Pensar a palavra-experiência · O poeta Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro é um dos mais...

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Pensar a palavra-experiência – Homenagem a E. M. de Melo e CastroCaderno de Programação & Resumos

RealizaçãoUniversidade Federal de Minas Gerais – UFMGUniversidade Federal de São Paulo – UNIFESPCentro de Estudos Portugueses – CESP/UFMGGrupo de Estudos Lírica de Agudeza /UNIFESP/EFLCH-Campus Guarulhos/CNPqPolo de Pesquisa em Poesia Portuguesa Moderna e Contemporânea

OrganizaçãoMaria do Socorro Fernandes de CarvalhoSilvana Maria Pessôa de OliveiraRaquel dos Santos Madanêlo SouzaRoberto Bezerra de Menezes

Arte e EditoraçãoRoberto Bezerra de Menezes

RevisãoRoberto Bezerra de MenezesSilvana Maria Pessôa de Oliveira

Contatowww.polopesquisapoesia.wordpress.compolopesquisapoesia@gmail.com

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O poeta Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro é um dos mais importantes escritores da língua portugue-sa contemporânea. Nascido na pequena cidade lusitana da Covilhã, em 1932, sua obra traz juntos a maturidade e o ímpeto jovial de um homem das letras que sempre assumiu a palavra como ofício maior em vida e livros. Publicou dezenas de livros e recebeu alguns prêmios pelo conjunto de sua obra, poesia e crítica literária, den-tre os quais destacam-se o Grande Prêmio de Poesia In-aset-Inapa, em 1990, cuja premiação trouxe a público a primeira antologia de sua poesia publicada até então, o livro Trans(a)parências: poesia. I – 1950/1990; e o Prêmio Jacinto do Prado Coelho, em 1995. A primeira antologia da palavra com imagens, o livro Visão visual, foi publica-da em 1994. Desde então, muitos outros livros, poemas, objetos poéticos e ensaios críticos foram elaborados pelo poeta, por meio da crítica literária, no verso e nos pixels do computador. É pai da cantora e compositora Eugênia Melo e Castro, que lhe dedicou recentemente um disco chamado Mar virtual, no qual foram musicados 13 poe-mas de E. M. Melo e Castro. O poeta mora na cidade de São Paulo, no bairro do Sumaré.

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P R O G R A M A Ç Ã O

GUARULHOS23 de outubro de 2019

14h – Auditório da EFLCH

Conferência de abertura

Moacir Amâncio (USP) – Ernesto, poesia, movimento

15h – Auditório da EFLCH

Leitura do texto-depoimento de Alberto da Costa e Silva

15h30 – Auditório da EFLCH

Conferências-depoimento

Antonio Simplício de Almeida Neto (UNIFESP) – A improvável poesia concreto-

visual acontece: relato afetivo e reflexões desautorizadas

Franklin Valverde (C. Univ. Estácio) – Objectotem e a descoberta de um novo

mundo poético

17h30 – Aquário da EFLCH

Café no Aquário

Exposição de livros, fotos, imagens, poemas-visuais, vídeos, audição de músicas

e leitura de poemas.

Asas são os meus olhos: ecoperformance com Djami Sezostre sob E. M. de Melo

e Castro

18h30 – Auditório da EFLCH

Depoimento

E. M. de Melo e Castro – A dissolução do eu – poema mélico autoperfomativo

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BELO HORIZONTE29 de outubro de 2019

18h30 – Auditório 2003

Apresentação musical

Cantigas de Santa Maria: a dimensão feminina

Maestro Sérgio Antônio Canedo (UFMG)

19h – Auditório 2003

Mesa 1 – Limites liberdades

Maria do Socorro Fernandes de Carvalho (UNIFESP) – “Toda a minha vida es-

crevi”: leitura de três livros de Melo e Castro

Sandro Ornellas (UFBA) – Infinito e segredo nas poéticas da combinação de Melo

e Castro e Herberto Helder

Vera Casa Nova (UFMG) – Pensando o poético em Melo e Castro

20h50 – Auditório 2003

Mesa 2 – Um linguajar no interior/ de mim 

Daniel Vasconcelos Resende (UFMG) – Revolução e construção em E. M. de Melo

e Castro

Graciele Batista Gonzaga (UFMG) – Melo e Castro e Alexandre O’Neill: um rastro

experimental em diálogo

Ingred Georgia de Sousa Silva (UFMG) - Tensões entre real e imaginário em um

poema de E. M. de Melo e Castro

30 de outubro de 2019

9h20 – Auditório 2003

Mesa 3 – Um outro nome nome que nomeia

Raquel S. Madanêlo Souza (UFMG) – “Os dados”: um poema de Melo e Castro

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Roberto Bezerra de Menezes (UFMG/CAPES) – A experiência do soneto na poé-

tica de E. M. de Melo e Castro

Silvana Maria Pessôa de Oliveira (UFMG) – Que Camões é este que nos marca?

