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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA LUANNA SILVA BRAGA
CUIDANDO DO CUIDADOR: história oral de profissionais de saúde
JOÃO PESSOA – PB
2015
LUANNA SILVA BRAGA
CUIDANDO DO CUIDADOR: história oral de profissionais de saúde
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Enfermagem, área de concentração: Cuidado em Enfermagem e Saúde. Linha de pesquisa: Políticas e Práticas do Cuidar em Enfermagem e Saúde Projeto de pesquisa vinculado: Práticas de Cuidado na rede formal e informal de saúde.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Djair Dias
JOÃO PESSOA - PB 2015
B813c Braga, Luanna Silva.
Cuidando do cuidador: história oral de profissionais de saúde /
Luanna Silva Braga.- João Pessoa, 2015.
141f.
Orientadora: Maria Djair Dias
Dissertação (Mestrado) - UFPB/CCS
1. Enfermagem. 2. Cuidados em enfermagem. 3. Promoção da
saúde - cuidadores. 4. Práticas de saúde - cuidadores.
5.Profissionais da saúde - desgaste ocupacional.
UFPB/BC CDU: 616-083(043)
LUANNA SILVA BRAGA
CUIDANDO DO CUIDADOR: história oral de profissionais de saúde
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Enfermagem, área de concentração: Cuidado em Enfermagem e Saúde.
Aprovada em 05 de fevereiro de 2015
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Profª. Drª. Maria Djair Dias - Orientadora Universidade Federal da Paraíba - UFPB
___________________________________________________ Profª. Drª. Maria de Oliveira Ferreira Filha - Examinadora
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
___________________________________________________ Prof. Drª. Maria de Fátima de Araújo Silveira - Examinadora
Universidade Estadual da Paraíba – UEPB
___________________________________________________ Profª. Drª Jaqueline Brito Vidal Batista - Suplente
Universidade Federal da Paraíba - UFPB
___________________________________________________ Profª. Drª.Fábia Barbosa de Andrade – Suplente
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais João da Mata e
Maria do Céu, amores de minha vida e
razões do meu viver. Este singelo
trabalho é dedicado a vocês, por
sempre acreditarem em mim e
entenderem o motivo de minhas
ausências. A vocês, devo tudo o que
sou hoje.
Amo muito vocês, obrigada!
AGRADECIMENTOS
A Deus, o meu amparo e refúgio, agradeço-te pelo dom da vida, pelas graças
concedidas e pelos momentos em que dispersou a angústia e ansiedade do
meu peito. Sou imensamente grata por segurar-me nos teus braços diante das
inúmeras tribulações em minha vida.
À Nossa Senhora, minha mãe e rainha, a quem dedico minha admiração e
devoção.
Aos meus pais, João da Mata e Maria do Céu por todo o amor, dedicação,
ensinamentos e renúncias. Tenho orgulho de ser filha de vocês.
Ao meu esposo Luann, por estar sempre ao meu lado, por me abraçar e dar
consolo nas horas difíceis.
À minha irmã Pricilla, bem como aos meus cunhados, pelo o companheirismo
e apoio.
Aos meus sogros Marinaldo e Christina, pelas palavras de motivação e apoio.
À minha orientadora Maria Djair Dias, pelas oportunidades que me concedeu,
por ter acreditado no meu potencial e me agraciado com preciosos
conhecimentos e orientações. Sou grata também por suas palavras de conforto
e por sua compreensão diante de momentos difíceis para mim.
À professora Maria de Oliveira Ferreira Filha, por suas sábias e
tranquilizadoras palavras, além de sua brilhante contribuição e pelo
aprendizado nesses anos de convivência.
À professora Fátima Silveira, pela disponibilidade e preciosas contribuições.
Aos colaboradores da pesquisa, pela coragem e disposição a participar deste
estudo.
A Universidade Federal da Paraíba, por ser o palco principal da minha
formação profissional como Enfermeira e agora Mestre.
Ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
(PPGENF), por proporcionarem uma valiosa troca de conhecimentos e
experiências.
Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem,
especialmente Seu Ivan e Natali, pela paciência, apoio e amizade.
À minha turma de Mestrado, por compartilharem as alegrias e angústias do
curso, somando forças para a conclusão de cada etapa.
Às amigas do grupo de pesquisa, pela motivação, apoio e parceria. Sem a
ajuda de vocês, eu não teria chegado até aqui.
À Camila Abrantes, companheira de estudos desde a graduação, agradeço
imensamente por ter tido o privilégio de te ter como parceira de pesquisa.
Juntas, nos ajudamos, nos demos força e alcançamos mais uma vitória em
nossas vidas.
Aos estudantes do estágio de docência, pela compreensão e apoio, uma vez
que estava vivenciando pela primeira vez a arte de ensinar.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), pelo apoio financeiro durante a realização desse estudo.
Às minhas grandes amigas Wilkerly, Danielma, Carolinne, e em especial,
Angeline e Hânycka, que me acalmaram e ajudaram no momento em que
mais precisei, acreditaram em mim quando nem eu mesma acreditava. Vocês
fazem parte deste trabalho.
Aos meus alunos, que me forçaram a crescer pessoal e profissionalmente.
Às colegas de trabalho, que me deram força e conselhos, me ajudando a
iniciar esse complexo processo de criação.
A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a concretização deste
estudo.
Meu sincero agradecimento!
SERES EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO
Dentro de cada um, existe um anjo. Anjo que consola compreende e apóia,
fortalece e ampara, trazendo luz e amor a mim, a ti e a nós.
Dentro de cada um, existe o feroz. Feroz que se lança, que briga, que luta.
Que destemidamente enfrenta, supera e transforma as garras que a vida
manda.
Dentro de cada um, existe a lágrima que corre silenciosa pelos rios de nossa
alma, percorrendo nossos lamentos, apaziguando nossos anseios, silenciando
nossas dores e nossos vazios. Vazios que se reflete o deserto de nosso
interior, ensolarado por saudade e carências. Num cenário que contrasta com o
nosso oásis abundante de positividade e acertos.
Dentro de cada um, existe o sol que faz brilhar e acender nossos sonhos,
desejos e quimeras, trazendo a inquieta insatisfação que nos conduz à
travessia apaixonante de busca e exploração do nosso ser.
Dentro de cada um, existe o silêncio. Silêncio da dor aguda que nos cala,
fazendo esparramar nossas esperanças. E nos anoitecendo para a vida.
Dentro de cada um, também existe o ruído. Ruído do grito, do clamor que
explode na garganta do nosso sol interior, não nos deixando aquietar nem
acomodar.
Dentro de cada um, existe o sim e o não. Existe o contraste das emoções. O
positivo e o negativo das nossas ações e o conflito de opções.
E, nesse misto de ondulações, do vai e do vem desse carrossel de
emoções, vamos saltitando, escapando e também enfrentando verdades,
mentiras e omissões, retratando nosso ser em constante transformação.
(Lúcia Helena Amaral)
BRAGA, Luanna Silva. Cuidando do Cuidador: história oral de profissionais de saúde. 2015. 141f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
RESUMO
Introdução: O cuidar faz parte das necessidades básicas para a sobrevivência da vida humana, sendo frequente na maneira do homem agir e se relacionar. Porém, rotineiramente, cuidar do outro ocasiona inúmeras e complexas condições de desgaste físico e psíquico, portanto é imprescindível que o cuidador, seja ele profissional de saúde ou não, possa reservar um tempo para cuidar de si. Foi nessa perspectiva que surgiu o curso de formação de multiplicadores em oficinas - “Cuidando do cuidador”/Resgate da autoestima, que foi criado com o intuito de possibilitar um espaço de cuidado ao profissional de saúde. Objetivo: Conhecer as experiências dos profissionais de saúde em cuidar de si após a participação em um curso de formação de multiplicadores em oficinas - “Cuidando do cuidador”/Resgate da autoestima; elencar as principais mudanças ocorridas nas dimensões pessoal e profissional desses profissionais, após sua participação no curso; e identificar as possibilidades de cuidados utilizados pelos profissionais de saúde ao buscar outras práticas de cuidado. Método: Estudo qualitativo, de natureza compreensivo-interpretativo, norteado pelos pressupostos da História Oral Temática. Foi realizado no município de João Pessoa – PB, com os profissionais da rede de saúde que participaram do referido curso. Obteve-se o material empírico por meio de entrevistas gravadas com oito colaboradoras, sendo esse material analisado com base na análise de conteúdo temática proposta por Minayo. Resultados: Após a identificação dos tons vitais e dos temas presentes nos depoimentos, emergiram dois eixos temáticos: I - Participando do curso de formação de multiplicadores em oficinas – “Cuidando do Cuidador”/resgate da autoestima: um despertar para o cuidar de si na dimensão pessoal e profissional; e II - Profissionais da saúde: descobrindo possibilidades e práticas de cuidado. A partir dos relatos das colaboradoras, constatou-se que a participação nesse curso trouxe efeitos positivos nos relacionamentos interpessoais, oportunidades de auto-reflexão, de autoconhecimento e de redescoberta de si; além disso, elas perceberam que não representavam a solução dos problemas dos outros e absorvê-los lhes fazia mal. Houve também uma melhora dos sintomas relacionados ao desgaste ocupacional, como estresse, ansiedade e exaustão extrema. Dentre as práticas de cuidado realizadas, foram citadas principalmente as não alopáticas, que atendem às necessidades humanas de forma integral, como acupuntura, tai-chi-chuan, ioga, reiki, biodança, danças circulares, massagem ayurvédica, além da prática de esportes, caminhada e outras. Conclusão: De modo geral, observou-se que o curso transformou de maneira significativa a maneira como as colaboradoras percebiam e realizavam o cuidado de si, além de despertar nelas o desejo de procurar novas práticas de cuidado. Dessa forma, conclui-se que o curso está em consonância com os princípios do SUS, uma vez que seu foco baseia-se na promoção à saúde e prevenção de agravos. Palavras-chave: Cuidado. Promoção da Saúde. Trabalho. Profissionais da Saúde.
