Post on 25-Nov-2015
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
Curso de Engenharia Civil
Lucas Fernando Krug
MANIFESTAES PATOLGICAS EM EDIFICAO
CONSTRUDA NA DCADA DE 1930 UM ESTUDO DE
CASO
Iju/RS
2006
Lucas Fernando Krug
MANIFESTAES PATOLGICAS EM EDIFICAO
CONSTRUDA NA DCADA DE 1930 UM ESTUDO DE
CASO
Trabalho de Concluso de Curso de Engenharia Civil apresentado como requisito parcial para obteno do grau de Engenheiro Civil.
Iju
2006
1
FOLHA DE APROVAO
Trabalho de concluso de curso defendido e aprovado em sua
forma final pelo professor orientador e pelos membros da banca
examinadora.
___________________________________________
Prof. Lus Eduardo Azevedo Modler, M. Eng - Orientador UNIJU/DeTec
Banca Examinadora
___________________________________________ Prof. Luciano Pivoto Specht, Dr.
UNIJU/DeTec
___________________________________________
Prof. Cristina Eliza Pozzobon, M. Eng. UNIJU/DeTec
2
DEDICATRIA
Aos meus pais e meu irmo.
3
AGRADECIMENTOS
Desejo expor os mais sinceros agradecimentos a todos que de alguma forma auxiliaram na
realizao deste trabalho. Seja atravs da orientao tcnica, seja atravs do incentivo apoio,
amizade e compreenso pelos momentos difceis.
Mesmo correndo o risco de um indesculpvel esquecimento, fao alguns agradecimentos
em especial:
Aos meus pais Hlio e Rosana e ao meu irmo Gilmar, pelo apoio, incentivo e pela
compreenso. Saibam que amo muito vocs.
Aos meus professores pela realizao de mais uma etapa e pela formao
carinhosamente dada ao longo desses anos.
A minha namorada Caroline pela compreenso e pelo carinho principalmente nas horas
difceis.
Aos amigos e colegas Mrcio e Juarez que se fizeram ao longo desses anos como
irmos.
Aos funcionrios Luiz, Salete, Cludia e Jamile pelas longas conversas que
proporcionaram nimo e fora para esta realizao.
Por fim agradeo a DEUS por estar sempre ao meu lado.
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RESUMO
Ao analisarmos historicamente a evoluo das construes percebe-se grandes diferenas,
tanto em termos de materiais como de tcnicas utilizadas. Percebe-se tambm que as
estruturas como um todo tenderam a se tornar mais esbeltas a bem de absorver, com melhor
desempenho, as movimentaes oriundas de causas diversas como recalque de fundao,
excesso de carga na utilizao e demais situaes. As edificaes mais antigas possuem
paredes mais espessas, que por sua vez no absorvem movimentaes sem apresentar fissuras
seguidas do colapso, devido grande rigidez que apresentam. O objetivo deste trabalho
estudar e analisar patologias existentes em uma edificao escolar construda na dcada de
1930, apontando possveis causas, mecanismos de degradao e, ainda, solues que podem
ser utilizadas para o prolongamento da vida til do prdio. O trabalho inicia com a elaborao
de estudos preliminares, como reconhecimento geral do local atravs de regraficao de
projeto arquitetnico (planta baixa), e anlise preliminar da edificao. A etapa seguinte
baseia-se no levantamento de dados, utilizando fotografias das patologias, mapeamento destas
na planta baixa, entrevistas com ocupantes da edificao e descrio dos problemas
visualizados. Aps esta etapa, os dados so organizados a partir dos registros fotogrficos das
manifestaes patolgicas, bem como da localizao na planta baixa e descrio tcnica dos
fenmenos. De posse disso, realizou-se a identificao de possveis causas das patologias e
foram descritos os mecanismos de atuao destas. A partir destes dados foram elaboradas
sugestes de exames complementares mais precisos, bem como a anlise e apontamentos de
conseqncias da falta de interveno imediata e, por fim, solues para as patologias.
Palavras-chaves: manifestaes patolgicas, diagnstico, terapia.
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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Rotina tcnica para diagnstico de uma patologia..................................................14 Figura 2 Fluxograma explicativo da organizao da pesquisa de Lersch (2003)..................15 Figura 3 Fluxograma de atuao para resoluo de problemas patolgicos .........................16 Figura 4 Fases do desempenho de uma edificao histrica .................................................19 Figura 5 Lei de evoluo dos custos conforme Sitter (1984) apud Helene (1992) ...............19 Figura 6 Origem dos problemas patolgicos com relao as etapas de produo e uso das
obras civis segundo Grunau (1981) apud Helene (1992) .................................................22 Figura 7 Fluxograma do desenvolvimento da pesquisa.........................................................28 Figura 8 Planta de Situao ...................................................................................................31 Figura 9 Planta Baixa 1 pavimento......................................................................................32 Figura 10 Planta Baixa 2 pavimento....................................................................................32 Figura 11 Vista frontal da edificao ....................................................................................33 Figura 12 Vista da parte de trs da edificao.......................................................................33 Figura 13 Parede externa da ala sul.......................................................................................34 Figura 14 Parede externa da ala norte ...................................................................................35 Figura 15 Escada externa da ala norte ...................................................................................37 Figura 16 Esquema bulbo de tenses sobre os poos sumidouros ........................................37 Figura 17 Ala norte externa frontal .......................................................................................38 Figura 18 Paredes da ala norte externa frontal ......................................................................38 Figura 19 Escavao prxima a parede da ala norte .............................................................39 Figura 20 Ala norte externa ...................................................................................................40 Figura 21 Alicerce da ala norte..............................................................................................41 Figura 22 Parede externa frontal ...........................................................................................41 Figura 23 Paredes externas do lado leste...............................................................................43 Figura 24 Paredes do 2 pavimento, externas da ala norte....................................................44 Figura 25 Paredes externas da parte leste..............................................................................45 Figura 26 Paredes da ala sul ..................................................................................................46 Figura 27 Parede do corredor da ala sul ................................................................................46 Figura 28 Piso em frente a cozinha na ala sul .......................................................................47 Figura 29 Banheiro da ala sul................................................................................................48 Figura 30 Laje da ala norte ....................................................................................................49 Figura 31 Sala de aula da ala norte........................................................................................50 Figura 32 Paredes da sala de aula da ala norte ......................................................................50 Figura 33 Banheiro do 2 pavimento na ala norte .................................................................52 Figura 34 Sala de depsito ....................................................................................................53 Figura 35 Corredor e banheiro na ala norte...........................................................................54 Figura 36 Cargueira para cravao de estacas prensadas ......................................................56 Figura 37 Cravao de estacas com reao contra a estrutura existente ...............................57 Figura 38 Sees de corte de estacas injetadas......................................................................58 Figura 39 Seo da fundao com material granular confinado. ..........................................59 Figura 40 Execuo das estacas.............................................................................................60 Figura 41 Execuo dos blocos .............................................................................................61 Figura 42 Execuo das gravatas...........................................................................................61
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SUMRIO
1 INTRODUO .....................................................................................................................8 1.1 TEMA..................................................................................................................................8 1.2 DELIMITAO DO TEMA.....................................................................................................8 1.3 FORMULAO DAS QUESTES DE ESTUDO ..........................................................................8 1.4 DEFINIO DOS OBJETIVOS.................................................................................................8
1.4.1 Objetivo geral ...........................................................................................................8 1.4.2 Objetivos especficos ................................................................................................8
1.5 JUSTIFICATIVA....................................................................................................................9 1.6 SISTEMATIZAO DO ESTUDO...........................................................................................10
2 REVISO DA LITERATURA ..........................................................................................11 2.1 PATOLOGIAS.....................................................................................................................11
2.1.1 Histrico dos estudos .............................................................................................11 2.1.2 Conceitos importantes ............................................................................................12 2.1.3 Mtodos de diagnstico ..........................................................................................14 2.1.4 Classificao ..........................................................................................................17 2.1.5 Custo agregado de uma patologia .........................................................................18
2.2 MANIFESTAES PATOLGICAS E SUAS ORIGENS .............................................................20 2.2.1 A etapa de projeto ..................................................................................................23 2.2.2 A etapa de execuo ...............................................................................................23 2.2.3 Os materiais de construo ....................................................................................24 2.2.4 A etapa de utilizao da edificao........................................................................24
2.3 EDIFCIOS HISTRICOS E SEUS PRINCIPAIS FATORES DE DEGRADAO..............................24
3 METODOLOGIA................................................................................................................27 3.1 CLASSIFICAO................................................................................................................27 3.2 PLANO DE COLETA DE DADOS ...........................................................................................27 3.3 MATERIAIS UTILIZADOS....................................................................................................27 3.4 ORGANIZAO GERAL DA PESQUISA.................................................................................28 3.5 MATERIAIS DE ANLISE E INTERPRETAO DE DADOS......................................................29
4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS .............................................30 4.1 DESCRIO DO LOCAL DO ESTUDO DE CASO .....................................................................30 4.2 REGRAFICAO DO PROJETO ARQUITETNICO.................................................................31 4.3 SITUAO GERAL DA EDIFICAO ....................................................................................32 4.4 DESCRIO DAS MANIFESTAES PATOLGICAS ENCONTRADAS .....................................34 4.5 SOLUES PROPOSTAS......................................................................................................55
4.5.1 Manifestaes causadas pelo recalque e deformao da fundao.......................55 4.5.2 Manifestaes patolgicas no revestimento...........................................................62 4.5.3 Manchas de umidade, mofo, bolor e eflorescncias...............................................63 4.5.4 Descolamento do revestimento da moldura e apodrecimento de calhas pluviais..63
5 CONSIDERAES FINAIS..............................................................................................64 5.1 EXAMES COMPLEMENTARES E CONSEQNCIAS PELA FALTA DE INTERVENO ...............64 5.2 CONCLUSES....................................................................................................................66 5.3 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ..........................................................................67
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REFERNCIAS .....................................................................................................................68
ANEXO A PROJETO REGRAFICADO..........................................................................71
ANEXO B PROJETO REGRAFICADO COM LOCALIZAO DAS FOTOS ........74
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1 INTRODUO
1.1 Tema Patologias em edificaes.
1.2 Delimitao do Tema Estudo de caso de manifestaes patolgicas em edificao construda na dcada de 1930.
1.3 Formulao das questes de estudo Quais fatores so responsveis pelas possveis causas do surgimento das manifestaes
patolgicas observadas na edificao? Quais so as causas identificveis do problema?
