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TEORIAS DO SERVIÇO SOCIAL
INFLUÊNCIA DA FENOMENOLOGIA NO SERVIÇO SOCIAL:
Husserl estava interessado em estudar a intencionalidade e como ela
integra a consciência e o objeto. Para ele a intencionalidade é o ato de dar um
significado, um sentido, encontrar uma referência de ligação, o elo entre o ser
e a realidade, isto ocorre na consciência do indivíduo. O fenômeno integra a
consciência e a realidade, e a fenomenologia é o estudo que quer saber como
o indivíduo percebe o fenômeno. Se o fenômeno integra a consciência do
indivíduo e a realidade (mundo exterior), a fenomenologia está interessada em
saber também como o indivíduo se percebe. Em função da somatória de
percepções que o indivíduo tem da realidade ele formará o que os
fenomenologistas chamam de campo perceptual. Husserl estava interessado
em entender as coisas através do mundo sensível e não suprassensível, em
entender as coisas a partir das vivências dos indivíduos e como esses
estabeleciam os significados para suas vivências. A realidade está dada. O ser
humano, com os componentes essenciais de seu sistema nervoso como a
memória, o raciocínio hipotético dedutivo, a imaginação, a criatividade, suas
emoções, suas intuições e os limites do seu conhecimento acumulado,
procura exatamente a compreensão da realidade. A ignorância o torna
inseguro quando a realidade lhe provoca um novo desafio para aprender. Ele,
muita vezes, enxerga esse desafio como ameaça. Essa forma de encarar
aprendizagem é substancialmente fenomenológica, subjetiva.
O ser humano é o ser vivo mais complexo do planeta. Seu
comportamento é multideterminado. Essa afirmação de que o ser humano
é multideterminado apresenta já em si uma parte dessa complexidade.
Quando se fala de determinação quer se encontrar exatamente
objetividade. A ciência que se construiu nesses últimos séculos
queria e quer exatamente ser a mais objetiva possível, e para isso
desenvolve uma metodologia capaz não somente de explicar os
fenômenos, mas de controlá-los. E para controlá-los seria preciso
conhecer seus processos, funcionamentos, ou em alguns casos, as leis
que regem sua ordenação. O comportamento humano, com toda sua
variabilidade, síntese das motivações internas e externas (de cunho
social) é alvo de uma ciência que procura construir leis que possam
explicar muito bem seu funcionamento (SILVA, 2004).
É um método compreensivo e não explicativo, é indutivo e não
dedutivo. Para o Serviço Social, a atitude fenomenológica se
caracteriza pelo diálogo, conscientização, participação, compreensão
intersubjetiva, captação intencional das vivências por meio da
presença corporal. Exige conhecimento mútuo (assistente
social/usuário) o que implica saber ouvir, sentir com, perceber. Em
meados do século passado, surgiu em todo o mundo o movimento pela
Reconceitualização do Serviço Social, que, no Brasil, foi motivado pela crise do
paradigma positivista. Esse método já não atendia às necessidades do Serviço
Social, em parte pelas suas lacunas inatas, e em outra parte pelas mudanças
políticas, econômicas e sociais ocorridas no Brasil. Fazia-se necessário um
método mais adequado à realidade latino-americana, em vez de métodos
tradicionais, copiados dos Estados Unidos e Europa.
O movimento de Reconceitualização se realizou através de Seminários
Regionais, promovidos pelos próprios Assistentes Sociais, cujo objetivo era a
discussão sobre o que era o Serviço Social e que Metodologia a profissão
deveria utilizar.
O Documento Sumaré foi produzido no III Seminário de Reconceitualização do
Serviço Social, realizado na casa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), na cidade de Sumaré, no estado do Rio de Janeiro, no período de
20 a 24 de Novembro de 1978.
Nesse seminário, 254 assistentes sociais se reuniram e estudaram diferentes
propostas do Serviço Social, bem como criticaram o paradigma tradicional
(Positivista). Eles estudaram, nesse seminário, a Cientificidade do Serviço
Social, o Serviço Social e a Fenomenologia, e, o Serviço Social e a Dialética.
Os estudos dessas temáticas se deram por meio de conferências, estudos em
grupo e sessões em plenária.
No entanto, foi a questão relativa à cientificidade que motivou Anna Augusta de
Almeida a apresentar uma nova proposta, por ela elaborada, que manifesta seu
métodos genérico, baseado no processo de ajuda psicossocial, o qual é obtido
através do dialogo entre a pessoa-assistente social e a pessoa-cliente (pessoa
usuário).
