Post on 07-Dec-2018
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Planejamento energético brasileiro: como as startups podem
favorecer o cenário para a Energia 4.0
Adriana Ripka1
Christian Luiz da Silva2
RESUMO
O planejamento energético brasileiro conta com desafios já conhecidos, tais como
manter a segurança energética, expandir a geração e distribuição de energia,
diversificar a matriz energética e gerir os recursos naturais ligados à energia, de forma
a minimizar os impactos negativos ambientais e, consequentemente, sociais. Neste
cenário, o avanço tecnológico tem papel de destaque para o alcance dos objetivos, e
a Indústria 4.0 tem propiciado um novo desafio: o desenvolvimento da Energia 4.0. Na
busca por melhorias e modificações estruturais, para maior eficiência, conectividade
e outros elementos, que fazem parte da definição da Energia 4.0, as startups podem
propiciar soluções ligadas à pesquisa, desenvolvimento e inovação. Foi observado
que há um movimento de aproximação entre as startups de energia com as grandes
indústrias de geração, distribuição e consumo de energia, que tende a impulsionar o
desenvolvimento de tecnologias mais eficientes para o setor e que auxiliem na
redução de diversos custos, sendo eles: econômicos, sociais e ambientais. No
entanto, questões envolvendo regulação e limitações de financiamento das startups
mostram-se como um gargalo ao aproveitamento destas de forma mais profunda na
transformação do sistema energético.
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná 2 Universidade Tecnológica Federal do Paraná
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Palavras-chave: Energia, Startup, Planejamento energético, Indústria 4.0, Energia
4.0
ABSTRACT
Brazilian energy planning has already known challenges, such as maintaining energy
security, expanding energy generation and distribution, diversifying the energy matrix
and managing energy-related natural resources, in order to minimize negative impacts
on the environment and society. In this scenario, the technological advance has a
leading role in achieving the objectives and Industry 4.0 has provided a new challenge,
the development of Energy 4.0. In search of improvements and structural
modifications, for greater efficiency, connectivity and other elements, which are part of
the definition of Energy 4.0, startups can provide solutions related to research,
development and innovation. It has been observed that there is a movement of
approximation between the startups of energy with the great industries of generation,
distribution and consumption of energy, tends to impel the development of
technologies more efficient for the sector and that help in the reduction of diverse costs,
be they economic, social or environmental. However, the deficiency in regulation and
funding limitations of startups are as a bottleneck to the use of these in a more profound
way in the transformation of the energy system.
Keywords: Energy, Startup, Energy planning, Industry 4.0, Energy 4.0
1. INTRODUÇÃO
Os desafios inerentes ao planejamento energético brasileiro, em geral, não
têm apresentado grandes modificações ao longo das décadas, alinhados aos
objetivos ligados ao desenvolvimento nacional, em geral, tem relação com se manter
a segurança energética, expandir a geração e distribuição de energia, diversificar a
matriz energética, gerir os recursos naturais ligadas à energia, de forma a minimizar
os impactos negativos ambientais e, consequentemente, sociais.
Contudo, com o surgimento da Indústria 4.0, também nomeada como 4ª
Revolução Industrial, Manufatura Avançada ou Indústria Integrada, tem se destacado
a necessidade de se ampliar o dinamismo nas questões envolvendo a infraestrutura
de setores diversos. Assim, o setor de energia, como elemento transversal para a
efetivação da Indústria 4.0, também apresenta a necessidade de se adequar a
presente revolução.
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Os mais diversos elementos ligados aos objetivos da Indústria 4.0, baseados
em sistemas complexo e integrados, recebem o complemento “4.0”, nacional e
internacionalmente, como forma de se diferenciar tais elementos dos já estudados em
momentos anteriores ao avanço do conceito de Indústria 4.0. Isto é o que ocorre com
a Energia 4.0, que apesar de trazer em sua essência a busca por solucionar
problemas em sua maioria já conhecidos, tem como um desafio adicional a
necessidade de uma evolução tecnológica mais complexa e integrada, como por
exemplo a utilização de sistemas inteligentes e a conectividade entre máquinas.
