seu conteúdo. D
o contrário, considerado com
o objeto de uma ciência, abrangeria naturalm
ente tanto a filologia como a
história da igreja, e, em especial, todas as disciplinas que se ocupam
do mais
importante elem
ento constitutivo de qualquer vida normativa -
o Direito. D
a m
esma form
a com que o fato de a econom
ia social se ocupar dos fenômenos
da vida ou dos fenômenos de um
corpo celeste não nos obriga a considerá-la com
o parte da biologia ou de unia futura astronomia aperfeiçoada, tam
bém o
fato de ela tratar de relações "sociais" não constitui razão para que ela seja considerada com
o precedente necessária de wna "ciência social geral". O
do-núnio do trabalho científico não tem
por base as conexões "objetivas" entre as "coisas", m
as as conexões conceituais entre a> problemas. Só quando se estuda
um novo problem
a com o auxílio de um
método novo, e se descobrem
ver-dades que abrem
novas e importantes perspectivas, é que nasce um
a nova "ciência".
Não é por acaso que o conceito de "social", que parece ter um
sentido totalm
ente geral, adquire, logo que o seu emprego é subm
etido a um controle,
um significado m
uito particular e espeáfico, embora geralm
ente indefinido. O
que nele há de "geral" deve-se, com efeito, à sua indeterm
inação. Pois se for encarado no seu significado geral, não oferecerá nenhum
ponto de vista espe-áfico a partir do qual se possa ilum
inar o significado de determinados elem
en-ta> culturais.
livres do preconceito obsoleto de que a totalidade dos fenômena> culturais
pode ser deduzida como produto ou com
o função de determinadas constela-
ções de interesses "materiais", crem
a>, no entanto, que a análise da; fenômenos
sociais e da; processos culturais da perspectiva especial do seu condicionamen-
to e alcance econômico foi um
prindpio científico de fecundidade criadora, e continuará a sê-lo, enquanto dele se fizer uso prudente e livre de coibições dogm
áticas. Quanto à cham
ada "concepção materialista da história", é preciso
repeli-la com a m
aior ênfase, enquanto "concepção do mundo", ou quando en-
carada como denom
inador comum
da explicação causal da realidade histórica -
pois o cultivo de uma interpretação econôm
ica da história é um dos fins
essenciais da nossa revista. Isso exige uma explicação m
ais concreta. H
oje em dia, a cham
ada "concepção materialista da história", segundo, por
exemplo, o sentido genial e prim
itivo do Manifesto Com
unista,_ talvez apenas subsista nas m
entes de leiga> ou diletantes. Entre esses, com efetto, encontra-se
ainda muito difundido o singular fenôm
eno de que a necessidade de explicação causal de um
fenômeno histórico não fica satisfeita enquanto não se m
ostre
121
(mesm
o que só aparentemente) a intetvenção de causas econôm
icas. Feito isto, eles passam
a se contentar com as hipóteses m
ais frágeis e com as form
ulações m
ais genéricas, pois já foi satisfeita a sua necessidade dogmática, segundo a
qual as "forças" econômicas são as únicas causas "autênticas", "verdadeiras" e
"sempre determ
inantes em últim
a instância". Este fenômeno nada tem
de ex-traordinário. Q
uase todas as ciências, desde a filologia até a biologia, revelaram,
numa ocasião ou noutra, a pretensão de produzir não só a; seus conhecim
entos específica;, com
o até mesm
o "concepções de mundo". E, sob o im
pulso pro-duzido pelo enorm
e significado cultural das modernas transform
ações econô-m
icas, e principalmente por m
eio do alcance transcendente da "questão ope-rária", não é de adm
irar que também
viesse desembocar neste cam
inho a inex-tirpável tendência m
onista de todo o conhecimento refratário à autocritica. Esta
mesm
a tendência manifesta-se hoje na antropologia, exatam
ente no mom
ento em
que as nações se enfrentam com
crescente, num
a luta política e econôm
ica pelo dorrúnio do mundo. E hoje m
uito difundida a opinião de que "em
última análise", o decurso histórico não seria m
ais do que a resultante da rivalidade entre a ação recíproca de "qualidades raciais" inatas. A
mera des-
crição acrítica das "caracteristicas de um povo" foi substituída pela m
ontagem,
mena; crítica ainda, de "teorias da sociedade" supa;tam
ente baseadas nas "ciên-cias da natureza". Em
nossa revista, acompanharem
a; muito atentam
ente o de-senvolvim
ento da investigação antropológica, sempre que se m
a>trar importante
para a; nossos ponta; de vísta. É de se esperar que a situação de se ver na "raça" a essência da explicação causal -
o que era apenas um atestado de
nossa ignorância-pa;sa ser lentam
ente substituída mediante um
trabalho me-
todicamente orientado da form
a como, de m
odo semelhante, ocorreu tam
bém
em relação ao "am
biente' ou, anteriormente, em
relação às "circunstâncias da época". Se houve algo que, até neste m
omento, prejudicou esta investigação,
foram as idéias de diletantes fetvorosos, que acreditavam
poder fornecer ao co-nhecim
ento cultural algo de especificamente diferente e m
ais importante do que
a simples am
pliação da possibilidade de uma segura im
putação dos aconteci-m
enta> culturais concretos e individuais da realidade histórica a certas causas concretas e historicam
ente dadas, mediante a obtenção de um
material de ob-
setvação exato, com perspectivas específicas. Só na m
edida em que ela, a an-
tropologia, pode proporcionar-nos conhecimentos deste tipo, a; seus resultados
terão interesse para ná>, fazendo com que a "biologia racial" adquira um
a im-
portância que é superior ao fato de ser um m
ero produto da moderna febre
de fundamentação científica.
Não é outro o significado da interpretação econôm
ica da História. Se hoje
em d
ia-
depois de um período de desm
edida supetvalorização-quase existe
o perigo de se subestimar a sua capacidade de fornecer explicações científicas,
isso é apenas conseqüênda da inaudita ausênda de espírito crítico, no que diz respeito à interpretação da realidade, concebida com
o "método universal", no
sentido de uma dedução de todos os fenôm
enos culturais -isto é, de tudo
o que, para ná>, neles é essendal -a partir de condições que, em
última
instância, seriam "econom
icamente condicionadas". H
oje, a forma lógica sob a
qual se apresenta esta visão não é totalmente hom
ogênea. Quando a explicação
puramente econôm
ica se depara com dificuldades, dispõe-se de vários m
eios
122
1 ' %;: ,Z"
I
para manter a sua validade geral com
o fator causal decisivo. Às vezes, considera tudo aquilo que, na realidade histórica, não pode ser deduzido a partir de m
o-tivos econôm
icos como algo que, por isso m
esmo, seria "acidental'' e, portanto,
dentificamente insignificante. À
s vezes amplia o conceito de "econôm
ico" até o desfigurar, de m
odo que nele encontram lugar todos aqueles interesses hu-
manos que, de um
a ou de outra forma, são ligados aos m
eia; externos ou ao m
eio ambiente. N
o caso de haver a prova histórica de que, em face de duas
situaçê>es idênticas do ponto de vista econômico, houve reações diferentes -
em conseqüênda de diferenças nas determ
inantes políticas, religiosas, climáticas
ou em quaisquer outras determ
inantes não-econômicas -
todos estes fatores são então "rebaixados" ao nível de "condições" historicam
ente acidentais sob .
' as
a; motiva; econôm
icos atuam com
o "causas", visando preservar o pre-dom
ínio do econômico. É óbvio, contudo, que toda; estes aspectos "casuais"
para a perspectiva econômica seguem
as suas próprias leis, no mesm
o sentido em
que o fazem os aspecta; econôm
icos e que, para uma abordagem
que per-segue o seu significado específico, as respectivas "condições" econôm
icas são tão "historicam
ente addentais" quanto ocorre também
em casa; inversos. Por
fim,
muito .com
um para m
anter, apesar de tudo, a supremacia do
econom1co, constste em
mterpretar as constantes cooperações e interações dos
diferentes elementos da vida cultural com
o dependendo causal ou funcional-m
ente uns da; outros, ou melhor, de um
único elemento: o econôm
ico. Deste
modo, quando um
a determinada instituição não-econôm
ica realiza também
, his-toricam
ente, uma determ
inada "função" a serviço de quaisquer interesses eco-nôm
icos de classe -isto é, quando se converte em
instrumento desta, com
o no caso de determ
inadas instituições religiosas que se deixam utilizar com
o "po-lítica negra" -
, essa instituição é apresentada como expressam
ente criada para tal função, ou, em
sentido completam
ente metafísico, com
o tendo sido moldada
por uma "tendênda de desenvolvim
ento" de caráter econômico.
Hoje em
dia, não é preciso explicar a um especialista que esta interpretação
dos fins da análise econômica da cultura era resultante, em
parte, de uma de-
terminada conjuntura histórica que orientou o interesse científico para certos
problemas culturais "econom
icamente condicionadas", e, em
parte, também
, de um
forte apego à espedalidade dentífica. Acham
os que é necessário demonstrar
que esta interpretação, na; dias de hoje, está pelo mena; ultrapassada. Em
ne-nhum
setor da; fenômena; culturais se pode reduzir tudo a causas econôm
icas, nem
sequer no setor específico dos "fenômenos econôm
icos". Em princípio, a
história bancária de qualquer povo que pretendesse alegar a sua história a partir de m
otivos econômica; é tão im
pa;sível como, por exem
plo, a "explicação" da M
adona da Capela Sixtina a partir dos fundam
enta; sócio-econômicos da
vida cultural da época de sua criação, e de modo nenhum
é mais exaustiva
que, por exemplo, a explicação que faz derivar o capitalism
o de certas trans-form
ações dos conteúda; da consdênda religiosa que contribuíram para a gê-
nese do espírito capitalista, ou ainda, a que interpreta qualquer configuração política a partir de determ
inados condidonamentos geográficos. Em
todos estes casos, é decisivo, para a determ
inação da importânda a ser concedida aos con-
didonamentos "econôm
icos", a classe de causas que devemos atribuir àqueles
123
elemento; espeáfica; do fenôm
eno em questão que consideram
o; significativos em
cada caso particular. O direito à análise unilateral da realidade rultural a
partir de "perspectivas" espeáficas-em
nosso caso, a do seu condidonamento
econômico -
resulta, desde logo, e em term
a; puramente m
etodológica;, da drrunstânda de que o treino da atenção para se observar o efeito de determ
i-nadas categorias causais qualitativam
ente semelhantes, bem
como a constante
utilização do mesm
o aparelho metodológico-conceitual, oferece todas as van-
tagens da divisão do trabalho. Ela não é arbitrária enquanto há êxito no seu procedim
ento, isto é, enquanto oferece um conhecim
ento de relações que de-m
onstram ser valia;as para a im
putação de causas a determinada; aconted-
menta; histórica; concretos. M
as a "pardalidade" e a irrealidade da interpreta-ção puram
ente econômica apenas constituem
um caso espedal de um
prinápio de validade m
uito generalizada para o conhedmento dentífko da realidade cul-
tural. Todas as subseqüentes discussões terão como fim
essenc;:J.l esclarecer as bases lógicas e as conseqüêndas gerais de m
étodo do que a segwr é expa;to.
Não existe nenhum
a análise dentífica totalmente "obieti -.c!a" da vida cul-
tural, ou -o que pode significar algo m
ais limitado, 1nas seguram
ente não essendalm
ente diverso, para a; na;sa; propósitos -dos "fenôm
eno; sociais", que seja independente de determ
inadas perspectivas espedais e pardais, graças às quais estas m
anifestações possam se!', explidta ou im
plidtamente, consdente
ou inca;dentemente, selecionadas, analisadas e organizadas na exposição, en-
quanto objeto de pesquisa. Isso se deve ao caráter particular da meta do co-
nhecimento de qualquer trabalho das dêndas sodais que se proponha ir além
de um
estudo meram
ente formal das norm
as -legais ou convendonais -
da convivênda sodal.
A dênda soda! que pretendem
o; exerdtar é urna dênda da realidade. Pro-curam
os entender na realidade que está ao nosso redor, e na qual na; encon-tram
o; situados, aquilo que ela tem de espeáfico; por um
lado, as conexões e a significação cultural das nossas diversas m
anifestações na sua configuração atual e, por outro, as causas pelas quais ela se desenvolveu historicam
ente de urna form
a e não de outra. Acontece que, tão logo tentam
o; tornar consdênda do m
odo como se nos apresenta im
ediatamente a vida, verificam
o; que ela se nos m
anifesta "dentro" e "fora" de nós, sob urna quase infinita diversidade de evento; que aparecem
e desaparecem sucessiva e sim
ultaneamente. E a absoluta
infinitude dessa diversidade subsiste, sem qualquer atenuante do seu caráter in-
tensivo, mesm
o quando voltamo; a nossa atenção, isoladam
ente, a um único
"objeto" -por exem
plo, urna transação concreta -e isso tão logo tentam
os descrever de form
a exaustiva essa "singularidade" em toda; a; com
ponentes individuais, e, ainda m
uito mais, quando tentam
o; captá-la naquilo que tem de
causalmente determ
inado. Assim
, todo o conhedmento da realidade infinita,
realizado pelo espírito humano finito, baseia-se na prem
issa tádta de que ape-nas um
fragmento lim
itado dessa realidade poderá constituir de cada vez o ob-jeto da com
preensão dentífica e de que só ele será "essendal" no sentido de "digno de ser conheddo". E segundo que prinápia; se isola esse fragm
ento? R
epetidas vezes acreditou-se poder encontrar o critério dedsivo também
nas dêndas da cultura, na repetição regular, "conform
e leis", de determinadas co-
124
nexões causais. Segundo esta concepção, o conteúdo das "leis" que somos ca-
pazes de reconhecer na inesgotável diversidade do curso da; fenômenos deverá
ser o único fator considerado dentificamente "essendal". Logo que tenham
os dem
onstrado a "regularidade" de urna conexão causal, seja mediante urna am
pla indução histórica ou por m
eio de estabeledmento para a experiênda íntim
a da sua evidênda im
ediatamente intuitiva, adm
ite-se que toda; a; casa; semelhan-
tes -por m
ui numera;a; que sejam
-ficam
subordinada; à fórmula assim
encontrada. Tudo o que na realidade individual continue a resistir à seleção feita a partir desta regularidade, ou é considerado com
o um rem
anescente ainda não elaborado dentificam
ente (mas que, m
ediante aperfeiçoamento; contínua;,
deverá ser integrado no sistema das "leis"), ou é deixado de lado. O
u seja, é considerado "casual" e dentificam
ente serundário precisamente porque se re-
vela "ininteligível em face das leis" e não se integra ao processo ''típico", de
modo que se tornará objeto de urna "curia;idade oda;a". D
este modo, m
esmo
entre os representantes da escola histórica, reaparece constantemente a concep-
ção de que o ideal para o qual te9de ou pode tender todo o conhedmento,
mesm
o o das dêndas da cultura -ainda que seja num
futuro longínquo -consistirá num
sistema de proposições das quais seria pa;sível "deduzir'' a rea-
lidade. Sabe-se que um da; porta-vozes das dêndas da natureza julgou m
esmo
poder caracterizar o ideal -praticam
ente inalcançável -dessa elaboração da
realidade cultural como conhedm
ento "astronômico" dos fenôm
eno:; da vida. Por m
uito debatida que seja esta questão, não medim
o; esforça; para um exa-
me m
ais profundo do terna. Em prim
eiro lugar, salta aos olha; que esse co-nhecim
ento "astronômico", pensando no caso dtado, não é de m
odo nenhum
um conhedm
ento de leis, mas, pelo contrário, extrái de outras disdplinas, com
o a m
ecânica, as "leis" com as quais trabalha, à m
aneira de premissas. Q
uanto à própria astronom
ia, interessa-lhe saber qual o efeito individual produzido pela ação dessas leis sobre um
a constelação individual, dado que estas constelações têm
irnportânda para nós. Com
o é natural, toda a constelação individual que a astronom
ia nos "explica" ou prediz só poderá ser causalmente explicável co-
mo urna seqüênda de outra constelação, igualm
ente individual, que a precede. E, por m
uito que reruema; na obsruridade do m
ais longínquo passado, a rea-lidade para a qual tais leis são válidas perm
anece também
individual e igual-m
ente refratária a urna dedução a partir de leis. Com
preende-se que um "estado
original" cósmico que não possuísse um
caráter individual, ou que o tivesse em
menor grau que a realidade cósm
ica atual, seria evidentemente um
pensa-m
ento sem nenhum
sentido. No entanto, não sobrevive, em
nossa especialida-de, um
resquído de representações semelhantes, quando se supõem
"estados prim
itiva;" sódo-econômica; sem
qualquer "causalidade" histórica, quer inferi-dos do direito natural, quer verificados m
ediante a observação dos "pova; pri-m
itiva;"? Seria o caso, por exemplo, do "com
unismo agrário prim
itivo", da "pro-m
iscuidade sexual", etc. dos quais nasceria, mediante urna espécie de "queda
pecamina;a" no concreto, o desenvolvim
ento histórico individual? N
ão há qualquer dúvida de que o ponto de partida do interesse pelas dên-das sodais reside na configuração real e, portanto, individual da vida sódo-rultural que na; rodeia, quando querem
o; apreendê-la no seu contexto uni-versal, nem
por isso menos individual, e no seu desenvolvim
ento a partir de
125
outros estados sóci<rCUlturais, naturalm
ente individuais também
Fica evidente que tam
bém ná> nos
perante a acabam
os de expor no caso da A
stronomta (e que os logtcos tam
bém utthzam
regular-m
ente) e até de um m
odo especificamente acentuado. Enquanto 9ue, no cam
po da A
stronomia, os aspectos celestes apenas despertam
o nosso A
suas relações suscetíveis de
exatas, no das aenaas
sociais, pelo contrário, o que nos interessa e o aspecto dos !atos.
