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Necessidades Educativas Especiais e Perturbações Físico e Motoras
ParalisiaParalisia
CerebralCerebral
Docente: Dra. Joana Carvalho
Discentes: João Arsénio N.º 6878
Maria Celeste Gregório N.º 6839
Vanda Dores N.º 6782
Verónica Cachinho N.º 6751
PG Domínio Cognitivo e Motor, 6ª Edição, Grupo Distal, turma A
Fevereiro de 2011
Índice
1 - Paralisia Cerebral
1.1- Conceito
1.2 – Breve Perspectiva Histórica
1.3 - Caracteristicas da paralisia cerebral
1.4 - Compreendendo melhor a Paralisia Cerebral
2 - Causas mais frequentes da paralisia cerebral
3 - Classificação
3.1 – Tipos de paralisia cerebral
3.1.1 - espástico
3.1.2 – Atetósico
3.1.3 – Atáxico
3.2 – Topografia
3.3 – Grau
3.3.1 – Leve
3.3.2 – Moderado
3.3.3 - Severo
4 - Disturbios/ deficiências associados
4.1 – Perturbações da linguagem
4.2 – Problemas auditivos
4.3 – Problemas visuais
4.4 – Problemas de desenvolvimento intelectual
4.5 – Problemas de personalidade
4.6 – Problemas de atenção
4.7 - Problemas de percepção
5 - Tratamento da paralisia
5.1 - A inclusão da criança com paralisia cerebral na escola
5.2 - Aspectos a ter em conta na intervenção com o aluno com paralisia
cerebral
6 - A criança com paralisia cerebral e a escola
Introdução
Este trabalho surge no âmbito da cadeira de Necessidades Educativas
Especiais Perturbações Físicas e Motoras, na qual nos era proposto realizarmos um
trabalho acerca de um tema à nossa escolha, relacionado como o programa/ temáticas
abordadas na mesma.
A decisão de optarmos pela paralisia cerebral foi feita no sentido de ir de
encontro às necessidades físico-motoras destas crianças e às nossas próprias
limitações face ao tema; no fundo, procuramos aliar a nossa falta de conhecimento do
tema ao proposto na disciplina.
Esperamos com este trabalho vir a conhecer um pouco mais sobre o tema e
descobrir estratégias e formas de ajudar a colmatar as dificuldades destas crianças em
contexto escolar, contribuindo para a sua aprendizagem e bem estar de um modo
geral.
1 - Paralisia Cerebral
1.1 - Conceito
A paralisia cerebral integra um conjunto de desordens, caracterizadas por
disfunções neurológicas e musculares que afectam a mobilidade e o controlo
muscular. Os termos desta patologia relacionam-se com as funções do cérebro com
as desordens de movimento ou posturais
1.2 - Breve perspectiva histórica
Um dos indivíduos que inicialmente se debruçou acerca da paralisia cerebral foi William Little, que em 1862 sintetizou as suas investigações, afirmando que os espasmos e a deformidade associados à paralisia cerebral tinham origem na hemorragia cerebral ocorrida como resultado de trauma durante o nascimento.
Sigmund Freud foi outro dos investigadores da patologia e, já no final do séciulo XIX, estabeleceu a distinção entre paralisia congênita e paralisia adquirida.
Após a II Guerra Mundial há um crescente interesse acerca deste problema e começam mesmo a surgir uma série de instituições e associações dedicadas ao tema. É o caso da Academia Americana para a Paralisia Cerebral (1947) ou da Associação Unida para a Paralisia Cerebral (1949-1950).
De acordo com Nielsen (1999), por ano são diagnosticadas, nos Estados Unidos, cerca de 5000 crianças e bebés com paralisia cerebral.
1.3 - Características da paralisia cerebral
Como é obvio estas características não estarão obrigatoriamente presentes na totalidade em todos os casos, sendo que poderá haver casos tão ligeiros que apenas alguns sintomas ligeiros se façam sentir, chegando mesmo a paralisia a passar despercebida.
Assim, são características da paralisia cerebral os seguintes sintomas:
- espasmos;
- problemas ao nível da tonicidade muscular;
- movimentos involuntários;
- problemas de postura e movimento;
- convulsões;
- anomalias relacionadas com a percepção e sensações;
- problemas de visão;
- problemas de audição;
- problemas de fala;
- deficiência mental.