Neste cenário, o avanço tecnológico tem papel de destaque para o alcance
dos objetivos traçados para o setor energético brasileiro, tornando a atenção nas
diversas formas de inovação indispensável para a sustentabilidade do setor. O
objetivo deste artigo foi verificar como as startups podem influenciar no planejamento
energético brasileiro a partir do contexto da indústria 4.0. Como apresentadas pelo
MCTIC (2017), as startups possuem em sua essência os conceitos da Indústria 4.0,
sendo assim estas têm potencial para propiciar um ambiente favorável para a Energia
4.0, potencial este que é discutido no presente artigo.
2. INDÚSTRIA 4.0 E ENERGIA 4.0
O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC)
conceitua a Indústria 4.0, ou manufatura avançada, como aquela que
[...] compreende a organização e administração de toda a cadeia de valor do
ciclo de vida dos produtos, propiciada pela integração de tecnologias e
sistemas digitais no desenvolvimento, produção e logística de produtos e
processos, com geração de valores nas cadeias produtivas, organização de
trabalho, modelos de negócios e prestação de serviços inteligentes de
internet a jusante, adequados às demandas dos consumidores. (MCTIC,
2017, p. 11)
O conceito de Indústria 4.0 surgiu na Alemanha, com um grupo de trabalho
criado pelo Research Union Economy - Science of the Federal Ministry of Education
and Research (BMBF) – instituição alemã –, cujo objetivo era indicar as ações para
que o país despontasse no cenário industrial, considerando desenvolvimento social e
tecnológico, juntamente a estruturas de cooperação entre todos os atores de inovação
da Alemanha. Em outubro de 2012 o grupo entregou o relatório "Implementation of
recommendations for the future project Industrie 4.0", no qual foram feitas as
recomendações consideradas necessárias para o desenvolvimento da Indústria 4.0.
(BMWI, 2018)
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Contudo, a origem deste conceito pode ser encontrada, em artigos e notícias,
atrelada à data de abril de 2013, que foi quando ocorreu na Alemanha a Feira de
Hannover. Nesta feira, foi feita a divulgação oficial do Plattform Industrie 4.0
(www.plattform-i40.de), como resultado do apoio de três associações, com mais de
6.000 empresas-membro, para a continuação e desenvolvimento do projeto voltado à
Indústria 4.0. (BMWI, 2018)
No Brasil, o conceito de Indústria 4.0 também pode ser associada aos termos
4ª Revolução Industrial, Manufatura Avançada ou Indústria Integrada. Indiferente da
nomenclatura, a Indústria 4.0 tem recebido atenção em diversas áreas da sociedade,
pois oferece uma discussão ampla dos elementos ligados à pesquisa e
desenvolvimento, incluindo questões sociais e ambientais.
Para Palma et al. (2017, p. 3), no conceito de Indústria 4.0 estão envolvidos a
“Internet das Coisas (Internet of Things – IoT), Internet dos Serviços (Internet of
Services – IoS), Internet dos Dados (Internet of Data – IoD), Sistemas de Produção
Ciber-Físicos (Cyber Physical Systems – CPS), Produtos Inteligentes”. Tais elementos
é que permitem maior inter-relação entre os atores, fazendo com que o conceito se
expanda para além da aplicação industrial.
A Figura 1 apresenta um resumo das revoluções até a Indústria 4.0, de forma
a deixar mais clara suas diferenças.
Figura 1 – Evolução tecnológica da produção (MCTIC, 2017, p. 5)
Na Indústria 4.0, ilustrada como 4ª Revolução na Figura 1, os sistemas
ciberfísicos representam a ligação entre os elementos computacionais e elementos
físicos, e é para esta ligação que a infraestrutura necessita se adequar, nos mais
diversos setores.