Devem
os ainda acrescentar que, nas dêndas sociais, se trata da tntervençao de fenôm
enos espirituais, cuja por "revivênda" constitui
tarefa espedficam
ente diferente da que poderiam, ou quereri.am
as
do conhedmento exato da natureza. A
pesar de tudo tsso, tats diferenças nao são categóricas, com
o nos poderia parecer à primeira
Exceto _o caso da m
ecânica pura, nenhwna dênda da natureza pode presandrr da noçao
qua-lidade. A
lém disso, deparam
o-nos em nosso próprio cam
po, com a optrua?-:-
errônea -de que o fenôm
eno, fundamental para a nossa
do financeiro
é suscetível de quantificação e, portanto, cognosctvel, medtante
"leis". Por 'fim, dependeria da definição m
ais ou_ menos
do conceito de "l:_i'' que nele se pudesse incluir, as regularidades.
urna e::crressao num
érica devido ao fato de não serem quanttftcávets. N
o que diz respetto espe-à intervenção de m
otivos "espirituais", esta, de modo algum
, exclui 0 estabeledm
ento de regras para uma atuação radonal. M
as, sobretudo, acon-tece que, ainda hoje, não
a de <;Jlle é .tarefa
da psicologia desempenhar, para as diversas
do chaften), um
papel comparável ao das m
aternattcas as
aenaas. da nat_U-reza". Para tal
ela deveria decompor os com
plexos fenomenos da vtda soaal
nas suas concllções e efeitos psíquicos, reduzi-los a fatores. psíquicos mais
ples, e, enfim, . classificar. estes
gêne:os e A
a:' relaçQ
es fundonais. A
sstm, ter-se-ta consegutdo cnar, senao urna
mecaruca , ao
wna "quím
ica" da vida soda! nas suas bases psíquicas. Não nos cabe. deadir
aqui se tais análises poderão algum dia
com
parttculares que sejam
valiosos e -o que é diferente -
utets aenaas da
No entanto isso não afeta de m
odo nenhum a posstbihdade de se atm
gtr a m
eta do sócio-econôm
ico, tal como o entendem
os aqui -ou
seja, 0 conhedm
ento da realidade concreta segundo. <:_ seu significado cultural e suas relações causais -
mediante a busca da repettçao regular. Supondo que
alguma vez, quer por m
eio da psicologia, quer de qualquer outro_ modo,
conseguisse decompor em
fatores últimos e sim
ples todas as conexoes causats im
agináveis da coexistênda humana, tanto as que já foram
observadas como
as que um tl.ia será possível estabelecer, e supondo que se conseguisse abran-
gê-las de modo exaustivo num
a imensa casuística de conceitos e de regras
a rigorosa validade das leis, o que significaria este resultado para o m
ento, quer do mundo cultural historicam
ente dado, quer de particular, com
o o do capitalismo na sua evolução ou no
stgruftcado cul-tural? C
omo m
eio de conhedmento, não significa nem
rnats nem m
enos que aquilo que um
didonário das combinações da quím
ica orgânica significa para o conhedm
ento biogenético dos reinos animal e vegetal.
num caso com
o noutro ter-se-á realizado um
importante e útil trabalho prehm
tnar. Todavta, e,
126
tanto num caso com
o noutro, tornar-se-ia impossível chegar algum
dia a deduzir a realidade da vida a partir destas "leis" e "fatores". N
ão por sul:x>istirem ainda, nos fenôm
enos vitais, determinadas "forças" superiores e misteriosas ("dom
inantes", "entelequias" ou ootras)-
o que já constitui outro problema-
mas sim
plesmente
porque, para o reconhedmento da realidade, só nos interessa a constelação em
que esses "fatores" (hipotéticos) se agrupam
, formando um
fenômeno cultural
historicamente significativo para ná>; e tam
bém porque, se pretendem
os "ex-plicar causalm
ente" esses agrupamentos individuais, teríam
os de nos reportar constantem
ente a outros agrupamentos igualm
ente individuais, a partir dos quais os "explicássem
os", embora utilizando, naturalm
ente, os dtados (hipoté-ticos) conceitos denom
inados "leis". O estabeledm
ento de tais "leis" e "fatores" (hipotéticos) apenas constituiria, para ná>, a prim
eira das várias operações às quais o conhedm
ento a que aspiramos nos conduziria. A
segunda operação, com
pletamente nova e independente, apesar de se basear nessa tarefa prelim
i-nar, seria a análise e a exposição ordenada do agrupam
ento individual desses "fatores" historicam
ente dados e da combinação concreta e significativa dele re-
sultante. Mas adm
a de tudo consistiria em tom
ar inteligível a causa e a natureza deste significado. A
terceira operação seria remontar o m
áximo possível ao pas-
sado e observar como se desenvolveram
as diferentes características individuais dos agrupam
entos de importânda para o presente, e propordonar um
a expli-cação histórica a partir destas constelações anteriores, igualm
ente individuais. Por fim
, uma quarta operação possível consistiria na avaliação das constelações
possíveis no futuro. Para todas essas finalidades, seria m
uito útil, e quase indispensável, a exis-tênda de conceitos claros e o conhedm
ento destas "leis" (hipotéticas), como
meios heuristicos -
mas unicam
ente como tais. Porém
, mesm
o com esta fun-
ção, há um ponto dedsivo que dem
onstra o limite do seu alcance, com
o que som
os conduzidos à peculiaridade decisiva do método das dêndas da cultura,
ou seja, nas disdplinas que aspiram a conhecer os fenôm
enos da vida segundo a sua significação cultural. A
significação da configuração de um fenôm
eno cul-tural e a causa dessa significação não podem
contudo deduzir-se de qualquer sistem
a de conceitos de leis, por mais perfeito que seja, com
o também
não podem
ser justificados nem explicados por ele, tendo em
vista que pressupõe a relação dos fenôm
enos culturais com idéias de valor. O
conceito de cultura é um
conceito de valor. A realidade em
pírica é "cultura" para ná> porque e na m
edida em que a reladonam
os com idéias de valor. Ela abrange aqueles e so-
mente aqueles com
ponentes da realidade que através desta relação tomam
-se significativos para ná>. U
rna parcela ínfima da re::Jlidade individual que obser-
vamos em
cada caso é matizada pela ação do nosso interesse condidonado
por essas idéias de valor; apenas ela tem significado para nós, predsam
ente porque revela relações tom
adas importantes graças à sua vinculação a idéias
de valor. E somente por isso, e na m
edida em que isso ocorre, interessa-nos
conhecer a sua caractetística individual. Entretanto, o que se reveste de signi-ficação não poderá ser deduzido de um
estudo "isento de pressupostos" do em
piricamente dado. Pelo contrário, é a com
provação desta significação que constitui a prem
issa para que algo se converta em objeto de análise. N
atural-m
ente, o significativo, como tal, não coindde com
qualquer lei como tal, e isto
127
tanto menos quanto m
ais geral for a validade dessa lei. Porque a significação que tem
um fragm
ento realidade
não se e?contra evidentemente
nas relações que comparulha com
o ma1or num
ero pa;s1vel de outros tos. A
redução de realidade com idéias de valor que lhe
S!gru-ficação, assim
como o sublinhar e ordenar. os. elem
_:ntos do real por
esta relação sob o ponto de vista de sua s1gruficaçao cultural, constituem pers-
pectivas completam
ente diferentes e distintas análise de
levada. a cabo para conhecer as suas leis e para ordena-las segundo conceitO
S gerais. A
mbas as m
odalidades de pensamento ordenador do real não m
antêm entre si
nenhuma lógica necessária. Poderá acontecer que, num
caso concreto, venha.m
alguma vez a coincidir, m
as, se essa coincidênda causal nos ocultar a crepância de prinápios, isso poderá acarretar as m
ais funestas consequenaas. o significado cultural de um
fenômeno-
r:x'r exemplo, o :to com
ércio mo-
netário -pode consistir no fato de se m
arufestar como fenom
eno de massa,
como um
dos elementos fundam
entais da cultura contemporânea. M
as, ato con-tínuo o fato histórico de desem
penhar esse papel é que constitui o que deverá ser
do ponto de vista de seu significado cultural e explicado cau-salm
ente da perspectiva da sua origem histórica. A
análise da geral ?a
troca e da técnica do tráfico comercial constituem
uma tarefa
mw
to em
bora extremam
ente importante e indispensável. M
as não fica assim resolvida
a questão de como a troca chegou
a a
fun-dam
ental que hoje pa;sui, nem a que, em
ultima analise, nos m
teressa: a de qual é a significação cult1o1ral da econom
ia monetária. Pois é por causa dela
que nos interessamos pela descrição da técnica de circulação e por sua causa
também
que existe hoje uma ciência que trata desta técnica. D
e qualquer modo,
não se deduz de nenhuma destas leis. A
s caracteristicas genéricas da troca, da com
pra etc. interessam ao jurista. M
as o que a nós interessa de
lisar a significação cultural do fato histórico de a troca constituir, hoje em d1a,
um fenôm
eno de massa. Q
uando este fato precisa ser explicado, quando pre-tendem
os compreender a diferença entre a nossa cultura sócio-econôm
ica e a da A
ntigüidade -onde a troca apresentava exatam
ente as n:esmas
genéricas de hoje -, quando
sabe: .em q.ue_
a s1grufic:açao da "econom
ia monetária", surgem
entao na análiSe pnnap1os logtcos de ongem
claramente heterogênea. Por certo que, enquanto contiverem
elementos signi-
ficativos da nossa cultura, utilizaremos os conceitos que a análise dos elem
entos genéricos dos fenôm
enos econômicos de m
assa nos oferece como m
eios de exposição. Porém
, por muito exata que seja a distinção desses conceitos e
leis não só não terem
os alcançado o alvo da nossa tarefa, como a questao
sob-e qual deve ser o objeto da formação . de conceito_:
ficará "livre de pressupostos", dado que foi dedd1da em
funçao da. possuem
para a cultura determinados elem
entos dessa que cham
amos "drculação". Procuram
os conhecer um fenom
eno histonco, 1sto é, significativo na sua especificidade. E o que há de decisivo é o _fato
a idéia de um
conhedmento dos fenôm
enos individuais só adquirir sentido lógiCO m
ediante a premissa de que apenas um
a parte finita da infinita diversidade de fenôm
enos é significativa. Mesm
o com o m
ais amplo conhedm
ento_ de as "leis" do devir ficariam
os perplexos diante do problema de com
o e poss!Vel,
128
em geral, a explicação causal de um
fato individual, posto que nem sequer se
a mera descrição exaustiva do m
ais finito fragmento da realidade.
? num<:o e a natu:eza. das causas que determ
inam qualquer acontedm
ento m
diVIdual. sao sem
pre 1nfirutos, e não existe nas próprias coisas critério algum
que escolher
elas uma fração que possa entrar isoladam
ente em
A
de conhedm
ento da realidade "livre de pressu-postos
so consegwna produZir um
caos de "juízos existendais" acerca de inú-m
eras concepções ou percepções particulares. E, o mesm
o resultado só seria possível
.aparênda, já que a de cada um
a das percepções, expostas a um
a analise detalhada, oferecena um sem
-número de elem
entos particulares que nunca poderão ser expressos de m
odo exaustivo nos juízos de percepção. Este caos só pode ser ordenado pelo fato de que, em
qualquer caso, unica-m
ente um segm
ento da realidade individual possui interesse e significado para nós, posto que só ele se encontre em
relação com as idéias culturais de valor
com que abordam
os a realidade. Portanto, só alguns aspectos dos fenômenos
particulares infinitamente diversos,. e precisam
ente aqueles a que conferimos
uma significação geral para a cultura, m
erecem ser conhecidos, pois apenas eles
são objeto de explicação causal. Também
esta explicação causal oferece, por sua vez, o m
esmo caráter, pois um
a regressão causal exaustiva a partir de qual-quer fenôm
eno concreto para captar a sua plena realidade não só resulta pra-ticam
ente impa;sível com
o é pura e simplesm
ente um absurdo. A
penas colo-cam
os em relevo as causas a que se podem
atribuir, num caso concreto, os
elementos "essendais" de um
acontedmento. Q
uando se trata da individuali-dade de um
fenômeno, o problem
a da causalidade não incide sobre as leis, m
as sobre conexões causais concretas. Não se trata de saber a que fórm
ula se deve subordinar o fenôm
eno a título de exemplar, m
as sim a que constelação
deve ser imputado com
o resultado. Trata-se, portanto, de um problem
a de im-
putação causal. Onde quer que se trate de explicação causal de um
fenômeno
cultural -ou de um
a "individualidade histórica", expressão já utilizada relati-vam
ente à metodologia da nossa disciplina e agora habitual na lógica, com
o um
a formulação m
ais predsa -, o conhecim
ento das leis da causalidade não poderá constituir o fim
, mas apenas o m
eio na investigação. Ele apenas fadlita a im
putação causal que leva em consideração aqueles elem
entos nos aconte-<;im
entos que ficaram im
portantes causalmente para a singular evolução cultural.