BRAGA, Luanna Silva. Caring for the Caregiver: Oral history of health professionals. 2015. 141f. Dissertation (Master of Science in Nursing) - Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
ABSTRACT Introduction: The caring is part of basic needs for the survival of human life, and is often in the way of the man act and relate. However, routinely, caring for the other causes numerous and complex conditions of physical wear and psychic, therefore it is imperative that the caregiver, be it health professional or not, you can book a time to take care of themselves. It was from this perspective that emerged the training course for multipliers in workshops - "Caring for the caregiver" /ransom of self-esteem, which was created in order to provide a space for the care and health professional. Objective: To know the experiences of health care professionals in caring for themselves after their participation in a training course for multipliers in workshops - "Caring for the caregiver" /ransom of self-esteem; enumerating the main changes in personal and professional dimensions of these professionals, after their participation in the course; and identify the possibilities of care used by health professionals to seek other care practices. Method: Qualitative study of nature-comprehensive interpretative guided by assumptions of Thematic Oral History. It was performed in the city of Joao Pessoa - PB, with the public health professionals who participated in the course. We obtained the empirical material through recorded interviews with eight collaborators, and this material has been analyzed on the basis of thematic content analysis proposed by Minayo. Results: After the identification of vital tones and themes present in the testimonies, emerged two thematic axs: I - participating in the training course for multipliers in workshops - "Caring for the Caregiver" /ransom of self-esteem: a wake-up call for the pamper yourself in personal dimension and professional; and II - health professionals: discovering opportunities and care practices. From the reports of the collaborators, it was noted that the participation in this course brought positive effects in interpersonal relationships, opportunities for self-reflection, self-knowledge and the rediscovery of the self; in addition, they realized that they were not the solution to the problems of others and absorbs them made them evil. There was also an improvement of the symptoms related to occupational wear, such as stress, anxiety and extreme exhaustion. Among the practices of care performed, were cited especially the not allopathy, that meet human needs in an integrated way, as acupuncture, tai-chi-chuan, yoga, reiki, biodance, circular dances, Ayurvedic massage, in addition to the practice of sports, walking and other. Conclusion: In general, it was observed that the course has changed significantly the way in which the collaborators perceived and practiced self-care, in addition to awaken in them the desire to seek new practices of care. Thus, it is concluded that the course is in line with the principles of the SUS, since its focus is based on health promotion and disease prevention. Keywords: Care. Health Promotion. Work. Health Professionals.
BRAGA, Luanna Silva. Cuidando al Cuidador: Historia oral de los profesionales de la salud. 2015. 140f. Tesis (Master em ciencias de enfermería) - Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015.
RESUMEN Introducción: El cuidado se parte de las necesidades básicas para la supervivencia de la vida humana, y a menudo se encuentra em el caminho del hombre y se refieren a ley. Sin embargo, periódicamente, el cuidado para el resto de causas múltiples y complejas condiciones de desgaste físico y psíquico, por lo tanto es imprescindible que el personal sanitario, ya sea profesional de la salud o no, se puede reservar um tiempo para cuidar de sí mismos. Es desde esta perspectiva que surgió el curso de formación de multiplicadores em los talleres, "Cuidando al cuidador" /rescate de la autoestima, el cual fue creado com el fin de oferecer um espacio para el cuidado y profesional de la salud. Objetivo: Conocer la experiencia de los profesionales de la salud em el cuidado de sí mismos después de su participación em un curso de formación de multiplicadores em los talleres, "Cuidando a los cuidadores" /rescate de la autoestima; enumerando los principales câmbios em las dimensiones personales y profesionales de estos profesionales, después de su participación em el curso; e identificar las posibilidades de atención utilizados por los profesionales de la salud a buscar otras prácticas de atención. Método: Estudio cualitativo de la naturaleza interpretativa completa guía temática de hipótesis de Historia Oral. Fue realizado em la ciudad de Joao Pessoa - PB, com los profesionales de salud pública que participaron em el curso. Hemos obtenido el material empírico mediante entrevistas grabadas conocho colaboradores, y este material ha sido analizada sobre la base de análisis de contenido temático propuesto por Minayo. Resultados: Después de la identificación de tonos vitales y temas presentes em los testimonios, surgieron dos ejes temáticos: I - participantes em el curso de formación de multiplicadores em los talleres, "Cuidando a los cuidadores" /rescate de la autoestima: una llamada de atención para mimar se em la dimensión personal y profesional; y II – los profesionales de la salud: descubrirlas oportunidades y las prácticas de cuidado. De los informes de los colaboradores, se observó que la participación en este curso trajo efectos positivos em las relaciones interpersonales, oportunidades para la auto-reflexión, conocimiento de sí mismo y el redescubrimiento de la legítima; además, se dieron cuenta de que no eran la solución a los problemas de los demás y les absorbe les hizo mal. También se registró una mejora de los síntomas relacionados com el desgaste profesional, tales como el estrés, la ansiedad y agotamiento extremo. Entre las prácticas de atención realizadas, se mencionaron especialmente el no la alopatía, que satisfacer las necesidades humanas de manera integrada, como la acupuntura, el tai-chi-chuan, yoga, reiki, biodança, danzas circulares, massajes ayurvédicos, además de la práctica de deportes acuáticos, caminatas y otros. Conclusión: En general, se observó que el curso ha cambiado de manera considerable la forma en que los colaboradores y practica el auto-cuidado, además de despertar em ellos el deseo de buscar nuevas prácticas de atención. Por lo tanto, se concluye que el
curso es en línea com los princípios del SUS, desde su enfoque está basado em la promoción de la salud y la prevención de las enfermedades. Palabras clave: Cuidado. Promoción de la Salud. Trabajo. Los profesionales de la Salud.
LISTA DE SIGLAS
ACS: Agente Comunitário de Saúde
AB: Atenção Básica
APS: Atenção Primária à Saúde
CAAE: Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CAIS: Centros de Atenção Integral à Saúde
CAISI: Centro de Atenção Integral à Saúde do Idoso
CAPS: Centro de Atenção Psicossocial
CCS: Centro de Ciências da Saúde
CEO: Centro de Especialidades Odontológicas
CEP: Comitê de Ética em Pesquisa
CEREST: Centro de Referência de Saúde do Trabalhador
CNS: Conselho Nacional de Saúde
CPICS: Centro de Práticas Integrativas e Complementares
CTA: Centro de Testagem e Aconselhamento
DS: Distritos Sanitários
ESF: Estratégia Saúde da Família
GEPSMEC: Grupo de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental Comunitária
HO: História Oral
HOT: História Oral Temática.
HOV: História Oral de Vida
PACS: Programa Agentes Comunitários de Saúde
PB: Paraíba
PIBIC: Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
PPGENF: Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
SAMU: Serviço de Atendimento Médico de Urgência
SMS: Secretaria Municipal de Saúde
SUS: Sistema Único de Saúde
TCI: Terapia Comunitária Integrativa
TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TO: Tradição Oral
UFPB: Universidade Federal da Paraíba
USF: Unidade de Saúde da Família
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 17
1.1 Contextualização da problemática e aproximação com o objeto de estudo ... 18
1.2 Objetivos ........................................................................................................ 25
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 26
2.1 O Cuidado humano e a formação do profissional de saúde ........................... 27
2.2 Autoestima e suas inter-relações ................................................................... 34
3 PERCURSO METODOLÓGICO ....................................................................... 38
4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL EMPÍRICO ................................................ 47
4.1 Glória .............................................................................................................. 48
4.2 Ana Suely ....................................................................................................... 50
4.3 Luciene ........................................................................................................... 55
4.4 Tattiana .......................................................................................................... 62
4.5 Giovana .......................................................................................................... 66
4.6 Lécia ............................................................................................................... 68
4.7 Karina ............................................................................................................. 71
4.8 Cristiane ......................................................................................................... 76
5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DO MATERIAL EMPÍRICO .................................... 79
5.1 Participando do curso de formação “cuidando do cuidador”: o despertar
para o cuidar de si na dimensão pessoal e profissional ....................................... 80
5.1.1 Cuidar de si na dimensão pessoal .............................................................. 80
5.1.2 Cuidar de si na dimensão profissional ......................................................... 94
5.2 Profissionais da saúde: descobrindo possibilidades e práticas de cuidado.... 103
6 REFLEXÕES FINAIS ........................................................................................ 116
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 120
APÊNDICES ........................................................................................................ 134
ANEXOS .............................................................................................................. 139
INTRODUÇÃO
18
1.1 Contextualização da problemática e aproximação com o objeto de
estudo
O cuidar é considerado uma necessidade básica e, portanto, é
imprescindível para que o ser humano possa coexistir de maneira saudável no
mundo. Para isso, é preciso que estejam presentes: o cuidar de si, o cuidar do
outro e o ser cuidado. Além disso, ele é indispensável para o desenvolvimento
humano uma vez que envolve à nossa sensibilidade para com o outro, a
compaixão pelas pessoas que sofrem, e a valorização da sensibilidade, da
cordialidade e da gentileza no lugar das coisas materiais(1).