1.4 - Compreendendo melhor a Paralisia Cerebral
Como sistema nervoso central entendemos o conjunto do encéfalo e a medula
espinal, e é a esse sistema que chegam as informações sensoriais e de onde saem as
ordens destinadas aos músculos e às glândulas. Contudo há situações em que esses
mesmos músculos podem se contrair sem a participação da nossa vontade. Essas
respostas totalmente automáticas são chamadas de reflexos (Fuente & Sanclemente,
2000).
Toda a mensagem nervosa, demora algum tempo a percorrer as fibras
nervosas. Quanto maior for o afastamento do centro nervoso, mais tempo levara a
informação para chegar até ele.
Podemos então comparar o sistema nervoso central a uma central de
comunicação, que recebe informações de todos os pontos e envia mensagens. Como
explicam Fuente & Sanclemente (2000) o cérebro é o maior órgão do encéfalo e
ocupa toda a caixa craniana, sendo que não é constituído por uma massa contínua
mas com cavidades no interior, os ventrículos, que apresentam duas substâncias:
uma branca central e outra cinzenta na superfície do cérebro que é o córtex cerebral.
De acordo com Fischinger (1970), a Paralisia Cerebral é um distúrbio sensorial
e senso-motor causado por uma lesão cerebral, que perturba o desenvolvimento
normal do cérebro. Trata-se de uma perturbação estacionária, não progressiva. Quer
isto dizer que o distúrbio do cérebro é estacionário, mas o comprometimento dos
movimentos é progressivo quando não há tratamento. Neste sentido é muito
importante iniciar o mesmo, com o intuito de promover a correcção dos movimentos
realizados erroneamente, e obter movimentos mais precisos e correctos.
O tratamento é de suma importância nestes indivíduos, visto que, o tónus
muscular, dependendo da complexidade da deficiência, pode apresentar-se,
demasiadamente flácido ou tenso.
2 - Causas mais frequentes
Pode dizer-se que as causas da paralisia cerebral são bastante complexas e diversas, englobando causas pré-natais, perinatais e pós-natais.
De um modo muito generalista podemos dizer que qualquer lesão no cérebro pode ser a causa de uma paralisia cerebral.
Causas pré-natais:
- doenças infecto-contagiosas na grávida, nos três primeiros meses de gravidez
(período embrionário), como: rubéola, sarampo, sífilis, herpes, hepatite endémica, etc.
Estas causas dão origem a malformações cerebrais e de outros tipos (oculares,
auditivas, cardíacas, etc.).
- intoxicações intra-uterina (como é o caso da meningite, toxoplasmose,
intoxicações devidas ao óxido de carbono, medicamentos, raio-X, tentativas abortivas
mal controladas, etc.)
- incompatibilidade sanguínea de factor RH, ou seja, quando a criança tem
factor RH+ e a mãe RH- há que evitar a contaminação, já que, no caso de
sobrevivência da criança após o contacto com sangue da mãe pode haver lesão
cerebral.
Causas perinatais:
- a anóxia (falta de oxigénio no cérebro), que pode ter diversas causas, como é
o caso de insuficiência cardíaca grave da mãe, anemia, hipertensão, circulação
sanguínea deficiente, incapacidade dos tecidos do feto captar oxigénio. Entre estas
causas podem-se destacar como a mais comum, a anóxia por obstrução do cordão
umbilical ou pela anestesia administrada em quantidade excessiva ou em momento
inoportuno, ou ainda por um parto demasiadamente prolongado, ou por uma cesariana
secundária.
- hemorragias intercranianas.
- traumatismos durante o parto, causado às vezes pela utilização do fórceps ou
por mudanças bruscas de pressão, numa cesariana.
- prematuridade ou hipermaturidade, podem também causar, nalguns casos,
complicações que levem a paralisia cerebral.
Causas pós-natais:
- traumas na cabeça;
- meningite;
- convulsões;
- desnutrição;
- falta de estimulação;
- ataque de microrganismos ao sistema nervoso central do recém-nascido;
- hidrocefalia (acumulação de líquido cefalorraquidiano – LCR - na cavidade
craniana).
O indivíduo pode igualmente apresentar paralisia adquirida por meio de traumatismos cranianos, ou seja, qualquer tipo de acidente, pancada ou abuso pode dar origem a este problema.
O indivíduo pode igualmente apresentar paralisia adquirida por meio de traumatismos cranianos, ou seja, qualquer tipo de acidente, pancada ou abuso pode dar origem a este problema. As causas seguintes, em termos de maior incidência,
serão, de acordo com os mesmos autores as perinatais, ou seja, as que se dão no momento do parto. Quanto às causas pós-natais terão menor incidência com aproximandamente 10% dos casos.
