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Projeto - Grande Otelo
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fa/Grande_otelo_arte.jpg?uselang=pt-br
Este material tem como objetivo apresentar aos estudantes o importante ator de teatro, cinema e televisão: Grande Otelo. Como uma das personagens memoráveis brasileiras, Otelo foi muito importante para o desenvolvimento das artes cênicas no Brasil, desbravando com retidão as dificuldades da vida. Em 2015, uma escola de samba do Rio de Janeiro irá homenageá-lo e sua graça será ainda mais conhecida no mundo inteiro.
Introdução sobre Grande Otelo
Quando nasceu em Uberlândia, Minas Gerais, seu pai foi assassinado, ainda muito jovem e sua
mãe se perdeu no vício da bebida. Martirizado pela vida, e ainda criança, Grande Otelo fugiu com
um teatro mambembe e, algum tempo depois, foi adotado por uma família de políticos em São
Paulo. Estudou no colégio Sagrado Coração de Jesus em São Paulo. O nome verdadeiro de
Grande Otelo é Sebastião Bernardes de Souza Prata. Sua vida foi muito atribulada e sua carreira
de grande ascensão. Adotou esse nome em referência ao grande clássico de Shakespeare. O
ator passou pelos palcos de grandes cassinos e teatros.
Sua carreira no cinema:
Noites Cariocas (1935)
Onde estás, felicidade (1939)
Em 1942, participou de "It's all true", filme realizado por Orson Welles no Brasil.
Romance proibido (1944)
Tristezas não pagam dívidas (1944)
Segura esta mulher (1946)
Este mundo é um pandeiro (1947)
Carnaval no fogo (1949)
Não é nada disso (1950)
Aviso aos navegantes (1950)
Carnaval Atlântida (1952)
Amei um bicheiro (1953)
Dupla do barulho (1953)
Matar ou correr (1954)
Malandros em quarta dimensão (1954)
Rio Zona Norte (1957)
De pernas pro ar (1957)
Entrei de gaiato (1960)
O dono da bola (1961)
Assalto ao trem pagador (1962)
Samba (1966)
Macunaíma (1969)
Se meu dólar falasse (1970)
A estrela sobre (1974)
A noiva da cidade (1978)
Asa branca (1980)
Brasa adormecida (1986)
Tudo é Brasil (1997)
Participação em telenovelas:
Uma rosa com amor (1972)
Bravo! (1975/76)
Maria, Maria (1978)
Feijão Maravilha (1979)
A Gata Comeu (1985)
Sinhá Moça (1986)
Mandala (1987)
Renascer (1993)
“Em "Fitzcarraldo" (1982), do alemão Werner Herzog, filmado na selva do Peru, Otelo precisava fazer uma cena em inglês, mas resolveu falar espanhol. Quando o filme estreou na Alemanha, aquela foi a única cena aplaudida pelo público.”
Mais informações sobre a vida do autor: http://educacao.uol.com.br/biografias/grande-otelo.jhtm
Grande Otelo morreu na França, em 1993, onde iria receber uma homenagem no Festival de Nantes.
Entrevista dada ao importante programa de televisão “Roda Viva”: https://www.youtube.com/watch?v=rcDCPDrOj2Q
Curiosidades sobre Grande Otelo: http://guiadoscuriosos.com.br/categorias/759/1/grande-otelo.html
Atividade sobre a biografia de Grande Otelo
QUESTÃO 01 INDIQUE onde Grande Otelo nasceu. ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 02 Grande Otelo ficou marcado pela grande alegria que transparecia em seus filmes, além de ser um comediante nato. EXPLIQUE se ele teve uma infância feliz, considerando as vicissitudes de sua vida e o antagonismo entre a sua infância e a sua carreira.
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QUESTÃO 03 NARRE qual foi a primeira experiência que Grande Otelo teve na vida com as atividades teatrais. Depois responda: essa experiência foi importante para o ator? ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 04 a- Quem foi Orson Welles? ______________________________________________________________________________________________
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b- Como foi o trabalho de Otelo e Orson Welles? ______________________________________________________________________________________________
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Dicas sobre Orson Welles: http://www.portal-cinema.com/2008/06/biografia-orson-welles.html
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=4213276
http://www.adorocinema.com/personalidades/personalidade-989/
Macunaíma: um filme sobre o brasileiro
Um dos filmes mais importantes de Grande Otelo foi a história, para o cinema, do livro “Macunaíma”, de Mário de Andrade.
Veja, abaixo, a crítica do livro de Mario de Andrade, escrita para o site “Crítica na Rede”:
Fauno insaciável
Antônio Ribeiro de Almeida
Macunaíma, o Herói Sem Nenhum Caráter, de Mário de Andrade
Em apenas 30 dias, quando passava umas férias em numa chácara em Araraquara, interior de São Paulo, Mário de
Andrade escreveu Macunaíma que seria um clássico da literatura brasileira e que levantaria a questão se o herói é
ou não o protótipo do brasileiro.