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Com o avanço do conceito da indústria 4.0, os novos equipamentos seguirão
a tendência de otimizar as informações, gerando informações importantes
para o processo, desde parametrização de componentes, dados de produção
e ferramentas de diagnóstico, proporcionando agilidade nas resoluções de
eventuais problemas que tenderão a existir. (CGEE, 2017, p. 131)
Para o pleno funcionamento do cenário descrito no trecho acima a energia é
um ponto essencial e, como em todas as revoluções industriais, na Indústria 4.0 ela
também é um elemento de base, o qual também se torna o foco de modificações,
evoluindo para a chamada Energia 4.0. A partir da observação de conteúdos
relacionados ao tema – artigos, relatórios, notícias, informes, entre outros –, assim
como apresentado na introdução, aos elementos ligados aos objetivos da Indústria
4.0 tem se atrelado o complemento “4.0”, seja em âmbito nacional ou internacional, e
isto é o que ocorre com a Energia 4.0.
Os desafios envolvendo energia, assim como podem ser vistos em CGEE
(2017) e EPE (2016), tratam-se de pontos já conhecidos, tais como eficiência na
alocação de recursos naturais, busca por novas fontes energéticas, desafios ligados
ao aumento da produção e consumo de energia, entre outros. Quando cita-se Energia
4.0, a discussão mantém o foco nos problemas já conhecidos, mas com a missão de
se evoluir a infraestrutura de forma a se alcançar o cenário-objetivo para o
desenvolvimento da Indústria 4.0. Desta forma, se faz necessário que o planejamento
energético contemple os objetivos ligados à Energia 4.0, bem como, que sejam
apontados os possíveis meios para isso.
No entanto, para que o planejamento energético seja efetivo, trazendo
objetivos viáveis e concisos, observa-se também a necessidade de se aprofundar as
pesquisas específicas sobre Energia 4.0. Isso pode ser confirmado ao se realizar uma
pesquisa simples, em buscadores na internet, ao se utilizar o termo em português
“Energia 4.0” o resultado é reduzido e em sua maioria direcionado ao idioma italiano.
O mesmo não ocorre com outros setores, também relevantes à Indústria 4.0, pois em
buscas simples consegue-se um maior volume de conteúdo específico, utilizando
termos como: Saúde 4.0, Educação 4.0, Direito 4.0, Sustentabilidade 4.0, Recursos
humanos 4.0, Transporte 4.0, Logística 4.0, entre outros.
3. PLANEJAMENTO ENERGÉTICO BRASILEIRO
A base para um planejamento energético são os estudos gerais e específicos
sobre o setor, para que se possa elaborar quais objetivos se pretende atingir,
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compreender quais problemas podem ser enfrentados e se os meios escolhidos
atendem a legislação em vigor. Em CGEE (2017) é destacada a tradição do Brasil em
estudos voltados para se planejar a oferta e a demanda de energia, o que contribuí
para guiar os investimentos em infraestrutura. Contudo, no mesmo documento,
chama-se a atenção para a necessidade de se direcionar esforços para o
planejamento da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) no setor energético, e este é
um dos pontos pertinentes à Energia 4.0.
Outro ponto relevante à discussão é a complexidade no processo de
planejamento e de execução deste. Isso se deve ao fato de não ser possível se ater
somente a questões econômicas, mas à necessidade de se também atender questões
ambientais e sociais, para que haja a sustentabilidade do sistema. Os 17 objetivos do
desenvolvimento sustentável (ODS), por exemplo, envolvem metas que servem de
guia para a elaboração de estratégias de desenvolvimento em diversas áreas.
