Resenha Motivação e Ensino de Música - Roseane Cardoso de Araújo

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES COLEGIADO DE MÚSICA PSICOLOGIA DA MÚSICA Estudante: Robson Cardoso RESENHA ARAÚJO, R. C. Motivação e ensino de música. Mentes em Música, organizado por Beatriz Senoi Ilari e Roseana Cardoso Araújo, p. 111–130, 2010. O artigo Motivação e ensino de música tece um panorama geral sobre o estudo da motivação na aprendizagem musical, trazendo um resumo das principais teorias sobre o tema e de pesquisas proeminentes realizadas na área. Primeiramente, a autora apresenta brevemente quatro teorias que abordam a motivação sob diferentes aspectos, trazendo seus principais autores e conceitos chaves. Em seguida ela traz diversas pesquisas sobre o tema, trazendo a metodologia utilizada e os resultados alcançados. Por fim, são feitos comentários sobre a aplicabilidade desse escopo de conhecimentos na prática do educador musical e ressalta-se a importância de aumentar o número de pesquisas nesta área. Inicialmente, a autora trata do conceito de motivação, trazendo a raiz etimológica da palavra e ressaltando que o estudo da motivação pode ser útil ao trabalho dos professores de música, auxiliando no direcionamento dos processos de aprendizagem musical. A seguir, a autora enfatiza a

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANADEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES

COLEGIADO DE MÚSICA

PSICOLOGIA DA MÚSICA

Estudante: Robson Cardoso

RESENHA

ARAÚJO, R. C. Motivação e ensino de música. Mentes em Música,

organizado por Beatriz Senoi Ilari e Roseana Cardoso Araújo, p. 111–130, 2010.

O artigo Motivação e ensino de música tece um panorama geral sobre o

estudo da motivação na aprendizagem musical, trazendo um resumo das

principais teorias sobre o tema e de pesquisas proeminentes realizadas na área.

Primeiramente, a autora apresenta brevemente quatro teorias que abordam a

motivação sob diferentes aspectos, trazendo seus principais autores e conceitos

chaves. Em seguida ela traz diversas pesquisas sobre o tema, trazendo a

metodologia utilizada e os resultados alcançados. Por fim, são feitos comentários

sobre a aplicabilidade desse escopo de conhecimentos na prática do educador

musical e ressalta-se a importância de aumentar o número de pesquisas nesta

área.

Inicialmente, a autora trata do conceito de motivação, trazendo a raiz

etimológica da palavra e ressaltando que o estudo da motivação pode ser útil ao

trabalho dos professores de música, auxiliando no direcionamento dos processos

de aprendizagem musical. A seguir, a autora enfatiza a importância de um

referencial teórico consistente para que as pesquisas em motivação possuam

alguma aplicabilidade e apresenta as quatro teorias sobre motivação que serão

abordadas no texto: autodeterminação; expectativa-valor; fluxo; autoeficácia e

autorregulação.

A teoria da autodeterminação entende que existem necessidades

psicológicas inatas (autonomia, competências, necessidade de pertencimento), e

que as diferenças individuais e os contextos sociais que auxiliam na satisfação

dessas necessidades básicas facilitam o crescimento natural do indivíduo e

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possuem em si processos de integração da motivação intrínseca com a

extrínseca. Esta realação é o foco desta teoria. Na teoria da autodeterminação há

uma relação hierárquica entre as motivações, no que é chamado de continuum:

"desmotivação - motivação extrínseca (regulação externa, introjetada, identificada

e integrada) – motivação intrínseca" (Araújo, 2010, p. 114).

A teoria expectativa-valor, por sua vez, encara como elementos

determinantes para a motivação do indivíduo as crenças nas habilidades, as

expectativas de sucesso e os componentes subjetivos de valoração da atividade

realizada. A expectativa corresponde a crença do indivíduo na sua capacidade de

realização de uma tarefa e o valor a avaliação do sujeito quanto a importância

desta tarefa.

A teoria do fluxo coloca que aspectos da motivação intrínseca e o

estabelecimento de metas que direcionem a ação do indivíduo geram o estado de

fluxo, que consiste em um profundo envolvimento com a atividade realizada. Para

que o estado de fluxo ocorra é necessário observar se os desafios propostos não

estão acima ou abaixo das possibilidades do sujeito, o que pode respostas

prejudiciais a realização da atividade. Além disso, é importante que haja a correta

relação entre a emoção, as metas e as operações mentais cognitivas para que o

indivíduo focalize sua energia psíquica na tarefa realizada. O envolvimento do

sujeito numa experiência de fluxo leva ao crescimento pessoal, já que o indivíduo

tende a buscar novas experiências e desafios que propiciem o mesmo resultado.