1.4 Definio dos objetivos
1.4.1 Objetivo geral Realizar estudo sobre as manifestaes patolgicas existentes na escola Estadual Ruy
Barbosa no centro da cidade de Iju/RS.
1.4.2 Objetivos especficos
Fazer caracterizao detalhada das manifestaes patolgicas existentes, bem como sua localizao na edificao;
Identificar possveis causas do surgimento destas patologias; Identificar os mecanismos de ocorrncia das patologias existentes; Indicar mtodos de recuperao ou restaurao da edificao como um todo.
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1.5 Justificativa
Ao se analisar, historicamente, a evoluo das construes percebe-se grandes diferenas
tanto em termos de materiais como de tcnicas utilizadas, alm disso, percebe-se que as
estruturas como um todo, tenderam a tornar-se mais flexveis (OLIVEIRA 1997),
possibilitando o surgimento de defeitos e patologias, sem causar a runa da edificao.
Os fenmenos patolgicos podem trazer consigo no somente defeitos estticos e de
satisfao do usurio, mas tambm funcionais, podendo causar a runa parcial ou total de
edificaes.
Um defeito gera custos que variam de forma exponencial com o tempo, ou seja, quanto
mais tarde for tratada, maior ser o custo agregado, tanto para o usurio quanto para o
construtor.
A falta de compilao de dados regionais ou de maior amplitude, que cataloguem os
fenmenos patolgicos ocorridos, informando a etapa em que ocorrem, os mecanismos
responsveis e tambm como recuper-los, ou at mesmo evit-los, durante o processo
construtivo, torna o processo de preveno das patologias mais difcil acarretando na
repetio de erros que poderiam ser evitados.
Logo, a formao de um banco de dados sobre patologias, bem como a terapia necessria
a cada tipo, poderia evitar seu aparecimento, ou ainda mostrar a melhor forma de recuperar
determinada patologia.
Diante disso, torna-se atraente a realizao de trabalhos na rea, sobre uma abordagem de
estudo de caso, compilando dados sobre patologias existentes, identificando possveis causas,
bem como a terapia ideal a ser empregada em cada caso, contribuindo para a formao de um
banco de dados local sobre o assunto.
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1.6 Sistematizao do estudo
O trabalho apresenta a seguinte estrutura:
No presente captulo apresenta-se a introduo, delimita-se o tema, formula-se a questo
de estudo, define-se objetivos geral e especficos e justifica-se a realizao deste trabalho.
No captulo 2 realiza-se a reviso da literatura sobre o tema abordando aspectos como, o
histrico de estudos de patologias, conceitos e terminologia, comentrios sobre maneiras
distintas de diagnosticar patologias, classificao destas patologias, bem como razes de
origem, o custo agregado de sua ocorrncia e as fases importantes para evit-las.
No captulo 3, se explica a metodologia e a organizao geral do trabalho.
O captulo 4 apresenta os resultados obtidos e o captulo 5 as consideraes finais sobre o
trabalho.
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2 REVISO DA LITERATURA
2.1 Patologias
2.1.1 Histrico dos estudos
Conforme Oliveira (1997) com a evoluo, ao longo do tempo, as edificaes de alvenaria
deixaram de ser pesadas e rgidas, e tornaram-se mais delgadas e executadas com processos
de produo mais racionalizados e industrializados. Tal processo de evoluo trouxe consigo
falhas, gerando problemas que originam patologias influenciando nas exigncias do usurio
tanto em segurana quanto em habitabilidade e economia.
Thomaz (1990) complementa que, na busca de alvos ideais como materiais leves,
resistentes, durveis e de baixo custo, surgiram com maior freqncia, problemas de falhas de
construo.
Sarkis (1995) e Cavalheiro (1995) afirmam que os acidentes com as estruturas das
construes acontecem, provavelmente, desde que as prprias construes existem, e que
estes acidentes eram encarados de maneira distinta pela poca e local de cada sociedade.
Segundo Cavalheiro (1995), o primeiro tratado sobre patologias foi o cdigo de
Hamurabi,- 1800 a. C. na Mesopotnia, que possua cinco regras para se evitar defeitos:
1 Se o colapso causar a morte do dono da casa, o construtor dever morrer.
2 Se morrer o filho do dono, o filho do construtor dever morrer.
3 Se um escravo do dono morrer, o construtor dever dar um escravo de igual valor.
4 Se a propriedade for destruda, o construtor dever restaur-la por sua prpria
conta.
5 Se o construtor fizer a casa fora das especificaes e uma parede ameaar
desmoronar o reforo ser por conta do construtor.
Conforme Oliveira (2001) apud Lercsh (2003), alguns manuscritos de Leonardo Da Vinci
baseavam-se em interpretaes e observaes sobre diagnstico do comportamento esttico
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de edifcios, causas, leses dos muros e abbadas, comprovando a existncia de uma cincia
de conservao.
Percebe-se que existem registros, embora remotos, de que a patologia h muito tempo
recebe ateno. Mas, conforme Sarkis (1995), somente com o grande incremento da
construo civil aps a 2 grande guerra houve evoluo tcnica, principalmente do concreto
armado, o que propiciou o surgimento de tentativas de classificao de defeitos e designao
desta nova cincia. Afirma, ainda, que os estudos sobre o tema tiveram fomento na dcada de
60, incentivado pelas companhias seguradoras na Europa Ocidental. Pois as seguradoras
incentivavam a elaborao de dossies e sua divulgao relatando e analisando acidentes com o
intuito de difundir conhecimentos que aprimorassem tcnicas nas novas obras a fim de
diminuir a incidncia de acidentes e, consequentemente, indenizaes.
2.1.2 Conceitos importantes
Este item tem como objetivo apresentar conceitos importantes utilizados ao longo do
trabalho, necessrios a abordagem do tema Patologia das Edificaes. So eles:
Sintomatologia: Conforme Sarkis (1995) e Cavalheiro (1995), o conjunto de
manifestaes que indicam a existncia de algum defeito ou mal funcionamento da estrutura
ou da edificao.
Exame preliminar: para Sarkis (1995), tambm chamado de exame ocular, so
observaes visuais da estrutura, fazendo-se um levantamento sistemtico das anomalias.
Anamnese: conforme Cavalheiro (1995) o levantamento de dados histricos da
edificao como, cronograma de obra, dirio, informaes sobre o processo construtivo,
alteraes de projeto entre outros.
Exames Complementares: so exames realizados nos materiais da estrutura, podendo ser
destrutivos ou no (SARKIS, 1995).
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Diagnstico: a determinao das causas, mecanismos de formao e da gravidade do
problema, baseando-se na observao dos sintomas ou estudos especficos (THOMAZ, 1990).
Para Helene (1992), um diagnstico adequado do problema deve indicar a etapa do processo
de construo em que se originou o fenmeno.
Prognstico: para Thomaz (1990), prognstico so as avaliaes, baseadas no diagnstico,
tendo em vista a durao, evoluo ou trmino do problema.
Teraputica: para Cavalheiro (1995), teraputica basicamente a recuperao das falhas
detectadas, ou seja, um conjunto de medidas podendo ser reformas, recuperaes ou reforos
destinados soluo do problema.
Profilaxia: Conforme Sarkis (1995) o conjunto de medidas para se evitar defeitos, nas
diversas fases da execuo, desde o projeto at a manuteno da edificao, e representada
pelos diversos tipos de controle de qualidade e de utilizao.
Agente: Thomaz (1995) afirma que agente o causador imediato do problema.
Ainda, o termo patologia tal como na medicina, conforme Peres (2001), divide-se
claramente em duas cincias destinadas a prevenir e solucionar problemas em edificaes:
Patologia das Construes: que estuda origens, causas, mecanismos de ocorrncia bem como manifestaes e conseqncias quando uma edificao
no demonstra mais o desempenho esperado.
Terapia das Construes: so estudos que tratam da correo dos problemas detectados.
Para Helene (1992) patologia a parte da engenharia destinada aos estudos de sintomas,
causas e origens de defeitos nas construes.
Tendo em vista estes conceitos conclui-se que o termo patologia erroneamente utilizado
para designar um defeito; Pois sendo patologia uma rea de estudo da engenharia, ento
correto afirmar que um defeito deve ter como sinnimo manifestao patolgica ou ainda
fenmeno patolgico e no patologia, sendo este o enfoque que ser dado neste trabalho.
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2.1.3 Mtodos de diagnstico
Segundo Lersch (2003), a cincia do restauro vai alm de trabalhos preliminares de
levantamentos mtricos e de sua graficao. Faz-se importante o conhecimento de fatores que
degradam as edificaes e muitas vezes o levam runa. Faz-se importante, tambm, o
conhecimento de mecanismos causadores dos danos, promovendo meios e mtodos de
preveno e tomadas de deciso de possveis intervenes. Lersch (2003) afirma ainda que,
sem o conhecimento das causas, no h condies de se determinar critrios ou mtodos de
interveno. Portanto importante a elaborao de um cadastro de leses ou fenmenos, e o
mapeamento destas, contribuindo para a elaborao de um diagnstico correto.
A mesma autora afirma que, pela deficincia de bibliografia e tcnicos habilitados para a
compreenso de aspectos sobre fenmenos de deteriorao, torna-se ainda mais complexo o
diagnstico visto que os sintomas de uma fenmeno podem ser similares, mas podem ser
atribudo a causas diferentes que atuam simultaneamente, ou at que uma determinada causa
origine mais de um defeito.