Em ONU (2018) pode-se observar que, para o setor de energia, o ODS 7 é
um dos objetivos principais no que se refere a elementos a serem considerados em
um planejamento energético. Intitulado Energia Limpa e Acessível, o ODS 7 apresenta
as seguintes metas:
7.1 Até 2030, assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços
acessíveis a serviços de energia
7.2 Até 2030, aumentar substancialmente a participação de energias
renováveis na matriz energética global
7.3 Até 2030, dobrar a taxa global de melhoria da eficiência energética
7.a Até 2030, reforçar a cooperação internacional para facilitar o acesso a
pesquisa e tecnologias de energia limpa, incluindo energias renováveis,
eficiência energética e tecnologias de combustíveis fósseis avançadas e mais
limpas, e promover o investimento em infraestrutura de energia e em
tecnologias de energia limpa
7.b Até 2030, expandir a infraestrutura e modernizar a tecnologia para o
fornecimento de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos nos
países em desenvolvimento, particularmente nos países menos
desenvolvidos, nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos
países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus respectivos
programas de apoio (ONU, 2018, p. 1)
A partir dessas metas observa-se que a modernização, o foco em energias
limpas e a expansão da infraestrutura são elementos presentes, e para que estes
ocorram há a necessidade de pesquisas e investimentos. Em EPE (2016), um estudo
da demanda de energia a ser utilizado na elaboração do Plano Nacional de Energia
2050, apesar de os termos Indústria 4.0 e Energia 4.0 não serem mencionados
diretamente, verifica-se elementos ligados à modernização, à sustentabilidade e à
expansão da infraestrutura que podem ser relacionados ao tema. Contudo, os
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conteúdos voltados ao setor de energia carecem de maior suporte no que se refere a
aplicabilidade dos conceitos 4.0, para que o Brasil possa avançar nos demais setores
e isso pode ser observado na citação que segue.
Aplicar o conceito da indústria 4.0 é condição inegociável para a
competitividade do setor produtivo brasileiro. Por isso, são urgentes a
disseminação desses novos conceitos e a capacitação das indústrias que
representam setores transversais e estratégicos, indutores de produtividade
e de inovação. (BRASIL, 2017, p. 1)
Dentre os setores econômicos brasileiros, uma pesquisa encomendada pelo
MCTIC, apresenta a energia, com 78%, como sendo um setor promissor para a
aplicação da Indústria 4.0 (MCTIC, 2017). Mas este dado refere-se apenas ao
potencial, dado que no mesmo documento consta que “em razão da incipiência do
tema de manufatura avançada no Brasil, existe um déficit de disponibilidade de
infraestruturas para apoio à inserção das empresas no ecossistema de manufatura
avançada”. (MCTIC, 2017, p. 37)
Como forma de se minimizar esse déficit, o Plano de Ciência, Tecnologia e
Inovação, que destaca o setor energético como setor estratégico, tem como objetivo
para a Indústria 4.0, consequentemente para a Energia 4.0:
Propiciar condições de acesso e inserção das empresas brasileiras no
ecossistema de manufatura avançada, com suporte da ciência, tecnologia e
inovação para desenvolvimento de cadeias produtivas de setores
econômicos estratégicos e promissores para o País, que atendam a
demandas de alcance social. (MCTIC, 2017, p. 13)
Neste cenário, o planejamento energético, e execução deste, contribui com o
preenchimento de lacunas tecnológicas. Para tanto, políticas e medidas devem ser
coerentes com os objetivos elaborados no plano energético, caso contrário além de
não assumirem a função incentivadora podem, em certa medida, se tornarem
limitantes. Pode se citar como exemplo a LEI 9.991 de 2000 (Lei de eficiência
energética), que desde sua instauração sofreu mais de dez modificações, sendo a
última pela LEI 13.280 de maio de 2016, ainda não incorporou elementos do novo
ecossistema em desenvolvimento, criando lacunas na regulação. (MCTIC, 2017;
BRASIL, 2000; 2016)
No caso do Plano Inova Energia, o qual envolve Redes Elétricas Inteligentes
(Smart Grids) e Transmissão em Ultra-Alta Tensão (UAT), Geração de Energia
através de Fontes Alternativas e Veículos Híbridos e Eficiência Energética Veicular,
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este apresenta alinhamento com as metas do planejamento energético, estimulando
através de financiamento projetos que incorporam conceitos da Energia 4.0, apesar
de não citar diretamente o termo. (EPE, 2016; BNDES, 2013)
De forma resumida, os conteúdos voltados para o planejamento energético
brasileiro trazem elementos voltados à Energia 4.0 e as questões ligadas aos
investimentos em inovação são mencionadas, mas a possibilidade de interação
startup-indústria, no setor de energia, não se mostra clara e definida nos textos
analisados.
