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RELATÓRIO SOBRE MORTE DE TARTARUGAS MARINHAS REGISTADAS NO
PARQUE NACIONAL DAS QUIRIMBAS PELOS AGENTES COMUNITÁRIOS DO
SMOG (SISTEMA DE MONITORIA ORIENTADA PARA A GESTÃO)
PERÍODO DE 08-12 DE AGOSTO DE 2016
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Data: 09 de Setembro de 2016
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Elaborado Por: Abdala Moto-Presidente do CCP (Conselho Comunitário de Pescas)- ilha do Ibo
Eugidio Gobo – Oficial Marinho Júnior WWF
Lara Muaves-Oficial Marinho Sénior WWF
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Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
Matança de Tartarugas Marinhas no Parque Nacional das Quirimbas, no
período de 08 à 12 de Agosto de 2016
Morte de tartarugas marinhas reportadas pelos agentes comunitários do SMOG (Sistema de
Monitoria Orientada para a Gestão)
Dia 08 de Agosto de 2016
Numa das patrulhas diárias do SMOG, habitualmente efectuada por agentes comunitários
treinados em diversas áreas do Parque Nacional das Quirimbas, cinco (5) agentes (Abdala
Moto, Anli Manchude, Abdul Alide, Amisse Ussene e Bai Garido), encontraram na zona do
canal entre a ilha Menfuvo e margem da ilha Arimba, um barco identificado por COCA-COLA
carregando duas (2) tartarugas marinhas, uma ainda viva (tartaruga gigante) e a outra já
morta (tartaruga verde), com ferimentos e golpes na cabeça (Figura 1). O barco estava sob a
responsabilidade de quatro pescadores locais (cujos nomes não foram registados), e nenhum
se identificou como proprietário do barco, poís afirmaram que o barco tinha sido
especificamente alugado naquele dia para a pesca.
Os agentes,s ensibilizaram os pescadores para fazerem a devolução da tartaruga viva no
canal, pelo que a acção acabou se realizando com a colaboração de todos os ocupantes dos
dois barcos (agentes do SMOG e pescadores).
A tartaruga morta foi levada até às margens da de Arimba, onde os agentes reportaram o
caso ao líder comunitário e ao fiscal do Parque presente no local (Sr. Momade Juma).
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
No decurso desse processo, apareceu um pescador local (cujo nome não foi registado), que
se ofereceu um valor monetário em troca da tartaruga morta, afirmando que era pescador
de caranguejo e estava apenas interessado na carne da tartaruga para usá-la como isca nas
suas gaiolas de modo a maximizar as capturas de caranguejo.
Entretanto, o líder comunitário informou ao pescador de caranguejo que não era possível
satisfazer o seu pedido, pois mesmo a tentar comprar a carne de uma tartaruga marinha
morta poderia seria direcionado às autoridades competentes e responder à um processo, o
que aparentemente desencorajou o pescador que desistiu da ideia de comprar a tartaruga
morta e retirou-se do local.
Contudo, após cerca de duas horas, constatou-se que a tartaruga morta havia desparecido do
local organizado para a incineração. A incineração estava a ser organizada pelo fiscal do
Parque, agentes comunitários do SMOG, líder comunitários com assistência de alguns e
pescadores/as locais. O líder comunitário e fiscal do parque responsabilizaram-se em
prosseguir com as investigações para e reportar oficialmente às autoridades do PNQ e
parceiros.
Dia 9 de Agosto de 2016
Três agentes do SMOG (Ancha Bacar, Oga Ame e Momade Alide), encontraram uma tartaruga
(verde) morta nas margens da ilha Matemo- em Pangueleze, durante uma das patrulhas para
a monitoria SMOG, (Figura 2).
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
Dia 10 de Agosto de 2016
Foi encontrada uma outra tartaruga (verde) morta na praia de Matemo-Okaya (Figura 3). Este
cenário foi reportado por uma agente comunitária do SMOG baseada de nome Ancha Bacar,
que fazia a sua patrulha de monitoria diária.
Dia 12 de Agosto de 2016
Dois agentes comunitários do SMOG, baseados na ilha do Ibo (Anli Manchude e Insa Amisse)
faziam a patrulha de monitoria na zona de mangais na aldeia Cumuamba, por volta das 9
horas da manhã quando encontraram carapaças, vísceras e cabeças de tartarugas marinhas
(verde) num esconderijo dentro da floresta do mangal, chamado Paloco. Este local é também
conhecido como cemitério de tartarugas marinhas.
Segundo os agentes comunitários, considerando o estado fresco dos restos mortais
encontrados, as tartarugas tinham provavelmente sido capturadas, mortas e esfoladas há
aproximadamente 4-5 horas (Figura 4).
Visita da Equipe do WWF e outros Agentes do SMOG aos Locais onde foram Encontradas
as Tartarugas Marinhas Mortas
Dia 11 de Agosto de 2016
A equipe da WWF que se encontrava nos arredores do PNQ em missão de trabalho, deslocou-
se nas primeiras horas da manhã para a ilha Matemo, afim de recolher mais evidências para
reforçar a reportagem às autoridades do Parque.
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
As tartarugas encontradas mortas nos dias 09 e 10 de Agosto já estavam em estado de
decomposição/putrefação, contudo, facilmente verificou-se que a tartaruga marinha
encontrada morta em Pangueleze era adulta (figura 2) e a de Okaya estava ainda na fase
juvenil (figura 3).