Caráter, como se sabe, quer dizer muitas coisas. A interpretação mais imediata é a de que Macunáima não tem
caráter porque não vive os valores da civilização ocidental. Um crítico, com preocupações estatísticas, ficaria
espantando com o número de vezes — mais de uma centena — que o herói "brinca" com todas as mulheres que
encontra no seu caminho.
É um fauno insaciável, e, neste sentido, refletiria o sensualismo e o erotismo do brasileiro. Mas se ele "brinca" até
com a própria cunhada e a conquista do seu irmão, observa-se, por outro lado, que seus atos sexuais nunca são
descritos com lascívia, mas, antes, apresentados como jogos de um adolescente, e, sempre seguidos de punição.
Haroldo Campos na sua "Morfologia de Macunaíma" (Ed. Perspectiva, 1973) mostra isto muito claramente no cap. 5
do seu livro. Macunáima possui Ci, rainha das Amazonas, e Ci acaba morrendo.
A morte do Ci acaba trazendo conseqüências indesejáveis para Macunaíma que inicia sua andança pelo Brasil afora.
Se ele é o Imperador do Mato Virgem o é sem a sua companheira e a violação do interdito tribal traz a punição. A
felicidade é jogada para o futuro e na posse de um talismã de felicidade, a "muiraquitã".
Todo o enredo da rapsódia se desenvolverá em torno de sua perda e recuperação.
Penso ainda que é possível descobrir uma consciência moral em Macunaíma. Sempre me intrigou, por exemplo, o
inicio do capítulo V que transcrevo: "No outro dia Macunaíma pulou cedo na ubá e deu uma chegada até a foz do Rio
Negro pra deixar a consciência [o grifo é meu] na ilha de Marapatá.
Deixou-a bem na ponta de um mandacaru de dez metros, pra não ser comida pelas saúvas." (p. 33). Não deixa de
ser simbólico que a consciência fique no Norte do país quando o herói se prepara para viajar para o Sul (S. Paulo),
onde estão todas as tentações e maravilhas.
Quando depois de muitas aventuras Macunaíma volta para o Norte ele retorna para morrer. Fica em aberto a questão
se ele algum dia pensava em "recuperar" sua consciência.
A edição crítica de Telê Ancona é magnífica, e, os irmãos portugueses têm neste texto um roteiro seguro para ver
como o brasileiro foi ou é interpretado por um dos seus maiores escritores.
Fonte: http://criticanarede.com/lds_macunaima.html
- Dissertação de Mestrado sobre o livro “Macunaíma”: MACUNAÍMA, CARÁTER DA DESCONSTRUÇÃO OU DESCONSTRUÇÃO DO CARÁTER? De Eduardo Timbó — Mestrando em Literatura Brasileira pelo PPG de Letras Vernáculas / UFRJ
- Importante estudo sobre “Macunaíma”:CAMPOS, Haroldo de. Morfologia do Macunaíma. São Paulo: Perspectiva, 1973.
Professor, o texto a seguir é uma compilação de várias críticas sobre o livro “Macunaíma”. Cada trecho pertence a um diferente autor. Esses textos podem ser lidos em sala de aula, após lerem e verem o filme “Macunaíma”.
Atividades
O Jornal do Brasil, como de costume, dedicava duas páginas aos grandes debates cinematográficos. No dia 7/11/69, diversos críticos do jornal escreveram sobre o lançamento do filme de Joaquim Pedro. Os textos vão aqui um após o outro:
LEIA os textos a seguir e FAÇA o que se pede logo depois.
O Filme em Questão: Macunaíma
TEXTO 01
Macunaíma, o herói hippie e tropicalesco, está experimentando o sabor do sucesso. O público ri muito dele e da
fauna à sua volta. É uma delirante loucura de hora e meia, tempo em que passam na tela as personagens e
situações mais extravagantes que Joaquim Pedro foi buscar na narrativa de Mário de Andrade, interpretando-lhe as
intenções provocantes e sardônicas em ritmo de comédia bufa. O cineasta superou-se, indo de um extremo a outro –
de O Padre e a Moça a Macunaíma, da delicada austeridade à comédia do absurdo. Esse absurdo é o tema
permanente do filme, o tem secreto que vem no fundo do caldeirão fervente no qual se misturam gostosamente as
mais diferentes componentes do anacronismo brasileiro. O "brasileiro de todos os tempos e de todas as regiões" que
fora objeto do exame lírico e grotesco de Mário de Andrade, encontra nos anos 70, um correspondente bem ajustado
ao espírito contemporâneo, através de uma visão grotesca e amargamente irônica.
Essa exasperada aventura em torno dos nossos costumes, de nossa moral, das contradições, vícios e virtudes
caboclas leva o tempero adequado da chanchada, instrumento de comunicação imediata. Macunaíma é um filme
tratado à maneira de uma "crazy-comedy", tolerando todos os recursos e pegando por aí, por seu jeito irresponsável.