Sarkis (1995) esboa atravs de um fluxograma (Figura 1) a rotina tcnica a ser adotada
frente a um caso de manifestao patolgica:
Figura 1 Rotina tcnica para diagnstico de uma patologia
Fonte: SARKIS (1995)
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Percebe-se uma seqncia lgica de diagnstico, pois inicia-se com a observao dos
sintomas passando por uma avaliao do colapso da edificao, realizao de exames
detalhados juntamente com histrico da edificao e possveis terapias para as patologias.
Outra metodologia parecida usada por Luca (1997), que sintetiza um diagnstico em
cinco partes:
Definio das caractersticas estruturais, como materiais e dimenses; Ensaios de controle, atravs de inspeo ocular sobre o estado de conservao; Clculos de verificao analtica com uso de cargas teis de servio; Por fim uma anlise das causas, eliminao das mesmas e reparao ou reforo da
edificao.
A metodologia a ser utilizada neste trabalho possui fases muito semelhantes as citadas
acima, pois baseada no fluxograma que Lersch (2003) utilizou para explicar a organizao
de sua pesquisa de mestrado, conforme mostra a Figura 2.
Figura 2 Fluxograma explicativo da organizao da pesquisa de Lersch (2003) Fonte: LERSCH (2003)
Identificao do problema
Estudo piloto Elaborao preliminar do instrumento para
levantamento de dados
Pesq
uisa
bib
liogr
fic
a
Identificao dos principais fatores de degradao
Levantamento de dados
Tabulao Anlise e Interpretao
Estudo de caso
Definio do instrumento para
levantamento de dados
Levantamento de dados
Tabulao Anlise e Interpretao
Verificao da atuao dos principais fatores de degradao
Anlise e sntese dos danos causados pelos principais fatores de degradao
Elaborao de concluses
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Lichtenstein (1986) recomenda a utilizao de alguma metodologia estruturada com o
objetivo de racionalizar o processo de entendimento dos problemas patolgicos. Para isto
prope uma estrutura conforme a Figura 3.
Figura 3 Fluxograma de atuao para resoluo de problemas patolgicos Fonte: LICHTENSTEIN (1986)
Percebe-se que as maneiras de realizar diagnsticos de patologias tendem a convergir para
uma direo comum, mesmo que traada por diferentes autores.
A dificuldade maior, no entanto, encontra-se na maneira de catalogar e tabular resultados
destes diagnsticos, Dal Molin (1988) apud Dal Molin (1997) comenta a necessidade de
estabelecer uma sistemtica de catalogao e divulgao de dados de manifestaes
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patolgicas, no intuito de formar uma base de dados que auxilia a execuo de diagnsticos
mais precisos.
Thomaz (1989) ainda complementa:
A falta, entre ns, do registro e divulgao de dados sobre problemas patolgicos retarda o desenvolvimento das tcnicas de projetar e de construir, cerceando principalmente aos profissionais mais jovens a possibilidade de evitarem erros que j foram repetidos inmeras vezes no passado.
Uma vez que se conhea os defeitos que uma construo pode vir a apresentar, bem como
as suas causas, menos provvel que se cometam erros, tornando esse conhecimento to
importante quanto a responsabilidade do profissional na execuo da obra (VEROSA,
1991).
Logo, os conhecimentos tecnolgicos sobre patologias das construes desenvolvem-se a
partir do conhecimento terico dos fenmenos de deteriorao e dos mecanismos de
ocorrncia, bem como a divulgao dos procedimentos utilizados no tratamento dos
problemas apresentados pelas construes (CARMO, 2003).
Carmo (2003) refora que, durante a anlise dos problemas patolgicos, alm de descrever
a etapa dos processos aos quais esto relacionados, deve-se identificar a atividade que deu
origem ao problema, pois o conhecimento da causa importante para que se possa indicar a
teraputica ideal, e elimin-la, fazendo com que o problema no se manifeste novamente.
2.1.4 Classificao
Segundo Cavalheiro (1995), as patologias podem dividir-se em:
Patologia das fundaes; Patologia das estruturas; Patologia das alvenarias; Patologia das instalaes; Patologia dos revestimentos; Outras.
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Peres (2001) cita a classificao de Ioshimoto (1994), como uma classificao mais ampla,
e mais utilizada:
Umidade; Fissuras e trincas; Descolamento de revestimentos.
2.1.5 Custo agregado de uma patologia
Conforme Qualharini (1997), os fenmenos patolgicos trazem como conseqncia direta
fatores econmicos e de satisfao do usurio, Pois iro gerar custos de retrabalho tanto para
o construtor quanto ao proprietrio, alm de causar um efeito degenerativo da edificao
gerando prejuzos comerciais e psicolgicos ao proprietrio.
Outra anlise a ser feita diz respeito ao tempo ocioso da edificao quando da reforma,
lembrado por Gerwick (1994) apud Figueiredo (1997), pois salienta que devem ser levados
em considerao no apenas os custos diretos associados aos materiais e mo-de-obra
utilizada, mas tambm os indiretos relativos a interrupo da operao da edificao ou
possveis prejuzos sociais e econmicos em caso de colapso da estrutura.
Salienta Lersch (2003) que, quando a estrutura comea a perder segurana ou
funcionalidade devido deteriorao, necessria a realizao de reparos ou reforos que
dependem da gravidade da degradao. A autora destaca ainda que, a partir de reparos
sucessivos, procura-se manter as condies de segurana e estabilidade da edificao para seu
uso. Mas, para cada manuteno realizada, ou pequenos reparos, existe uma relao entre o
custo necessrio e o tempo exigido para outra interveno. Ou seja, se as intervenes fossem
peridicas (preventivas), o custo seria relativamente baixo, e tambm garantiria um tempo
maior de desempenho satisfatrio da edificao. No entanto, o que se percebe que pequenos
reparos so feitos esporadicamente, diminuindo o desempenho da edificao at um nvel
insatisfatrio, logo necessria a realizao de uma restaurao ou reciclagem, conforme
ilustra a Figura 4 elaborada por Lersch (2003).
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Figura 4 Fases do desempenho de uma edificao histrica
Fonte: LERSCH (2003)
Ainda, do ponto de vista econmico, Helene (1992) ressalta que as medidas que
so tomadas visando durabilidade, em nvel de projeto, so muitas vezes mais
convenientes, seguras e de menor custo do que as tomadas a posteriori. Destaca, ainda,
que estes custos de interveno crescem exponencialmente em funo do tempo de
interveno. Essa informao tambm conhecida por lei dos 5 ou regra de Sitter,
conforme ilustra a Figura 5.
Figura 5 Lei de evoluo dos custos conforme Sitter (1984) apud Helene (1992)
Fonte: HELENE (1992)
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2.2 Manifestaes patolgicas e suas origens
Para Cavalheiro (1995), existem 4 razes bsicas para o aparecimento de defeitos:
Evoluo tecnolgica dos materiais, da teoria das estruturas e dos sistemas construtivos, que tornaram as estruturas mais flexveis, visando melhor
desempenho de absoro de movimentos, sem causar colapso, possibilitando o
surgimento de patologias;
Velocidade de construo, ou controle de qualidade inadequado ou inexistente; Formao deficiente de profissionais; Deficincia de normalizao sobre o assunto e manuteno inadequada ou
inexistente.
Peres (2001) sintetiza as mesmas colocaes de Cavalheiro, afirmando que:
Na tentativa de racionalizar as construes, buscar o mximo de economia, e com maior conhecimento dos materiais, procura-se o limite que estes podem alcanar, aumentando as chances de ocorrncia de manifestaes patolgicas.
Logo, as caractersticas construtivas modernas favorecem o aparecimento de fenmenos
patolgicos, pois, em funo do conhecimento mais aperfeioado e profundo dos materiais e
tcnicas, seu emprego aproxima-se do limite de desempenho satisfatrio. Uma vez que se
sabe, com preciso, at que ponto se pode confiar em determinado material, pode-se reduzir o
seu consumo, fazendo com que o mnimo erro possa causar patologias (VEROSA, 1991).
Segundo Carmo (2003), os problemas patolgicos tm origem relacionada a algum erro ou
falha cometida em pelo menos uma das fases do processo de construo, e sua ocorrncia est
associada a um conjunto de sintomas ou manifestaes que so caractersticas, apresentadas
durante a execuo do uso da edificao, podendo se tornar evidentes j no incio da
construo ou aps anos de concluso da obra.
Conforme Verosa (1991) as manifestaes podem ser atribudas as seguintes propores:
Projeto: 40% Execuo: 28% Materiais: 18% Mau uso: 10%
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Mau planejamento: 4%
Pinto (1996) apud Peres (2001) classifica condies e causas dos problemas de maneira
um pouco distinta:
Erros de concepo: 32% Erros de clculo - defeito ou ausncia de estudos: 18% Deformao excessiva: 7% Efeitos das variaes dimensionais : 23% Erros de execuo: 16% Fenmenos qumicos e ao do gelo: 4%
Para Helene (1992) o processo de construo e uso dividido em cinco grandes partes:
Planejamento; Projeto; Fabricao de materiais e componentes fora do canteiro; Execuo propriamente dita; Uso (envolvendo operao e manuteno)
Conforme j citado por Helene (1992), um diagnstico adequado indica a etapa de origem,
pois para cada origem do problema patolgico h uma terapia adequada, mesmo que o
fenmeno e os sintomas sejam os mesmos. Ainda ressalta Helene (1992) que: ... a identificao da origem do problema permite tambm identificar,
para fins judiciais, quem cometeu a falha. Assim se o problema teve origem na fase de projeto, o projetista falhou; quando a origem est na qualidade do material, o fabricante errou; se na etapa de execuo, trata-se de falha de mo-de-obra e a fiscalizao ou a construtora foram omissos; se na etapa de uso, a falha da operao e manuteno.
Para complementar o mesmo autor cita um estudo desenvolvido por Grunau (1981), que
pesquisou sobre a origem da incidncia dos problemas patolgicos em relao as etapas da
produo, conforme ilustra a Figura 6.
22
Figura 6 Origem dos problemas patolgicos com relao as etapas de produo e uso das obras civis segundo Grunau (1981) apud Helene (1992) Fonte: HELENE (1992)
Lichitenstein (1986) apud Carmo (2003), em seus estudos, elaborou uma tabela
relacionando a distribuio percentual das falhas de acordo com a origem em alguns pases
(Tabela 1).