O diálogo como ajuda psicossocial é um processo em que a pessoa-assistente
social e a pessoa-cliente efetivam uma experiência, tomando como ponto de
partida a situação existencial problematizada (SEP).
No dialogo, o trabalho que caracteriza a pessoa-cliente, que é sujeito de uma
experiência, é a investigação de uma verdade, a qual em Fenomenologia
chamamos de essência.
A metodologia do dialogo necessita tanto do conhecimento da pessoa-
assistente social quanto do conhecimento de que a pessoa-cliente é portadora,
posto que um sem o outro inviabiliza a dialetização crítica e necessária do
conhecimento.
A pessoa-assistente social, na ajuda psicossocial é o “homem total”, sujeito
racional e livre. A proposta de Anna Augusta exige uma metodologia que
possibilite um trabalho em maior profundidade com as personalidades (ser-na-
natureza) e uma fenomenologia que possibilite trabalhar em nível de
entendimento (o serviço-como-pessoa).
A atitude fenomenológica nos faz reconhecer que cada caso é um caso, que a
pessoa-cliente é dependente da posição e da situação em que está inserida,
seja do ponto de vista da percepção do meio social, intelectual, sócio-cultural,
histórico ou religioso. Torna-se necessário então, admitir o fenômeno, o que é
dado, sem preconceitos, teorias ou juízos de espécie alguma, observando que,
a cada retorno, a pessoa-cliente traz uma nova situação, cheia de significados
e, portanto, sendo preciso recomeçar com a pessoa-cliente, ouvi-la, entendê-la,
e não tentar enquadrá-la nesta ou naquela teoria.
A Fenomenologia não apresenta uma proposta finalística para os problemas
sociais nem para os problemas humanos, mas considera que a solução dos
problemas está na pratica, valorizando a intersubjetividade das consciências –
que é de onde a pessoa-cliente e a pessoa-assistente social têm projetos e
aspirações – e buscando encontrar a essência através da experiência.
O homem é visto, segundo a Fenomenologia, como ser individual, e único
capaz de construir-se, considerando que o próprio homem, ou seja, a pessoa-
cliente, ao interpretar os problemas por ela vividos, pode encontrar
possibilidades, ela própria, para resolver os mesmos.
A Fenomenologia enfatiza a importância do (que foi) vivido, pois tanto a
pessoa-cliente quanto a pessoa-assistente social estão inseridos na relação e a
influenciam com significados que trazem da vida cotidiana, ou seja, com a
interpretação que fazem de si e de seu mundo.
A pessoa-assistente social deve tentar entender a pessoa-cliente, para que,
juntos, possam experiênciar a descoberta da verdade. Nessa busca pelo
entendimento, surge o diálogo, como instrumento de trabalho, estabelecendo a
relação em que tanto a pessoa-assistente social quanto a pessoa-cliente estão
problematizando algo. Ressaltando que se faz necessário entender qual
significado as situações possuem para a pessoa-cliente, rejeitando as idéias
prontas e tendo em vista que todo momento em que estamos em contato com
o outro indicará possibilidades construídas a dois, através do diálogo e da
reflexão.
Assim, a Fenomenologia seria um caminho que nos possibilitaria entender
antes de julgar ou explicar; que nos ajudaria a acolher o outro e com ele buscar
o crescimento, através do diálogo e da reflexão, meios tais que farão com que
a pessoa-assistente social e a pessoa-cliente tragam elementos novos à
consciência, que ajudarão a explicar a situação problema.
A pessoa-assistente social que segue a orientação fenomenológica não dirá à
pessoa-cliente como é o mundo, mas sim, quererá saber o que essa pessoa-
cliente pensa do mundo, pois essa pessoa-assistente social acredita que existe
uma diferença de individuo para individuo e, portanto, havendo concepções
variadas sobre o mundo, a realidade é um fenômeno subjetivo. A pessoa-
assistente social passa a ser, então, uma viabilizadora das condições que leva
a pessoa-cliente a perceber que é capaz de conhecer sua realidade, de refletir
sobre ela e de transformá-la, pois agora ela é capaz de questionar o que
conhece e, por tudo isso, entende a realidade. É necessário salientar que, além
dessa capacidade de refletir, o homem também possui capacidade de reter o
que aprendeu usar este conhecimento posteriormente e não deixá-lo “parado”,
imutável, e sim sempre acrescentar algo de novo que o ajudará no continuo
processo de aprendizagem e crescimento.