19h – Auditório 2003

Mesa 4 – Estes lugares não são lugares

Valéria Soares Coelho (UFMG) – Cara e Eros: linguagens e transbordamentos do

corpo em Cara lh amas de E. M. de Melo e Castro

Matthews  Carvalho Rocha Cirne (UFRJ) – Intertextualidade e transgressão na

Poesia Experimental Portuguesa

Marta Botelho Lira, Rita Barbosa de Oliveira (UFAM) – Experimentação na poe-

sia e intervenção cultural nas ideias de Melo e Castro e de Sophia Andresen

20h50 – Auditório 2003

Mesa 5 – Do que mudando muda

Clarissa Xavier Pereira (UFMG) – As coordenadas visuais da poesia em PO.EX

Patrícia Chanely Silva Ricarte (UFMG/CAPES) – Dar voz à página: poemas vi-

suais de Melo e Castro em performance de Américo Rodrigues

Sérgio Henrique da Silva Lima (UFMG) – Antologia e ontologia em Neo-poemas

-pagãos, de E. M. de Melo e Castro

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R E S U M O S

Clarissa Xavier Pereira

Universidade Federal de Minas Gerais

AS COORDENADAS VISUAIS DA POESIA EM PO.EX

A publicação “PO.EX: textos teóricos e documentos da poesia experimen-tal portuguesa”, cuja primeira edição em livro foi lançada em 1981, em Lisboa, reúne uma série de ensaios, entrevistas, manifestos, poemas e de-mais materiais de condição híbrida que permeiam o movimento experi-mental na literatura portuguesa a partir da década de 1960. Organizada por E. M. de Melo e Castro e Ana Hatherly, poetas que idealizaram a articula-ção estética norteadora daqueles que, ainda que dissonantes, fizeram-se um grupo, a obra traz proposições teóricas formuladas em textos de Herberto Helder, Sylvester Houéddard, Haroldo de Campos, Pierre Garnier, entre outros autores, reunidos pela tarefa de pensar a condição visual intrínseca à toda linguagem poética. Esta apresentação observa o que os chamados “textos-imagens” (HATHERLY) afirmam a respeito da plasticidade pre-sente na poesia.

Daniel Vasconcelos Resende

Universidade Federal de Minas Gerais

REVOLUÇÃO E CONSTRUÇÃO EM E. M. DE MELO E CASTRO

O objetivo deste trabalho é analisar a proposta poética concretista em re-lação à influência do pensamento de esquerda que se apresenta na obra de Melo e Castro, em um período específico pós-Revolução dos Cravos. A análise será feita por meio de uma série de textos críticos do autor publi-cados em Literatura Portuguesa de Invenção aliado ao livro de poemas Palavras só-lidas, dois livros publicados entre 1979 e 1984. Assim, ana-lisaremos como a proposta de uma poética de vanguarda se relaciona à questão nacional de seu tempo, demonstrando como a prática poética de Melo e Castro se une ao seu próprio zeitgeist: uma proposta vanguardista em tempos revolucionários.

Graciele Batista Gonzaga

Universidade Federal de Minas Gerais

MELO E CASTRO E ALEXANDRE O’NEILL: UM RASTRO EXPERI-MENTAL EM DIÁLOGO

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Esta proposta de comunicação pretende estabelecer um diálogo literário entre as poesias experimentais de Melo e Castro com o poeta Alexandre O’Neill, analisando textos das obras Algoritmo, de E.M de Melo e Castro e Poemas dispersos, de Alexandre O’Neill. O primeiro livro, o autor cons-trói poemas com disposição gráfico-espacial, como no poema “Vaso”, em que as palavras são distribuídas na página de modo a sugerir o formato de objeto que intitula o poema. De forma semelhante, o poema “Opressão”, de O’Neill, em que a construção literária é produzida pelo sentido das pala-vras, isto é, exprimida como um ato de tirania. Dessa forma, a diversidade gráfica indica uma forte tendência de trabalho com efeitos gráficos tanto do significado quanto do significante. Reforça-se, assim, a ideia de múltiplas possibilidades de leitura, assim como ruptura com uma visão tradicional de conteúdo e forma poética, idealiza-se, então, uma poesia a partir do ideal experimental.