Tabela 1 Distribuio percentual das falhas constatadas de acordo com a origem Origem das falhas Blgica
(1974-75)
(1976-77) (%)
Gr-Bretanha
(1970-74)
(%)
Rep. Feder. Da
Alemanha
(1970-77) (%)
Dinamarca
(1972-77)
(%)
Romnia
(1971-77)
(%)
Projeto 49 - 46 49 37 36 37
Execuo 22 - 22 29 30 22 19
Materiais 15 - 15 11 14 25 22
Utilizao 9 - 8 10 11 9 11
Diversos 5 - 9 1 8 8 11
Fonte: Lichitenstein (1986) apud Carmo (2003)
23
2.2.1 A etapa de projeto
Segundo Souza (1998), vrias so as falhas que podem ocorrer durante o projeto, podendo
ser mesmo na fase de concepo da estrutura, no estudo preliminar, na execuo do
anteprojeto ou durante a elaborao do projeto de execuo. O autor apresenta dois aspectos
distintos quanto esta fase:
1: De maneira geral as dificuldades tcnicas e o custo de soluo de problemas
originrios de falhas de projeto so proporcionais antiguidade da falha, ou seja, quanto mais
tarde ocorre a falha, mais onerosa e complexa ser a soluo;
2: Falhas de estudos preliminares ou de anteprojetos geram transtornos relacionados
utilizao da obra e encarecem o processo de produo, enquanto que falhas de projeto de
execuo (ou projeto final) geram problemas patolgicos srios, oriundos de causas, como:
Elementos de projeto inadequados; Falta de compatibilizao entre a estrutura e a arquitetura e demais projetos; Especificao inadequada de materiais; Detalhamento insuficiente ou errado; Detalhes construtivos inexeqveis; Falta de padro de representaes; Erros de dimensionamento.
2.2.2 A etapa de execuo
Souza coloca que a seqncia lgica ideal seria o incio da execuo somente aps o
trmino da etapa de concepo, e da concluso de todos os estudos e projetos. Mas o que se
verifica que isso raramente ocorre. E mesmo quando o processo de planejamento e projeto
concludo antes do incio da execuo, durante esta ocorrem mudanas sob a alegao de
serem necessrias simplificaes construtivas que acabam gerando erros.
A ocorrncia de problemas patolgicos nesta etapa basicamente deve-se ao processo de
produo, pois este reflete de maneira imediata as dificuldades socioeconmicas, provocando
baixa na qualidade tcnica de trabalhadores menos qualificados (serventes e meio oficiais) e
at mesmo os com alguma qualificao profissional (SOUZA, 1998).
24
2.2.3 Os materiais de construo
Os danos verificados nos materiais de construo so atribudos a defeitos de origem ou
atuao de agentes de degradao. Defeitos de origem referem-se a falhas naturais (pedras
com fissuras, madeiras com ns, etc...) e da escolha e uso dos mesmos na obra. A atuao de
agentes est intimamente ligada funo que os componentes desempenham na edificao e
as propriedades dos materiais (fungos e insetos em madeira, pedras com alteraes por efeitos
qumicos e fsicos, etc...) (LERSCH, 2003).
2.2.4 A etapa de utilizao da edificao
Conforme Souza (1998), por este aspecto, a edificao deve ser vista como um
equipamento mecnico, ou seja, para se ter bom desempenho deve ter manuteno eficiente.
Em muitos casos, o proprietrio, maior interessado em que a estrutura tenha bom
desempenho, passa a ser, por desleixo ou ignorncia, o agente de desgaste agravando a
deteriorao em nveis mais elevados. Sendo assim, os problemas gerados nesta etapa so
basicamente causados por utilizao errnea ou por falta de manuteno adequada.
2.3 Edifcios histricos e seus principais fatores de degradao
A grande maioria das edificaes histricas se caracterizam por terem sido construdas
utilizando-se tcnicas rudimentares e materiais naturais de solo, rochas e peas vegetais,
compactados ou rejuntados por outros materiais que funcionam como ligantes (GUSMO
FILHO, 1998).
Para Gusmo Filho (1998), as construes histricas vm passando por transformaes,
que modificam as condies de funcionalidade e segurana por vrias razes:
Tipo e intensidade de processos fsicos, qumicos e biolgicos; As propriedades dos solos e rochas usados como materiais de construo; Condies ambientais; Ao do homem, atravs de intervenes na obra ou em sua vizinhana; Movimentos do terreno de fundao.
25
O mesmo autor afirma que o efeito do tempo no sistema solo-fundao outra
caracterstica relevante na avaliao de desempenho de uma edificao, pois este efeito
envolve alteraes fsicas e qumicas nos materiais constituintes do sistema que so inerentes
ao passar do tempo.
Conforme Peres (2001), prdios de interesse histrico fazem parte dos bens materiais que
compem o Patrimnio Ambiental Urbano e, por apresentarem manifestaes patolgicas
junto com o inegvel valor histrico e cultural que estas construes apresentam, todo o
trabalho de restaurao de extrema valia, pois o desenvolvimento econmico e social de
uma comunidade no dispensa a valorizao de sua histria.
Feilden (1982) citado por Lersch (2003) salienta que edifcio histrico aquele que nos
faz conhecer sobre as pessoas e a cultura que o constitui e carrega consigo valores
arquitetnicos, estticos, histricos, de cunho documental, arqueolgico, econmico, social,
poltico, espiritual ou simblico. Afirma, ainda, que o objetivo da conservao de edificaes
histricas deveria ser mant-las como testemunho de um determinado mtodo construtivo,
como obra de engenharia e arquitetura mantendo um smbolo de identidade e continuidade
cultural de sociedade.
Lersch (2003) tambm cita o Manual de Conservao Preventiva do INSTITUTO DO
PATRIMNIO HISTRICO E ARTSTICO NACIONAL datado de 2001, afirmando que as
prticas de conservao preventiva e de manuteno de um bem edificado no fazem parte da
tradio brasileira, e que a regra recorrer a restaurao depois que o edifcio chega a um
nvel avanado de degradao. A mesma autora acrescenta que alguns conceitos da rea de
conservao e restaurao do patrimnio ainda no se incorporaram cultura nacional, os
quais consideram que de importncia fundamental conhecer muito para intervir pouco e
prevenir para no intervir.
Para o entendimento do universo de fatores que promovem ou influenciam a degradao
de edificaes histricas, Lersch (2003) distingue estes em duas etapas:
26
1.Caractersticas da edificao: que determinam o maior ou menor grau de degradao,
e so relacionadas :
o Implantao: o que determina a disposio do edifcio no terreno, podendo surgir problemas dados em funo da orientao solar e condies
geotopogrficas.
o Materiais: que podem ser atribudos a defeitos de origem ou atuao de agentes de degradao.
o Componentes da edificao: sob a atuao de agentes ao longo do tempo alguns componentes acabam por perder a sua funo.
2. Principais agentes e mecanismos de degradao:
o Agentes ambientais ou climticos: tais como radiao solar, temperatura, gua, vento e constituintes do ar.
o Agentes biolgicos: como microorganismos, vegetao e insetos. o Fenmenos incidentes da natureza: terremotos e inundaes. o Uso e ao do homem: so em funo do uso abusivo ou exagerado do homem,
a falta de conservao preventiva, execuo de intervenes indevidas,
desenvolvimento urbano e at vandalismo.
27
3 METODOLOGIA
3.1 Classificao
Este estudo tem como propsito pesquisar e descrever as manifestaes patolgicas
existentes em uma edificao escolar construda na dcada de 1930, bem como elaborar um
diagnstico destas manifestaes. Caracterizando-se, assim, como um estudo de caso.
A pesquisa a ser realizada qualitativa, uma vez que os dados coletados em campo
sero descritos tecnicamente conforme os mecanismos de ocorrncia de cada manifestao
patolgica encontrada.
3.2 Plano de coleta de dados
Os dados a serem obtidos na pesquisa sero coletados atravs de resgate de projetos
(planta baixa) e regraficao destes, utilizando-se o software AutoCad 2002, enquanto que o
levantamento das manifestaes patolgicas foi feito por meio de registro fotogrfico,
utilizando-se uma mquina fotogrfica Sony Cyber-shot DSC P93A..
3.3 Materiais utilizados
Os materiais e equipamentos utilizados:
Prancheta, folhas A4 e demais materiais para anotao; Mquina fotogrfica Sony Cyber-shot DSC P93A. Microcomputador disponvel no Laboratrio de Informtica do Curso de
Engenharia Civil da UNIJU;
Bibliografia necessria para o desenvolvimento geral da pesquisa, citada neste trabalho.
28
3.4 Organizao geral da pesquisa
A organizao da pesquisa pode ser explicada com o auxlio do fluxograma apresentado
na Figura 7, que foi adaptado da dissertao de mestrado realizada na Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Contribuio para a identificao dos principais fatores e mecanismos
de degradao em edificaes do patrimnio cultural de Porto Alegre, de Ins Martina
Lersch, no ano de 2003.
Figura 7 Fluxograma do desenvolvimento da pesquisa
a) Identificao do problema
Em funo da observao preliminar, para se ter idia da amplitude do problema e, em
funo de leituras sobre o tema, foram desenvolvidos os seguintes questionamentos:
Que fatores so responsveis pelo surgimento de patologias na edificao citada? Seja em termos de materiais, tcnicas ou maneira de utilizao da edificao.
Quais os mecanismos de ocorrncia dessas patologias? Para se entender como estes fenmenos surgem e evoluem.
Quais as solues possveis? Buscando-se, atravs do entendimento dos mecanismos de ocorrncia, alternativas para solucionar os fenmenos encontrados.