A pessoa-assistente social deve estar disposta a “trazer à tona” o significado da
experiência vivida com a pessoa-cliente, buscando a essência daquilo que ela,
a pessoa-assistente social, viveu, para poder esboçar um projeto futuro, não
encarando a pessoa-cliente como pronta, acabada e marcada pelo seu
passado, e sim a deixando livre para decidir entre as suas possibilidades.
Apesar de estar em contato com o subjetivo da pessoa-cliente, a pessoa-
assistente social deve manter seu rigor cientifico, despojando-se de tudo aquilo
que lhe foi incutido como certo e pré-estabelecido, deste modo estando pronta
para ajudar a pessoa-cliente a desenvolver todas as suas potencialidades,
através do diálogo educativo.
Mas o dialogo concebido por Anna Augusta não é apenas isso. Existe algo
mais. Para que se entenda de que diálogo estamos falando, precisamos fazer
duas importantes distinções:
v Compreender x Entender: quando alguém compreende um outro, significa
dizer que este alguém simplesmente decodificou signos concretos – letras,
palavras, estruturas frasais etc. – para o pensamento, tendo conhecimento
apenas do que o outro diz, conforme o que ele diz com as palavras. ‘Entender’
é muito mais que ‘compreender’. É compreender e, além disso, sentir o mesmo
que o emissor sentiu no momento em que ele falou ou escreveu. É ter atenção,
interesse, envolvimento, identidade com que o outro diz.
v Expor x Fazer entender: É a mesma dualidade compreender x entender, só
que no sentido inverso. ‘Expor’ é simplesmente o processo de se fazer
compreendido. Enquanto que ‘fazer entender’ é quando, ao falar ou escrever,
doa-se sentimento, emoção, conseguindo o envolvimento do ouvinte, fazendo-
o ‘entender’ e fazendo com que ele aprenda verdadeiramente.
Partindo dessas duas dualidades, podemos também entender o que é
comunicação. Comunicação nada mais é do que a troca ‘fazer entender-
entender’. Não é troca apenas intelectual, e sim intelectual e emocional. A troca
‘exposição-compreensão’ não é verdadeira comunicação, posto que os homens
não são constituídos apenas de intelecto.
Outra dualidade que tem estreita relação com os conceitos anteriores é a
dualidade ‘relação x encontro’. Devemos saber que tanto a ‘relação’ quanto o
‘encontro’ são conceitos carregados de afetividade pelo menos na perspectiva
fenomenológica aplicada ao Serviço Social. Depois, devemos saber que o
‘encontro’ é englobado pela ‘relação’, ou seja, a ‘relação’ é constituída por
vários ‘encontros’. A pessoa-assistente social deve estar consciente de que em
cada ‘encontro’ é uma nova oportunidade de entender a pessoa-cliente, assim,
constituindo um relacionamento de ajuda.
A ajuda, por sua vez apenas se dá quando se põe em vivencia todos esses
aspectos mencionados anteriormente, fazendo com que a pessoa-cliente,
através do dialogo, aprenda, transformando-se e, por conseguinte, encontrando
e realizando as soluções para os seus problemas.
A ajuda é capacitar a pessoa-cliente, desenvolvendo suas próprias
potencialidades. Consciente dessa realidade, a pessoa-assistente social não se
pergunta “como ajudar?”, e sim, “como educar?”. A ‘educação’ se dará através
do dialogo, cujo interlocutor deve ter a intenção de se colocar no lugar do outro,
durante o dialogo. A realização desta intenção implica a renúncia de todas as
prenoções, os preconceitos, as pré-compreensões etc., para entrar no mundo
da pessoa-cliente, descobrindo todas as singularidades que a fazem diferente
de outras pessoas-cliente.
No método dialógico, a relação não se dá entre o sujeito pessoa-assistente
social e seu objeto pessoa-cliente, e sim, dá-se entre duas pessoas, dois
sujeitos.
Após esses esclarecimentos iniciais, podemos colocar que há quatro condições
necessárias para que se dê o conteúdo educativo da relação de ajuda.
A primeira delas é o reconhecimento, por parte dos Assistentes Sociais, de que
a pessoa-cliente quer procurar a solução para seus problemas e quer resolvê-
los.