A tônica vem logo na primeira imagem da fita: a Supermãe (Paulo José), em esforço definitivo, acocorada no chão,
dá luz a Macunaíma (Grande Otelo) que cai verticalmente, de cabeça. Daí em diante, o herói movimenta-se na sua
alegre e penosa trajetória em selvagem alucinação, de preto virando branco e deixando o sertão em troca da cidade
em companhia dos dois irmãos (Jiguê/Milton Gonçalves e Maanape/Rodolfo Arena). Na cidade, segue seu caminho
zombeteiro, na convivência com guerrilheiras, prostitutas, vilões milionários e personagens de todos os matizes. No
fim, depois do caos, a volta para a selva onde Macunaíma desaparecerá como viveu – antropofagicamente.
Macunaíma é um filme que soma farta invenção cômica. Dentro de seu tumulto, a organização e o bom gosto: a cor
trabalhada com cuidado, as roupas e cenários desenhados com apurado senso de seleção por Anísio Medeiros, e
um elenco que responde bem às difíceis exigências da aventura tropicalesca. Paulo José (Macunaíma branco e mãe
de Macunaíma), Grande Otelo (Macunaíma preto) e Jardel Filho (o vilão milionário), os três realmente impagáveis.
Alberto Shatovsky http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
TEXTO 02
Se o extraordinário M. Cavalcanti Proença, com aquela paciente sapiência que o caracterizava, levou um tempão e
tomou muitas páginas para analisar, em "Roteiro de Macunaíma", o livro-vertente de Mário de Andrade, logo se vê
que é dificílimo, praticamente impossível, escrever pouco, apressadamente, sobre o filme de Macunaíma. Mas,
também, é praticamente impossível escrever às pressas sobre qualquer filme-vertente do Cinema Novo, a começar
pela tetralogia com que Gláuber Rocha se propôs desarrumar o arrumado (Barravento, Deus e o Diabo na Terra do
Sol, Terra em Transe, O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro). Se, então, quase inevitavelmente, formos
levados a considerar em conjunto alguns dos riquíssimos produtos da última safra – O Bandido da Luz vermelha, O
Dragão da Maldade, Fome de Amor, Os Herdeiros, Jardim de Guerra e este Macunaíma, por exemplo – muito mais
facilmente sairemos para um nutrido ensaio, mesmo para um livro, do que para um pequeno artigo com vagas
intenções críticas. Ou, à falta de tempo para aquele ensaio, continuaremos no debate que vem marcando todas as
fases do movimento.
O Cinema Novo, numa primeira fase de tateios, assumiu conscientemente – como método de trabalho, preocupação
temática e pesquisa de linguagem – nosso próprio subdesenvolvimento, e passou a investir de peito aberto, por
vezes de maneira esquemática e/ou ingênua, contra os grandes problemas do cinema brasileiro, e do homem e da
cultura do país, em geral. Muito apropriadamente, Vidas Secas de Nelson Pereira dos Santos – o deflagrador do
movimento, em 1955, com Rio, 40 Graus – foi o coroamento desta fase. E, quase ao mesmo tempo, Gláuber Rocha
saía com Deus e o Diabo, para dar início a outra fase, em que as pesquisas se aprofundam e se ampliam de tal
modo que só podiam mesmo desaguar no estonteante vale-tudo desta terceira fase – que, a falta de melhor
expressão pode ser provisoriamente chamada de antropofágico-tropicalista.
Não é a toa que Nelson Pereira dos Santos tenta, há vários anos, levar à tela um roteiro canibalesco, Como Era Bom
o Meu Francês que, segundo tudo indica, finalmente será realizado em 1970. E há toda uma série de motivações
para que, a esta altura, o Cinema Novo retome certas proposições antropofágicas da Semana de Arte Moderna.
Estranho determinismo histórico este que faz dos Andrades – que nem parentes são – os profetas da nova
antropofagia. Mas, realmente, há que deglutir e expelir muita coisa, agora como em 1922.
E, para fazer seu filme de Macunaíma, Joaquim Pedro de Andrade teve de deglutir e expelir muita coisa, inclusive do
próprio Mário de Andrade: o roteiro com que iniciou as filmagens foi o terceiro ou quarto que escreveu. Ele próprio,
como qualquer outro cineasta de talento, poderia tirar inúmeros roteiros diferentes do livro de Mário de Andrade; e é
possível que um ou outro tivesse até mais validade que o roteiro do filme. Não importa. Importa, isto sim, que o filme
de Joaquim Pedro de Andrade é uma interpretação moderna, pessoal, criadora, dos múltiplos e magníficos tipos e
temas registrados em "Macunaíma" – livro.
Num esplêndido elogio da grossura, o cineasta bota mesmo pra derreter, em sua fedorenta feijoada, a carne seca
dos preconceitos, a lingüiça do maucaratismo, as costelas magras do subdesenvolvimento, o toucinho do
tropicalismo, temperando tudo com os mais variados condimentos das tais três praças tristes.
A trilha sonora, de uma cafonice exemplar, encontra uma perfeita correspondência nos figurinos e na cenografia de
Anísio Medeiros. Mas, também, Joaquim Pedro de Andrade soube cercar-se de contribuições maravilhosamente
grossas, em todos os setores e níveis, para dar seu recado – ou, talvez, para somar seu recado ao de Mário de
Andrade.