Só muito raramente surge relacionada com factores hereditários.
3 - Tipos de Paralisia cerebral
De um modo geral existem três tipos de paralisia cerebral:
a) paralisia cerebral espástica
É o tipo de paralisia mais comum e caracteriza-se por rigidez, contracção e resistência muscular aos movimentos, causada pela lesão do sistema piramidal (responsável pelos movimentos voluntários).
Pode haver movimento lateral das partes inferiores das pernas, mas é sempre lento, e muitas vezes bastante difícil.
A terapia física, os aparelhos de gesso ou mesmo a cirurgia ortopédica podem ajudar nestes casos.
b) paralisia cerebral atetóide:
Este tipo de paralisia apresenta movimento involuntário das partes afectadas pela mesma, que se podem traduzir em esgares faciais, torção das mãos ou mesmo a língua a “cair” da boca, sem que haja controle da saliva.
Pode igualmente haver produção de movimentos súbitos e bruscos, que podem levar a um diagnóstico errôneo, no sentido de que podem ser considerados como mental ou emocionalmente instáveis.
c) paralisia cerebral atáxica:
Neste caso específico há falta de equilíbrio, coordenação e percepção dimensional e, em alguns casos de maior severidade pode mesmo causar total perda de mobilidade.
Quando são afectados vários centros motores pode haver uma combinação sintomática dos vários tipos de paralisia, mas, de um modo geral, as mais comuns são o primeiro e segundo tipos mencionados.
Consoante o referido por Nielsen (1999) A Associação Médica Americana afirma que cerca de 75% do indivíduos portadores desta patologia apresentam deficiência mental (com um QI inferior a 70). No entanto, há igualmente casos de indivíduos afectados, sobretudo pelo primeiro e segundo tipo de paralisia, que são extremamente inteligentes.
Trata-se de uma patologia não progressiva, em que as lesões não se agravam com o passar do tempo.
3.2 – Topografia
A classificação baseada na topografia relaciona-se com a zona do corpo
afectada pela paralisia, e surge como um complemento à classificação clínica. Esta é
uma área que gera ainda pouco consenso, mas existem algumas classificações
englobando esta área.
Para que se possa perceber melhor esta clasificação é importante que se
levem em consideração os conceitos de parésia e plégia, sendo que a primeira se
refere a uma lesão em que os membros não apresentam paralisia total e a última se
aplica aos casos de maior gravidade, em que há incapacidade dos membros
afectados.
Assim sendo, de acordo com Rodrigues (1989) podemos ter em consideração
as seguintes situações:
- monoplegia (afectação de um só membro);
- paraplegia (membros inferiores afectados, ou seja, da cintura para baixo);
- hemiplegia (metade corporal lateral afectada);
- triplegia (afectação de três membros);
- tetraplegia ou quadriplegia (quatro membros afectados);
- diplegia (maior afectação dos membros inferiores quando comparados com os
superiores);
- dupla hemiplegia (membros superiores mais afectados do que os inferiores).
Geralmente os casos de monoplegia e triplegia são pouco comuns nos quadros
clínicos de paralisia cerebral.
3.3 – Grau
Pode ainda efectuar-se uma classificação com base no grau da paralisia
cerebral, ou seja, podemos definir se é leve, moderada ou grave de acordo com a
severidade com que são atingidas a mobilidade e a comunicação.
3.3.1 – Leve
Nos casos em que consideramos estar perante uma paralisia cerebral leve o
quadro clínico do indivíduo refere-nos que apenas áreas como a psicomotricidade fina
ou a coordenação e equilíbrio são atingidos, de um modo bastante ligeiro, permitindo
ao sujeito uma boa capacidade de autonomia.
Se forem alvo de intervenção precocemente, geralmente estes indivíduos
conseguem melhorar os seus movimentos; no entanto, quando não acontece também
podemos estar perante casos de regressão.
3.3.2 – Moderado
Quando estamos perante um caso de paralisia cerebral moderado, já
encontramos outro tipo de condicionantes, ou seja, a criança afectada precisa de
algum apoio, na medida em que a sua motricidade fina e grossa sofrem alguma
afecção.
É frequente necessitarem de algum auxílio no que toca à deslocação, servindo-
se para tal de técnicas de apoio como bengalas ou andarilhos, por exemplo. No
entanto conseguem, de modo geral, um desempenho mínimo no que toca às
actividades da sua vida diária.