E apenas na medida em
que presta este serviço que poderá ter valor para o conhecim
ento das conexões individuais. E, quanto mais "gerais", isto é, abstra-
tas, são as leis, tanto menos contribuem
para as necessidades da imputação cau-
sal dos fenômenos individuais e, indiretam
ente, para a compreensão da signi-
ficação dos acontecimentos culturais.
O que se conclui de tudo isso?
Naturalm
ente não que, no setor das ciências da cultura, o conhedmento
do geral, a formação de conceitos genéricos abstratos, o conhecim
ento de re-gularidades e a tentativa de form
ulação de relações "regulares" não tenham um
a justificação científica. M
uito pelo contrário. Se o conhecimento causal do histo-
riador consiste na imputação de certos resultados concretos a determ
inadas cau-sas concretas, então é im
pa;sível uma im
putação válida de qualquer resultado individual sem
a utilização de um conhedm
ento "nomológico", isto é, de um
129
conhecimento das regularidades das conexões causais. Para saber se cabe atri-
buir a um elem
ento individual e singular de uma conexão, na realidade, um
a im
portânda causal para o resultado que se trata de explicar causalmente, só
existe a pa;sibilidade de proceder à avaliação das intluêndas que na; habitua-m
a> a esperar geralmente, tanto deste com
o de outra> elementO
> do mesm
o com
plexo, que sejam pertinentes à explicação. FBsas intluêndas constituem
, por conseguinte, a; efeita; "adequada;" da; elem
entos causais em questão. Saber
até que ponto o historiador (no sentido mais lato da palavra) é capaz de realizar
com segurança esta im
putação, com o auxílio de sua im
aginação metodicam
ente educada e alim
entada pela sua experiênda pessoal de vida, e até que ponto estará dependente do auxílio de determ
inadas dêndas espedalizadas pa;tas ao seu alcance, é algo que depende de cada situação particular. M
as, em qualquer
caso, e também
no setor da; fenômena; econôm
icos complexa;, a certeza da
imputação é, por isso, tanto m
aior quanto mais seguro e am
plo for o nosso conhedm
ento geral. O valor desta afirm
ação não é de modo nenhum
diminuído
pelo fato de que nunca, mesm
o nas chamadas "leis econôm
icas", se trata de conexões "regulares", no sentido estrito das dêndas da natureza, m
as sim de
conexões causais adequadas, expressas em regras, e, portanto, de um
a aplica-ção da categoria da "possibilidade objetiva", que não analisarem
a; aqui com
maiores detalhes. O
corre que o estabelecimento de tais regularidades não é a
finalidade, mas sim
um m
eio do conhedmento. E quanto a saber se tem
sentido form
ular como "lei" um
a regtJ!aridade de conexões causais observada na expe-riênda cotidiana, isso não é m
ais do que uma questão de conveniênda em
cada caso concreto. Para as dêndas exatas da natureza, as leis são tanto m
ais im
portantes e valiosas quanto mais geral é a sua validade. Para o conhedm
ento das condições concretas da; fenôm
ena; histórica;, as leis mais gerais são fre-
qüentemente as m
ena; valiosas, por serem as m
ais vazias de conteúdo. Isto porque, quanto m
ais vasto é o campo abrangido pela validade de um
conceito genérico -
isto é, quanto maior a sua extensão -
tanto mais na; afasta da
riqueza da realidade, pa;to que, para poder abranger o que existe de comum
no m
aior número pa;sível de fenôm
ena;, forçosamente deve ser o m
ais ab>trato e pobre de conteúdo. N
o campo das dêndas da cultura, o conhedm
ento do geral nunca tem
valor por si próprio. D
e tudo o que até aqui se disse, resulta que carece de razão de ser um
estudo "objetivo" dos acontedmenta; culturais, no sentido de que o fim
ideal do trabalho dentífico deverá consistir num
a redução da realidade empírica a
certas leis. Carece de razão de ser não porque -
como freqüentem
ente se sus-tentou -
os acontedmenta; culturais ou, se quiser, a; fenôm
ena; espirituais, evoluam
"objetivamente" de m
odo mena; sujeito a leis, m
as: a) porque o co-nhedm
ento de leis sodais não é um conhedm
ento do sodalmente real, m
as unicam
ente um da; diversos m
eia; auxiliares de que nosso pensamento se ser-
ve para esse efeito; e b) porque nenhum conhedm
ento da; acontedmentos cul-
turais poderá ser concebido senão com base na significação que a realidade
da vida, sempre configurada de m
odo individual, possui para nós em determ
i-nadas relações singulares. N
ão existe nenhuma lei que nos m
ostre em que sen-
tido e em que condições isso sucede, pois o dedsivo são as idéias de valor,
prisma sob o qual consideram
a; a "cultura" em cada caso. A "cultura" é um
130
segme?to finito e destituído de sentido próprio do m
undo, a que o pensamento
confenu -do ponto de vista do hom
em -
um sentido e um
a significação. E continua a ser assim
mesm
o para quem se opõe a um
a cultura concreta como
inimigo im
placável, preconizando o "regresso à natureza". Pois apenas pode adotar essa posição quando com
para esta cultura concreta às suas próprias idéias de
afigurando-se-lhe aquela como "dem
asiado superfidal". Referi-m
o-na; preasamente a esta circunstânda puram
ente lógica e formal quando
afirmam
a; que todo o indivíduo histórico está arraigado de modo logicam
ente necessário, em
"idéias de valor". A prem
issa transcendedtal de qualquer dênda da cultura reside não no fato de considerarm
a; valiosa uma "cultura" determ
i-nada, m
as na drcunstânda de sermos hom
ens de cultura, dotados da capad-dade e da vontade de assum
irmos um
a posição consdente em face do m
undo e de lhe conferirm
os um sentido. Seja qual for este sentido, ele influirá para
que, no decurso de nossa vida, extraiamos dele avaliações de determ
inados fe-da convivênda hum
ana e assumam
a;, perante eles, considerada; sig-ruflcatlvos, um
a posição (positiva ou negativa). Qualquer que seja o conteúdo
desta tomada de posição, esses fenôm
enos possuem para ná> um
a significação cultural que constitui a base única do seu interesse dentífico. C
onseqüentemen-
te, quando utilizamos aqui a term
inologia da; lógicos moderna; (Rickert) e di-
zema; que o conhedm
ento cultural é condidonado por determinadas idéias de
valor, esperamos que isso não seja suscetível a m
al-entendidos tão grosseiros com
o a opinião de que apenas se deve atribuir significação cultural aa; fenô-m
ena; valiosos. Pois tanto a pra>tituição como a religião ou o dinheiro são
fenômenos culturais. E toda; os três o são, única e exclusivam
ente, enquanto a sua existênda e a força que historicam
ente adotam correspondem
, direta ou indiretam
ente, aos nossa; interesses culturais, enquanto animam
o nosso desejo de conhedm
ento a partir de pontos de vista derivados das idéias de valor, as quais tom
am significativo para ná> o fragm
ento de realidade expresso naqueles conceitos.
Disso resulta que todo conhedm
ento da realidade cultural é sempre um
conhecim
ento subordinado a pontos de vista especificamente particulares.
Quando exigim
a; do historiador ou do sodólogo a premissa elem
entar de saber distinguir entre o essendal e o secundário, de possuir para esse fim
os pontos de vista necessária;, querem
a; unicamente dizer que ele deverá saber referir
-consdente ou inconsdentem
ente -os elem
entos da realidade a "valores culturais" universais, e destacar aquelas conexões que, para ná>, se revestem
de significado. E se é freqüente a opinião de que tais pontos de vista poderão ser "deduzidos da própria m
atéria", isto apenas se deve à ilusão ingênua do espedalista que não se dá conta de que -
desde o inído e em virtude das
idéias de valor com que inconsdentem
ente abordou o tema -
destacou da ab>oluta im
ensidade um fragm
ento ínfimo e, particularm
ente aquele cujo exame
lhe importava. A
propósito desta seleção de "aspectos" espedais e individuais do devir, que sem
pre e em todos os casos se realiza consdente ou inconsden-
temente, reina tam
bém essa concepção do trabalho dentífico-cultural que cons-
titui a base da tão repetida afirmação de que o elem
ento "pessoal" é o que verdadeiram
ente confere valor a uma obra dentífica. O
u seja, de que qualquer obra deverá exprim
ir uma "personalidade" paralelam
ente a outras qualidades.
131
Por certo que, sem as idéias de valor do investigador, não existiria nenhum
principio de seleção, nem
o conhecimento sensato do real singular, da m
esma
forma com
o sem a crença do pesquisador na significação de um
conteúdo cul-tural qualquer, resultaria com
pletamente desprovido de sentido todo o estudo
do conhecimento da realidade individual, pois tam
bém a orientação da sua con-
vicção pessoal e a difração de valores no espelho da sua alma conferem
ao seu trabalho um
a direção. E as valores a que o gênio dentífico refere as objetos da sua investigação poderão determ
inar a "concepção" que se fará de toda uma
época. Isto é, não só poderão ser decisivas para aquilo que, nas fenômenos,
se considera "valioso", mas ainda para o que passa por significativo ou insigni-
ficante, "importante" ou "secundário".
O conhecim
ento científico-cultural, tal como o entendem
os, encontra-se preso, portanto, a prem
issas "subjetivas", pelo fato de apenas se ocupar daque-les elem
entos da realidade que apresentam algum
a relação, por muito indireta
que seja, com o acontecim
ento a que conferimos um
a significação cultural. Ape-sar disso, continua naturalm
ente a ser um conhecim
ento puramente causal, da
mesm
a maneira com
o o conhedmento de eventos naturais individuais im
por-tantes, que têm
caráter qualitativo. Paralelamente às num
erosas confusões ori-ginadas pelo im
iscuir do pensamento jurídico form
alista na esfera das dêndas culturais, surgiu recentem
ente (em obra do jurista R Stam
mler, entre outras), a
tentativa de "refutar" a "concepção materialista da H
istória" através de uma série
de engenhosas sofismas. Pará tanto, argum
enta-se, já que toda a vida econômica
deveria evoluir dentro de determinadas form
as reguladas de modo legal ou con-
vendonal, qualquer "evolução" econômica deveria adotar o aspecto de aspira-
ções para a criação de novas formas jurídicas. Isto é, que apenas poderia ser
compreensível a partir de certas m
áximas m
orais, e por isso seria diferente, em
essênda, de qualquer "evolução natural". O conhedm
ento da evolução econô-m
ica teria, assim, um
a caráter "teleológico". Sem pretenderm
os discutir aqui o significado am
bíguo que o conceito de "evolução" comporta nas dêndas so-
dais, nem o conceito igualm
ente ambíguo, do ponto de vista lógico, de "te-
leológico", cabe deixar assente que a economia não é necessariam
ente "teleo-lógica", tal com
o pressupõe essa concepção. Mesm
o no caso de uma total iden-
tidade de forma das norm
as jurídicas vigentes, a significação cultural das rela-ções jurídicas de caráter norm
ativo pode mudar de m
odo radical e, conseqüen-tem
ente, as próprias normas. Pois, se nas perm
itíssemos um
mergulho em
di-vagações sobre o futuro, poder-se-ia im
aginar, por exemplo, com
o teoricamente
realizável, urna "sodalização das meias de produção", sem
que se houvesse produzido qualquer "aspiração" consdentem
ente dirigida para esse resultado e sem
que houvesse necessidade de se acrescentar ou suprimir qualquer artigo
na nossa atual legislação. Em com
pensação, a freqüênda estatística das diversas relações legalm
ente normalizadas seria sem
dúvida modificada de m
odo radical, e, em
numerosas casos, ficaria reduzida a zero urna grande parte das norm
as jurídicas, que perderiam
praticamente qualquer significado, e toda a sua signi-
ficação para a cultura se tornaria irreconhedvel. Por conseguinte, a "concepção m
aterialista da história" poderia, assim, elim
inar com razão as discussões de lege
ferenda (com referênda à legislação futura), visto que o seu ponto de vista
básico afirmava predsam
ente a inevitável mudança da significação das institui-
132
ções jurídicas .. Todo que ?'ê. que o m
odesto trabalho de compreensão
causal da realidade htstonca constttut urna tarefa inferior poderá desinteressar-se por ele, m
as é realmente im
passível substituí-lo por qualquer "teleologia". Na
nossa concepção, "fim" é a representação de um
resultado que se converte em
causa que contribua ou possa contribuir para o resultado significativo. A sua
significação especifica baseia-se unicamente em
que podemos e querem
os não só constatar a atividade hum
ana, mas tam
bém com
preendê-la. N
ão há dúvida de que as idéias de valor são "subjetivas". Entre o interesse pela evolução das m
aiores fenômenos im
agináveis, que durante longas perío-dos foram
, e continuam a ser, com
uns a uma nação ou a toda a hum
anidade existe um
a escala infinita de "significações" cujas graus se apresentarão, cada um
de nós, numa ordem
diferente. E, naturalmente, esta ordem
também
varia historicam
ente de acordo com o caráter da cultura e do pensam
ento que dom
ina as homens. É evidente, no entanto, que não devem
os deduzir de tudo isso que a investigação dentífico-cultural apenas conseguiria obter resultados "subjetivas", no sentido de serem
válidos para uns, mas não para outras. O
que varia é o grau de interesse que se m
anifesta por um ou por outro. Em
outras palavras: apenas as idéias de valor que dom
inam o investigador e um
a época podem
determinar o objeto do estudo e as lim
ites deste estudo. No que
concerne ao método da investigação, o "com
o" é o ponto de vista dominante
que determina a form
ação das conceitos auxiliares de que se utiliza. E quanto ao m
étodo de utilizá-las, o investigador encontra-se evidentemente ligado às
norma de nosso pensam
ento. Porque só é uma verdade dentífica aquilo que
pretende ser válido para todos os que querem a verdade.
Ora, daqui se deduz a total insensatez da crença que por vezes encontra-
mos m
esmo entre historiadores da nossa espedalidade, segundo a qual o alvo
das dêndas da cultura poderia ser a elaboração de um sistem
a fechado de con-ceitos que, de um
modo ou de outro, sintetizaria a realidade m
ediante uma
articulação definitiva, a partir da qual se poderia de novo deduzi-la. O fluxo
do devir incomensurável flui incessantem
ente ao encontro da eternidade. Os
problemas culturais que fazem
mover a hum
anidade renascem a cada instante,
sob um aspecto diferente, e perm
anecem variáveis: o âm
bito daquilo que, no fluxo eternam
ente infinito do individual, adquire para nós importânda e signi-
ficação e se converte em "individualidade histórica". M
udam tam
bém as relações
intelectuais, sob as quais são estudadas e dentificamente com
preendidas. Por conseguinte, os pontas de partida das dências da cultura continuarão a ser va-riáveis no im
enso futuro, enquanto uma espécie de im
obilidade chinesa da vida espiritual não desacostum
ar a humanidade de fazer perguntas à vida sem
pre inesgotável. U
m sistem
a das dêndas culturais, embora só o fosse no sentido
de uma fixação definitiva, objetivam
ente válida e sistematizadora das questões
e das campas dos quais se espera que tratem
, seria um ab;urdo em
si. Um
a tentativa deste tipo poderá apenas rem
atar por urna justaposição de diferentes pontos de vista, espedficam
ente particulares, e muitas vezes heterogêneos e dís-
pares entre si, sob os quais a realidade tem sido, e perm
anecerá para nós, "cul-tura", isto é, significativa na sua particularidade.
