Post on 09-Feb-2016
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANADEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
COLEGIADO DE MÚSICA
PSICOLOGIA DA MÚSICA
Estudante: Robson Cardoso
RESENHA
ARAÚJO, R. C. Motivação e ensino de música. Mentes em Música,
organizado por Beatriz Senoi Ilari e Roseana Cardoso Araújo, p. 111–130, 2010.
O artigo Motivação e ensino de música tece um panorama geral sobre o
estudo da motivação na aprendizagem musical, trazendo um resumo das
principais teorias sobre o tema e de pesquisas proeminentes realizadas na área.
Primeiramente, a autora apresenta brevemente quatro teorias que abordam a
motivação sob diferentes aspectos, trazendo seus principais autores e conceitos
chaves. Em seguida ela traz diversas pesquisas sobre o tema, trazendo a
metodologia utilizada e os resultados alcançados. Por fim, são feitos comentários
sobre a aplicabilidade desse escopo de conhecimentos na prática do educador
musical e ressalta-se a importância de aumentar o número de pesquisas nesta
área.
Inicialmente, a autora trata do conceito de motivação, trazendo a raiz
etimológica da palavra e ressaltando que o estudo da motivação pode ser útil ao
trabalho dos professores de música, auxiliando no direcionamento dos processos
de aprendizagem musical. A seguir, a autora enfatiza a importância de um
referencial teórico consistente para que as pesquisas em motivação possuam
alguma aplicabilidade e apresenta as quatro teorias sobre motivação que serão
abordadas no texto: autodeterminação; expectativa-valor; fluxo; autoeficácia e
autorregulação.
A teoria da autodeterminação entende que existem necessidades
psicológicas inatas (autonomia, competências, necessidade de pertencimento), e
que as diferenças individuais e os contextos sociais que auxiliam na satisfação
dessas necessidades básicas facilitam o crescimento natural do indivíduo e
possuem em si processos de integração da motivação intrínseca com a
extrínseca. Esta realação é o foco desta teoria. Na teoria da autodeterminação há
uma relação hierárquica entre as motivações, no que é chamado de continuum:
"desmotivação - motivação extrínseca (regulação externa, introjetada, identificada
e integrada) – motivação intrínseca" (Araújo, 2010, p. 114).
A teoria expectativa-valor, por sua vez, encara como elementos
determinantes para a motivação do indivíduo as crenças nas habilidades, as
expectativas de sucesso e os componentes subjetivos de valoração da atividade
realizada. A expectativa corresponde a crença do indivíduo na sua capacidade de
realização de uma tarefa e o valor a avaliação do sujeito quanto a importância
desta tarefa.
A teoria do fluxo coloca que aspectos da motivação intrínseca e o
estabelecimento de metas que direcionem a ação do indivíduo geram o estado de
fluxo, que consiste em um profundo envolvimento com a atividade realizada. Para
que o estado de fluxo ocorra é necessário observar se os desafios propostos não
estão acima ou abaixo das possibilidades do sujeito, o que pode respostas
prejudiciais a realização da atividade. Além disso, é importante que haja a correta
relação entre a emoção, as metas e as operações mentais cognitivas para que o
indivíduo focalize sua energia psíquica na tarefa realizada. O envolvimento do
sujeito numa experiência de fluxo leva ao crescimento pessoal, já que o indivíduo
tende a buscar novas experiências e desafios que propiciem o mesmo resultado.
A teoria da autoeficácia trata das crenças do sujeito sobre sua capacidade
de reunir esforços e conhecimentos para realizar uma determinada tarefa. Para os
estudiosos desta teoria, a percepção da eficácia modela o comportamento
humano, influenciando os indivíduos em suas ações dentro da vida social. Em
nível mais amplo, existe uma crença de eficácia construída coletivamente, a
eficácia coletiva, que é construída na escola. Ligada a autoeficácia está a
capacidade de autorregulação, com a qual as pessoas estabelecem controle
sobre seu processo motivacional, sua vida emocional, seus pensamentos, seus
comportamentos. A autorregulação auxilia no processo de aprendizagem, pois
permite que os sujeitos sejam ativos, com atitudes independentes e gerenciados
pela motivação intrínseca.