Num elenco excepcional, Grande Otelo está tão fabuloso que faz falta quando Macunaíma vira branco; e olhem que o
Macunaíma branco é Paulo José, igualmente inesquecível no papel da mãe. Destaquem-se, ainda neste apressado
finzinho, as contribuições de Rodolfo Arena, Milton Gonçalves, Jardel Filho e Dina Staf, que muito ajudam a colocar a
grossura e a antropofagia ao alcance de todos.
Alex Viany http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
TEXTO 03
Finalmente, um sucesso totalizante – de experiência, de crítica e de público – do cinemanovismo. Nos últimos dois
anos começou a ser freqüentado, com timidez ou vergonha, o programa sugerido pela crítica desde o impulso de
1962 entrou em declínio. Macunaíma é o primeiro êxito – depois da crise de comunicação – na área mais extremada
do que se convencionou chamar de Cinema Novo.
O que apontavam os críticos que discordavam dos rumos cinemanovistas? Uma seriedade impostada à míngua de
senso de humor, e que o humor fabricado de um Fome de Amor, por exemplo, não contestava. A inconsciência dos
limites individuais e da receptividade popular (nem todos podiam pretender, aos primeiros passos, o plano de
"réussite" que Nelson Pereira dos Santos levou uma década para encontrar com Vidas Secas). A falta de pesquisa
no terreno do espetáculo (falha mortal para um cinema sem tradições industriais firmadas). A irrisória pretensão de
promover uma consciência coletiva de metamorfose social a partir de comícios em lata, de experiências amorfas no
plano artístico e sem comunicabilidade. O primarismo político por trás da recusa à co-produção ou mesmo à
produção associada com distribuidoras aqui constituídas.
Os tempos mudaram e muitos desistiram de ser Peter Pans e de sonhar com a Terra do Nunca no país do jeitinho.
Joaquim Pedro é um dos que dão prova de amadurecimento: não pretendeu com Macunaíma um filme que fosse
importante para sua contemplação pessoal, e sim que sensibilizasse a imaginação e a sensibilidade populares
contribuindo para o enraizamento definitivo (em um futuro não remoto) do cinema como uma necessidade do país, da
cultura e da economia nacionais.
Macunaíma foi produzido sem miséria técnica (é um espetáculo que pode girar mundo sem constrangimento) graças
à participação financeira de uma distribuidora de filmes estrangeiros. Foi possível uma rica fotografia em cores por ter
sido viável, antes, pagar uma equipe de nível expressivo, incluindo um artista como Anísio Medeiros com base
orçamentária para trabalhar comodamente na criação cenográfica e de figurinos (dois fatores capitais para o êxito do
filme). Acreditou-se em fazer uma comédia comunicativa sem temer o "cinema velho" em uma das suas tradições
mais duradouras – a chanchada.
Joaquim Pedro de Andrade arquivou todos aqueles pavores antes de realizar esta comédia feroz que, por usar
elementos burlescos, grossos, não deixa de substantivar sua crítica ao herói sem caráter, herói de nossa gente (e de
outras gentes subdesenvolvidas). Um herói cuja falta de caráter Mário de Andrade não quis expor apenas sob o
ponto de vista moral, mas também como entidade psíquica. Instável, flagelado, subnutrido, pasmo ante a civilização
tecnológica, esse herói vive e morre de esperteza, sem saber onde termina a realidade e onde começam os mitos.
TEXTO 04
Com filmes como Macunaíma (e, em ascensão, mais empenhados) o cinema brasileiro poderá evitar paralelos com
esse personagem e adquirir uma personalidade própria sem ceder terreno ao hermetismo e à indefinição.
Ely Azeredo http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
TEXTO 05
Apenas 10 anos depois de seu aparecimento o Cinema Novo adapta diretamente Mário de Andrade, mas em
verdade desde os primeiros instantes foi o espírito de Mário que esteve por trás dos filmes do novo cinema brasileiro.
Como os que fizeram em 22 a Semana de Arte Moderna, o cinema novo ao começar, 10 anos atrás, sabia com
certeza apenas o que não se devia fazer: era preciso não tomar a ótica do velho intelectual brasileiro, voltado para os
padrões da cultura européia (no livro retratado através da carta pras Icamiabas). Sabia apenas – com o por várias
vezes acentuou Mário – que "aqui é que está o que devemos seguir", que era preciso "meter a cara na mata virgem".
Assim, o processo de criação do Cinema Novo, como o da literatura modernista, foi um processo de descoberta do
Brasil, e à medida que os filmes iam sendo feitos, conscientemente ou não, o único ponto de apoio encontrado era a
obra literária a partir de 22 ( e não foi certamente por acaso que Vidas Secas foi o primeiro grande momento do
cinema brasileiro). Contrariamente a uma atitude de imitação tomada pelas elites intelectuais como a posição válida,
o intelectual brasileiro depois do modernismo voltou-se para a cultura popular, esta sim uma cultura viva e autêntica,
desenvolvida a partir de condições sociais particulares do brasileiro.