A segunda condição é chamada de congruência, e pressupõe uma pessoa-
assistente social verdadeira no que diz, no seu apoio, no seu interesse. Essa
condição a pressupõe verdadeiramente dialógica, e não pseudo-dialógica. Ela
é ela mesma, não podendo, desta forma, ser neutra ou despossuída de
experiências pessoais.
Na verdade, não existe neutralidade técnica, tampouco subjetiva. É impossível
a separação do eu pessoal do eu profissional. Consciente disso, a pessoa-
assistente social deve dar um bom uso a essa realidade: deve adquirir auto-
conhecimento, a fim de participar na relação, transformando e se deixando
transformar.
A terceira condição para a aprendizagem é a ‘aceitação’ total da pessoa-
cliente, do jeito como ela é. Para completar a ‘aceitação’, a quarta condição é a
compreensão, que deve se realizar em três tipos:
1. Em seu primeiro tipo, a compreensão é ‘saber sobre a pessoa’, ler sobre ela,
ouvi-la, observá-la etc.
2. O segundo tipo de compreensão consiste em entender a pessoa ‘através de
nós mesmos’, utilizando a intencionalidade de nossas consciências. “Trata-se
de usar a nossa percepção, nossos sentimentos, nosso pensamento para
experimentar a significação que o outro vivencia”. [1]
3. O terceiro tipo de compreensão baseia-se na ‘empatia’, que é a captação do
“mundo particular do paciente como se fosse seu próprio mundo, mas sem
nunca esquecer esse caráter de ‘como se”[2].De posse desse três tipos de
compreensão, afirma-se novamente que não existe comunicação sem
compreensão, no sentido de entendimento. Dizemos que o conteúdo educativo
se deve sobretudo à atitude fenomenológica, que busca as essências de cada
homem ou objeto. Em Serviço Social, a Fenomenologia nos mostrou o quão
importante e viabilizador é a realidade subjetiva de cada pessoa-cliente, que
permite o conhecimento daquele ser, depois sua transformação, possibilitada
pela aprendizagem, pelo conteúdo educativo, que por sua vez, deu-se através
do método dialógico.
PROPOSTA DE AÇÃO FENOMENOLÓGICA
No Serviço Social o processo fenomenológico busca abordar os
problemas sociais do indivíduo, do grupo, das instituições a partir do encontro
do sentido originário da fenomenologia que fundamenta maneiras específicas
de vivenciar o mundo, permitindo compreender (não explicar) comportamentos
e atuações sociais. Para Husserl, “a essência é encontrada a partir das
vivências intencionais fundamentais”. Para se alcançar a essência parte-se da
percepção concreta e vivida da coisa, assim como de sua representação pela
imaginação. Esse processo exige um conhecimento mútuo entre assistente
social e cliente ao nível de compreensão que supõe a descrição do vivido, a
descoberta do sentido do vivido, a caracterização da estrutura do vivido.
Apresenta-se uma proposta metodológica, baseada na fenomenologia, cujo
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marco referencial é constituído pelos conceitos de diálogo, Pessoa e
transformação.
Diálogo – assistente social e cliente desenvolvem uma interação baseada
na percepção e na forma de consciência que dará origem a um projeto a partir
da SEP (Situação Existencial Problematizada). O diálogo deve constituir-se em
um processo gerador de transformação social.
Pessoa – pessoa é o homem total, sujeito, logo racional e livre.O
desenrolar metodológico requer a elaboração de um “insight” psicanalítico que
oportunize um trabalho em maior profundidade (ser-na-sua-natu-reza) e uma
fundamentação teórico-metodológica que possibilite trabalhar em nível de
compreensão(ser-como-pessoa). O procedimento metodológico dá-se em cinco
movimentos exercidos no diálogo.
1º momento – Colocação de uma SEP como fenômeno social.
2º momento – Análise crítica dessa SEP.
3º momento – Síntese crítica da SEP gerada pelo conhecimento constituído na
análise.
4ºmomento – Construção do projeto de transformação.
5ºmomento – Retorno reflexivo (questionar os resultados comparando o que foi
alcançado com o que se pretendia alcançar). Para a autora, a experiência deve
conduzir a uma tomada de consciência crítica de necessidades novas, de
exigências de novas opções. O agir profissional sempre acontece embasado
por um método científico, e que norteia a práxis, influenciando, diretamente a
ação profissional.