Após fazer uma breve explanação sobre as quatro teorias, a autora trata
das pesquisas sobre motivação e sua aplicabilidade à educação musical,
ressaltando que são variados os enfoques das investigações. Ela cita os autores
O'Neil e McPherson, que identificaram, dentre a bibliografia sobre motivação no
ensino de música, elementos básicos que auxiliam na aprendizagem musical,
quais sejam, o potencial, o prazer, o compromisso, as metas, entre outros.
A autor cita as pesquisas de Tsitsaros, afirmando que este autor, que tem
como foco a teoria da autodeterminação, coloca em seus trabalhos que as
crianças têm propensões inatas ao aprendizado, que podem ser estimuladas ou
enfraquecidas a depender do ambiente. Este autor indica que para manter um
ambiente favorável a aprendizagens o professor deve instigar a curiosidade dos
alunos, considerar suas preferências musicais, reforçar elementos e habilidades
trabalhados anteriormente e procurar capturar o entusiasmo dos estudantes no
início de cada aula. Para os pais é indicado mostrar interesse pelo estudo da
criança, fazer comentários positivos e ajudar na revisão da tarefa e estudos. Outro
estudo citado pela autora é o de Howe e Sloboda, que buscou investigar
experiências significativas que influenciaram os jovens pesquisados no progresso
de suas performances instrumentais. Para isso foram utilizados a análise das
vivências musicais no contexto familiar a interação destes alunos e pais no
contexto dos ambientes institucionais de ensino de música.
Os estudos de Addessi e Pachet são citados como um exemplo de
investigação usando a teoria do fluxo. Estes pesquisadores investigaram a
presença de 11 variáveis (excitação, envolvimento, atenção direcionada,
concentração, retorno imediato, controle da situação, motivação intrínceca,
mudança da percepção do tempo, objetivos claros, prazer e socialização) em
crianças de 3 a 5 anos durante atividades musicais realizadas individualmente e
em grupo e gerenciadas por um software. Os pesquisadores chegaram à
conclusão que mesmo crianças pequenas podem estar imersas em uma atividade
musical. Outro trabalho envolvendo a teoria do fluxo, realizado por O'Neil (1999),
investigou a experiência de fluxo na prática instrumental de jovens de 12 a 16 e
concluiu que os contextos avaliativos podem reduzir a experiência de fluxo,
principalmente os estudantes menos habilidosos, e que deve-se buscar
estratégias para manter estes estudantes motivados.
O trabalho de McPherson e McCormick (2007) usa a teoria expectativa-
valor na investigação sobre o valor intrínseco, valor utilitário e valor de custo dado
por estudantes entre 9 e 19 anos sobre um teste de performance musical. Como
conclusão os autores apontam que os testes se configuraram um importante
prognóstico do desempenho dos estudantes. Outro trabalho de McPherson
verificou que os estudantes iniciantes eram capazes de expressar as expectativas
e o valor do aprendizado musical, conferindo a este grande importância e
mostrando-se motivados. Outro estudo de McPherson e McCormick investigou o
nível de autoeficácia de pianistas de diversas idades e concluíram que altos níveis
de autoeficácia favorecem a confiança do performer e asseguram a persistência
dos mesmos. Por fim, a autora aponta direções para o estudo da motivação no
ensino de música, de acordo com as teorias apresentadas, e ressalta a
importância de alargar o corpo de trabalhos sobre este tema no país.
O artigo é uma importante referência introdutória ao estudo da motivação
na aprendizagem musical, sobre tudo por apresentar quatro teorias que abordam
este tema e trazer pesquisas que utilizam essas teorias para investigar a
motivação para o ensino de música. Entretanto, ao explanar sobre as teorias o
texto se torna denso, já que muitos conceitos específicos de cada teoria são
colocados em um espaço reduzido. Nas conclusões a autora tece considerações
que são de grande valia para auxiliar o educador musical a elaborar atividades
que ajudem a manter a motivação dos estudantes.