29
b) Pesquisa bibliogrfica
Assim como Lersch (2003) props, a pesquisa bibliogrfica ocorre de forma paralela s
atividades da pesquisa, pois a etapa que alimenta o desenvolvimento da pesquisa.
c) Estudo inicial
a fase de estudo realizada para a obteno de resultados e onde realiza-se o
levantamento de dados usando-se de fotografias mapeando-se estas e realizando demais
descries.
d) Identificao das possveis causas das manifestaes patolgicas
a etapa do estudo onde identifica-se os agentes causadores dos fenmenos patolgicos,
sejam eles remotos ou imediatos. Embora no exista a distino em bibliografia entre tais
termos, destaca-se a importncia de realizar tal distino. O agente remoto caracteriza-se
como aquela causa de um fenmeno patolgico que por sua vez ir gerar outro, enquanto que
o agente imediato aquele responsvel diretamente pelo surgimento de um fenmeno
patolgico. Nesta etapa alm da identificao dos agentes, tambm se realiza a descrio dos
mecanismos de ocorrncia de cada fenmeno.
e) Elaborao de concluses
a etapa final, onde sugere-se a execuo de exames complementares com maior
preciso, analisa-se a situao no caso de no interveno e, por fim, define-se solues
possveis para os problemas.
3.5 Materiais de anlise e interpretao de dados
Os materiais e dados a serem analisados e interpretados originam-se da fase de
levantamento de dados, so organizados segundo fotografias dos locais com presena de
fenmenos patolgicos, com suas localizaes na edificao e com uma descrio tcnica dos
sintomas apresentados, para posteriormente serem analisadas, identificando-se causas e
possveis solues.
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4 APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS
4.1 Descrio do local do estudo de caso
Em 19 de outubro de 1890, foi fundada a colnia Ijuhy, quatro anos aps, em1894, foi
criada a primeira escola pblica do futuro municpio de Iju. Fundada pelo professor Roberto
Roeber, seu primeiro diretor e pioneiro da instituio ijuiense, que, por iniciativa prpria dava
aulas aos filhos das 22 famlias radicadas na colnia. A escolinha funcionava em uma
modesta casa localizada na Praa da Repblica.
Em 1916, a escola pblica comea a funcionar denominada Grupo Escolar da VILLA DE
IJUHY. Situava-se Rua Benjamin Constant, onde atualmente funciona o prdio da
Previdncia Social e possua cinco professores lecionando. Nessa poca, o Grupo Escolar
funcionava em dois prdios: um de alvenaria e outro de pinho, construdos especialmente para
atender os alunos da ento Colnia de Ijuhy e totalizavam uma rea construda de 352,65 m
num terreno de 2.500 m. Comportavam at 300 alunos, distribudos em dois turnos. Cinco
anos aps sua denominao, o Grupo Escolar da Villa de Ijuhy passou a chamar-se
COLGIO ELEMENTAR DE IJUHY.
Em outubro de 1929, foi lavrada a trascrio de transmisso de um lote urbano, com rea
de 10.000 m, destinado ao uso do Colgio Elementar. No ano seguinte, em 1930, foi lanada
a pedra fundamental do novo edifcio, no referido lote, Rua Benjamin Constant.
Trs anos aps o lanamento da pedra fundamental, foi concludo o prdio da escola.
Possua 13 salas de aula, cada uma com seu vestirio, onde, na poca, eram colocadas
sombrinhas, capas e guarda-chuvas, quatro salas para a administrao, quatro banheiros, um
salo nobre, uma rea coberta para a prtica de educao fsica e uma biblioteca. A partir
disso, a escola tinha condies de abrigar 780 alunos distribudos em dois turnos.
Em 1934, o Colgio Elementar de Ijuhy passou a se chamar COLGIO ELEMENTAR
VISCONDE DE MAU, que, em 1941 recebe nova denominao GRUPO ESCOLAR
RUY BARBOSA.
31
Atualmente o Grupo Escolar chama-se Escola Estadual de Ensino Fundamental Ruy
Barbosa. Possui laboratrio de informtica, de cincias, rea para educao artstica,
refeitrio, biblioteca e diversas outras salas para atividades variadas. Com um corpo docente
constitudo por aproximadamente 80 professores que se dividem em trs turnos, lecionando
para 752 alunos, constitui-se na mais importante escola pblica de ensino fundamental de Iju.
Alm de ter contribudo para o desenvolvimento da cidade, um patrimnio cultural
muito estimado por todos.
4.2 Regraficao do Projeto Arquitetnico
As Figuras 8, 9 e 10 so resultados da regraficao do projeto arquitetnico (somente da
planta baixa), elaborado com o auxlio do AutoCad 2002 utilizando-se a planta baixa existente
sendo esta uma cpia heliogrfica. Neste item so apresentadas as figuras sem escala definida,
sendo que no anexo A encontram-se os mesmos em escala.
Figura 8 Planta de Situao
32
Figura 9 Planta Baixa 1 pavimento
Figura 10 Planta Baixa 2 pavimento
4.3 Situao geral da edificao
A edificao em estudo foi construda na dcada de 1930, com uso de blocos cermicos
macios exercendo funo estrutural, possuindo dois pavimentos com sistemas de lajes em
concreto armado. As aberturas foram confeccionadas em madeira com traos da arquitetura da
poca, caracterizadas por arcos abobadados, com altura superior sua largura. Outras
caractersticas da edificao, so o p-direito com aproximadamente 5 metros e a inclinao
do telhado bem acentuada que utiliza telhas cermicas.
33
Conforme relato de funcionrios, a edificao sofreu aumento de rea junto aos fundos do
prdio pela construo de um anexo com salas de aula, para realizao de aulas para sries
iniciais h aproximadamente 15 anos.
Sabe-se, ainda, que a edificao sofreu uma reforma parcial h aproximadamente cinco
anos, caracterizada pela troca de parte das telhas da cobertura, troca de pedaos de calhas e
condutores pluviais, execuo de forros novos com PVC em algumas salas de aula, pintura
em todo contorno externo e algumas partes internas da edificao, bem como colocao de
revestimentos cermicos novos nos banheiros.
Situada aproximadamente no centro do lote, localizado no centro da cidade de Iju, a
edificao destina-se ao uso escolar. A Figura 11 mostra a edificao vista frontalmente e a
Figura 12 traz uma viso pela parte dos fundos desta atravs de um prdio localizado nas
proximidades.
Figura 11 Vista frontal da edificao
Figura 12 Vista da parte de trs da edificao
34
4.4 Descrio das manifestaes patolgicas encontradas
A seguir, so apresentadas, com figuras, as manifestaes patolgicas encontradas,
indicando sua localizao na edificao, bem como a descrio desses fenmenos por
observao visual, e a indicao de provveis causas juntamente com a explicao do
mecanismo de ocorrncia de cada manifestao patolgica. No Anexo B, encontra-se o
projeto com escala definida mostrando a localizao das figuras.
A. Parede externa da ala sul
(a) foto 1 (b) localizao
Figura 13 Parede externa da ala sul
o Descrio por observao visual: Reboco com manchas de umidade, mofo e bolor. o Manifestaes detectadas: Manchas de umidade, mofo e bolor. o Causas provveis: As possveis causas destas manifestaes esto associadas a
umidade ascendente do piso da calada por falta de impermeabilizao eficiente. Cita-
se tambm que a manifestao patolgica ocorre em funo dos respingos de gua
pluvial devido ao beiral existente para proteo desta parede possuir um p-direito
com altura considervel, seguido de inexistncia de limpeza adequada. Segundo
Verosa (1991), a umidade a causa ou meio necessrio para grande maioria das
manifestaes patolgicas em construes. Este autor comprova dizendo que as
umidades podem ter as seguintes origens:
Trazidas durante a construo; Trazidas por capilaridade;
35
Trazidas por chuva; Resultantes de vazamentos em redes; Condensao.
o Mecanismo de ocorrncia: Conforme Verosa (1991), bolor ou mofo a manifestao de um tipo de microvegetais e fungos que surgem em funo da presena de umidade.
Como os fungos no tm clorofila suas razes segregam enzimas que fazem
decomposio e servem de alimento para o vegetal. Logo, essas enzimas funcionam
como um cido sobre o material que atacado e queimado, deixando como resultado
uma colorao escura quase preta.
B. Parede externa da ala norte
(a) foto 2 (b) localizao
Figura 14 Parede externa da ala norte
o Descrio por observao visual: Presena de fissuras com grandes espessuras em ambas as paredes com sentidos horizontal e inclinado a aproximadamente 45, com
sinais de execuo de selamento anterior.
o Manifestaes detectadas: Fissuras o Causas provveis: Como detectou-se a presena de fissuras horizontais e com
inclinao de 45, uma possvel causa o deslocamento vertical desta parte da
edificao, pois trata-se de uma ampliao da edificao executada hapoucos anos,
logo a incompatibilidade de materiais e tcnicas utilizadas pode ter influenciado e
causado recalque diferencial desta ampliao. Pode-se citar, tambm, como causa
deste deslocamento o carreamento de finos do solo que propiciou a existncia de
vazios no mesmo gerado por vazamentos da rede de gua e esgoto.
o Mecanismo de ocorrncia: Devido a existncia de vazios do solo, este, com a sobrecarga do alicerce da fundao acomodou-se a fim de eliminar estes vazios, logo
36
essa acomodao no ocorreu de forma igual ou simultnea ao longo das paredes e
gerou diferentes tenses que no foram suportadas por estas, o que ocasionou o
surgimento das fissuras. Outra hiptese que pode ser citada que devido a presena de
vazamentos da rede hidrossanitria, ocorreu a saturao do solo abaixo da fundao e
alterou o estado de tenses efetivas modificando a capacidade de carga deste. Segundo
Pinto (2000), a tenso efetiva responsvel pelo comportamento mecnico do solo, e
s mediante uma analise atravs de tenses efetivas se consegue estudar
cientificamente os fenmenos de resistncia e deformao dos solos. Pinto afirma
ainda que para solos saturados a tenso efetiva expressa pela Equao1:
= u (Equao 1 Tenso efetiva) onde a tenso total (funo da espessura da camada e o peso especfico do solo), e u a poro-presso (parcela de tenso exercida pela presso da gua).
Outro fenmeno que deve ser destacado, diz respeito aos perodos de seca, ou seja, em
determinados locais, devido a perodos de seca, ocorre a migrao de umidade de
locais onde o solo no possui cobertura, para baixo das edificaes, causando uma
retrao do solo, e consequentemente deformaes da fundao da edificao.