A TEORIA POSITIVISTA
Identificou na sociedade dois movimentos vitais: chamou de dinâmico
o que representava a passagem para formas mais complexas de existência,
como a industrialização; e de estático o responsável pela preservação dos
elementos permanentes de toda ORGANIZAÇÃO SOCIAL. As instituições
que mantêm a coesão e garantem o funcionamento da sociedade – por
exemplo: família, religião, propriedade, linguagem, direito etc. – seriam
responsáveis pelo movimento estático da sociedade. Comte relacionava os
dois movimentos vitais de modo a privilegiar o estático sobre o dinâmico, a
conservação sobre a mudança. Isso significava que, para ele, o progresso
deveria aperfeiçoar os elementos da ordem e não destruí-los.
Assim se justificava a intervenção na sociedade sempre que fosse
necessário assegurar a ordem ou promover o progresso. A existência da
sociedade burguesa industrial era defendida tanto em face dos movimentos
reivindicativos que aconteciam em seu próprio interior quanto em face da
resistência das sociedades agrárias e pré-mercantis em aceitar o modelo
industrial e urbano.
O Positivismo de Comte foi a primeira corrente teórica sistematizada de
pensamento sociológico; a primeira a definir precisamente o objeto, a
estabelecer conceitos e uma metodologia de investigação. Além disso, o
positivismo, ao definir a especificidade do estudo científico da sociedade,
conseguiu distinguir-se de outras ciências estabelecendo um espaço próprio à
ciência da sociedade.
O positivismo derivou do “cientificismo”, isto é,da crença no poder exclusivo
e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma
de leis naturais. Essas leis seriam as bases da regulamentação da vida do
homem, da natureza como um todo e do próprio universo. Seu conhecimento
pretendia substituir as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum
por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade.
Época histórica:
Rápida evolução do conhecimento das ciências naturais – física,
química, biologia;
O visível sucesso de suas descobertas no incremento da produção
material e controle das forças da natureza atraíram os primeiros
cientistas sociais para o seu método de investigação.
Essa filosofia social positivista se inspirava no método de investigação das
ciências da natureza, assim como procurava identificar na vida social as
mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida
natural.
A sociedade era concebida como um organismo constituído de partes
integradas e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo
físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado de ORGANICISMO.
O primeiro princípio teórico é:
A tentativa de constituir seu objeto, pautar seus métodos e elaborar seus
conceitos à luz das ciências naturais, procurando dessa maneira chegar à mesma
objetividade e ao mesmo êxito nas formas de controle sobre os fenômenos
estudados.
O positivismo não apenas afirma a unidade do método científico e o
primado desse método como instrumento cognoscitivo, mas também exalta a
ciência como o único meio em condições de resolver, ao longo do tempo, todos
os problemas humanos e sociais que, até então, haviam atormentado a
humanidade.
Consequentemente, a era do positivismo é época perpassada por otimismo
geral, que brota da certeza de progresso irrefreável, por vezes concebido como
fruto da engenhosidade e do trabalho humano e, por vezes, ao contrário, visto
como necessário e automático rumo às condições de bem-estar generalizado
em uma sociedade pacífica e penetrada pela solidariedade humana.
Os traços socioculturais interpretados pelo Posit ivismo são: uma
substancial estabil idade polít ica, o processo de industrial ização e o
desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Para o Positivismo, o único conhecimento válido é o cientí f ico; o
único método válido para adquiri- lo é o das ciências naturais, que
consiste no encontro de leis causais e em seu controle sobre os fatos, como
único meio capaz de resolver, no curso do tempo, todos os problemas
humanos e sociais anteriormente sofridos pela humanidade e aí está a
sua l igação como Serviço Social.
PONTOS CENTRAIS DA FILOSOFIA POSITIVISTA
1) Diversamente do Idealismo, o Positivismo reivindica o primado da
ciência: nós conhecemos somente aquilo que as ciências nos dão a
conhecer, pois o único método de conhecimento é o das ciências
naturais.
2) Por isso, entendida como ciência dos “fatos naturais” que são as
relações humanas e sociais, a Sociologia é fruto quali f icado do
programa fi losófico posit ivista.
3) O Positivismo não apenas afirma a unidade do método cientí f ico e o
primado desse método como instrumento cognoscitivo, mas também
exalta a ciência como o único meio em condições de resolver, ao
longo do tempo, todos os problemas humanos e sociais que até
então haviam atormentado a humanidade.
Para Comte, no estágio positivo, o homem procura descobrir, “com o uso bem combinado
do raciocínio e da observação”, as leis efetivas “de sucessão e de semelhança” que presidem
ao acontecimento dos fenômenos.