Ingred Georgia de Sousa Silva

Universidade Federal de Minas Gerais

TENSÕES ENTRE REAL E IMAGINÁRIO EM UM POEMA DE E. M. DE MELO E CASTRO

A partir da leitura e análise do poema “Em Bradford” (1955), inédito em livros até ser incluído na Antologia Efémera (2000), de E. M. de Melo e Castro, o trabalho se desenvolverá através de reflexões sobre as questões relacionadas ao real e ao imaginário, segundo o que aparece proposto no poema selecionado. A análise se dará a partir de ponderações sobre a (in)existência de Álvaro de Campos, tocando na proposta heteronímica de Fernando Pessoa. Para além disso, buscaremos abordar a questão do biografismo, partindo de estudo de Pierre Bourdieu, e apontando para os elementos relacionados a esse tópico, que se evidenciam nestes versos de Melo e Castro.

Marta Botelho Lira

Universidade Federal do Amazonas

Rita Barbosa de Oliveira

Universidade Federal do Amazonas

EXPERIMENTAÇÃO NA POESIA E INTERVENÇÃO CULTURAL NAS IDEIAS DE MELO E CASTRO E DE SOPHIA ANDRESEN

Nesta comunicação propõe-se a discorrer sobre a Poesia Experimental Por-tuguesa empregando como ponto de discussão o pensamento de Melo e Castro, nos ensaios de Literatura portuguesa de invenção (1984), relacio-nado com a ideia de Sophia de Mello Breyner Andresen em suas artes poé-ticas e com o fato de ambos os escritores terem testemunhado a ditadura de

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Salazar e de suas obras apresentarem reflexos do citado período de repres-são. Para Melo e Castro a poesia experimental é “entendida e vivida pelos jovens como uma forma de intervenção político-cultural” (1984, p. 79), e para Sophia Andresen, a poesia não segue um programa, mas sim contribui para a tomada de consciência sobre a liberdade e a dignidade do ser.

Matthews Carvalho Rocha Cirne

Universidade Federal do Rio de Janeiro

INTERTEXTUALIDADE E TRANSGRESSÃO NA POESIA EXPE-RIMENTAL PORTUGUESA

A poesia experimental encontra-se constantemente vinculada às obras en-saísticas dos autores que integraram o movimento, em suas diversas fa-ses. Este trabalho tem por objetivo compreender as propostas dos poetas através dos ensaios de E. M. de Melo e Castro, a partir do livro Literatu-ra portuguesa de invenção (1984), destacando alguns pontos de interesse, que são a transgressão e a intertextualidade. Buscaremos ainda traçar as fronteiras existentes entre o poema e o ensaio, e a relação de ambos com o mecanismo inventivo denominado poesia programática, resultado de um trabalho de pesquisa histórica que reinseriu o barroco na poesia portuguesa desde o final dos anos 50.

Patrícia Chanely Silva Ricarte

Universidade Federal de Minas Gerais/PNPD/CAPES

DAR VOZ À PÁGINA: POEMAS VISUAIS DE MELO E CASTRO EM PERFORMANCE DE AMÉRICO RODRIGUES

Serão apresentados, neste trabalho, alguns apontamentos acerca da relação entre oralidade e visualidade na poesia, a partir da análise de algumas in-terpretações sonoras realizadas pelo poeta e performer Américo Rodrigues sobre poemas visuais impressos de E. M. de Melo e Castro, no âmbito da exposição O caminho do leve =The way to lightness, de Melo e Castro, no Museu de Serralves, em 2006. Nesse sentido, serão discutidos aspectos em torno do conceito de poesia sonora e de sua posição limítrofe entre poesia e música, bem como acerca da concepção tipográfica da poesia visual, em confronto com a vocalidade performática. Por fim, buscar-se-á contem-plar tanto o problema da interpretação intersemiótica quanto uma reflexão acerca da noção de ritmo, como elemento orgânico e, ao mesmo tempo, subjetivo da obra.

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Raquel dos Santos Madanêlo Souza

Universidade Federal de Minas Gerais

“OS DADOS”: UM POEMA DE MELO E CASTRO

“Os dados” é o título de um poema do escritor português Ernesto de Melo e Castro, publicado originalmente no livro Queda livre, em 1961. O objetivo deste estudo será buscar elementos de aproximação e distanciamento entre o texto selecionado e “Um lance de dados”, de Stéphane Mallarmé.