Depois desta prolongada discussão podem
os, finalmente, dedicarm
o-nos à questão que nos interessa m
etodologicamente, a propósito do estudo da
133
"objetividade" do conhecimento nas ciências da cultura. Q
ual é a função lógica e a estrutura da; conceitos com
os quais trabalha a nossa ciência, à semelhança
de qualquer outra? Ou, para dizê-lo de outra m
aneira e em função do problem
a decisivo: qual a significação da teoria e da form
ação teórica da; conceita; para o conhecim
ento da realidade cultural? C
omo já vim
a;, a economia política tinha sido originariam
ente urna "téc-nica", pelo m
ena; no que diz respeito ao núcleo da; seus estuda>, isto é, con-siderava a; fenôm
enos da realidade de urna perspectiva prática do valor, estável e unívoca pelo
na aparência: da perspectiva do crescimento da "riqueza"
da população num país. Por outro lado, desde o início em
que a economia
política não era apenas uma "técnica", tendo em
vista que se incorporou à po-dera;a unidade da concepção do m
undo do século XVIII, de caráter racionalista e orientada pelo direito natural. M
as a particularidade dessa concepção do mun-
do, com a sua fé otim
ista na racionalização teórica e prática do real, comportou
um efeito essencial ao evitar que fosse descoberto o caráter problem
ático da perspectiva que ele pressupunha evidente. D
o mesm
o mcx:lo que o estudo ra-
cional da realidade social havia nascido em estreita relação com
a evolução m
cx:lerna das ciências na natureza, continuou semelhante no m
odo de encarar o seu objeto. N
as disciplinas das ciências da natureza, a perspectiva prática do valor, relativa ao que é diretam
ente útil, encontra-se tecnicamente em
estreita relação com
a esperança -herdada da A
ntigüidade e desenvolvida pa;terior-m
ente-
de que, por meio do cam
inho generalizador da abstração e da análise do em
pírico, orientadas para as relações legais, seria possível chegar a um co-
nhecimento puram
ente "objetivo" -isto é, aqui, um
conhecimento sem
relação com
toda; a; valores -e, ao m
esmo tem
po, absolutamente racional -
ou seja, um
conhecimento m
onista de toda a realidade, livre de qualquer "contin-gência" individual, sob o aspecto de um
sistema conceitual de validade m
eta-física e form
a matem
ática. As disciplinas das ciências da natureza, que se en-contram
ligadas a pontos de vista axiológica>, tais como a m
edicina clínica, e, m
ais ainda, a chamada "tecnologia", converteram
-se em puras "artes" práticas.
Desde o prindpio estavam
determinada; a; valores a que deveriam
servir: a saúde do paciente, o aperfeiçoam
ento técnico de um processo de prcx:lução
etc ... Os m
eia; a que recorreram, eram
, e só podiam ser, a aplicação prática
dos conceita; de lei descoberta; pelas disciplinas teóricas. Qualquer progresso
de prindpio na formação das leis era tam
bém e pcx:lia sê-lo um
progresso na disciplina prática. Porque, quando a; fins perm
anecem inalteráveis, a redução
progressiva das questões práticas (um caso de doença, um
problema técnico)
a leis de validade geral e à conseqüente ampliação do conhecim
ento teórico, se liga à am
pliação das pa;sibilidades técnicas e práticas e se identifica com
ela. No m
omento em
que a biologia mcx:lem
a conseguiu englobar os elementos
da realidade que nos interessam historicam
ente (pelo fato de haverem ocorrido
precisamente assim
e não de qualquer outro mcx:lo) dentro do conceito de um
prindpio de evolução de validade geral, que, pelo m
enos na aparência-m
as não na realidade -
permitia ordenar todo o essencial daqueles objeta; dentro
de um esquem
a de leis com validade geral, dir-se-ia que sobre todas as ciências
pairava ameaçadoram
ente o crepúsculo dos deuses de todas as perspectivas axiológicas. V
isto que também
o chamado devir histórico era um
fragmento da
realidade total e que o prindpio da causalidade -prem
issa de qualquer tra-balho científico -
parecia exigir a redução de todo o devir a "leis" de validade
134
geral, e visto o descomunal êxito das ciências da natureza
que haviam incor-
f>?rado esse prindpio, parecia it_npossível. conceber um trabalho científico que
nao o da ?escoberta de le1s do deV!r em
geral. O elem
ento científico es-senaal da; fenom
enos apenas pcx:lia ser constituído pelo aspecto "legal" ao
passo que a; "acontecimentos individuais" só podiam
ser levada; em conta' co-
mo "til=?'": o que significa:
como representativos das leis. o interesse por
eles propna;, enquanto tais, nao era considerado um interesse "científico"
É impossível dar porm
enores aqui das importantes repercussões deste
do d:
repleto de ?o m
onismo naturalista sobre as disciplinas
econorrncas. Quando a cntlca soaalista e o trabalho da; historiadores com
eça-ram
a as perspectivas axiológicas originais, a grande
da mvestlgaçao
por um lado, e a influência do panlogism
o hegehano, por outro, im
pediram que a eçonom
ia política reconhecesse com
precisão toda a amplitude da relação entre o conceito e a realidade. O
resultado disso, . no
na; interessa aqui, é que, apesar do formidável dique erguido
fila;ofla idealista alemã desde Fichte, pelo êxito da Escola H
istórica do D1re1to e pela; trabalha; da Escola H
istórica Alem
ã de Economia Política contra
a infiltração da; dogmas naturalistas, não foram
ainda superados, em determ
i-aspecta; decisiva;, a; ponta; de vista do naturalism
o, e, em parte, essa
s1tuaçao por causa desse esforço. Entre eles, cabe citar a relação, ainda
problemática, que na nossa disciplina existe entre o trabalho "teórico" e o "his-
tórico". A
inda hoje, o método teórico e "abstrato" se opõe de m
aneira direta e apa-rentem
ente incontornável à investigação histórico-empírica. Ele reconhece com
toda a exatidão a im
pa;sibilidade metodológica de substituir o conhecim
ento histórico da realidade pela form
ulação de "leis", ou de, pelo contrário, chegar ao estabelecim
ento das "leis", no sentido estrito do termo, m
ediante a mera jus-
tapa;ição de observações históricas. Para conseguir estabelecer as leis -pois
há de que este é o fim
supremo da ciência -
parte do fato de que expenm
entamos constantem
ente as relações da atividade humana em
sua rea-lidade im
ediata. Em face disso, julga pcx:ler tornar esse curso dos eventa; di-
retamente inteligível com
evidência axiomática e assim
explorá-los nas suas "leis". A
única forma exata do conhecim
ento, a formulação de leis im
ediata e intuitivam
ente evidentes, seria, ao mesm
o tempo, a única que nos perm
itiria deduzir a; acontecim
enta; não diretamente observáveis. C
onseqüentemente,
0 estabelecim
ento de um sistem
a de propa;ições abstratas e puramente form
ais, em
analogia às propa;ições das ciências exatas, seria o único meio de dom
inar intelectualm
ente a diversidade social, pelo mena; no que diz respeito aa; fe-
nômena; fundam
entais da vida econômica. A
pesar de ter sido o criador desta teoria (H
. Gossen, precursor da teoria rnarginalista na Econom
ia, em 1854) o
primeiro e único a efetuar urna distinção m
etcxlológica de prindpio entre o co-legal e o hist?rico atribuiu urna validade em
pírica às propa;ições da teona abstrata, nc;> sentido de urna pa;sibilidade de dedução da realidade a partir destas "leis". E certo que o não fazia no sentido da validade em
pírica das propa;ições
abstratas por elas próprias, mas sim
no sentido de, urna vez alcançadas teonas "exatas" correspondentes a todos a; outra; ele-m
enta; que entram em
linha de conta, dever o conjunto de tcxlas estas teorias abstratas conter a verdadeira realidade das coisas, isto é, tudo aquilo que, da
135
realidade, fa;se digno de ser conhecido. A teoria "exata" da Econom
ia leceria a influência de um
motivo psicológico, ao passo que outras teonas te-
riam com
o tarefa desenvolver analogamente todos os m
otivos restantes num
conjunto de proposições de hipotética. C
om
ao resultado do trabalho teórico -
isto é das teonas abstratas da form
açao dos preços, dos juros, dos rendim
entos etc.' -houve quem
dissesse num
a analogia
com as proposições da física, seria possível em
prega-las para deduZir, de m
issas reais dadas, resultados quantitativamente determ
inados -portanto, le1s
em sentido restrito -
com validade para a realidade da vida, posto que em
face de fins dados a econom
ia humana ficasse claram
ente "determinada" com
relação aos m
eios. Não se levava em
consideração CJI:le, para tal re-
sultado, ainda que fa;se no mais sim
ples dos casos, previam
ente como "dada", e pressupor com
? a totalidade da reali-
dade histórica incluindo todas as suas relaçoes causaiS. E que, se alguma vez
o espírito conseguisse alcançar esse conhecim
ento, não se im
a-ginar qual o valor epistem
ológico de uma teoria abstrata. O
preconceito natu-ralista segllildo o qual se deveria, nesses conceitos, elaJ;x>rar algo às ciências exatas, havia precisam
ente levado a uma
erronea do sentido dessas form
ações teóricas do pensamento. A
creditava-se que se do isolam
ento psicológico do "impulso" específico d_o .hom
em, ?.
aquisição, ou então da observação isolada de uma
da atlVl-dade hum
ana, o chamado.princípio econôm
ico. A teona abstrata JUlgava poder
se apoiar em axiom
as psicológicos. Isto teve como conseqüência o fato de _os
historiadores exigirem urna psicologia em
pírica, de molde a com
provar a nao-validade desses axiom
as e a poder deduzir psicologicamente o curso dos pro-
cessos econômicos. N
ão é na;sa intenção criticar aqui pormenorizadam
ente a significação de urna ciência sistem
ática da "psicologia -
ainda não tituída -
como futura base das ciências culturais, espeaalm
ente da econoffila social. A
s tentativas de uma interpretação psicológica dos fenôm
enos econômi-
cos de que temos
até a.gora, parte
precisamente que esta se dá nao a partlf da
das 1nst1tu1ç.oes inversam
ente, que o esclarecimento das cc:ndiçoes .e
efe1tos das instituições pressupõe o exato
.destas e a
análise científica das suas relações. A anahse ps1colog1ca s1grufica, po1s, em
cada caso concreto, um
valioso aprofundar do conhecimento do seu condicionam
en-to histórico e da sua significação cultural. O
que nos interessa na conduta do hom
em, dentro do âm
bito das suas relações sociais, é especificamente particu-
larizado segundo a significação cultural específica da em
causa. de causas e de influências psíquicas extrem
amente heterogeneas entre s1 e ex-
tremam
ente concretas na sua composição. A
investigação sócio-psicológica sig-nifica um
exame aprofundado dos diversos gêneros particulares e díspares de
elementos culturais, tendo em
vista a sua acessibilidade para a na;sa revivência com
preensiva. Partindo do conhecimento das instituições parti<=0ares, esse exa-
me auxiliar-nos-á a com
preender intelectualmente e, em
medida crescente, o
seu condicionamento e significação culturais, m
as não nos ajudará a explicar as instituições a partir de leis psicológicas ou de fenôm
enos psicológicos ele-m
entares.
136
Por conseguinte, bem pouco fecunda tem
sido a polêmica desencadeada
ao redor da questão da legitimidade psicológica das construções teóricas e abs-
tratas, bem com
o do alcance do "instinto de aquisição", do "princípio econô-m
ico" etc. A
s construções da teoria abstrata só aparentemente são "deduções" a partir
de motivos psicológicos fundam
entais. Na realidade, trata-se antes do caso espe-cial de urna form
a da construção de conceitos, próprios das ciências da cultura hum
ana e, em certo grau, indispensáveis. V
ale a pena compreender a sua ca-
racterização m
ais profunda, visto que, assim, aproxim
ar-nos-emas da questão
lógica sobre a significação da teoria das ciências sociais. Para tanto, passaremos
por alto e de urna vez por todas, pela questão de saber se as construções teó-ricas que utilizam
os como exem
plos ou a que faremos referência correspondem
, tal com
o são, ao flfn a que se destinam Isto é, se foram
formadas praticam
ente de m
aneira apropriada. Afm
al, a questão de saber até onde se deve levar a atual "teoria abstrata" é tam
bém urna questão da econom
ia do trabalho cientí-fico, que com
porta ainda outros problemas. Tam
bém a "teoria da utilidade m
ar-ginal" está subordinada à "lei da utilidade m
arginal".
Na teoria econôm
ica abstrata, temos um
exemplo dessas sínteses a que se
costuma cham
ar de "idéias" dos fenômenos históricos. O
ferece-nos um quadro
ideal dos eventos no mercado dos bens de consum
o, no caso de urna sociedade organizada segundo o princípio da troca, da livre concorrência e de urna ação estritam
ente racional. Este quadro de pensamento reúne determ
inadas relações e acontecim
entos da vida histórica para formar um
cosmo não contraditório de
relações pensadas. Pelo seu conteúdo, essa construção reveste-se do caráter de um
a utopia, obtida mediante a acentuação m
ental de determinados elem
entos da realidade. A
sua relação com os fatos em
piricamente dados consiste apenas
em que, onde quer que se com
prove ou se suspeite que determinadas relações
-do tipo das representadas de m
odo abstrato na citada construção, a saber dos acontecim
entos dependentes do mercado -
chegaram a atuar, em
algum
grau, sobre a realidade, podemos representar e tom
ar compreensível pragm
a-ticam
ente a natureza particular dessas relações mediante um
tipo ideal. Esta pos-sibilidade pode ser valiosa, e m
esmo indispensável, tanto para a investigação
como para a exposição. N
o que diz respeito à investigação, o conceito de tipo ideal propõe-se a form
ar o juízo de atribuição. Não é um
a "hipótese", mas pre-
tende apontar o caminho para a form
ação de hipóteses. Embora não constitua
uma exposição da realidade, pretende conferir a ela m
eios expressivos unívo-cos. E, portanto, a "idéia" da organização m
oderna e historicamente dada da
sociedade numa econom
ia de mercado, idéia essa que evolui de acordo com
os m
esmos princípios lógicos que serviram
, por exemplo, para form
ar a idéia da "econom
ia urbana" da Idade Média à m
aneira de um conceito "genético".