4. STARTUPS E A INOVAÇÃO NO SETOR ENERGÉTICO
Apesar de as startups, bem como sua relação com a indústria no setor
energético (principalmente nos casos de empresas públicas), não ser bem delimitada,
tem se notado um aumento do número de startups direcionadas ao setor, e estas têm
se mostrado como agentes com potencial de propiciar soluções ligadas à pesquisa,
desenvolvimento e inovação (PD&I). Isso pode ser atribuído ao fato de as startups
serem, em sua essência, empresas de base tecnológica e desta forma apresentarem
conceitos da Indústria 4.0. (MCTIC, 2017)
A startup, deve ser associada a algum tipo de inovação e pode ser definida
[...] como uma empresa, ou empreendimento, que tenha superado a fase
inicial de uma simples ideia de negócio e que esteja em seus estágios iniciais
de estabelecimento e teste de um modelo de negócios e nos primeiros passos
para estabelecer uma produção em escala mínima industrial/comercial. Não
é absolutamente necessário que seja de pequeno porte, embora esse seja o
tamanho mais comum, e talvez mais interessante, em que possa se
apresentar. (CAVALCANTE; RAPINI; SILVA, 2018, p. 9)
Por terem, em geral, um menor porte e receitas instáveis, Cavalcante, Rapini e
Silva (2018, p. 3) destacam que as startups têm “dificuldade em obter crédito via
instituições financeiras tradicionais”. Esta é uma questão que prejudica tanto a
ampliação do número de startups quanto o crescimento destas, apesar de apresentar
potencial ligado à inovação, dificilmente podem se beneficiar dos mesmos incentivos
que pequenas, médias e grandes empresas dispõem. Para contornar esta situação,
as startups contam com fontes alternativas como: “capital próprio ou de amigos,
crowdfunding, capital de risco, private equity e recursos de investidor anjo, entre
outros” (CAVALCANTE, RAPINI E SILVA, 2018, p. 3).
O financiamento das startups, voltadas para o setor energético, é um tema que
deve ser observado, dado que o desenvolvimento destas torna-se ponto positivo para
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o desenvolvimento da Energia 4.0. Como apresentado em CGEE (2107), exercícios
de projeção do consumo energético se mostra crescente e com possibilidade de, até
2050, se colocar muito acima da atual capacidade instalada, e “isso impõe o desafio
para o PD&I do setor que deverá estimular avanços e inovações, mas também
grandes oportunidades de novos negócios para o setor e toda a sua cadeia produtiva”
(CGEE, 2017, p. 22).
Os benefícios do desenvolvimento da Energia 4.0, considerando uma maior
aproximação das startups com empresas tradicionais, podem avançar, dado um
aumento no potencial de desenvolvimento de inovações no setor, para a redução de
custos financeiros nos processos de geração, distribuição e consumo, melhor gestão
dos recursos naturais relacionados ao processo de extração processamento e
consumo destes, e possibilidade de ampliação do usos de fontes de recursos
energéticos renováveis. Com estes pontos pode-se reduzir custos econômicos
(devido a tecnologias mais eficientes), reduzir custos ambientais (devido à mitigação
das externalidades negativas) e reduzir custos sociais (com o aumento do acesso à
energia, redução do preço e maior qualidade ambiental, o que minimiza riscos à
saúde).
Contudo, a interação entre as startups e as empresas tradicionais ainda precisa
ser melhor planejada, para que ambas possam impactar positivamente umas nas
outras. Pois como apresentado por Cavalcante, Rapini e Silva (2018)
As relações entre agentes privados (ou mesmo entre público e privado) regida
por contratos e as capacidades de produtor, demandante, regulador,
financiador e, principalmente, coordenador (planejador) do Estado, são
decisivos para definir o papel e os limites da startups no processo de
desenvolvimento de uma economia.