O cuidado se manifesta na maneira do homem agir e se relacionar
socialmente com seus iguais. A prática, por conseguinte, é o próprio ato de
cuidar traduzido em ações. Portanto, as práticas de cuidado são ações
cuidativas multiplicadas por qualquer indivíduo/profissional que anseia
benefícios para com a saúde do próximo e, para tal, utiliza o conhecimento
científico e/ou popular de saúde(2).
Rotineiramente, cuidar do outro ocasiona inúmeras e complexas
condições de desgaste físico e psíquico, desse modo, é imprescindível que
haja, na relação de convivência, seja com o enfermo ou com a própria equipe
de trabalho, um feedback para que seja possível avaliar os efeitos positivos e
negativos dessa relação de troca com o intuito de entender o que precisa ser
melhorado e evitado durante as interações uns com os outros. Com isso, é
possível proporcionar bem-estar a todos os envolvidos. Além disso, estes
comportamentos podem ajudar na valorização e reconhecimento dos
cuidadores, permitindo que os mesmos sejam observados e valorizados por
sua responsabilidade e doação para com o próximo(3,4).
Assim como é importante cuidar do outro é, também, imprescindível que
o cuidador, seja ele profissional de saúde ou não, possa criar espaços de
cuidado para estabelecer consigo e com o próximo um tempo para cuidar de si,
uma vez que esta relação é dialética: à medida que se cuida do outro, há um
cuidado, também, de si mesmo.
No que diz respeito aos profissionais de saúde, tem-se observado que
estes constantemente deixam de cuidar de si devido ao modo de vida
19
acelerado, a jornada dupla de trabalho, além das obrigações com as atividades
fora do mundo do trabalho, porém ligadas a vida pessoal e familiar. Muitos
submetem-se a excessivas jornadas de trabalho, inúmeras vezes,
ultrapassando as 60 horas semanais, em prol da sobrevivência mais digna,
embora esta possa lhe causar danos físicos e psíquicos devido ao excesso de
trabalho(5).
Estas transformações na vida dos profissionais vêm ocorrendo em todo
o mundo desde o surgimento do capitalismo. O atual mundo globalizado tem
ocasionado profundas mudanças, principalmente no mundo do trabalho, que,
ao introduzir novas formas de gestão e tecnologias, sejam elas industriais ou
informatizadas, reorganizam toda a dinâmica produtiva, diminuindo os postos
de trabalho e aumentando a produção de serviços, provocando a expansão do
setor e a consequente sobrecarga do profissional(6).
A mecanização dos serviços ocasionou o aumento da taxa de
desemprego e de rotatividade de pessoal nos estabelecimentos de saúde,
dificultando as relações de trabalho uma vez que atrapalha a formação de
vínculos entre usuários, profissionais e equipes de trabalho, e impede a
identificação e o conhecimento da realidade de saúde da comunidade(7).
Voltando-se, especialmente, para a área da saúde, o que tem sido
observado nas instituições é que os gestores e responsáveis por tal local
utilizam-se de ferramentas para diminuir os custos, por meio da exploração dos
profissionais, com aumento gradativo da jornada de trabalho, redução da mão
de obra e desvalorização do profissional por meio dos baixos salários
oferecidos. Estes lidam, ainda, com o sofrimento do outro e com o risco de
contrair doenças, fazendo-lhes suportar um conjunto de angústias e
conflitos(8,9).
Desta maneira, atuar em serviços com tantas dificuldades, como as
citadas anteriormente, leva ao estresse psicológico do indivíduo, ao risco de
ansiedade, depressão e outras doenças psíquicas, bem como o desgaste físico
pelo qual passam estes profissionais, uma vez que suas respectivas jornadas
de trabalho são extensas, pesadas e, por vezes, noturnas. Este tipo de
adoecimento ocorre como consequência do contexto organizacional da
instituição em associação à situação interpessoal e as características da
personalidade de cada ser humano.
20
Pesquisas comprovam que as dificuldades de relações, pessoais ou
profissionais, e desafios enfrentados no trabalho ou com a família interferem na
saúde física e psíquica dos profissionais de saúde. É o que mostra um estudo
de revisão integrativa a respeito do absenteísmo por parte dos enfermeiros, tal
pesquisa aponta que as principais doenças responsáveis pelo não
comparecimento dos profissionais ao trabalho foram o adoecimento mental, a
doença osteomuscular e as doenças do aparelho respiratório. Estas foram
atribuídas ao fato deste precisar lidar diariamente com a angústia e sofrimento
dos pacientes, bem como quanto aos riscos ergonômicos e químicos aos quais
estão expostos(10).
Um estudo realizado com trabalhadores da Atenção Primária à Saúde de
Minas Gerais constatou que 41,6% dos entrevistados apresentavam indicação
positiva para esgotamento profissional(11). Em outra pesquisa, os profissionais
de uma equipe de pronto atendimento de São Paulo relataram sintomas físicos,
como cefaleia, taquicardia, sensação de fadiga e dores nas pernas, resultantes
de estresse emocional ou que surgiam após atendimentos de emergência(12).
Duas pesquisas realizadas no município de João Pessoa – PB
constataram o sofrimento vivenciado pelos profissionais da Estratégia Saúde
da Família (ESF). A primeira foi realizada com 145 profissionais, dos quais 49
se encontravam com risco para ansiedade e depressão(13). A segunda mostrou
que 104 dos 170 profissionais entrevistados estavam apresentando a Síndrome
de Burnout, doença definida como um estresse crônico relacionado ao trabalho
que ocasiona o baixo rendimento das pessoas na execução de seus afazeres e
interferindo, ainda, em suas vidas pessoais(5).
Portanto, avaliar e acompanhar a saúde destes profissionais torna-se de
extrema importância, assim como, cuidar deles na tentativa de evitar o
processo de adoecimento e melhorar a qualidade da atenção prestada ao
usuário. Um profissional que compreende a importância do cuidar de si é capaz
de cuidar do outro, fazendo dessa relação uma possibilidade real de
transformação para quem cuida e quem é cuidado(14).
Dessa forma, é primordial que os gestores da saúde promovam espaços
de cuidado para esta parcela da população que, repetidas vezes, sofrem
devido as dificuldades e desafios diários no mundo das relações de si consigo
21
mesmo, de si com os familiares, de si com o trabalho, equipe multiprofissional e
usuário, dentre outros problemas de cunho superior.
Para enfrentar tal problemática foi implementado, no município de João
Pessoa, o curso de formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando do
Cuidador/resgate da autoestima, com o intuito de oferecer espaços de cuidado
e capacitar profissionais com potencial para trabalhar com grupos a fim de que
estes possam realizar oficinas de intervenção psicossocial para as equipes de
saúde e usuários, minimizando o risco de adoecimento mental das pessoas. O
referido curso surgiu através de uma parceria do Grupo de Estudos e
Pesquisas em Saúde Mental Comunitária (GEPSMEC) da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB) com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e o
Centro de Referência de Saúde do Trabalhador (CEREST).
Foi realizado na tentativa de oferecer aos profissionais da saúde, um
apoio terapêutico no sentido de criar um espaço onde exista uma relação
dialética de cuidado estabelecida no momento em que o profissional, também,
se cuida ao cuidar do outro. O curso é potencializador de mudanças na vida
das pessoas provocando uma verdadeira revolução no jeito de estabelecer
relações consigo mesmo, com a família, equipe de trabalho e usuário dos
serviços de saúde. Faz o indivíduo revisitar sua própria história de vida e
enxergar que lugar ocupa no mundo das relações, despertando-o para a
compreensão de que é preciso trabalhar traumas e medos existentes, para,
dessa maneira, transformar a sua vida positivamente, entendendo que é
necessário valorizá-la.
Para que isso seja possível, o curso traz conteúdos que ajudam o
profissional a resgatar sua autoestima, a valorizar o autoconhecimento e o
trabalho em equipe. Ajuda-o a acessar a confiança em si e no outro, e a
acreditar no seu poder resiliente para compreender o seu papel diante dos
desafios que a vida impõe.
Essa formação possui 80h, sendo 40h presenciais, em momento de
imersão, com temáticas abordadas através de uma parte teórica e outra
prática. Esta última é baseada em “dinâmicas vivenciais” que foram inspiradas
nas diversas culturas indígenas e proporcionam aos participantes um encontro
consigo e com sua cultura, alimentando sua identidade na busca pelo
autoconhecimento, além de promover aos participantes o resgaste de sua
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herança cultural, competências e habilidades possibilitando uma maior
compreensão de si. Quanto as outras 40h, estas são para o participante
multiplicar as ações aprendidas no seu local de trabalho realizando encontros
para cuidar da equipe de trabalho e/ou usuários(15).
No fim do ano de 2013, a Diretoria de Atenção à Saúde do município de
João Pessoa, preparou um relatório sobre o impacto dos cursos realizados na
rede de saúde e intersetorialidade da cidade. Este foi entregue aos gestores da
rede municipal de saúde e consta o panorama demonstrativo geral para que
fosse possível visualizar os resultados obtidos através destas Formações. O
primeiro curso foi realizado no ano de 2010 e desde então mais seis
aconteceram, totalizando sete cursos, no qual o último foi realizado em 2013.