O objetivo da ciência, para Comte, é a pesquisadas leis, e isso por
causa do fato de que “apenas o conhecimento das leis dos fenômenos [...]
pode evidentemente levar-nos na vida ativa a modificá-los para nossa vantagem”
A física social ou Sociologia divide-se em estática social e dinâmica
social. A estática social estuda as condições comuns que permitem a
existência das diversas sociedades no tempo: a sociabilidade fundamental do
homem, a família, a divisão do trabalho e a cooperação nos esforços etc. A lei
fundamental da estática social é a da ligação entre os diversos aspectos da
vida social (político, econômico, cultural etc.).
A dinâmica social compreende o estudo das leis de desenvolvimento da
sociedade. A lei fundamental da dinâmica social é a dos três estágios. Eis um
exemplo: o feudalismo é o estágio teológico; a revolução (que começa com a
Reforma protestante e termina com a Revolução Francesa) é o estágio
metafísico; e a sociedade industrial é o estágio positivo.
JOHN STUART MILL
O pensamento de Mill constitui uma etapa fundamental na história da
lógica e na história da defesa da liberdade dos indivíduos. Mill construiu um
conjunto de teorias lógicas e ético-políticas que marcaram a segunda metade
do século XIX na Inglaterra e que se constituem, até hoje, pontos de referência
e etapas obrigatórias, tanto para o estudo da lógica da ciência, como para a
reflexão dos campos ético e político.
A lógica, afirrma Mill, é a ciência da prova, do modo correto de inferir
proposições de outras proposições. A tese fundamental de Mill é a de que toda
inferência é de particular para particular. Todos os conhecimentos e verdades
são de natureza empírica e se fundam na indução. Para distinguir as
circunstâncias essenciais das não essenciais, Mill propõe o que ele chama de
os quatro métodos da indução: o método direto da concordância, o método da
diferença, o método dos resíduos e o método das variações concomitantes.
Método direto da concordância:
Método indutivo: O método indutivo ou o indutivismo é um método científico
que obtém conclusões gerais a partir de premissas individuais. Trata-se do
método científico mais usual, que se caracteriza por quatro etapas básicas: a
observação e o registro de todos os fatos: a análise e a classificação dos fatos;
a derivação indutiva de uma generalização a partir dos fatos; e a
constatação/verificação.
Significa que, após uma primeira etapa de observação, análise e
classificação dos fatos, apresenta-se uma hipótese que soluciona o problema.
Uma forma de levar a cabo o método indutivo é propor, com base na
observação repetida de objetos ou acontecimentos da mesma natureza, uma
conclusão para todos os objetos ou eventos dessa natureza.
O raciocínio indutivo pode ser completo (assemelha-se ao raciocínio
dedutivo, já que a conclusão não fornece mais informação do que aquela que
dão as premissas) ou incompleto (a conclusão vai mais além das informações
fornecidas pelas premissas; quanto maior a quantidade de informações, maior
é a probabilidade. No entanto, a verdade das premissas não garante a verdade
da conclusão).
Método empirista: Na ciência, o empirismo é utilizado quando falamos no
método científico tradicional, que é originário do empirismo filosófico, que
defende que as teorias científicas devem ser baseadas na observação do
mundo, em vez da intuição ou da fé, como lhe foi passado.
Método investigativo:
Método funcionalista:
Método da observação:
Método da experimentação indireta ou comparação:
Método histórico:
A sociologia positivista de Emile Durkheim
Émile Durkheim seu principal expoente e que estuda a sociedade a partir
dos fatos sociais como eles se apresentam na prática, o que também possibilita
a utilização dos métodos das ciências naturais para análise dos fenômenos
sociais.
Preocupou-se em estudar os fatos sociais como eles ocorrem na
realidade e trabalhou na perspectiva de análise (decomposição dos fenômenos
em suas partes constituintes) e síntese (reconstrução em que se seleciona o
significativo do acessório) dos fatos sociais.
Alguns pontos fundamentais para compreender o pensamento de
Durkheim, cuja base assenta-se em alguns pressupostos ou noções
fundamentais a serem detalhadas adiante:
- Os fatos sociais devem ser tratados como coisas;
- A análise dos fatos sociais exige reflexão prévia e fuga de idéias pré-concebidas;
- O conjunto de crenças e sentimentos coletivos são a base da coesão da sociedade;
- Destaca o estudo da moral dos indivíduos;
- A própria sociedade cria mecanismos de coerção internos que fazem com que
os indivíduos aceitem de uma forma ou de outra as regras estabelecidas (a
explicação dos fatos sociais deve ser buscada na sociedade e não nos
indivíduos– os estados psíquicos, na verdade, são conseqüências e não
causas dos fenômenos sociais).