Bressani (1994), em um estudo sobre manifestaes patolgicas em fundaes no
Estado do Rio Grande do Sul, concluiu que 77% dos casos ocorreram em fundaes
superficiais, enquanto que em apenas 9% a fundao afetada era do tipo profunda. O
mesmo autor mostra a origem dos problemas em fundaes superficiais, atribudas a:
Projeto: 56,8% Fatores externos: 28,5% Execuo: 5,5% Materiais: 2,7% Uso: 6,5%
Cabe salientar que no caso em estudo os problemas patolgicos no surgiram pela
tipologia da fundao, mas sim por fatores externos que influenciaram no
funcionamento desta (vazamentos que causaram o carreamento de finos).
37
C. Escada externa da ala norte
(a) foto 3 (b) localizao
Figura 15 Escada externa da ala norte
o Descrio por observao visual: Descolamento da escada do corpo da edificao, e pequena deformao do formato da escada com sinais de recalque diferencial.
o Manifestaes detectadas: Descolamento e deformao da escada da edificao. o Causas provveis: Recalque diferencial de ambos os elementos (escada e parede da
edificao).
o Mecanismo de ocorrncia: As causas podem ser associadas tambm as mencionadas no item parede externa ala norte. A existncia de vazios do solo causado pelo
carreamento de finos gerado por vazamentos. Mas, neste caso, tambm cita-se outra
possvel causa; a inexistncia de material para suportar o bulbo de tenses geradas
pelas cargas da edificao tendo em vista a construo de poos sumidouros prximos
a edificao (ambos os lados). Conforme visualiza-se na Figura 16. Logo com a
retirada de material, a acomodao do solo deu-se de forma diferenciada, ocorrida ao
longo dos anos e, associada ao carreamento de finos, gerou recalques diferenciais que
causaram o descolamento da escada do corpo da edificao e a deformao no formato
de seus degraus.
Figura 16 Esquema bulbo de tenses sobre os poos sumidouros
38
D. Ala norte externa frontal; Paredes da ala norte externa frontal
(a) foto 4 (b) localizao
Figura 17 Ala norte externa frontal
(a) foto 5 (b) localizao
Figura 18 Paredes da ala norte externa frontal
Estas figuras so tratadas juntas, pois dizem respeito s mesmas paredes, logo com
o mesmo fenmeno.
o Descrio por observao visual: Fissuras com inclinao a aproximadamente 45
direcionada parede externa ala norte e com espessuras variadas (Figura 17). Fissuras em
ambas as paredes com espessuras variadas e com direes e inclinaes simtricas,
desaprumo na parede da esquerda (Figura 18).
o Manifestaes detectadas: Fissuras o Causas provveis: Esta manifestao pode ser considerada a de maior gravidade na
edificao, devido ao grande nmero de fissuras e suas espessuras, encontradas nestas
paredes e nas paredes prximas. Percebe-se que nesta ala (norte) a grande maioria das
patologias encontradas esto relacionadas presena de umidade (vazamentos da rede),
gerando o carreamento do solo e, principalmente neste caso, danificando a fundao, pois
realizou-se escavaes junto a estas paredes (solicitado pelo Engenheiro do Estado Luis
Saenger que vistoriava a Escola aps um Laudo realizado pelo Engenheiro Professor da
39
UNIJU Lus Eduardo Modler, a pedido do Poder Pblico, que j havia atestado a
gravidade do problema e interditado parcialmente a ala norte em seu 2 pavimento), e
comprovou-se a existncia de grande quantidade de gua e esgoto dos banheiros,
conforme Figura 19, que propiciaram danos ao alicerce de fundao, pois este estava
esfarelando e desagregando, visto que no foi utilizado material aglomerante algum.
Logo, com estas condies, a fundao debilitou-se e comeou a dar sinais de no
suportar as tenses devidas s cargas existentes na edificao e vir a recalcar
diferencialmente, gerando fissuras diversas e desaprumo da parede externa da ala norte.
Figura 19 Escavao prxima a parede da ala norte
o Mecanismo de ocorrncia: Segundo citao das causas, o mecanismo de ocorrncia fica
claro. Pois devido existncia de vazios do solo gerado pelo carreamento dos finos, este
tendeu a acomodar-se a fim de eliminar estes vazios gerando recalque diferencial nesta
parte da edificao que no suportou e de certa forma veio a romper manifestando-se com
desaprumo e fissuras diversas. Para Gotlieb (1998), quando o desempenho das fundaes
no for satisfatrio aparecem manifestaes decorrentes deste fato atravs de danos
verificados nas prprias peas de fundao, seja pela deteriorao dos materiais que as
compem (comprovado neste caso), seja com a conseqente perda de resistncia, e na
obra como um todo, caracterizado pelos recalques e desaprumos. O mesmo autor afirma
que em decorrncia do insatisfatrio funcionamento da fundao, manifestam-se danos de
trs tipos:
Danos arquitetnicos: comprometem a esttica da edificao como trincas em paredes e acabamentos. Sendo que o reforo optativo, pois no envolve riscos
quanto a estabilidade da edificao.
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Danos funcionais: causados utilizao da edificao, como refluxo ou ruptura de rede de gua e esgoto, guas pluviais e demais danos. Sendo que o reforo
somente ser necessrio se vir a causar transtornos no uso da edificao.
Danos estruturais: so danos causados estrutura propriamente dita (pilares, vigas e lajes), logo a ausncia de reforo implica em instabilidade da edificao.
E. Ala norte externa
(a) foto 6 (b) localizao
Figura 20 Ala norte externa
o Descrio por observao visual: Afastamento do passeio do corpo da edificao sem apresentar deformaes.
o Manifestaes detectadas: Afastamento do passeio da edificao. o Causas provveis: Influncia do carreamento de solo de camadas inferiores. o Mecanismo de ocorrncia: Como o carreamento de finos de camadas inferiores gerou
vazios em seu interior, estas camadas se tornaram muito suscetveis a variao de
umidade, logo com tais variaes (chuva e seca), este local sofria deformaes, gerando
este afastamento.
41
F. Alicerce da ala norte
(a) foto 7 (b) localizao
Figura 21 Alicerce da ala norte. o Descrio por observao visual: Fissura horizontal no alicerce de nivelamento. o Manifestaes detectadas: Fissura. o Causas provveis: Recalque diferencial da fundao. o Mecanismo de ocorrncia: O mecanismo baseado na mesma explicao de fenmenos j
citados, devido a problema de vazamentos que influenciaram na capacidade de suporte de
carga do solo, gerou deformaes que no foram suportadas pelas paredes e alicerce,
gerando uma fissura horizontal entre o alicerce de nivelamento e a parede da edificao.
G. Parede externa frontal
(a) foto 8 (b) localizao
Figura 22 Parede externa frontal
o Descrio por observao visual: Presena de descolamento do reboco e da tinta, manchas de umidade, fissuras em forma de mapas; pequenas vesculas e esfarelamento do
revestimento em pontos isolados.
o Manifestaes detectadas: Descolamento do reboco, fissuras, vesculas e esfarelamento.
42
o Causas provveis: As fissuras provavelmente possuem como causa as outras patologias. Para se entender melhor este processo veremos a seguir alguns conceitos conforme
descreve Verosa (1991).
Descolamentos; quando o reboco se solta da parede, e reconhece-se pelo som cavo ao se bater no reboco. Este fenmeno pode ter muitas causas, entre elas
infiltrao de umidade, presena de magnsio na cal, argamassas ricas ou
pobre demais, falta de chapisco, reboco grosso demais e at tijolos sem
porosidade. E a medida que o descolamento avana surgem fissuras e em
fases mais adiantadas o reboco cai.
Eflorescncias; o aparecimento de formaes salinas na superfcie dos materiais, causando mau aspecto e em alguns casos descolamento do
revestimento ou pintura, desagregao de paredes a queda de elementos
construtivos. Este fenmeno causado pela presena de sais de clcio, de
sdio, de potssio, de magnsio ou de ferro, substncias integrantes de
materiais de construo que ao serem atravessados pela gua so dissolvidos,
e vo at a superfcie, logo a gua evapora mas os sais permanecem
formando manchas.
Criptoflorescncias; so formaes salinas (eflorescncias) ocultas, ou seja crescimento de sais ou cristais no interior dos materiais, gerando
desagregao ou descolamento dos elementos construtivos.
Esfarelamento; uma forma especial de descolamento, mas o reboco no cai em placas, e sim desagregando em gros ou em p. O emprego de
argamassas com pouco aglomerante a causa mais freqente deste problema,
mas podendo ser ainda a carbonatao lenta da cal ou eventualmente pela
gelividade.
Gelividade; uma forma de corroso particular que aparece comumente nas regies frias (no Brasil por exemplo, na regio Sul). Verosa explica que a
gua que absorvida pelo tijolo ou reboco dividida distribuindo-se entre os
poros e capilares, podendo ento congelar facilmente em at 7C. Logo a
gua que est mais superficialmente chega a ter fora para remover a capa,
esfarinhando um pouco est superfcie. Este fenmeno imperceptvel mas
com as repeties ao longo do tempo o processo se agrava.
o Mecanismo de ocorrncia: Face as explicaes segundo Verosa, percebe-se que as superfcies analisadas possuem intima ligao entre as patologias citadas. Pois comum
43
no inverno baixas temperaturas em nossa regio (aprox. 7C), gerando um processo de
gelividade e este causando esfarelamento em alguns pontos da superfcie ao longo do
tempo. J quanto s fissuras e descolamentos pode-se dizer que possivelmente tenham
sido originadas por criptoflorescncias devido a presena de alguns sais e a umidade
(provinda da m conservao da tinta e que estava exposto a gua da chuva), aps se
tornaram eflorescncias, gerando consequentemente fissuras e por fim o descolamento.