Assim, 279 profissionais de saúde foram capacitados para atuarem como
multiplicadores desta nova ferramenta de cuidado. Destes, 134 atuavam na
atenção básica, 89 na rede de média complexidade, 20 na alta complexidade e
36 na rede intersetorial. O quantitativo de usuários beneficiados com as
oficinas de resgate da autoestima foi de 15.231 pessoas(16).
Tal ação estratégica de promoção à saúde atingiu um importante
número de pessoas portanto, é válido continuar qualificando as equipes da
rede de saúde do município a fim de fortalecer e potencializar a capacidade de
operar mudanças, de produzir respostas mais qualificadas aos problemas e
dificuldades no cotidiano.
Foi nesta perspectiva que surgiu o interesse de pesquisar sobre a
temática das práticas de cuidado voltada para os profissionais da saúde. Desta
maneira, tive a oportunidade de desenvolver uma pesquisa pelo Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) que teve como objetivo
investigar o sofrimento psíquico em profissionais de saúde que participaram do
curso de formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando do
Cuidador/resgate da autoestima.
Meu estudo como bolsista do PIBIC, teve o objetivo de investigar a
contribuição deste curso na diminuição do estresse e do risco de sofrimento
psíquico em profissionais da saúde. Os resultados desta pesquisa apontaram
para um universo de adoecimento desses profissionais, pois constatou-se que
67% da amostra estudada apresentou estresse no início do curso ao passo
que, em seu término, este percentual diminuiu para 46%. Com relação ao risco
23
de sofrimento psíquico, no início do curso, 40% dos participantes apresentaram
risco para ansiedade e depressão, enquanto que, em seu término, esta
porcentagem reduziu para 23%(17).
Estes resultados mostraram a importância deste curso como importante
ferramenta de cuidado na diminuição do adoecimento psíquico dos
profissionais de saúde, revelando, também, que é possível cuidar dos
indivíduos utilizando-se das tecnologias leves, promovendo o
autoconhecimento e o empoderamento a fim de reduzir a medicalização
indiscriminada e provocar mudanças efetivas na maneira de fazer o cuidado.
Ainda, tive a oportunidade de participar como apoiadora do 4º curso de
formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando do Cuidador/resgate da
autoestima, momento em que foi possível participar um pouco do processo de
reflexão que o curso propicia junto aos participantes e toda a equipe envolvida.
Foi gratificante perceber que aquelas pessoas saíram renovadas, com a
autoestima resgatada e o mais importante, entendendo que precisam reservar
um tempo para cuidar de si nessa relação de cuidado.
Portanto, é possível pensar que, antes de participar do curso, os
profissionais enfrentavam, cotidianamente, inúmeras dificuldades e desafios
que os desestabilizavam emocional e fisicamente, chegando até a provocar
doenças. No momento em que realizaram o curso, vivenciaram episódios de
imersão nos quais puderam fazer uma viagem para dentro de si, com a
oportunidade de realizar as paradas necessárias para percorrer o tempo da
compreensão e do entendimento dos fatos. Ao término do curso, eles voltam
para a realidade, para os mesmos desafios e dificuldades, porém, olhando e
vivenciando este processo de um jeito novo e diferente, tentando compreender
e perdoar para, desse modo, ressignificar as suas vidas.
Então, os participantes deste curso são capazes de realizar um processo
de ação-reflexão-ação, passando a agirem de uma maneira diferente devido a
potência e revolução que o curso promove no interior de cada ser humano.
Diante destas experiências, nasceu o interesse em aprofundar o meu
conhecimento a respeito desta temática que me instigou a buscar respostas a
questões relevantes a respeito do cuidar de si desses profissionais. Dessa
maneira, surgiram as seguintes questões norteadoras: O curso de formação de
multiplicadores em oficinas – Cuidando do Cuidador/resgate da autoestima
24
despertou nos profissionais de saúde o desejo de continuar no processo de
cuidar de si? A participação no curso motivou os profissionais da saúde a
buscarem outras possibilidades de cuidados? Quais práticas de cuidado estes
profissionais estão desenvolvendo? Quais as mudanças, nas dimensões
profissional e pessoal, que mais têm marcado o dia a dia desses profissionais
após a participação no curso?
Esta pesquisa justificou-se diante da relevância da temática proposta,
uma vez que é fato a necessidade de se criar uma rede de cuidados com a
finalidade de promover e fortalecer o cuidar de si dos profissionais de saúde.
Um espaço que possa valorizar o acolhimento, o autoconhecimento, a escuta
qualificada e a partilha capaz de favorecer o equilíbrio físico e psíquico desta
população, além de prevenir o adoecimento.
O estudo mostrou-se relevante, também, pois permitiu que fosse
investigado se os participantes continuaram realizando encontros para o
desenvolvimento de ações de autocuidado após o curso de formação de
multiplicadores em oficinas – Cuidando do Cuidador/resgate da autoestima,
visto que o processo de cuidar de si é contínuo e precisa ser continuado em
vista de promover mudanças efetivas na qualidade de vida e contribuir para a
consolidação das práticas de cuidado na rede de saúde do SUS.
Na enfermagem, esta pesquisa contribui de maneira significativa, assim
como, para todos os profissionais da área da saúde, pois proporciona a
reflexão sobre o jeito de cuidar de si e do outro, além de abordar o quão
importante pode ser o cuidar dos profissionais da saúde objetivando-se de
evitar o adoecimento deles.
25
1.2 Objetivos
Geral:
- Conhecer as experiências dos profissionais de saúde em cuidar de si a partir
de sua participação no curso de formação de multiplicadores em oficinas –
Cuidando do Cuidador/resgate da autoestima.
Específicos:
- Elencar as principais mudanças ocorridas nas dimensões pessoal e
profissional que marcaram o dia a dia dos profissionais da área da saúde após
a realização do curso de formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando
do Cuidador/resgate da autoestima.
- Identificar as possibilidades de cuidados utilizados pelos profissionais de
saúde ao buscar outras práticas de cuidado.
REFERENCIAL
TEÓRICO
27
2.1 O Cuidado humano e a formação do profissional de saúde
Diante da exposição a diversos fatores que contribuem para o aumento
do estresse, seja ele laboral ou da vida cotidiana, é primordial que os
indivíduos possuam alguma forma de autopreservação, de modo que o corpo e
a mente possam aliviar a pressão que os rodeia constantemente.
Amplamente falando, pode-se chamar esse mecanismo de
autopreservação de cuidado. Um dos principais objetivos do cuidado é a
manutenção do estado de saúde do indivíduo, que deve ser visto
integralmente. Waldow(18) cita ainda, mais objetivos do cuidado, como aliviar,
ajudar, favorecer, fazer, dar; seja na saúde ou na doença, o cuidado está
presente tanto como forma de viver tanto quanto na forma de se relacionar.
Uma das características deste mecanismo é sua capacidade de ser
inerente às pessoas e, de acordo com Boff(19), o cuidado aparece quando a
existência de alguém tem algum significado para nós, e, portanto, passamos a
prestar atenção nas necessidades desse outrem, a ter atenção, cautela,
desvelo e consideração pelo bem-estar dele(a). Ainda de acordo com esse
autor, cuidar, além de ser um ato, é uma atitude que revela preocupação, uma
responsabilidade, um envolvimento afetivo para com o outro e consigo(20).
Prover cuidados a alguém é uma matéria complexa. Não se trata apenas
de manejar as causas biológicas da dor, por exemplo, mas lidar com ela,
compreendendo o psicológico, o social e espiritual que a permeia. Até porque,
há um ser humano por trás daquela dor, não apenas uma dor que está naquele
ser humano. É primordial atentar-se para o modo como as ações de cuidado
são realizadas, tendo em mente práticas integrais, além do contexto de vida ao
qual está inserido quem é cuidado(21).
A palavra cuidado e suas diversas definições vêm sendo exploradas ao
longo do tempo. Na antiguidade, significava “cura” e relacionava-se com “amor”
e “amizade”. Outras variações semânticas podem estar relacionadas ao
cuidado, como “cogitar”, “pensar”, “colocar atenção”, “mostrar interesse”,
“revelar uma atitude de desvelo” e de “preocupação”. Independentemente do
significado, o cuidado e o cuidar constituem o ser humano e tudo que tem vida
depende dele(22).
28
Para Martin Heidegger, por exemplo, o cuidado é reconhecido como o
alicerce da existência humana; “é o próprio ser do ser humano (ser-aí, da-
sein)”. Esse filósofo alemão afirma que o modo-de-Ser cuidado desvela a
maneira concreta como é o ser humano no mundo(23,19,24).
Heidegger aponta muito positivamente para o fato de que se o ser do humano é um estar lançado no mundo, numa reconstrução constante de si mesmo e desse mundo, elucidada pela ideia de Cuidado, será justo assumir que as práticas de saúde, como parte desse estar lançado, tanto quanto dos movimentos que o reconstroem, também se elucidam como Cuidado. Também no plano operativo das práticas de saúde é possível designar por Cuidado uma atitude terapêutica que busque ativamente seu sentido existencial
(24, p.22).
Já Jean Watson, que propôs a Teoria de Cuidado Transpessoal, afirma
que “quando duas pessoas juntas com as suas histórias de vida únicas são
postas numa transação de cuidar, abrange uma ocasião real (um evento), no
qual a experiência e a percepção estão a tomar lugar da própria ocasião”(25).