Não é pelo estabelecim
ento de urna média dos princípios econôm
icos quere-alm
ente existiram em
todas as cidades examinadas, m
as, antes, pela construção de um
tipo ideal que, neste último caso, se form
a o conceito de "economia
urbana". Obtém
-se um tipo ideal m
ediante a acentuação unilateral de um ou
de vários pontos de vista e mediante o encadeam
ento de grande quantidade de fenôm
enos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem
dar em
137
maior ou m
enor número ou m
esmo faltar por com
pleto, e que se ordenam
segundo os pontos de vista unilateralmente
a fim de
formar um
quadro hom
ogêneo de pensamento. É im
posstvel encontrar empm
camente na
realidade este quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia.
A atividade historiográfica defronta-se com
a tarefa de determinar, em
cada caso particular, a proxim
idade ou o afastamento entre a realidade e o quadro ideal,
na medida, portanto, o caráter econôm
ico das condições de determinada cidade
poderá ser qualificada como "econom
ia urbana", no sentido conceitual. Este conceito, desde que cuidadosam
ente aplicado, cumpre as funções específicas
que dele se esperam, em
benefício da investigação e da representação. Para analisarm
os ainda outro exemplo, pode-se traçar igualm
ente a "idéia" do "ar-tesanato" sob a form
a de uma utopia, para o que se procede à reunião de de-
terminados traços que se m
anifestam de m
odo difuso entre os artesãos das mais
diversas épocas e países, acentuando de modo unilateral as conseqüências des-
sa atividade num quadro não contraditório, e referindo-a a um
a expressão do pensam
ento que nela se manifesta. A
lém disso, pode-se tentar
w:na sociedade na qual os ram
os da atividade econômica e m
esmo a ativtdade in-
telectual se encontram dom
inados por máxim
as que nos parecem ser aplicações
do mesm
o princípio que caracteriza o "artesanato" elevado ao nível do tipo ideal. E a este tipo ideal do artesanato pode ainda opor-se, por antítese, um
tipo ideal correspondente a um
a estrutura capitalista da indústria, obtido a partir da ab>tração de determ
inados traços da grande indústria moderna para, com
base nisso, se tentar traçar a utopia de um
a cultura "capitalista", isto é, domi-
nada unicamente pelo interesse de valorização dos capitais privados. Ela acen-
tuaria diferentes traços difusos da vida cultural, material e espiritual m
oderna e os reuniria num
quadro ideal não contraditório, para efeito de investigação. Este quadro constituiria, então, um
a tentativa de traçar uma "idéia" da cultura
capitalista -m
as não analisaremos agora se isso é possível, e de que m
odo. O
corre que é possível e deve se considerar como certo, form
ular muitas e m
es-m
o inúmeras utopias deste tipo, das quais nenhum
a se pareceria com outra,
nenhuma poderia ser observada na realidade em
pírica como ordem
realmente
válida numa sociedade, m
as cada uma pretenderia ser um
a representação da "idéia" na cultura capitalista, e cada um
a poderia realmente pretender, na m
e-dida em
que solucionou características da nossa cultura, significativas na sua especificidade, reuni-las num
quadro ideal homogêneo. Pois os
que nos interessam
como m
anifestações culturais, em geral, derivam
o seu mteresse
-a sua significação cultural -
de idéias de valor muito diferentes, com
as quais podem
os relacioná-las. Da m
esma form
a que existem "pontos de vista"
os mais diferentes, a partir dos quais podem
os considerar como significativos
os fenômenos citados, é possível se fazer uso dos m
ais diferentes princípios de seleção para as relações suscetíveis de ser integradas no tipo ideal de de-term
inada cultura. Qual é a significação desses conceitos de tipo ideal para um
a ciência em-
pírica, tal como ná6 pretendem
os praticá-la? Q.Ierem
os sublinhar desde logo a necessidade de que os quadros de pensam
ento que aqui abordamos, "ideais"
em sentido puram
ente lógico, sejam rigorosam
ente separados da noção do de-ver ser, do "exem
plar". Trata-se da construção de relações que parecem sufi-
138
cientemente m
otivadas para a nossa imaginação e, conseqüentem
ente, "objeti-vam
ente possíveis", e que parecem adequadas ao nosso saber nom
ológico. Q
uem for da opinião de que o conhecim
ento da realidade histórica deveria, ou poderia ser um
a cópia "sem pressupa>ições" de fatos
negar-lhes-á qualquer valor. E m
esmo aquele que tiver reconhecim
ento que, no âmbito da
realidade, nada está isento de pressuposições em sentido lógico, e que 0 m
ais sim
ples extrato de atas ou documentos apenas poderá ter algum
sentido cien-tífico com
relação a "significações" e, assim, em
última análise, em
relação à idéia de valor, considerará, no entanto, a construção de qualquer espécie de "utopia" histórica com
o um m
eio representativo perigoso para a objetividade do trabalho científico, e, com
mais freqüência, com
o um sim
ples jogo. E, de fato, nunca poderá se decidir a priori se se trata de m
ero jogo mental, ou de
uma construção conceitual fecunda para a ciência. Tam
bém existe apenas um
critério, o da eficácia, para o conhecim
ento de fenômenos culturais concretos,
tanto nas suas conexões como no seu condicionam
ento causal e na sua signi-ficação. Portanto, a construção de tipos ideais ab>tratos não interessa com
o fim, m
as única e exclusivamente com
o meio de conhecim
ento. Qualquer exam
e atento dos elem
entos conceituais da exposição histórica demonstra, no entanto,
que o historiador -logo que tentar ir além
da mera com
provação de relações concretas, para determ
inar a significação cultural de um evento individual, por
mais sim
ples que seja, isto, é, para "caracterizá-lo" -trabalha, e tem
de tra-balhar com
conceitos que, via de regra, apenas podem ser determ
inados de m
odo preciso e unívoco sob a forma de tipo> ideais. O
u será que o conteúdo de conceitos tais com
o "individualismo", "im
perialismo", "feudalism
o", "mercan-
tilismo", "convencional", bem
como as inúm
eras construções conceituais deste tipo, m
ediante as quais procuramos dom
inar a realidade por meio da reflexão
e da compreensão, deverá ser determ
inado mediante a descrição, "sem
pressu-postos", de um
fenômeno concreto, ou então m
ediante a síntese, por ab>tração, daquilo que é com
um a vários fenôm
enos concretos? A linguagem
utilizada pelo historiador contém
centenas de palavras que comportam
semelhantes quadros
mentais e que são im
precisas porque escolhidas segundo as necessidades de expressão no vocabulário corrente, não elaborado pela reflexão, e cuja signifi-cação inicialm
ente só é intuída sem ser pensada com
clareza. Em inúm
eros ca-sos, e, sobretudo no cam
po da história política descritiva, o caráter impreciso
do conteúdo dos conceitos não prejudica de modo nenhum
a clareza da ex-posição. N
estes casos, basta que sintamos aquilo de que o historiador tem
uma
vaga concepção, ou, então que nos contentemos com
a presença difusa de uma
especificação particular do conteúdo conceitual, no caso singular que ele cogita. M
as quanto mais clara consciência se pretende ter do caráter significativo de
um fenôm
eno cultural, tanto mais im
periosa se toma a necessidade de trabalhar
com conceitos claros, que não tenham
sido determinados segundo um
só aspec-to particular, m
as segundo todos. Ora, será ab>urdo conferir a essa síntese do
pensamento histórico um
a "definição" segundo o esquema genus proxim
um,
differentia speci:fzca; que se tire a prova. Este modo de com
provação da signi-ficação das palavras apenas existe no cam
po das disciplinas dogmáticas, que
139
trabalham com
silogismos. Tam
bém não existe, pelo m
enos aparentemente, um
a era "decom
posição descritiva" desses conceitos nos seus elementos, posto que
importa é saber quais desses elem
entos deverão ser essen-
ciais. Se quisermos tentar urna definição genética do
do conceito, .res-tar-nos-á apenas a form
a do tipo ideal, no sentido antenormente estabeleado.
Trata-se de um quadro de pensam
ento, não da realidade histórica, e nos da realidade "autêntica"; não serve de esquem
a em que se
mclw
r a realidade à m
aneira de exemplar. Tem
, antes, o significado de um conceito-li-
mite, puram
ente ideal, em relação ao qual se m
ede a realidade a fim de escla-
recer o conteúdo empírico de alguns dos seus elem
entos importantes, e com
0
qual esta é comparada. Tais conceitos são cor:H
gurações. quais
truímos relações, por m
eio da utilização da categona de objetiva,
que a nossa imaginação, form
ada e orientada segundo a realidade, julga ade-quadas.
Nesta função, o tipo ideal é, acim
a de tudo, uma tentativa . de apre:?der
os indivíduos históricos ou os seus diversos elementos em
conceitos genéticos. Tom
emos com
o exemplos os conceitos "igreja" e "seita". M
ediante classificação pura, podem
os analisá-los num com
plexo de características, com o
só. o lim
ite entre ambos os conceitos, com
o o seu conteúdo, permanecerao IndiS-
tintos. Pelo contrário, se quisermos com
preender o conceito de "seita" de modo
genético, isto é, com referência a certos significados culturais
que 0 "espírito sectário" teve para a civilização m
oderna, aparecem entao certas ca-
racterísticas essenciais e precisas de ambos, visto que se encontram
numa re-
lação causal adequada relativamente àqueles efeitos. O
ra, os conceitos se tor-nam
, então, tipos ideais, isto é, não se manifestam
na sua plena pureza con-ceitual, ou apenas de form
a esporádica o fazem A
qui, como em
qualquer outro cam
po, qualquer conceito que não seja puramente
nos da
realidade. Mas a natureza discursiva do nosso conheam
ento, a arcunstanaa de apenas captarm
os a realidade através de uma cadeia de transform
ações na or-dem
da representação, postula este tipo de taquigrafia conceitual. É certo que a nossa im
aginação pode, com freqüência, prescindir da sua form
ulação con-ceitual explícita, no nível dos m
eios de investigação, mas, em
numerosos casos,
torna-se imprescindível a sua utilização no cam
po da análise cultural quando se trata da exposição, e enquanto esta pretende ser unívoca. Q
uem dela pres-
cinde completam
ente, forçosamente deverá se lim
itar ao aspecto formal dos fe-
nômenos culturais, com
o, por exemplo, o histórico-jurídico. O
universo das nor-m
as jurídicas pode ser claramente determ
inado a partir do ponto de vista ceitual e
ao mesm
o tempo, é válido para a realidade histórica (no sentido JU-
rídico). Mas é da sua significação prática que se ocupa o trabalho das ciências sociais tal com
o as entendemos. É m
uito freqüente, porém, se tom
ar apenas esta significação, em
se tratando do empiricam
ente dado a um
caso-limite ideal. Se o historiador (no sentido m
ais lato da palavra) rejeita a tentativa de form
ular um tipo ideal com
o esse, sob o pretexto de constituir uma
"construção teórica", ou seja, algo inútil ou desnecessário o ?m
do conhecim
ento, resulta, então, em regra geral, que este histonador utiliza,
140
I :
' lí I
consdente ou inconsdentemente, outras construções análogas sem
as formular
explidtamente e sem
elaboração lógica, ou então fica encalhado na esfera do vagam
ente "sentido''. D
ecerto, nada há de mais perigoso que a confusão entre teoria e história,
nascida dos preconceitos naturalistas. Esta confusão pode apresentar-se sob a form
a da crença na fixação de quadros conceituais e teóricos do conteúdo "pro-priam
ente dito", ou da sua utilização à maneira de leito de Procusto, no qual
a História deverá ser introduzida à força, e hipa;tasiando ainda as "idéias" com
o se fossem
a realidade "propriamente dita", ou as "forças reais" que, por trás do
fluxo dos acontecimentos, m
anifestam-se na H
istória. Este último perigo é tanto
mais constante quanto m
ais habituados estamos a entender por "idéias" de um
a época, os pensam
entos e ideais que governaram a m
assa ou uma parte histo-
ricamente decisiva dos hom
ens dessa época, e que, por esse mesm
o motivo,
constituíram elem
entos significativos para o aspecto particular da cultura citada. A
tudo isso convém acrescentar duas coisas. Em
primeiro lugar, o fato de
que entre a "idéia", no sentido de tendência do pensamento prático e teórico
de uma época, e a "idéia", no sentido de tipo ideal desta época, por nós cons-
truído como um
meio conceitual auxiliar, existem
, via de regra, determinadas
relações. Um
tipo ideal de condições sociais determinadas, obtido através da
abstração de determinadas m
anifestações sociais características de uma época,
pcxie ser efetivamente considerado aos olhos dos nossos contem
porâneos como
um ideal a ser alcançado na prática ou, pelo m
enos, como m
áxima para are-
gulação de certas relações sociais. Assim
acontece com a "idéia" da "proteção
dos bens de substância" e de outras teorias dos Canônicos, especialm
ente de São Tom
ás de Aquino, com
relação ao já citado conceito típico-ideal de "eco-nom
ia urbana" medieval, utilizado atualm
ente. E, com m
aior razão, assim su-
cede com o fam
igerado "conceito fundamental" da econom
ia política: o do "va-lor" econôm
ico. Desde a escolástica até a teoria m
arxista, duas noções se en-trecruzam
, a do "objetivamente" válido, isto é, a de um
"dever-ser", e a de uma
abstração a partir do processo empírico da form
ação de preços. A idéia de que
o "valor" dos bens deve ser regulado segundo determinados princípios do "di-
reito natural" teve um significado incom
ensurável para o desenvolvimento da
nossa civilização -não apenas na Idade M
édia -e, ainda hoje, o tem
Em
espedal, influi intensamente no processo em
pírico da formação dos preços.
Ora, é apenas m
ediante uma construção rigorosa dos conceitos, ou seja, graças
ao tipo ideal, que se torna expor de form
a unívoca o que se entende e se pode entender pelo conceito teórico do valor. Era isso que o sarcasm
o acerca das "robinsonadas" da teoria abstrata deveria ter em
conta, pelo menos
enquanto não for capaz de nos oferecer algo melhor, o que, aqui, significa algo
mais claro.
A relação de causalidade entre a idéia historicam
ente comprovável que do-
mina os hom
ens e os elementos da realidade histórica dos quais se pode fazer
a abstração do tipo ideal correspondente pode adotar formas extrem
amente va-
riáveis. Em princípio, devem
os apenas recordar que ambas são coisas funda-
mentalm
ente diferentes. E aqui surge a nossa segunda observação. As "idéias"
que dominaram
os homens de urna época, isto é, as que neles atuaram
de for-
141
ma difusa, só fXXIerão ser com
preendidas sempre que form
arem um
quadro de pensam
ento complexo, com
rigor conceitual, de
ideal, pois, em
piricamente, elas habitam
as mentes de um
a e m
u-tável de indivíduo:;, na; quais estavam
expostas aa; mats diversa; m
attzes, se-gundo a form
a e o conteúdo, a clareza e o sentido. Os elem
ento:; da vida espi-ritual da; diversos indivíduo:; em
determinada época da Idade M
édia, por exem-
plo, que fXX
Ieriama; designar pelo term
o de "cristianismo" da; indivíduo:; em
questão, continuariam
, caso fâssema; capazes de expô-los por com
pleto, um
caa; de relações intelectuais e de sentimento:; de toda sorte, infinitam
ente di-ferenciados e extrem
amente contraditória;, se bem
que a igreja da Idade Média
tenha sido capaz de impor, em
elevado grau, a unidade da fé e da; ca;tumes.