H. Paredes externas do lado leste
(a) foto 9 (b) localizao
Figura 23 Paredes externas do lado leste
o Descrio por observao visual: Descolamento do reboco prximo a fissuras, descolamento da tinta em pontos isolados.
o Manifestaes detectadas: Descolamentos e fissuras. o Causas provveis: Neste local o descolamento do reboco bem como as fissuras foram
causadas pela movimentao da edificao gerada pelos recalques diferenciais, motivados
pelo carreamento de finos e escavao de fossas spticas prximas). J o descolamento da
pintura em pontos isolados ocasionado por m aderncia da pintura nova (originada da
ltima reforma h aproximadamente 5 anos) sobre a j existente, causada principalmente
por deficincia de preparo e limpeza da superfcie antes da execuo da pintura.
o Mecanismo de ocorrncia: O fenmeno das fissuras que geraram o descolamento de placas o mesmo j explicado anteriormente, ou seja, devido a problemas no solo de
suporte da fundao, ocorreram recalques que deformaram a edificao gerando tenses
que no foram suportadas por algumas paredes e revestimentos. J no caso do
descolamento da pintura, diz-se que provavelmente antes da execuo, no ocorreu uma
devida preparao da superfcie, ou seja, pode ter ocorrido falha quanto ao lixamento e
retirada de tinta antiga, ou contaminao de graxas, poeiras ou demais materiais que
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impossibilitaram a aderncia da tinta nova que pouco tempo aps o servio experimentou
descolar.
I. Paredes do 2 pavimento, externas da ala norte
(a) foto 10 (b) localizao
Figura 24 Paredes do 2 pavimento, externas da ala norte.
o Descrio por observao visual: Presena de descolamentos de revestimentos da moldura de detalhes arquitetnicos da edificao, com presena de manchas de umidade.
Manchas de mofo e apodrecimento de calhas.
o Manifestaes detectadas: Descolamentos de revestimentos (capa) da moldura, manchas de umidade, mofo e apodrecimento de calhas pluviais.
o Causas provveis: O descolamento citado era parte da capa realizada na ltima reforma da edificao (aproximadamente cinco anos), com o objetivo de envolver a moldura
original. Para tanto utilizou-se tela de metal, que foi fixada na moldura original, com o
objetivo de evitar possvel descolamento do revestimento pela sua espessura. Mas
percebe-se que este descolamento ocorreu em partes, possivelmente devido argamassa
utilizada ser de m qualidade ou muito pobre, no resistindo a presena de umidade
provinda do mau funcionamento das calhas de guas pluviais. A mesma causa citada para
as pequenas manchas de mofo e apodrecimento das calhas.
o Mecanismo de ocorrncia: Possivelmente o dimensionamento das calhas antigas se deu de forma errnea, bem como sua instalao, ou ainda a falta de limpeza destas, propiciaram
um acmulo de gua em sua extenso, provocando o apodrecimento de partes dessa calha,
possibilitando assim a fuga de gua que aceleraram os processos de mofo e de
descolamento do revestimento da capa realizada sobre a moldura.
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J. Paredes externas da parte leste
(a) foto 11 (b) foto 12
(c) localizao
Figura 25 Paredes externas da parte leste
o Descrio por observao visual: Presena de fissuras na moldura superior prximo ao condutor de guas pluviais, fissuras horizontais localizadas na parte superior das janelas, e
fissura inclinada a aproximadamente 45 partindo da parte superior da janela.
o Manifestaes detectadas: Fissuras. o Causas provveis: Percebe-se a grande intensidade de fissuras nas paredes, e na moldura,
causadas por deformaes ocorridas na edificao devido a recalques diferenciais.
o Mecanismo de ocorrncia: O mecanismo basicamente como j explicado em patologias anteriores. As paredes e a moldura sofreram fissuras porque no suportaram as
deformaes originadas pelo recalque da fundao em pontos extremos da edificao.
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K. Paredes da ala sul; Parede do corredor da ala sul
(a) foto 13 (b) foto 14
(c) localizao
Figura 26 Paredes da ala sul
(a) foto 15 (b) foto 16
(c) localizao
Figura 27 Parede do corredor da ala sul
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o Descrio por observao visual: Descolamento do reboco da parede com fissura. Presena de fissuras com grandes espessuras com inclinao aproximada de 45 saindo da
parte superior da porta da cozinha (Figura 25). Presena de fissuras com grandes
espessuras com inclinao aproximada de 45 (Figura 26)
o Manifestaes detectadas: Fissuras. o Causas provveis: Como a edificao possui certa simetria (norte e sul), por possurem
banheiros, percebe-se que o mesmo fenmeno ocorrido na ala norte deve se o causador
tambm na ala sul. Ou seja, na ala sul tambm possui tubulaes de banheiro e cozinha
que podem estar com vazamentos.
o Mecanismo de ocorrncia: Embora no se tenha feito escavaes para confirmao destes vazamentos como na ala norte, pode-se associar o mesmo mecanismo de ocorrncia,
gerado por vazamentos de tubulaes que propiciam um carreamento do solo gerando
tambm deformaes que no foram suportadas pelas paredes e, consequentemente
tiveram fissuras.
L. Piso em frente a cozinha na ala sul
(a) foto 17 (b) localizao
Figura 28 Piso em frente a cozinha na ala sul
o Descrio por observao visual: Desnvel do piso, dividido por fissura de grande espessura em frente porta da cozinha.
o Manifestaes detectadas: Desnvel do piso. o Causas provveis: Ruptura do piso gerada por recalque diferencial da fundao. o Mecanismo de ocorrncia: O fenmeno de carreamento de finos por vazamentos de rede
de gua e esgoto, tanto na ala norte como na sul, gerou recalques e deformaes em
elementos construtivos, como paredes e no piso, formando um degrau em frente porta
da cozinha na ala sul.
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M. Banheiro da ala sul
(a) foto 18 (b) localizao
Figura 29 Banheiro da ala sul
o Descrio por observao visual: Descolamento de tintas e esfarelamento de reboco em partes diversas da parede.
o Manifestaes detectadas: Descolamento da tinta e esfarelamento do reboco. o Causas provveis: Em determinados pontos o descolamento da tinta deve-se em parte ao
esfarelamento do reboco, pois este se desagrega em gros, causando ento a ruptura da
camada da tinta vindo a soltar. Conforme Verosa, j explicado anteriormente, o
esfarelamento uma forma especial de descolamento e que deve-se ao emprego de
argamassa com pouco aglomerante.
o Mecanismo de ocorrncia: Conforme Verosa (itens acima) devido ao uso de argamassa com pouco aglomerante, o reboco sofre um desgaste, pois vai se desagregando em gros
ou em p sem cair em placas ou em blocos.
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N. Laje da ala norte
(a) foto 19 (b) localizao
(c) foto 20 (d) localizao
Figura 30 Laje da ala norte o Descrio por observao visual: Fissura de grande espessura verificada transversalmente
laje do corredor da ala norte, tanto no teto do 1 pavimento (a) quanto no piso do 2
pavimento (c), separando o bloco norte do corpo da edificao.
o Manifestaes detectadas: Fissuras. o Causas provveis: Como a grande maioria das fissuras nos blocos extremos da edificao,
esta tambm teve como causa a deformao da edificao gerada por recalques na
fundao.
o Mecanismo de ocorrncia: Esta fissura mostra claramente a tendncia de diviso do bloco da ala norte do restante da edificao gerada por deformaes experimentadas pelo
recalque da fundao. Logo a laje no suportou e sofreu uma fissura exatamente no ponto
de encontro do corredor com o bloco da ala norte, podendo ser visualizada tanto no teto do
trreo quanto no piso do 2 pavimento.
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O. Sala de aula da ala norte
(a) foto 21 (b) foto 22
(c) localizao
Figura 31 Sala de aula da ala norte
(a) foto 23 (b) foto 24
(c) localizao
Figura 32 Paredes da sala de aula da ala norte
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o Descrio por observao visual: Piso deslocado horizontalmente e verticalmente da parede (31 a). Fissura de mdia espessura situada na parte superior da porta interna entre
salas (31 b). Desgaste da superfcie da parede (32 a) e esfarelamento do reboco (32 b).
o Manifestaes detectadas: Fissuras, descolamento da tinta, desgaste e esfarelamento do reboco, e deslocamento do piso em relao a parede.
o Causas provveis: Tanto as fissuras quanto o deslocamento do piso em relao a parede so conseqncias da movimentao da edificao gerada por problemas na fundao
como j visto, recalques diferenciais. J as patologias de desgaste, esfarelamento e
descolamento da tinta foram originadas da presena de umidade provinda da m
estanqueidade das aberturas e de fluxo ascendente (do solo para as paredes), bem como de
atrito de mesas escolares da prpria sala.
o Mecanismo de ocorrncia: Como j tem-se claro o fenmeno de movimentao da edificao gerado pelos problemas na fundao, se torna fcil a percepo de porque
ocorre as fissuras nesta sala, bem como o deslocamento do piso. Ou seja, estas patologias
esto diretamente associadas a deformao sofrida pela edificao atribuda a falta de
capacidade de carga do solo que sustenta sua fundao. J as patologias do reboco e da
tinta so atribudas a umidade que atinge a parede por fluxo ascendente gerada
possivelmente pela falta de impermeabilizao do piso e do alicerce de fundao, gerando
o esfarelamento do reboco e o descolamento da tinta, que agravou-se com o atrito gerado
pelo uso da sala atravs de classes escolares que se encontram prxima a esta parede.
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P. Banheiro do 2 pavimento na ala norte
(a) foto 25 (b) foto 26
(c) localizao
Figura 33 Banheiro do 2 pavimento na ala norte
o Descrio por observao visual: Eflorescncia de colorao ferrosa em altura mediana da parede, em grandes regies (a). Presena de bolor, mofo, e eflorescncias de colorao
escura nas paredes e forro. Pontos isolados de descolamento de reboco e pequenas
fissuras.
o Manifestaes detectadas: Eflorescncias, bolor, mofo e fissuras. o Causas provveis: As fissuras certamente originaram-se da movimentao da edificao.