Segundo Baggio(26), a definição do cuidado deve surgir do interior do
sujeito, o qual é influenciado por seus valores, crenças e experiências
vivenciadas.. Ao cuidar do outro, deve-se levar em consideração, o suprimento
de suas necessidades com “sensibilidade, presteza e solidariedade”,
conjugando integridade física e emocional, “num processo de troca entre
cuidador e ser cuidado”.
Portanto, nota-se que a essência deste ato encontra-se no âmago da
inter-relação pessoal em que sempre haverá um mínimo de afetividade entre
cuidador e ser cuidado, num processo de intercâmbio de vidas e realidades
entre eles.
Após uma breve definição de cuidado, sigamos ao objeto deste estudo
dissertativo: o cuidado direcionado a si mesmo. Primeiramente, faz-se
necessário enfatizar que existem diferenças semânticas entre o cuidado de si e
o cuidar de si, quais sejam: este indica a ação do cuidado de si, aquele
denomina o ato de cuidado para consigo.(27).
A prática do cuidado de si consiste primordialmente em perceber que a
própria pessoa precisa de cuidados, tais como promover um equilíbrio físico,
emocional e social em suas atividades cotidianas. Ao cuidar de si, o ser
humano estrutura-se, entra em sintonia consigo e com o mundo. O modo como
29
cuida de si e do outro transparece o ser humano que é, pois, se o cuidado de si
for inadequado ou inexistente, o ser humano pode se desestruturar, trazendo
prejuízos a si e àqueles com quem ele se relaciona(28).
Para cuidar de si, a pessoa necessita sentir-se como o outro, olhar-se interiormente do mesmo jeito como se mostra exteriormente e, ainda, precisa sentir-se unida consigo. Porém, só é possível observar o crescimento do outro, se o indivíduo compreende o que significa para si crescer e busca satisfazer suas próprias necessidades. A relação com o outro acontece do mesmo modo como a pessoa se relaciona consigo mesmo
(23, p.18).
Desde a Antiguidade, as noções de cuidado de si já começavam a ser
delineadas e inspiraram diversos filósofos, em especial Sócrates. Na doutrina
deste, podíamos encontrar as seguintes expressões: “conhecer a si mesmo” e
“cuidar de si mesmo”. A primeira significa “examinar-se interiormente e
conhecer a própria alma, assim como cuidar de si revela cuidar da própria
alma. O cuidado de si é, portanto, indissoluvelmente cuidado dos outros” (29). O
homem que quisesse ter uma vida feliz teria que conhecer a si mesmo, e, por
conseguinte, cuidar de si, de seu interior, da sua alma.
Os termos supracitados não devem ainda ser confundidos com o
conceito de autocuidado, formulado por Orem. Considera-se autocuidado uma
atividade do indivíduo reconhecida pelo mesmo e direcionada para uma
finalidade. Refere-se a um ato realizado para si mesmo ou para ajustar fatores
que afetam seu próprio desenvolvimento. O autocuidado tem como objetivo a
prática propriamente dita de ações de cuidado, que promove o
desenvolvimento individual(30).
Diante do exposto, tendo em vista uma busca constante pelo bem-estar
biopsicossocial por meio do cuidado de si, nota-se o desenvolvimento de novas
tecnologias de cuidado, que vêm se apresentando mais eficientes do que os
meios convencionais, e, muitas vezes, ultrapassados.
Com a decadência e limitações do modelo biomédico, a busca por
outros modelos de assistência à saúde intensificou-se. Neste contexto, as
práticas integrativas e complementares se inserem para atender as
necessidades, com estratégias terapêuticas diferenciadas, focadas na visão
global do ser humano, utilizando-se de ferramentas mais simples e menos
30
intervencionistas, promovendo um equilíbrio entre humanização, ciência e
tecnologia(31).
Diversas práticas não alopáticas estão inseridas na Medicina Tradicional
Chinesa, que é um dos exemplos de práticas integrativas e complementares.
Estes recursos terapêuticos consideram o indivíduo em sua dimensão holística,
sem descartar sua singularidade diante do processo saúde-doença,
contribuindo para um cuidado integral do ser(32). Além disso, elas constituem
outra opção de solução e alívio para aqueles que desacreditam ou não
obtiveram resultados satisfatórios com a medicina tradicional ocidental.
A Medicina Tradicional Chinesa caracteriza-se por um sistema médico integral, originado há milhares de anos na China. Utiliza linguagem que retrata simbolicamente as leis da natureza e que valoriza a inter-relação harmônica entre as partes visando a integridade. Como fundamento, aponta a teoria do Yin-Yang, divisão do mundo em duas forças ou princípios fundamentais, interpretando todos os fenômenos em opostos complementares. O objetivo desse conhecimento é obter meios de equilibrar essa dualidade
(32, p. 13).
Atualmente, observa-se um crescente interesse nas práticas de cuidado
integrativas e complementares de saúde, visando promover, proteger e
recuperar a saúde dos indivíduos. Diferentemente das práticas de cuidado
alopáticas, que fazem uso de fórmulas medicamentosas, curando apenas o
órgão debilitado, as práticas integrativas abordam mecanismos naturais que
estimulam a prevenção de agravos e recuperação da saúde, com base na
escuta acolhedora, no vínculo terapêutico, na visão ampliada do corpo, o qual
passa por um processo de saúde-doença, e na promoção do cuidado e
autocuidado humano(32). De acordo com Saraiva(2):
(...) o aumento da demanda por essas práticas de cuidados, não alopáticas, deve-se, em especial, a crise na saúde, culminada pelo capitalismo globalizado e pela mercantilização da medicina. Como resultado, acaba-se priorizando as alterações e lesões corporais, já que grande parte dos serviços é pautada em diagnóstico e tratamento de doenças, ficando pouco espaço para a atenção, acolhimento e atenção dos sujeitos e seus sofrimentos, gerando agravos psicossociais.
(2, p.15).
Dentre a práticas integrativas e complementares contempladas no
âmbito da Medicina Tradicional Chinesa, podemos destacar a Homeopatia,
Fitoterapia e da Medicina Antropofísica. Neste estudo, oportunamente,
31
abordaremos algumas práticas não alopáticas, são elas: reiki, acupuntura, ioga,
biodança, florais, meditação e aromaterapia.
O reiki, técnica que utiliza as mãos para obter a cura, tem sua essência
na energia vital que dá movimento ao que existe no universo. Atua sobre os
chakras, centros energéticos que circulam continuamente no corpo, e sobre a
aura, que se refere ao campo energético que circunda o organismo humano.
Como benefícios do reiki, podemos citar: relaxamento físico e mental, redução
de estresse e ansiedade, alívio das dores, promoção do sentido de
autocuidado, elevação da espiritualidade, equilíbrio e harmonização do corpo,
mente e espírito(2,32,33).
Outra prática, que vem sendo realizada há séculos é a acupuntura,
técnica milenar que utiliza agulhas para promover a cura. É considerada como
medicina tradicional nos países do oriente, enquanto que nos países onde a
forma de medicina praticada é alopática, consiste de uma terapia integrativa e
complementar. A ação da acupuntura se deve ao realinhamento e
redirecionamento da energia, através da estimulação de pontos específicos por
agulhas finas metálicas, podendo ainda fazer uso de laser, pressão, dentre
outros(34).
Tal recurso terapêutico aborda de modo integral e dinâmico o processo
saúde doença no ser humano através do “estímulo preciso de locais
anatômicos definidos por meio da inserção de agulhas filiformes metálicas”. O
estímulo nesses locais provoca a liberação de neurotransmissores no sistema
nervoso central, além de outras substâncias que promovem analgesia,
restauração de funções orgânicas e modulação imunitária(32).
“A ioga consiste em um método de auto-regulação consciente que
conduz à integração física, mental e espiritual da personalidade humana e
possibilita a relação harmônica do homem com o que o rodeia(35).” Baseia-se
na busca do equilíbrio físico e mental por meio de técnicas de postura física
(asanas), respiração (pranayamas) e meditação (dhyana), promovendo
mudanças e benefícios nas funções psíquicas cognitivas e afetivas, na
coordenação psicomotora, nos processos de atenção e concentração. Além de
promover melhorias na área mental, a ioga proporciona melhoras na parte
física, pois também é considerada uma atividade física. Por ser de baixo
32
impacto e relativamente leve, pode ser realizada por pessoas de diversas
faixas etárias(35,36).
De acordo com Reis(37), a biodança consiste em um método vivencial,
tendo a finalidade de desenvolver os potenciais saudáveis do indivíduo. Tal
prática auxilia na “reeducação afetiva, no cuidado solidário, no
desenvolvimento da criatividade e fortalecimento de uma identidade positiva”,
sempre tendo a dança como meio de expressão pessoal. Essa autora ainda
revela que:
A biodança consiste em exercícios específicos que, ativando nossa potencialidade afetiva, realizam este significado primordial da dança como conexão. Em síntese, ao falar da dança como movimento integrativo, pretende-se enfatizar que, ao dançar, o ser humano conecta-se consigo próprio, com seus semelhantes e com a Natureza (37, p.9)
No que se refere à terapia com florais, esta compreende uma terapia
vibracional, cujo fundamento é o potencial energético das flores. As essências
florais utilizadas são feitas a partir de plantas silvestres, flores e árvores, e
tratam distúrbios na personalidade, com o objetivo de harmonizar o corpo
etério, emocional e mental(38). Ainda em consonância com esse estudo, houve
diminuição no nível de ansiedade e nos comportamentos atribuídos às pessoas
ansiosas, como preocupação, impaciência, tensão, nervosismo, apreensão e
etc., ao fazerem uso das essências Impatiens, Cherry Plum, White Chestnut e
Beech. Vale ressaltar que existem diversas essências, cada uma com um
objetivo específico e direcionadas a outras manifestações psicológicas.