Pa;ta a questão do que correspondia, no meio daquele caos, ao "cristianism
o m
edieval", temos de trabalhar continuam
ente com um
quadro mental puro por
nós criado. Trata-se de urna combinação de artigo:; de fé, de norm
as éticas e de direito canônico, de m
áximas para o com
portamento na vida e de inúm
eras relações particulares que nós com
binamos num
a sô "idéia", numa síntese que
seríama; incapazes de estabelecer de m
odo não contraditório, senão recorrês-sem
os, a conceito:; típico-ideais. Claro que, tanto a estrutura lógica da; sistem
as conceituais em que expo-
ma; essas "idéias" com
o a sua relação com o im
ediatamente dado na realidade
empírica são, evidentem
ente, muito diferentes. A
s coisas apresentam-se, no en-
tanto, de forma bastante sim
ples, sempre que se trata de casa; em
que um ou
alguns rara; principia; diretores teóricos, facilmente traduzíveis em
fórmulas-
como a fé de Calvino na predestinação -
ou, então, certa; pa;tulada; morais
passíveis de formulação clara, tenham
governado os homens e produzido de-
terminada; efeita; histórica;, de m
odo que na; seja possível introduzir a "idéia" num
a hierarquia de pensamenta; inferida; logicam
ente desses principia; dire-tores. Então facilm
ente se perde de vista por mais im
portante que tenha sido o poder construtivo, puram
ente lógico, do pensamento na H
istória -de que
o marxism
o é um exem
plo notável-o processo em
pírico-histórico que se de-senvolveu na m
ente das pessoas deve ser geralmente com
preendido como um
processo condicionado psicologicam
ente, e não logicamente. O
caráter típico-ideal dessas sínteses de idéias que tiveram
urna ação histórica manifesta-se de
forma ainda m
ais clara se esses principia; diretores e postulada; fundamentais
já não subsistem nas m
entes dos indivíduos, ainda que estes continuem dom
i-nada; por pensam
ento:; que são conseqüência lógica destes principia;, ou que deles saíram
por associação -quer porque a "idéia" historicam
ente original que lhes servia de base se extinguiu, quer porque apenas conseguiu exercer influência atráves das suas conseqüências. E essas sínteses incorporam
ainda m
ais o caráter de "idéias" por nós construídas quando, de início, esses princi-pia; diretores fundam
entais não foram captados, ou apenas de m
odo incom-
pleto, pela consciência da; homens, ou, ainda, quando não adotaram
a forma
de um conjunto claro e coerente de pensam
entO>. A
ssim, se na; em
penhamos
neste procedimento, com
o tantas vezes acontece e deverá acontecer, "idéia" que form
amos -
como a do "liberalism
o" de um determ
inado período, a do "me-
todismo", ou a de qualquer variante em
brionária do socialismo -
não é mais
do que um tipo ideal puro com
o mesm
o caráter que as sínteses da; "priná-
142
pia;" de uma época econôm
ica, de que falamo:; acim
a. Quanto m
ais vastas são as relações que se devem
expor, e quanto mais variada tiver sido a sua signi-
ficação cultural, tanto mais a sua apresentação sistem
ática e global num sistem
a conceitual e m
ental se aproximará do tipo ideal e tanto m
ena; se tornará pos-sível ficar com
um único conceito deste gênero. E daí resulta ser tanto m
ais natural e necessário repetir a tentativa de cortstruir nova; conceito:; de tipo ide-al, com
a finalidade de tomar consciência de sem
pre nova; aspecto:; significa-tiva; das relações. A
ssim, por exem
plo, toda; a; enunciada; de urna "essência" do cristianism
o constituem tipos ideais que, constante e necessariam
ente, ape-nas têm
uma validade m
uito relativa e problemática, se reivindicarem
a quali-dade de enunciado histórico em
piricamente dado. Por outro lado, pa;suem
um
elevado valor heurístico para a investigação e um enorm
e valor sistemático para
a exposição, se apenas forem utilizada; com
o meia; conceituais para com
parar e m
edir, com relação a eles, a realidade. Com
esta função, tornam-se m
esmo
indispensáveis. Tais exposições típico-ideais, contudo, comportam
normalm
ente ainda um
outro aspecto que toma ainda m
ais complexa a sua signiftcação. G
e-ralm
ente elas pretendem ser, ou inconscientem
ente o são, tipos ideais, não so-m
ente no sentido lógico, mas tam
bém no sentido prático. O
u seja, são tipos exem
plares que -seguindo o na;so exem
plo -contêm
aquilo que o cristia-nism
o deveria ser segundo o ponto de vista do cientista; aquilo que, na sua opinião, é "essencial" nesta religião, porque representa um
valor permanente
para ele. Ora, no caso em
que isso ocorrer, de forma consciente ou -
como
acontece mais
inconsciente, tais descrições contêm determ
i-nada; ideais aa; quais o pesquisador refere o cristianism
o avaliando-o, isto é, as tarefas e as finalidades segundo as quais orienta a sua "idéia" de cristianism
o. Claro que tais ideais podem
ser, e sem dúvida o serão sem
pre, completam
ente diferentes da; valores com
que, por exemplo, a; contem
porâneos da; primiti-
va; cristão:; compararam
o cristianismo. N
este caso, as "idéias" já não são meios
auxiliares puramente lógica;, nem
conceito:; relativamente aa; quais se m
ede a realidade de m
odo comparativo, m
as, antes, são ideais a partir da; quais se julga a realidade, avaliando-a. Já não se trata, aqui, do processo puram
ente teórico da relação do em
pírico com determ
inada; valores, mas sim
de juíza; adotados no "conceito" do "cristianism
o". Dado que o tipo ideal reivindica aqui um
a va-lidade em
pírica, ele penetra na região da interpretação avaliadora do cristianis-m
o: abandonou-se o campo da ciência experim
ental para se fazer uma profissão
de fé pessoal, não uma construção conceitual típico-ideal. Por m
uito notável que seja esta diferença quanto aa; principia;, a confusão entre estas duas sig-nificações, fundam
entalmente diferentes da noção de "idéia", dá-se com
extra-ordinária freqüência no decorrer do trabalho histórico. O
corre sempre que o
historiador começa a desenvolver a sua própria "apreensão" de um
a persona-lidade ou de um
a época. Contrariam
ente aa; padrões ética; constantes que Schla;ser estabeleceu segundo o espírito do racionalism
o, o historiador moder-
no, de espírito relativista, que, por um lado, se propõe "com
preender por si própria" a época de que fala, e que, por outro, tam
bém quer "avaliá-la", sente
a necessidade de obter a; padrões da; seus juíza; a partir da "própria matéria"
do seu estudo. Isto é, deixa que a "idéia", no sentido de ideal, nasça da "idéia", no sentido de "tipo-ideal". E o atrativo estético deste procedim
ento constante-
143
mente 0 incita a esquecer a linha que as separa -
daí esta situação interme-
diária que, por um lado, não pode reprim
ir o juíz? .de valor, e, outro, tende
a declinar a responsabilidade da; juíza>. É necessano opor a tudo isto um dever
elementar do autocontrole científico, único suscetível de evitar surpresas, e
nos convida a fazer uma distinção estrita entre a relação que com
para a reah-dade com
tipos ideais no sentido lógico, e a apredaçã.o avaliadora rea-
lidade a partir de ideais. Devem
o:; repetir que, no sentl?o Nque lhe. um
"tipo ideal" é algo completam
ente diferente da avahaçao pois
nada tem em
comum
com qualquer "perfeição", salvo com
a de carater pura-m
ente lógico. Existem tanta> tipos ideais de bordéis com
o de E,
a; primeira>, tanto existem
alguns que, segundo a atual perspectlva da etlca policial, poderiam
parecer tecnicamente "oportunos", com
o outros em que
aconteceria justamente o contrário.
Vem
o-na> obrigada> a passar por alto a discussão do caso
que é, em m
uitos aspecta>, o mais com
plexo e interessante: a questao da estru-tura lógica do conceito de Estado. A
este respeito, faze;,
notar aqui que, quando perguntamos o que corresponde a
de na realidade em
pírica, deparamo-nos com
urna infinitude de açoes e hum
anas difusas e discretas, de relações reais e juridicamente ordenadas, sm
-gulares ou regularm
ente repetidas, e por um
a a crença em
nor-m
as que se encontram efetivam
ente em vtgor ou que devenam
estar, bem com
? em
determinadas relações· de dom
ínio do homem
pelo homem
Esta crença. e, em
parte, urna pa:;se espiritual desenvolvida pelo. pensamento, em
. parte sentida confusam
ente, e em parte aceita de m
odo passivo, que se rnarufesta com os
mais diferentes m
atizes nas mentes da; indivíduo:;. Se a> hom
ens chegassem
a conceber com toda a clareza esta "idéia", não predsariam
da ''teoria geral do Estado" que se propõe esclarecê-la. O
conceito científico do Estado, que seja a form
a pela qual se formula, constitui sem
pre urna síntese que nos realizam
os para determinada> fins do conhecim
ento. Mas, por outro lado, ob-
temo-lo tam
bém por abstração das sínteses obsruras
encontramos nas me_?-
tes da> homens histórica>. A
pesar de tudo, o conceito concreto a noçao
histórica de "Estado" adota poderá ser apreendido com clareza m
ediante uma
orientação segundo a; conceito:; de tipo E, além
não
a menor
dúvida de que a maneira com
o a; contemporanea> reahzam
essas smteses, de
uma form
a lógica sempre im
perfeita, ou seja, as "idéias" .que eles Ntêm do
-por exem
plo, a idéia "orgânica" de Estado da metafísica
à concepção "comercial" da> am
ericana> -:: tem
ente prática. Em
outras palavras, também
aqui a ideta pratica, em
va-lidade se crê )Jem
como o tipo ideal teórico construído para as necessidades
da investigaçio, correm paralela> e m
ostram um
a tendência constante de mu-
tuamente se confundirem
M
ais acima encaram
os intencionalmente o "tipo ideal" com
o uma constru-
ção intelectual destinada à medição e à caracterização
das individuais, isto é, significativa> pela sua especificidade, talS com
o o cnstianlS-m
o, 0 capitalismo etc. Isso se deu
eliminar a
.corrente no
domínio da; fenôm
enos culturais, o típico ab5trato e identlco ao genenco abs-trato. Esse não é o caso.
144
Se procuramos analisar aqui logicam
ente o conceito de "típico", tão discu-tido e tão desacreditado pelo abuso que dele se faz, podem
o:; já deduzir dos nossa> estuda> precedentes que a form
ação de conceito:; típica> no sentido da elim
inação do "acidental", também
, e sobretudo, tem lugar no estudo das in-
dividualidades históricas. C
omo é natural, tam
bém podem
o:; conferir a> conceito:; genérica> que en-contram
o:; continuamente sob a form
a de elemento:; constitutiva; dos enuncia-
dos históricos, e dos conceito:; histórica> concreta> a forma de tipo ideal com
a auxílio da abstração e da acentuação de determ
inados da; seus elemento:;
conceitualmente essenciais. Trata-se m
esmo de um
da; moda; prática; m
ais fre-qüentes e im
portantes de aplicar a> conceitos de tipo ideal, pois cada tipo ideal individual é com
posto de elemento:; conceituais que têm
um caráter genérico,
e que foram elaborada; à m
aneira de tipos ideais. Também
neste caso exibe-se a função lógica específica da> conceito:; de tipo ideal. O
conceito de "troca", por exem
plo, é um sim
ples conceito genérico, no sentido de um com
plexo de características que são com
uns a vária> fenômeno:;, sem
pre que deixamo:; de
considerar a significação da; elemento:; conceituais e, portanto, lim
itamo-na> a
analisá-lo em term
o:; da linguagem cotidiana. Se este conceito, contudo, é pa:;to
em relação com
a "lei da utilidade marginal" e se form
a o conceito de ''troca econôm
ica" à maneira de um
processo econômico racional, este conceito -
como qualquer outro integralm
ente elaborado de forma lógica -
conterá um
juízo sobre as condições "típicas" da troca. Assum
e então um caráter genético
e converte-se em típico-ideal, no sentido lógico, isto é, afasta-se da realidade
empírica, que apenas se pode com
parar e referir a ele. Algo de sem
elhante podem
os dizer acerca de toda> os suposta> "conceito:; fundamentais" da eco-
nomia política: só é pa:;sível desenvolvê-los de form
a genética enquanto tipos ideais. A
diferença entre conceitos genérica> simples, que apenas reúnem
as características com
uns a diversos fenômeno:; em
pírica>, e a; tipos ideais gené-rica>, com
o, por exemplo, um
conceito de tipo ideal da "essência" do artesa-nato, naturalm
ente é fluida nos pormenores. M
as nenhum conceito genérico
possui, enquanto tal, um caráter "típico", com
o também
não existe um tipo "m
é-dio" puram
ente genérico. Sempre que falam
o:; de grandezas "típicas" -com
o na estatística, por exem
plo -encontram
o:; algo que é mais do que um
mero
termo m
édio. Quanto m
ais se tratar de classificações de processa> que se ma-
nifestam na realidade de um
a forma m
aciça, tanto mais se tratará de conceitos
genérica>. Pelo contrário, quanto mais se atribui um
a forma conceitual ao:; ele-
menta> que constituem
o fundamento da significação cultural específica das re-
lações históricas complexas, tanto m
ais o conceito, ou o sistema de conceitos
adquirirá o caráter de tipo ideal. Porque a finalidade da formação de conceitos
de tipo ideal consiste sempre em
tomar rigorosam
ente consciência não do que é genérico, màs, m
uito pelo contrário, do que é específico a fenômeno:; cul-
turais. O fato de poderem
ser utilizada; os tipos ideais, incluída> a> de caráter genérico, e de efetivam
ente o serem, apenas oferecem
um interesse m
etodoló-gico com
relação a outra circunstância. A
té este mom
ento, temos na> ocupado principalm
ente com os tipos ideais
no seu aspecto essencial de conceito:; abstratos de relações, que concebemos
como relações estáveis no. fluxo do devir, com
o indivíduo:; histórica; na> quais
145
se processam desenvolvim
ento:;. Mas se na> apresenta agora
que é 0 preconceito naturalista, segundo o qual a meta das
.sC>?ats de-verá ser a redução da realidade a "leis", introduzido na na>sa disapltna com
grande facilidade, por m
eio do conceito de "típico". É que :ambém
é pa>sível construir tipa> ideais de desenvolvim
enta; e estas construçoes um
valor heurístico considerável. N
o entanto, surge neste caso o pengo tmm
ente de se confundir o tipo ideal e a realidade. A
ssim, por exem
plo, é pa>Sível che-gar ao resultado teórico de que num
a sociedade se-
gundo normas "artesanais", a única fonte de
de capttal a renda
da terra. A partir daqui talvez se pudesse
-nao cabe exam
t_nar agora a exatidão dessa construção-
um quadro tdeal puro da
da for-m
a econômica artesanal na capitalista, com
base apenas em determ
tnados fa-tores sim
ples, tais como a escassez do solo, o crescim
ento da. população, a abundância de m
etais precia>os e a racionalização do modo de vtda. Para saber
se o curso empírico do desenvolvim
ento foi efetivamente o m
esmo que o cons-
truído é necessário comprová-lo com
o auxílio desta construção tomada com
o m
eio heurístico, procedendo-se a uma com
paração entre o tipo ideal e a> ·:fa-ta>". Se o tipo ideal tiver sido construído de form
a "correta" e o decurso efettvo não corresponder ao decurso de tipo ideal, teríam
a> a prova de que,. em de-
terminadas relações, a sociedade m
edieval não foi uma sociedade
"artesanal". E no caso de o tipo ideal ter sido construído de modo "heunsllca-
mente" "ideal" -
não interessa saber aqui se e como, no presente exem
plo, este caso poderia dar-se -·então, orientaria a
para ? conduz a um
estudo mais profundo da natureza parllcular e da stgruftcaçao his-
tórica da> elementos na sociedade m
edieval que não têm caráter artesanal. Se
conduzir a esse resultado, terá cumprido o seu papel lógico, precisam
ente ao tom
ar manifesta a sua própria irrealidade. Constitui, nesse caso, a prova de um
a hipótese. O
processo não desperta m
etodológica, se tiver presente que a H
istória e a construçao do desenvol_vunento
devem ser rigorosam
ente diferenciadas, e que a construçao apenas m
eio para realizar metodicam
ente a atribuição válida de um processo
às suas causas reais, entre as passíveis na situação dada do na;so conheamento.