Também é comum que tenham algumas dificuldades ao nível da fala,
sobretudo no que toca à pronuncia.
3.3.3 – Severo
Nestes casos específicos os indivíduos apresentam uma autonomia quase nula, devido às dificuldades ou ausência de determinados movimentos, pelo que é frequente dependerem de terceiros para os ajudar nas suas necessidades da vida diária e restantes.
Normalmente a sua deslocação faz-se por meio de cadeira de rodas, há um controlo bastante restrito dos movimentos da cabeça e sérias dificuldades ao nível da fala. que se apresenta incompreensível nos casos em que existe.
No quadro seguinte (retirado de Fuente & Sanclemente, 2000) faremos uma breve comparação destas características:
Grau de
incapacidade
Motor
Grosso
Motor Fino Cognição Fala Social
Leve Marcha
independente
Sem
prejuízo
QI + 70 Mais de duas
palavras
Independente
Moderado Marcha com
ajuda
Função
limitada
QI 50 – 70 Palavras
isoladas
Assistido
Severo Sem
locomoção
Sem função QI 50 Indistinta Dependente
Quadro 3: Grau de incapacidade relacionado com o transtorno neuromuscular (retirado de de Fuente & Sanclemente,
2000)
Com base neste quadro podemos concluir que existem sérias diferençãs entre as consequências dos diferentes graus de paralisia que afectam os indivíduos, sobretudo quando compararmos o tipo leve com o severo, já que o nível de qualidade de vida será certamente bastante diferente nos dois casos.
4 – Distúrbios/deficiências associados
É sabido que é no cérebro que são definidas todas as funções que o nosso corpo executa em cada momento da nossa vida, como tal, uma lesão no mesmo poderá afectar estas mesmas funções, sendo comum nos casos de paralisia cerebral, que além dos problemas a nível motor possam surgir alterações de outras funções.
Assim sendo, podemos ter diversos tipos de áreas afectadas:
a) Perturbações na linguagem:
Normalmente referem-se a áreas que afectam as formas de expressão, ou seja a mímica, o gesto e as palavras, pois estes relacionam-se com a coordenação de movimento.
Estas perturbações são identificáveis desde cedo, na medida em que se manifestam através dos órgãos relacionados com a alimentação, que serão os mesmos que irão permitir a produção de linguagem. É frequente que os reflexos de
sucção, deglutição, mastigação e vómito sejam insuficientes ou simplesmente inexistentes, do mesmo modo que podem ser exagerados.
Surgem igualmente dificuldades ao nível da linguagem expressiva, que resultam dos espasmos dos órgãos respiratórios e fonatórios e dão origem à lentidão na fala, alterações ou mesmo ausência da voz. O que dá ainda origem a problemas ao nível da fala, já que as palavras serão pronunciadas aos “saltos”, com pausas pouco apropriadas.
Frequentemente surgem também atrasos na linguagem compreensiva, na medida em que os problemas auditivos, as lesões suplementares das vias nervosas ou mesmo a falta de estimulação lingüística são factores determinantes neste aspecto.
Há ainda um factor fundamental, que tem a ver com o facto de3 a criança não se ouvir a si mesma, por produzir poucas falas ou mesmo nenhumas, o que faz com que tenha grandes problemas no aumento do seu vocabulário.
b) Problemas auditivos:
Estes problemas surgem com alguma freqüência nos casos de paralisia cerebral, na medida em que derivam de factores a ela associados como é o caso da icterícia neonatal, viroses que atingem o sistema nervoso central, seqüelas da meningite ou mesmo da rubéola adquirida pela mãe.
De um modo geral podemos especificar que as perdas auditivas se caracterizam por problemas na transmissão do som, problemas na percepção do som ou numa combinação destes dois casos.
Normalmente tratam-se de casos de surdez parcial, onde é possível a percepção de sons agudos, o que faz com que a criança tenha dificuldade em ouvir alguns dos sons que produzimos, como é o caso dos fonemas sibilantes (s, ch...) o que levará a que ela própria suprima ou substitua esses sons, na medida em que não os conhece/ identifica.