Meter a cara na mata virgem significava num primeiro instante agir quase como um documentarista e revelar o Brasil.
Num segundo instante assimilar a cultura brasileira ao processo artístico do homem intelectualizado da cidade. Ao
seguir a proposta de Mário de Andrade, o cinema brasileiro tinha !resolvido forçar a nota do brasileirismo, não só pra
apalpar o problema mais de perto como pra chamar a atenção sobre ele". E agora, ao tomar intimamente à
proposição de Mário, com o Macunaíma, de Joaquim Pedro, o cinema brasileiro não apenas continua a mesma luta
iniciada por Mário, mas adota o mesmo sistema de trabalho.
Quase todas as observações que Mário, em diversas cartas, fez sobre seu "Macunaíma", podem ser estendidas ao
filme, cuja fidelidade aos acontecimento descritos no livro não é tão importante quanto a fidelidade ao método de
trabalho. O que no livro de Mário é um pretexto para uma coletânea de frases, expressões e anedotas que compõem
um retrato do brasileiro, no filme de Joaquim é um pretexto para uma coletânea de imagens que compõem o mesmo
retrato. É uma coletânea de imagens que age e, duas faixas paralelas, porque em determinados momentos Joaquim
Pedro se preocupa em conduzir os atores de modo a obter um retrato caricaturado do gesto brasileiro. Em outros se
preocupa em partir de um estilo de encenação popular francamente apoiado na habilidade de movimentação em
cena do ator brasileiro. Ao mesmo tempo uma caricatura do brasileiro e do estilo de espetáculo brasileiro.
"Se o herói brasileiro não tem caráter – perguntava Gláuber Rocha em artigo escrito antes de filmar O Dragão – se
está perdido e perplexo, sem tradição e sem futuro, como filmá-lo? A instabilidade a técnica de filmagem está ligada
a isto." Joaquim, toma a proposição de Mário e mete a cara na mata virgem, para filmar o herói sem nenhum caráter
de modo a devolver ao brasileiro o seu retrato numa linguagem carregada de uma malícia tão comum a nós todos.
Com o Dragão da Maldade e com Os Herdeiros de Diegues (ainda não lançado comercialmente) Macunaíma
assinala um novo ponto de partida do cinema brasileiro. A redescoberta das coisas nossas chega a um ponto
definido, e a cultura popular começa a ser assimilada e transformada pelo artista brasileiro. Completa-se a viagem de
descobrimento. Brasil, 1500: terra à vista, já se vê o monte Pascoal.
José Carlos Avellar http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
TEXTO 06
Geralmente, os filmes inspirados na literatura criam polêmica, pois os defensores do escritor colocam-se contra os
filmes acusando-os de deturpar a obra, enquanto os que defendem o filme acham que ele não desmerece a obra
escrita, e assim por diante. No caso de Macunaíma, tal não aconteceu. Isto não quer dizer que Joaquim Pedro de
Andrade tenha-se mantido estritamente dentro da história de Mário de Andrade, mas dele extraiu as idéias básicas e
transformou Macunaíma num trabalho quase autônomo, vibrante, agressivo, reformador.
Para o cinema brasileiro, Macunaíma, no cinema, tem, de certa forma, as mesmas características que fizeram em
1928 o trabalho de Mário de Andrade ser considerado um dos mais importantes da literatura brasileira. Naquela
época, Macunaíma derrubava tabus e abria novas perspectivas ao romance (não fosse Mário de Andrade um
reformador modernista) e criava, para si, a glória de imortalizar nas letras, as figuras da mitologia brasileira, os
protótipos do nosso povo.
No cinema, Macunaíma explodiu seu talento num mundo de cores e marca um tento favorável ao cinema brasileiro,
como filme de abertura para um gênero novo. A sátira antropofágica aos costumes, destruidor dos velhos arcabouços
de ideias, tendo como centro um herói cínico, preguiçoso, oportunista, um verdadeiro mau caráter.
Joaquim Pedro criou um mundo onde o grotesco tem o seu lugar e os atos de heroísmo chegam a ficar
ultrapassados. É uma surpresa o resultado deste trabalho de Joaquim Pedro, depois do seu O Padre e a Moça, um
filme feliz, um trabalho poético e intimista. Macunaíma é o grito, é a vida e a morte, é a mistura de tudo num filme dos
mais importantes que se realizou nos últimos tempos, dentro da história do cinema brasileiro.
Não foi simplesmente por falar que a crítica internacional dedicou a Macunaíma os melhores elogios. Ele merece,
pelos bons momentos que nos oferece de nosso cinema.
Miriam Alencar http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
TEXTO 07
De Macunaíma não faço crítica. Esforço de análise pode ser encontrado em outros trabalhos do Conselho. Mas, para
não deixar sem justificação, esclareço que, depois de três contatos com o filme e apesar de alguns deslizes de
produção e direção e do receio de Joaquim Pedro em trair Mário por Oswald, Macunaíma me surge como o filme
mais saudável do ano. Glória aos homens heróis desta pátria, a terra feliz do Cruzeiro do Sul.