Com relação à aromaterapia, autores(39) revelam que esta abordagem
faz uso de concentrados voláteis, chamados de óleos essenciais. Estes são
retirados de plantas aromáticas e buscam balancear as emoções, incrementar
o bem-estar físico e mental, podendo ser interiorizados por meio de inalação,
ingestão ou uso tópico. Pesquisas demonstram que a aromaterapia auxilia na
redução do estado de ansiedade(39) e dos níveis de estresse e ansiedade em
discentes de graduação na área da saúde(40). No entanto, um estudo afirmou
que o uso da aromaterapia não foi capaz de alterar a percepção da
autoestima(41).
A meditação é uma prática milenar e possui vários benefícios a nível
mental e espiritual. A meditação pode ser definida como um conjunto de
33
práticas que desenvolvem a focalização da atenção, o que conduz à diminuição
do pensamento repetitivo, à reorientação cognitiva e melhora da aptidão para
lidar com pensamentos automáticos. Fisiologicamente, a meditação pode levar
a um hipometabolismo basal, fazendo com que a mente fique alerta e
possibilitando o controle de determinados processos psicobiológicos
involuntários, sendo, portanto, considerada uma técnica eficaz de
biofeedback(42).
Ainda em conformidade com as autoras supracitadas, relativamente a
outro estudo, além da relação com a psicoterapia, a meditação também passou
a ser uma intervenção clínica utilizada como ferramenta para tratamentos
coadjuvantes de transtornos psicológicos. Entre os benefícios da meditação
podemos citar: redução do estresse, da ansiedade, de pensamentos
distrativos; controle de afetos negativos induzidos; melhora na memória de
trabalho e em escores de inteligência; maior autoconsciência; autorregulação
emocional; proporciona maior conexão espiritual e melhora na qualidade do
trabalho e na tomada de decisões(43).
Os recursos terapêuticos supracitados são apenas algumas das
dezenas de opções disponíveis à população em geral e aos profissionais de
saúde que desejam desenvolver o hábito de cuidar de si e, assim, promover
um cuidado mais efetivo do outro. Cabe ao profissional ter a consciência e
compreensão de que seu corpo não é uma máquina, esperando que ela
funcione a todo vapor sem apresentar falhas ou defeitos.
O profissional dessa área pode ser considerado o mais suscetível a
todos os males advindos da profissão, por estar sempre em contato com o
sofrimento e vulnerabilidade do outro e, muitas vezes, pela necessidade de se
sujeitar a condições de trabalho estressantes. Por esse mesmo motivo, deve
ter cuidado redobrado em relação a si mesmo.
34
2.2 Autoestima e suas inter-relações
Dia após dia, somos cercados por diversos fatores que influenciam a
forma como nos relacionamos com nós mesmos. Dependendo da percepção
que temos do nosso ser, que pode ser positiva ou negativa, pode-se
desencadear processos de adoecimento que afetam nossa interação com o
meio em que vivemos e com as pessoas com quem nos relacionamos.
É impossível não associar autopercepção à autoestima. O indivíduo, ao
se perceber diante de tudo que o rodeia, procede a uma interpretação e
consequente avaliação de sua posição como ser humano naquela
circunstância. Além disso, a autoimagem é relevante nesse processo, pois
auxilia no desenvolvimento de um autoconceito positivo e, portanto, na
promoção da qualidade de vida.
O autoconceito compreende um constructo cognitivo e comportamental,
tendo bastante utilidade na predição e explicação das atitudes de uma pessoa,
enquanto que a autoestima limita-se a um componente avaliativo da área
afetiva do self, isto é, o autoconceito representa o que sabemos sobre ele e a
autoestima refere-se a como o julgamos e o percebemos(44).
Coopersmith(45) define a autoestima como sendo:
[...] a avaliação que o indivíduo faz, e que habitualmente mantém, em relação a si mesmo. Expressa uma atitude de aprovação ou desaprovação e indica o grau em que o indivíduo se considera capaz, importante e valioso. Em suma, a autoestima é um juízo de valor que se expressa mediante as atitudes que o indivíduo mantém em face de si mesmo. É uma experiência subjetiva que o indivíduo expõe aos outros por relatos verbais e expressões públicas de comportamentos. (45, p. 4-5)
O conceito de autoestima está relacionado principalmente à sensação
de sentir-se bem ou mal consigo mesmo, aliado à aceitação. Se for uma
sensação positiva, o indivíduo tende a ver-se como sendo suficientemente bom
e capaz, sem que haja necessariamente uma atitude de superioridade em
relação às outras pessoas. Sendo negativa, o ser humano se rejeita, se
despreza e está insatisfeito com o que vê de si próprio(41). Branden(46) também
explica autoestima da seguinte forma:
35
Ter uma autoestima elevada é sentir-se confiantemente adequado à vida, isto é, competente e merecedor, no sentido que acabamos de citar. Ter uma autoestima baixa é sentir-se inadequado à vida, errado, não sobre este ou aquele assunto, mas errado como pessoa. Ter uma autoestima média é flutuar entre sentir-se adequado ou inadequado, certo ou errado como pessoa e manifestar essa inconsistência no comportamento – às vezes agindo com sabedoria, às vezes como tolo – reforçando, portanto, a incerteza.
(46, p. 6)
De acordo com o autor supracitado, a autoestima possui dois
componentes que, se somados, refletem a nossa habilidade de compreender e
dominar as adversidades da vida e de reconhecer que temos o direito de
sermos felizes: a autoconfiança e o autorrespeito. Além disso, a autoestima
está embasada em seis pilares, que se complementam, para que o indivíduo a
possua de forma saudável. São eles: viver conscientemente, autoaceitação,
autorresponsabilidade, autoafirmação, intencionalidade e integridade
pessoal(46).
O primeiro pilar refere-se à responsabilidade e o respeito para com os
fatos da realidade, seja no mundo exterior ou no nosso interior. Viver
conscientemente está intrinsecamente relacionado à independência intelectual
de cada um de nós, pois não devemos pensar com a mente do outro, e sim, ter
o nosso próprio entendimento de como tudo funciona. Quanto mais se viver
conscientemente, mais confiança será dedicada à mente e mais respeito se
dará ao seu valor como pessoa(46).
A autoaceitação implica em nossa vontade de nos vermos e
percebermos que há coisas que não podem ser mudadas, principalmente
quando estamos diante do espelho, além das atitudes de aprovação ou
desaprovação das nossas condições na realidade. Aceitar-se “significa
vivenciar, sem negação, que um fato é um fato” e que rejeitá-lo afetará a
capacidade de desenvolver a autoconfiança e o autorrespeito(46).
Autoaceitação, autoconhecimento, autoimagem e autoestima em muito
se complementam, o que pode ser percebido no excerto a seguir:
A natureza da auto-imagem (sic), base para a autoestima, reside no conhecimento individual de si mesmo e no desenvolvimento das próprias potencialidades, na percepção dos sentimentos, atitudes e idéias (sic) que se referem à dinâmica pessoal. [...] a autoestima faz parte de um processo de identidade que leva ao conhecimento próprio, à valorização de possibilidades, à confiança na superação e à tentativa de se auto-atualizar (sic) e de se auto-realizar (sic)
(47,p. 105-
106).
36
O pilar da autorresponsabilidade consiste em ter a percepção e o
entendimento de que apenas o sujeito e só ele é o responsável pelas escolhas
que faz, pela realização de seus sonhos e pela busca da felicidade, não
podendo incumbir a outras pessoas a culpa pelas consequências de seus
próprios atos, assumindo assim o papel de vítima diante da vida e de seus
infortúnios(46).
Já a autoafirmação compreende a habilidade de viver de forma autêntica
e de respeitar primeiramente sua opinião em detrimento da opinião dos demais,
buscando o realismo diante daquilo que se é. O pilar da intencionalidade
refere-se aos objetivos e planos que temos para a vida, as intenções que
temos para com o mundo, trilhando um caminho para o que desejamos realizar
durante o nosso curso de vida. Finalmente, o pilar da integridade pessoal diz
respeito à coerência dos nossos padrões, crenças, comportamentos e
convicções com os nossos valores declarados(46).
Portanto, a autoestima promove o autoconhecimento e vice-versa, pois,
quando o indivíduo está ciente de si e do outro, este se vê aberto a agir ativa e
positivamente frente às possibilidades que nos são apresentadas pela vida.
Portanto, de acordo com Sá(48):
[...] nossas atitudes e posturas diante das situações são reflexos dos pensamentos que temos sobre nós; portanto, o autoconhecimento nos dá as respostas para entender a nós e ao outro. Isso fortalece uma influência às nossas escolhas e decisões
(48, p.100).
Nesse sentido, podemos inferir que o sujeito é o principal responsável
por seus problemas e crises, sendo também considerado como a solução
destes. É o que afirma Barreto(49), ao mencionar o pensamento sistêmico, que
enfatiza o fato de que tais conflitos apenas serão resolvidos quando se analisa
um contexto que compreenda o biológico, o psicológico e a sociedade, pois os
seres humanos não podem ser vistos isoladamente. É como se um órgão de
um sistema estivesse comprometido; é impossível não haver envolvimento dos
outros órgãos e sistemas, uma vez que estão interligados.