É importante que se proceda a uma avaliação adequada neste ponto o mais rápido possível, já que, por vezes, devido ao facto de a criança reagir aos sons mais agudos, se julga que têm uma audição perfeita, quando tal não sucede. Poderá mesmo vir a ser necessário recorrer ao uso de prótese auditiva com a finalidade de corrigir este problema e, quanto mais cedo for feita adaptação, melhor.
c) Problemas visuais:
Também surgem com alguma freqüência este tipo de patologias, sendo que dentre de todos os problemas mais comuns se destacam os oculomotores.
Muitas vezes a coordenação dos músculos do olho estão afectados, o que origina que haja falhas na coordenação entre os dois olhos e que se tenha dupla
imagem, pelo que, em muitos casos a criança só utiliza um olho (e assim perde a noção de relevo).
d) Problemas de desenvolvimento intelectual:
O facto de haver uma lesão a nível cerebral não tem necessariamente que significar que há uma associação com a inteligência, e, de facto, estudos comprovam que entre estas crianças existem aqueles cujo Q.I. de facto está abaixo da média, mas também aqueles que se situam dentro dos parâmetros normais.
5 – Tratamento da paralisia Cerebral
O tratamento da criança com paralisia cerebral, para que se obtenha um
resultado optimizado deverá começar o mais cedo possível, já que qualquer
dificuldade que possa existir na criança em tenra idade responderá melhor a um
tratamento precoce. Pois a experiência tem-nos dito que quanto mais tarde o inicio do
respectivo tratamento, sendo ele insuficiente ou não, vai consolidando as dificuldades.
É obvio que, se além de tardio ele também for insuficiente as dificuldades tornam-se
maiores. O tratamento abrange diferentes aspectos:
. psicomotricidade (para melhorar o equilíbrio e organização do esquema
corporal);
. terapia da fala ou ocupacional (a criança pode desenvolver aptidões úteis que
lhe permite desenvolver as tarefas );
. fisioterapia (para ajudar a caminhar com o auxilio de cadeiras de rodas e
muletas quando necessário);
. apoio psicológico (que permite acompanhar a criança no processo ensino-
aprendizagem).
Assim sendo, este tratamento manifesta a necessidade de uma equipa
multidisciplinar que trabalhe tanto sobre os problemas motores, como, sobre os
possíveis problemas associados que o aluno possa apresentar.
5.1 - A inclusão da criança com paralisia cerebral na escola
A integração na escola de uma criança com paralisia cerebral deve ser
considerada como prioritária. Contudo, essa mesma integração deve ser a partir de
um estudo consolidado tendo como base as suas características e necessidades, com
o propósito de se organizar um plano de intervenção ajustado, proporcionando assim
os recursos necessários que permitam a sua execução e continuidade. Para tal, a
escola deve ter como incumbência a capacidade de gerir e propiciar internamente uma
estrutura capaz de admitir a diversidade.
5.2 - Aspectos a ter em conta na intervenção com o aluno com
paralisia cerebral
Em certos grupos de alunos com o diagnóstico de paralisia cerebral é frequente
encontrar alguns que possuem uma inteligência normal enquanto outros possuem uma
deficiência mental associada. Daí ser frequente identificar nos alunos com inteligência
normal um directo relacionamento entre a parte motora e as dificuldades de
aprendizagem devido ao absentismo escolar (por doenças, intervenções cirúrgicas,
superprotecção familiar, etc.), à limitação das experiências adquiridas ao longo do seu
desenvolvimento e a outras causas. Costumam também apresentar problemas
sensoriais e/ou perceptivos e perturbações da fala. Por isso torna-se premente obter
um historial e diagnóstico, de cada aluno com quem vamos trabalhar.
5.2.1- Importância da anamnese
Antes de começarmos o trabalho com o aluno deveremos dispor de
informação suficiente, recolhida junto dos pais e de outros profissionais, sobre os
seguintes aspectos: história do parto, desenvolvimento da criança, intervenções
cirúrgicas, nível de regressão funcional que possa ter havido, alimentação (incluindo
os problemas que apresenta ao mastigar e deglutir), saúde em geral, etc.
5.2.2 - Diagnóstico
A necessidade de um diagnóstico precoce prende-se com o facto de dar inicio
à terapia o mais cedo possível, uma vez que a paralisia pode manifestar-se logo á
nascença.
A equipa multidisciplinar integra vários profissionais de áreas diferentes com a
mesma metodologia e com um objectivo em comum e que se encarrega de fazer o
diagnóstico. O estudo da capacidade intelectual, da personalidade, do nível de
comunicação, da capacidade motora e do desenvolvimento e aprendizagem do aluno
são dados de toda a importância face à intervenção e tratamento.