Ronald F. Monteiro http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
TEXTO 08
Paulo José, travestido de velha, abre as pernas, deixando cair um feto: é Grande Otelo – a versão negra de
Macunaíma, herói sem nenhum caráter, gerado por Mário de Andrade em 1926. Acocorada na terra, olhando para o
que parira, a velha não esconde o espanto: "Ô xente, que menino feio danado!"
Berrando furiosamente, chupeta vermelha na boca, comendo formigas ou barro, Macunaíma levou seis anos para
falar. Vivia deitado no berço esplêndido da floresta, dormindo, cultivando a preguiça, vendo a saúva derrotar o Brasil.
Só saía do torpor quando via dinheiro ou a família ia tomar banho no rio. Deixava a camisola na terra, pulava nágua
nu, mergulhando rumo as pernas das mulheres, por onde entrava, brincando de piaba. Aliás, Macunaíma sempre
gostou de brincar com as moças. Foi assim que, uma vez, quando brincava com a companheira do irmão, roçando
corpo com corpo, virou príncipe louro e bonito.
Acabada a encantação, voltou a ser o que era: feio e preto. Mas, um dia em suas andanças pelo sertão, viu uma
fonte brotar do chão seco, expelindo água milagrosa. Banhou-se. Ficou branco e racista, veio para a cidade grande,
na pele de Paulo José, onde encontrou uma guerrilheira urbana, afogueada pelas batalhas diurna, fogosa na rede.
Após muitas lutas, e muito esforço do herói, a vitória afinal sorriu para o casal: a nova aparição de Grande Otelo é
saudada com uma gargalhada pela plateia.
Uma bomba acaba com a mãe e o filho. Mas o filme continua. Até que, finalmente, Joaquim Pedro cumpre a sua
promessa: a de contar a "história de um brasileiro que foi comido pelo Brasil". Pois, conforme lembra o cineasta, a
antropofagia sempre foi cultivada com prazer pelos nossos antepassados. Não sendo, portanto, à toa que "os
modernistas de 22 dataram o seu manifesto antropófago: ano 374 da deglutição do Bispo Sardinha".
Partindo de um romance dificílimo para ser digerido, sem os aperitivos adicionados por Cavalcânti Proença ao roteiro
Joaquim Pedro conseguiu a proeza de filmar um livro infilmável. Amante dos empreendimentos complexos, aos quais
se dedica de corpo e alma, o autor de O Padre e a Moça rivaliza com Walter Hugo Khoury (Corpo Ardente) na
disciplina emocional e naquele célebre distanciamento dramático. Por temperamento e estilo, configurados na
racionalidade, Joaquim Pedro impede a explosão do caos verde-e-amarelo. Registra os fatos. Mas nunca entra em
transe – e Macunaíma clama pela fúria tropicalista de um José Celso.
Evidentemente, a seu modo, Joaquim Pedro consegue chegar até o burlesco, conviver com o grotesco, misturando
passado com presente sob o som de "O Guarani", vozes de Francisco Alves, Luis Gonzaga, Ângela Maria, Roberto
Carlos. E, visualmente, soterrando o herói nas banhas de Wilza Carla, jogando-o nos braços de um gigante (Jardel
Filho: irreconhecível em excelente caracterização), ameaçando servi-lo como linguiça, na feijoada dos canibais, à
qual não faltam pedaços de gente, embora o Gigante – antes de morrer – assegure que falta sal.
Driblando a vigilância de Joaquim, Grande Otelo está absoluto, expansivo e espontâneo, diabolicamente hilariante,
compondo um Macunaíma memorável, na terra de Macunaíma, ser racionalista não dá pé.
Valério Andrade http://www.contracampo.com.br/27/macunaimaemquestao.htm
QUESTÃO 01 EXPLIQUE o porquê de Macunaíma ser um anti-herói. ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 02 EXPLIQUE o porquê de Macunaíma ser uma representação do brasileiro. ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 03 De onde era Macunaíma e para onde ele foi? ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 04 A ideia de antropofagia literária no Brasil tem como marco simbólico a real deglutição do primeiro Bispo do Brasil, em 16 de junho de 1556. Nessa data, “os caetés devoraram o primeiro bispo do Brasil, dom Pedro Fernandes de Sardinha, e 90 tripulantes que naufragaram com ele na região. Em consequência da ação contra o bispo, os indígenas foram extintos em cinco anos de batalhas, determinadas pelo governo português e apoiadas pela Igreja. Historiadores definem como ‘guerra santa’ as investidas contra os índios.” “Joaquim Pedro cumpre a sua promessa: a de contar a "história de um brasileiro que foi comido pelo Brasil".” (Valério Andrade)
http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/report_1.htm
EXPLIQUE a ideia de antropofagia no filme. ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 05 INDIQUE elementos do filme que caracterizam metaforicamente o brasileiro.