Mas as demais patologias possuem um agente incomum, a umidade, seja por meio de
infiltrao, ou por meio de vazamentos de tubulaes.
o Mecanismo de ocorrncia: O processo de aparecimento das fissuras basicamente o mesmo dos casos j citados (deformao da edificao por recalques). Enquanto que as
demais patologias a presena de umidade e pouca ventilao so os fatores responsveis.
Conforme explicado por Verosa, a umidade acima de 75% e temperatura entre 10 e 35
C. propiciam a formao de mofo e bolor, e as eflorescncias tambm so originadas pela
presena de umidade, que dissolve os sais presentes no revestimento trazendo-os para a
superfcie, e logo que a gua evapora estes sais ficam na superfcie em forma de manchas
normalmente escuras e em funo dos sais presentes.
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Q. Sala de depsito (cofro)
(a) foto 27 (b) foto 28
(c) foto 29 (d) foto 30
(e) localizao (f) localizao
Figura 34 Sala de depsito
o Descrio por observao visual: Fissuras partindo da parte superior da porta (a), descolamento da tinta e do reboco e demais irregularidades do mesmo (b). Manchas de
mofo de colorao escura nas paredes e no forro (c), fissuras na parede e descolamento do
revestimento das paredes e do forro (d).
o Manifestaes detectadas: Fissuras e mofo. o Causas provveis: Recalque da fundao seguida de deformao da edificao; presena
de umidade e pouca ventilao.
o Mecanismo de ocorrncia: Como na maioria das fissuras presentes na edificao, estas, possuem causa e mesmo processo de ocorrncia devido a deformao da edificao
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gerada por problemas na fundao. No caso do mofo, a presena de umidade conjugado
com a falta de circulao de ar propicia condies ideais ao aparecimento de manchas de
mofo no interior desta sala.
R. Corredor na ala norte; Banheiro dos funcionrios na ala norte
(a) foto 31 (b) foto 32
(c) foto 33 (d) localizao
(e) localizao
Figura 35 Corredor e banheiro na ala norte
o Descrio por observao visual: Fissuras na parte superior das portas (a), deformao do marco da porta (b). Fissura com espessura mdia na parede e no rejunte do revestimento
cermico, descolamento de placas cermicas (c).
o Manifestaes detectadas: Fissuras.
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o Causas provveis: Em ambos os quadros as fissuras possuem causas como a grande maioria das fissura presentes na edificao (deformaes geradas por recalques).
o Mecanismo de ocorrncia: A falta de capacidade de carga do solo gerado pelo carreamento de finos, levou a edificao a deformar-se gerando fissuras em vrios locais.
4.5 Solues propostas
A seguir so apresentadas solues para as manifestaes patolgicas encontradas na
edificao. Tendo em vista causas comuns, bem como os mecanismos de ocorrncia das
manifestaes, as solues foram agrupadas e elaboradas para resolver os seguintes
problemas:
4.5.1 Manifestaes causadas pelo recalque e deformao da fundao
Este item trata das solues das manifestaes causadas pelo recalque e deformao da
fundao tais como fissuras, desnvel do piso em frente cozinha, descolamento e
deformao de uma escada externa e afastamento do passeio da edificao.
Como a grande maioria das manifestaes foi causada pelo ineficiente desempenho da
fundao (recalque e deformao), portanto esta recebe a denominao de agente imediato.
Mas como citado nas provveis causas e no mecanismo de ocorrncia das manifestaes,
percebe-se que tambm possui provveis agentes remotos, como vazamentos da rede de
instalaes hidrossanitrias e construo de poos sumidouros prximos a edificao. Logo
soluo inicia-se com a remoo destes agentes remotos. Ou seja, substituio das instalaes
hidrossanitrias para que no ocorram mais vazamentos que venham interferir na capacidade
de carga do solo eliminando o processo de carreamento de finos deste. Somente aps deve-se
recuperar e tratar a fundao.
Existem vrias maneiras de se tratar o fenmeno de recalque de uma edificao e por
conseqncia eliminar o aparecimento de fissuras. Primeiramente deve-se eliminar os
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vazamentos a fim de eliminar o carreamento de solo, e somente aps isto reabilitar a
fundao.
Gotlieb (1998) comenta que as solues de reforos de fundaes so muito variadas e
dependem de condicionantes como o tipo de solo, urgncia de execuo, as fundaes
existentes, o nvel de carregamento e o espao fsico disponvel para execuo. Mas cita
algumas solues muito interessantes, como:
Reparo ou reforo dos materiais: onde os problemas estariam na deteriorao dos materiais constituintes da fundao.
Enrijecimento da estrutura: para casos onde se procura-se diminuir os recalques diferenciais, atravs de implantaes de vigas de rigidez interligando as fundaes, ou
a introduo de peas estruturais gerando o travamento da estrutura.
Aumento da rea de apoio: baseado no aumento da seo em planta da sapata ou da base do tubulo, efetuada por meio de enxerto de material.
Estacas prensadas: constitui-se na instalao de pequenos elementos superpostos de estacas (concreto armado vazado ou perfis metlicos), cravados com macaco
hidrulico que reage contra uma cargueira, contra a prpria estrutura ou a fundao j
existente. A Figura 36 ilustra o sistema com cargueira e Figura 37 com reao contra
estrutura existente.
Figura 36 Cargueira para cravao de estacas prensadas Fonte: Gotlieb (1998)
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Figura 37 Cravao de estacas com reao contra a estrutura existente Fonte: Gotlieb (1998)
Estacas injetadas: so denominadas estacas-raiz, microestacas e pressoancoragens, executadas por perfurao com circulao de gua, e com equipamentos de pequenas
dimenses possibilitanto o acesso em locais com limitao de altura. Possuem a
vantagem de no produzir vibraes durante sua implantao, mas a circulao de
gua pode vir a causar ainda mais instabilidade em fundaes problemticas. Estas
estacas podem ser instaladas inclinadas ou verticalmente ao lado das peas a serem
reforadas. A figura 38 ilustra algumas sees de corte da soluo.
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Figura 38 Sees de corte de estacas injetadas
Fonte: Gotlieb (1998)
Estacas convencionais: so casos em que haja altura suficiente para a instalao de equipamento de bate-estacas. As estacas podem ser de concreto convencional,
protendido, metlicas (perfis soldados, laminados e trilhos) ou do tipo moldadas in-
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loco como, Strauss por necessitar altura mnima de 5m para instalao do trip
utilizado do procedimento de execuo.
Sapatas, Tubules e Estacas Adicionais; baseia-se na instalao de mais apoios por meio de acrscimo do nmero dos elementos de fundao.
Melhoria das condies de solo; consistem em mtodos que permitem melhorar as caractersticas de resistncia e compressibilidade dos solos de apoio das fundaes.
Face ao exposto das solues propostas por Gotlieb (1998), pode-se analisar e adaptar de
certa forma alguma soluo para o caso em estudo.
Primeiramente deve-se evitar maiores vibraes que aumentem riscos e comprometam
ainda mais a edificao, em segundo lugar deve-se tambm evitar a presena de circulao de
gua, pois como j comprovado existe vazamentos na rede que permitem a presena de
grande quantidade de gua.
Torna ainda mais difcil a soluo o fato da fundao ter sido executada apenas com
material granular (areia) confinado, ou seja, a fundao baseada em valetas de
aproximadamente 1,5m de profundidade preenchidas com areia compactada, que permaneceu
confinada exercendo funo de dissipar as tenses do alicerce de nivelamento das paredes,
conforme Figura 39.
Figura 39 Seo da fundao com material granular confinado.
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Logo solues como utilizao de macacos hidrulicos com o objetivo de recolocar a
edificao em sua posio original anterior as deformaes, tornam-se inviveis tecnicamente,
pois no existe rigidez suficiente na fundao que possibilite operaes deste gnero.
Uma soluo que pode ser citada, embora merea estudos tcnicos e econmicos mais
detalhados a injeo de nata de cimento na camada de solo granular da fundao. Solues
como esta so citadas por Guimares Filho (1984), em consolidao de minas de extrao de
minrios, tneis e barragens de gravidade. O mesmo autor afirma que a injeo em solos tem
como princpio bsico o aumento das presses, atravs da reduo de vazios, e que as
presses de injeo dependem do solo ser consolidado, do tipo, uso e porte da obra e das
profundidades serem atingidas.
No caso em estudo esta soluo tecnicamente possvel, pois tornaria a fundao em um
bloco monoltico, reduzindo a suscetibilidade a umidade e o carreamento de finos,
possibilitando que assim as deformaes e deslocamentos da edificao parem de evoluir.
Outra soluo que pode ser citada baseia-se em experincias profissionais do Engenheiro
Luiz Saenger: consiste em execuo de gravatas envoltrias ao alicerce de fundao, que
so suportadas por blocos de coroamento e estacas. A seqncia de execuo a seguinte:
1. Execuo das estacas com profundidades, dimetros e distancias conforme estudos
prvios e projeto. Figura 40.
Figura 40 Execuo das estacas
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2. Execuo de blocos de coroamento das estacas sob o alicerce da fundao existente.
Figura 41.
Figura 41 Execuo dos blocos
3. Execuo das gravatas de concreto armado que envolvero o alicerce j devidamente
apicoado com o objetivo de melhorar a aderncia entre ambos materiais. Figura 42.
Figura 42 Execuo das gravatas
Percebe-se que tal soluo deixaria de utilizar o material granular confinado como suporte
de cargas, passando tal funo as estacas. Mas o fator principal para o sucesso desta soluo
est na rigidez do sistema, ou seja, a perfeita aderncia entre a gravata e a alvenaria. Pois se
tal aderncia garantir que o peso da parede seja suportado quase exclusivamente pelo sistema
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de gravatas e blocos de estacas, as fundaes antigas (material granular) deixariam de
suportar as cargas da edificao, e conseqentemente no se deformariam mais.
Com o problema de deformao e movimentao da fundao, resolvido, pode-se de
maneira particular solucionar os seguintes fenmenos da edificao:
Pequenas fissuras: selagem com nata de cimento ou execuo de reboco novo.
Descolamento e deformao da escada da edificao e afastamento do passeio e desnvel do piso prximo a cozinha: retirar o solo de suporte e realizar um aterro
devida