Roberto Bezerra de Menezes

Universidade Federal de Minas Gerais/PNPD/CAPES

A EXPERIÊNCIA DO SONETO NA POÉTICA DE E. M. DE MELO E CASTRO

A poética de E. M. de Melo e Castro, um dos maiores representantes da Poesia Experimental em Portugal, fundamenta-se num jogo constante com as linguagens disponíveis, da escrita à imagética, da escrita enquanto ima-gem, da imagem enquanto inscrição. O objetivo desta intervenção é pro-curar compreender a postura do poeta perante a tradição partindo de suas experimentações em torno do soneto e de sua busca pelo que chamou “po-ligonia total da experimentação poética”. Para isso, recorreremos a poemas presentes em obras como Sonetos prosaicos (1954), Poligonia do soneto (1963) e Re-Camões (1980).

Sandro Santos Ornellas

Universidade Federal da Bahia

INFINITO E SEGREDO NAS POÉTICAS DA COMBINAÇÃO DE MELO E CASTRO E HERBERTO HELDER

Partindo da colaboração entre Melo e Castro e Herberto Helder na direção do segundo número da revista PO.EX, de 1966, o texto apresenta sete tópi-cos que propõem, no conjunto, um diálogo entre os dois poetas quanto ao uso do método combinatório em suas criações. Os tópicos tratam de: a con-textualização de Melo e Castro dentre de impasses do pós-guerra, quando a cibernética foi criada; o uso exemplar da análise combinatória pela poesia de Melo e Castro; o paralelo com Herberto Helder no uso da combinação na década de 1960; o infinito como um elemento linguístico destacado pela análise combinatória na poética de Melo e Castro; a síntese combinatória como um método forte da poesia de Herberto Helder; algumas contradi-ções históricas na articulação entre discurso verbal e tecnologia; infinito e segredo como elementos potencialmente políticos que as poéticas de Melo e Castro e Herberto Helder permitem articular pela combinação.

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Sérgio Henrique da Silva Lima

Universidade Federal de Minas Gerais

ANTOLOGIA E ONTOLOGIA EM NEO-POEMAS-PAGÃOS, DE E. M. DE MELO E CASTRO

É sabido – pelo menos a partir da tradição moderna – que o planeamento da poesia em outros campos de ação atua na reivindicação de estratégias que inquirem o seu próprio estatuto frente aos limites que, com frequência, a determinam enquanto a arte que se restringe ao sentido da audição ou que opera apenas no modelo habitual do livro. Pensar, assim, no ato de criação poética significa projetar uma ruptura sistemática com a estabilidade da composição, o que acaba por resultar na expansão da leitura a outros gestos a ela intrínsecos. É justamente sob essa perspectiva multímoda da recepção que este breve estudo analisa a obra Neo-Poemas-Pagãos (Selo Demônio Negro, 2010), do português E. M. de Melo e Castro. Para tanto, busca-se compreender de que modo os procedimentos de seleção e organização dos poemas da obra incidem em duas linhas de progressão que demarcam este percurso poético: o primeiro, que se articula na sobredeterminação do livro enquanto objeto; o segundo, que propõe a possiblidade de uma ontologia no conjunto destes textos (quase) antologiados.

Valéria Soares Coelho

Universidade Federal de Minas Gerais

CARA E EROS: LINGUAGENS E TRANSBORDAMENTOS DO CORPO EM CARA LH AMAS DE E. M. DE MELO E CASTRO

Após abril de 1975, retomam-se em Portugal publicações apreendidas pela polícia judiciária e pela PIDE- DGS. Nesse contexto, de imediato, as “Edi-ções Afrodite” lançam obras consideradas malditas pela sacristia político-cultural. E. M. de Melo e Castro, com “Cara lh amas”, exalta o experimen-tal, o gestual, som e imagem; a concretude do verso para vivenciar uma erotização da palavra como ato performático, que se pretende apelo à con-cepção revolucionária do corpo. De veia erótica-satírica, mistura sátira de costumes a um “popular” mais ligado tradicionalmente à oralidade, ao uso de um léxico específico para a vida sexual e para o escatológico. Retomar essa tradição para a análise do livro de Melo e Castro significa repensar o contexto medieval e as cantigas de escárnio e mal-dizer, e, a partir delas, voltar às origens nas Comédias greco-romanas quando as procissões fáli-cas celebravam as vindimas, a procriação e a fertilidade, enquanto impro-visavam, frente ao público, chistes sobre políticas e políticos de domínio comum entre os atores e a plateia de rua. É também o compartilhamento de jogos fonéticos, semânticos e visuais a marca dessa produção que procura reinventar uma vanguarda na era dos dejetos industriais com poderes para reinserção de um corpo não domesticado.

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