Tal como m
a>tra a experiência, torna-se extremam
ente difícil manter com
rigor essa diferença e isto por um
a precisa .. N
o .interesse da dem
onstração clara do tipo ideal ou desenv'?lvtm
ento ela de-
verá ser ilustrada mediante um
matenal da reahdade em
pmco-histonca. O
pe-rigo deste procedim
ento, legítimo em
si, reside em que o
rece como servidor da teoria, em
vez de suceder o contrano. O teonco factl-
mente se vê tentado a considerar com
o normal esta relação, ou então, o que
é pior ainda, misturar a teoria e a história ao ponto .de confundi-las. Esse
é ainda mais am
eaçador quando se chega a combtr:ar, dentro de um
a cação genética, a construção ideal de um
desenvolVIm
ento cor_n a dasstficaçao conceitual de tipos ideal de determ
inadas configurações culturats (por exemplo,
as formas da em
presa industrial a partir da "economia
ou a> conceitos religia>os a partir da> "deuses" do m
omento). A
seCJl:Ienaa de ttpos que resulta das características conceituais selecionadas corre o nsco de ser to-m
ada como um
a sucessão histórica de tipos que obedecem à necessidade de
146
I ): I ..
uma lei. A
ordem lógica da> conceitos, por um
lado, e a distribuição empírica
daquilo que é conceitualizado no espaço, no tempo e na conexão causal, por
outro, aparecem então de tal m
odo ligado:; entre si, que quase chega a ser irresistível a tentação de "forçar" a realidade para consolidar a validade efetiva da construção da realidade.
Intencionalmente, não dem
onstramos a na>sa concepção no exem
plo de M
arx: de longe o mais im
portante nas construções de tipo ideal. E isso para não com
plicar a expa>ição com a introdução das interpretações de M
arx e tam-
bém para não antecipar as futuras discussões de na>sa revista, nas quais sub-
meterem
a> a uma análise crítica as obras escritas sobre este grande pensador,
ou inspiradas nas suas doutrinas. limita-na> a constatar aqui que todas as "leis"
e construções do desenvolvimento histórico especificam
ente marxistas, natural-
mente possuem
um caráter de tipo ideal, na m
edida em que sejam
teoricamente
corretas. Quem
quer que tenha trabalhado com a> conceitos m
arxistas conhece a em
inente e inigualável importância heurística destes tipos ideais, quando uti-
lizada> para sua comparação com
::t realidade, mas conhece igualm
ente o seu perigo, logo que apresentada> com
o construção com validade em
pírica ou, até m
esmo, com
o tendências ou "forças ativas" reais (o que quer dizer, na verdade, "m
etafísicas"). Conceito:; genérica>, tipo ideal, conceito:; genérica> de estrutura típico-ide-
ais, idéias no sentido de combinações de pensam
ento que influem em
pírica-m
ente na> homens histórica>, tipa> ideais dessas idéias, ideais que dom
inam
a> homens, tipa> ideais desses ideais, ideais a que o historiador refere a H
is-tória, construções teóricas com
utilização ilustrativa do empírico, investigação
histórica com utilização de conceito:; teóriCa> com
o casos-limite ideais, enfim
, as m
ais diversas complicações passíveis, que apenas pudem
o:; aqui assinalar -
tudo são construções ideais cuja relação com a realidade em
pírica do ime-
diatamente dado é, em
cada caso particular, problemática. Esta lista dim
inuta dem
onstra já o constante entrelaçamento dos problem
as metodológica; e con-
ceituais que continuamente se encontram
no campo das ciências da cultura. E
visto que na; limitam
o:; aqui a na; referir aa; problemas, vim
o-na; obrigada; a renunciar ao aprofundam
ento das questões de metodologia e a discutir com
porm
enores as relações entre o conhecimento de tipo ideal e o obtido por
"leis", entre a; conceitos de tipo ideal e a; conceito:; coletivos etc. D
epois de todas estas abordagens, o historiador talvez continue, no entan-to, a insistir em
que a preponderância da forma típico-ideal na form
ação e na construção dos conceito:; não é m
ais que um sintom
a específico da juventude de um
a disciplina científica. E, em certa m
edida devemos dar-lhe razão, em
bora com
conseqüências muito diferentes das que ele deduzirá. Tom
emo:; alguns
exemplo:; de outras disciplinas. N
ão há dúvida de que, tanto o aluno atormen-
tado do curso elementar com
o a; ftlóloga; antiga; imaginam
, em principio, que
a língua é algo "orgânico", isto é, uma totalidade supra-em
pírica regida por nor-m
as, atribuindo à ciência a tarefa de estabelecer o que deve ter validade como
normas lingüísticas. A
primeira tarefa, a que geralm
ente se lança qualquer "fi-lologia", é a de elaborar de form
a lógica a "língua" escrita, tal como, por exem
-plo, o faz a A
cademia della Crusca, reduzindo o seu conteúdo a determ
inadas
147
regras. E se, em face disso um
da. prindpais filósofa. da atualidade proclama
que o objeto da filologia é a "fala de cada indivíduo", a instituição de um tal
programa só parece
depois de já existir, na linguagem escrita, um
tipo ideal relativam
ente ftxo, com o qual a análise
trabalhar, ainda que im-
plidtamente, no interior da infinita diversidade da fala, sem
o que se encontraria com
pletamente desprovida de qualquer direção e delim
itação. Este mesm
o pa-pel foi representado pelas construções das teorias do Estado com
base no Di-
reito Natural e na concepção orgânica, ou para evocarm
o. também
um tipo
ideal na na.sa acepção, pela Teoria do Estado Antigo, segundo B
enjamin Cons-
tant São, por assim dizer, portao que servem
de abrigo à espera de que se consiga um
a orientação no mar im
enso dos fato. empírica.. N
a verdade, a dên-da am
adurecida signiftca sempre um
a superação do tipo ideal, enquanto se lhe atribui um
a validade empírica ou o valor de um
conceito genérico. Ora, hoje
em dia, não só se torna com
pletamente legítim
a a utilização da brilhante cons-trução de C
onstant para demonstrar determ
inada. aspecto. e particularidades históricas da vida política antiga, na condição de se m
anter cuidada.amente o
seu caráter de tipo ideal, como ainda, e prindpalm
ente, existem dêndas dota-
das de eterna juventude. É o caso, por exemplo, de tcx:las as disdplinas histó-
ricas, de tcx:las aquelas para as quais o fluxo constantemente progressivo da
cultura continuamente susdta novao problem
as. Na essênda de sua tarefa está
o caráter transitório de todas as construções típico-ideais, mas tam
bém o fato
de serem inevitáveis construções típico-ideais sem
pre novas. C
ontinuadamente se repetem
as tentativas para determinar o sentido "au-
têntico" e ''verdadeiro" da. conceitos histórica., sem jam
ais alcançarem o seu
flm. A
ssim, é norm
al que as sínteses com as quais a H
istória constantemente
trabalha não sejam m
ais do que conceito. determinados relativam
ente, ou logo que se exige para o conteúdo um
caráter unívoco, tipos ideais ab>tratos. Neste
último caso, o conceito revela um
ponto de vista teórico e, portanto, "unilateral", que, em
bora esclareça a realidade, demonstra ser im
próprio para se tomar um
esquem
a no qual essa realidade pudesse ser completam
ente incluída. Porque nenhum
destes sistemas de pensam
ento, que são imprescindíveis para a com
-preensão da. elem
entos significativa. da realidade, pode esgotar a sua infinita riqueza. Todos não passam
de tentativas para conferir urna ordem ao caa. dos
fatos que incluímos no âm
bito do nosso interesse, e que são realizadas com
base no estado atual dos nossos conhedmenta. e nas estruturas conceituais de
que dispomo.. O
aparelho intelectual que se desenvolveu no passado, mediante
uma elaboração reflexiva ou, a rigor, um
a transformação reflexiva da realidade
imediatam
ente dada, e ainda através da sua integração nos conceitos que cor-respondiam
ao estado do conhedmento e à orientação assum
ida pelos interes-ses, encontra-se em
contínuo confronto com tudo o que podem
os e queremos
adquirir quanto ao conhedmento novo da realidade. É nessa luta que se realiza
o progresso do trabalho dentíftco no domínio cultural. O
seu resultado é um
constante processo de transformação da. conceitos através dos quais tentam
os apreender a realidade. Por conseguinte, a história das dêndas da vida social é, e continuará a ser, um
a alternânda constante entre a tentativa de ordenar
148
i I
teoricamente os fatos m
ediante uma construção de conceito. e a decom
posição dos quadros m
entais assim obtidos, devido a um
a ampliação e a um
desloca-m
ento do horizonte dentíftco, e à construção de novao conceitos sobre a base assim
modificada. N
isto, de modo nenhum
, se expressa um caráter errôneo da
intenção de criar sistemas conceituais, pois qualquer dênda -
mesm
o a sim-
ples história descritiva -trabalha o repertório conceitual de sua época. A
ntes, aqui se exprim
e o fato de que, nas dêndas da cultura humana, a construção
de conceitos depende do modo de propor ao problem
as, e de que este último
varia de acordo com o conteúdo da cultura. A
relação entre o conceito e o concebido com
porta, nas dêndas da cultura, o caráter transitório de qualquer dessas sínteses. N
o campo da na.sa dênda, grandes tentativas de construções
conceituais deveram o seu valor exatam
ente ao fato de pôr a descoberto os lim
ites da significação, do ponto de vista que lhes servia de alicerce. Os m
aiores progressos no cam
po das dêndas sociais estão ligados sub>tandalmente aos
deslocamentos dos problem
as da cj.vilização e assumem
a forma de um
crítica da construção dos conceitos. U
rna das prindpais tarefas da na.sa revista con-sistirá, pois, em
servir às finalidades da dtada crítica e, por conseguinte, ao exam
e da. prinápios da síntese no campo das dêndas sociais.
Se deduzirmos as conseqüêndas do que foi dito, chegarem
os a um ponto
em que as na.sas opiniões talvez se diferendem
, num ou noutro aspecto, das
opiniões de muitos representantes em
inentes da escola histórica a que também
pertencem
o.. Pois estes últimos persistem
, quer de forma expressa, quer im
pli-dtam
ente, na opinião de que a finalidade e o alvo último de qualquer dênda
consistem em
ordenar toda a sua matéria de estudo num
sistema de conceito.,
cujo conteúdo deveria ser estabeleddo e progressivamente aperfeiçoado m
e-diante a observação de regularidades em
píricas, construção de hipóteses e ve-rificação das m
esmas, até que um
dia daí nascesse uma dênda "perfeita" e,
conseqüentemente, dedutiva. Para isso, o trabalho histórico e indutivo contem
-porâneo consistiria apenas num
a tarefa preliminar, condidonada pela im
perfei-ção da nossa disdplina. Segundo o ponto de vista desta concepção, nada, pois, poderia existir de m
ais grave do que a construção e a aplicação de conceitos rigorosos que pudessem
vir a antedpar de forma prem
atura essa meta, a ser
atingida apenas num futuro long!nquo. Esta concepção seria, em
prinápio, in-contestável no cam
po da teoria do conhedmento antigo e escolástico, que per-
dura, profundamente viva, na m
assa dos espedalistas da escola histórica, cujo pressuposto é que os conceitos são cópias representativas da realidade "obje-tiva". Por causa disto, há urna constante alusão à irrealidade de todos os con-ceito. rigora.os. Para aquele que desenvolve, levando às últim
as conseqüêndas, a idéia fundam
ental da moderna teoria do conhedm
ento -baseada em
Kant,
segundo a qual os conceitos são e só podem ser m
eios intelectuais para o do-m
ínio espiritual do. empiricam
ente dado -o fato de os conceito. genéticos
rigorosos serem tipos ideais não constitui razão para se opor à sua construção.
Para ele, dever-se-ia inverter a relação entre conceito e trabalho historiográfico: m
eta final adma dtada
logicamente im
possível, e os conceito. não constituem
meta, m
as meios para o conhedm
ento das relações significativas,
149
de pontos de vista individuais. Precisamente porque o conteúdo da> conceitos
histórica> é variável, é preciso formulá-la> de cada vez com
maior predsão.
Ele exigirá apenas que, ao utilizar tais conceita>, se mantenha cuidadrnam
ente o seu caráter de tipo ideal e que não se confunda o tipo ideal e a H
istória. D
ado que, devido à inevitável variação das idéias de valor básicas, não há con-ceita> histórica> verdadeiram
ente definitivos, passíveis de ser considerada> m
o fim últim
o geral, ele admitirá que, predsam
ente por se formarem
conceitos rigora>as e unívoca> para o ponto de vista singular que orienta o trabalho, será prnsível dar-se conta claram
ente da> limites da sua validade.
Não deixarem
a> de dar a entender, e, aliás, já o admitim
os, que, num caso
particular, é possível que o desenvolvimento de urna relação histórica concreta
pa>Sa ser exposto com clareza sem
reladoná-lo constantemente com
conceitos definidos. E, conseqüentem
ente, poder-se-á reivindicar para o historiador da nossa disdplina o m
esmo direito concedido ao historiador político, isto é, "falar
a linguagem da vida". D
ecerto. Mas, quanto a isso, cabe dizer que é neste
cedimento, em
grande escala addental, que o ponto de vista, a partir do qual o evento tratado ganha significação, torna-se claram
ente consdente. Em regra
geral, não na> encontrama> na situação favorável do historiador político, para
quem a> conteúda> culturais a que sua descrição se refere são norm
almente
unívocos, ou, pelo mena>, parecem
sê-lo. Qualquer descrição m
eramente in-
tuitiva faz-se acompanhar do fenôm
eno particular da importânda assum
ida pelo enundado estético: "cada um
sabe o que tem no coração". O
s juízos válidos pressupõem
sempre, pelo contrário, a elaboração lógica do intuitivo, isto é, a
utilização de conceitos. E embora se torne pa>Sível, e m
uitas vezes agradável, do ponto de vista estético, conservá-los in petto, há no entanto o perigo de se com
prometer a segurança da orientação do leitor e, freqüentem
ente, do próprio escritor, quanto ao conteúdo e ao alcance da> seus juíza>.