Em suas convicções ele defendia que os problemas sociais vividos pela
sociedade européia eram de natureza moral e não de fundo econômico e que
estes decorriam devido à fragilidade decorrente de uma longa época de
transição.
Durkheim entendia que a sociedade predomina-ria sobre o indivíduo,
uma vez que ela é que imporia a ele o conjunto de normas de conduta social.
Seu esforço foi voltado para a emancipação da Sociologia em relação às
filosofias sociais, tentando constituí-la como disciplina científica rigorosa, dotada
de método investigativo sistematizado, preocupando-se em definir com clareza o objeto
e as aplicações dessa nova ciência, partindo dos paradigmas e modelos
teóricos das ciências naturais.
Em sua compreensão, a sociedade, como qualquer outro organismo
vivo, passaria por ciclos vitais com manifestação de estados normais e
patológicos, ou seja, saudáveis e mórbidos. O estado saudável seria o de
convivência harmônica da sociedade consigo mesma e com as demais
sociedades, harmonia que se faria pelo consenso social.
O estado mórbido, doentio, seria caracterizado por fatos que colocassem
em risco essa harmonia, os acordos de convivência e, portanto, a adaptação e
a evolução histórica natural da sociedade.
A definição de fato social em Durkheim é: toda maneira de agir, fixa ou não,
suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, que é geral na
extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria,
independente das manifestações individuais que possa ter.
Durkheim defendeu uma postura de absoluto rigor e não envolvimento
frente ao objeto de estudo da Sociologia. Para ele, o comportamento do
cientista social deveria ser de distanciamento e sua posição, de neutralidade
frente aos fatos sociais. Apenas essa atitude é que garantiria objetividade de
sua análise e, portanto, suas bases científicas. Esses fatos deveriam ser encarados
como coisas, objetos exteriores ao pesquisador. Cabia-lhes apenas a
observação, a medição e a comparação dos fenômenos sociais, não
importando o que o próprio pesquisador ou os indivíduos cogitassem ou
afirmassem sobre sua natureza.
Durkheim acreditava que o conhecimento dos fatos sociológicos deve vir de fora, da
observação empírica dos fatos.
Os fenômenos sociais são exteriores aos indivíduos:
A sociedade não seria simplesmente a realização da natureza humana,
mas, ao contrário, aquilo que é considerado natureza humana é, na verdade,
produto da própria sociedade. Os fenômenos sociais são considerados por
Durkheim como exteriores aos indivíduos, e devem ser conhecidos não por
meio psicológico, pela busca das razões internas aos indivíduos, mas sim
externamente a ele na própria sociedade e na interação dos fatos sociais.
Os fatos sociais são uma realidade objetiva:
Para Durkheim, os fatos sociais possuem uma realidade objetiva e,
portanto, são passíveis de observação externa. Devem desta forma, ser tratados
como “coisas”.
O grupo (e a consciência do grupo) exerce pressão (coerção) sobre o individuo:
Durkheim inverte a visão filosófica de que a sociedade é a realização de
consciências individuais. Para ele, as consciências individuais são formadas
pela sociedade por meio da coerção. A formação do ser social, feita em boa
parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas,
princípios morais, religiosos, éticos, de comportamento etc., que balizam a
conduta do indivíduo na sociedade. Portanto, o homem, mais do que formador
da sociedade, é um produto dela.
O fato social é tudo o que se produz na e pela sociedade, ou ainda,
aquilo que interessa e afeta o grupo de alguma forma (Idem, p. 28).Os fatos sociais,
para Durkheim, existem fora e antes dos indivíduos (fora das consciências
individuais) e exercem uma força coercitiva sobre eles (ex. as crenças, as
maneiras de agir e de pensar existem antes dos indivíduos e condicionam
coercitivamente o seu comportamento).
Para Durkheim, o fato social é um resultado da vida comum, e ele propõe
isolá-los para estudá-los. Desta forma, a Sociologia deveria preocupar-se
essencialmente com o estudo dos fatos sociais, de forma objetiva e científica.