A teoria da autoeficácia trata das crenças do sujeito sobre sua capacidade

de reunir esforços e conhecimentos para realizar uma determinada tarefa. Para os

estudiosos desta teoria, a percepção da eficácia modela o comportamento

humano, influenciando os indivíduos em suas ações dentro da vida social. Em

nível mais amplo, existe uma crença de eficácia construída coletivamente, a

eficácia coletiva, que é construída na escola. Ligada a autoeficácia está a

capacidade de autorregulação, com a qual as pessoas estabelecem controle

sobre seu processo motivacional, sua vida emocional, seus pensamentos, seus

comportamentos. A autorregulação auxilia no processo de aprendizagem, pois

permite que os sujeitos sejam ativos, com atitudes independentes e gerenciados

pela motivação intrínseca.

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Após fazer uma breve explanação sobre as quatro teorias, a autora trata

das pesquisas sobre motivação e sua aplicabilidade à educação musical,

ressaltando que são variados os enfoques das investigações. Ela cita os autores

O'Neil e McPherson, que identificaram, dentre a bibliografia sobre motivação no

ensino de música, elementos básicos que auxiliam na aprendizagem musical,

quais sejam, o potencial, o prazer, o compromisso, as metas, entre outros.

A autor cita as pesquisas de Tsitsaros, afirmando que este autor, que tem

como foco a teoria da autodeterminação, coloca em seus trabalhos que as

crianças têm propensões inatas ao aprendizado, que podem ser estimuladas ou

enfraquecidas a depender do ambiente. Este autor indica que para manter um

ambiente favorável a aprendizagens o professor deve instigar a curiosidade dos

alunos, considerar suas preferências musicais, reforçar elementos e habilidades

trabalhados anteriormente e procurar capturar o entusiasmo dos estudantes no

início de cada aula. Para os pais é indicado mostrar interesse pelo estudo da

criança, fazer comentários positivos e ajudar na revisão da tarefa e estudos. Outro

estudo citado pela autora é o de Howe e Sloboda, que buscou investigar

experiências significativas que influenciaram os jovens pesquisados no progresso

de suas performances instrumentais. Para isso foram utilizados a análise das

vivências musicais no contexto familiar a interação destes alunos e pais no

contexto dos ambientes institucionais de ensino de música.

Os estudos de Addessi e Pachet são citados como um exemplo de

investigação usando a teoria do fluxo. Estes pesquisadores investigaram a

presença de 11 variáveis (excitação, envolvimento, atenção direcionada,

concentração, retorno imediato, controle da situação, motivação intrínceca,

mudança da percepção do tempo, objetivos claros, prazer e socialização) em

crianças de 3 a 5 anos durante atividades musicais realizadas individualmente e

em grupo e gerenciadas por um software. Os pesquisadores chegaram à

conclusão que mesmo crianças pequenas podem estar imersas em uma atividade

musical. Outro trabalho envolvendo a teoria do fluxo, realizado por O'Neil (1999),

investigou a experiência de fluxo na prática instrumental de jovens de 12 a 16 e

concluiu que os contextos avaliativos podem reduzir a experiência de fluxo,

principalmente os estudantes menos habilidosos, e que deve-se buscar

estratégias para manter estes estudantes motivados.

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O trabalho de McPherson e McCormick (2007) usa a teoria expectativa-

valor na investigação sobre o valor intrínseco, valor utilitário e valor de custo dado

por estudantes entre 9 e 19 anos sobre um teste de performance musical. Como

conclusão os autores apontam que os testes se configuraram um importante

prognóstico do desempenho dos estudantes. Outro trabalho de McPherson

verificou que os estudantes iniciantes eram capazes de expressar as expectativas

e o valor do aprendizado musical, conferindo a este grande importância e

mostrando-se motivados. Outro estudo de McPherson e McCormick investigou o

nível de autoeficácia de pianistas de diversas idades e concluíram que altos níveis

de autoeficácia favorecem a confiança do performer e asseguram a persistência

dos mesmos. Por fim, a autora aponta direções para o estudo da motivação no

ensino de música, de acordo com as teorias apresentadas, e ressalta a

importância de alargar o corpo de trabalhos sobre este tema no país.

O artigo é uma importante referência introdutória ao estudo da motivação

na aprendizagem musical, sobre tudo por apresentar quatro teorias que abordam

este tema e trazer pesquisas que utilizam essas teorias para investigar a

motivação para o ensino de música. Entretanto, ao explanar sobre as teorias o

texto se torna denso, já que muitos conceitos específicos de cada teoria são

colocados em um espaço reduzido. Nas conclusões a autora tece considerações

que são de grande valia para auxiliar o educador musical a elaborar atividades

que ajudem a manter a motivação dos estudantes.