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QUESTÃO 06 Você concorda com essa caracterização? ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 07 “Joaquim Pedro criou um mundo onde o grotesco tem o seu lugar e os atos de heroísmo chegam a ficar ultrapassados” (Miriam Alencar) A que atos a autora se refere? ______________________________________________________________________________________________
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Há outros livros que, apesar de não pertencerem à mesma geração que Macunaíma, também trazem protótipos de heróis que faziam analogia metafórica ao brasileiro. Entre eles, temos:
Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida
O Guarani – José de Alencar
Auto da Compadecida – Ariano Suassuna
QUESTÃO 08 O personagem “Chicó”, de O auto da Compadecida. O personagem “Leonardo Pataca”, de Memórias de um sargento de milícias. O personagem “Peri”, de O Guarani. a- Você conhece algum desses livros? De que falam? Quando foram escritos?
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b- O que esses personagens têm em comum na representação do povo brasileiro?
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c- Como (Em que medida)?? eles se parecem ou se distanciam do personagem Macunaíma?
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d- Faça uma pequena comparação entre o final do livro/ filme “Macunaíma” e o do livro “O Guarani”.
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Grande Otelo e o carnaval
Grande Otelo sempre gostou muito do Carnaval carioca. Por diversas vezes, ele desfilou na Avenida Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Dois filmes estrelados pelo autor têm o Carnaval carioca como mote.
Carnaval Atlântida
Rio, Zona Norte
LEIA o texto, a seguir, e FAÇA o que se pede.
GRANDE OTELLO SERÁ HOMENAGEADO EM ESCOLA DE SAMBA
Acadêmicos de Santa Cruz contará história de ator na Sapucaí em 2015.
Representantes visitaram a cidade para apresentar enredo.
Desfile da Acadêmicos de Santa Cruz em 2014 (Foto: Alexandre Durão/G1)
O falecido artista uberlandense Grande Otelo será homenageado no carnaval de 2015 pela Escola de Samba
Acadêmicos de Santa Cruz, do Rio de Janeiro (RJ). A escola integra o grupo de acesso do carnaval carioca e
apresentará o enredo “O pequeno menino que se tornou um Grande Otelo”. Representantes da escola carioca
estiveram em Uberlândia nesta quinta-feira (16) para buscar parcerias na caracterização do enredo.
O presidente da agremiação, Moyses Coutinho Filho, e o diretor de carnaval Riec Santos se reuniram com o prefeito
Gilmar Machado e o secretário de Cultura de Uberlândia, Gilberto Neves para apresentar o enredo oficial da escola.
A agremiação vai levar para a Sapucaí 2.800 componentes divididos em 22 alas. O carro abre-alas levará o nome
“Uberlândia” e vai contar a história da cidade onde nasceu Otelo.
“Viemos buscar junto à Prefeitura apoio cultural para fazer uma pesquisa mais profunda, de modo que possamos ter
um projeto sem nenhuma possibilidade de erro. Vamos contar desde o nascimento de Grande Otelo até o seu
centenário.”, disse o diretor Reic Santos.
Durante a visita à Prefeitura, os dirigentes da escola oficializaram ainda o convite para que uma comissão da cidade
participe do ensaio técnico, no dia 21 de dezembro, no Sambódromo do Rio. Segundo o secretário de Cultura
Gilberto Neves, além da pesquisa sobre a cidade e o ator uberlandense, grupos culturais de Uberlândia vão contribuir
na formatação do desfile da escola.
De acordo com o prefeito de Uberlândia, a participação do município não implica em nenhum repasse financeiro para
a escola, somente apoio cultural. Porém, uma mobilização é feita para que empresas da cidade possam contribuir.
“Não vamos investir dinheiro da Prefeitura, mas daremos todo o apoio necessário para que a escola faça um grande
desfile, retratando fielmente a vida e a obra de Grande Otelo”, afirmou o prefeito.
A escola
A Acadêmicos de Santa Cruz será a segunda escola a desfilar no Grupo de Acesso no dia 14 de fevereiro de 2015. A
escola tem sede no Bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio, e já chegou a integrar o Grupo Especial.
http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2014/10/escola-de-samba-carioca-homenageia-artista-grande-otelo-e-uberlandia.html
QUESTÃO 01 Se você fosse um carnavalesco, quais elementos da vida artística de Grande Otelo você ressaltaria no desfile da escola? Pense... Crie... Seja Criativo! ______________________________________________________________________________________________
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QUESTÃO 02 Considerando os célebres personagens desse grande ator apresentados nos filmes deste projeto, crie uma possível alegoria que represente Grande Otelo.
Para finalizar...
Para terminar, segue um texto sobre a importância do carnaval. A ideia é que este texto possa explicar a importância do Carnaval e seus ritos na compreensão de sua atração para o povo brasileiro.
É apenas um texto de aporte, caso a discussão das propostas deste projeto percorram outros caminhos além daqueles relativos ao ator Grande Otelo.