A avaliação destas crianças torna-se complexa, uma vez que existem alguns
itens verbais que não estão ao alcance de algumas crianças. Assim, torna-se
necessário recorrer a adaptação de escalas e utilização de provas não convencionais
para obter resultados válidos.
6 - A criança com paralisia cerebral e a escola
Como já verificamos é fundamental que os alunos em causa tenham acesso a
um ensino diferenciado e adequado às suas capacidades, assim sendo, e como
referem Muñoz et al (1993), a escola deve colocar-se ao dispor destas crianças
criando as condições necessárias à sua permanência, criando/modificando infra-
estruturas (casas de banho, rampas, etc.).
Há assim uma série de factores que devem ser levados em consideração nesta
inclusão, dos quais salientamos os seguintes:
- Curriculo:
Deve ser seguido o currículo escolar regular, dentro do possível, sendo que o
docente deve ter ao seu dispor todos os recrusos possíveis e necessários, de modo a
que possa levar a cabo as adaptações essenciais para a adequação dos referidos
currículos.
É ainda fundamental que lhes seja possível participar no máximo de
actividades que a escola leve a cabo, permitindo-lhes assim a verdadeira inclusão.
- Objectivos:
Esta aspecto deverá englobar, de acordo com Muñoz et al (1993), uma série de
variantes, ou seja, devem ser considerados objectivos pessoais, sociais e acadêmicos.
Os objectivos pessoais surgem no sentido da aceitação do aluno acerca de si
mesmo, pois é importante que desenvolva a sua autonomia e conhecimento de si
mesmo, aceitando-se tal como é.
No que toca aos objectivos sociais incluem o oposto, isto é, a
aceitação/integração por parte dos outros enquanto sociedade; tal como todos os
indivíduos, estes alunos devem caminhar no sentido da sua inserção social,
fortalecendo relações pessoais e fazendo parte de um todo. Estes objectivos, a longo
prazo, devem incluir igualmente a inserção destas crianças no mundo do trabalho.
Relativamente aos objectivos acadêmicos, passam, como é obvio, por garantir
o sucesso escolar destas crianças Naturalmente deverão ser objectivos reais e
exeqüíveis, no sentido de ser alcançáveis e não meras premissas no papel.
- Actividades:
Tal como para qualquer outra criança, devem adaptar-se ao seu nível etário,
tendo a condicionante de ter que se adaptar igualmente às suas caraterísticas
pessoais. Neste ponto, o professor deverá sempre procurar adequar materiais e
recursos, no sentido de facilitar a realização das actividades.
Existem algumas áreas que devemos considerar específicamente, sendo elas
as seguintes:
- Área da percepção:
A falta de exercitação faz com que haja um aumento das dificuldades no
esquema perceptivo, que é afectado pelos problemas sensoriais e se reflecte
igualmente na atenção, na memória.
Neste aspecto deve ser definido um esquema, no sentido de melhorar as
dificuldades detectadas, que deve, sobretudo, proporcionar aos alunos experiências
que, por causa das dificuldades motoras que possui, não poderia alcançar sozinho.
É fundamental trabalhar a lateralidade, direccionalidade, orientação,
estruturação espacio-temporal e esquema corporal, como mencionam Muñoz, Blasco
e Suárez (1997).
Deve ainda ter-se em conta que o meio onde se levam a cabo as actividades
deve ser rico em estímulos e que as mesmas devem ser variadas, apelativas e
interessantes para a criança, recorrendo sempre ao máximo de vias sensitivas
possível.
É importante que o aluno ganhe percepção de como deve seleccionar,
reconhecer e utilizar os estímulos adequados num determinado contexto ou situação.
- Área sócio-afectiva e autonomia:
Um dos principais objctivos na intervenção com estas crianças será sempre,
como mencionam Muñoz, Blasco e Suárez (1997), a aquisição de autonomia e
maturidade; esta última sobretudo, porque muitas vezes estes alunos denotam alguma
imaturidade em termos afectivos e emocionais, causado frequentemente pela
sobreprotecção de que são alvo por parte daqueles que lhe são mais próximos (em
resultado, pensamos, da tentativa de minimizar e “compensar” os problemas por que
são acometidos).
Assim, é fundamental que, pais e educadores, percebam a importância de
tratar estas crianças de acordo com a sua idade, evitando assim que se tornem em
pessoas imaturas. A escolarização será, neste aspecto muito importante, na medida
em que lhes proporcionará o contacto com outras crianças de idades semelhantes e
lhes permitirá vivenciar situações nas quais as suas necessidades não poderão ser
atendidas de imediato.