Para Durkheim, a observação dos fatos sociais deveria seguir algumas regras, como:
a) Os fatos sociais devem ser tratados como COISAS. Para Durkheim,
“é coisa tudo aquilo que é dado, e que se impõe à observação”. Nem a existência da
natureza humana, nem o sentido de progresso no tempo, como admitia
Comte,por exemplo, fazia sentido, segundo Durkheim,dentro do método sociológico.
Eles são uma concepção do espírito. Durkheim, neste sentido, é essencialmente
objetivista, empirista e indutivista, ao contrário de Comte, o fundador da
Sociologia, que era considerado por ele como subjetivista e filosófico.
b) Uma segunda concepção importante no método sociológico de
Durkheim é de que, para ele,o sociólogo, ao estudar os fatos sociais, deveria
despir-se de todo o sentimento e toda a pré-noção em relação ao objeto.c)
Terceiro, o pesquisador deveria definir precisa-mente as coisas de que se trata o
estudo, a fim de que se saiba, e de que ele saiba bem o que está em questão e
o que ele deve explicar.
d) E, quarto, a sensação, base do método indutivo e empirista, pode ser subjetiva. Por isto, dever-
se-ia afastar todo o dado sensível que corra o risco de ser demasiado pessoal
ao observador.
Ele define saúde como a perfeita adaptação do sujeito ao seu meio, e doença
como tudo o que perturba esta adaptação.
Mostrar como um fato é útil não explica como ele surgiu nem como ele é o que
é (Idem, p. 92). Para explicar um fenômeno social é preciso pesquisar
separadamente a causa eciente que ele produz e a função que ele cumpre (Idem,
p. 97). Apesar disso, para explicar um fato de ordem vital não basta explicar a
causa da qual ele depende, é preciso também ao menos na maior parte dos
casos, encontrara parte que lhe cabe no estabelecimento desta harmonia geral
(Idem, p. 99).
P a r a D u r k h e i m , a o i n v é s d e b u s c a r a c a u s a d o s f a t o s s o c i a i s n o s f i n s o u n a f u n ç ã o q u e e l e d e s e m p e n h a , “ a c a u s a d e t e r m i n a n t e d e u m f a t o s o c i a l d e v e s e r b u s c a d a e n t r e o s f a t o s s o c i a i s a n t e c e d e n t e s , e n ã o e n t r e o s e s t a d o s d e c o n s ciências individuais”. Por outro lado, “a função d e u m f a t o s o c i a l d e v e s e m p r e s e r b u s c a d a n a r e l a ç ã o q u e e l e m a n t é m c o m a l g u m f i m s o c i a l ” ( I d e m , p . 1 1 2 ) .
Sobre a relação de causalidade:
Dado que do fato social primeiro deve se buscaras causas para
depois explicar-lhe as conseqüências (ou seja, não se pode deduzir a
causa da sua conseqüência), deve-se ter, então, rigor científico na
explicação causal. Assim, para Durkheim só existe um meio de demonstrar que
um fenômeno é causa de outro: comparar os casos em que eles estão
simultaneamente presentes ou ausentes e examinar se as variações que
apresentam nessas diferentes combinações de circunstâncias testemunham
que um depende do outro (p. 127).
Ora, este é um método que advoga a observação e o estudo estatístico do fato e dos
fatores que hipoteticamente podem lhe ser causadores, para que se possa estabelecer
correlação entre eles. Para Durkheim, em razão da natureza dos fatos, os métodos científicos
que decorriam desta concepção dividiam-se em dois grupos:
a) experimentação, quando os fatos podem ser artificialmente produzidos pelo observador; e
b) experimentação indireta ou comparação quando os fatos se produzem espontaneamente e não podem ser produzidos pelo observador.
Como se pode observar, o método para se estabelecer a causalidade
em Sociologia, para Durkheim,seria a Experimentação Indireta ou
Comparação. Comte também uti l izava o método da comparação,
mas a este ele adicionou o método histórico, pois ele t inha que
buscar a f inalidade e a evolução dos fenômenos, ou seja, o sentido
de progresso. Isto, para Durkheim, não tinha sentido em
Soc i o l o g i a .
Segundo a sua concepção de causalidade, a um efeito
corresponderia sempre uma mesma causa. Assim, se um fato tem mais de
uma causa, então ele não é um fato único. Durkheim dá o exemplo do
suicídio: se o suicídio depende de mais de uma causa, é porque, na
verdade, existem várias espécies de suicídio (ele identi f icou três t ipos,
que decorriam de causas distintas, o suicídio egoísta, o altruísta e
o anômico).