CULTURA O carnaval e a importância dos ritos
Para Jung, os rituais facilitam a conexão entre nossas realidades interiores e exteriores, assim como entre os mundos conhecidos e desconhecidos
Por Carlos São Paulo
No Brasil, o carnaval se expressa de um jeito próprio para cada região. É tão diversificado quanto a variedade de
suas tradições. Em todos os lugares, podemos viver momentos encantados, muitas vezes perdidos lá na ingenuidade
de nossas infâncias. Em nenhum espaço faltam as diversões e fantasias. Podemos participar ou assistir ao trio
elétrico com os seus blocos, a Timbalada, as escolas de samba e o sambódromo, o maracatu, o frevo, o carnaboi e o
boi-bumbá, etc. Com todos esses estilos e um só povo, expressamos a alegria de existirmos como uma nação,
transformando as diferenças sociais em um só grito de alegria para dizer ao mundo que estamos vivos e que, neste
país, o calor humano é intenso.
Essa festa brasileira, luso-afro-ameríndia, sofreu a influência da França, que se manteve hegemônica na forma de
fazer carnaval. Portugal nos trouxe o entrudo e, da comédia teatral, o Rei Momo; além do zépereira, tocador de
bumbo, que revolucionou o carnaval carioca e deixou a herança rítmica da cuíca, do pandeiro, do reco-reco e de
outros. Também a Comédia Italiana influenciou com suas colombinas, pierrôs e os arlequins. Esta mistura de
costumes e tradições tão diferentes faz do nosso carnaval o mais famoso do mundo.
Foi o que nos mostrou um estudo folkmidiático (III Conferência Brasileira de FolkComunicação, 2001).
No Brasil, o carnaval é irreverente, criativo e popular. Muitos ligam esta festa a espíritos malignos. Outros indivíduos
a relacionam a uma liberdade plena de expressão e até se ressentem do fato de que em alguns lugares é uma festa
a mais para se assistir, enquanto em outros lugares é para ser vivenciada.
Carl Gustav Jung chamou a linguagem de que é feita a matéria dos nossos sonhos e fantasias de "pensamento não
dirigido". É um pensamento bem oposto ao do intelecto e ao da exposição e intuições. Nele, as regras da Lógica e da
Física não se aplicam e nem tampouco os preceitos morais.
À medida que saímos da infância, somos iludidos pelo "pensamento dirigido" e, sem saber, nos escravizamos às
manipulações de marketing (Jung, 1973). Para uma ilustração sobre a nossa necessidade de viver o mundo
encantado, bom seria assistir a um filme em casa. Algumas vezes, temos de interrompê-lo para atender ao telefone
ou a outras solicitações. Quando vamos ao cinema assistir ao mesmo filme, ficamos em uma fila, compramos pipoca
e depois entramos na sala escura em meio a tantas pessoas desconhecidas. Provavelmente estaremos nos
aproximando mais desse mundo das trevas que habita o nosso interior e, dessa forma, o exterior e o interior se unem
para mergulharmos nas emoções do filme e vivenciar de forma mais intensa a importância dos rituais.
Durkheim (1996), pai da Sociologia moderna, ao analisar os ritos, nos diz que a partilha de um sentimento comum é a
única coisa importante no ritual. Aproxima-os das representações dramáticas e das recreações coletivas. Tais rituais
fazem que os homens se esqueçam do mundo real para se transportar para outro mundo, onde a sua imaginação
fica mais à vontade. Para ele, toda festa, mesmo que seja laica em suas origens, tem certos caracteres da cerimônia
religiosa, pois traz a efervescência e o delírio, que também acontecem no estado religioso.
Para Jung (1973), os rituais facilitam a conexão entre nossas realidades interiores e exteriores, como também entre
os mundos conhecidos e desconhecidos. Observou que o homem primitivo (homem-criança) sempre recorreu a
ações ritualísticas, tais como danças, cantos, identificação com os espíritos, etc.
Esses mitos são coordenados por uma tendência humana para organizá-los, independentemente da cultura, em um
comportamento padrão que sempre existiu e sempre existirá, chamado por Jung de "arquétipo".
http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/edicoes/62/artigo209106-1.asp?o=r
Outro filme estrelado por Grande Otelo:
Matar ou Correr
Dica de livro sobre Grande Otelo:
Grande Otelo – Uma Biografia Autor: Sérgio Cabral
Referências
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopes. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978. ANDRADE, Mário de. O movimento modernista. In: ____. Aspectos da literatura brasileira. São Paulo: Editora Itatiaia, 2002.
CAMPOS, Haroldo de. Morfologia do Macunaíma. São Paulo: Perspectiva, 1973.
DERRIDA, Jacques. Força e significação. In: ____. A escritura e a diferença. Trad. Maria Beatriz Marques Nizza da Silva. São Paulo: Perspectiva, 2005. DERRIDA, Jacques. Gramatologia. Trad. Miriam Chnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 2004. DERRIDA, Jacques. Posições. Trad. Tomaz Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. HÜHNE, Leda Miranda. A estética aberta de Mário de Andrade. Rio de Janeiro: Uapê, 2002. HUTCHEON, Linda. Poética do pós-modernismo. Trad. Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991. LOPES, Telê Porto Ancona. Introdução. In: ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Edição crítica organizada por Telê Ancona Lopes. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978.