Post on 24-Jan-2019
Poesia Concreta
Décio Pignatari , Haroldo de Campos e
Augusto de Campos
1952 - Publicação da Revista Noigandres
1956 - Exposição Nacional de Arte Concreta
(MASP)
beba coca cola
beba coca cola
babe cola
beba coca
babe cola caco
caco
cola
c l o a c a
Décio Pignatari
Coração cabeça
Augusto de Campos
Viva vaia ( Augusto de Campos)
Precursores : Oswald de Andrade e João Cabral
Poema-objeto
“crise do verso”
recursos
Acústico
Visual
Carga
semântica
Espaço
tipográfico
Disposição
geométrica
dos
vocábulos na
página
Poesia marginal – anos 70
JOGOS FLORAIS
Cacaso
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico.
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Minha terra tem Palmares
memória cala-te já.
Peço licença poética
Belém capital Pará.
Bem, meus prezados senhores
dado o avançado da hora
errata e efeitos do vinho
o poeta sai de fininho.
(será mesmo com dois esses
que se escreve paçarinho?)
RECEITA
Nicolas Behr
Ingredientes:
2 conflitos de gerações
4 esperanças perdidas
3 litros de sangue fervido
5 sonhos eróticos
2 canções dos beatles
Modo de preparar
dissolva os sonhos eróticos
nos dois litros de sangue fervido
e deixe gelar seu coração
leve a mistura ao fogo
adicionando dois conflitos de
gerações
às esperanças perdidas
corte tudo em pedacinhos
e repita com as canções dos beatles
o mesmo processo usado com os
sonhos eróticos mas desta vez deixe
ferver um pouco mais e mexa até
dissolver
parte do sangue pode ser substituído
por suco de groselha
mas os resultados não serão os
mesmos
sirva o poema simples ou com
ilusões
SONETO
Ana Cristina César
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
Rápido e rasteiro
Vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.
Chacal
Acordei bemol
acordei bemol
tudo estava sustenido
sol fazia
só não fazia sentido
Não Discuto
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
A palmeira estremece
a palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece
Se
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar
Paulo Leminski
Eu
eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu
centro
este poema me olha
Incenso Fosse Música
isso de querer
ser exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além
Ali
ali
só
ali
se
se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse
se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce
ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
Cultura
O girino é o peixinho do sapo.
O silêncio é o começo do papo.
O bigode é a antena do gato.
O cavalo é o pasto do carrapato.
O cabrito é o cordeiro da cabra.
O pescoço é a barriga da cobra.
O leitão é um porquinho mais novo.
A galinha é um pouquinho do ovo.
O desejo é o começo do corpo.
Engordar é tarefa do porco.
A cegonha é a girafa do ganso.
O cachorro é um lobo mais manso.
O escuro é a metade da zebra.
As raízes são as veias da seiva.
O camelo é um cavalo sem sede.
Tartaruga por dentro é parede.
O potrinho é o bezerro da égua.
A batalha é o começo da trégua.
Papagaio é um dragão miniatura.
Bactéria num meio é cultura.
Arnaldo Antunes
Cromossomos
Perder
Rio
Caligrafias
Instalações
Tratado geral das grandezas do ínfimo
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
Manoel de Barros
Retrato do artista quando coisa
A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.