No que toca à autonomia é fundamental que a escola, através da figura do
professor, saiba adequar as actividades às crianças que tem defronte de si, na medida
em que é fundamental estimulá-las para a autonomia, mas em que a fronteira entre o
estímulo e o desânimo é demasiado tênue e não pode ser pisada; queremos com isto
dizer que, se é um facto que o professor deve sempre estimular o aluno a chegar mais
longe na sua autonomia também é certo que o deve fazer com o cuidado de não criar
situações em que a criança seja demasiado pressionada e esse estímulo tenha o
efeito contrário, ou seja de desânimo e desistência. É fundamental adequar, dar à
criança actividades com objectivos reais e exeqüíveis, e, sempre que sejam atingidos,
o professor não deve esquecer a importância do reforço positivo nestes casos
específicos.
Aquilo que se pretende, de um modo geral, com a aquisição da autonomia é que a criança consiga desenvolver sozinha actividades do quotidiano, como vestir-se, comer, fazer a sua higiene pessoal, deslocar-se, etc., sem depender da ajuda de terceiros; como é natural, nem sempre isto é possível, mas é importante tentar conseguir alcançar o máximo de conquistas de acordo com cada caso.
- Área motora:
A intervenção nesta área é de suma importância, na medida em que esta é, muitas vezes, a causa de outros problemas nestas crianças. de tal modo que, ao falarmos de intervenção e como referem e bem, Muñoz, Blasco e Suárez (1997), não nos podemos reportar a um conjunto de sessões, individualizadas no tempo e com ocorrência esporádica, mas, pelo contrário, devemos ter um trabalho contínuo e estruturado de forma a ser continuado nos vários meios onde a criança circula.
Para se poder prescrever um plano de tratamento adequado é fundamental começar pela avaliação correcta da situação, o que implica a presença de uma equipa interdisciplinar, constituída por técnicos das mais diversas áreas (neurologistas, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas da fala, entre outros).
nunca poderemos esquecer que está área está intimamente ligada com outras e que o seu desenvolvimento irá beneficiar outras áreas, como é o caso da motricidade, da percepção e da linguagem, por exemplo.
Os autores atrás referidos (Muñoz, Blasco e Suárez, 1993), mencionam uma série de programas de tratamento motor que poderão vir a ser utilizados com estas crianças, e que passamos a citar:
- Método de movimento progressivo de Temple- Fay;
- Facilitação neuromuscular proprioceptiva de Kabat;
- Tratamento do desenvolvimento neurológico com inibição e facilitação dos reflexos. Métodos Bobath;
- Modelos de rastejar. Método Vojta;
- Intervenção precoce. Método Katona;
- Área da Terapia ocupacional:
A intervenção nesta área é bastante importante nestes casos, na medida em que estes terapeutas são quem, muitas vezes, possui maior conhecimento e tempo para trabalhar com a criança em termos de ajudas técnicas adequadas.
Nesta terapia procurar-se-á trabalhar a capacidade manipulação e destreza, que conduzirão à melhoria das capacidades do aluno em actividades como a escrita, por exemplo. No fundo trata-se de uma tentativa de reeducação por forma a superar ou, pelo menos, minimizar, as dificuldades sentidas.
- Área da comunicação e linguagem:
Como já referimos neste trabalho há uma série de áreas no que toca à comunicação e linguagem que são afectadas e que, conjuntamente, irão aumentar as dificuldades das crianças neste ponto.
a) audição:
Como já foi mencionado estas crianças apresentam uma incidência mais elevada no que toca a este tipo de problemas, no entanto, os mesmos revelam alguma dificuldade no que toca à detecção/medição, já que, como, geralmente não se trata de uma perda completa, a criança consegue reagir aos estímulos e muitas vezes isso conduz a um diagnóstico tardio ou mesmo errôneo.