Segundo os agentes comunitários do SMOG e outros membros da comunidade de Matemo,
estas tartarugas foram acidentalmente capturadas durante as actividades normais de pesca
e os pescadores abandonaram-nas no mar, tendo sido arrastadas pela maré até aos locais
onde foram encontradas.
Dia 12 de Agosto de 2016
Ainda no dia do registo de tartarugas mortas em Paloco, a equipe do WWF e mais agentes
comunitários do SMOG, deslocaram-se ao local recolha de mais evidências e posterior
reportagem às autoridades do Parque sobre as consecutivas mortes de tartarugas marinhas
na área.
Confirmando a veracidade dos factos, a equipe filmou e fotografou no local restos mortais
ainda “frescos” de três (3) tartarugas marinhas que tinham sido registadas no mesmo dia
pelos agentes do SMOG (Figura 4). As vísceras, as cabeças e os ossos das tartarugas estavam
espalhadas no local e a carne tinha sido totalmente separada dos ossos e das carapaças e
levadas pelo/s infractor/es para fins e destino desconhecidos.
Foram também encontradas em Paloco dezenas de vestígios de carapaças e ossos antigos, o
que evidentemente indica que este local tem sido habitualmente usado como um esconderijo
para matança de tartarugas marinhas na ilha do Ibo e reforça o nome atribuído ao local:
“cemitério de tartarugas marinhas do Ibo”.
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
Tabela 1: Informação sobre as tartarugas marinhas mortas e registadas durante o mês de Agosto de 2016 através do
Sistema de Monitoria Orientada para a Gestão.
Local Coordenadas Nº e espécies de tartarugas marinhas
Observações
Canal entre as ilhas Menfuvo Arimba
---------- 2 (verde), uma viva e uma morta
A tartaruga viva foi devolvida ao mar e morta foi “roubada” durante o processo de registo e averiguações
Okaya (Ilha Matemo) 12◦11.844´ 40◦33.717´
1 (olivácea) Fase juvenil, encontrada a flutuar em frente a Matemo Beach Lodge
Pangueleze (Ilha Matemo) 12◦15.119´ 40◦35.632´
1 (Não identificada) Fase adulta, encontrada a flutuar em Mwanambo
Paloco (Ilha do Ibo)
12◦19.685´ 40◦36.027´
3 (verde)
Duas na fase adulta e uma juvenil (verde), com indicações de morte recente . A carne separada das carapaças, cabeças, ossos e levadas pelo/s infractor/es. Esconderijo no mangal, com restos e vestígios de carapaças antigas.
Figura 1: Agentes comunitários do SMOG e pescadores fazendo a devolução de uma tartaruga marinha no canal entre
Menfuvo e a margem de Arimba. (Fotos: Saíde Amade).
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
Figura 2: Tartaruga marinha (espécie não identificada), semi-incinerada, encontrada morta e registada em Pangueleze, na
ilha Matemo (Fotos: Eugídio Gobo).
Figura 3: Tartaruga Marinha (Olivácea na fase juvenil) encontrada morta em Okaya, na Ilha Matemo. A mensagem ecrita
no pedaço de madeira ao lado “Cuidado, não mexer a tartaruga”, foi deixada pela agente comunitária do SMOG, Ancha
Bacar, enquanto aguardava-se ainda por uma tomada de acção pelos fiscais do PNQ, líderes comunitários e outras
autoridades locais.
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
Figura 4: Carapaças, cabeças, ossos e vísceras de tartarugas marinhas (verde), encontrados e registados pelos agentes
comunitários do SMOG (Anli Manchude e Insa Amisse) em Paloco, mangal da ilha do Ibo. (Fotos: Lara Muaves).
Reunião sobre o cemitério de tartarugas marinhas da Ilha do Ibo
Local: Aldeia Cumuamba:
Participantes: representantes do PNQ, líderes comunitários, chefe do posto e agentes
comunitário do SMOG
Dia 15 de Agosto de 2016
Dois dias após a descoberta dos restos mortais de três tartarugas marinhas no mangal da ilha
do Ibo, cemitério de tartarugas marinhas denominado Paloco, os agentes comunitários do
SMOG organizaram uma reunião na aldeia Cumuamba, convidando a comunidade e
entidades locais, para recolha de mais informações e tentativa de identificação do/s
infractor/es.
Matança de Tartarugas Marinhas por Pescadores no PNQ
Os resultados desta reunião serviram de uma base forte para a denúncia às autoridades
competentes e para o prosseguimento do caso.
Contudo, antes da realização desta reunião foi possível identificar um dos infractores da
matança em Paloco, de nome Buraimo Ncoroma (Figura 5). A comunidade acredita que o acto
foi cometido por mais de um pescador. Espera-se no entanto que o infractor identificado
indique o paradeiro dos restantes infractores que até a data ainda não identificados, para que
as autoridades do PNQ tomem as medidas necessárias baseando-se nas ferramentas legais
que o País dispõe.
Figura 5: Reunião realizada na aldeia Cumuamba, ilha do Ibo, para consolidação das evidências recolhidas e posterior
denúncia do caso às autoridades locais do PNQ, com a participação de líderes comunitários, chefe do posto, representantes
do PNQ e agentes do SMOG. O infractor identificado na última fotografia à direita, Sr. Buraimo Ncoroma (Fotos: Saíde
Amade).