Já se pode observar a tentativa de aproximação de indústrias do setor
energético com o potencial das startups. Um exemplo é a Companhia Paranaense de
Energia (COPEL) que, em 2017, abriu uma chamada pública para a seleção de
startups voltadas ao setor de energia, cujas áreas de atuação estavam entre geração,
transmissão, distribuição e comercialização de energia, telecomunicações e
tecnologia da informação. Esta chamada foi elaborada com o objetivo de “prospectar
empresas que apresentem soluções inovadoras e com potencial de impacto positivo
no mercado, de crescimento rápido e contínuo [...], além de fomentar o ecossistema
de STARTUPS nos ramos de energia e tecnologia”. (COPEL, 2107, p. 3)
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Outro exemplo é a ENEL que, com três distribuidoras (Rio de Janeiro, Ceará e
Goiás), também em 2017 lançou uma chamada para startups sob o título “Energy
Start”. A chamada apresenta como objetivo “prospectar startups, pequenas e médias
empresas que apresentem soluções inovadoras” (ENEL, 2017, p.1) além da intenção
de estimular o ecossistema de startups do setor.
Em ambos os exemplos, fomentar os ecossistemas de startups no setor de
energia foi apresentado como objetivo, isso pode demonstrar o interesse por parte do
setor para que a aproximação da indústria com as startups não seja pontual e rara,
podendo ser uma ferramenta que venha favorecer a transição para a Energia 4.0 e
consequentemente apoiar a migração das empresas dos demais setores para
Indústria 4.0.
Além das chamadas de startups, feitas pelo setor de energia, outras ações
podem fomentar este ecossistema, trazendo o tema para discussão em eventos
expositivos, tais como: congresso, workshops, seminários, palestras, feiras e painéis.
Mas, para que a Energia 4.0 seja alcançada, é necessário que esta discussão seja
incorporada na elaboração do planejamento energético.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O conceito de Indústria 4.0 trouxe desafios principalmente para o setor de
energia, pois, como este é um elemento base para os demais setores da economia,
para que haja o avanço para a Indústria 4.0, exige-se também que a Energia 4.0 seja
alcançada.
A Energia 4.0 busca soluções para problemas já conhecidos no setor – como
eficiência na alocação de recursos naturais, busca por novas fontes energéticas,
desafios ligados ao aumento da produção e consumo de energia, entre outros –,
contudo, possui um desafio adicional que é evoluir a infraestrutura para um sistema
ciberfísico, no qual possa se verificar a ligação entre elementos computacionais e
elementos físicos.
Para que haja essa evolução da infraestrutura, no setor energético, surgem as
startups como elementos potenciais para este fim. Isso se deve ao fato de as startups
serem associadas a algum tipo de inovação e desta forma contribuir para o
desenvolvimento da Energia 4.0.
A aproximação das startups com as grandes indústrias do setor de energia tem
sido estimulada pela divulgação de chamadas para seleção de startups e eventos
expositivos, como por exemplo, feiras voltadas à inovação. No que se refere às
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startups ligadas à energia, existe uma diversidade de áreas de atuação de interesse
para a indústria, são elas: a geração, transmissão, distribuição e comercialização de
energia, telecomunicações e tecnologia da informação.
Apesar de elementos potenciais para o desenvolvimento da Energia 4.0, a falta
de regulação específica, sobre as formas de interação das startups com indústrias
tradicionais, mostra-se como uma limitação para uma maior interação entre estes
atores. Outro fator que pode ser considerado como limitante é que as startups, em
geral, não ter acesso as mesmas fontes de financiamento que empresas tradicionais
possuem, apesar de disporem de fontes alternativas esta limitação pode prejudicar o
avanço de projetos que poderiam fornecer soluções efetivas no setor.
Como forma de preencher as lacunas tecnológicas no setor de energia, surge
como potencial a interação da indústria com as startups. Contudo, o surgimento e
desenvolvimento dessas, bem como a regulação da interação indústria-startup, são
pontos que necessitam de atenção no planejamento energético brasileiro, para que a
Energia 4.0 seja alcançada e assim poder favorecer a transição das empresas dos
demais setores para a Indústria 4.0.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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