Porém a om
issão da construção de conceita> rigorosos pode ser extrema-
mente perigosa, no caso das discussões práticas de política econôm
ica e sodal. A
ssim, um
leigo não pode imaginar a confusão que susdta, por exem
plo, o em
prego do termo ''valor", torm
ento da economia política, ao qual apenas se
pode conferir um sentido unívoco através do tipo ideal; ou, então, a confusão
susdtada por expressões como "produtivo", "o ponto de vista econôm
ico" etc., que não resistem
a urna análise conceitualmente clara. São sobretudo os con-
ceitos coletivos, tornados à linguagem cotidiana, que provocam
mais danos.
me-se, pois, a título de exem
plo, o conceito de "agricultura", tal como aparece
na expressão "interesses agrários". Considerem
os, em prim
eiro lugar, estes "in-teresses agrários" com
o representações subjetivas mais ou m
enos claras e veri-ficáveis em
piricamente, que a> diferentes agentes econôm
icos individuais têm
dos seus interesses, sem levar em
consideração os inúmeros conflitos de inte-
resses da> agricultores, quer se dediquem à criação de anim
ais, quer à engorda do gado, quer à cultura do trigo, ou à sua transform
ação em forragem
ou à sua destilação. Q
.lalquer espedalista, e talvez até mesm
o a> leigos, conhecem
o monum
ental entrelaçamento de relações de valor opostas e contraditórias que
a dtada expressão pode representar. Q.lerem
a> apenas expor alguns: os inte-
150
resses dos agricultores que desejam vender as suas terras, pelo que apenas lhes
interessa urna rápida elevação do preço do terrenos; o interesse diametralm
ente oposto daqueles que querem
comprar terras, aum
entá-las, ou tomá-las por ar-
rendamento; o interesse dos que estão em
penhados em conservar um
a priedade para cbt:er vantagens sodais para os seus descendentes, pela> que estão interessados num
a estabilização da propriedade; o interesse contrário desses ou-tros que, com
vistas a si própria>, ou a seus filhos, desejam urna redistribuição
das terras, em benefído do que m
elhor as explora ou -o que não é o m
esmo
-do com
prador com m
ais capital; o interesse puramente econôm
ico que o "explorador m
ais eficaz", no sentido da economia privada, encontra na liber-
dade econômica da troca de propriedades; o interesse oposto de certas cam
adas dom
inantes da sodedade em conservar a prnição soda! política tradicional do
seu "testamento" e da> seus descendentes; o interesse soda! das cam
adas sodais não dom
inantes pela supressão dessas camadas elevadas, que, para elas, signi-
ficam urna opressão; o interesse, por vezes oposto, que se tem
de considerar, de dirigentes políticos das cam
adaS superiores capazes de proteger a> interesses das classes inferiores. Poderíam
os prolongar indefinidamente a lista, em
bora tenham
a> procedido de modo m
uito impredso e sum
ário. Outrossim
, passare-m
a> por alto os interesses "egoístas" que, ocasionalmente, se m
isturam com
os m
ais diversos valores puramente ideais, pode desviá-los ou reprim
i-los. Recor-dam
os ainda que, sempre que falam
os dos "interesses agrários", via de regra, pensam
rn não só nesses valores materiais e ideais a que os agricultores referem
os seus "interesses", m
as também
nas idéias de valor, em parte totalm
ente he-terogêneas, às quais nós própria> referim
os a agricultura. Assim
, por exemplo,
a> interesses da produção, que tanto decorrem do interesse em
proporcionar à população produta> baratos, com
o do interesse, nem sem
pre coinddente, em
lhe fornecer produta> de qualidade. Neste ponto, os interesses w
banos podem
apresentar as mais variadas divergêndas em
relação aos interesses agrários, as-sim
como a> interesses presentes podem
colidir com os interesses prováveis
das gerações vindouras. Há ainda os interesses dem
ográfica>, como o de um
país em
pa>Suir urna população rural numerrna, quer derive dos "interesses do
Estado", por razões de política interna ou externa, quer de outros interesses ideais m
uito diferentes, como, por exem
plo, o que se espera da influênda de urna num
errna população rural sobre as peculiaridades culturais de um país.
Esse interesse demográfico pode, por sua vez, colidir com
os mais variados in-
teresses da economia privada de toda> os setores da população rural de um
país, e, talvez m
esmo, com
todos os interesses presentes da população em
co. Podemos considerar ainda o interesse por determ
inado tipo de estrutura soda! da população rural, devido à natureza das influêndas políticas ou cultu-rais que daí derivam
Este último é capaz de colidir, segundo a sua ótica, com
todos os interesses im
agináveis, presentes e futuros, tanto dos agricultores como
do Estado. Mas o que vem
complicar m
ais a questão é que o "Estado", a cujo "interesse" referim
os com tanta fadlidade os interesses particulares deste tipo,
é, para nós, apenas urna expressão que envolve um enredam
ento ob;curo de idéias de valor, às quais o reportam
a> nos casos particulares. Tais idéias de valor
151
podem ser: a pura segurança m
ilitar, com relação ao exterior; a m
anutenção do predom
ínio de uma dinastia ou de determ
inadas classes, internamente; o
interesse pela manutenção e o fortaledm
ento da unidade formal do Estado,
quer por ele próprio, quer para conservar determinadas valores culturais obje-
tivas e diferendadas entre si, que nós acreditamos devem
os defender em nossa
qualidade de povo unificado no seio de um Estado; ou a transform
ação do caráter soda! do Estado, no sentido de determ
inadas ideais culturais, por sua vez m
uito variadas. Enfim, m
esmo a m
era enumeração de tudo quanto está
envolvido na expressão "interesses do Estado", a que podemos referir a agri-
cultura, nas levaria demasiado longe. Tanto o exem
plo escolhido, como a nossa
análise sumária, são tascas e sim
ples. Por isso, convido o leigo a analisar de m
odo semelhante (e com
mais profundidade) o conceito de "interesses da clas-
se operária", para que veja, por si próprio, que emaranhado contraditório essa
expressão encerra, compondo-se de interesses e ideais da classe operária, tanto
quanto de interesses a partir das quais nós próprias consideramos as trabalha-
dores. Torna-se impossível superar os slogans susdtadas pela luta de interesses
mediante um
a acentuação puramente em
pírica do seu caráter "relativo". O único
caminho que nas perm
ite superar a vacuidade retórica é o da determinação
clara, rigorosa e conceitual dos diferentes pontos de vista possíveis. O argu-
mento da "livre-troca" com
o concepção do mundo, ou com
o norma em
pirica-m
ente válida, é ridículo. Contudo, seja qual for a natureza das ideais que cada
indivíduo se propõe defender, o fato de haver subestimado o valor heurístico
da velha sabedoria das maiores com
erdantes do mundo, expressas nessas fór-
mulas típico-ideais, causou grandes prejuízos aos nossas estudas sobre a política
comercial. Só m
ediante fórmulas conceituais típico-ideais é que se chega a com
-preender realm
ente a natureza particular das pontas de vista que interessam
no caso particular, graças a um confronto entre o em
pírico e o tipo ideal. A
utilização de conceitos coletivas não diferenciadas, com os quais trabalha a lin-
guagem cotidiana, m
uitas vezes é um instrum
ento de perigosas ilusões, e sem-
pre é um m
eio de inibir o desenvolvimento do enunciado correto das problem
as. C
hegamos ao final da nossa discussão, que teve com
o único propósito des-tacar a linha quase im
perceptível que separa a ciência da crença, e pôr a des-coberto o sentido do esforço do conhecim
ento sódo-econômico. A
validade ob-jetiva de todo saber em
pírico baseia-se única e exclusivamente na ordenação
da realidade dada segundo categorias que são subjetivas, no sentido especifico de representarem
o pressuposto do nosso conhecimento e de associarem
, ao pressuposto de que é valiosa, aquela verdade que só o conhecim
ento empírico
nos pode propordonar. Com
as meias da nossa dênda, nada poderem
os ofe-recer àquele que considere que essa verdade não tem
valor, visto que a crença no valor da verdade dentífica é produto de determ
inadas culturas, e não um
dado da natureza. Mas o certo é que buscará em
vão outra verdade que subs-titua a dênda naquilo que som
ente ela pode fornecer, isto é, nas conceitos e juízas que não constituem
a realidade empírica, nem
a podem reproduzir, m
as que perm
item ordená-la de m
odo válido por meio do pensam
ento. Já vimos
que, no campo das dêndas sociais em
píricas da cultura, a possibilidade de um
152
conhecimento dotado de sentido daquilo que, para nós, é essendal na infinita
riqueza do devir, liga-se à utilização ininterrupta de pontas de vista de caráter espedficam
ente particular que, em últim
a instânda, são orientadas por idéias de valor. Estas, por sua vez, podem
ser comprovadas e vividas em
piricamente
como elem
entos de qualquer ação humana significativa, m
as o fundamento da
sua validade não deriva da própria matéria em
pírica. A "objetividade" do co-
nhecimento no cam
po das dêndas sociais depende antes do fato de o empi-
ricamente dado estar constantem
ente orientado por idéias de valor, que são as únicas e conferir-lhe valor de conhedm
ento; e ainda que a significação desta objetividade apenas se com
preenda a partir de tais idéias de valor, não se trata de converter isso no pedestal de um
a prova empiricam
ente impassível da sua
validade. E a crença -que todas nós alim
entamos de um
a forma ou de outra
-na validade supra-em
pírica de idéias de valor últimas e suprem
as, em que
fundamentam
os o sentido da nossa existênda não exclui m
as pelo contrário '
' '
inclui a variabilidade incessante das pontas de vista concretas, a partir dos quais a realidade em
pírica adquire signifieado. A realidade irradonal da vida e o seu
conteúdo de passíveis significações são inesgotáveis, e a configuração concreta das relações valorativas m
antém-se flutuante, subm
etida às variações do futuro obscuro da cultura hum
ana; a luz propagada por essas idéias supremas de valor
ilumina, de cada vez, um
a parte finita e continuamente m
odificada do curso caótico de eventos que fluem
através do tempo.
É predso não darmos a tudo isso um
a falsa interpretação no sentido de considerarm
os que a autêntica tarefa das dêndas sociais consiste numa perpé-
tua caça a novas pontas de vista e construções conceituais. Pelo contrário, con-vém
insistir mais do que nunca no seguinte: servir o conhedm
ento da signifi-cação cultural de com
plexas históricas e concretos constitui o fim últim
o e ex-clusivo ao qual, juntam
ente com outras m
eias, é dedicado também
o trabalho da construção e crítica de conceitos. U
tilizando as termas de Friedrich Theodor
Vischer, concluirem
os que, em nossa disdplina, tam
bém existem
dentistas que "cultivam
a matéria" e outros que "cultivam
o espírito". O apetite das prim
eiras, ávidas de fatos, apenas se sada com
grandes volumes de docum
entas, com
tabelas estatísticas e sondagens, mas revela-se insensível aos delicadas m
anjares da idéia nova. O
requinte gustativo das segundas chega a perder o sabor dos fatos através de constantes destilações de novas pensam
entos. O virtuosism
o legítim
o que, entre as historiadores, Ranke possuía em
tão elevado grau, cos-tum
a manifestar-se predsam
ente pelo poder de criar algo de novo através da referênda de certas fatos conheddas a determ
inadas pontas de vista, igualmen-
te conheddas. N
uma época de espedalização, qualquer trabalho nas dêndas da cultura,
depois de ter se orientado para determinada m
atéria através do seu modo de-
terminado de apresentar os problem
as, e uma vez adquiridas as seus prindpios
metodológicos, verá na elaboração dessa m
atéria um fim
em si próprio, sem
controlar continuam
ente e de forma consdente o valor cognitivo das fatos iso-
ladas, para referênda sua às idéias de valor e mesm
o sem tom
ar consdênda da sua ligação com
essas idéias de valor. E é bom que assim
seja. Mas um
dia
153
0 significado das pontos de vista adotadas irrefletidamente se tom
a e
0 caminho se perde no crepúsculo. A
luz das grandes problemas culturais des-
loca-se para mais além
Então, a dênda também
muda o seu cenário e o seu
aparelho conceitual e fita o fluxo do devir das alturas do pensamento. Segue
a rota dos astros que unicamente podem
dar sentido e rumo ao seu trabalho:
"( ... ) desperta o novo impulso;
lanço-me para sorver sua luz eterna;
diante de mim
o dia, atrás a noite, A
dma de m
im o céu, abaixo as ondas." (Fausto, de G
oethe)
154
III. ESTIJDO
S CRÍTICOS SO
BRE A LÓ
GICA
DAS O
ÊN
OA
S DA
CULTU
RA (1906)
I. A polêm
ica com Eduard .M
eyer -li. Possibilidade objetiva e causação adequada na C
onsideração causal de H
istória.
I. A PO
LÊMICA
CO
M ED
UA
RD
O M
EYER
O fato de que um
dos nossas mais renom
ados historiadores se vê na obri-gação de prestar contas a si m
esmo e aos seus colegas sobre os fins e os m
eios do seu trabalho deve, indiscutivelm
ente, despertar interesse fora do âmbito do
círculo dos especialistas, pois ele, com este procedim
ento, ultrapassa os limites
da sua disdplina específica para entrar no campo de consideração epistem
oló-gica. N
um prim
eiro mom
ento, certamente, pode parecer que este procedim
ento tem
conseqüências negativas. Um
a abordagem realm
ente segura das categorias da lógica que, no estado atual do seu desenvolvim
ento, se apresenta como um
a disdplina tão especializada com
o qualquer outra, requer sem dúvida um
exer-cido cotidiano com
o, aliás, também
é o caso de qualquer outra disdplina cien-tífica. E, a nosso ver, é óbvio que Eduard M
eyer, a cujo livro Zur 1heorie und M
ethodik der Geschichte (Sobre teoria e m
etodologia da História) nós nos re-
ferimos, nem
pode, nem deseja reclam
ar para si tal exercido cotidiano e fami-
liarização com os problem
as da lógica, tampouco com
o o autor deste ensaio. Eu diria que as observações de crítica do conhecim
ento que se encontram na-
quela obra, por assim dizer, representam
um relatório clínico elaborado pelo
próprio padente e não elaborado pelo médico, devendo ser entendidas e va-
lorizadas dentro deste panorama. M
uitas das observações de Eduard Meyer cer-
tamente escandalizam
os especialistas em lógica e em
teoria do conhecimento,
e muito desses especialistas acreditaria não ter encontrado, essencialm
ente, nada de novo que pudesse ser relevante para os seus interesses epistem
ológicos. Po-rém
este fato em nada dim
inui a importância da obra de M
eyer, sobretudo no
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