Percebe-se, portanto, um misto de coparticipação e corresponsabilidade,
tendo em vista que um sistema possui elementos em constante interação,
sendo esse mesmo sistema o responsável por tentar reparar os danos
37
causados pelo adoecimento. Desse modo, as situações problemáticas na vida
do sujeito fazem parte de um todo, caracterizando uma relação simbiótica e de
interdependência, quando o indivíduo se vê como causa e como resolução de
suas crises(50).
Quem também discorre sobre a sistematicidade é Fritjof Capra, trazendo
seu ponto de vista sobre a abordagem sistêmica, a qual valoriza as relações
entre os elementos e a interdependência dos fenômenos:
A nova visão da realidade, de que vimos falando, baseia-se na consciência do estado de inter-relação e interdependência essencial de todos os fenômenos- físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Essa visão transcende as atuais fronteiras disciplinares e conceituais e será explorada no âmbito de novas instituições
(51, p. 259).
Com base nesse pensamento, é possível afirmar que a concepção
sistêmica pode ser considerada um novo paradigma conceitual, uma vez que
percebe o organismo vivo como um sistema integrado e não de maneira
fragmentada, como ocorre no modelo cartesiano. A abordagem sistêmica vê o
mundo numa perspectiva de relações e de integração, valorizando o todo e
suas relações com as partes que o constituem. Sendo assim, o todo é o
resultado de sua interação com seus constituintes e não a soma deles(51).
Percebe-se, portanto, que o indivíduo é o principal responsável pelo
desenvolvimento de sua autoestima e que, cada vez mais, este aspecto está
em destaque no cotidiano, especialmente ao falarmos sobre o cuidado de si.
Conforme Soares et al(52), “o cuidar de si inclui o conhecimento de si, que
favorece uma melhor autoestima, confiança em si e na vida. Compreende
também o cuidar da saúde, do espírito, do intelecto, de seu tempo, do lazer e
assim por diante”. Ao longo deste estudo, abordaremos o cuidado de modo
mais aprofundado e como este pode influenciar a maneira como lidamos com
nossa autoestima.
PERCURSO
METODOLÓGICO
39
Este estudo buscou de maneira compreensiva-interpretativa conhecer a
experiência de cuidar de si vivenciada pelos profissionais da saúde a partir de
sua participação no curso de formação de multiplicadores em oficinas –
Cuidando do Cuidador/resgate da autoestima.
Segundo Minayo(53), esta abordagem procura aprofundar e investigar a
realidade social dos indivíduos, incluindo seus atos e relações que envolvem
construções humanas, estabelecidas subjetivamente. Além disso, contribui
fortemente nas ciências sociais e da saúde, uma vez que trabalha com o
universo de significados, desejos, valores, concepções, motivos e atitudes,
caracterizando um espaço profundo de relações que é impossível quantificar.
Por isso, diante das importantes contribuições que poderá prover para o
estudo, optou-se por esta abordagem.
Considerando a importância do objeto de investigação e afim de
subsidiar tais aspectos qualitativos, o percurso metodológico foi norteado pela
História Oral (doravante, HO) com base nos pressupostos indicados por Bom
Meihy(54). A escolha deste caminho metodológico ajuda a conhecer em
profundidade o fenômeno a ser investigado. Portanto, entende-se que a HO
viabiliza conhecer as experiências dos profissionais de saúde em cuidar de si a
partir de sua participação no Curso de Formação de Multiplicadores em
Oficinas - Cuidando do Cuidador.
A HO nasceu após a Segunda Guerra Mundial quando se diferenciou de
outras formas de entrevista, portanto, é uma metodologia recente e fruto do
convívio urbano, atenta a fenômenos de interesse do público amplo e
constituída por debates atentos à fundamentação de seus usos(54).
Ela valoriza a participação social e o direito de cidadania, dessa forma,
os excluídos, marginalizados e qualquer tipo de pessoa podem participar e
colaborar com a HO afim de analisarem-se processos sociais com o intuito de
fornecer e divulgar estudos de identidade e memória cultural(54). É um recurso
moderno utilizado para produzir registros e documentos referentes à
experiência social de pessoas e de grupos. Também é sempre uma história
inscrita no “tempo presente” e reconhecida como história viva(54).
Ainda para os autores supracitados, a HO é um processo de aquisição
de depoimentos, vertidos do oral para o escrito, que deve responder a um
sentido da utilidade prática, social e imediata. Isso não quer dizer que ela se
40
esgote no momento da sua apreensão, do estabelecimento de um texto e da
eventual análise das entrevistas.
Bom Meihy e Holanda(54) classificam a HO em quatro modalidades:
História Oral de Vida (HOV), História Oral Testemunhal, Tradição Oral (TO) e
História Oral Temática (HOT). Todas as modalidades exigem que os
colaboradores estejam em condição mental estável para narrarem suas
histórias de forma voluntária e independentemente de benefícios.
Essa investigação se ancorou na modalidade da HO Temática por esta
ser uma possibilidade de estudar um tema específico e preestabelecido,
responsabilizando-se com o esclarecimento ou a opinião do entrevistador a
respeito de determinado evento definido, na perspectiva de desvelar algum
fenômeno escolhido para estudo. Segundo o autor ela “(...) é a que mais se
aproxima das soluções comuns e tradicionais de apresentação dos trabalhos
analíticos em diferentes áreas do conhecimento acadêmico”(55, p.162). A HO
Temática focaliza as histórias com um objetivo específico, nesse caso, a
história de profissionais de saúde no processo de cuidar de si.
Esta pesquisa foi desenvolvida na cidade de João Pessoa, capital da
Paraíba, Nordeste, Brasil. O município tem uma área territorial de 211,475 Km2
e de acordo com o censo realizado pelo IBGE(56) no ano de 2010, dispõe de
uma população de 723.515 habitantes.
Com relação a saúde, a cidade está demarcada territorialmente sob a
forma de Distritos Sanitários (DS). Existem 5 DS que contém USF’s, Centros
de Atenção Integral à Saúde (CAIS), Centro de Atenção Integral à Saúde do
Idoso (CAISI), Centro de Referência de Inclusão para Pessoas com
Deficiência, Centros de Saúde, Centros de Testagem e Aconselhamento
(CTA), Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Centros de Especialidades
Odontológicas (CEO), CEREST, Centro de Zoonozes, Núcleo de Portadores de
Necessidades Especiais, Programa Agentes Comunitários de Saúde (PACS),
Hospitais, Maternidades, Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU),
Farmácias Populares, Laboratórios, Depósitos de Equipamentos, Almoxarifado
Central, Diretoria de Regulação e SMS.
Nesta rede, existem profissionais das mais diversas áreas, sejam da
saúde, como médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos,
odontólogos, fonoaudiólogos, agentes comunitários de saúde (ACS),
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educadores físicos, psicólogos e assistentes sociais, sejam de outras áreas,
como telefonistas, recepcionistas, jornalistas, agentes administrativos, auxiliar
de serviços, antropólogos e outros.
O estudo foi realizado com 8 profissionais da rede de saúde,
pertencentes aos DS do município de João Pessoa, e que participaram do
curso de formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando do
Cuidador/resgate da autoestima. Este é disponibilizado para qualquer
profissional que deseje participar, mas devido a grande procura, as formadoras
do curso promovem uma sensibilização em horários previamente agendados
para escolher, mediante critérios pré-estabelecidos, os membros participantes.
Considerando a importância da contribuição dos depoentes, eles são
compreendidos como colaboradores do projeto, uma vez que a participação
especial, durante a realização da produção de material empírico até os passos
finais da pesquisa, não os permite considerá-los apenas como meros sujeitos
do estudo, pois eles têm livre arbítrio para interferir na entrevista transcriada,
podendo acrescentar ou retirar fragmentos/retalhos. Dessa maneira, o
colaborador tem papel ativo na história e é essencial no estabelecimento de
uma relação de vínculo, compromisso e confiança entre o entrevistador e o
entrevistado(55).
Para viabilizar o caminho escolhido, foi imprescindível seguir os passos
necessários afim de estabelecer os cinco momentos principais de sua
realização: elaboração do projeto; gravação; estabelecimento do documento
escrito e sua seriação, sua análise; arquivamento e devolução social(54).
A HO se inicia com a elaboração de um projeto, que norteia e ajuda no
planejamento do trabalho de pesquisa, o delineamento da proposta a ser
desenvolvida, justificativa/fundamentação, os mecanismos de
operacionalização, a forma e a evidência dos objetivos oriundos das hipóteses
de trabalho. Desta projeção inicial, é preciso emergir perguntas como de quem,
como e por que, e a partir disso, deve-se levar em conta fatores como a
relevância social da pesquisa; a exequibilidade na abrangência das entrevistas,
o local e o tempo; o diálogo com a comunidade que o gerou; e a
responsabilidade na finalização e na devolução ao grupo(54).
O projeto deve ser composto por tema, justificativa, problemática e
hipóteses, corpus documental e objetivos, procedimentos, bibliografia e
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cronograma. Além disso, é importante definir com êxito todas as etapas que
constituem este projeto: tema, justificativa, comunidade de destino, definição da
colônia, formação de rede, entrevista, transcrição, textualização, transcriação,
conferência, uso e arquivamento(55).
Com a finalidade de caracterizar este tipo de método, exige-se que seja
definido a comunidade de destino, a colônia e a rede, fatores fundamentais
para a escolha adequada dos colaboradores. Conceitua-se comunidade de
destino os indivíduos que partilham de uma mesma identidade, ou seja,
compartilham algumas características comuns. A colônia representa a primeira
divisão da comunidade de destino e a rede é formada por uma subdivisão da
colônia, considerada, então, a menor parcela de uma comunidade de
destino(54).