É fundamental que a criança seja diagnosticada o mais cedo possível, já que irá facilitar a estimulação e isso por si só, por vezes pode estimular a audição e evitar consequências maiores no que toca à linguagem.
b) Respiração:
A criança com paralisia cerebral não consegue fazer o controlo adequado do diafragma ou dos músculos intervenientes no processo, o que conduz frequentemente a perturbações respiratórias; além disso, é comum a falta de coordenação entre a respiração e o movimento laríngeo, ou entre a emissão vocal e a articulação fonética, o que se traduz em dificuldades ao nível da fala.
c) Fala:
Como vimos este problema está directamente relacionado com a respiração e as dificuldades daí advindas, mas há, de acordo com Muñoz, Blasco e Suárez (1993 mais alguns factores que podem causar este tipo de dificuldades e que passamos a referir:
- respiração irregular, insuficiente e descoordenada;
- falta de coordenação entre os músculos da laringe, da língua, dos lábios, da face e dos maxilares;
- falta de coordenação entre a respiração e a articulação;
- deficiência do controlo auditivo e visual;
- problemas a nível intelectual e emocional;
- problemas de lateralidade.
É ainda de mencionar que estes problemas apresentam maior grau de incidência em casos de tetraplegia.
d) Linguagem:
A aquisição da linguagem e a aprendizagem da formação sintáctica apresentam, frequentemente, atrasos significativos, o que de acordo com Muñoz, Blasco e Suárez (1997) pode inclusivamente conduzir à hipótese de tratar-se de um caso de afasia.
Surgem também dificuldade ao nível da linguagem expressiva.
Normalmente estes sintomas são acrescidos de outras características:
- baba frequente;
- deformação da face e boca;
- perturbações motoras corporais;
É importante começar por fazer uma avaliação correcta nesta área, sem nunca esquecer que é através da mesma que a criança comunica com o mundo. Esta avaliação deve englobar níveis diversos, como a capacidade de movimentação das partes do corpo relacionadas com a fonação, as funções vegetativas, os movimentos e sensibilidade dos órgãos directamente relacionados com a fala e ainda a capacidade de vocalizar e falar.
O tratamento deve ter início o mais precocemente possível, pois já verificamos a importância que detém nestes casos.
Conclusão
Com a realização deste trabalho, apuramos que há uma necessidade
educativa Especial quando um problema (físico, sensorial, intelectual, emocional,
social, ou qualquer combinação destas problemáticas) afecta a aprendizagem ao
ponto de serem necessários acessos especiais ao currículo especial ou modificado,
ou a condições de aprendizagem especialmente adaptadas para que o aluno possa
receber educação apropriada.
Das deficiências motoras que pesquisámos, aprofundámos a Paralisia
Cerebral, por ser a que mais encontramos nas nossas salas de aula. Constamos
neste ponto que de acordo com o envolvimento neuromuscular esta pode ser de
categoria neurológica, de espasticidade, de atetose ou de ataxia. Dependendo dos
membros atingidos pelo comprometimento muscular pode ser paraplegia, triplegia,
quadriplegia, hemiplegia, monoplegia ou hemiplegia dupla. No que diz respeito ao
grau de incapacidade relacionado com o transtorno muscular este pode ser leve,
moderado ou severo, nos casos mais graves.
Procurámos também saber quais as causas mais frequentes da paralisia
cerebral, os distúrbios associados e a forma como se desenvolve a criança com
paralisia cerebral, pois como profissionais de educação é fundamental ter-mos estas
informações para melhor podermos agir.
Por último, investigámos sobre estratégias para a educação de alunos com
paralisia cerebral, onde verificámos os inúmeros progressos, a nível das inovações
tecnológicas, que têm um enorme efeito positivo no bem-estar a longo prazo das
crianças que nascem com paralisia cerebral.
Bibliografia
• CORREIA, L. (1997). Alunos com Necessidades Educativas Especiais nas Classes
Regulares. Porto: Porto Editora;
• FISCHINGER, B. (1970). Considerações sobre a Paralisia Cerebral e o Seu
Tratamento. Porto Alegre: Edições Sulina;
• FUENTE, J.; SANCLEMENTE, M. (2000). Parálisis Cerebral Infantil. Aspectos
Comunicativos y Psicopedagógicos Orientaciones al Professorado u a la Familia.
Málaga: Ediciones Aljibe;
• Muñoz, J., Blasco, G. e Suárez, M. J. (1997). Deficientes Motores II: Paralisia
Cerebral.In: R. Bautista (coord.),Necessidades Educativas Especiais. Lisboa: Dinalivro.
• Rodrigues, D. (1989). Paralisia cerebral: as características nosológicas e topografas
como variáveis de estudo. Educação Especial e Reabilitação.1, 19-23.
• SOARES, I. (trad.). (1999). Necessidades Educativas Especiais na Sala de Aula.
Porto: Porto Editora