Ainda, segundo os autores supracitados. Vejamos: (54, p. 53 e 54):
Comunidade de destino é formada a partir de uma postura comum de um passado filtrado pelo trauma coletivo que seria matéria de registro e verificação da história oral. (...) Colônia é a parte dividida para possibilitar o entendimento do todo pretendido, mas é necessário guardar, ao mesmo tempo, características peculiares que justifiquem a fração e manter os elos comuns ao grande grupo. (...) A rede identifica segmentos ainda mais restritos que possuam feições singulares. Deve ser sempre plural porque nas diferenças internas aos diversos grupos, residem as disputas ou olhares diferentes que justificam comportamentos variados dentro de um mesmo plano.
Neste estudo, a comunidade de destino foi constituída pelos 279
profissionais da rede de saúde do município de João Pessoa – PB que
participaram do curso de formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando
do Cuidador/resgate da autoestima. A colônia foi composta pelos profissionais
que procuraram outras possibilidades de cuidado após a realização do referido
curso. E a rede foi formada pelos profissionais que estavam realizando práticas
de cuidado de si de maneira sistemática e com uma frequência semanal.
Dessa forma, a rede foi constituída por 8 profissionais.
A escolha dos prováveis colaboradores consistiu-se no estabelecimento
de critérios de inclusão relacionados à temática da pesquisa e foram eles: ter
concluído o curso de Formação de multiplicadores em oficinas – Cuidando do
Cuidador/resgate da autoestima, ter procurado outras possibilidades de
cuidado após o referido curso e estar realizando práticas de cuidado com
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frequência semanal. A contrário sensu, os mecanismos de exclusão foram: não
ter concluído o curso e não estar realizando práticas de cuidado com
frequência semanal.
Diante do grande número de participantes do referido curso, foi
solicitado a SMS as listas contendo os nomes e contatos de cada profissional
que o realizou. A partir de então, procedeu-se o início do contato, via telefone,
com o maior número possível de profissionais a fim de descobrir e escolher,
através de algumas perguntas, a rede que faria parte do estudo.
Durante as ligações, indagou-se sistematicamente a cada profissional,
se os mesmos procuraram outras práticas de cuidado após a realização do
curso. Caso respondessem que sim, mais algumas perguntas eram feitas,
como: “Quais foram essas práticas?”, “Onde você as realiza?”, “E com que
frequência?”. Através das respostas, foi possível escolher os colaboradores,
tendo como base os critérios de inclusão e a indicação de algumas pessoas
contatadas por tais ligações.
Foi utilizado como instrumento para a produção do material empírico
uma ficha técnica contendo perguntas para a identificação do(a) colaborador(a)
e perguntas de corte.
Bom Meihy(55) ressalta a importância de definir perguntas de corte, que,
além de guiarem todas as entrevistas, deve-se relacioná-las à comunidade de
destino, que marca a identidade do grupo analisado. As perguntas de corte que
orientaram todas as entrevistas desse estudo foram:
Conte-me, esse curso foi capaz de promover algum tipo de
mudança no seu jeito de se cuidar? E de cuidar do outro?
Como esse curso despertou em você o desejo/necessidade de
buscar outras práticas para cuidar de si?
Que práticas você escolheu?
Como você se sente ao participar dessas práticas?
Essas práticas têm te ajudado enquanto pessoa ao longo desse
tempo? Como?
Essas práticas têm te ajudado enquanto profissional ao longo
desse tempo? Como?
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Diga-me, o que mais lhe motivou a continuar no processo de
cuidar de si?
Segundo Bom Meihy e Holanda(54), para a construção do corpus
documental da investigação faz-se necessário iniciar pela pré-entrevista,
seguida da entrevista propriamente dita e da pós-entrevista. A pré-entrevista é
o momento em que o pesquisador prepara-se para o encontro com o(a)
colaborador(a). É a etapa do primeiro contato com o colaborador da pesquisa,
tendo-se como finalidade a formação inicial do vínculo entre as partes
envolvidas e a apresentação do projeto de pesquisa com seus objetivos e
métodos visando-se conceder todas as informações necessárias ao
participante.
A entrevista propriamente dita é utilizada como meio para obtenção do
material empírico na qual utiliza-se um gravador e/ou filmadora. Esta etapa
aconteceu no período de julho a outubro de 2014. As entrevistas foram
gravadas individualmente, em horários previamente agendados, respeitando-se
a autonomia das colaboradoras em escolherem o melhor dia e local para a
realização das entrevistas, contribuindo, dessa maneira, para que as mesmas
ficassem mais abertas e à vontade para partilharem suas experiências.
Antes de iniciar as entrevistas foi solicitada a assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), em duas vias, sendo uma para o
colaborador e outro para a pesquisadora. Neste termo, constavam os objetivos
da pesquisa, sua finalidade, os riscos e benefícios da mesma, além do
posicionamento ético adotado a partir da Resolução 466/12, que trata da
pesquisa envolvendo seres humanos.
Após a entrevista, foi agendado um novo encontro para a realização da
conferência do material empírico produzido e a assinatura da carta de cessão
que legitima o corpus documental e sua publicação. Foi explicitado aos
colaboradores que seria possível preservar suas identidades, utilizando-se da
escolha de nomes fictícios ou, caso preferissem, poderiam usar seus nomes
civis. Todos concordaram em divulgar seus nomes reais.
Continuando as etapas da pesquisa, realizou-se a pós-entrevista,
momento em que o relato oral é transformado para o escrito, sendo assim, foi
submetido a transcrição de forma literal.
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A textualização, etapa seguinte, inicia-se com a remoção dos vícios de
linguagem, palavras e frases repetidas e composições sem semântica,
preservando a essência textual. Ademais, também são retiradas as perguntas
de corte, conferindo ao texto um corpo estético e único, possibilitando a
identificação do tom vital da entrevista de cada colaborador, ou seja, o tema de
maior força dentro do relato, e que servirá de guia para se proceder a análise e
discussão do material empírico.
O último passo, a transcriação, é o momento no qual a pesquisadora
realiza interferências no material textualizado na perspectiva de transcriá-lo,
tornando-o um texto de caráter narrativo.
Concluída esta etapa, foi apresentado o texto final as colaboradoras
para proceder a etapa de conferência, aprovação e autorização para uso e
publicação do material produzido, mediante assinatura da Carta de Cessão.
Durante a conferência, as colaboradas têm liberdade e autonomia para retirar
ou acrescentar informações ao texto final dando confiabilidade ao material,
porém mantendo o sentido original da narrativa(55).
A análise e discussão do corpus documental contou com leituras
exaustivas e contínuas do material empírico obtido afim de compreender a
história vivida pelo colaborador tentando entender a subjetividade do indivíduo
e sua maneira de se expressar linguística e sentimentalmente.
Esta etapa foi conduzida pela técnica de análise de conteúdo temática
que “consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma
comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa para o
objeto analítico visado”(53). Através da identificação dos tons vitais e dos temas
fortes trazidos pelos depoimentos dos(as) colaboradores(as) foi possível traçar
dois eixos temáticos: 1- Participando do curso de formação de multiplicadores
em oficinas – Cuidando do Cuidador/resgate da autoestima: um despertar para
o cuidar de si na dimensão pessoal e profissional: cuidar de si na dimensão
pessoal e cuidar de si na dimensão profissional e 2- Profissionais da saúde:
descobrindo possibilidades e práticas de cuidado.
O corpus documental foi analisado e discutido a partir dos achados
significativos da investigação trazidos pelos tons vitais e expressões fortes,
fundamentados pela literatura pertinente e as contribuições da pesquisadora
com base nas suas observações, anotações e registros em caderno de campo
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que permitiram enriquecer o diálogo na tentativa de compreender e interpretar
o fenômeno investigado, ou seja, a experiência de cuidar de si e do outro a
partir da participação no curso de formação de multiplicadores em oficinas –
Cuidando do Cuidador/resgate da autoestima.
A pesquisa obedeceu aos preceitos éticos e legais das normas e
diretrizes propostas pela Resolução 466/12(57) que regulamenta as pesquisas
com seres humanos, atribuídas e conferidas pela Lei nº 8.080, de 19 de
setembro de 1990, e pela Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990.
Primeiramente, o projeto de pesquisa foi apresentado em uma reunião do
grupo de estudos na qual os participantes presentes fizeram recomendações
para melhoria do projeto. Posteriormente, o mesmo foi submetido, para fins de
aprovação, ao Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem
(PPGENF) da UFPB e a SMS-JP para fins de autorização à realização da
pesquisa nos serviços de saúde desta entidade.
Após a obtenção de tais autorizações e aprovações, o projeto foi
encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ciências da
Saúde da mesma Universidade (CCS/UFPB), sendo aprovado no dia
03/07/2014, com o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAEE)
nº30332814.3.0000.5188.
APRESENTAÇÃO DO
MATERIAL EMPÍRICO
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Glória
Assistente Social, 56 anos, solteira, trabalha na SEDES - Secretaria de
Desenvolvimento Social. Mulher calma e serena, tem muita vontade de levar as
práticas de cuidado a todos em sua volta. Mostrou-se disponível a participar da
entrevista que foi realizada em seu local de trabalho.
"[...] Pude parar para me cuidar, me cultivar [...].” Participei do curso “Cuid